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_______________ CATIÇO
>> João Petronílio
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(Salvador/BA)
SINOPSE Danço as velas e cachaças de meu pai. As comidas e costuras que costuram a vida de minha mãe. Os exus de minha bisavó. Danço o escuro, o invisível, o dito vazio, o breu. Danço a rua, da rua! Danço pois já cansei de dançar o que se pode dizer, ando cansado daquilo que olhos vêem. Ainda sim, eu danço porque eu creio no que vejo: Catiço!
FICHA TÉCNICA Direção Geral: João Petronílio | Intérprete-criador: João Petronílio | Direção de Filmagem e fotografia: Laryssa Machada | Direção de montagem e edição: Victor Mota | Indicação etária: 14 anos | Duração: 10 minutos
Transmitido no dia 07 de março de 2022 Foto: Larissa Machada
“ ” Descrição poética-cênica do curta metragem experimental: CATIÇO João Petronílio A rua nunca está vazia, mesmo nas madrugadas, às ruas estão cheias de invisível, desejo, embriaguez, escolhas, vulnerabilidade e fome. O invisível tem peso, temperatura, cheiro: o invisível é a fúria e os exus de minha bisavó, às cachaças e os sambas de meu pai, às costuras que costuram a vida-de minha mãe.Catiço, é sobre minha pele que transborda as encantarias feitas no meu quintal, por minha avó. Catiço é corpo bêbado, embriagado, turvo é tempo cruzo passado-presente-futuro, limiaridade do invisível acontecido no visível, catiço é corpo da rua, dos desejos possíveis. Dança do escuro,do dito vazio, do breu, rito de outras vidas no agora. Ando cansado daquilo que os olhos vêem. Ainda sim, eu danço porque
creio no que vejo e por isso, escolho dançar meus mortos: CATIÇO! (Release do Filme CATIÇO).
O corpo da performance está diretamente imbricado com espaço e tempo das ruas, por isso, é um corpo quente, inquieto, dinâmico, que transita por todos os lados que confunde os eixos e muda constantemente os apoios. A movimentação do artista tem no ritual o território dramático de seu desenvolvimento de dança, nesse caminho, o fundamento de movimentação do filme CATIÇO parte do que o artista pesquisador nomeia de - Acontecimento corporal de Exus e Pombagiras, ações como vibrar, girar, desequilibrar, cair e voltar se estabelecem como a força motriz do trabalho, ou seja, embora enquanto assunto coreográfico as movimentações se desdobrem em outras camadas de dança, todas células de movimento partem das ações citadas, dando uma impressão de re-apresentação, circularidade, criando uma dinâmica de um espiral coreográfico, onde o corpo repete a ação, mas não repete a condição física da ação, já que aquilo que já foi experimentado em um tempo-espaço especifico, não se pode ser experimentado novamente. A performance do corpo é gradual, quente, que está a caminho da efervescência e finaliza na erupção, transbordamento, e assim, de novo e, de novo, a cada ação - o novo é experimentado e rapidamente abandonado, construindo um jogo de continua busca pelo novo e, abandono do mesmo.
A cada ação, o corpo está visceralmente dedicado em fazê-la, por isso, junto da ideia do desgaste do movimento, ou catarse do mesmo, causada pela repetição/ reapresentação, há um aumento gradativo da velocidade e intensidade. Intensidade tal, que transforma também a qualidade do movimento e logo, transforma a própria a ação do movimento. Por exemplo: a repetição do giro, que transbordada em; desequilíbrio, que deságua em; cair e voltar. E assim de forma espiralada vão se construindo, em costuras cênicas uma dançaCATIÇO. As expressões faciais acompanham tal intensidade, sendo tomada de mascaramentos, não há neutralidade, nem engessamento das expressões buscando projetar alguma mimese de emoção. Dança-se do umbigo para - o rosto: contorce-se, os olhos reviram, a respiração é audível, a gemidos, gritos é uma externalização total dos sentidos do corpo, que é também, expressivamente visível na face.Ao dançar, dança-se de corpo integral, a respiração é dança e som, a exaustão e os sons causados no corpo por ela são assumidos como dramaturgia cênica, não se desperdiça nada, tudo ali é corpo-dança. O objetivo de todo processo é esgarça-se por inteiro, níveis máximos de tensões e relaxamentos produzem o corpo que dança, alcançando outras-novas dimensões de expressividade e condição física.