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_____________ Na pele

>> Nanda Sant’Ana e Larissa Ferreira

(Belo Horizonte/MG)

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SINOPSE Na Pele demonstra sua indignação com o que é corriqueiro e cotidiano, aponta o afeto, o afago, a preocupação e as precauções. Em uma sociedade indiferente, o diferente é o que corre da morte.

FICHA TÉCNICA Direção Coletiva | Elenco: Nanda Sant’Ana e Larissa Ferreira | Texto: Recortes de textos do livro “Teatro negro” | Músicas: Sangue, suor e lágrimas – Max Souza (Part. Sarah Guedes, Kainná Tawá e Djonga) | Duração: 4 minutos 54 seg

Transmitido no dia 31 de maio de 2021 Foto: Divulgação

Por Nanda Sant’Ana e Larissa Ferreira

“Na Pele” demonstra sua indignação com o que é corriqueiro e cotidiano, aponta o afeto, o afago, a preocupação e as precauções. Em uma sociedade indiferente, o diferente é o que corre da morte.

O experimento cênico teve origem a partir de um exercício de voz e corpo construído de forma coletiva por Nanda e Larissa. A montagem que tinha a proposta de utilizar o movimento, a música e uma temática livre foi proposta pela escola de teatro Puc Minas. Assim, por subjetividades atravessadas e identificações de vida entre as duas atrizes, ‘Na Pele’ foi desenvolvido para gritar verdades tão necessárias, mas exaustivas de ainda terem de ser

repetidas. Para além disso, tivemos o intuito de trazer visibilidade ao teatro negro em uma escola que forma majoritariamente pessoas brancas. A temática e a construção tiveram o objetivo de provocar alguns pontos sobre pretos e periféricos.

O ponto de partida para criação de “Na pele” foi a música “Sangue, suor e lágrimas” de Sarah Guedes, Kainná Tawá, Max Souza e Djonga. O trecho utilizado já no início da cena é “Olha quantos corpos negros aí, estirados no chão” e foi a primeira parte a ser definida na estrutura, em que uma mãe fala de seu filho que se foi. A partir disso, entendemos que seria significativo este mesmo trecho finalizar a cena, como um ciclo que não se acaba, se perpetua, evidenciando as dores de mães chorando por seus filhos. Então, foi aí que começamos uma busca incessante por textos que fizessem sentido com a mensagem e o contexto da história que estávamos montando. Nos deparamos com o livro “Teatro Negro”, que possui um compilado de peças de teatro negro. Lendo o livro fomos separando os bifes que mais nos tocavam e afetavam, levando a montagem do roteiro. Os trechos do espetáculo “Madame Satã” se encaixaram perfeitamente com a nossa proposta de retratar o corpo negro, bem como a mãe que se despede de seu filho. Para finalizar a dramaturgia, a temática foi a morte negra, ‘não como um fim de vida, mas como uma vida desfeita’, nos deparamos com “Memórias póstumas de um Neguinho”.

Assim, não só a dramaturgia teve esse objetivo, mas a construção dos movimentos, que buscaram ter relação com a sensação de desespero que paralisa em contraponto com o desespero que não cabe no corpo.

“Na Pele” foi apresentado pela primeira vez em julho de 2019. Percebemos a potência deste experimento cênico e fomos traçando caminhos para que pudéssemos, mesmo que em poucos minutos, afetar subjetividades e mirando em provocar mudanças e afetos. Já em 2020, assolados com a pandemia Covid-19, as apresentações da Segunda Preta foram adiadas, por causa das medidas de segurança. Contudo, mesmo confinados, continuamos a viver atravessamentos avassaladores que massacravam, com constância, os pretos e pobres. Apesar de potente, “Na pele” retrata um retrato social, que por tanto tempo engessado, continua a repetir erros, enrijecer estruturas e barrar mudanças. Mas ainda não nos conformamos, gritaremos nossas verdades, defenderemos os nossos, até que a morte nos separe.

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