2 minute read

____________________ Rosana Paulino

HOMENAGEADA DA NONA TEMPORADA

Advertisement

Por Priscila Rezende

Desbravadoras, instigadoras e portadoras de uma potência que, ao mesmo tempo, desarticula e fortalece. Assim podemos definir a obra e trajetória da artista visual Rosana Paulino.

Ainda em meados da década de ’90, em um universo acadêmico e de Artes Visuais fortemente dominado por homens brancos, com uma ínfima presença negra, geralmente representada por estereótipos derivados do olhar eurocêntrico, Rosana Paulino adentrou esse espaço de forma consistente, assertiva e ainda sim, sensível.

Imagens catalográficas de séculos atrás em seu trabalho se transformam. De indivíduos mudos e inomináveis, através de gravuras, desenhos e impressões, os corpos e identidades negras ganham vozes que contam suas próprias histórias e contestam uma suposta veracidade dos livros que convenientemente fabulam uma única versão da constituição dessa terra hoje chamada Brasil. Não mais objetos de experimentos científicos ou antropológicos, na arte de Rosana Paulino a gente negra se faz sujeito narrador de si.

Em 2017 tive a oportunidade de presenciar em Belo Horizonte uma roda de conversa com a presença da também doutora, pesquisadora e educadora, e nunca me esqueço de suas sensatas palavras ao se referir às nossas mais velhas:

“Muitas mulheres já resistiam e lutavam a muitos séculos, muito antes de existir ou ao menos terem ouvido falar da palavra ‘feminismo’”.

Penso que há um pouco de toda mulher negra no trabalho de Rosana Paulino e ali nos reconhecemos e nos reconectamos. Em suas esculturas, vídeo e instalações contemplamos nossas

mães, nossas avós, as nossas matriarcas e anciãs, guardiãs de saberes ancestrais e de longeva resistência. Nas bocas cerradas, nos olhos ocultados e na figura do leite usurpado, sua criação denuncia o silenciamento, a invisibilidade e violência sofridas por estas mulheres, mas com a dignidade a elas devida, gentilmente reverencia estas que são geradoras de vida, perpetuadoras de linhagens sagradas, pois foi do ventre das mulheres negras que germinou a luta.

Rememorar o passado para restaurar o presente é necessário. Eu, você, nós somos hoje a continuação de todas, todos e todes aqueles que vieram antes. Sobre a parede, nas cores, traços e imagens a artista firma nossas raízes, reconstruídas e enaltecidas, e como um fio condutor em direção ao reencontro mais profundo de nossas memórias e afetos, Rosana Paulino entrelaça a ancestralidade, o agora e o futuro.

Priscila Rezende é graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard. Desde 2011 atua desenvolvendo trabalhos em performance, fotografia, vídeo, instalação e objeto.

Traz em seu trabalho questões de raça, gênero e identidade, tendo a presença do indivíduo negro e das mulheres na sociedade contemporânea como principais norteadores de sua produção.

Em seu percurso destaca-se a atuação em diversas regiões do Brasil como Amapá, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo; e em países como Alemanha, Espanha, EUA, Holanda, Inglaterra e Polônia.

This article is from: