Vinho de Altitude, vinícolas de atitude Case da Vinho de Altitude Produtores Associados premiado no Top de Marketing e Vendas ADVB/SC
Sinopse A Vinho de Altitude Produtores Associados – nova razão social da Associação Catarinense de Produtores de Vinhos Finos de Altitude (Acavitis) – foi criada em 2005, tendo como principal objetivo defender os interesses dos produtores de uvas e vinhos de altitude de Santa Catarina, dar subsídios às políticas públicas, viabilizar a qualificação e certificação dos produtos dos seus associados e conquistar novos mercados para o vinho de altitude catarinense. Atualmente 35 vinícolas participam da associação, sendo que 20 delas já possuem rótulos em comercialização – em dois a três anos todas devem estar operando comercialmente. Desde que a vinícola pioneira plantou seus primeiros vinhedos (a Quinta da Neve, em 1999), o setor já investiu R$ 600 milhões, valor significativo para uma única cultura. Hoje o grupo conta com 500 hectares plantados, e uma produção de mais de 1 milhão de garrafas por ano. Para dar vazão a toda essa produção e seguir crescendo, com a qualidade atestada por inúmeros prêmios no Brasil e no exterior, os Produtores Associados precisam superar alguns desafios. O principal problema é o baixo consumo per capita de vinho entre os brasileiros, o que na verdade representa uma excelente oportunidade de mercado, pois há grande potencial de crescimento. Um conjunto de estratégias de marketing vem sendo adotado pela associação, e a principal delas é o fomento do enoturismo na região catarinense onde os vinhos de altitude são produzidos. Entre as ações implementadas nos últimos dois anos, destaca-se a realização da Vindima de Altitude, evento cultural e enogastronômico que celebra a colheita da uva nas terras altas de Santa Catarina, com atrações nas cidades produtoras e nas vinícolas, apoiado pelo Sebrae/SC e pela Santur, entre outras entidades. Outra importante ação de divulgação do enoturismo na região foi a publicação e distribuição nacional de um guia com informações sobre a Rota dos Vinhos de Altitude. Além do baixo consumo, há um preconceito dos brasileiros em relação aos rótulos nacionais. Para mudar a percepção de valor do consumidor, a Vinho de Altitude Produtores Associados tem investido em estratégias de diferenciação do vinho de altitude catarinense em relação aos importados, especialmente argentinos e chilenos. Nesse sentido, a associação obteve do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) autorização para uso de marca coletiva, e encaminhou o processo de solicitação de Indicação Geográfica, com auxílio técnico do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram). Outra importante ação de posicionamento dos vinhos de altitude no mercado é a promoção de degustações em restaurantes e associações de sommeliers. A comunicação, tanto a realizada pela associação quanto a feita pelas vinícolas, completa a estratégia, enfatizando as qualidades diferenciadas e únicas dos vinhos de altitude produzidos em Santa Catarina. Os resultados pouco a pouco vão aparecendo. “Quinze anos para a vitivinicultura é muito pouco. A largada é muito lenta, mas é uma atividade de longo prazo”, comenta o presidente da Vinho de Altitude Produtores Associados e sócio-fundador da Quinta da Neve, Acari Amorim. Da primeira edição da Vindima de Altitude, em 2014, para a segunda edição, em 2015, o público passou de 10 mil para 25 mil pessoas. As vendas têm acompanhado o crescimento da produção e apresentam um aumento médio de 20% a 25% ao ano. Mesmo em tempos de crise, o consumo de vinho aumentou no Brasil, e uma cultura do vinho vai se estabelecendo entre os brasileiros. “Estamos conseguindo consolidar uma nova fronteira para o vinho brasileiro”, afirma Amorim. Problemas/objetivos O grande desafio para os produtores de Vinho de Altitude não chega a ser um problema, mas sim uma oportunidade de mercado: no Brasil, o consumo per capita de vinho é de aproximadamente 2 garrafas por ano. De acordo com um levantamento efetuado pelo Wine Institute (associação de mais de 1.000 vinícolas californianas), divulgado em 2014, o Brasil ocupa a 104ª posição, de um total de
223 países e territórios, com um consumo per capita anual de 1,8 litro. Se considerados apenas países com mais de 3 milhões de habitantes, o Brasil sobe para ainda modesta 51ª colocação entre 134 países. Para se ter uma ideia, no primeiro caso o primeiro da lista é o Vaticano, com um consumo per capita de 62,2 l/ano. No ranking reduzido, a França assume a primeira posição, com um consumo per capita de 45,61 l/ano e o Uruguai é o sul-americano mais bem colocado, 6º lugar, com consumo per capita de 33,17 l/ano. Na Argentina o índice é de 23 l/ano e no Chile de 20 l/ano. Os dados oficiais da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), também divulgados em 2014, são similares: consumo per capita de 1,9 l/ano no Brasil, 46,4 l/ano na França, 22 l/ano no Uruguai, 24,1 l/ano na Argentina e 17,4 l/ano no Chile – é importante ressaltar que esses números se referem ao consumo total de vinhos, e que no Brasil os vinhos de mesa representam 69% do volume, conforme levantamento da agência de pesquisas de mercado Mintel. A discrepância entre o consumo no Brasil e em outros países revela o grande potencial de crescimento das vendas de vinhos que existe no mercado brasileiro. Segundo a agência de pesquisas britânica Wine Intelligence, 63% da população do País ainda não é consumidora da bebida. Em parte, a razão para o baixo consumo de vinho no Brasil é a falta de uma “cultura do vinho”. O brasileiro tem o hábito arraigado de tomar cerveja, seja nas refeições, seja nas comemorações, seja nos mais simples encontros entre amigos, seja em bares e casas noturnas. De acordo com o Relatório Global sobre Álcool e Saúde 2014, da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cerveja é a bebida alcoólica mais popular no País: representa 60% de todo o álcool consumido, seguida por destilados como cachaça, vodca e uísque (36%), e pelo vinho, com 4%. No Uruguai a preferência é o vinho (60%), assim como na França (56%), na Argentina (48%) e no Chile (41%). No mundo, o vinho corresponde a 8% das bebidas alcoólicas consumidas – mais um índice que demonstra o espaço disponível para aumentar as vendas de vinho no Brasil. Outra razão para o consumo de vinho abaixo da média mundial e extremamente inferior ao de outros países produtores são os altos preços da bebida no Brasil. Mesmo entre os consumidores de vinho, 49% consideram a bebida cara, conforme revelado por outra pesquisa da Wine Intelligence. Segundo dados do Comitê do Vinho da Fecomercio/SP, o vinho chega à mesa do brasileiro 16 vezes mais caro em relação ao preço de produção, devido à elevada carga tributária que incide sobre a bebida. Em Portugal, Espanha, França, Itália e Chile, por exemplo, o vinho é considerado complemento alimentar, o que reduz significativamente as alíquotas e consequentemente o custo da bebida para o consumidor final. Há ainda preconceito do brasileiro com rótulos nacionais. De acordo com a agência Mintel, os vinhos importados representam 81% do volume do total dos vinhos finos consumidos no Brasil. Mas, para os Vinhos de Altitude, não adianta competir em quantidade nem em preço com os estrangeiros. O clima, a extensão da área plantada e os processos produtivos adotados na Argentina e no Chile (dois dos quatro maiores exportadores da bebida para o Brasil, segundo dados da Wine Intelligence) fazem com que eles tenham um volume de produção bem maior, e a custos menores. O consumidor brasileiro tem que mudar a sua percepção de valor, é preciso mostrar que Santa Catarina produz vinhos de qualidade e de características únicas. Os Vinhos de Altitude são diferenciados devido ao solo e clima favorável onde estão plantados os vinhedos de cepas europeias e pelas modernas técnicas de cultivo e tecnologias de produção empregadas na sua fabricação: plantio em sistema de espaldeira, seleção permanente de cachos, equipamentos de aço inox para o processamento e tonéis de carvalho francês para o envelhecimento, além da contratação de experientes enólogos europeus e de consultorias estrangeiras. A posição geográfica privilegiada para a produção, no entanto, é desfavorável para sua colocação nos principais mercados consumidores. De acordo com um levantamento da Wine Intelligence, São Paulo é o maior consumidor de vinhos, a capital responde por 29% – sendo que os restaurantes respondem sozinhos por metade deste mercado – e o interior por 21% do total. Na sequência, aparecem Rio de Janeiro, com 19%, e Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Salvador, todas com 7%. Curitiba é responsável por 5%. Segundo dados da Vinho de Altitude Produtores Associados, São Paulo é o principal comprador dos vinhos do grupo, e Santa Catarina é o segundo melhor
mercado. Soluções e estratégias adotadas Diante de um cenário tão antagônico, adverso porém promissor, o presidente da Vinho de Altitude Produtores Associados, Acari Amorim, afirma: “há algo de muito errado, desde a produção até o consumo, passando pela venda”. A associação atua permanentemente em três frentes para superar os desafios e atingir seus objetivos, de forma complementar. A frente técnica, voltada principalmente para a área produtiva, ao mesmo tempo que garante a qualidade dos vinhos através do estabelecimento de padrões de produção para os associados (vinhedos em terras a no mínimo 900 metros acima do nível do mar e com produtividade máxima de 6.000L/ha, cultivados em solo e clima que, combinados às técnicas de produção, dão aos vinhos características únicas) e de avaliações constantes dos produtos, busca a melhoria constante da qualidade final dos Vinhos de Altitude. Um dos meios para isso é a promoção de cursos, seminários (em 27 de agosto, por exemplo, ocorreu o 5º Simpósio Catarinense de Vinhos Finos de Altitude) e viagens técnicas – em novembro de 2014, por exemplo, representantes da associação participaram da Missão Empresarial a Portugal, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), e visitaram importantes vinícolas daquele país. Outra importante estratégia da frente técnica é a formação de parcerias com instituições de ensino e pesquisa, como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri – órgão responsável pela introdução e desenvolvimento da vitivinicultura de altitude), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Neste ano, por exemplo, o IFSC deu início à primeira turma de graduação em Viticultura e Enologia no campus de Urupema, município da região serrana. O curso tem foco nas etapas de cultivo da uva, elaboração e comercialização do vinho. Além disso, terá alguns diferenciais, como os serviços relacionados ao vinho, como enoturismo, enogastronomia e produção agroecológica. “O curso superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia está sendo criado para atender uma demanda regional, que é a produção de vinhos de altitude, de forma sustentável”, ressalta o diretor do Campus Urupema, Marcos Roberto Dobler Stroschein. Na frente institucional, a principal missão é estabelecer parcerias com outras instituições (o Sebrae e a Fiesc, por exemplo) e ser interlocutor do setor com outros setores da economia – em especial o de turismo – e principalmente com o poder público, tanto o legislativo quanto o executivo das três esferas. Neste último caso, tem como principais bandeiras, além da melhoria da infraestrutura das regiões produtoras, a diminuição da carga de impostos, seja pela inclusão da categoria no Simples Nacional, seja pela reclassificação do vinho de bebida alcoólica para complemento alimentar, a exemplo do que já ocorre em países como Portugal, Espanha, França, Itália e Chile1. Mas é na frente de imagem que se tem mais campo para avançar, tendo em vista que um alto padrão de qualidade já está estabelecido e sua evolução encaminhada, e que redução da carga tributária é uma questão de difícil conquista, ainda mais no atual cenário de crise econômica e cortes de gastos públicos. A Vinho de Altitude Produtores Associados elabora estratégias – adotadas também individualmente pelos associados – e implementa ações de marketing e comunicação, como participação em feiras e promoção de degustações em restaurantes e associações de sommeliers. Sozinhas, as pequenas vinícolas têm mais dificuldade em chegar a um grande número de estabelecimentos. Em parceria com a Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte e com o Sindicato da Indústria do Vinho no Estado de Santa Catarina (Sindivinho/SC), a associação também negocia a introdução dos vinhos catarinenses nos eventos da Embratur. Hoje os Vinhos de Altitude já são servidos nos eventos da Fiesc, da ADVB/SC e da Associação Catarinense de Medicina (ACM). De fato, de nada adianta ter um produto de qualidade superior se ele não é reconhecido no mercado como tal, ou pior, nem mesmo seja conhecido pelos consumidores, ainda mais que Santa Catarina está fora do eixo Rio-São Paulo e da distribuição nacional. “É preciso mudar a comunicação do vinho”, afirma Acari Amorim. Nesse sentido, uma importante estratégia é reforçar os comprovados
benefícios à saúde do consumo moderado de vinho nas refeições. Outra é justamente ressaltar que os Vinhos de Altitude, a exemplo dos europeus, têm menos álcool e mais acidez, características que os tornam ideais para acompanhar refeições, enquanto os vinhos argentinos e chilenos são mais indicados para degustação, pois são mais doces e alcoólicos devido ao clima marcado por muito sol e pouca chuva. Diferenciação A diferenciação do Vinho de Altitude para os demais, especialmente os argentinos e chilenos, são uma das principais estratégias de comunicação da associação e das vinícolas do grupo. Os Vinhos de Altitude apresentam essas características pelo fato do solo da região ser pedregoso e mineralizado – o que mantém o calor à noite, estimula a raiz a penetrar fundo em busca de nutrientes e ajuda a drenar a água das chuvas – e pelo clima marcado por dias ensolarados e noites frescas mesmo no verão (o que faz as parreiras descansarem), combinação que atrasa a maturação da uva e concentra mais cor e açúcar na fruta, conforme pesquisas da Epagri, permitindo uma colheita tardia (entre abril e maio, principalmente), em uma época ainda sem chuvas. Além dos fatores geográficos e climáticos, o homem também ajuda a definir o terroir do Vinho de Altitude, através do manejo correto dos vinhedos, das técnicas adotadas para a vinificação e de todas as intervenções realizadas na produção. Seja na comunicação com a imprensa, seja na comunicação direta com o consumidor (através dos sites das vinícolas), o terroir é enfatizado e explicado em detalhes, assim como são sugeridas harmonizações dos diferentes rótulos com pratos diversos e destacados os benefícios à saúde2. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) já concedeu o registro oficial da marca coletiva “Vinho de Altitude”, uma forma de identificar a origem dos produtos ou dos serviços da associação. Além de auxiliar o serviço de assessoria, consultoria e informação sobre o vinho e suas características, a marca coletiva ajuda os produtores de pequeno porte a chegarem a estabelecimentos aonde, sozinhos, teriam mais dificuldade. A Vinho de Altitude Produtores Associados também está solicitando a Indicação Geográfica (IG) dos vinhos finos de altitude catarinenses, devido a todas as peculiaridades envolvidas na sua produção: clima, solo, relevo, cobertura vegetal, manejo dos parreirais, além de aspectos culturais – tudo isso influencia na tipicidade da bebida. Para gerar as informações necessárias à solicitação da IG, o Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Ciram) desenvolveu, entre 2008 e 2013, o projeto Caracterização e Análise dos Vinhedos de Altitude de Santa Catarina. O estudo analisou e caracterizou o ambiente onde a vitivinicultura de altitude está inserida, reunindo dados que comprovam a excelência, exclusividade e diversidade de clima, solo e relevo dessas regiões para produção desses vinhos. Segundo o pesquisador da Epagri João Felippeto, os Vinhos de Altitude têm diferenciais importantes em termos de graduação alcoólica e de polifenóis. “São muito mais estruturados, mais harmônicos, com mais volume de boca, tendem a ser vinhos que podem ser envelhecidos em carvalho sem prejuízo à estrutura”, esclarece. A Indicação Geográfica confere reputação, valor intrínseco e identidade própria que distinguem os Vinhos de Altitude dos demais produtos de igual natureza no mercado. Enoturismo Com base justamente nas peculiaridades das regiões produtoras de vinhos de altitude em Santa Catarina, a associação tem orientado as vinícolas, assim como as prefeituras e o governo do Estado, a investir no enoturismo, além de promover eventos que estimulem a prática. Além de ser uma excelente fonte de divulgação (de acordo com uma pesquisa da Wine Intelligence, a opinião de amigos e comentários em redes sociais influenciam mais do que análises de críticos), as vendas nas vinícolas são significativas. Na Villa Francioni, por exemplo, vinícola do grupo com maior produção (300 mil garrafas/ano), 30% das vendas ocorrem na sede, após visitação e degustação. Segundo o Diagnóstico do Enoturismo Brasileiro, publicação do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e do Sebrae, em alguns casos o enoturismo chega a representar 70% do faturamento dos empreendedores. A Vinho de Altitude Produtores Associados procura fomentar o enoturismo também como uma
solução econômica para as regiões produtoras, atualmente entre as menos desenvolvidas de Santa Catarina. Regiões vinícolas costumam ser ricas e prósperas, pois a atividade ajuda a manter o pessoal no campo e gera renda e trabalho para outras atividades da economia, quando conjugadas ao turismo. Para se ter uma ideia, hoje a vitivinicultura é o atrativo principal dos roteiros turísticos no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, que abriga as vinícolas mais antigas e tradicionais do País. Hotéis e pousadas, bares e restaurantes, comércio, agricultores, agências de turismo, transportadoras, taxistas, artistas, artesãos, todos se beneficiam com o movimento de turistas. Segundo informações do Ministério do Turismo, a mídia espontânea e a imagem charmosa que envolve os espaços onde é desenvolvido o enoturismo colocam-no em outro patamar de mercado inserido nos sonhos de consumo de um público extremamente seleto. Além disso, é fundamental do ponto de vista da sustentabilidade das atividades no espaço rural, pois não provoca mudanças drásticas no modo de vida da população, nem impactos ambientais, visto que depende da existência desse modelo produtivo. As experiências e emoções vividas nas vinícolas somam-se à cultura, às tradições, à gastronomia, às belezas naturais da região. Mais do que simplesmente contemplativo, o enoturismo proporciona o envolvimento do turista, que deixa de ser um mero expectador e passa a protagonista de histórias, por meio da vivência de momentos que marcarão sua memória. É um processo de encantamento que o faz voltar para casa e recomendar o destino aos amigos ou mesmo desconhecidos na internet. De acordo com o relatório Estudos Estratégicos do Turismo para 2020, da Organização Mundial de Turismo, a tendência do turista é “viajar para destinos onde, mais do que visitar e contemplar, seja possível também sentir, viver, emocionar‐se e ser personagem de sua própria viagem”. Uma pesquisa do Ministério do Turismo, realizada entre visitantes dos roteiros que integram o projeto Economia da Experiência (do qual o Vale dos Vinhedos faz parte), apontou um grau de satisfação de 80%. Cada vez mais vinícolas da região se abrem para visitação, inclusive muitas já foram projetadas com este fim, especialmente as mais recentes. Um levantamento da Epagri apurou que são 11 as vinícolas com infraestrutura para receber turistas. Dessas, 10 oferecem degustação, oito têm restaurantes, três contam com hospedagem e quatro têm outras atrações. O Diagnóstico do Enoturismo Brasileiro destacou 10 projetos arquitetônicos em destinos de enoturismo no Brasil. Dois deles são catarinenses: Villa Francioni, em São Joaquim, no planalto serrano, e Villagio Grando, em Água Doce, no meio-oeste. Uma das pioneiras do grupo, a Villa Francioni recebe, em média, 3 mil visitantes por mês, vindos dos mais diferentes estados e também do exterior. Conforme descrito no Diagnóstico do Enoturismo Brasileiro, “com marketing e bons vinhos, a vinícola posicionou-se como referência, citada em guias como Descorchados. Arquitetos, enólogos, apreciadores de arte anseiam visitar este empreendimento.” Não é para menos. Toda a infraestrutura foi planejada para receber os turistas, sendo que o projeto arquitetônico foi definido a partir do roteiro do passeio. Construída em desníveis para evitar ao máximo o uso de interferências mecânicas na produção da bebida, os visitantes seguem o fluxo gravitacional e acompanham de cima todos os estágios de elaboração, assistidos por um guia especializado. Painéis de mosaico embelezam a vinícola, que conta ainda com uma galeria de arte internacional. A visita é concluída com uma sessão de degustação, num salão com grandes vidraças, de onde é possível avistar os parreirais e o belíssimo pôr do sol. Na Villagio Grando, uma moderna vinícola construída em madeira representa a origem dos negócios da família. A sala onde ocorre a degustação tem como extensão um mirante, perante um lago e mata de pinheiros, características que, segundo as autoras do Diagnóstico do Enoturismo Brasileiro, Maria Amélia Duarte Flores e Andiara Flores, tornam a Villagio Grando um dos mais belos empreendimentos enoturísticos do Brasil. A oportunidade de degustar variados vinhos finos, com informações sobre as características de cada um e sugestões de harmonização, costuma ser o ponto alto das visitas guiadas. Mas a ideia é oferecer algo além do vinho: vivenciar a rotina de produção, conhecer a história da família e colonização local, experimentar pratos típicos da gastronomia da região, assistir a manifestações
artísticas e culturais, entre outras atrações criativas. Por exemplo, a vinícola Quinta Santa Maria, de São Joaquim, oferece o passeio “Passe um dia conosco”. O programa tem início às 9h30 no espaço comercial da Quinta Santa Maria, no centro da cidade, onde é possível apreciar o café ao Portento (vinho fortificado). Já na fazenda, há a visita à adega, seguida de um passeio de bondinho em meio aos vinhedos e de um tradicional almoço serrano. A refeição é servida na base dos patamares dos vinhedos, junto ao rio Lava Tudo. O grande diferencial da visita, no entanto, é a prática do “pesque pague de vinhos”. As garrafas são colocadas no rio e as pessoas podem “pescar” a sua bebida, servida com o resfriamento natural das águas do Lava Tudo. Já a Vinícola Pizani, de Monte Carlo, no meio oeste catarinense, encerra o passeio e a apresentação do processo de produção com um brunch em meio às parreiras. Há também quem une visitação às instalações e degustação com hospedagem e gastronomia. Em Urupema, uma das cidades mais frias do Brasil, a Fazenda Quinta dos Montes (empreendimento que compreende a Urupema Vinhos de Altitude) conta com apartamentos sofisticados e climatizados, com vista para lindas paisagens. Além de passeios pela propriedade e pela vinícola, o visitante pode saborear pratos típicos e da gastronomia italiana, harmonizados com vinhos e espumantes da casa. Em São Joaquim, as novas instalações da Vinícola Leone di Venezia, com conclusão prevista para o fim de 2015, contarão com área de degustação, um pequeno restaurante que deverá funcionar nos finais de semana e quatro apartamentos, no estilo das cantinas familiares italianas. Para que a visitação não fique restrita às vinícolas e nem a uma época específica, a Vinho de Altitude Produtores Associados desenvolveu, em conjunto com a Santur, a Rota dos Vinhos de Altitude, que une atrações de oito municípios onde a bebida é produzida. De acordo com a experiência no Vale dos Vinhedos, o desenvolvimento dos roteiros aumenta não só o número de turistas como a permanência deles na região. Um guia com informações sobre a Rota foi publicado no primeiro semestre de 2015 e 15 mil exemplares foram distribuídos em todo o Brasil em feiras e outros eventos do trade de turismo e da indústria de vinhos3. Fruto do trabalho institucional da Vinho de Altitude Produtores Associados, a Rota foi incluída na divulgação turística do Estado (turismo de inverno) e os eventos do setor no calendário turístico de Santa Catarina. O governo estadual também está investindo na revitalização do centro de São Joaquim e na melhoria dos acessos às vinícolas. Vindima de Altitude Também com o objetivo chamar a atenção dos governos municipais e estadual e da iniciativa privada para o potencial do enoturismo na região, a associação trabalha na formação de um calendário anual de eventos enoturísticos. Os destaques são a Vindima de Altitude e, realizado em paralelo, o Festival Gastronômico “Sabores de Altitude”. Para junho de 2016 já está sendo programado o Festival Vinho e Jazz. A ideia é ter eventos que fomentem o enoturismo ao longo de todo o ano. Uma das principais ações de marketing promovidas nos últimos dois anos é a Vindima de Altitude, festival enogastronômico e cultural em que é procurado criar um ambiente para que todos possam ter a “experiência do vinho” e perceber como a bebida é um ótimo complemento para todas as ocasiões. A programação conta com degustações de vinho, happy hour, piqueniques, almoços e jantares harmonizados nas vinícolas e restaurantes da região, seminários e exposições. Na 2ª Vindima de Altitude, realizada entre 26 e 29 de março de 2015, a agenda cultural foi ampliada em relação a primeira edição e contemplou apresentações de música (erudita e instrumental, jazz, choro, MPB, nativista, entre outras), dança (contemporânea e folclórica) e poesia nas vinícolas e nas cidades envolvidas. Entre os destaques, as apresentações da Cia. Jovem da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil em meio aos vinhedos da Pericó Vinhos (a 1,3 mil metros de altitude) e na Praça da Igreja Matriz de São Joaquim, e o Concerto da Vindima, com o pianista Luiz Gustavo Zago, acompanhado de orquestra de cordas e cantores líricos, na Villaggio Grando. A 2ª Vindima de Altitude teve também como uma de suas principais atrações o Festival Gastronômico “Sabores de Altitude”, fruto de um projeto em parceria com o Sebrae/SC que
capacitou e estimulou os restaurantes da região a não somente harmonizar os Vinhos de Altitude com a gastronomia típica, mas também a criarem pratos tendo como base a bebida – em 2016, o trabalho será estendido a todas as cidades envolvidas. Oito estabelecimentos desenvolveram novas receitas e delícias como o Frescal de picanha Snow Valley (frescal de picanha sob redução de vinho tinto e amora, com bruschetta de pimentões, pinhão e queijo serrano) e a Truta Núbio Blanc (truta marinada no sauvignon blanc, com purê de pinhão e salada) puderam ser saboreadas com 50% de desconto durante os quatro dias do evento4. Para dar ainda mais notoriedade aos vinhos de altitude catarinenses e às regiões produtoras, na segunda edição a Vinhos de Altitude Produtores Associados levou um grupo de jornalistas (seis deles de veículos nacionais) para presenciar a Vindima de Altitude e percorrer as vinícolas. Outra ação, já realizada na primeira edição, foi a contratação de uma assessoria de imprensa exclusiva para o evento. De acordo com o analista do Sebrae/SC Alan Claumann, o vinho, através do enoturismo e da enogastronomia, tem uma excelente capacidade de alavancar e ampliar negócios. As experiências visuais, olfativas e gustativas vivenciadas nos passeios pelas parreiras, na visitação das vinícolas, na gastronomia e na cultura local, são uma ótima oportunidade para praticar e vivenciar o turismo de experiência. Resultados obtidos Estudos científicos já comprovaram que o vinho faz bem para a saúde e ajuda no aumento da expectativa de vida. E como pode ser observado no Brasil e mundo afora, deve fazer bem para longevidade dos negócios, pois é comum no mercado a presença de vinícolas centenárias. Mas, justamente por ser uma atividade de longo prazo, tem uma evolução mais lenta, principalmente no início. No entanto, apesar da vitivinicultura de altitude catarinense ter apenas 16 anos de história, Santa Catarina é atualmente a segunda maior produtora de vinhos finos do Brasil, abaixo apenas do Rio Grande do Sul. Uma das representantes do grupo de vinícolas de altitude catarinense, a Villa Francioni, que em 2015 comemorou 10 anos de lançamento de seu primeiro rótulo, já é líder na comercialização de vinhos finos rosé produzidos no País, com uma fatia de 20% do mercado nacional. Segundo dados da Vinho de Altitude Produtores Associados, as vinícolas do grupo têm registrado um aumento médio de 20% a 25% ao ano nas vendas. No Brasil, conforme dados do Ibravin, a comercialização de vinhos finos e espumantes no primeiro semestre de 2015 registrou um incremento de 4,3% e 22,7%, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2014. Um ótimo resultado, especialmente para os Vinhos de Altitude, em um ano de ajustes na economia e retração de vários segmentos da economia. O faturamento total das vinícolas de altitude passou de aproximadamente R$ 33 milhões em 2013 para R$ 40 milhões em 2014, e neste ano deve chegar a R$ 50 milhões, de acordo com os resultados obtidos até o momento. O crescimento é acompanhado pela evolução da safra no período (800 mil toneladas em 2013; 1 milhão de toneladas em 2014; 1,25 milhão de toneladas em 2015), da produção (1 milhão de garrafas; 1,2 milhão; 1,5 milhão) e do número de rótulos (130; 150; 200). Além das conquistas de mercado, os Vinhos de Altitude continuam a ganhar reconhecimento nacional e internacional da crítica especializada. Recentemente, por exemplo, entre os dias 1º de Julho e 4 de julho de 2015, ocorreu em São Paulo, durante a Wine Weekend, um dos concursos mais importantes para os vinhos brasileiros, o Concurso Mundial de Bruxelas 2015 – Edição Brasil. Santa Catarina foi destaque durante o evento, na qual 12 vinhos foram premiados: duas medalhas Gran Ouro, quatro medalhas de Ouro e seis medalhas de Prata. O enoturismo é outra atividade que vem crescendo e impulsionando a economia de toda a região. Várias vinícolas já recebem turistas para degustação e projetos que envolvem passeio pelas parreiras. A gastronomia da região serrana vem sendo incrementada com a instalação de novos restaurantes e destaca-se por ser um misto da culinária regional com toques contemporâneos e internacionais usando ingredientes locais como a truta, pinhão, frescal e o já conhecido entrevero,
além do uso do próprio vinho na elaboração de alguns pratos. A Vindima de Altitude, apesar de ter apenas duas edições realizadas até agora, já se consolidou como um dos principais eventos turísticos do planalto serrano. Da primeira para a segunda edição, o público saltou de 10 mil para 25 mil pessoas. Todos os hotéis, pousadas e restaurantes de São Joaquim e região ficaram lotados, mostrando, por um lado, a carência de infraestrutura, mas por outro o grande potencial do enoturismo como indutor da economia local. “Se agora, com uma infraestrutura que precisa ser melhorada, tivemos ótimos resultados, imagine o que alcançaremos quando tivermos mais opções de equipamentos turísticos e a conclusão da Rota da Neve, trajeto rodoviário ligando as serras gaúcha e catarinense”, afirma o presidente da Vinho de Altitude Produtores Associados, Acari Amorim. A expectativa é grande também pela notoriedade que o evento ganhou na imprensa estadual e nacional. Entre março e abril de 2015, foram conquistadas 286 inserções de mídia gratuita para a 2ª Vindima de Altitude: 211 reportagens publicadas em veículos impressos (jornais e revistas) e digitais (sites, portais e blogs), alguns deles de alcance nacional, caso da revista de bordo da companhia aérea Gol5 e de portais; 44 reportagens e entrevistas veiculadas em rádios; 31 reportagens, entrevistas e programas especiais veiculados em canais abertos e fechados de televisão. O retorno calculado para o espaço conquistado na mídia impressa foi de R$ 517.273,50, e na mídia eletrônica, R$ 945.042,17. Todos esses resultados sustentam que as regiões de Santa Catarina acima de 900 metros do nível do mar se consolidam como a nova fronteira do vinho brasileiro, e avançam firmemente no posicionamento de destino enoturístico. Qualidade os vinhos já tem. A natureza e o clima são convidativos. A culinária local é rica e saborosa. O povo é alegre e hospitaleiro. Falta apenas infraestrutura adequada para receber os turistas e oferecer uma experiência completa e prazerosa do vinho em sua origem. Visitar vinhedos e vinícolas, presenciar a produção de vinhos e provar diferentes variedades, conversar com produtores, entender a influência do clima, da terra, do relevo e das interferências do homem na geração da bebida, conhecer novas culturas e tradições. Tudo isso é uma experiência única, capaz de revelar a alma de uma região. Observações: 1. Ver, em Anexo 1, trecho do livro “A visão da indústria – Na voz de seus líderes, em entrevistas à coluna de Estela Benetti no Diário Catarinense”, com entrevista do presidente Acari Amorim sobre os planos da atual gestão da Vinho de Altitude Produtores Associados. 2. Ver, em Anexo 2, trechos do livro “Santa Catarina à mesa – A revolução das uvas e do vinho e o renascimento das cervejarias no estado”, que destaca a história do vinho e dos vitivinicultores de altitude catarinense e traz diversas receitas harmonizadas. 3. Ver, em Anexo 3, trechos do guia Rota dos Vinhos de Altitude. 4. Ver, em Anexo 4, trechos do folder de divulgação do Festival Gastronômico Sabores de Altitude. 5. Ver, em Anexo 5, reportagem completa publicada na Revista Gol, edição de março de 2015.