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___________________ Preto Rosário
>> Wendel Salvador
(Estância - São Cristovão/SE)
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SINOPSE O trabalho busca questionar a invisibilidade acerca da existência das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito em três cidades sergipanas: Aracaju, Estância e Lagarto, locais-símbolos da presença negra africana e afro-brasileira em Sergipe. A ação ocorreu no período que essas irmandades celebravam São Benedito, dia/festa de Reis, nas primeiras semanas de janeiro de 2022.
FICHA TÉCNICA Performer e direção audiovisual: Wendel Salvador | Coprodutor, fotógrafo e realizador audiovisual: Davi Cavalcante | Assistente de produção: Larissa Vieira | Classificação livre | Duração: 11:20 minutos
Transmitido no dia 04 de abril de 2022 Foto: Davi Cavalcanti
Por Wendel Salvador*
“...Que santo é aquele que vem na charola É São Benedito mais Nossa Senhora...” canto das Taieiras1
A instiga por realizar esse trabalho surgiu quando descobri que a Igreja do Rosário de Estância/SE, minha cidade natal, havia pertencido a uma irmandade negra católica, daí começou a pesquisa, lendo os poucos escritos existentes, fui sendo levado as Irmandades de Lagarto e Aracaju e a decisão de incluía-las no trabalho e como se daria o desenvolvimento do mesmo.
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito – Estância (século XVIII), Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito – Lagarto (século XVIII), Irmandade de São Benedito dos Pretos – Aracaju (século XIX), todas de composição mista de pessoas com predominância das pessoas pretas, prestavam assistência espiritual, material e ao bem-morrer dos integrantes.
A Irmandade de Estância celebrava Reis e São Benedito no 06 de janeiro, com coração dos reis congos, a Irmandade de Lagarto também celebrava o santo nessa mesma data com participação de grupos culturais negros como as Taieiras na procissão. A Irmandade de Aracaju também fazia missa e procissão com coroação de reis e rainhas, continuando na atualidade com a missa e procissão com participação de um grupo cultural negro convidado da cidade de Laranjeiras, celeiro de manifestações culturais negras sergipanas. Os documentos citam que nas festas de Lagarto e Aracaju tinha música, danças, bebidas, batuques.
“...Meu São Benedito é santo de preto Ele bebe garapa, ele ronca no peito...”
No século XIX a Irmandade de Estância é tomada pelos brancos, perdendo seu objetivo de congregar pessoas pretas, a igreja acabou com a Festa de São Benedito em Lagarto no século XX, pois a festividade se sobrepunha a da padroeira branca da cidade. Sendo a Irmandade de Aracaju a única ainda em atividade, possui um cemitério com o nome de São Benedito, destinado aos irmãos da irmandade.
Mesmo com as investidas do racismo que desarticulou duas dessas irmandades, o que elas realizaram e seus locais de encontro/ culto simbolizam espaços de sociabilidade dos africanos e afrobrasileiros em Sergipe.
‘Isso tudo é louvô, isso tudo é louvá’ a negritude sergipana!
* Wendel Salvador, Estância, SE, 1989 – Vive em São Cristóvão, SE. Professor de Arte da Rede Pública Estadual de Sergipe, pesquisador, artista visual, suas pesquisas/ trabalhos tem como centralidade as culturas afro-brasileiras.
1 As Taieiras são grupos de mulheres que, identificadas com as festividades da congada, cantam e dançam para louvar Virgem do Rosário e São Benedito, padroeiros dos negros no Brasil desde os tempos coloniais. Goma-Laca: Cantos populares do Brasil de Elsie Houston / pesquisa e textos Biancamaria Binazzi e Ronaldo Evangelista. – São Paulo: B. Binazzi, 2019.