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______________ ex-tinto
>> Rodrigo Antero
(Belo Horizonte/MG)
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SINOPSE Antologia de um corpo orgânico: negro-preto Inundado, soterrado, suplantado por um universo branco de plásticos o córpo negro quer se libertar, decolonizar e transpessoalizar o por vir… Corpo território em busca de derivar… Performatização da memória: eu-com-o-outro-no-mundo Experiência Relacional: Ambiente: Terra: Enraizamento: Então Corpo Árvore (rodrigos anteros)
FICHA TÉCNICA Concepção e performer: Rodrigo Antero | Vídeo: Wagner Pinheiro | Trilha sonora: Gustavo Felix | Fotografia: Wagner Pinheiro | Produção: Jéssica Borges, Marcella Pinheiro e Pedro Henrique Antero | Duração: 28 minutos | Indicação etária: 18 anos
Transmitido no dia 11 de outubro de 2021 Foto: Wagner Pinheiro
ex-tinto
antologia de um corpo orgânico: negro-preto inundado, soterrado, suplantado por um universo branco de plásticos o córpe negro quer se libertar, descolonizar e transpessoalizar o por vir... atitude relacional: alteridade. corpo território em busca de derivar... performatização da memória: eu-com-o-outro/a/e-no-mundo experiência de empretecimento: ambiente: terra: enraizamento: - então, corpo-árvore. (rodrigos anteros)
A obra ex-tinto é uma performance negra autobiográfica concebida em 2018, um desdobramento de uma pesquisa artística que venho desenvolvendo desde 2014. A obra faz parte de uma trilogia chamada Projeto Córpe (corpo-copo-descartável) constituída pelos trabalhos: Projeto Servir, Ex-Tintos e ex-tinto e uma série de fotografias sem título de copos brancos descartáveis em espaços públicos e privados. Essa trilogia tem na materialidade do copo descartável branco o dispositivo central da criação. Especificamente em ex-tinto, construí um tipo de mascaramento: me embalo num invólucro cheio de copos brancos descartáveis, que pode ser um saco de lixo (córpe-lixo) ou o casulo de um ser prestes a se metamorfosear. A performance trata-se de residir nesse mascaramento involucrar. Dentro do invólucro permaneço durante um tempo em relação, contato e convivência com os copos descartáveis brancos que geram desconfortos em mim: ferem meu corpo e pele negra e, promovem uma experiência de quase asfixia ou sufocamento pela falta de ar dentro do espaço fechado. Ao longo da ação, vou dançando a libertação, me despindo do invólucro cheio de copos, movência para a metamorfose ou renascimento. Liberto, o ser negro rasteja até um monte de terra para fazer um ritual de empretecimento: - retomada da ancestralidade negra que recorrentemente é ameaçada pelo perigo da extinção. Quero refletir a partir da minha existência no mundo sobre a perspectiva de corpos, memórias e subjetividade negras, indígenas e LGBTQIA+, que sofrem historicamente no Brasil devido à invisibilidade, ao apagamento, ao genocídio e extermínio em massa devido aos processos de colonialização, escravização e capitalização dessas humanidades. Frantz Fanon em seu livro Pele negra, máscaras brancas coloca em questionamento: O que quer o homem negro? Essa pergunta repercute e atravessa toda a trilogia em reflexões sobre as presenças e existências no mundo que sofrem inferiorização, marginalização, subalternização concernentes as perversidades do racismo estrutural. Quantas máscaras brancas uma pessoa negra precisa utilizar ao longo de sua vida para que possa ter melhores oportunidades, existir e sobreviver no mundo? Vivemos uma extinção sistêmica de nossas humanidades agenciada por uma branquitude colonizadora que ainda se perpetua por meio de atos de higienização e eugenia, condicionando o desaparecimento e a descartabilidade de pessoas negras e indígenas, seus saberes e culturas. Com a pandemia de Covid-19, a obra ex-tinto foi completamente afetada, ganhando um formato de vídeo-performance. Ao perceber os altos índices de mortes da população negra e indígena no Brasil, pelo descaso escancarado e deliberado do Estado, bem como pela ausência de políticas públicas efetivas de proteção à vida e à saúde, recriei o trabalho para manifestar o direito ao luto que não tivemos no Brasil, nesses tempos sombrios: uma saudação aos córpos, córpas e córpes pretos/as/es e indígenas mortos/as/es pela pandemia.