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“kung fu islâmico”
Xinyi Liu He Quano “kung fu islâmico”
SHINGON MA TONG HUA É O ÚNICO REPRESENTANTE OFICIAL NO BRASIL DO ESTILO DE KUNG FU XINYI LIU HE QUAN, ESTILO ANTIGO E HISTORICAMENTE ASSOCIADO AOS MUÇULMANOS CHINESES E, POR ISSO, TAMBÉM CHAMADO DE “KUNG FU ISLÂMICO”, SOBRE O QUAL FALAREMOS NESTE TEXTO - POR DANIEL R. PLACIDO.
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O MESTRE DE KUNG FU, ARTISTA PLÁSTICO E MUÇULMANO MA TONG HUA, RESIDENTE EM UBERABA (MG), PAI DE TRÊS FILHOS, MORA SOZINHO APÓS O FALECIMENTO DE SUA COMPANHEIRA. ELE NASCEU EM SÃO PAULO-CAPITAL NA DÉCADA 40, SENDO UMA LENDA VIVA DO KUNG FU BRASILEIRO. APENAS PELAS FOTOS É POSSÍVEL NOTAR SUA GRANDE SIMPATIA E CARISMA, GENTILMENTE, CONCEDEU-NOS UMA BREVE ENTREVISTA POR WHATSAPP, A QUAL COMPLEMENTAMOS COM UMA PESQUISA ONLINE E COM A AJUDA PRECIOSA DE HOSNI BADAWI, SEU ALUNO DE KUNG FU E MUÇULMANO.
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UM POUCO DE HISTÓRIA
XINYI LIU HE QUAN SIGNIFICA “PUNHOS DA MENTE, INTENÇÃO, SEIS HARMONIAS”. É UM ESTILO DE ARTE MARCIAL RELACIONADO COM O HÁ QUAN E QI SHI QUAN (BOXE DE SETE POSTURAS), E TEM SIDO CONSIDERADO UM “BOXE RELIGIOSO” OU “BOXE ISLÂMICO” PARA PROTEGER OS SEGUIDORES DO ISLÃ NA CHINA.
Na verdade, Xinyi Liu He Quan e Xingyi são dois nomes para designar um sistema de arte marcial que cresceu no centro-norte da China em torno das províncias de Shanxi, Henan e Hebei. Xinyi era o nome original e é usado por duas ramificações: (a) o Xinyi Liu he Quan, praticado por muçulmanos chineses de Henan e Dahuí (que se espalhou para Xangai e áreas vizinhas no início do século 20); e (b) a Família Dai Xinyi Quan na província de Shanxi. O outro nome, Xingyi, é popular em Shanxi, onde as famílias Song e Che são bem conhecidas, e também em Hebei, que é o estilo mais difundido na China. Existem muitas teorias, versões e lacunas sobre a origem e a linhagem do Xinyi Liu He Quan. Contudo, de forma simplificada, ele teria sido criado pelo lendário militar Yue Fei (1103-1142), nascido na província de Henan, que, por sua vez, teria aprendido com um mestre e se tornado habilidoso em jogar lança; não por acaso, alguns movimentos desse estilo lembram técnicas utilizando a lança e implicam no manuseio dela. Yue Fei criou para seus oficiais um estilo de boxe chamado então de "Yi Quan” (Boxe da Intenção). O estilo teria sido pouco visto durante muito tempo até que Mestre Ji, chamado Ji Jike (1588–1662) ou Ji Long Feng, vivendo no fim da dinastia de Ming, foi para as montanhas de Zhongnan para visitar mestres nesse lugar e deles teria recebido um manual sobre boxe, a atribuído a Yue Fei.
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"Você tem que colocar a sua mente e coração juntos com o movimento"
QUANDO SE ASSUMIU ABERTAMENTE COMO MUÇULMANO EM DETERMINADA ALTURA DE SUA CARREIRA COMO PROFESSOR DE ARTE MARCIAL, USANDO ROUPAS E BARBA TÍPICAS, MA TONG HUA PERDEU ALGUNS ALUNOS, ALÉM DE TER SIDO ALVO DE PRECONCEITOS ISLAMOFÓBICOS NA COMUNIDADE EM QUE RESIDE, AINDA MAIS SE TRATANDO DE UMA CIDADE DO INTERIOR, MAS QUE ERA NECESSÁRIO DEIXAR CLARA PARA TODOS QUAL ERA SUA OPÇÃO RELIGIOSA.
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O PRIMEIRO MUÇULMANO A PASSAR ESTA ARTE MARCIAL A SEUS DISCÍPULOS FOI MA XUELI (POR VOLTA DE 1714-1790) NA PROVÍNCIA DE HENAN. ELE RECEBEU O ESTILO DE JI JIKE ATRAVÉS DE ALGUM MESTRE DESCONHECIDO, ACREDITA-SE. DE QUALQUER FORMA, SABEMOS COM SEGURANÇA QUE ESSE ESTILO SE DESENVOLVEU NA PROVÍNCIA CHINESA DE HENAN, ESPECIALMENTE NO SUBDISTRITO DE HUÍ, NOME QUE TAMBÉM REPRESENTA UMA NACIONALIDADE ESPECÍFICA LIGADA AO ISLÃ.
Em Huí existe uma peculiaridade: uma grande concentração de muçulmanos chineses, onde a religião islâmica é, se não a única, predominante, visível nas tradições, roupas e comércio. Isso não é tão estranho como pode parecer, pois a China é um lugar em que o Islã se disseminou com grande força. O Xinyi é praticado em vários lugares nesse país, mas Huí continua como seu centro irradiador. Shingon Ma Tong Hua aprendeu esse estilo inicialmente com um praticante chinês que veio viver no Brasil, mestre Chien ping hwang, muçulmano, o qual conheceu em 1958. Depois Ma Tong Hua chegou a trabalhar com outros mestres, não-muçulmanos, porém não abriu nenhuma escola; só mais tarde, quando foi morar em Minas Gerais. O mestre Chien abriu um comércio de comida chinesa na Liberdade naquela época e, sendo muito discreto e com um domínio limitado da língua portuguesa, apesar de ser obviamente muçulmano pois era visto rezando, não falava do Islã nem da relação do Xinyi com Huí e com a religião islâmica. Apesar de ter um avô muçulmano, só mais tarde Ma Tong Hua foi revertido ao Islã, e começou a entender melhor a conexão do estilo de kung fu que tinha aprendido com a religião islâmica. Até porque além da discrição do mestre Chien, o povo de Hui também não era de falar muito, como explica Ma Tong Hua;
“Por mais de dois séculos o estilo tem sido mantido em segredo, as pessoas de Hui não são muito de comentar o estilo; devido à época de Mao Tsé Tung, a China era fechada, não é qualquer um que entrava, agora fica mais fácil de entrar. Então o mestre Sheng quando veio para o Brasil, veio assim um refugiado, não falava muito sobre kung fu. Na década de 70, em 1975, começou a sair os filmes de Bruce Lee no cinema, e eu até perguntava pra ele a respeito. Ele falava que aquilo não era kung fu, que parecia luta americana. ‘Bruce Lee não é kung fu’, aí ele explicava pra mim sobre o Tai Chi, o Xinyi, depois com mais tempo que eu fui saber que era um estilo muçulmano, porque ele não gostava de falar sobre isso. Ele falava assim com um sotaque complicado, ele falava ‘muslim’ e eu não entendia que era ‘muçulmano’”.
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Ma Tong Hua disse ainda que o estilo, mesmo na China, não entra no circuito de competições, não tendo as formas convencionais de graduação por faixa. E que apesar do estilo Xinyi ter uma relação umbilical com o Islã, e mestre Chien ter-lhe dito que não devia ser ensinado para qualquer pessoa, devendo sempre estar ligado à religião, Ma Tong Hua não ensina kung fu vinculado à religião islâmica para seus alunos, pois estes em geral não têm interesse em qualquer tipo de religiosidade, tampouco os chineses que conheceu e se refugiaram em São Paulo. Isso também acontece com a maioria dos praticantes do estilo em outros lugares do mundo (EUA, Espanha), enquanto na China, naturalmente, é mais comum os praticantes serem muçulmanos.
Hoje em dia, Ma Tong Hua está interessado em ensinar kung fu para muçulmanos brasileiros que também queiram aprender um estilo de arte marcial essencialmente vinculado à sua religião, tal como é feito na China, e que não existem, além dele, outros representantes ou colaboradores do estilo no Brasil porque aqui o kung fu é, infelizmente, sinônimo de pancadaria e competitividade. Segundo ainda Ma Tong Hua, o que caracteriza as técnicas do estilo Xinyi Liu He Quan, relacionado com o próprio nome, “é a intenção, é a mente, coração, e a harmonia das seis articulações de cada lado do corpo esquerdodireito (calcanhar, joelho, cintura, ombro, antebraço e pulso) e as quatro direções dos pontos cardeais, norte-sul, leste-oeste.
... quando você vai usar os movimentos em luta, você tem que colocar a sua mente e o seu coração juntos com o movimento, e no distribuir do movimento você tem que harmonizar o movimento das articulações, do ombro, pulso, antebraço, cintura, joelho, calcanhar, você dá aquele impulso ou tranco no corpo, essa é a característica do Xinyi, diferente de outros estilos”, recomendando assistir algum vídeo no seu blog para que isso fique mais claro, o que recomendamos igualmente a nossos leitores.
fontes Blog de Shingon Ma Tong Hua: http://matonghua-ebrac.blogspot.com/ Texto em inglês sobre a História do estilo: http://www.chinafrominside.com/ma/xyxy/xylhhistory.html Reportagem: http://ge.globo.com/mg/triangulo-mineiro/noticia/2013/10/por-contapropria-kung-fu-busca-ascensao-e-popularizacao-em-uberaba.html Fotos (Fonte: Facebook de Ma Tong Hua)
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