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Ora, direis, ouvir os gregos
from PARÊNTESE 63
Luís Augusto Fischer
Um fenômeno para aplaudir e deixar a gente feliz: o sucesso notável que está fazendo o podcast “Noites gregas”, com Cláudio Moreno (com direção e edição de Filipe Speck). Conhecido professor da cidade há décadas, o Moreno tem uma longa estrada de contador de histórias tendo como referência o mundo da mitologia grega. Fui seu colega por anos no Sarau Elétrico, em que semana a semana ele deliciava a plateia com uma das talvez incontáveis fábulas, como não diria a ministra aquela, terrivelmente humanas.
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Agora, a revista Piauí de fevereiro oferece um relato muito inteligente sobre o podcast, assim como a Ilustrada, da Folha de S. Paulo, esses dias – nada menos que duas das mais exigentes publicações culturais do país. E ambas afirmando a excelência do material, reconhecendo o “tom cáustico” do narrador, que alia conhecimento do material com perspectiva arejada e verve certeira, que oferece comparações talvez inesperadas entre aquele mundo aparentemente tão distante e o cotidiano de gente como a gente.
Aproveitei para perguntar umas coisas ao Moreno. Aqui a breve conversa. Se o prezado leitor não ouviu ainda, bá, entre lá num desses lugares em que se homiziam os podcasts e não perca a chance. Para divertir e instruir, dos 10 aos 100 anos, com histórias elementares e outras labirínticas, tudo contado de modo inteligente e ameno.)
Parêntese – Que tal esse reconhecimento? Os veículos mais cabeça do país proclamando a qualidade tua e do podcast, que tal?
Cláudio Moreno – É claro que a gente fica até espantado quando, de repente, entra no território proibido do centro do país – acho que alguns por aí vão dizer que isso é provincianismo, mas duvideodó que também não se sintam triunfantes quando conseguem atravessar o campo de força...
P – Te passa pela cabeça que esse reconhecimento poderia ter acontecido antes se tu vivesses no centro?
CM – Não, não me passa pela cabeça que o reconhecimento poderia ter vindo antes – não desta vez. Entendi
que algo mudou, para melhor: quando se trata de um livro, sempre estamos limitados pelo pouco alcance das nossas editoras aqui, e quase sempre acreditamos, com razão, de que seria diferente se morássemos lá em Gotham City. Mas agora é pela rede, meu caro. Como eu já tinha vislumbrado mais ou menos com o [site de questões de língua portuguesa] “Sua Língua”, a internet é de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo. Acho que o “Noites Gregas” surgiu no momento certo para garantir sua sobrevivência. É claro que o sotaque poderia criar alguma barreira, mas, no meu caso, o conteúdo é supranacional, quase universal, excluindo os islâmicos e os orientais root. Como disse o Zagallo, parece que estão tendo que me engolir.
P – Quanto da alma do teu podcast depende da tua condição de professor calejado?
CM – Quanto às vantagens de ser professor a vida inteira, não há como negar. Tenho acesso a dezenas de depoimentos e comentários no Twitter, Insta, Face e o escambau, e mais da metade deles ressaltam a fluência da explicação, a falta de arrogância (dando aula eu sou meigo e lhano), o respeito pelo ouvinte, etc. – as qualidades que dar aula durante 50 anos acaba aprimorando. Soma a isso a verdadeira escola que foi o Sarau Elétrico, com aquela mistura de textos literários com stand up comedy, e pronto: faço aquilo que sei fazer melhor, que é contar histórias – e mitologia grega é covardia. Parte do nosso sucesso vem também da comparação com dezenas de sites e podcasts que tratam do assunto – feitos assim com muito entusiasmo e pouco estudo, como sói acontecer com algumas figuras que ainda não amadureceram.
Autor: Cláudio Moreno Podcast: Noites Gregas Plataformas: Spotify e Apple
Cláudio Moreno
LiVro
MÚSICA PARA MORRER DE AMOR |
RAFAEL GOMES
Foto: Incompleta/Divulgação
Três jovens de vinte e poucos anos amam e vivem com intensidade e derramamento, descobrindo que na vida, assim como nas canções sentimentais, só os clichês são verdade. Isabela sofre por um coração partido, Felipe quer muito se apaixonar e Ricardo, seu melhor amigo, está apaixonado por ele.
Música para Morrer de Amor (Editora Incompleta, 218 páginas, R$ 45), de Rafael Gomes, reflete tanto sobre as obras das quais extraímos nossa educação sentimental quanto sobre amar desavergonhadamente na companhia delas. As vozes dos protagonistas, assim como três solos de instrumentos que juntos formam uma melodia, embaralham alguns paradigmas do enredo romântico e confirmam outros, questionando padrões de sexualidade e duvidando da certeza sobre os próprios sentimentos.
recomendações
Versão da história para o teatro, a peça Música para Cortar os Pulsos estreou em 2010, ficou três anos em cartaz e ganhou o Prêmio APCA de Melhor Peça Jovem. Dez anos depois, o mesmo texto foi adaptado ao cinema com o título Música para Morrer de Amor. O filme teve sua estreia mundial no NewFest – Festival LGBTQ+ de Nova York, em 2019.
A publicação inclui o texto original da peça e o roteiro do longa-metragem, além de mais de uma centena de notas escritas pelo autor-diretor Rafael Gomes, detalhando o processo de adaptação entre as duas linguagens, as especificidades de cada formato e curiosidades de bastidores. O volume traz também um ensaio ficcional inédito sobre a chegada do autor aos 40 anos, caderno especial de fotografias e documentos e playlists comentadas.
poDcast
ESTAÇÃO CONFESSIONÁRIO
Estreou nesta semana a primeira temporada do podcast Estação Confessionário. Os nove episódios, com duração entre 45 e 60 minutos, vão ao ar todas as quartas, na radioweb Rede Estação Democracia, até 17 de abril.
Estação Confessionário é uma extensão de Confessionário – Relatos de Casa, uma websérie sobre violência doméstica e de gênero com direção e
Foto: Reprodução
criação de Deborah Finocchiaro e Luiz Alberto Cassol.
Apresentado pela atriz Deborah Finocchiaro, o programa reúne convidadas e convidados que abordam diversos tipos de abuso, violência, machismo e exploração, em diferentes contextos e camadas da sociedade.
Todos os episódios serão disponibilizados no site da radioweb ( ), nas lojas de app e no Spotify Confessionário Relatos de Casa.
artes Visuais
BASTIDORES, SÉRIE DO INSTITUTO INHOTIM
Um episódio especial da série Bastidores, do Instituto Inhotim, vai ao ar neste sábado (20/2), a partir das 11h, mostrando o restauro de uma das obras mais icônicas do centro de arte contemporânea: Invenção da Cor, Penetrável Magic Square #5, De Luxe (1977), de Hélio Oiticica, mais conhecida apenas como Magic Square. O vídeo acompanha todas as etapas de restauro da instalação em site-specific e traz depoimentos da equipe técnica do Inhotim.
Foi a segunda vez que a obra foi restaurada: houve processo semelhante em 2013 e um novo restauro foi necessário porque ela fica muito exposta às condições climáticas. As instruções que Oiticica deixou ainda em vida para a construção/restauro de suas obras são extremamente específicas e peculiares, incluindo materiais como vassouras de pelos em vez de pincéis e rolos de pintura.
Todo o procedimento levou quatro meses – de agosto a novembro de 2020 – e aconteceu no período em que o Inhotim estava fechado à visitação devido à pandemia de Covid-19. Agora, os visitantes já podem voltar ver e, literalmente, entrar no Magic Square.
A série Bastidores e outras produções do Inhotim estão disponíveis no YouTube, Facebook e Instagram.
As produções do Inhotim estão disponíveis no YouTube...
... e no Instagram