Revista Alimentação Animal n.º 124

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SUSTENTABILIDADE E

BEM-ESTAR ANIMAL

ALIMENTAÇÃO ANIMAL | 1 N.º 124 ABRIL A JUNHO 2023 (TRIMESTRAL) ANO XXXIV 3€ (IVA INCLUÍDO)

SUSTENTABILIDADE – DO MUNDO VUCA AO MUNDO BANI

Hoje, quando fazemos uma análise à conjuntura económica, em múltiplas vezes ouvimos uma série de chavões globais que enchem a boca de génios e justificam a sua sabedoria. As teorias do mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) ao mundo BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) justificam muito daquilo por que passámos. É claro que é certo que vivemos num mundo surpreendente e o início da década de 20 do século XXI é um exemplo de grande relevância. A velocidade dos acontecimentos é tal que, fazer análises do momento, quase nos levam ao mundo do ABD – achómetro, bitaitómetro e desenrascómetro, como me dizia um professor de marketing. Quem preveria uma pandemia e as suas consequências, ou uma invasão da Rússia à Ucrânia, todos os seus impactos e peripécias? Ninguém, digo eu. É por tudo isso que o ser humano tem de repensar atitudes e perceber que na base de uma boa convivência com o planeta está o equilíbrio e o bom senso, que é o que muitas vezes não existe quando se definem linhas mestras de desenvolvimento. De facto, os recentes acontecimentos deveriam levar os grandes decisores a perguntarem-se se as políticas que adotam são as mais adequadas para que a tão propalada sustentabilidade seja de facto uma realidade. Sustentabilidade é uma coisa demasiado séria para ser apenas uma palavra. Sustentabilidade tem de ser vista como um vetor de equilíbrio ambiental, social e económico. As decisões políticas têm de ter em conta os fatores que podem ajudar a produzir alimentos e que permitam uma redução da pegada ecológica. A base científica de nutrição de precisão tem de ser levada em conta. A proximidade da produção é outro dos fatores que também devem ser considerados e, no caso de Portugal, o incentivo à fixação da produção animal no interior do país tem de ser um desígnio para equilibrar o ambiente e evitar os desastres provocados pelos fogos devido ao abandono das terras. Evitar uma demasiada exposição às importações de alimentos só pode ser conseguida com uma agroindústria forte. Políticas excessivas e exageradas de bem-estar animal ou outras que não levem em consideração a ciência têm de ser criticadas e contestadas. Os órgãos que representam o setor têm de fazer ouvir a sua voz. O equilíbrio e a razoabilidade são fundamentais seja em Portugal ou na Europa, que parece que ainda não percebeu os riscos que corre, pela sua dependência alimentar de terceiros.

Apesar das condicionantes legais, económicas e ambientais, no nosso país vemos grupos dinâmicos a trabalharem a avicultura de carne, suinicultura e ovos e a crescerem. Vemos instituições a dar passos para incentivar, modernizar e dinamizar a produção leiteira e grupos económicos apostados na produção de carne de ovino e bovino, procurando novos nichos de mercado no país e no exterior. Outros setores como a cunicultura e ovinos de leite enfrentam mais dificuldades, mas no geral o setor agroalimentar tem sido capaz de se ajustar e reinventar, muitas vezes em contraciclo das atitudes políticas. A sustentabilidade social passa também por termos um setor dinâmico, moderno e criativo, capaz de criar riqueza e empregos, mas a produção tradicional e de interior, que está em grande declínio tem, também, de ser apoiada e incentivada para que os jovens sintam que podem apostar na produção de alimentos de origem animal e que, assim, contribuem para a tão desejada sustentabilidade ambiental, social e económica que ajudará a equilibrar a vida no planeta.

A produção de alimentos de origem animal não é apenas economia – é uma necessidade e um bem para todos e tem um grande contributo para a vida saudável no nosso planeta.

ALIMENTAÇÃO ANIMAL | 3 ALIMENTAÇÃO ANIMAL EDITORIAL
ÍNDICE 03 EDITORIAL 04 TEMA DE CAPA 20 INVESTIGAÇÃO 30 SPMA 34 FEEDINOV 38 NOTÍCIAS 44 NOTÍCIAS DAS EMPRESAS 48 IN MEMORIAM 54 AGENDA

SUSTENTABILIDADE

E BEM-ESTAR ANIMAL: DISPONÍVEIS PARA DEFENDER O QUE ACREDITAMOS?

Começa a ser frequente, nas reuniões da IACA, ou nos eventos para os quais somos convidados como oradores ou moderadores, ao falarmos sobre a volatilidade e a incerteza dos mercados, a (in)segurança alimentar, os desafios que temos pela frente, e no quanto nos sentimos, muitas vezes, isolados para lhes dar as respostas adequadas, tais as contradições (e fragilidades) das políticas nacionais e europeias, perguntarem-nos se Portugal quer apostar na atividade pecuária. Sinceramente, não sei.

Também me questiono se a União Europeia considera a produção animal – cuja indústria, no seu conjunto (alimentação animal, leite e carnes) é a mais relevante do agroalimentar – realmente importante. Infelizmente, durante o Mandato da atual Comissão Europeia, temos tido vários sinais que indiciam não ser uma prioridade, sobretudo a produção de carne, numa altura em que os focos são a segurança alimentar (disponibilidade de alimentos), o combate às alterações climáticas, a crise demográfica, a desertificação e abandono das zonas rurais, a sustentabilidade, nos seus pilares económico, social e ambiental, e o papel da Europa na geopolítica mundial, nomeadamente nas cadeias de abastecimento globais, como grande exportador, que (ainda) é. Numa conjuntura em que nos encontramos a definir os sistemas alimentares sustentáveis, talvez a resposta seja “sim”, a de que atividade pecuária é relevante e não vai ser esquecida.

Provavelmente, assente num outro modelo, que não sabemos bem como será, mas que não nos augura nada de bom, tantos são os constrangimentos e obstáculos colocados à produção animal, quer no lado da oferta, com crescentes restrições legislativas nos licenciamentos ou nos tipos de instalações, proteção ambiental, saúde e bem-estar, quer da procura, nas dietas alimentares, nos apelos a um menor consumo de produtos de origem animal, proibições sucessivas e eventualmente, quiçá num futuro não muito longínquo, a existência de taxas (gordura, emissões), ou diferenciação do IVA. Veja-se, aliás, o exemplo de Espanha com a suspensão do IVA em alguns produtos essenciais, para conter a elevada inflação nos bens essenciais, deixando de fora o setor das carnes, constituindo, em nossa opinião, um claro sinal político, ainda que estas decisões tenham muito de ideológicas, o que não deixa de ser lamentável. Para Portugal, ainda receámos que fosse seguido o mesmo caminho. No entanto, com o Governo liberto da geringonça, prevaleceu o bom senso no dossier do IVA ZERO. Mas as tendências estão lá e são transversais a todos os partidos políticos.

De facto, quando se privilegiam o fundamentalismo, o populismo e a falta de senso, quando se olha mais

para o ruído e se ignora a Ciência, corremos sérios riscos de definhar e empobrecer, de acrescentar mais abandono ao interior desertificado, tanto mais que para a definição das políticas públicas, os governos e decisores políticos têm de auscultar (e bem) os principais intervenientes da “sociedade civil”, sem nunca esquecer os “desafios societais” aqueles que, muitas vezes, nem sabemos por quem são definidos. Claramente pelos urbanos, com uma visão romântica do campo e da ruralidade.

Numa altura em que as ameaças/desafios ao desenvolvimento sustentável do nosso Setor são, para além das condições de abastecimento das matérias-primas e das zoonoses, o bem-estar animal e a sustentabilidade, seja lá o que isso signifique para qualquer um de nós – não nos esqueçamos que as empresas têm de ser viáveis e socialmente “justas” para os necessários investimentos no ambiente e no capital humano –trazemos estas reflexões para o Tema de Capa desta edição da “Alimentação Animal”.

Se queremos produzir com respeito pelos consumidores, pelo ambiente e equilíbrio do território, pelo desenvolvimento sustentável – que tem de ser viável para criar valor e emprego – que tem de produzir alimentos para diferentes mercados, sem esquecer as exportações, cada vez mais essenciais para o equilíbrio dos nossos mercados, o que pretende a opinião pública ou publicada, da pecuária ou do mundo rural, que têm de estar diretamente ligados?

É um facto que o setor pecuário está hoje no epicentro dos debates públicos em todo o mundo e não apenas na Europa.

Com essas discussões, não raras vezes amplificadas pelas redes sociais, aparecem os convencidos, os ideólogos, os “iluminados”, deixando pouco espaço para a ciência ou o bom-senso, para a comunicação e o contraditório, alimentam muitos mitos e estereótipos, que contrastam com a realidade vivida por agricultores e profissionais no terreno. A Europa é um espaço de diversidade, multifuncional, em que a dimensão média das explorações é muito inferior à dos nossos principais competidores como os EUA ou o Brasil.

A atividade pecuária apoia um grande número de empregos e indústrias, contribui para uma economia circular e garante um fornecimento constante e acessível de alimentos nutritivos, necessários para uma dieta equilibrada. Ainda recentemente no XXX Congresso da FEFAC, em Ystad, foi lançada uma brochura sobre as Estratégias nutricionais e circularidade, consolidando o caminho de proatividade da Indústria da Alimentação Animal, consubstanciadas na sua Visão 2030 e na Carta de Sustentabilidade 2030.

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SUSTENTABILIDADE E BEM-ESTAR ANIMAL

Embora o setor esteja plenamente consciente e atue em muitos desafios, com abordagens construtivas e reafirmando que quer ser (e é) parte da solução, o fim da pecuária na Europa, ou a introdução de fortes limitações ao seu desenvolvimento sustentável, teria consequências desastrosas, pelo que algumas das atuais discussões parecem-nos bastante perigosas. Num passado não muito recente, tivemos exemplos a nível mundial: o colapso da Costa do Marfim que apostou na agricultura biológica para a sua autonomia alimentar ou da Nova Zelândia, país em que a proibição da produção de ovos provenientes de galinhas poedeiras em gaiolas, são disso exemplos, ainda assim esta última opção também se discute no quadro da União Europeia. A saber, a consequência destas iniciativas foi a escassez na oferta e grandes dificuldades para os produtores, quer no mercado interno, quer para exportação. Uma outra medida do Governo neozelandês tinha sido, no final de 2022, a imposição de uma taxa aos gases emitidos pelos bovinos como medida de combate ao aquecimento global.

Também já compreendemos, com os estudos atualmente disponíveis, os impactos da legislação sobre a utilização sustentável de pesticidas ou da Estratégia “Do Prado ao Prato”, sendo certo que o peso político da pasta da Agricultura e do Desenvolvimento Rural não tem a importância de outrora, e dificilmente terá, pelo menos até final do mandato da atual Comissão.

Em Bruxelas, discutimos igualmente a futura legislação relativa ao bem-estar animal, estando em cima da mesa propostas como a limitação de leitões por porca ou o nível de produção de leite pelas vacas leiteiras. Esta abordagem representa um enorme retrocesso no que foi a evolução da pecuária, desde a genética à alimentação, à saúde animal e, não menos importante, a um direito a uma alimentação segura, de qualidade e a preços razoáveis, que permitiu, durante muitos anos, manter a inflação em níveis que contribuíram para a prosperidade dos povos em toda a Europa.

Existe de facto uma forte corrente contra a pecuária, que defende a redução do número de animais, os pequenos agricultores, a agricultura biológica, o fim das gaiolas ou as produções em ar livre como o futuro modelo em que nos devemos apoiar. Toda esta gente ignora temas tão básicos e essenciais como a biossegurança ou a eficiência na utilização de recursos, a tecnologia ao serviço das produções e da produtividade e a relevância do comércio internacional, em que a União Europeia não é, não pode ser, uma ilha. Questionamo-nos se existe uma verdadeira política integrada no espaço europeu e nacional que, de uma forma holística, responda aos atuais problemas nesta “tempestade perfeita” em que vivemos, e receamos que o PEPAC não

seja suficientemente robusto, nem esteja à altura das ambições.

Mas não estamos condenados a um papel passivo e de meros espectadores.

A UE criou iniciativas de cidadania para que os seus cidadãos liderem a mudança. Quando uma iniciativa de cidadania atinge um milhão de assinaturas, a Comissão Europeia é obrigada a responder aos cidadãos e a tomar medidas.

Tal como aconteceu com outros dossiers – e o fim das gaiolas terá sido dos mais emblemáticos – é possível (re)abrir o debate e lançar a discussão de uma forma legítima e legitimada pelas regras de cidadania europeia.

Nesta perspetiva, a European Livestock Voice, entidade que integra organizações representativas da pecuária da União Europeia, incluindo a alimentação animal, avançou com uma proposta

que podemos encontrar em meatthefacts sob o lema “Protect Our Rural Heritage”, que procura trazer um maior equilíbrio ao debate. Quando escolhemos um dos lados, temos de saber lidar com as suas consequências. Será que não conseguimos atingir um milhão de assinaturas no espaço da União Europeia ou 14 805 em Portugal? Dispomos, assim, de um instrumento que não devemos desperdiçar, de sermos ativistas para as causas em que acreditamos.

Pessoalmente, é-me difícil, impossível, imaginar um mundo sem atividade pecuária, sem animais, seria o fim da Agricultura.

E, isso sim, seria ainda mais penoso para a saúde do Planeta.

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Jaime Piçarra Secretário-Geral da IACA

SOBRE A SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO DE CARNE DE AVES NA UNIÃO EUROPEIA

Desde a década de 1950 que a produção de carne de aves vem experimentando uma crescente eficiência produtiva e concomitante expansão, particularmente relevante em Portugal, onde o consumo por habitante se eleva a 45 kg por ano, o que coloca Portugal em primeiro lugar na União Europeia (UE) no que concerne ao referido consumo, com relevo para a carne de frango (Gallus gallus) que representa cerca de 90% do total supramencionado, que inclui também as carnes de peru (4,5 kg/hab./ano), pato (1 kg/hab./ano) e codorniz.

Para a aludida melhoria substancial do desempenho tanto das galinhas reprodutoras como da descendência (frangos de carne), a maior contribuição é atribuída à seleção genética (85-90%) e o restante deve-se principalmente à melhoria da nutrição, mas também ao condicionamento ambiental (conforto animal) e à profilaxia, designadamente à introdução de diversas vacinas que vieram permitir a produção avícola concentrada, proporcionando assim economias de escala – tudo o que precede veio concorrer para reduzir os custos de produção e, por conseguinte, em economias de mercado, veio proporcionar aos consumidores uma excelente proteína animal a baixo preço.

A crescente eficiência produtiva anteriormente aflorada justifica a evolução do consumo de carne de frango, em particular em Portugal, tendo subido de 1,4 kg por habitante em 1960 para os supramencionados 45 kg atualmente. Este incremento acentuado contribui de forma notável para ultrapassar a subnutrição proteica que afetava a generalidade dos Portugueses, vindo assim a favorecer o ganho de massa muscular – propiciadora do aumento da força física, desempenhando também um papel importante na regulação do metabolismo do corpo, diminuindo assim os riscos de desenvolvimento de doenças e de mortalidade, e prevenindo a perda de massa muscular causada pela idade (sarcopenia).

No tocante à fileira do frango de carne importa assinalar a competitividade do setor português, conforme se ilustra com as exportações de ovos para incubação, pintos do dia e carne de frango, tanto para países da UE como para países terceiros. Sobre a atual importância da produção de carne de aves na UE, importa relevar que em sete países ultrapassa 50% do total de carne produzida e, na vizinha Turquia, representa cerca de 80% do total.

Acresce que as previsões elaboradas em 2022 pela OCDE/FAO, consideram um aumento da produção de carne de aves de 16% no mundo e de 4% na Europa até 2031.

Perante este panorama, é com estranheza que assistimos à apresentação à Comissão Europeia, por parte da Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos (EFSA), diversas propostas alegadamente para melhorar o bem-estar das aves, mas que inevitavelmente iriam condicionar substancialmente a produção avícola com reflexos brutais na sustentabilidade.

De entre as propostas apresentadas pela EFSA, e atualmente em discussão pública, vou abordar apenas as que considero que mais afetam a sustentabilidade, começando pela proibição do corte de bicos. O problema do corte de bicos desde há muitos anos que suscitou o meu interesse, tendo-me levado em 1994 a realizar um ensaio não cortando o bico dos galos de um aviário com cerca de 10 000 galinhas reprodutoras pesadas.

Neste ensaio experimental, realizado num aviário com janelas, portanto com luz natural, verificou-se que inesperadamente a intensidade luminosa foi responsável por um forte nervosismo dos galos, o que os levou a matar cerca de 5000 fêmeas. Prontamente formou-se uma equipa de trabalhadores que procedeu ao corte do bico de todos os galos necessários para as 5000 fêmeas sobreviventes, não se tendo verificado posteriormente mais mortes causadas pelos galos.

Numa outra situação, ocorrida num aviário também com janelas e igualmente situado próximo de Lisboa, o corte de bicos de todas as aves foi da nossa responsabilidade, tendo-se verificado após a transferência que foram mal cortados os bicos das fêmeas de dois bandos com cerca de 10 000 galinhas cada. Posteriormente, sendo as aves excessivamente estimuladas por elevada intensidade luminosa, as galinhas reprodutoras mostraram tendência para criar uma hierarquia, verificando-se então inúmeras situações de picassismo. Também neste caso se formou prontamente uma equipa de trabalhadores que procederam a um corte correto dos bicos das fêmeas, tendo assim terminado o picassismo. Os dois exemplos anteriormente expostos ilustram que o corte de bicos pode não ser benéfico para o bem-estar das galinhas reprodutoras pesadas, nomeadamente quando alojadas em aviários com

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janelas e localizados na região mediterrânica. Acresce que, atualmente, o corte de bicos é efetuado pela empresa fornecedora das galinhas reprodutoras, a qual recorre para o efeito à tecnologia laser, que não causa sofrimento às aves.

Assim sendo, na minha modesta opinião, a proibição do corte de bicos não pode ser aplicada de forma universal, devendo ter-se muito em atenção (i) as condições de alojamento das aves, nomeadamente se se trata de pavilhões com janelas ou pavilhões fechados mas com varandas; (ii) o clima, pois a intensidade luminosa é muito variável consoante a latitude; (iii) e, ainda, a tecnologia utilizada na operação do corte de bicos.

A alimentação excessiva das aves reprodutoras também preconizada pela EFSA conduz a pesos vivos muito elevados para aves alojadas durante 60 semanas, de que resultam problemas metabólicos, mortes súbitas, dificuldades locomotoras com os inconvenientes abaixo mencionados, e prolapsos – tudo contribuindo para uma produção menos eficiente,

associada a custos mais elevados. Também a administração excessiva de água, igualmente preconizada pela EFSA, leva à produção de fezes muito húmidas que, conforme já tenho observado, são responsáveis pelo encharcamento das camas, o que provoca a libertação de amoníaco (gás tóxico) e causa dermatites nas patas das aves, as quais causam lesões nas mesmas, diminuindo assim a atividade locomotora e o comportamento reprodutivo; consequentemente concorrem para o decréscimo do número de ovos férteis por galinha alojada, o que conduz ao incremento do custo dos pintos do dia, o qual se irá refletir no valor dos correspondentes frangos de carne – note-se que estes custos adicionais irão repercutir-se no preço final do produto pago pelo consumidor.

Uma terceira proposta da EFSA e também atualmente em discussão pública, consiste em baixar a densidade de alojamento das aves de 33 kg/m2 para um máximo de 11 kg/m2

A concretização desta proposta tem inconvenientes da ordem ambiental, económica e

social, sem que seja evidente que traga uma melhoria sensível ao bem-estar das aves, tanto mais que a referida proposta não parece ter uma fundamentação científica sólida, designadamente quando se baseia em observações de aves com menos de 26 dias de idade para demonstrar a relação negativa entre a movimentação dos frangos e a densidade de alojamento.

Passemos em seguida a uma análise detalhada no que concerne à fileira do frango de carne, considerando em primeiro lugar a questão da densidade de alojamento das aves reprodutoras na fase de cria/recria, em que a alimentação é administrada no solo sob a forma de alimentos granulados, o que pela minha experiência pessoal revela que densidades de 33 kg/m2 não implicam qualquer desconforto para as aves, permitindo-lhes uma boa movimentação e posterior excelente desempenho reprodutivo.

Na fase reprodutiva as fêmeas são alimentadas recorrendo ao uso de calhas desenhadas de modo a conceder um amplo espaço por ani-

mal, de modo que não se verificam situações de agressividade entre as galinhas. No que respeita aos galos são utilizados comedouros sobrelevados, com capacidade para 8 a 12 machos conforme o modelo, impedindo assim o acesso das fêmeas, dada a existência de um dimorfismo sexual acentuado. Cabe notar que a alimentação separada por sexos permite controlar a uniformidade das aves e – muito importante – impede que os galos adquiram um peso vivo excessivo, o qual iria não só inibir a libido como também dificultar a monta, tudo concorrendo para baixar a fertilidade dos ovos (cujos embriões correspondem aos pintos do dia, futuros frangos de carne). Nestas condições, a nossa experiência pessoal revela que densidades de alojamento até 33 kg/m2 não causam desconforto às aves reprodutoras, nem afetam o desempenho reprodutivo, onde não raro alcanço desempenhos muito superiores aos constantes do standard elaborado pela respetiva empresa de seleção. No que concerne aos frangos de carne, em Portugal é comum começar a tirar para abate as aves aos 28 dias de idade, quando a densidade é da ordem dos 30-33 kg/m2; subsequentemente, vai-se tirando gradualmente, podendo no máximo ir até aos 49 dias de idade, a fim de satisfazer as exigências de diferentes mercados quanto ao peso vivo pretendido, sem que em qualquer fase se ultrapasse a densidade de 30-33 kg/m2, não se observando problemas de bem-estar animal, inclusive aos 49 dias de idade, aquando da possível última retirada de aves para o matadouro.

No que aos inconvenientes para o ambiente diz respeito, saliente-se que a aludida redução da densidade de alojamento implica triplicar a área ocupada pelas atuais aves, o que exige não só uma ampla expansão da área de solos impermeabilizados, como também um enorme investimento na construção de novos aviários, o que requer um esforço económico muito elevado, que inevitavelmente se irá refletir no custo final da carne de frango. Este aumento do preço do frango traz um impacto social considerável, particularmente grave num país cuja população atravessa uma fase de grandes dificuldades económicas, levando inclusive o Governo Português a retirar o IVA para aliviar o preço do cabaz de bens essenciais (hortaliças, fruta, carne, pão, etc.), prescindindo assim o Estado de cerca de 600 milhões de euros de receita fiscal.

Ainda no âmbito do impacto económico para os países da UE, note-se desde já que estas propostas de baixa densidade de alojamento não são observadas nos países terceiros concorrentes, pelo que a sua eventual adoção retiraria competitividade aos avicultores da UE, tanto mais que, presentemente, não existe qualquer mecanismo que limite as importações de produtos avícolas de países terceiros com particulares padrões de bem-estar animal.

No que à criação de frangos de carne diz respeito, a aludida proposta da EFSA vai também no sentido de limitar a 50 g por dia o crescimento máximo do frango de carne (presentemente é variável, dependendo da idade da ave, sendo que após as 4 semanas de idade é habitualmente superior a 90 g por dia, graças aos avanços científicos alcançados ao longo das últimas décadas nos domínios do melhoramento genético, da nutrição e do bem-estar proporcionado às aves).

Ora, uma baixa velocidade de crescimento do frango de carne conduz a uma menor eficiência alimentar, decorrente do facto da maior proporção da energia ingerida pela ave se destinar a satisfazer as suas necessidades de conservação (dependentes do peso vivo – metabolismo basal –, da temperatura ambiental, da atividade voluntária da ave e do estado da plumagem); consequentemente, o índice de conversão alimentar, expresso pela quantidade de alimento consumido por kg de aumento de peso vivo, eleva-se, o que tem diversas consequências negativas em termos ambientais, económicos e sociais; acresce que, para a generalidade dos consumidores Portugueses, também tem consequências organoléticas negativas, pois preferem a carne dos frangos de crescimento rápido por ser mais tenra e saborosa nomeadamente quando grelhada.

Primeira consequência: ao maior consumo de ração corresponde uma maior área de terra destinada à produção dos alimentos vegetais (cereais, oleaginosas) incorporados no alimento composto administrado ao frango de crescimento lento, o que tem um impacto mais negativo em termos ambientais, comparativamente ao frango de crescimento rápido que consome menos ração por kg de peso vivo.

A este propósito é interessante atentar num recente estudo científico publicado pela

prestigiada Universidade de Wageningen, que demonstra que o progresso anual que se tem obtido no melhoramento genético do frango de carne – considerando a atual produção mundial – proporciona por ano ao mundo uma enorme poupança de terra cultivada (610 200 ha, que corresponde a 160% da área ocupada pelo olival português), e também uma elevada economia de água de rega (5,1 milhões de m3).

Segunda consequência: ainda no que concerne à sustentabilidade ambiental, quanto menor for a velocidade de crescimento da ave maior será obviamente o número de dias para atingir o peso vivo de abate e, por conseguinte, maior consumo de água e mais elevadas emissões de CO2 (gás de efeito estufa, que importa diminuir para mitigar as alterações climáticas) por kg de peso vivo do frango; acresce ainda mais energia despendida no condicionamento ambiental de um aviário menos povoado (onde portanto é menor o calor da comunidade) e nos diversos equipamentos instalados no aviário; refira-se ainda que, para igual produção de carne, torna-se necessário uma maior área de aviários.

Terceira consequência: a um maior consumo de ração por kg de peso de vivo corresponde um aumento do custo de produção, que inevitavelmente se irá refletir no preço de venda da carne de frango – com reflexos negativos na sustentabilidade social, pois o referido incremento de preço irá ser suportado pelo consumidor final. Acresce que os consumidores Portugueses preferem o frango tenro, portanto de crescimento rápido, e, além disso, de baixo preço, cabendo notar que em Portugal 22,4% da população encontra-se em risco de pobreza ou exclusão social.

À laia de conclusão – com base na minha experiência profissional em todos os segmentos da fileira do frango de carne e atendendo às considerações anteriormente expostas – na minha modesta opinião as recomendações ora em apreço, propostas pela EFSA com vista à melhoria do bem-estar animal, não são suficientemente relevantes para justificar o impacto que teriam na sustentabilidade –ambiental, económica e social – e, ademais, iriam causar um declínio abrupto do sector da produção de carne de aves na UE, aumentando assim a dependência alimentar de países terceiros, mas que recentes acontecimentos de índole político-militar não aconselham.

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TEMA DE CAPA
ANIMAL

SUSTENTABILIDADE E BEM-ESTAR ANIMAL NA SUINICULTURA

O mercado da carne de porco a nível europeu tem-se caracterizado nos últimos meses por preços muito elevados, talvez os mais altos de sempre que compensam os elevados preços das matérias-primas para rações. Pensemos um pouco nos motivos para esta situação.

As exportações para países terceiros sofreram uma descida significativa com a China a praticamente só comprar subprodutos e não a carne. O Vietname deixou praticamente de importar uma vez que neste momento está a ser abastecido pela Rússia. Por outro lado as Filipinas têm vindo a aumentar as suas compras devido à diminuição da produção interna com a Peste Suína Africana. O consumo interno tem vindo também a baixar não só devido às pressões mediáticas sobre o consumo da carne mas também devido ao grande aumento do preço da carne.

Por outro lado, a diminuição da produção na UE baixou muito significativamente cobrindo largamente os aspetos negativos e levando a um desequilíbrio do mercado com a consequente subida dos preços.

Em 2022 tivemos uma quebra de produção europeia superior a 5% devido sobretudo à Alemanha (2º produtor europeu) com cerca de – 12% seguida da Polónia com igual valor, da Dinamarca com – 10% e da Bélgica com menos de 10%.

Na Alemanha regista-se um grande desalento entre os produtores que consideram que o seu governo está a tomar medidas contra a produção. Esta politica tem tendência a continuar pelo que podemos facilmente antever uma continuação da descida da produção.

Em Espanha a doença de Pierce tem provocado perdas muito significativas nas explorações o que levou a inverter a tendência de subida de uma média de 5% nos últimos anos para uma estabilização e mesmo com uma ligeira descida.

Apesar de todos estes fatores que conjugados são positivos para o mercado continuamos com uma grande atividade de abertura e consolidação de mercados de países terceiros. Sem a China e as Filipinas seria praticamente valorizarmos subprodutos do porco que não consumimos.

Estamos assim numa posição comoda para os produtores não se esperando uma baixa de preços do porco e no momento em que as matérias-primas para as rações têm tendência a baixar de preço, bem como a energia.

Não nos podemos esquecer o que sofremos em 2021 e nos primeiros meses de 2022 e bem se pode utilizar a expressão popular "não há fome que não dê em fartura" e estamos a enfrentar neste momento em Bruxelas as propostas de alteração legislativa que podem vir a condicionar a nossa atividade.

A nossa boa situação está a provocar posições de políticos em Bruxelas que não percebem nada do setor, só querem ser notícia ao escolherem o nosso setor para ser o seu alvo potencial.

Vejamos as propostas que podem vir a prejudicar a nossa atividade

AMBIENTE

Neste capitulo as decisões mais importantes passam pela proposta para a nova diretiva das emissões que prevê fixar os limites mínimos tara isenção de LICENÇA AMBIENTAL as explorações de engorda para 666 porcos de engorda ou 400 porcas em produção de leitões. Como sabem hoje em dia estes valores situam-se nos 2000 porcos de engorda e 700 reprodutoras. Neste caso as grandes explorações não vão ser atingidas mas as pequenas e médias vão ter um encargo adicional com a elaboração dos estudos para a licença ambiental e estes custos que são iguais para uma exploração de 3000 porcos de engorda implica um aumento real do custo de produção uma vez que são a dividir por menos animais.

Em relação aos limites para exigir um estudo de impacto ambiental ainda não temos os valores mas irão sempre nesta linha de descida dos limites.

MEIO AMBIENTE

Este tema é o mais problemático de todos uma vez que deixou de ser um tema técnico-cientifico para passar a ser um tema politico. Pode parecer bizarro o que estou a dizer mas eu passo a explicar:

Neste último mandato da Comissão tivemos várias correntes politicas para limitar e diminuir a produção animal. Começou logo no ínicio do mandato com o nosso Comissário da Agricultura a publicar nas redes sociais a sua posição contra as grandes explorações de pecuária intensiva e também contra a concentração da produção. Isto apesar de grave foi algo de menor importância, porque o grave têm sido as posições do Comissário Timmermans que começou com as estratégias "FROM FARM TO FORK" e "GREEN DEAL" onde se pretende defender uma agricultura sustentável.

No COPA-COGECA também defendemos uma produção sustentável e que vá no sentido dos anseios do consumidor. O problema está na tentativa de aplicação de medidas que têm pouco de sustentável e muito mais de ataque direto ao setor, como é o caso do bem-estar animal.

O grupo de trabalho do COPA-COGECA tentou tomar uma posição construtiva neste sentido em vez de criticar as propostas. Assim em Outubro de 2021 apresentamos à Comissão um documento com uma proposta concreta para a revisão do bem-estar animal dos porcos. Esta proposta tinha três pontos fundamentais: o fim das jaulas nas maternidades, a castração e o corte de rabos. No que diz respeito às jaulas foi decidido aceitar o fim das jaulas nas maternidades, mantendo um período de confinamento de 5 dias após parto, uma medida de parque que torne possível as alterações nas explorações

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António Tavares

existentes e também um período de transição no mínimo de 15 anos.

Na castração defendemos a obrigatoriedade de anestesia na castração cirúrgica para os leitões de todas as idades. Temos assim a possibilidade do produtor optar por uma de três opções:

a) Criar machos inteiros

b) Castração cirúrgica com anestesia

c) Imunocastração

Para o corte de rabos é claro que neste momento não estamos em condições de implementar a proibição do corte dos rabos, mas queremos trabalhar nessa direção necessitando para isso de mais estudos que nos permitam saber em que circunstâncias podemos deixar os rabos inteiros. Como dissemos este documento foi entregue à Comissão mas infelizmente não teve qualquer resultado uma vez que foi criado um grupo de trabalho para analisar novas propostas, grupo esse a que pertenço com pseudo cientistas que muitos deles não sabem o que é um porco, mas são altamente fundamentalistas e coordenado por uma senhora que me confessou que nunca entrou numa exploração de porcos.

Posso dizer-vos que a guerra tem sido grande e já perdi inclusive noites a pensar como reagir a esta gente, indo de seguida apresentar as propostas que estão em cima da mesa e o que nós representantes da produção estamos a tentar conseguir. Em relação à castração a proposta é de proibir a castração cirúrgica e considerar a imunocas-

tração melhor que criar machos inteiros para o bem-estar animal.

Neste capítulo julgamos que a nossa proposta vai vingar dando a possibilidade aos produtores de criar machos inteiros ou de castrar cirurgicamente com anestesia.

Nas jaulas pretendem a proibição de qualquer tipo de jaula quer na maternidade quer na gestação. Em relação aos parques de maternidade querem uma área mínima de 7.8 m2 e proibir o confinamento nos primeiros 5 dias.

Neste ponto estamos a lutar por uma área mínima nas maternidades de 6,5 m2, com um período de confinamento de 5 dias após o parto e a manutenção das jaulas na gestação durante o período de inseminação.

No que diz respeito ao corte de rabos a proposta é simplesmente proibir o corte de rabos.

Este é um ponto muito sensível, mas pensamos que a Comissão pode aceitar um período de transição de 10 anos com uma revisão ao fim de 5 anos e a realização de estudos que mostrem a possibilidade de criar porcos com rabos inteiros. Nas engordas pretende-se proibir as grelhas e uma área mínima de 1.17 m2 por cada porco com 110 Kg.

Em termos de tipo de piso as grelhas não vão seguramente proibir as grelhas mas para as explorações novas vamos pensar que só deve vir a ser autorizado 50% de grelhas em relação às existentes continuamos a defender que é praticamente impossível modifica-las.

Em resumo e como podem ver as propostas que estão em cima da mesa são altamente penalizadoras para a nossa atividade, no entanto estamos confiantes que o bom senso vai imperar e que vamos levar a bom porto as negociações.

Temos por isso de estar confiantes em que vamos ter condições para continuar a produzir, mas temos de ter consciência de que vamos ter que fazer alguns investimentos a curto prazo sobretudo nesta área de bem-estar animal.

De referir também o trabalho que tem vindo a ser feito pela FPAS em Portugal que levou a que passamos a ter uma ajuda nas ajudas diretas do primeiro pilar sob a forma de ecoregimes de bem-estar animal. De referir que só os suinicultores de Portugal e da Lituânia têm esta ajuda.

A FILPORC tem um regime de certificação animal, aprovado pelo ministério da agricultura que permite o acesso a estas ajudas. Este sistema vai também permitir a promoção da nossa carne e começar a preparar os nossos suinicultores para as mudanças que vão chegar.

Como considerações finais julgo que os próximos tempos vão ser bons para os produtores com preços altos dos porcos e com tendência de descida das matérias-primas para as rações, mas incentivo todos para que se inscrevam na certificação da FILPORC pois será não só a maneira de valorizar melhor os seus porcos mas também para criar condições financeiras e técnicas para enfrentar os desafios que se adivinham.

O PAPEL DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL NUMA PRODUÇÃO ANIMAL MAIS SUSTENTÁVEL

O que entendemos por Sustentabilidade?

A definição de Sustentabilidade, segundo a ONU (1987), é: "satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades". Neste artigo vamo-nos centrar no impacto ambiental da produção de proteína animal, porém, devem ser levados em conta os três pilares: garantir o equilíbrio entre crescimento económico, cuidado com o meio ambiente e bem-estar social. Neste contexto, existem vários fatores que lideram ou aceleram a mudança para uma produção mais sustentável. Os consumidores estão cada vez mais preocupados com a sustentabilidade, e a demanda por produtos com menor impacto ambiental está a crescer, transferindo essa preocupação, de forma ascendente, para toda a cadeia alimentar. É inegável que a digitalização vai favorecer a troca de informação e a transparência em toda a cadeia, através da rastreabilidade e, muito provavelmente, utilizando os rótulos ecológicos como denominador comum para simplificar a comunicação da informação em termos de impacto ambiental ao consumidor final. Por outro lado, a regulamentação presente e futura enquadrará os limites e o contexto da produção alimentar, incluindo a produção de carne, ovos e leite. Neste sentido, a existência de metodologias de cálculo comuns, sobretudo no quadro da União Europeia, ajudará a compreender e melhorar os processos produtivos da produção alimentar.

Medindo o impacto ambiental da proteína animal

Se analisarmos o impacto ambiental da proteína animal, especificamente, o impacto nas alterações climáticas, observamos que, tal como acontece com os custos de produção, onde a alimentação tem o maior peso (50-75% dos custos totais), a alimentação animal é o principal contribuinte, 40-80% da pegada de carbono total, embora existam variações consideráveis entre monogástricos e ruminantes, e é evidente a necessidade de cada produtor calcular e analisar quais são as principais fontes

que contribuem para as diferentes categorias de impacto ambiental, para poder elaborar planos de ação que mitiguem o impacto ambiental e, assim, possam se demarcar das diferentes publicações de dados médios de pegada do produto. Dado que é no caso dos monogástricos, onde encontramos uma maior contribuição da dieta para o impacto ambiental total, neste artigo iremos focar-nos em dois exemplos: a avicultura de carne e a suinicultura de engorda.

Um dos primeiros passos que deve ser dado para entender o impacto ambiental dos produtos é realizar o que se chama de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Baseia-se na compilação e análise das entradas e saídas do sistema para obter resultados que mostrem os seus potenciais impactos ambientais, com o objetivo de não apenas conhecer, mas também de poder determinar estratégias para a sua redução. Atualmente, a categoria de impacto ambiental mais utilizada é a pegada de carbono. O conceito de Pegada de Carbono (PC) surge do conceito de Pegada Ecológica ou Ambiental, do qual se pode dizer que é um subconjunto. Na verdade, a PC é uma versão simplificada de uma Análise do Ciclo de Vida em que, ao invés de considerar várias categorias de impacto ambiental ao mesmo tempo, apenas é considerada uma delas, aquela relacionada com o Aquecimento Global devido à emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), e é medida em equivalentes de dióxido de carbono (kg CO2 eq). Neste contexto, em dezembro de 2021, a Comissão Europeia publicou a Recomendação (UE) 2021/2279 sobre a utilização de métodos da pegada ambiental para medir e comunicar o comportamento ambiental dos produtos e organizações durante o seu ciclo de vida. No caso da proteína de origem animal, existem metodologias para calcular esta pegada ambiental, que são as chamadas Regras de Categoria de Pegada Ambiental de Produto (Product Environmental Footprint Category Rules, PEFCR), além de outras metodologias de referência, como o LEAP Guidelines da FAO e o IPCC (International Panel on Climate Change), que também seguem a metodologia.

As emissões, por sua vez, são classificadas de acordo com o seu âmbito que ocorre dentro de

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Ana García Diretora dos Serviços de Precisão, DSM Nutritional Products Iberia, S.A.

Figura 1. Âmbito e emissões ao longo da cadeia de valor

aditivos na produção animal, como o documento “Quantificando os efeitos dos aditivos alimentares na pegada ambiental da produção animal” (http://www.fao.org/partnerships/leap/applications/en/). Entre estes aditivos estão enzimas, probióticos, óleos essenciais, ácidos orgânicos e também aditivos zootécnicos que auxiliam na redução do metano entérico.

Impacto Ambiental em Avicultura

uma organização (Figura 1). Âmbito 1: são todas as emissões diretas de GEE; Âmbito 2, são aquelas emissões indiretas, mas derivadas do consumo de eletricidade, calor ou vapor adquiridos para os processos de uma empresa; e Âmbito 3, outras emissões indiretas de bens ou serviços de fornecedores. Nas ocasiões em que estas informações não estão disponíveis, são utilizados bancos de dados para a sua estimativa. Desta definição derivamos que as empresas podem tomar decisões para reduzir as suas emissões de âmbito 1 e 2, porém, para reduzir a soma das três, incluindo o âmbito 3, é necessária a colaboração a montante da cadeia, ou seja, traçar estratégias conjuntas de otimização e minimização do impacto ambiental junto aos fornecedores.

Fatores que afetam a pegada ambiental da produção animal

Como mencionado anteriormente, a alimentação animal é a principal responsável pelo impacto ambiental dos alimentos de origem animal, principalmente no caso dos monogástricos. Uma das principais razões é a pegada das matérias-primas que fazem parte dos alimentos, que por sua vez também é condicionada pela sua origem (insumos e consumo de recursos, produtividade das culturas, etc.).

A densidade nutricional, especialmente no que diz respeito à proteína e energia, tem um impacto ambiental nas emissões ao nível da exploração, bem como na sua digestibilidade: tudo o que o animal não consegue aproveitar, inevitavelmente acaba por se converter em emissões. Paralelamente, qualquer estratégia que privilegie a saúde e a funcionalidade gastrointestinal dos animais, bem como o desempenho zootécnico, passará a ser uma otimização e redução do impacto ambiental por cada unidade de produto (kg de carne, kg de leite, kg de ovos). No caso dos animais destinados à reprodução ou bovinos de leite, a maximização da fertilidade e das condições sanitárias dos animais resultará na melhoria da rentabilidade e, paralelamente, na sustentabilidade. Dentro destas estratégias que favorecem a sustentabilidade na produção animal encontramos o uso de ingredientes e aditivos, sejam eles tecnológicos, nutricionais, sensoriais ou zootécnicos. Existem publicações que compilam estes benefícios do uso de

Como referido anteriormente, no caso dos monogástricos, e sobretudo a avicultura, a dieta é o fator com maior peso em termos de impacto ambiental, sobretudo no que diz respeito às Alterações Climáticas (Figura 2), cerca de 84% sobre o total de kg de CO2eq por kg de alimento para animal. Adicionalmente, verifica-se que o consumo de recursos como eletricidade ou gasóleo representa cerca de 6%.

Figura 2. Impacto Ambiental nas Mudanças Climáticas (kg CO2 eq/kg peso vivo) de frangos de carne

Alterações Climáticas total (kg CO2 eq/kg peso vivo)

Alimento para animal

Ave do dia

Recursos

Palha de trigo

Alojamento

Fonte: A aplicabilidade das diretrizes de ACV para modelar os efeitos dos aditivos da alimentação animal na pegada ambiental da produção animal (Blonk e DSM)

É por isso que a composição do alimento para animal, a origem das matérias-primas e a digestibilidade dos nutrientes do alimento para animal são fatores determinantes na hora de estimar a pegada ambiental, não só na avicultura, mas em todas as espécies. A Figura 3 mostra um exemplo das diferenças que podemos encontrar na categoria ambiental das Alterações Climáticas (kg CO2 eq), referenciada a kg de alimento para animal, num cenário no qual foi considerado a mesma composição de matérias-primas e aditivos, bem como o perfil nutricional (níveis de energia e proteína), e apenas se alterou a origem das matérias-primas com maior taxa de incorporação na fórmula. As principais conclusões que tiramos é que, para a categoria das alterações climáticas, os cereais da Península Ibérica, e em geral ocorre com toda a faixa sul da Europa, os cereais penalizam o resultado e, no caso da soja, a soja de origem de áreas não desmatadas é a que, quando incluída na dieta, favorece o menor valor em termos de pegada de carbono para este exemplo de alimentos para frangos de carne. Como mencionado anteriormente, além da origem das matérias-primas, o uso de aditivos no alimento para animais ajuda-nos a melhorar a digestibilidade de todos os nutrientes, reduzindo o impacto ambiental. Um exemplo do mesmo estudo do exemplo anterior (A aplicabilidade das diretrizes de ACV para modelar os efeitos dos

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Âmbito 1 DIRETO Âmbito 3 INDIRETO Âmbito 3 INDIRETO Âmbito 2 INDIRETO Compras de bens e serviços Transporte e distribuição Compra de eletricidade, vapor, aquecimento e arrefecimento para uso próprio Investimentos Ativos arrendados Instalações da empresa Bens de capital Franchisados Transporte diário de funcionários Processamento de produtos sólidos Atividades relacionadas com energia e combustível Viagens de negócios Ativos arrendados Veículos da empresa Utilização de produtos sólidos Transporte e distribuição Tratamento de m-de-vida de produtos sólidos Resíduos gerados na operação Atividades a montante Atividades a jusante Empresa em questão

aditivos da alimentação animal na pegada ambiental da produção animal, Blonk e DSM), mostra-nos que a combinação de diferentes aditivos, especialmente o uso de enzimas e a manutenção de uma boa funcionalidade gastrointestinal pode ajudar-nos a reduzir a pegada ambiental, neste caso, em 17% (3,95 kg CO2eq vs. 3,28 kg CO2eq), como pode ser observado na Figura 4

bando tanto as emissões diretas quanto as indiretas derivadas do manejo. Neste sentido, qualquer estratégia que nos ajude a melhorar a digestibilidade do alimento para suínos e a eliminar os fatores antinutricionais, a reduzir as emissões de gases tanto de metano, de óxidos nitrosos e nítricos, bem como amónia, será de vital importância. E, finalmente, ao fazer esta análise de fontes de impacto ambiental, destaca-se a importância de trabalhar também ao nível das explorações de porcas reprodutoras, e aqui não é apenas necessário trabalhar a alimentação das porcas, mas também qualquer otimização na redução da mortalidade tanto de porcas como de leitões, redução das taxas de reposição e otimização da produtividade por porca e ano, terão também um impacto muito significativo nos quilos de peso vivo ou carne produzidos.

Alterações Climáticas – 4.11 kg CO2 eq

Exploração pecuária Animais adquiridos Alimentos para animais Recursos

Ensaio LEAP – base de referência 3.95kg CO2 eq de Alimentação Animal – 3.28kg CO2 eq

Exploração pecuária Animais adquiridos Alimentos para animais Recursos

Ensaio LEAP – combinação de Aditivos de Alimentação Animal – 3.28kg CO2 eq

Exploração pecuária Animais adquiridos Alimentos para animais Recursos

Fonte: A aplicabilidade das diretrizes de ACV para modelar os efeitos dos aditivos da alimentação animal na pegada ambiental da produção animal (Blonk y DSM).

Impacto Ambiental em Suinicultura

No caso de suínos de engorda, Figura 5, a alimentação continuaria a ser a principal fonte de emissões, nomeadamente em termos de alterações climáticas totais (kg CO2 eq), ainda que o seu contributo para o total rondaria os 60%, seguido do impacto ambiental que os animais já teriam na entrada da exploração (22%) e seguido de perto pelas emissões produzidas na exploração, com 16%, englo-

Fonte: A aplicabilidade das diretrizes de ACV para modelar os efeitos dos aditivos da alimentação animal na pegada ambiental da produção animal (Blonk y DSM)

Conclusões

Exploração pecuária Animais adquiridos Alimentos para animais Recursos

A sustentabilidade e, especificamente, a monitorização do impacto ambiental, são um motor de mudança, incluindo, claro, a produção de proteína animal.

Para otimizar o impacto ambiental de qualquer atividade, um dos primeiros passos que deve ser dado para entender o impacto ambiental dos produtos é realizar o que se chama de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). As Alterações Climáticas ou Pegada de Carbono é a categoria ambiental (de um total de 16 categorias) que atualmente é mais utilizada para informar, embora seja verdade que, na pecuária, outras categorias como eutrofização (marinha, terrestre e de água doce) assim como o uso da água fornecem informações valiosas e serão cada vez mais monitorizadas. A ACV é a base dos rótulos ecológicos que estão surgindo em diferentes setores, incluindo carne, leite e ovos.

No caso dos monogástricos, a maior parte do impacto ambiental está sobretudo relacionado com a alimentação animal, principalmente no caso da avicultura, e no caso dos suínos, outro foco de atenção é a gestão dos resíduos.

Por fim, qualquer estratégia que nos ajude a melhorar a digestibilidade e a funcionalidade gastrointestinal terá um impacto positivo, não só na produtividade e rentabilidade das explorações pecuárias, mas também reduzirá diretamente o impacto ambiental da produção animal.

ALIMENTAÇÃO ANIMAL | 15
Figura 4. Exemplo de Impacto Ambiental nas Mudanças Climáticas por kg de alimento para frangos de carne Figura 5. Impacto Ambiental nas Mudanças Climáticas (kg CO2 eq/kg peso vivo) de suínos (engorda) Alterações Climáticas (Total), kg CO2 eq/kg alimento para animal Figura 3. Exemplo de Impacto Ambiental nas Mudanças Climáticas por kg de alimento para frangos de carne Fonte: Sustell™, DSM, 2022. Foi considerado o transporte de cada uma das matérias-primas para a Pegada Ambiental, desde o seu país de origem de produção até à fábrica de alimentos para animais, localizada em Espanha neste exemplo.

A CRIAÇÃO DE FRANGOS E A SUSTENTABILIDADE

A criação de frango de carne pode ser abordado de maneira sustentável, considerando diferentes aspetos relacionados aos impactos ambientais, bem-estar animal, eficiência produtiva e responsabilidade social. Aqui estão algumas práticas que podem contribuir para a sustentabilidade nesse contexto:

• Bem-estar animal: Proporcionar condições adequadas de vida e bem-estar para as aves é fundamental. Isso inclui o fornecimento de espaço suficiente para se moverem, acesso a luz natural, ventilação adequada, dieta equilibrada, água limpa e medidas para evitar o stresse e doenças. Investir em sistemas de criação que permitam maior liberdade de movimento e comportamentos naturais é uma prática sustentável.

• Eficiência no uso de recursos: A criação de frango de carne consome recursos naturais, como água e alimentos. Adotar práticas que otimizem o uso desses recursos é importante para a sustentabilidade. Isso inclui o monitoramento e controle do consumo de água, o uso de dietas eficientes em termos de conversão alimentar e o aproveitamento de subprodutos da indústria de alimentos para animais.

• Gestão de resíduos: A produção de frango de carne pode gerar resíduos, como fezes e restos de alimentos. Implementar sistemas de gestão adequados, como a compostagem ou o tratamento de efluentes, é essencial para minimizar os impactos ambientais negativos e buscar formas de reciclar ou reutilizar esses resíduos.

• Saúde e segurança alimentar: Garantir a saúde das aves e a segurança dos produtos é essencial para a sustentabilidade na produção de frango de carne. Isso envolve práticas de biossegurança, controle de doenças e uso responsável de medicamentos veterinários, além de cumprir as regulamentações sanitárias e de qualidade dos alimentos.

• Energias renováveis e eficiência energética: Procurar formas de reduzir o consumo de energia e adotar fontes de energia renovável é uma prática sustentável na produção de frango de carne. Isso pode incluir o uso de sistemas de aquecimento eficientes, iluminação com tecnologia de baixo consumo energético e a adoção de energias renováveis, como a solar ou eólica, sempre que possível.

• Responsabilidade social: Considerar a responsabilidade social também é importante no manejo de frango de carne. Isso envolve garantir boas condições de trabalho para os funcionários, respeitar os direitos humanos, promover a diversidade e a inclusão e apoiar as comunidades locais.

É importante realçar que a sustentabilidade na produção de frango de carne é um desafio contínuo e envolve a implementação de práticas e políticas que considerem a interação equilibrada entre os aspetos econômicos, ambientais e sociais. Normas e certificações como o Programa de Certificação de Bem-Estar Animal (Welfare Quality) e GlobalGAP podem ajudar a orientar as boas práticas e promover a sustentabilidade na indústria avícola, tal como na AVICASAL e na SAVINOR.

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Lídia Moreira Diretora Marketing, Comunicação & Sustentabilidade

EUA ENFRENTAM RISCO DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ATÉ

2040

SE NÃO FOREM TOMADAS MEDIDAS, 80% DAS TERRAS AGRÍCOLAS DOS EUA ENFRENTAM RISCO DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ATÉ 2040

Até 2040, 80% das terras agrícolas de sequeiro nos Estados Unidos podem estar em risco devido ao aumento das temperaturas e à mudança nos padrões de chuva devido às alterações climáticas. Estas são as conclusões de um relatório do American Farmland Trust (AFT) que examina a viabilidade, até 2040, das atuais variedades e práticas de produção de milho, trigo e maçãs, e pede uma intervenção urgente para limitar o aquecimento e aumentar a resiliência da agricultura.

De acordo com o presidente e CEO do AFT, John Piotti, se, devido ao aumento das emissões de gases de efeito estufa, a natureza não puder fornecer a água e as temperaturas necessárias às culturas, nos momentos certos da estação de crescimento, “a produção agrícola sofrerá, o negócio da agricultura será desafiado, e a escassez que experimentámos na pandemia pode tornar-se endémica.”

Os agricultores já estão a sofrer os impactos negativos do clima extremo, diz o relatório – mas eles têm uma oportunidade única de limitar o aquecimento global. “Embora todos os setores tenham um papel a desempenhar na solução da crise climática, a agricultura é um setor que pode desempenhar um papel crítico duplo, reduzindo as suas próprias emissões de GEE e retirando o dióxido de carbono (CO2) existente na atmosfera para retardar as alterações climáticas”.

Para proteger as plantações das alterações climáticas, o American Farmland Trust (AFT) defende várias medidas:

• Os agricultores devem construir a saúde do solo como primeira linha de defesa, o que pode incluir o plantio de culturas de cobertura ou a redução ou eliminação da mobilização do solo.

• Os produtores de milho devem considerar utilizar a gestão de precisão de nitrogénio e diversificar a rotação de culturas adicionando feno ou um pequeno cereal.

• Os produtores de maçã devem recorrer à irrigação gota-a-gota durante os períodos de seca e eliminar a irrigação por aspersão para economizar água. O desenvolvimento de novas cultivares que sejam mais produtivas em condições de menor frio também é recomendado, mas exigirá investimentos em investigação científica.

• Embora o trigo tenha uma baixa necessidade de água, o AFT diz que os produtores de trigo podem reduzir o impacto da escassez de água atrasando ou adiantando a estação de crescimento, através de sementeiras precoces ou tardias (se os campos não estiverem muito húmidos) ou usando cultivares de amadurecimento precoce.

David Green, diretor executivo da U.S. Sustainability Alliance, disse: “O relatório do American Farmland Trust destaca a necessidade dos agricultores e criadores de gado, nos Estados Unidos da América, de proteger as suas operações para o futuro. A boa notícia é que muitos já usam práticas sustentáveis, desde a sementeira sem mobilização de solo até culturas de cobertura, para melhorar a saúde do solo e criar resiliência. Pela sua própria natureza, os agricultores trabalham duro para proteger as suas terras e conservar os recursos naturais. E continuarão a se adaptar e implementar novas práticas, tecnologias e sistemas que mostrem resultados, beneficiando ainda mais o ambiente em que eles e suas famílias vivem e trabalham.”

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USO PRÁTICO DO NIR EM FÁBRICAS DE RAÇÃO

Introdução

A espectroscopia de infravermelho próximo (NIR) é um método comum usado na indústria de alimentos compostos para analisar matérias-primas e a composição de alimentos para animais. Recentemente, os instrumentos NIR tornaram-se mais acessíveis aos utilizadores finais e a portabilidade de alguns modelos NIR demonstrou uma maior versatilidade e uma gama mais ampla de aplicações. Muitas calibrações são instaladas em fábricas de ração e em explorações para analisar forragens, matérias-primas, rações, leite, esterco, etc. As vantagens do NIR residem também na rapidez na obtenção de resultados, considerando o curto tempo de resposta quando comparado com amostras que precisam de ser recolhidas, rotuladas e enviadas para um laboratório e aguardar os resultados.

Quando usado em fábricas de ração, o NIR pode ser incorporado em muitos aspetos do processo de fabrico de rações:

1 Receção de matérias-primas – aprovar ou rejeitar dependendo dos padrões do fornecedor, atualizar formulações, segregar matérias-primas em diferentes silos

2 Moagem – garante um tamanho de partícula consistente

3 Mistura – calcula a eficiência do misturador comparando espectros em pontos temporais diferentes

4 Carregamento – realizar análise de produto acabado

Neste artigo, fornecemos exemplos práticos para ilustrar como o NIR portátil pode ser usado em fábricas de ração para monitorar e controlar a qualidade da ração.

Receção de matérias-primas

O controle de qualidade dos ingredientes recebidos é fundamental por diferentes razões. Primeiro, é um meio de validar que as matérias-primas correspondem aos padrões acordados com o fornecedor (por exemplo, nível de micotoxinas, humidade, proteína bruta).

Com a tecnologia NIR, é possível rever os resultados diretamente no dispositivo, ou através de uma plataforma sincronizada com o instrumento. Por exemplo, os nutricionistas podem rever regu-

larmente um determinado conjunto de amostras analisadas e, eventualmente, ajustar a matriz de formulação conforme necessário, dependendo das tendências observadas, da frequência e do número de amostras recolhidas, bem como da frequência das atualizações da formulação dos alimentos para animais. Além disso, a aquisição ou o controlo de qualidade podem rever os resultados para determinar quais as amostras que não cumprem os standards. Para tal, podem ser implementados procedimentos na fábrica de ração, para definir alarmes e ações quando o NIR prevê resultados fora da tolerância.

No exemplo abaixo, um instrumento NIR portátil foi usado para determinar o teor de proteína bruta (PB) do bagaço de soja recebido, monitorar diferenças entre fornecedores e enviar amostras para análise química quando os níveis mínimos de proteína bruta estabelecidos em 46 , 5 % não foram atingidos. As amostras de todas as cargas recebidas foram analisadas com o instrumento NIR e as amostras com baixo nível de proteína bruta, bem como outras amostras selecionadas aleatoriamente, também foram analisadas em

Comparacão entre a decisão de aceitar ou rejeitar o bagaço de soja recebido, dependendo do método de análise usado (NIR ou análise química)

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
Virginie Blanvillain Global Services Manager, AB Vista Inc.
Resultado NIR PB% análise química CB% Conclusão NIR Conclusão análise química 46.27 46.80 Reject Accept 47.83 48.50 Accept Accept 47.64 49.00 Accept Accept 45.90 44.87 Reject Reject 46.10 46.43 Reject Reject 46.16 46.59 Reject Accept 46.03 46.71 Reject Accept 45.37 46.45 Reject Reject 46.45 47.29 Reject Accept 46.88 47.59 Accept Accept 46.36 48.13 Reject Accept 47.34 49.77 Accept Accept 46.48 47.10 Reject Accept 46.68 47.80 Accept Accept 46.49 45.50 Reject Reject 45.99 46.50 Reject Reject 46.05 46.90 Reject Accept 46.67 48.20 Accept Accept 46.36 45.80 Reject Reject 46.43 46.10 Reject Reject

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laboratório para confirmar as determinações NIR. O objetivo final foi determinar se o NIR poderia ser usado como um método de referência para rejeitar o bagaço de soja recebido quando o nível de proteína bruta estivesse abaixo de 46, 5%. Os resultados do NIR e as análises químicas são apresentados a seguir, e destacam-se as amostras com diferentes resultados de NIR e de química. Globalmente, nenhuma amostra foi aceite pelo NIR quando deveria ter sido rejeitada. Em outras palavras, não existiu nenhum resultado aceite pelo NIR quando o resultado da química foi “rejeitado”. Dependendo do fornecedor, um resultado NIR pode ser suficiente como prova para uma reclamação. Alternativamente, as amostras identificadas como rejeitadas pelo NIR, podem ser enviadas para análise química.

Outro benefício da triagem de todas as amostras recebidas é o monitoramento das matérias-primas recebidas, o que pode comparar a qualidade dos ingredientes entre os fornecedores.

A tabela acima mostra 10 amostras de bagaço de soja de 3 fornecedores diferentes, com um teor esperado de proteína bruta superior a 46 , 5 %. Torna-se claro que o fornecedor B tende a fornecer um material de proteína bruta mais baixo. Essas informações podem ser passadas para a equipa de compras, e essas matérias-primas também podem ser classificadas em silos com base no teor de proteína, permitindo um alimento composto mais consistente.

Moagem

O tamanho das partículas de milho deve ser bem controlado em fábricas de ração, particularmente quando adicionado a dietas de suínos e aves, ou alimentos em farinha. A previsão do tamanho médio das partículas de milho foi possível com o NIR portátil. Este

método é poderoso, pois permite avaliar rapidamente o tamanho médio das partículas do milho que sai do moinho, sem necessidade de pesar manualmente em peneiras individuais e calcular a média geométrica. Com este método rápido, os fabricantes de rações podem decidir colher amostras com mais frequência para monitorar tendências e ser proativos quanto a eventuais manutenções a serem realizadas no moinho (por exemplo, trocar martelos num moinho de martelo ou alinhar os rolos num moinho de rolos). Como ilustrado abaixo, o tamanho médio das partículas pode ser medido todos os dias para verificar se corresponde às expectativas, e o uso da média móvel pode ser usado para monitorar tendências. Embora esta medição seja rápida de realizar, ela não deve substituir o método de peneiramento padrão que ainda pode ser realizado para determinar a distribuição do tamanho das partículas de milho.

Mistura

Mais recentemente, a AB Vista desenvolveu uma ferramenta para determinar o coeficiente de variação (CV) de um lote de ração. A abordagem consiste em recolher os espectros de amostras colhidas de um lote do misturador e calcular o CV matemático desses espectros. O CV calculado dá, portanto, uma ideia da uniformidade do lote considerando o perfil geral dos espectros, em vez de se concentrar num único marcador ou nutriente. Embora mais trabalho esteja a ser realizado para correlacionar esta abordagem proposta com métodos padrão (por exemplo, análise de lisina livre, sódio, manganês), a ferramenta é atualmente usada em fábricas de ração para ajudar a monitorar o CV do misturador ao longo do tempo e comparar os resultados entre diferentes misturas.

Exemplo do perfil de 10 espectros colectados para determinar o CV do misturador

Análise do produto acabado

Os produtos acabados são formulados e fabricados com um conjunto de normas. Em teoria, esses padrões devem ser cumpridos na medida em que: 1) os perfis nutricionais dos ingredientes foram devidamente avaliados e controlados à chegada dos mesmos; 2) o processo de fabricação, a dosagem e aplicação dos ingredientes foram feitos conforme o esperado.

Na prática, o controlo de qualidade dos produtos acabados permite verificar se as variações inerentes, associadas à qualidade dos ingre-

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proteína bruta, % Fornecedor A Fornecedor B Fornecedor C 45 68 47 53 47 56 47 84 45 68 48 63 44 68 44 33 47 25 46 52 45 69 46 75 46 99 46 58 47 18 47 56 45 27 47 36 45 63 46 24 48 51 44 86 46 32 46 93 48 56 44 87 45 21 47 53 46 93 46 87 Media 46 59 45 94 47 23 Min 44 68 44 33 45 21 Max 48 56 47 53 48 63
Tabela de comparacão do nivel de proteína bruta (PB) do bagaço de soja recebido por 3 fornecedores diferentes.

dientes e à precisão da dosagem não afetam significativamente a qualidade dos produtos. Mais frequentemente, um conjunto de amostras é selecionado para controle de qualidade e enviado para um laboratório. Tradicionalmente, no momento em que os resultados são enviados ao fabricante da ração, é provável que a ração já tenha sido entregue ao cliente, ou mesmo já ter sido consumida pelos animais.

Nestas circunstâncias, a frequência e a diversidade das amostras analisadas pelo NIR podem ser aumentadas para obter uma imagem mais ampla em tempo real da qualidade dos produtos acabados, a um custo mínimo. Graças a um acesso remoto aos resultados numa plataforma, certificados de análises também podem ser gerados, e os resultados exportados para análise adicional por qualquer pessoa a quem tenha sido concedido acesso.

Em alguns casos, pode-se decidir analisar sempre um tipo específico de alimento antes do envio, seguindo um procedimento de aprovação, com tolerâncias predefinidas para determinados níveis de nutrientes. Por exemplo, medindo o fitato por NIR em

alimentos completos, pode-se verificar se os níveis mínimos são cumpridos. Além disso, a análise de gordura pode ser registada para monitorizar a dosagem de gordura líquida após a aplicação pós-pellets.

Por último, podem ser definidos limites de tolerância para cada tipo de produto e podem ser implementados processos simples para facilitar uma tomada de decisão rápida, através da instalação de alarmes automáticos quando os limites de tolerância não são cumpridos.

Conclusão

Os instrumentos NIR podem ser usados para várias aplicações dentro do processo de fabrico de rações.

Introduzida em fábricas de ração, a tecnologia NIR pode aumentar o número de amostras analisadas, o que pode criar dados suficientes para detetar tendências e gerar mais informações sobre o processo de fabrico de rações, maximizando a consistência e a qualidade dos produtos acabados.

AJUSTE AUTOMÁTICO DE ROLOS

O sistema de ajuste automático dos rolos (ARJ – Automatic Roller Adjustment) para as peletizadoras permite que diferentes distâncias sejam definidas entre a matriz e os rolos, com uma faixa operacional 0-6mm de ajuste. Isto permite aos fabricantes a capacidade de selecionar a distância perfeita entre o rolo e a matriz para diferentes fórmulas numa única peletizadora, garantindo um produto de maior qualidade e mais estável, incluindo uma gama mais ampla de subprodutos.

Esta tecnologia está disponível como opção padrão nos equipamentos:

• FeedMaxG7, G9 2 rolos e G12

• Paladin 2000 e 3000-350-2R

DESIGN MECÂNICO

Na figura 1 está representada a ligação deste sistema, que é feita através do veio principal da máquina por meio de ligações mecânicas.

Alguns benefícios do processo:

• Aumenta a qualidade do pellet aumentando a folga entre a matriz e o rolo.

• Aumento da vida útil da matriz e dos rolos porque não tocam na matriz.

• Combinado com o Sistema RSC (sistema de deslizamento de rolo), os rolos podem ser ajustados durante operação para evitar deslizamento dos mesmos.

• Instalando a matriz que se adapta à formulação mais difícil e por sua vez aplicando diferentes folgas dos rolos é possível adaptar-se a formulações mais fáceis.

SELEÇÃO DE MATRIZ

As formulações fáceis requerem uma matriz mais espessa, obtendo um baixo consumo de energia com uma alta capacidade de produção, logo um baixo valor de kWh/t.

As formulações difíceis requerem uma matriz mais fina, obtendo um alto consumo de energia com uma baixa capacidade de produção, logo um alto valor de kWh/t.

Este sistema consiste num cilindro hidráulico montado na parte traseira do veio principal da máquina, sendo necessária uma unidade hidráulica para o acionamento do mesmo.

Aquando da instalação da matriz, é feito o ajuste mecânico inicial das folgas dos rolos.

BENEFÍCIOS

O ajuste automático permite um arranque rápido e suave com os rolos retraídos e durante o funcionamento constrói/ cria uma camada na matriz aumentando o tempo de retenção. Aquando da paragem normal ou forçada os rolos retraem e limpam a matriz. Os rolos retraem para facilitar no processo de substituição dos mesmos.

Podemos concluir que com este sistema instalado na peletizadora, a matriz a instalar será a mais adequada para formulações difíceis, pois com o ajuste automático dos rolos, podemos aumentar a distância dos mesmos à matriz retraindo-os, “criando” uma matriz com mais espessura de modo a obter pellets de formulações mais fáceis.

A folga de 1 mm entre a matriz e os rolos corresponde a aproximadamente 5 mm de espessura da matriz (L).

CASOS DE ESTUDO

Na figura 2 temos um gráfico da comparação da distância dos rolos/ matriz, consumo de energia e PDI (Pellet Durability Index ou Índice de durabilidade do pellet) da produção de ração para frangos. Esta produção foi realizada com equipamentos ANDRITZ; peletizadora G12-40 com uma matriz Ø3,5x75/67 e com um duplo acondicionamento nos equipamentos CM902PH e CRT.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
Figura 1 – Sistema de ligação

Após a leitura do gráfico da figura 2 e do quadro 1, podemos concluir que com o aumento da distância rolos/ matriz o consumo de energia aumenta, mas o PDI também aumenta. Estes valores foram obtidos com uma produção constante de 30t/h.

No quadro 2 temos os dados da produção de ração para suínos. Esta produção foi realizada com equipamentos ANDRITZ; peletizadora P3000-350 com acondicionamento num CM1500L e 2 CRT1101K.

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Figura 2 – Distância rolos/ matriz, consumo de energia e PDI para ração para frangos Quadro 1 – Dados da produção da ração para frangos
17269_anuncio_205x228.pdf 1 30/05/23 11:03

ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO

Podemos concluir que com o aumento da distância rolos/ matriz o consumo de energia aumenta, mas o PDI também aumenta. O deslizamento dos rolos também aumenta, mas dentro dos limites normais. Na figura 3 temos um gráfico da comparação da distância dos rolos/ matriz, consumo de energia e PDI da produção de ração para ruminantes. Esta produção foi realizada com equipamentos ANDRITZ; peletizadora G9-30 com uma matriz Ø3,5x85 e com um duplo acondicionamento nos equipamentos CM1101 e CM1101K.

• Distribuidores de material.

• Sistema hidráulico.

• Sistema de controlo.

• Prato porta rolos do veio principal (nas Paladin)

*) Somente para modelos Andritz Paladin e Andritz PM No quadro 4 estão os modelos de peletizadoras onde é possível realizar este upgrade.

CONTROLO DE DESLIZAMENTO DOS ROLOS

Após a leitura do gráfico da figura 3 e do quadro 3, podemos concluir que com o aumento da distância rolos/ matriz o consumo de energia aumenta, mas o PDI como já está num valor próximo de 100% não aumenta. Estes valores foram obtidos com uma produção constante de 13,5t/h.

O sistema de controlo de deslizamento (RSC – Roll Slip Control) deteta o deslizamento entre a matriz e os rolos e envia sinais ao sistema de controlo que podem ser usados posteriormente para ajustar os rolos. Este sistema mostra qual é o rolo que está a deslizar e consegue detetar precocemente rolos e matrizes desgastados. Consiste em:

• Bobinas montadas nos veios de suporte dos rolos.

• Magnético montado nos rolos.

• Cablagem, anel deslizante e caixa de distribuição.

• Caixa de junção separada com codificadores de alta velocidade, terminais e transmissor.

RSC E ARJ

O ajuste automático dos rolos evita o bloqueio ao reiniciar retraindo os rolos após a paragem. No reinício da peletizadora estes movem-se para a sua posição.

Este sistema de ajuste permite a afinação da qualidade e capacidade do pellet durante a produção.

Quando os rolos deslizarem e a válvula anti-atascanso for ativada, os rolos são retraídos.

Esta tecnologia é recomendada para aplicações onde existe um médio/ baixo consumo de energia, como por exemplo ração para suínos e ração para aves.

UPGRADES NECESSÁRIOS

De modo a instalar esta tecnologia na peletizadora é necessário fazer um upgrade às seguintes peças/ sistemas:

• Veio principal *

• Prato frontal de suporte de rolos.

• Sistema de ajuste dos rolos.

O Controlo de deslizamento dos rolos só está disponível com o ajuste automático do rolo instalado.

Um rolo a deslizar indica que a peletizadora pode bloquear em breve, o que pode desencadear várias ações:

• Ativar a válvula anti-atascanso.

• Ajustar os rolos mais perto da matriz.

• Reduzir a capacidade.

• Ajustar os processos anteriores (condicionamento, mistura, aplicação de líquidos).

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ANIMAL
Quadro 4 – Modelos de peletizadoras passíveis de upgrade Figura 3 – Distância rolos/ matriz, consumo de energia e PDI para ração para ruminantes Quadro 3 – Dados da produção da ração para ruminantes

VOCÊ TEM A AMBIÇÃO DE CRESCER

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PARA O APOIAR

Estamos aqui para o ajudar a concretizar a ambição de crescer.

Temos um conhecimento profundo de nutrição e produção animal, sustentado em 100 anos de experiência, na presença em 75 países e numa forte aposta em Investigação.

Como seu parceiro de negócio, queremos ser a força motriz do seu crescimento, através das melhores soluções nutricionais e mais sustentáveis práticas de maneio.

Desta forma, cumprimos a nossa missão de alimentarmos animais saudáveis com responsabilidade.

De Heus, ao serviço da nutrição dos seus animais.

ALIMENTAÇÃO ANIMAL | 27

ButiPEARLTM: FONTE DE ENERGIA INTESTINAL PARA MELHOR PERFORMANCE NO PÓS-DESMAME E RENTABILIDADE NA FASE DE CRECHE

OBJETIVO

Avaliar o efeito do ButiPEARLTM em dieta de leitões na fase de creche sobre a performance e rentabilidade.

INTRODUÇÃO

O desmame é um período crítico para os leitões. O efeito imediato é a redução no consumo com baixa performance. O baixo consumo pode levar a inflamação intestinal e a consequência é a destruição das microvilosidades que contribui para a diarreia pós-desmame. O intestino e a sua mucosa perdem de 20 a 30% do seu peso relativo durante os primeiros dois dias após o desmame, e a completa recuperação leva de 5 a 10 dias. A recuperação rápida é fundamental para a performance futura do animal, pois esta é a primeira barreira de defesa contra patógenos e responsável, também, pela absorção dos nutrientes. A proliferação celular das criptas intestinais e as taxas de migração celular parecem depender fortemente da disponibilidade de energia durante o período pós-desmame. O ácido butírico, ácido gordo de cadeia curta, é fonte de energia para as células, contribuindo para a proliferação celular e melhor desenvolvimento do epitélio intestinal. Essa ação leva a uma melhoria na saúde intestinal, e consequentemente, melhor performance. Entretanto, as fontes de butirato na forma livre (sem encapsulamento) ou com encapsulamento que promove libertação rápida permitem fácil absorção na mucosa da parte inicial do trato gastrointestinal, tornando-o indisponível para o restante intestino, onde ocorre a maior parte da absorção de nutrientes. ButiPEARLTM é uma fonte de butirato de cálcio com tecnologia de encapsulamento diferenciada, que permite a sua libertação lenta ao longo de todo o trato intestinal, promovendo saúde intestinal com melhor aproveitamento dos nutrientes e consequentemente, melhor performance ao final da creche.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 240 leitões (machos e fêmeas) com idade média de 23 dias de idade e peso médio de 6,7 kg. Os animais foram divididos em 2 tratamentos: Controle e ButiPEARL. Cada tratamento foi composto por 120 leitões (10 repetições, sendo cada repetição uma baia com 12 animais), separados por sexo e blocados pelo peso inicial.

O período de avaliação foi de 49 dias, dividido em 4 fases: Pré-Iniciador 1 (24 a 31 dias de idade), Pré-Iniciador 2 (32 a 38 dias de idade), Iniciador 1 (39 a 45

dias de idade) e Iniciador 2 (46 a 72 dias de idade). As rações de cada fase foram formuladas de acordo com o requerimento nutricional dos animais em cada fase. O tratamento ButiPEARL consistia na inclusão na ração de ButiPEARLTM conforme a Tabela 1.

Controle ButiPEARL

Ração Pré-Iniciador 1 - 1.000

Ração Pré-Iniciador 2 - 750

Ração Iniciador 1 - 500

Ração Iniciador 2 - -

Tabela 1: Inclusão do ButiPEARLTM (g/T) nos tratamentos Após cada fase os animais foram pesados e o consumo de ração computado, sendo possível o cálculo do: ganho de peso diário (GPD), consumo diário de ração (CDR) e conversão alimentar (CA), as médias foram comparadas pelo teste de médias (Turkey) através do programa de estatística SAS.

Para o cálculo de análise económica, os custos da dieta foram avaliados para cálculo do retorno do investimento (ROI) resultante do uso do ButiPEARLTM

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na primeira semana após o desmame, os leitões normalmente apresentam baixo consumo de ração e consequentemente baixo ganho de peso devido ao stresse do desmame, nesse início é comum observar perda de peso e diarreias. Entretanto, o uso do ButiPEARLTM, por ser fonte de energia para os enterócitos, promove rápida recuperação do sistema digestivo e, assim melhor desempenho nesta fase inicial, como pode ser verificado nos gráficos abaixo:

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
TSM Suínos KASA
192 235 150 175 200 225 250 Controle BUTIPEARL GPD (g) 250 275 300 1.47 1.28 1.20 1.30 1.40 1.50 Controle BUTIPEARL CA 192 235 150 175 200 225 250 Controle BUTIPEARL GPD (g) 278 297 250 275 300 Controle BUTIPEARL CDR (g) 1.47 1.28 1.20 1.30 1.40 1.50 CA
Mara Costa Gráfico 1: Ganho de peso diário (GPD) na fase Pré-Iniciador 1 (p<0,01) Gráfico 2: Consumo diário de ração (CDR) na fase Pré-Iniciador 1 (p<0,05)

Na primeira semana (fase Pré-Iniciador 1), os animais do tratamento ButiPEARL tiveram melhor performance verificada pelo maior GPD (p<0,01), CDR (p<0,05) e, consequentemente, melhor CA (p<0,01), o resultado no final desta fase foi o ganho de peso de 300 g a mais que os animais do grupo controle (8,12 vs 8,42 kg, p<0,01).

O efeito positivo (p<0,05) no GPD e no CDR continuou durante a fase Pré-Iniciador 2 (Gráfico 4).

Gráfico 7: Conversão alimentar (CA) no período total de creche

CONCLUSÕES

• O desmame é um período crítico para os leitões com efeitos imediatos na redução do consumo e baixa performance

• A inflamação intestinal pós-desmame contribui para a diarreia na fase inicial de creche

• A recuperação do sistema depende fortemente da disponibilidade de energia para enterócitos

• O ácido butírico é uma potente fonte de energia para as células do epitélio intestinal

Gráfico 4: Ganho de peso diário (GPD) e consumo diário de ração (CDR) na fase Pré-Iniciador 2 (p<0,05)

O efeito nas fases iniciais teve um impacto positivo no período total da fase de creche, o grupo ButiPEARL apresentou melhor GPD (p 0,07) como pode ser observado no Gráfico 5, que totalizou o ganho de peso de 800 g a mais que o grupo controle (Gráfico 6). E esse melhor desempenho ganho de peso foi realizado com melhor CA (p 0,08) (Gráfico 7).

• As fontes de butirato na forma livre ou de libertação rápida permitem absorção rápida na mucosa do trato digestivo inicial sendo indisponível para o restante intestino, onde ocorre a maior parte da absorção de nutrientes

• ButiPEARLTM é uma fonte de butirato de cálcio com tecnologia de encapsulamento diferenciada, que permite a sua libertação lenta ao longo de todo o trato intestinal

• O uso do ButiPEARLTM na dieta de leitões no período pós-desmame promove a recuperação do trato gastrointestinal com conseqüência positiva nos dados de desempenho nas primeiras semanas de creche

• A ação do ButiPEARLTM na fase da ração Iniciadora teve efeito positivo no período total de creche, com ganho de quase 800 g no peso final em comparação ao grupo controle

Gráfico 5: Ganho de peso diário (GPD) no período total de creche

• O uso do ButiPEARLTM promove melhor performance, e assim, rentabilidade durante a fase de creche

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Campbell J et al. 2013. Journal of Animal Science and Biotechnology 4:19

Ioamis M. 2006. Applied Nutrition for Young Pigs.

Lallès J. 2004. Physiology. Anim. Res. 53:301–316.

Gráfico 6: Peso final no período total de creche

ButiPEARLTM in piglets in nursery phase, WP-19-418

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192 Controle BUTIPEARL 278 250 275 Controle BUTIPEARL 1.47 1.28 1.20 1.30 1.40 1.50 Controle BUTIPEARL CA
276 383 301 400 250 300 350 400 GPD (g) CDR (g) Controle BUTIPEARL 478 494 GPD (g) Controle BUTIPEARL 30.21 31.00 28.00 29.00 30.00 31.00 32.00 Peso (kg) Controle BUTIPEARL 1.58 1.55 1.50 1.52 1.54 1.56 1.58 1.60 CA Controle BUTIPEARL
Gráfico
3: Conversão alimentar (CA) na fase Pré-Iniciador 1 (p<0,01)
276 383 301 400 250 300 350 400 GPD (g) CDR (g) Controle BUTIPEARL 478 494 460 470 480 490 500 GPD (g) Controle BUTIPEARL 30.21 31.00 28.00 29.00 30.00 31.00 32.00 Peso (kg) Controle BUTIPEARL 1.58 1.55 1.50 1.52 1.54 1.56 1.58 1.60 CA Controle BUTIPEARL
276 383 301 400 GPD (g) CDR (g) Controle BUTIPEARL 494 BUTIPEARL 30.21 31.00 28.00 29.00 30.00 31.00 32.00 Peso (kg) Controle BUTIPEARL 1.58 1.55
478 460 470 480 GPD (g) Controle BUTIPEARL 28.00 29.00 30.00 Peso (kg) Controle BUTIPEARL 1.58 1.55 1.50 1.52 1.54 1.56 1.58 1.60 CA Controle BUTIPEARL

SECÇÃO DE PRÉ-MISTURAS E ADITIVOS

SAVE THE DATE – DIA 21 SETEMBRO 2023 – XII JORNADAS DE ALIMENTAÇAO ANIMAL

A SPMA/IACA irá realizar no dia 21 Setembro 2023 no Monte Real Hotel Termas & Spa, as XII JORNADAS DE ALIMENTAÇÃO ANIMAL, subordinadas ao tema "ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS PARA A MELHORIA DA SUSTENTABILIDADE EM PRODUÇÃO ANIMAL".

Estas Jornadas inserem-se no ciclo de continuidade sobre os temas EFICIÊNCIA ALIMENTAR, ALIMENTAÇÃO DE PRECISÃO E SUSTENTABILIDADE, dando também corpo à carta de sustentabilidade da FEFAC e à nova brochura lançada pela FEFAC no seu XXX Congresso em Ystad na Suécia, sobre o mesmo tema.

Nas nossas Jornadas teremos várias comunicações sobre a Sustentabilidade da Sustentabilidade; Redução do Fósforo; Eficiência Energética nas fábricas de Alimentos Compostos; Avaliação do impacto ambiental na formulação, entre outros temas.

A agenda final e logística será disponibilizada oportunamente.

Contamos com todos para tornar as nossas Jornadas, uma vez mais, uma referência no nosso setor e um importante Fórum de divulgação e de discussão sobre os temas que impactam a vida dos nossos associados, dos produtores e consumidores, e como a Indústria de Alimentação Animal pode dar as respostas que verdadeiramente importam.

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ALIMENTAÇÃO ANIMAL SPMA

RESUMO DO 45º COMITÉ DE PRÉ-MISTURAS E ALIMENTOS MINERAIS

No passado dia 8 de março foi realizado, em formato virtual, o 45º Comité de Pré-misturas e Alimentos Minerais.

Tendo sido a primeira do ano, foi proposto um plano de trabalhos para 2023/2024, o qual se foca principalmente nas autorizações/renovações de autorização de aditivos, bem como na assistência às empresas para as notificações aos centros antiveneno e ao acesso à vitamina D3.

No que se relaciona com o tema dos aditivos, a FEFAC elaborou um documento próprio, de uso interno, limitado aos aditivos tecnológicos – exceto de silagem – e nutricionais, a partir do qual controla os dossiers cujas datas irão expirar brevemente. Foi, então, apresentada uma listagem de aditivos tecnológicos e nutricionais para os

quais as autorizações expiram este ano e no próximo. No primeiro caso, destacam-se a preparação de benzoato de sódio, ácido propiónico, propionato de sódio e água (1a700); os sais de cobalto (3b301, 3b302, 3b303 e 3b305); quelato de zinco de metionina (3b611); selenometionina produzida por Saccharomyces cerevisae NCYC R646 (3b813); e ainda DL-metionina (3c302).

A FEFAC chamou a particular atenção para os sais de cobalto, cuja data de autorização expira a 15 de julho, sendo que o Instituto de Cobalto se encontra a fazer uma reavaliação dos riscos associados à exposição nos manipuladores.

Foi apresentada, igualmente, uma lista de aditivos que irão ser descontinuados do mercado, tais como a vermiculite (E 561), perlite

(E 599), clinoptilotite de origem vulcânica (E 567), nitrato de sódio (E 250), tragacanto (E 412), mono-oleato de polioxietileno 20 sorbitano (E 433), caramelo sulfítico caústico, caramelo de amónia e caramelo sulfítico de amónia (E 150b, c & d), bem como todas as fontes de vitamina B12 exceto sob a forma de cianocobalamina produzida por Ensifer adhaerens CNCM I-551. Para este último aditivo, espera-se que no verão de 2024 já exista no mercado uma fonte alternativa de Vitamina B12. A matéria-prima atapulgite irá sair do Catálogo de matérias-primas. No site da IACA, na área reservada da legislação do setor, encontra-se uma listagem, atualizada de acordo com o Anexo I do Registo de Aditivos, que inclui a data em que os aditivos de todas as categorias expiram.

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Ressalve-se, ainda, sobre o tema dos aditivos, que seria expectável que a Comissão Europeia divulgasse uma proposta do novo regulamento no primeiro semestre de 2022. Contudo, é expectável que tal aconteça apenas em 2025, sendo que alguns exemplos de pontos que estão ainda em discussão são: exclusividade de mercado durante três a cinco anos para o aplicante individual, ou para o consórcio, assim como uma extensão da duração de autorização para aditivos de baixo risco; e a criação de novas categorias/ grupos funcionais de aditivos relacionados com a sustentabilidade, bem-estar animal e ambiente. À semelhança de todos os processos, o detentor do produto terá de justificar bem o claim com provas científicas, o que está a atrasar todo este processo. Dado tratar-se de um processo de co-decisão (Comissão, Parlamento e Conselho), a CE pediu três anos de prorrogação ao PE e ao Conselho.

Quanto ao tema das notificações antiveneno, a partir de 1 de janeiro de 2024 irão passar a ser aplicados novos requisitos quanto às informações a transmitir – no caso de Portugal, ao Centro de Informação Antivenenos (CIAV) – sobre pré-misturas classificadas para riscos físicos e riscos de saúde. Espera-se que estas comunicações sejam feitas numa base de dados comum, a PC-ECHA, e que passe a haver a obrigação de registar o pH de cada pré-mistura. A FEFAC propôs à Comissão Europeia (CE) uma abordagem alternativa à recolha de dados, sendo que a mesma não foi aceite, dado que a DG GROW considerou que não existe uma justificação para se desenvolver uma solução específica para o setor das pré-misturas para alimentação animal.

O tema da vitamina D3 teve, igualmente, bastante destaque sendo que, à data da escrita deste resumo, e após vários meses de discussão e tensão no mercado, foi tomada a

decisão de reautorização das importações de vitamina D3 da China, para utilização em alimentos para animais. Relembra-se, contudo, que o processo para permitir estas importações de vitamina D3 (classificada como produto de origem animal) deverá respeitar os requisitos da legislação PAT (Proteína Animal Transformada) que pressupõe o registo dos produtores no sistema TRACES, a entrega de certificados sanitários e a documentação comercial, bem como o controlo dos produtos nos Postos de Controlo Fronteiriço.

Houve ainda tempo para se falar sobre o impacto da invasão russa à Ucrânia no abastecimento de microingredientes, estando a importação de BHT e a licitina food grade proibidos a partir do primeiro País. Felizmente, nenhum dos membros do Comité relevou grandes constrangimentos, à data.

Está previsto que a próxima reunião se realize a 5 de setembro de 2023, em regime híbrido.

RESUMO DO 125º COMITÉ DE NUTRIÇÃO ANIMAL

No passado dia 7 de março foi realizado, em formato virtual, o 125º Comité de Nutrição Animal.

A reunião do Comité arrancou com o plano de trabalhos para 2023/2024, sendo que os assuntos mais exigentes são os relacionados com a Brochura que a FEFAC se encontra a realizar sobre as estratégias/técnicas de alimentação animal para melhorar a sustentabilidade da produção pecuária – apresentada na Assembleia Geral, em junho, em Ystad –, bem como a nova versão do Código de Boas Práticas de Rotulagem que passará a incluir recomendações para a “Green Labelling” (rotulagem verde).

No que respeita a esta Brochura, a FEFAC pretende que a mesma consista numa lista não exaustiva de técnicas de alimentação animal para enfrentar desafios-chave na transição para práticas de produção mais sustentáveis, tanto na pecuária, como na aquacultura. Estes desafios-chave serão divididos em quatro grupos principais: emissões de gases com efeito de estufa, utiliza -

ção de recursos, saúde animal, e bem-estar animal. Algumas das técnicas descritas serão usadas como casos de estudo, tentando mostrar as prioridades para cada espécie. Pretende-se ainda que a Brochura utilize uma linguagem compreensível para todos – especialistas e não especialistas – e que sirva, eventualmente, de teaser com a possibilidade de promover o estudo e investigação de uma ou mais técnicas apresentadas.

Quanto às recomendações para a "Green Labelling", as mesmas encontram-se também a ser trabalhadas. A Comissão Europeia publicou, no final de março, uma proposta de Diretiva sobre a fundamentação e comunicação de propostas explícitas de alegações ambientais, dirigida a B2C (business to consumer). Tal criou uma janela de oportunidade para que estas recomendações para a “Green Labelling”, da FEFAC, se dirigissem a B2B (business to business), aplicáveis tanto às empresas que aderirem a este tipo de rotulagem voluntária, como aos auditores que a atestam.

Um dos temas ao qual foi dado seguimento foi o relativo aos níveis máximos de contaminação cruzada de substâncias ativas antimicrobianas em alimentos para animais não visados. De facto, da avaliação científica de risco da EFSA, obteve-se níveis de Concentração de Selecção de Resistência Antimicrobiana em Alimentos (FARSC) impossíveis de monitorizar e de garantir na maioria dos processos fabris. Caso esses níveis fossem aplicados, tal poderia levar a um potencial aumento de medicação via água solúvel e top dressing, sendo que a própria DG SANTE reconhece a importância dos alimentos medicamentosos enquanto ferramenta segura no aporte de antimicrobianos. Sucede que, desde a publicação dos pareceres da EFSA, não existem novos elementos que sugiram uma alteração da metodologia utilizada pela Federação Europeia para a Segurança Alimentar, e que o gap de dados para outros antibióticos não foi preenchido. A verdade é que se esperava a adoção, pela Comissão, de um Ato Delegado, até 28/01/2023, tendo sido

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ANIMAL SPMA
ALIMENTAÇÃO

pedido, contudo, um período de prorrogação de cinco anos. Desta forma, a CE apresentou três propostas no estabelecimento de limites máximos de contaminação cruzada: 1) limites máximos baseados nos Limites de Quantificação; 2) limites máximos baseados no nível mais baixo que causa efeitos na promoção do crescimento; 3) limites máximos baseados nos níveis adotados pelos Estados-membros no âmbito das medidas transitórias. No caso de Portugal, na sessão de esclarecimento realizada pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), a 02/03/2023, ficou definido que será aplicado 1% da dose mínima autorizada do princípio ativo em medicamentos veterinários destinados a ser veiculados, através de alimentos medicamentosos, e para a espécie-alvo do alimento controlado. Excetua-se esta disposição no caso de um lote de alimento não alvo fabricado imediatamente após um alimento medicamentoso, ao qual se aplicará um nível máximo de contaminação

cruzada de 2% da quantidade de ingrediente ativo contido no alimento medicamentoso fabricado anteriormente.

Um outro tema abordado foi o das substâncias indesejáveis, pese embora não tenha havido avanços. No caso das micotoxinas, a CE apresentou uma proposta de novos valores de recomendação passarem a limites máximos legais nos alimentos compostos, e permanecerem recomendações nas matérias-primas. Pese embora este assunto esteja "congelado" devido à invasão Russa da Ucrânia – por forma a não colocar mais constrangimentos aos já existentes –, a verdade é que a DG SANTE já comunicou que esta nova legislação será necessariamente aplicada. Quanto às dioxinas e PCBs, a CE apresentou também uma proposta de regulamento, cujas alterações incidem, maioritariamente, em produtos derivados de peixe, tais como óleo de peixe e proteínas de peixe hidrolisadas, sendo que, este

ano, espera-se uma nova ronda de revisão. Quanto à p-fenetidina, está prevista a inclusão desta substância – impureza do aditivo etoxiquina reconhecida como agente mutagénico –, na Diretiva 2002/32/CE e deverá ser atribuído um limite máximo de resíduos de 125 ppt para farinha de peixe e alimentos compostos. Este processo deveria ter sido concluído no final do ano passado, pelo que será um tema a acompanhar em 2023. Por fim, sobre a cravagem de centeio, a CE propôs a diminuição do limite máximo de resíduos para Claviceps purpurea de 1000 ppm para 500 ppm, em matérias-primas e alimentos compostos com cereais moídos exceto para o caso do centeio, cuja redução seria para 750 ppm. Estes novos limites, em princípio, passarão a ser aplicáveis a partir de julho de 2024, mas estaremos atentos caso haja, entretanto, alguma alteração. O próximo Comité está agendado para 4 de outubro de 2023, em formato híbrido.

NOTÍCIAS

"Link Me Up - 1000 ideias" FeedInov é parceiro e “Facilitador” no projeto Internacional de co-criação de inovação

O FeedInov integra o Projeto de Co-Criação Link Me Up – 1000 Ideias / DEMOLA, programa dinamizado por uma rede de 13 Institutos Politécnicos nacionais que junta estudantes, professores e entidades/ organizações no processo de co-criação de inovação, criatividade e empreendedorismo. Neste âmbito, o FeedInov associou-se ao desafio lançado ao grupo interdisciplinar da Unidade Curricular Agropecuária e Ambiente (do Instituto Politécnico de Santarém), sobre o tema “Are cows environmental efficient?”, cuja concretização decorre no ano letivo em curso.

O objetivo, para a edição do projeto Link Me Up de 2023, é chegar aos 600 casos de co-criação de inovação e 400 ideias de negócio, bem como o envolvimento de cerca de 5000 estudantes e 600 empresas, promovendo a criação de 50 empresas. Neste âmbito, o FeedInov promoveu uma visita dos estudantes que integram o projeto às instalações da União de Cooperativas de Produtores de Leite – AGROS e da Soc. Amorim Matos&Silva, Lda, empresa portuguesa que se dedica à criação de bovinos para produção de leite.

A visita aconteceu a 6 de abril com o acompanhamento de Ana Sofia Santos (Diretora para a Ciência e Inovação) e Ana Raquel Rodrigues (Investigadora), visando um maior conhecimento sobre eficiência ambiental dos bovinos e da influência da alimentação neste campo. A atividade contou ainda com a participação de Isabel Santos, responsável pelo serviço de certificação e sustentabilidade das explorações AGROS; de Alberto Matos responsável de marketing e eventos da AGROS; e com o apoio de Joaquim Matos no acolhimento da equipa às instalações da Soc. Amorim Matos&Silva, Lda.

Ainda no contexto desta iniciativa Demola, do Projeto de Co-Criação

Link Me Up – 1000 Ideias, o FeedInov recebeu também cerca de 30 estudantes do 2º ano da licenciatura de Zootecnia da Escola Superior Agrária de Santarém para uma visita técnica, onde deu a conhecer os seus projetos e serviços, bem como possíveis programas de estágio e trainee

O projeto Link Me Up – 1000 Ideias / DEMOLA tem um investimento de 5,9 milhões de euros e um financiamento de 4,7 milhões de euros do Fundo Social Europeu, através do programa Compete 2020, Portugal 2020 e União Europeia.

FeedInov Vai à Escola

Atividades educativas diversas e um novo jogo didático, cujo lançamento de versão teste ocorre em junho, promovem o sucesso e a melhoria do projeto que impulsiona a participação da comunidade escolar e das famílias.

A iniciativa de natureza educativa, “FeedInov Vai à Escola”, tem reforçado o seu papel junto dos alunos do 1º ciclo, nomeadamente no Município de Santarém. Com várias atividades de periodicidade mensal, destacamos a iniciativa dedicada à temática do “Bem-estar animal na quinta”, realizada no mês de abril. A ação quis sensibilizar, mais uma vez, para a importância de levar a ciência à escola – criando assim um ambiente propício à aquisição de uma atitude positiva face à ciência – e, sobretudo, alimentar a curiosidade natural das crianças. Incluiu, nesse sentido, conteúdos didáticos e interativos que facilitam a aprendizagem sobre o “Bem-estar animal na quinta”. Com a participação e apoio das investigadoras do FeedInov, Myriam Taghouti e Shirley Motta, as crianças conseguiram identificar critérios de bem-estar animal, quer na quinta quer no transporte.

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YOUR GLOBAL SUSTAINABILITY SOLUTION.

Sustainable farming practices are foundational to the growth and production of U.S. Soy. Recently, the U.S. Soybean Export Council (USSEC) mapped U.S. Soy’s strategic objectives directly to the U.N. Sustainable Development Goals (SDGs) – 17 goals that aim to end poverty, protect the planet, and ensure all people enjoy peace and prosperity by 2030. With the strategic objectives tied directly to specific SDGs and the targets under those goals, the U.S. Soy industry has identified areas where we can have the greatest impact in supporting progress toward global sustainable development.

U.S. Soy is committed to supporting these goals and sustainable development to 2030 and beyond.

Sourcing verified sustainable U.S. Soy that meets EU sustainability requirements is simple with the U.S. Soy Sustainability Assurance Protocol (SSAP). The SSAP certificate offers an origin specific, sustainability verification of U.S. Soy. Indicate to your soy supplier that you require a U.S. Soy SSAP certificate for your U.S. soy purchase.

For more info, visit USSOY.org

ALIMENTAÇÃO ANIMAL FEEDINOV

Voltamos à Escola Básica /Jardim de Infância Vale de Santarém também no mês de maio para outra atividade: “Os animais da quinta e o meio ambiente – o que é o Frass?”. Nas atividades anteriores os alunos já haviam percebido os insetos como ingredientes para a alimentação animal e viram as diferentes fases de desenvolvimento da mosca soldado negro e do tenébrio. Na iniciativa do mês de maio do “FeedInov Vai à Escola” explicámos melhor os processos que levam à produção de fertilizantes orgânicos, bastante úteis para reduzir a pegada ambiental da agricultura. Participaram nesta ação: Myriam Taghouti e Eva Fronteira (FeedInov), e Clarice Souza (Entogreen).

O “FeedInov Vai à Escola”, que passou a integrar a carta educativa do município de Santarém, dinamizou atividades com várias centenas de crianças nos dias 6 e 7 de junho, no âmbito da Feira Nacional de Agricultura. O mês de junho foi também o momento de dar a conhecer o novo jogo de vídeo deste projeto, construído para ser jogado no telemóvel, em modo offline. O principal objetivo do jogo é progredir em níveis para expandir a quinta e ter mais animais, tanto em quantidade quanto em variedade. O jogador terá a tarefa de completar pequenos minijogos que testam os seus conhecimentos sobre os seus animais, e que se traduzem na felicidade dos animais.

BREVES

FeedInov participou, em Bruxelas, do simpósio sobre “O papel da carne na sociedade / Declaração de Cientistas de Dublin”

A Animal Task Force (ATF) e a Belgian Association for Meat Science and Technology (BAMST) coorganizaram em abril passado, em Bruxelas, um simpósio para comunicar as principais conclusões no âmbito do encontro de cientistas líderes globais, organizado em outubro de 2022, e da subsequente e influente Declaração de Dublin para Cientistas, até à data assinada por mais de um milhar de cientistas em todo o mundo. O FeedInov CoLab esteve representado nesta iniciativa com a participação de Ana Sofia Santos, Diretora para a Ciência e Inovação, e ainda Vice-Presidente da ATF.

Recorde-se que o FeedInov CoLab, juntamente com a Associação Portuguesa do Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA, Associação Portuguesa de Buiatria (APB); Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica (APEZ), Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias (SPCV) e Sociedade Portuguesa de Recursos Genéticos Animais (SPREGA), lançou em Portugal, em fevereiro passado,

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a campanha “Eu Sou pela Ciência e Desenvolvimento Sustentável”, como incentivo à assinatura da declaração.

O objetivo da subscrição é consciencializar para a relevância da investigação científica e procura de soluções inovadoras na produção animal e consumo de carne.

Assinaturas disponíveis aqui: www.dublin-declaration.org/signatures

Artigos FeedInov/Ceva abordam temáticas atuais e relevantes para o setor

Está aberto um ciclo de publicações regulares sobre temáticas atuais e relevantes para o setor no site da Ceva Ruminantes, produzidos pela equipa de investigadores do FeedInov, uma iniciativa de colaboração com a Ceva Santé Animale.

Encontra disponível online, para leitura, os seguintes artigos:

• “Why livestock farming is vital to economy and society”;

• “Milking robots: the future of dairy farming?”;

• “Goals for sustainable dairy farming”;

• “Milk benefits: should we drink milk?”

Artigos disponíveis através do link: https://ruminants.ceva.pro/

FIPA DEBATEU DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO AGROALIMENTAR EM TEMPOS DE INFLAÇÃO

Apesar deste cenário, existem também algumas oportunidades para o ecossistema, nomeadamente através da digitalização e da transição para uma economia mais circular e sustentável.

O ciclo de aumento dos custos do gás natural, eletricidade, matérias-primas, ingredientes alimentares e materiais de embalagem, trouxeram dificuldades que ainda hoje estão a impactar o desempenho do setor e que exigem uma aceleração da boa articulação das ações públicas e privadas, bem como da colaboração na cadeia de valor.

É fundamental continuar a assegurar o abastecimento alimentar, com todos os padrões de qualidade exigidos, não só no quadro atual, mas numa perspetiva de garantias às futuras gerações, unindo os conceitos de abastecimento, produtividade e sustentabilidade.

Apesar das enormes adversidades, a indústria agroalimentar nunca parou e nunca poderá parar. E disto os nossos setores nunca fizeram uma especial bandeira, porque essa era a nossa obrigação…porque faz parte da nossa missão…está no nosso ADN.

A 6.ª Conferência para a Competitividade organizada pela FIPA –Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares encerrou as comemorações dos 35 anos da Federação. O evento, que decorreu no Centro Cultural de Belém, teve como mote “Desafios e Oportunidades em Tempos de Inflação”.

O encontro, que contou com a presença da Ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, reuniu diversas individualidades do setor agroalimentar, numa reflexão sobre o estado da economia no que diz respeito à área alimentar, onde foram alvo de debate as estratégias para o futuro do mercado e das indústrias transformadoras nacionais. No discurso de abertura Jorge Henriques, Presidente da FIPA, sublinhou a importância da indústria portuguesa agroalimentar e destacou que o setor “tem vindo a afirmar-se como o maior setor nacional transformador de base industrial, com um volume de negócios que, em 2022, terá ultrapassado os 19 mil milhões de euros, um valor acrescentado bruto de 3,5 mil milhões, mais de 11 mil empresas e cerca de 110 mil postos de trabalho diretos e mais de 500 mil indiretos".

A intervenção do presidente da FIPA

Recentemente foi ultrapassada a barreira do 7 mil milhões de euros em exportações, o que comprova a ambição do nosso setor e o reconhecimento da qualidade dos nossos produtos além-fronteiras.

É uma indústria com desempenhos de excelência no que respeita à segurança dos alimentos, com inovação permanente ao nível da qualidade nutricional, com compromissos assumidos na transição para uma economia mais sustentável e que, apesar dos tempos de enorme volatilidade, tudo tem feito para manter a sua capacidade produtiva e a viabilidade económica.

No entanto, o ecossistema agroalimentar enfrenta grandes desafios, tais como a globalização, as alterações climáticas, a urbanização, a evolução das exigências dos consumidores, a renovação geracional e a forte concorrência dos países terceiros. Além disso, a pandemia de COVID-19 e a guerra na Ucrânia aceleraram estes desafios e trouxeram outros, introduzindo disrupções no dinamismo da cadeia de valor agroalimentar.

E chegados aqui, não podemos baixar os braços perante os sinais de normalização de algumas das perturbações mais recentes pois outras preocupações subsistem.

É vital que toda a cadeia de abastecimento agroalimentar (incluindo alimentação humana e animal) e os setores conexos (incluindo materiais de embalagem, como o vidro e o papel) figurem entre os principais setores com acesso prioritário ao aprovisionamento energético. Devem ser banidas as restrições comerciais, tais como proibições de exportação ou importação e, ao mesmo tempo, ser assegurados os fluxos transfronteiriços específicos em tempos de crise (como os corredores verdes) e garantidos o financiamento e assistência de emergência para as empresas necessitadas, como aliás a FIPA tem vindo a reclamar. A legislação da União Europeia deve ser «à prova de crise», de modo a incluir mecanismos que, através de procedimentos acelerados de autorização/aprovação, garantam a continuação do aprovisionamento em tempos de crise, através da livre circulação dos produtos alimentares no mercado único.

Devem ser asseguradas transações sem entraves de matérias-primas agrícolas, ingredientes, produtos, materiais de embalagem, equipamento e quaisquer outros bens necessários para a produção, distribuição e venda de alimentos, bem como o movimento transfronteiriço, sem interrupções, de trabalhadores para a indústria alimentar. Do mesmo modo, no futuro, toda a nova legislação deve incluir, de facto, uma secção de crise e emergência.

Num mundo conectado, a digitalização tornou-se essencial para a competitividade empresarial, uma vez que oferece maior eficiência, rastreabilidade, personalização de produtos e produção sustentável, mantendo simultaneamente preços justos para o consumidor. Em comparação com outros setores económicos, a transformação digital no setor alimentar e das bebidas necessita de ser acelerada. As oportunidades para o digital não são hoje plenamente exploradas ao nível da UE, em parte devido à ausência de uma abordagem política forte e de apoio direcionado para o setor. Além disso, o atual quadro regulamentar para os alimentos e bebidas não proporciona uma base suficiente para otimizar a utilização dos meios de comunicação digitais, por exemplo, como alternativa à informação fornecida exclusivamente através dos

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Armindo Monteiro Jorge Henriques Horácio González Alemán Miguel Monjardino

rótulos. Do mesmo modo, a escassez de mão de obra está a sobrecarregar os sistemas alimentares. Desde a pandemia de Covid, as empresas têm tido dificuldades acrescidas em dar resposta a certas necessidades. Numa perspetiva basilar, importa melhorar e requalificar a atual mão-de-obra e tornar o ecossistema agroalimentar mais atraente para os jovens, proporcionando simultaneamente uma perspetiva de carreira e de aprendizagem ao longo da vida, quer para os empregadores quer para os trabalhadores”.

Dirigindo-se à Ministra da Agricultura e da Alimentação o presidente destacou que “reforçar a competitividade e o crescimento do mercado nacional – assentes num quadro de reformas estruturais e políticas que promovam um ambiente de saudável concorrência – , fomentar o emprego, fortalecer a confiança dos consumidores e alavancar o crescimento externo devem ser os principais desígnios do país para o setor agroalimentar”, e apontou para sete prioridades:

• Consolidar uma estratégia pública de incentivos à inovação e adequar os programas de apoio – em particular o PRR e o Portugal 2030 – à atividade transformadora agroalimentar, colocando o foco em atividades de investigação e desenvolvimento com caráter aplicado e inovador;

• Adequar a política fiscal à competitividade, enquadrando os produtos alimentares na taxa reduzida ou intermédia do IVA, pugnando por uma tributação equilibrada, e reduzindo os impostos especiais ao consumo (IEC), ou mesmo eliminando-os sempre que a lei permitir, e rejeitando novas iniciativas, a par da evolução dos processos de inovação conducentes à reformulação da matriz nutricional das diversas categorias;

• Impulsionar a exportação e a internacionalização, desenvolvendo, em particular, políticas económicas e diplomáticas com foco na promoção e afirmação das marcas;

• Reconhecer a eficácia da autorregulação na construção de envolventes promotoras de escolhas saudáveis, nomeadamente ao nível da reformulação nutricional, da publicidade e da informação ao consumidor;

• Colocar o enfoque no facto de estilos de vida saudáveis serem compatíveis com o consumo adequado da generalidade dos alimentos, afastando de vez expressões negativas e sem qualquer suporte (ex: “alimentos nocivos”) ou a utilização de considerações negativas, generalistas e sem qualquer base científica, relativamente aos alimentos processados;

• Pugnar pelo diálogo e equilíbrio na cadeia de valor, em particular no seio da PARCA, com vista à discussão e reforço da implementação de medidas focadas na promoção da transparência, equidade e não discriminação de marcas;

• Continuar a trabalhar ativamente no código de boas práticas em cuja construção participámos desde a primeira hora.

Desempenho do setor agroalimentar

As políticas públicas de apoio ao setor agroalimentar estiveram também em foco por Armindo Monteiro, Presidente da CIP, que defendeu medidas estruturais económicas para combater a inflação, mais eficazes que as soluções de emergência a curto prazo. Relembrou que os apoios públicos são necessários para apoiar as famílias carenciadas e reduzir os números da pobreza em Portugal, sem os quais se situariam em 4,4 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza.

Coube à Ministra da Agricultura o discurso final da sessão de abertura da Conferência, elogiando o desempenho do setor agroalimentar em prosseguir o seu crescimento, ainda que agravado por um contexto de seca e pandemia, a contribuir para a coesão territorial, para a criação de emprego e com valor para responder aos vários desafios societais. “Um setor ainda mais tecnológico, para produzir mais com menos, e menos burocratizado para servir melhor as empresas e os empresários”. O programa da manhã contou com oradores de diversas entidades associativas, Eduardo Oliveira e Sousa (CAP), Idalino Leão (CONFAGRI), João Vieira Lopes (CCP), Jorge Henriques (FIPA) e José Nogueira de Brito (APED), que debateram os desafios e oportunidades na cadeia de valor e destacaram aspetos como a digitalização, a retenção de emprego, a formação, e o associativismo, entre outras estratégias de desenvolvimento do setor.

Neste painel, Horácio González Alemán, Professor na San Telmo Business School, foi o orador convidado, destacando os grandes desafios da cadeia agroalimentar, cada vez mais geoestratégica, devido à guerra da Ucrânia, e propondo uma reflexão sobre temas chave atuais, como a alimentação e saúde, a sustentabilidade, a alteração dos hábitos do consumidor, a conotação negativa sem base científica associada a determinados alimentos, e o impacto destes fatores no dinamismo da cadeia de valor agroalimentar.

Na segunda parte da conferência, Miguel Monjardino, professor na Universidade Católica foi o orador convidado, com uma reflexão sobre a gestão no novo contexto global, incluindo uma reflexão sobre a inteligência artificial no setor agroalimentar e as consequências de impacto ambiental.

“Gerir no novo contexto global”, foi também o tema do debate que se seguiu a esta intervenção e que contou com Anna Lenz (Nestlé Portugal), António Nogueira Leite (Sociedade Ponto Verde), Duarte Pinto (Sumol+Compal), Jorge Monteiro (ACIBEV – Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal) e Manuel Tarré (Gelpeixe). Os responsáveis das várias entidades destacaram a importância de políticas de planeamento, medidas de sustentabilidade, a necessidade de inovação e de uma gestão baseada em novos modelos de liderança e retenção de talento, suportada por novas políticas de apoio às empresas que contribuam para o desenvolvimento do setor agroalimentar.

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SEMINÁRIO SOBRE SEGURANÇA DA ALIMENTAÇÃO ANIMAL – O IMPACTO DAS CONTAMINAÇÕES CRUZADAS NA ESTRATÉGIA «UMA SÓ SAÚDE»

Decorreu no passado dia 28 de abril de 2023, no Auditório da DGAV na Quinta do Marquês, em Oeiras, um Seminário sobre Segurança da Alimentação Animal subordinado ao tema «O impacto das contaminações cruzadas na estratégia “Uma Só Saúde”». É sobejamente reconhecido o impacto da segurança dos alimentos para animais na atividade pecuária e na confiança dos produtos de origem animal, com a consequente repercussão junto dos consumidores e da opinião pública. Para além da importância na segurança e qualidade dos géneros alimentícios de origem animal, os alimentos para animais podem ter igualmente um papel ativo na potencial disseminação da resistência aos antimicrobianos (RAM), pelo uso inadequado de alimentos medicamentosos, bem como pelas contaminações cruzadas e transferências inevitáveis que podem ocorrer nos sistemas de fabrico e que afetam os alimentos não visados para animais.

Realizado em colaboração entre a DGAV e a IACA, e com 95 participantes, o seminário contou com a presença da Subdiretora Geral da DGAV, Ana Paula Garcia.

Algumas apresentações foram da responsabilidade de técnicos da Divisão de Alimentação Animal da DGAV, que abordaram toda a componente legislativa ao nível das medidas de prevenção e mitigação da contaminação cruzada ao nível do setor dos alimentos para animais, a problemática da transferência inevitável de substâncias farmacologicamente ativas, bem como a análise e os resultados relevantes do controlo oficial da alimentação animal (CAA). Foram ainda

FORO DÉRIO

No dia 26 de maio de 2023, um grupo constituído por representantes dos diversos sistemas privados de controlo aplicáveis ao setor da alimentação animal na península ibérica, designado por Foro Dério, visitaram as instalações da SILOPOR na Trafaria, onde tiveram a oportunidade de debater questões relacionadas com o controlo e amostragem de alimentos para animais provenientes de países terceiros e transportados por navios, incluindo os procedimentos utilizados no âmbito do sistema nacional QUALIACA. Esta visita foi igualmente acompanhada pela DGAV enquanto autoridade competente nacional no âmbito dos controlos oficiais da alimentação animal.

apresentadas linhas de orientação para eliminar, evitar, ou sempre que possível reduzir para níveis aceitáveis, a indesejada presença de contaminação cruzada. A apresentação da responsabilidade da IACA e do FeedInov, veio também relembrar a versão de 2021 do Manual de Procedimentos desenvolvido em parceria entre a DGAV e a IACA e dedicado à realização de testes de homogeneidade e de contaminação cruzada. Uma representante do FeedInov apresentou ainda um estudo levado a cabo por este CoLAB, relativo a avaliação nacional de contaminações cruzadas de substâncias antimicrobianas em alimentos para animais não visados. Alguns casos práticos sobre medidas técnico-organizativas adequadas para evitar contaminações cruzadas a nível dos estabelecimentos produtores de alimentos compostos, bem como alternativas laboratoriais como medida no controlo interno, foram abordadas por duas empresas associadas da IACA.

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VETLIMA COM BALANÇO POSITIVO NAS III JORNADAS TÉCNICAS

cas e relevantes. Num formato online, com exceção da sala dedicada aos Suínos, que se realizou presencialmente, o evento contou com palestras de especialistas em cada área, proporcionando aos participantes uma oportunidade de enriquecimento profissional e troca de conhecimentos.

A Vetlima realizou com sucesso a terceira edição das suas Jornadas Técnicas, um evento dedicado à partilha e troca de conhecimentos no campo da medicina veterinária e zootécnica. O evento, que ocorreu nos dias 22, 23, 24 e 25 de maio de 2023, contou com palestras especializadas nas áreas de Animais de Companhia, Suínos, Ruminantes e Aves de Produção e, segundo a organização, superaram os objetivos definidos.

As III Jornadas Técnicas Vetlima proporcionaram aos participantes uma visão atualizada de temáticas de relevância para o setor veterinário e zootécnico, com informações práti-

As palestras abordaram temas como a nutrição de pacientes internados em Animais de Companhia, estratégias nutracêuticas para suporte hepático, abordagem clínica a pacientes com oncológicos, enterite necrótica na avicultura, uso da Vitamin Academy para técnicos de avicultura, biotransformação no controle de micotoxinas, eficiência alimentar em porcos de engorda, influência das micotoxinas em patologias suínas e uso de biotransformação para o seu controlo, novos cenários na produção suína, gestão eficaz de efetivos em Ruminantes, tecnologia IgY para saúde intestinal de vitelos e o aleitamento do vitelo como fator-chave de sucesso.

“Estamos uma vez mais satisfeitos com os resultados alcançados nas Jornadas Técnicas Vetlima”, afirmou Tiago Salvado, Diretor de Marketing e Vendas da Vetlima. “A adesão e o entusiasmo demonstrado pelos profissionais presentes refletem a importância deste evento para o desenvolvimento contínuo do setor. Estamos empenhados em promover futuros eventos e contribuir para a melhoria constante da prática veterinária em Portugal.” A Vetlima reafirma o seu compromisso com a excelência na prestação de serviços e a promoção do avanço científico em benefício de animais e profissionais do setor.

III CONGRESSO INTERNACIONAL DE AVICULTURA

Esperamos que estes dois dias tenham sido profícuos e de valor para o setor, e agradecemos a possibilidade de podermos continuar a tra balhar em prol dos Zootécnicos e da Zootecnia no geral, em particular nesta reunião na área da Avicultura. Até 2025!

O sucesso das primeiras duas edições levou-nos até ao AVIS’23 que é já a 3ª edição do AVIS, nos passados dias 4 e 5 de Maio, com o apoio da Escola Superior Agrária de Viseu, no Instituto Politécnico da bela cidade de Viseu, numa região onde temos uma grande concentração de explorações avícolas, trazendo para junto da produção esta reunião de discussão em torno do setor.

Como ideia geral positiva, verificámos um entendimento generalizado sobre os aspetos mais importantes (dificuldades, ameaças, oportunidades e vantagens) associados ao setor. Em relação ao futuro da avicultura foi reforçada a importância da análise das recomendações da EFSA, o enquadramento da produção relativamente aos desafios societais e da humanidade, nomeadamente o impacto da guerra na Ucrânia e da pandemia COVID-19, que evidenciam como nada está garantido. Neste sentido, o setor da avicultura está na linha da frente na capacidade de mudança, resiliência reajustando suas premissas.

Abordaram-se as oportunidades alimentares, enfatizando a evolução que se pretende na valorização de novas fontes proteicas e a gestão de cadeias logísticas curtas. Foram evidenciados novos desafios de sistemas alternativos de produção de ovos e a necessidade de aferição dos processos de maneio. Destacou-se a importância contínua da utilização de características associadas à saúde e bem-estar animal nos programas de melhoramento genético em avicultura. Apresentaram-se radiografias e aspetos gerais de maneio em perus e patos em Portugal. Foram, ainda, abordadas tecnologias não invasivas e demonstrada a sua fundamental importância na adoção de estratégias de sexagem in-ovo como paradigma de produção de ovos. A ambiência em produção de aves, bem como a legislação e certificação de bem-estar animal tiveram enquadramento geral como meios de gestão e controlo produtivo. A importância da profilaxia através da adoção de novas vacinas (nomeadamente da gripe aviária de alta patogenicidade), o aumento do conhecimento para a modulação do microbioma e saúde intestinal e o suporte de novas tecnologias de diagnóstico no controlo de patologias e deteção de antibióticos foram referidos. Foi mencionada a importância da digitalização e da utilização da inteligência artificial no apoio à decisão para o aumento da produtividade com melhor bem-estar e saúde animal. Foi, também, analisada a visão dos consumidores e as suas exigências para os produtos originados neste setor; o desenvolvimento de produtos de valor acrescentado; e a evolução nos controlos oficiais das cadeias de valor foram enquadrados na necessidade de avaliação sistemática dos processos produtivos como suporte para a comunicação real objetiva e científica à sociedade (consumidores). Para além do vasto programa científico, acreditámos que um dos pontos altos do AVIS’23, foi a simbólica homenagem que prestámos ao Professor Manuel Chaveiro Soares, a quem entregamos a distinção de Sócio Honorário da APEZ e para quem executamos um livro com testemunhos de familiares e pessoas próximas.

Estivemos, ainda, reunidos à mesa, no Jantar AVIS’23, realizado na Quinta da Magarenha, para fomentar a permuta de ideias.

O AVIS’23 contou com mais de 250 congressistas, apoio de cerca de 35 empresas e instituições e a presença de 33 oradores nacionais e internacionais.

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1º ALIMENTO PORTUGUÊS PARA CÃES E GATOS COM PROTEÍNA DE INSETO APRESENTADO NO II COLÓQUIO INTERNACIONAL PETMAXI

A petMaxi, fábrica de alimentos para cães e gatos, realizou o II colóquio Internacional de grande sucesso para clientes nacionais e internacionais no dia 5 de junho, em Tomar. O evento reuniu cerca de 200 pessoas e abordou temas relevantes para a indústria pet, incluindo as vantagens dos probióticos; a utilização de alimentos frescos; as tendências de marketing; controlo de qualidade e as novas proteínas, com destaque para os insetos. Durante o colóquio, foi anunciado o lançamento oficial do produto inovador da petMaxi: happyOne Premium – Alimento para Cães à Base de Proteína de Inseto. Este produto, integrado na gama happyOne Premium, representa uma abordagem sustentável e nutritiva para cães, utilizando proteínas provenientes de insetos selecionados cuidadosamente. “Acreditamos que o happyOne Premium Proteína de Insetos será uma revolução na indústria pet” afirmou Luis Guilherme, CEO da petMaxi. “Estamos comprometidos em oferecer aos nossos clientes produtos de alta qualidade, que atendam às necessidades nutricionais de cães e gatos e, ao mesmo tempo, sejam sustentáveis. O lançamento do happyOne Premium Cão Adulto Proteína de Inseto é um passo importante nessa direção.” Da parte da tarde, os clientes tiveram oportunidade de visitar a fábrica, em Ferreira do Zêzere, concluindo o dia a assistir e participar numa demonstração de agility. Com a realização deste colóquio, a petMaxi reafirma o seu compromisso na proximidade com os seus clientes e

em promover a inovação, a saúde e o bem-estar dos animais de companhia, através de produtos de qualidade e soluções sustentáveis.

AGENDA INSECTERA DESTACA-SE

NA FEIRA NACIONAL DE AGRICULTURA DE 2023

que destacou o compromisso assumido por esta Agenda, expondo a relevância da colocação no mercado de mais de 100 novos produtos, processos e serviços e pela criação de bases que vão tornar Portugal um líder mundial deste novo setor Bioindustrial.

Após a Assembleia-Geral seguiu-se uma visita ao stand da Insectera na FNA23, que tem sido palco de seminários diários sobre os grandes temas InsectERA.

Mais de 1800 crianças visitaram stand Insectera

A Feira Nacional de Agricultura de 2023 marca o início de uma caminhada de promoção e divulgação da Agenda Mobilizadora InsectERA como também dos trabalhos e funções a cumprir até 2025. Assim, o quinto dia deste certame ficou marcado pela realização da 1ª Assembleia-Geral da Agenda Mobilizadora InsectERA, com a presença dos representantes das 42 entidades que constituem o consórcio.

A sessão foi aberta com um discurso de boas-vindas e enquadramento feito pelo presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, e os trabalhos foram conduzidos pela comissão executiva. Foram abordados temas focados nas responsabilidades assumidas perante o Estado Português e iniciou-se a criação das comissões que vão auxiliar na gestão da Agenda.

A sessão foi encerrada pela intervenção de Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR,

Mais de 1800 crianças visitaram o stand da Agenda Mobilizadora InsectERA na FNA23. A equipa do FeedInov CoLab interagiu com estes alunos que representam as decisões de amanhã mas que começam por fazer alguns puzzles InsectERA hoje.

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DAS EMPRESAS
ALIMENTAÇÃO ANIMAL NOTÍCIAS

SOJAGADO FAZ REBRANDING DAS SUAS EMBALAGENS E REFORÇA O SEU POSICIONAMENTO ENQUANTO MARCA SUSTENTÁVEL!

A SOJAGADO fez um rebranding das suas embalagens reforçando os seus valores que se traduzem pela qualidade, autenticidade, tradição, por se tratar de uma marca que conta com mais de 50 anos de experiência, próxima do consumidor e sustentável, na medida em que a sua produção é feita de forma consciente, minimizando o uso de recursos e adotando práticas de produção mais amigas do ambiente.

A grande novidade das novas embalagens da SOJAGADO, é a redução do seu peso para 20KG, em papel reciclado. Esta é uma necessidade de nos posicionarmos enquanto empresa amiga do ambiente e com práticas cada vez mais sustentáveis:

• Redução do desperdício: Embalagens menores podem ajudar a reduzir o desperdício de produtos. Ao diminuir o tamanho das embalagens, a qualidade e as propriedades nutricionalmente ricas do produto é preservada, assim como a quantidade de produto que pode ser potencialmente desperdiçada é reduzida.

• Melhoria da conveniência e portabilidade: Embalagens menores oferecem maior conveniência e portabilidade para os consumidores. Embalagens mais leves e compactas podem ser mais fáceis de transportar e armazenar, especialmente

para clientes individuais ou famílias de menor tamanho.

• Economia de custos: Embalagens menores podem resultar em economia de custos operacionais, nomeadamente de transporte e armazenamento.

• Sustentabilidade e redução do impacto ambiental: Embalagens menores consomem menos materiais, menos resíduos e preservação de recursos naturais, ajudando a reduzir o impacto ambiental da empresa.

Para mais informações consulte o site www.sojagado.pt.

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A ELANCO ORGANIZOU UM SIMPÓSIO SOBRE OS DESAFIOS DO SETOR DE POSTURA AVÍCOLA

A Elanco Saúde Animal organizou uma conferência técnica na qual foram abordados os desafios atuais do setor de aves poedeiras. Durante este encontro, que decorreu de 27 a 28 de abril em Toledo, 50 veterinários de Portugal e Espanha puderam aprender com a equipa técnica da Elanco e com alguns dos reconhecidos especialistas internacionais, sobre diferentes temas de grande importância para o setor avícola.

As primeiras sessões, lideradas por Salvatore Catania, centraram-se na situação atual da gripe aviária a nível europeu e na biossegurança como um instrumento fundamental que necessita de ser reforçado. Outros temas debatidos no evento foram o controlo de Salmonella, Micoplasmose Aviária e o impacto na saúde durante a transição para uma produção alternativa baseada em sistemas de criação e produção sem gaiolas.

No âmbito do evento, os representantes da Elanco Saúde Animal agradeceram a contribuição dos veterinários do setor avícola para melhorar a segurança alimentar. Os veterinários representam um elo muito importante na cadeia de segurança alimentar e, juntamente com os produtores, os transportadores, os distribuidores e a administração, desempenham um papel fundamental na redução das intoxicações alimentares, como a salmonelose.

A Elanco Saúde Animal contribui para melhorar a saúde animal e a segurança alimentar

A Elanco Saúde Animal é uma das líderes mundiais no desenvolvimento e comercialização de medicamentos veterinários destinados a melhorar a saúde animal e a produção de alimentos saudáveis. As

áreas terapêuticas desenvolvidas para avicultura incluem vacinas, coccidiostáticos, biocidas e antimicrobianos. Com a visão de fornecer soluções alternativas aos medicamentos, a Elanco possui uma divisão de saúde nutricional para otimizar a saúde, a produção e o desempenho animal.

Sobre a Elanco

Mais de 60 anos dedicados à nutrição e saúde animal.

A Elanco Animal Health é uma empresa farmacêutica norte-americana que produz e fornece produtos, serviços e conhecimentos especializados a médicos veterinários, agricultores e tutores de animais de companhia para ajudar os animais a terem uma vida saudável. Com presença em mais de 90 países e mais de 9.000 funcionários em todo o mundo, a empresa está empenhada em criar e manter um ambiente de trabalho colaborativo, promovendo a inovação tanto na investigação científica como nas operações quotidianas, sensibilizando os consumidores para a importância da segurança alimentar global e reforçando a ligação homem-animal.

A Elanco incorpora o conceito One Health na sua actividade diária para melhorar a saúde e o bem-estar dos animais, das pessoas e do planeta , com a visão de que os alimentos e a companhia que os animais proporcionam enriquecem a vida . Fundada em 1954, a Elanco está sediada em Greenfield, Indiana, EUA, e possui 17 fábricas e mais de 200 marcas.

46 | ALIMENTAÇÃO ANIMAL ALIMENTAÇÃO ANIMAL NOTÍCIAS DAS EMPRESAS

A ELANCO FOI PATROCINADORA DA 3.ª

EDIÇÃO DO CONGRESSO INTERNACIONAL DE AVICULTURA

A Elanco Saúde Animal foi patrocinadora da 3.ª edição do Congresso Internacional de Avicultura, organizado pela Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica (APEZ). O encontro reuniu um número vasto de participantes ligados aos vários setores da avicultura nos dias 4 e 5 de maio decorreu em Viseu e contou com prestigiados oradores nacionais e internacionais. Durante os dois dias foram apresentadas e discutidas temáticas emergentes no setor avícola.

O Dr. Tiago Grosso, responsável técnico da Elanco Portugal, foi convidado a apresentar uma palestra dedicada à Gripe Aviária, intitulada "Gripe Aviária: vacina sim ou não?". Durante a sua apresentação ele explicou a situação atual da gripe aviária e na biossegurança como um instrumento fundamental que necessita de ser reforçado. A próxima edição deste Congresso Internacional de Avicultura será em 2025.

alimentar

A Elanco Saúde Animal é uma das líderes mun diais no desenvolvimento e comercialização de medicamentos veterinários destinados a melhorar a saúde animal e a produção de alimentos saudáveis. As áreas terapêuticas desenvolvidas para avicultura incluem vacinas, coccidiostáticos, biocidas e antimicrobianos. Com a visão de fornecer soluções alternati vas aos medicamentos, a Elanco possui uma divisão de saúde nutricional para otimizar a saúde, a produção e o desempenho animal.

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IN MEMORIAM

Rigor científico, por natureza

Foi com profunda tristeza que, no dia 27 de dezembro de 2022, recebemos a notícia do falecimento do Professor Arnaldo Alves Dias da Silva, que durante décadas foi um dos mais prestigiados docentes e investigadores da UTAD, praticamente desde o tempo da sua fundação, em meados da década de setenta, e de toda a Academia em geral, sobretudo na área da Zootecnia.

O Professor Arnaldo Dias da Silva, que muito justamente foi reconhecido como Professor Emérito, foi um dos Agrónomos mais distintos e prestigiados da sua geração. Personalidade de grande rigor científico, defensor da organização, do método, da partilha e disseminação de conhecimentos, será sempre recordado pela dedicação ao setor leiteiro, à AGROS, sendo uma figura incontornável na evolução da produção de leite na Região do Entre Douro e Minho. Destacamos, para além dos seus trabalhos, o seu apoio à comunidade, aos seus alunos, muito para além do percurso universitário e, pese embora a doença que infelizmente o surpreendeu, em novembro de 2009, nunca deixou de escrever e de pensar, sempre com espírito crítico, colaborando ativamente na Revista “Alimentação Animal”, com enorme entusiasmo.

Em nome da IACA, pelos testemunhos de um conjunto de amigos que a ele estiveram profundamente ligados, esta é uma singela Homenagem ao nosso Professor Arnaldo Dias da Silva. Recordando aqui a nota de pesar da UTAD sobre a partida deste nosso querido amigo ”Como alguém só morre quando dele nos deixamos de lembrar, o nome do Professor Arnaldo Dias da Silva permanecerá por muitos anos na memória da nossa Universidade”.

E, através da “Alimentação Animal”, na memória da Indústria da Alimentação Animal e de todos os que lhe estão ligados, direta ou indiretamente.

Até sempre, Professor Arnaldo Dias da Silva!

O MESTRE!

Se sou o que sou hoje em termos profissionais, muito devo ao Professor Doutor Arnaldo Alves Dias-da-Silva. A minha referência, o meu Mestre!

O primeiro contacto foi na Primavera de 1991, na primeira aula teórica de Nutrição II, do segundo semestre do 3º ano, da Licenciatura em Engenharia Zootécnica. Fiquei fascinado!... Nunca faltei a uma aula teórica e estava sempre à espera que as teóricas de Nutrição II chegassem – adorava a forma rigorosa do pedagogo desmontar a Nutrição e a Alimentação, sempre com exemplos práticos, de quem conhecia o campo e nos fazia, estando na sala, de repente, estarmos numa qualquer vacaria de Vila do Conde, numa exploração extensiva de Mertolengas no Alentejo, ou num aviário de Oliveira de Frades. Com a sagacidade, o espírito inquieto, por vezes sarcástico, e as perguntas mordazes conseguia, como poucos, captar a nossa atenção. Uns gostavam, outros não; mas ninguém ficava indiferente. Não é para todos; é somente para os melhores. E, o Professor Arnaldo era um excelente Professor!

Jaime Piçarra

Recordo as longas orais obrigatórias, onde partia, quase sempre, de exemplos práticos para nos fazer sentir a essência da Nutrição e a Alimentação e nos “obrigar” a integrar os conhecimentos básicos de fisiologia, de bioquímica, de genética, de economia, de sociologia, de higiene e sanidade, de comportamento animal, etc. Ou seja, como gostava de dizer: “fazer Engenheiros de Sistemas”.

Tive o privilégio de ser seu aluno, Monitor, estagiário e estudante de doutoramento. Aprendi muito nas aulas, ainda mais, nas muitas conversas informais, à noite, no seu gabinete, na UTAD. Aliás, foi aí que comecei a aprender a formular, quando me deixava ajudar, no computador, com o programa de formulação ao mínimo custo e discutia, humildemente comigo, as fórmulas, e todo o envolvente, que estava a fazer para entrarem, no dia seguinte, em fabrico. Saí tantas vezes, à uma da manhã, da Quinta dos Prados, cansado, mas satisfeito e completo. Nada melhor que partilhar o que os meus colegas do curso de Engenharia Zootécnica, 1988/1993, fizeram na minha caricatura – colocaram-me debaixo do braço um saco a

dizer: “Rações Pró Arnaldo” – para ilustrar a admiração e o respeito que sempre tive (e tenho) para com o Professor.

Recordo o Homem rigoroso, perfecionista, que revia os textos com um cuidado, até por vezes, desconcertante, sempre com comentários pertinentes e acutilantes que nos faziam melhorar e evoluir (ainda guardo, no meu gabinete, as correções dos manuscritos da minha tese de doutoramento). Mais recordo o orientador que, já na época, nos estimulava a publicar os trabalhos em revistas científicas internacionais, bem como nos desafiava a discutir as nossas ideias, com liberdade de pensamento, com os melhores cientistas mundiais.

Bem-haja Professor Arnaldo Dias-da-Silva; deixou Escola!... Com saudades, António Mira da Fonseca

PROFESSOR DOUTOR ARNALDO ALVES DIAS DA SIVA

Longe vão os anos de, “1981 a 1986”, em que, em Vila Real, tive o primeiro contacto com o Professor Arnaldo, porém e como estava de licença, apenas lecionou algumas aulas teóricas, que foram o bastante para deixar a sua marca e o “bichinho” pela Nutrição. Mais tarde, em 1997, quando um grupo de agricultores líderes desafiou a Cooperativa de Vila do Conde para mudar o paradigma da alimentação animal da vaca leiteira, sob a liderança do Sr. Carlos Maia – um Presidente que também deixou marcas – abracei o desafio com corpo e alma!

O Professor Arnaldo, liderando um grupo de trabalho de técnicos de várias Cooperativas do universo AGROS, alterou a forma como se olhava para as forragens – a base da alimentação da vaca leiteira – mostrou que, para serem usadas corretamente, o valor nutritivo tinha que ser avaliado devidamente. Esteve, conjuntamente com o Professor Doutor Emídio Gomes, na génese do Laboratório para Alimentos Animais AGROS/Universidade do Porto, Vairão, Vila do Conde. Até parece básico; mas na época foi um grande contributo para a melhoria da qualidade das forragens que, hoje, são produzidas

48 | ALIMENTAÇÃO ANIMAL ALIMENTAÇÃO ANIMAL IN MEMORIAM

e um motor da mudança do apoio nutricional às explorações de leite, quer no Entre-Douro e Minho e Trás-os-Montes, quer a nível nacional. Tive oportunidade de, na sua companhia, visitar muitas explorações leiteiras, no concelho de Vila do Conde, onde, por vezes, era até demasiado verdadeiro, ao dizer, por exemplo: “a sua silagem de erva é de má qualidade”. Mas, para melhorar, não é preciso dizer a verdade?

O Professor Arnaldo nunca deixou de o fazer!...

Lembro o Homem que queria sempre o melhor para os produtores de leite – não fosse de Mindelo e de família de agricultores –, dizia coisas que, por vezes, os agricultores não gostavam de ouvir (nem nós técnicos), mas não será assim também que se pensa e se evoluí?

Recordo com saudade o trabalho da equipa que liderou na AGROS da qual tive a honra e o prazer de fazer parte, iniciou uma nova abordagem à Nutrição e Alimentação da Vaca Leiteira no Entre-Douro e Minho e que fez escola no País, principalmente ao nível dos parâmetros da qualidade do leite, mormente em termos de proteína – foi pioneiro a explicar a importância do potencial glucogénico das dietas e dos aminoácidos essenciais na síntese de proteína pela glândula mamária.

Estou-lhe grata por tudo o que ensinou e pelo legado que deixou!

Um bem-haja, com eterna saudade,

AO PROFESSOR ARNALDO,

Ao Professor de Nutrição Animal

Ao Professor que modelou a minha prestação com os alunos! Além das aulas, nos seus primeiros trabalhos, na sua atividade profissional, na ligação por muito tempo depois da UTAD... OBRIGADO

Divanildo Outor Monteiro

FOI ASSIM

Antes era assim.

Ao Professor que foi a referência do Departamento de Zootecnia da UTAD

Ao Professor que revolucionou a nutrição, alimentação e produção de leite no Entre-Douro e Minho

Ao Professor que me apoiou e me colocou no meu primeiro emprego e me trouxe de volta à UTAD

Ao Professor que foi meu Orientador de Mestrado

Ao Professor com quem construímos a Unidade Experimental de Suinicultura da UTAD

Ao Professor com quem ultrapassámos o desafio “Bolonha”

Ao Professor com quem fomos desenhando um melhor curso de Engenharia Zootécnica

Ao Professor que sempre me apoiou nas atividades da Associação Portuguesa de Engenheiros Zootécnicos (APEZ)

Ao Professor que sempre me apoiou nas atividades com a Associação Internacional de Estudantes de Agricultura (IAAS)

Ao Professor com quem visitámos tantas feiras na Europa (Expoaviga, VIV Holanda, Semana Verde da Galiza,...)

Trabalhei com o Professor Arnaldo Silva desde 1985, na UTAD, bons tempos. Desde essa altura foi meu orientador, meu colega de trabalho, meu amigo. O estágio de licenciatura, o doutoramento, os ensaios com animais, as análises do laboratório de nutrição animal, a publicação dos trabalhos e tudo o resto. Tudo correu sem stresse, sem pressa. Nos últimos anos, a direção do CECAV, o trabalho ao fim da tarde, as reuniões com o colega da direção José Manuel Almeida. Foram momentos interessantes, intensos e importantes. No fim, a avaliação do CECAV, a grande desilusão, o desalento, deixou marcas nunca esquecidas. Muito para além do trabalho, ficam os momentos, as conversas, a convivência e a amizade. Depois, de repente, deixou de ser assim. Em 2009, tudo mudou. Os graves problemas de saúde trouxeram momentos de grande apreensão e tristeza. Sempre com esperança, veio algumas vezes à UTAD, esteve no gabinete. Por vezes, até parecia que tudo voltaria a ser assim. Mas não, foi diferente. No entanto, manteve o espírito, a vontade de conversar, o gosto pela escrita. Foi continuando a comunicar por correio eletrónico, sempre com vontade de saber o que se passava por aqui. Agora, nunca mais será assim.

QUE NUNCA CORTEM O LARIX!...

“Dei por mim a pensar divertido e terno. Foi há pouco mais de 30 anos que nos conhecemos numa acesa discussão durante ou depois de uma aula numa sala que creio, ainda existir. Estavas no 2º ou 3º ano. Sabes, tenho saudades desses tempos...”. Uma acesa discussão... por causa do “sabor” dos alimentos. O Professor temido pela sua fama de exigente, foi condescendente e explicou-me a heresia. Passei a frequentar as aulas de Nutrição com redobrado interesse. Depois, seguiu-se o estágio final de licenciatura, fui sua monitora e assistente e realizei todas as provas académicas sob sua orientação. Foram 23 anos de aprendizagem, com muitas discussões e muitas conversas fora de horas. Testemunhei a sua entrega às causas e coisas da UTAD, o seu empenho na

colocação dos recém Engenheiros Zootécnicos no mercado de trabalho, a sua colaboração com o setor leiteiro, o seu grande entusiasmo aquando da criação do CECAV. E, depois, à distância, a sua luta para fintar a doença que o atacou de forma imprevista e impiedosa em 2009. Não parou de refletir e questionar, adaptou-se à sua nova condição – “Com as dificuldades motoras que tenho, reoriento-me mais para escrita!” E assim fez (quase?) todos os dias. A Doutora Manuela, o seu anjo da guarda, imprimia, corrigia e dava um jeito à formatação. Continuou a publicar artigos técnicos e de opinião e a marcar presença, sempre que pode, nos Eventos da Academia. Foi em todas as dimensões, um lutador.

Tenho muitas saudades dos tempos em que tinha por perto o meu querido Mestre e Amigo Professor Arnaldo Dias-da-Silva. Sinto falta dos seus desabafos sobre os disparates que uns diziam e outros escreviam. Sorrio ao lembrar-me da sua fina ironia, contundência, mordacidade, mas também da sua busca constante da perfeição – “Mudar os textos de cada vez que os leio é um defeito antigo de que os revisores não têm culpa, mas são sempre aqueles que pagam as favas ...”.Sinto falta da sua partilha de histórias divertidas, de falarmos de livros, de música, de tudo.

A ausência do meu Mestre e Amigo deixa um vazio difícil de preencher. “Hei-de ir a Vila Real (...) Ah! e ver o Larix... Sabes onde está o Larix?... Gosto muito desta árvore. Quando decidiu que árvores plantar na Quinta de Prados, o meu amigo Torres de Castro não se esqueceu dos meus gostos e mandou plantar um Larix em frente à janela do meu gabinete, bem virada para o Marão!”. Conforta-me contemplar o Larix. Estranhamente, vem-me à memória a relação de Joseph Wayne com o seu carvalho, em “A um Deus Desconhecido” (John Steinbeck). Que nunca cortem o Larix! Nota: As frases/palavras em itálico são extratos de algumas das muitas e carinhosas mensagens eletrónicas que o Senhor Professor me endereçou nos últimos 13 anos. Espero que me tenha perdoado por não lhe ter respondido com a prontidão e frequência que me merecia e de não o ter visitado mais vezes.

EVOCAÇÃO DO PROFESSOR ARNALDO ALVES DIAS-DA-SILVA

Por amável convite da Direção da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA), que teve a feliz ideia de prestar homenagem à memória do Professor Emérito Arnaldo Alves Dias-da-

ALIMENTAÇÃO ANIMAL | 49

-Silva, cabe-me a honra de recordar um dos Agrónomos mais distintos da minha geração, vulto eminente no domínio da Zootecnia, como cientista e docente universitário, onde se distinguiu tanto na investigação como no ensino, e também no apoio dispensado aos recém licenciados, designadamente no início das suas carreiras, não só no exercício da profissão como Engenheiros Zootécnicos, mas também no começo da carreira académica como doutorandos.

Embora pertencente a uma família dedicada à produção de leite num concelho com elevada densidade de bovinos, é mais tarde que o Arnaldo opta pela Zootecnia como área profissional, por influência do saudoso Professor Joaquim Pais de Azevedo enquanto regente da disciplina de Zoologia Agrícola, ministrada no Instituto Superior de Agronomia (ISA), onde ingressou em 1964.

Terminada a fase letiva do Curso de Engenheiro Agrónomo, o ainda aluno Dias-da-Silva continuaria no ano seguinte no ISA, acumulando as funções de monitor da disciplina de Zootecnia Geral com a realização do relatório final de curso que incidiria sobre o pastoreio em prados de regadio e também sobre a multiplicação avícola.

Seguidamente cumpre o serviço militar na Marinha e depois regressa à docência da aludida disciplina no ISA, durante o ano letivo de 1974/75.

Mas, entretanto, em 5 de Agosto de 1975 aceita um convite muito desafiante: integrar os órgãos de gestão das instituições pioneiras do ensino superior em Trás-os-Montes – uma função que não correspondia à sua vocação profissional, mas que exerceu com grande eficiência e dignidade – e, cumulativamente, desempenhou funções docentes e encetou também os trabalhos conducentes à criação de estruturas adequadas ao desenvolvimento de atividades de investigação científica no domínio da Zootecnia, nomeadamente nas áreas da nutrição e da alimentação animal – as quais viriam a desempenhar um papel relevantíssimo na formação de alunos e docentes, para além de também serem utilizadas para dispensar apoio à comunidade. Tratou-se naturalmente de um processo lento, que iria protelar a tese de doutoramento do Arnaldo (que, por opção do próprio, viria a ser defendida na sua Alma mater, em sessão de elevado nível científico, na qual tive o privilégio de ter uma modesta participação); mas, em contrapartida, dotou a Universidade de instalações e equipamentos que se viriam a revelar de enorme importância para a futura atividade científica. Ultrapassada a referida fase administrativa, que terminou com a instalação da Universi-

dade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o Professor tomou a decisão de (sic) «prosseguir na direção da vida académica com que tinha sonhado».

Neste caso esta divide-se em três áreas: ensino, investigação e apoio à comunidade. No ensino revela-se um docente que expunha as matérias com entusiasmo e recorria a exemplos práticos para ilustrar as teorias que explanava, e, por outro lado, mostrava-se exigente com os alunos, porque entendia que os Engenheiros Zootécnicos deviam estar dotados de uma sólida formação científica – que lhes conferisse capacidade de ajustamento à mudança – rigor na escrita e espírito crítico, tudo concorrendo para uma formação sólida e prestigiante da nova classe profissional, que em Portugal dava então os primeiros passos. Acresce que, adicionalmente, o Professor convidava docentes externos para lecionarem algumas matérias específicas, como foi o meu caso, por diversas vezes na década de 1990, quando tive a honra de desenvolver a temática da incubação, o que também me proporcionou a agradável oportunidade de conviver com o meio académico e admirar o elevado nível universitário que a UTAD tinha conquistado. No domínio da investigação, as estruturas criadas de raiz permitiram, nomeadamente, que sob a orientação do Professor se desenvolvesse uma intensa atividade científica que não terá então sido despicienda, pois veio possibilitar nomeadamente a realização de trabalhos de estágio final de curso e diversas teses de doutoramento, conferindo assim ao Departamento de Zootecnia da UTAD uma posição de destaque na área da Produção Animal. Por último, importa referir uma outra área a que o Professor atribuía grande importância e a que se dedicava com entusiasmo: o apoio à comunidade em geral e, em particular, aos seus antigos alunos em início da atividade profissional, a que acresce a divulgação científica, muitas vezes através da revista “Alimentação Animal”.

Como passava frequentemente os fins de semana em casa da família da Manuela, em Santiago de Bougado, ocupava-se muito no contacto com os produtores de leite da região, com quem gostava de trocar impressões e procurava contribuir para a melhoria dos resultados das suas explorações.

Com a AGROS – União de Cooperativas de Produtores de Leite, com sede na Póvoa de Varzim e agrupando 44 Cooperativas – o Professor manteve durante longos anos estreitos laços de intervenção técnica no domínio da alimentação animal, mantendo uma excelente relação com o Presidente Fernando Mendonça

e acompanhando os seus antigos alunos em atividade profissional na área de influência daquela instituição.

Esta simbiose frutuosa entre estudo, docência, investigação e atividade prática, conferiu ao Professor Arnaldo Dias-da-Silva uma competência ímpar no domínio da alimentação dos bovinos leiteiros, tendo sido concedido mui justamente o título de Professor Emérito ao zootecnista eminente e renomado académico.

Também em Maio de 2014 a Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica (APEZ) viria a promover uma justa homenagem ao Mestre, que muito contribuiu para a formação e o prestígio dos Engenheiros Zootécnicos. A doença que viria a afetá-lo desde Novembro de 2009 – durante a qual recebeu o apoio inexcedível da Manuela, por quem temos a maior admiração – não viria todavia a tirar-lhe o interesse pelo estudo, nem pelo acompanhamento dos trabalhos em desenvolvimento no seu Departamento, mostrando-se sempre interessado na vida académica e, em particular, da sua UTAD, a que dedicou com desvelo a maior parte da sua vida, razão por que o nome do Professor Emérito Arnaldo Dias-da-Silva tem de ficar para sempre nos fastos da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

TEXTO DE HOMENAGEM AO PROFESSOR ARNALDO DIAS DA SILVA

As palavras escasseiam quando pretendemos descrever a pessoa que influenciou o nosso percurso académico, e foi o exemplo para a construção da nossa carreira. E quando falámos do Prof. Dr. Arnaldo Dias da Silva, então ficará muito por dizer com certeza. Desde o seu sentido crítico perante os problemas e as respetivas soluções, à ética que sempre teve, preocupando-se em transmiti-la àqueles que com ele conviviam no dia-a-dia, ainda hoje permanece um farol, promovendo uma postura e uma atitude muito próprias a todos os que com ele aprenderam e se dedicam à nutrição e alimentação animal.

Recordo com saudade, e alguma emoção, as imensas visitas às casas agrícolas da região do Entre-Douro e Minho, e as intermináveis conversas dele com os criadores, que tive o privilégio de presenciar. Eram autênticas aulas de nutrição, mas com uma linguagem acessível, permitindo passar os conceitos e evidenciar a necessidade de alterar a postura dos criadores perante a alimentação das suas vacas, com o objetivo de tornar mais eficiente a produção leiteira. Viu muitos desses conceitos serem

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IN MEMORIAM
ALIMENTAÇÃO ANIMAL

aplicados nas explorações, viu muitas mudanças acontecerem na alimentação das vacas e também contribuiu ativamente para a ocorrência de algumas delas. Por tudo isto, deixou um legado merecedor de reconhecimento de todos aqueles que trabalham na produção leiteira, em especial na formulação de dietas para aquelas que ele considerava as verdadeiras estrelas desta atividade: AS VACAS...

DE ALVITES PARA A FOZ DO AVE E DA FOZ

DO AVE PARA ALVITES

O Professor Arnaldo não foi meu professor. Mas era conhecido de todos os alunos naqueles idos anos 80. Tenho algumas memórias desse tempo mas uma que está mais limpa é a do Professor Arnaldo (na altura Engenheiro) a esvaziar o rúmen de uma vaca. Ali estava aquele professor, que se via pelo campus sempre vestido de forma impecável, de mangas arregaçadas a mexer naquelas fétidas fibras. Mais tarde, tinha eu acabado de servir o exército na cavalaria, fui ter com o Professor Arnaldo manifestar-lhe a minha disponibilidade para trabalhar com ele no que fosse preciso. Que idade tem? Vinte e sete anos respondi. É uma idade excelente para começar uma vida académica. Ficamos por ali. Meses mais tarde, como a vida é feita de acasos, estava eu a jogar ténis numa tarde de primavera quando soube pelo meu oponente que estavam abertos concursos para assistente estagiário na área da zootecnia. Concorri e cumpriu-se aquela conversa. Um outro passo que me liga ao Professor Arnaldo foram as provas de aptidão pedagógica e capacidade científica em que ele foi meu orientador. Na verdade foi um processo de orientação muito peculiar. Escolhi os temas, fui escrevendo e quando o texto ganhou forma fui-lhe apresentar o trabalho feito lembrando que ele seria meu orientador. Correu bem. Os temas foram bem acolhidos e a minha escrita foi do agrado. Não era tarefa fácil. Dos muitos saltos que dei ao seu gabinete, muitas vezes para lá da meia-noite, ouvi repetidamente “Severiano este texto está num inglês das docas”. Sacava do Oxford Advanced Dictionary à procura da palavra certa. Essa procura podia demorar um segundo ou muitíssimo. Ao fim de várias horas podia ainda não ter chegado à versão final. Aprendi muito e ficaram na memória as horas entusiasmantes de discussão e de escrita. Num tempo mais recente trocamos muitas mensagens por correio eletrónico. Eu em Alvites e o Professor Arnaldo na Foz do Ave. Nessas mensagens eu dava conta dos

meus dias, das podas, da pinga de chuva que caía no teclado, da minha coleção de chaves inglesas, do seu Larix decidua, de diversa coisa e dos trabalhos que ia publicando e ele na forma mordaz e humorada que lhe era característica fazia comentários sobre tudo. Sobre a Universidade, sobre a política nacional e internacional. Sobre vinho, sobre comida e sobre outros assuntos frequentemente polvilhados com notas dos escritores de que gostava. Desejei-lhe muitas vezes para apreciar o entardecer junto ao nosso Atlântico. Acredito que o tenha feito.

O SEU RIGOR ERA TOTAL, NA CIÊNCIA, NA DOCÊNCIA E NA ESCRITA…

Arnaldo Alves Dias da Silva, foi um dos mais distintos docentes e investigadores portugueses dos últimos 50 anos, deixando “Escola” e uma marca indelével em todos aqueles que o conheceram e que com ele privaram. Uma pessoa só morre com o último dos vivos dela se deixa de lembrar. Por isso mesmo o Prof. Arnaldo estará vivo durante muitos anos, tal a marca impressiva, direta e indireta, que deixou em muitos de nós e em todos aqueles a quem transmitimos o seu legado. Os últimos anos da sua vida não foram os mais bonitos, face à sua visível debilidade física, mas até aí nos impressionou pela forma como lutou até ao fim contra a adversidade na saúde. As suas aulas eram absolutamente notáveis, pela forma enfática e atraente como descrevia cada um dos mecanismos da fisiologia e nutrição animal, tudo sempre misturado com um sentido de humor único, algumas vezes cáustico. Foi alguém intolerante com a mediocridade, em especial no meio académico, sendo conhecida a sua coragem para a denunciar. O seu rigor era total, na ciência, na docência e na escrita, sendo famosas as sucessivas, por vezes intermináveis, revisões de textos até os considerar aptos para publicação. Já muito doente nunca deixou que este sentido de exigência esmorecesse. Adorava o Entre-Douro e Minho e a história da evolução da produção de leite nesta área territorial, com um enorme orgulho nas suas origens de filho de agricultores pioneiros na transformação da produção animal no Concelho de Vila do Conde. Para além de tudo isso foi um “Amigo”, valor que sempre cultivou para a vida e sem limites.

Neste novo ciclo de adaptação a viver com as suas memórias, resta-me dizer Muito Obrigado por tudo, caro Chefe e Amigo!

Emídio Gomes

EXIGENTE COMO ERA, INSPIROU-NOS A DAR PRIORIDADE À QUALIDADE E AO RIGOR...

O Professor Arnaldo, meu mentor e amigo, tinha as suas raízes na comunidade agrícola de Vila do Conde, onde nasceu e cresceu. Provavelmente por isso, dedicou toda a sua vida profissional, de forma apaixonada e excecional, à nutrição de animais de produção.

Na UTAD, onde o conheci e com ele trabalhei, era considerado pelos seus alunos como uma referência, inspirando de forma decisiva muitas mentes jovens em busca das suas trajetórias profissionais. Foi exatamente isso que aconteceu comigo.

Num determinado momento do meu percurso académico, senti-me perdida na minha área de eleição, a genética. Mas à medida que fui assistindo às aulas do Professor, a nutrição foi-se tornando um assunto cada vez mais interessante, já que ele trazia o seu conhecimento com entusiasmo e excelência para a sala de aula. Exigente como era, inspirou-nos a dar prioridade à qualidade e ao rigor, mesmo nos detalhes mais insignificantes.

O seu apoio como meu orientador, durante o mestrado e doutoramento, foi absolutamente crucial para moldar a minha carreira profissional naquilo que ela é atualmente. Ao longo deste percurso, pude contar com o seu conhecimento, o seu incentivo e, acima de tudo, com a sua amizade, que valorizo até hoje. Sempre que discordámos ele me deu espaço para apresentar os meus pontos de vista de forma livre e com o ímpeto que me caracteriza, que a tantos outros intimida, mas que a ele o divertia e admirava, tal como me chegou a confidenciar. O seu incentivo e o seu apoio permitiram-me crescer sem medo. O Professor Arnaldo tinha uma personalidade muito peculiar, incompreendida por alguns, mas para mim as suas falhas eram insignificantes comparativamente com as suas qualidades, e estas são difíceis de encontrar e fazem verdadeiramente a diferença na vida das pessoas. Ele estava longe de passar indiferente a qualquer pessoa e, sem dúvida, deixou a sua marca. Pessoalmente, foi a pessoa mais importante no meu percurso profissional, uma figura insubstituível, de cujos conselhos, apoio e boa disposição sinto a falta todos os dias.

Agradecendo o convite que me foi dirigido para deixar duas palavras sobre o Prof. Arnaldo, aqui partilho o meu testemunho.

O Prof. Arnaldo fez parte da Comissão Instaladora do Instituto Politécnico de Vila Real

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MINHA HOMENAGEM AO PROF. ARNALDO DIAS DA SILVA

(IPVR) onde me inscrevi em 1978 e que viria a dar lugar mais tarde à UTAD. Foi meu professor de Nutrição Animal I e logo aí me deixou a impressão de se tratar de uma pessoa que colocava o rigor científico em lugar de destaque. Nessa altura, lembro-me do modo como procurou partilhar os resultados dos ensaios que foi realizando, como por exemplo os de palha tratada com ureia.

Mais tarde, trabalhando eu já na Purina, pude acompanhar as análises que realizou às diversas marcas de ração para vacas leiteiras vendidas no Planalto Mirandês. Embora os resultados tivessem conduzido à interrupção da compra de Purina pela Associação local, guardei sempre a convicção de a sua preocupação ter sido a de fazer uma avaliação independente. Estando eu já na Tecadi, propus-lhe um ensaio com as leveduras vivas Levucell SC. Pediu-me, com a franqueza que o caracterizava, que não lhe trouxesse folhetos comerciais mas sim trabalhos publicados em revistas científicas de referência. Foi o que sucedeu algum tempo mais tarde, coincidindo com a apresentação feita pelo Prof John Bax (Lallemand) no Congresso de Zootecnia de Novembro de 2005, o qual sugeriu que se realizassem ensaios na UTAD. Estes foram iniciados em 2006 medindo o efeito destas leveduras na degradabilidade da fibra de silagem de milho, tendo os resultados sido publicados na Animal Feed Science and Technology sob o título “Effects of a Saccharomyces cerevisiae yeast on ruminal fermentation and fibre degradation of maize silages in cows” (Guedes, C.M., Gonçalves, D., Rodrigues, M.A.M., Dias-da-Silva, A., Ago 2008) (https:// www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S0377840107002866). Em 2007 foi feito idêntico ensaio, agora com silagens de erva. Fui testemunha do rigor colocado por si e pela sua equipa no decorrer do mesmo. Viria a apresentar esses resultados no Brasil e depois na Holanda em finais de 2009, após o que adoeceu gravemente. Estes trabalhos, juntamente com os de outras instituições científicas, serviu para a publicação de matriz de formulação com atribuição de valor energético a estas leveduras. Os problemas de saúde acompanharam-no até ao final dos seus dias. Mesmo bastante dependente em termos de mobilidade e de expressão vocal, foi sempre muito resiliente, lutando contra estas grandes adversidades, procurando manter-se informado, com as revistas que lhe íamos trazendo de vez em quando, com informação que pesquisava na net e com visitas a explorações leiteiras em que era acompanhado por colegas nossas que tinham sido também suas alunas.

A lucidez que manteve sempre ficou clara nos artigos que foi escrevendo. Recordo aqui

alguns, que foram publicados na revista Produtores de Leite (APROLEP): "A propósito de “vacas felizes”" (Revista nº 14, 2016), “A dimensão da exploração leiteira” (nº 11, 2015), “O bem-estar das vacas e a imagem do leite” (nº 10, 2014), “A pegada de carbono de um vulgar copo de leite hoje e há 70 anos” (nº 9, 2014) A finalizar, não quero deixar de homenagear a sua esposa, Dra Manuela Cruz, de cuja dedicação infatigável ao seu marido sou testemunha.

O PROFESSOR ARNALDO DIAS DA SILVA, A AGROS E A PRODUÇÃO DE LEITE NO EDM. Há 25 anos atrás, a alimentação das vacas leiteiras da nossa região era feita de forma muito diferente. As rações disponíveis eram pouco variadas, e raras vezes ajustadas às forragens existentes na exploração. Por isso, ocorriam alterações do leite produzido pelas vacas, diminuindo a sua qualidade e penalizando o rendimento dos produtores e de alguns processos industriais aos quais era sujeito. Parâmetros como o índice crioscópico, o teor de proteína e, consequentemente, o extrato seco desengordurado, apresentavam valores anormais sendo demasiado elevados no primeiro caso e muito baixos nos outros. Num rasgo de visão, a Direção da AGROS de então convidou o saudoso Professor Arnaldo Dias da Silva para estudar a origem do problema e liderar um grupo de técnicos da área agronómica, mais vocacionados para a nutrição e alimentação animal, com o objetivo de ajudar os produtores de leite a corrigir essas anomalias.

Foi preocupação do Professor Arnaldo que os técnicos envolvidos, da AGROS e de algumas cooperativas associadas, fossem alvo de uma preparação teórico-prática que criasse uma homogeneização de conceitos e metodologias de trabalho. Semanalmente, reuniam-se nas nossas instalações e passavam horas a debater casos concretos e dúvidas e a preparar soluções apontadas a cada caso. Ninguém levava recomendações às explorações sem esta análise crítica conjunta. Deste modo, aprendiam todos com os casos de cada um.

À semelhança do que ainda hoje acontece com os produtores menos profissionais, não era habitual analisar as forragens fornecidas aos animais, nem a composição das dietas. Práticas hoje plenamente divulgadas, como a disponibilidade de água e alimento em permanência para as vacas, e a forma de colher e conservar as forragens, não estavam vulgarizadas. Não tardou a que o Professor Arnaldo apontasse, como clara necessidade, a Agros investir na criação de um laboratório de análises de ali-

mentos para animais, pois a capacidade de reposta existente no terreno era claramente inadequada. Por força das relações pessoais existentes, e diga-se, de uma ligação muito estreita e objetiva com o meio universitário e deste com as organizações cooperativas leiteiras, logo esta equipa foi alargada à Universidade do Porto (UP), especificamente aos Professores Emídio Gomes e Mira da Fonseca, aparecendo deste modo o referido Laboratório. Localizado nas Instalações da UP em Vairão, levou à contratação de pessoal técnico especializado, hoje integrado no Laboratório Interprofissional do Leite, em Lousada, e à dinamização, entre os criadores, do hábito de analisar as forragens que produziam ou adquiriam, e os alimentos complementares das dietas, fossem eles matérias-primas ou alimentos compostos. A partir daí, passou a ser uma rotina analisar, para conhecer os alimentos, e então formular dietas para vacas leiteiras. Com dados da realidade da região, e não tabelas internacionais “mais ou menos adaptadas a Portugal", foi possível trilhar um caminho no domínio da alimentação animal que, considero, devemos ao espírito do Professor Arnaldo Dias da Silva. De facto, mais do que procurar fazer uso dos casos práticos para sustentar trabalhos académicos, juntou o trabalho e conhecimento da academia aos técnicos e aos agricultores que visitava e conhecia, não fosse ele um homem de Vila do Conde. Desde os tempos em que o conheci como estudante em Agronomia, que recordo a aparência sorridente e a disponibilidade para ajudar e envolver-se em projetos que permitissem divulgar e dinamizar a nutrição animal. É com orgulho que recordo esse período da história da Agros e desta região leiteira. Foram tempos de progresso rápido, com um grande aumento da produtividade das vacas, da qualidade dos alimentos e, o mais importante, da disseminação dos conceitos subjacentes à nutrição e alimentação animal, tendo em conta a realidade edafo-climática do EDM e o enorme potencial que a ensilagem do milho e das consociações forrageiras de Outono-Inverno permitem nesta região.

Mesmo para a região de Trás-os-Montes, onde os problemas eram mais agravados devido à menor disponibilidade forrageira tanto em quantidade como em qualidade, foi sua preocupação utilizar as forragens que lá se produziam, e ajudar a melhorar a composição das dietas, revertendo para os produtores locais progresso e crescimento.

Louvo a IACA pela iniciativa desta homenagem ao professor Arnaldo Dias da Silva, distinto agrónomo que tanto deu ao setor e espero que estas minhas breves palavras

52 | ALIMENTAÇÃO ANIMAL ALIMENTAÇÃO ANIMAL IN MEMORIAM

contribuam para que a sua obra, na região do EDM e entre os produtores da Agros, seja perpetuada.

UMA SINGELA HOMENAGEM A UM GRANDE ZOOTÉCNICO…

A minha primeira aula de nutrição animal foi marcada pela pergunta do Professor Arnaldo, a cada um dos então cerca de 50 alunos que se apresentavam na sala de aula, de onde vinham, qual a nossa “origem”, se tínhamos contacto com o “campo”, com os animais, ou se éramos provenientes de áreas urbanas com pouca ou nenhuma ligação à produção primária… Lembro-me bem dos comentários mordazes que o Professor fazia à forma por vezes leviana com que alguns de nós respondíamos… Lembro-me de várias aulas passadas a ouvi-lo falar com uma paixão que, confesso, apenas alguns anos depois compreender, em torno de gráficos de cinética de degradação, ou da zona de neutralidade térmica….

Lembro-me das horas que passei a estudar uma matéria que então pensava detestar….

A minha prova oral de Nutrição Animal ainda hoje me está bem gravada na memória… bloquei de tal forma que não consegui articular duas palavras coerentemente, e onde, depois de muito desesperar, o Professor me pergunta “qual o principal hidrato de carbono que existe no pão???”… silêncio… chumbei claro está :)

Retenho também na memória as discussões, construtivas, que tivemos aquando da entrega da minha tese de mestrado, e as horas que passou comigo a rever a versão final para defesa.

Quis o destino, ou o Universo dirão alguns, que a Nutrição Animal fosse afinal a minha paixão. Hoje não duvido que a paixão e o conhecimento que colocava nas suas aulas, a dedicação com que discutia a nutrição connosco, e com que nos fazia questionar permanentemente me influenciou muito, sem que na altura me desse conta disso. Considero ter o privilégio de ter tido na minha formação grandes Professores, que me influenciaram marcadamente, o Professor Arnaldo foi um deles.

A minha primeira incursão no mundo académico foi por seu incentivo. Os primeiros artigos publicados com o seu apoio. E foi com o Professor Arnaldo que iniciei o meu percurso académico como colaboradora do curso que me tinha recebido em 1994 como caloira, estávamos no ano 2000. Mantivemos o contacto por email, e sempre me apoiou, questionou e incentivou.

Hoje a Nutrição Animal é parte de mim. Apesar de estar agora afastada da atividade docente,

a unidade curricular que sempre gostei mais de lecionar foi a Nutrição Animal. Relembro com gosto o ar de desespero e divertimento que via por vezes nas caras de alguns alunos quando me perdia a divagar em torno de gráficos… E fico de coração cheio quando penso que me revia nestes alunos quando, na posição deles, ouvia o meu Professor de Nutrição Animal. Perdoem-me a audácia, mas lembro-me de pensar: “Estou a ficar igualzinha ao meu professor de Nutrição…”, pensamento que me orgulha muito e que, volta e meia me volta à memória em contextos fora da atividade docente.

O Professor Arnaldo Dias-da-Silva é nome incontornável da Zootecnia Portuguesa. O seu nome será sempre referido pelo legado de extrema importância que deixou, não só escrito publicado, mas também na atividade e memória dos seus ex-alunos.

A 10 de Maio de 2014 a Associação Portuguesa de Engenharia Zootécnica (APEZ) Homenageou o Professor Arnaldo Alves Dias-da-Silva, uma singela homenagem a um grande Zootécnico, que será sempre recordado.

ALIMENTAÇÃO ANIMAL | 53
Ana Sofia Santos

FICHA TÉCNICA

ALIMENTAÇÃO ANIMAL

Revista da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA

NIPC- 500835411

TRIMESTRAL ‑ ANO XXXIV Nº 124

Abril / Maio / Junho 2023

DIRETOR

José Romão Braz

CONSELHO EDITORIAL E TÉCNICO

Ana Monteiro

Jaime Piçarra

Pedro Folque

Manuel Chaveiro Soares

Rui Gabriel

COORDENAÇÃO

Jaime Piçarra

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Serviços IACA

ADMINISTRAÇÃO, SEDE DE REDAÇÃO E PUBLICIDADE

(incluindo receção de publicidade, assinaturas, textos e fotos)

IACA - Av. 5 de Outubro, 21 - 2º E

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Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA

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PROPRIETÁRIO

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DEPÓSITO LEGAL

Nº 26599/89

REGISTO

EXCLUÍDA DE REGISTO NOS TERMOS DO DISPOSTO NA ALÍNEA A) DO N.º 1 DO ART.º 12.º DO DECRETO

REGULAMENTAR N.º 8/99, DE 9 DE JUNHO, REPUBLICADO PELO DECRETO REGULAMENTAR

N.º 2/2009, DE 27 DE JANEIRO

AGENDA DE REUNIÕES DA IACA

Data

11

12 e 13

14

19

20

27

28

Data

04 e 05

11

11 e 12

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18

22 e 23

22 a 25

25

ABRIL

• Reunião de apresentação do GeneraRecetas, Lisboa

• X Congresso Nacional de Suinicultura, Ourém

• Assembleia-Geral da IACA, Lisboa

• Comité Gestão da Segurança Alimentar, virtual

• InsectERA – Reunião com responsáveis financeiros, Santarém

• Sessão de Abertura da 39ª Ovibeja, Beja

• 12ª Reunião do "Board” da FEFAC, Bruxelas

• InsectERA – Reunião do eixo InFeed, virtual

• O impacto das Contaminações Cruzadas na Estratégia "Uma Só Saúde" - IACA/DGAV, Auditório da DGAV, Quinta do Marquês – Oeiras

• Reunião do "Steering Group” da FEFAC, Bruxelas

MAIO

• AVIS’23 – III Congresso Internacional de Avicultura, Viseu

• Seminário "30 years of the internal market and the EU food safety system transformation", Oeiras

• Conferência da USSEC com a colaboração da IACA e CESFAC, Madrid

• 6ª Conferência para a Competitividade da FIPA, Lisboa

• Comité Alimentos de Aleitamento, Bruxelas

• Reunião de preparação do Foro Derio, virtual

• Conferência Anual do US Grains Council, Lisboa

• III Jornadas Técnicas Vetlima, virtual

• Reunião Geral da Indústria ""Do Prado ao Prato": como reforçar a resiliência dos sistemas agroalimentares?”, Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa

• Ponto situação do Programa de Recuperação e Resiliência e os Compromissos da Indústria da Alimentação Animal, Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa

• Reunião de Direção da IACA, Lisboa 30

• Jantar comemorativo do 35.º aniversário da ANPROMIS, Lisboa

• Reunião sobre GeneraRecetas, virtual

• Conferência Centromarca "Redesenhar o Futuro das Marcas", Lisboa

• Reunião da Direção da SPMA para preparação das XII Jornadas de Alimentação Animal (virtual)

• Conferência e Bolsa ACICO Lisboa

• II Colóquio Internacional petMaxi, Tomar

• Reunião com a Diretora-Geral da DGAV, Lisboa

• Feira Nacional da Agricultura, eixo InFeed, Santarém

• Sessão de formação “Access2Markets”, virtual

• Seminário CAP "Circularidade nas explorações pecuárias", CNEMA, Santarém

• 1ª Assembleia-Geral InsectERA, Santarém

• Conferência Global de Avicultura, CNEMA, Santarém

• 5.ª Reunião conjunta do “Board" e do Colégio dos Diretores-Gerais da FEFAC, Ystad, Suécia

• 68.ª Assembleia-Geral da FEFAC, Ystad, Suécia

• Workshop da FEFAC “Feeding Techniques for Sustainable Food Systems“, Ystad, Suécia

• InsectERA – Reunião do eixo InFeed, virtual 15

• XXX Congresso da FEFAC, Ystad, Suécia

• VI Gala de Entrega dos Prémios Porco D`Ouro, CNEMA, Santarém

• Conferência USSEC/IACA "USSEC Country Meeting Portugal", Hotel Myriad, Lisboa

• Reunião de Direção da IACA, Lisboa

• Assinatura de Protocolo UTAD/FeedInov e Inauguração do Laboratório de Nutrição

De acordo com o RGPD, de 25/05/2018, a IACA reconhece e valoriza o direito à privacidade e proteção dos dados pessoais, pelo que conserva esses dados (nome e morada) exclusivamente para o envio da Revista “Alimentação Animal”, que nunca serão transmitidos ou utilizados para outros fins.

A qualquer momento, poderá exercer o direito de retirar esse consentimento enviando-nos um e-mail para privacidade@iaca.pt

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Data
JUNHO 01
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Animal da UTAD

Questão de peso

Conversão alimentar optimizada graças à proteção intestinal que oferecem Maxiban e Monteban.

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