Janeiro–Fevereiro–Março 2016 (Trimestral) — 3€ (IVA incluído)
ANO XXVII Nº 95
CRISE DA PECUÁRIA
que soluções?
A LI ME N TAÇÃO A N I M A L
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Revista da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA
PARCERIAS QUE ALIMENTAM VALOR ALIMENTOS COMPOSTOS PARA AVICULTURA E PECUÁRIA
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AVES
BOVINOS
ALIMENTAÇÃO ANIMAL EDITORIAL
Que lições devemos tirar desta crise?
Cristina de Sousa Presidente da IACA
ÍNDICE 03 04 06 14 16 22 36 40 46 50
EDITORIAL TEMA DE CAPA 2016 AIL BIOTECNOLOGIA CRISE DA PECUÁRIA INVESTIGAÇÃO SFPM NOTÍCIAS NOTÍCIAS DAS EMPRESAS AGENDA
A Europa e, em particular Portugal, vive uma crise sem precedentes na sua produção pecuária e esta atinge, naturalmente, a Indústria da alimentação animal, com destaque para as nossas empresas associadas, de alimentos compostos e pré-misturas. Qualquer problema ou constrangimento nos nossos clientes, reflete-se na nossa Indústria, pelo que os problemas de uns são seguramente de todos, ao longo da cadeia alimentar. Temos de ser solidários porque todos os setores são necessários ao crescimento económico e do emprego, ao objetivo de sermos autossuficientes e de contribuirmos para o progresso do País, em que a atividade pecuária tem de ser importante porque a alimentação animal, o leite e as carnes, no seu conjunto, são os principais setores do agroalimentar, quer em Portugal, quer na União Europeia. Por outro lado, a soberania alimentar é da maior relevância; não nos podemos dar ao luxo de reduzir ainda mais a nossa dependência e vulnerabilidade, sobretudo no contexto atual de incerteza (e insegurança) em que vivemos: os refugiados, a segurança e os recentes atentados de Bruxelas e Paris, a desconfiança entre Estados-membros, a falta de coesão entre países e crescentes movimentos xenófobos que põem em causa os valores, a liberdade e a tolerância, que têm sido as pedras basilares da União Europeia. Dos últimos encontros em Bruxelas, ficou o reconhecimento político de que se trata de uma crise histórica e que a Comissão tudo fará para não “deixar cair a pecuária na União Europeia”, dando a certeza de que utilizará “todas as medidas e mecanismos” previstos na PAC. O problema é que esta PAC, reformada em 2013, é muito limitada do ponto de vista das ajudas, para fazer face a crises desta dimensão e nenhum Ministro quer usar a chama Reserva de Crise porque isso significaria ir retirar dinheiro das ajudas diretas a todos os agricultores. Ou seja, se estamos perante uma crise sem paralelo, temos de utilizar medidas extraordinárias e que não sejam complementadas por ajudas nacionais. Países com problemas orçamentais como o nosso, ficariam ainda em maior desvantagem competitiva não só para enfrentar a crise, como para fazer face à necessária reestruturação que vamos ter de enfrentar. Apesar de existir uma clara convergência entre as posições expressas pelo COPA/COGECA e as decididas pela Comissão, existem, em nossa opinião, dois argumentos de peso que dão ainda maior profundidade a esta crise, pelo menos em Portugal, e que o poder político tem de ter em conta: o primeiro, do lado da oferta, em que as fábricas de alimentos compostos para animais – tradicionais financiadores da atividade pecuária – já esgotaram a sua capacidade financeira e de financiamento; o segundo, as relações na cadeia alimentar, designadamente entre a produção, a Indústria e a grande distribuição, na sua configuração atual, ao utilizarem os produtos de origem animal como “isco” ou “âncora”, não favorecem a produção nacional. Será que podemos continuar a assistir a tudo isto como se não tivéssemos capacidade de organização? Quando sabemos que nada temos a dever relativamente à qualidade dos nossos produtos face aos concorrentes europeus ou de países terceiros? As perspetivas que temos pela frente não são animadoras porque a oferta é superior à procura e os preços ainda vão continuar baixos. As medidas de limitação da oferta podem funcionar mas vão trazer dificuldades ao Setor. Portugal e a Europa têm retirar algumas lições importantes: é essencial saber ler as crises e antecipar os problemas, ter medidas europeias e não nacionais, começar a discutir uma PAC que resolva os problemas da volatilidade dos preços e rendimentos (seguros?), começar por dar resposta às práticas da grande distribuição. Limitar as promoções, à semelhança do que acontece em países da União Europeia, designadamente em França, já seria um excelente começo e ânimo para enfrentar estes tempos difíceis, e um sinal político de que o Governo está do lado da produção e da economia. No plano interno, é importante que se aposte no mercado externo, no sentido de ultrapassar os problemas colocados pelo embargo russo e complementar a ofensiva diplomática de Bruxelas. Sem esquecer que todos temos de saber conviver em conjunto e que estamos “condenados” a entender-nos, em nome da criação de valor na cadeia alimentar, cumplicidade e coragem são necessárias…as empresas e os empresários saberão estar à altura dos desafios para ultrapassar a crise e evitar um novo colapso. Assim saibam os decisores políticos! A LI ME N TAÇÃO A N I M A L
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL TEMA DE CAPA
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O ANO INTERNACIONAL DAS LEGUMINOSAS E A CRISE DA PECUÁRIA Depois da chamada de atenção, em 2015, para o
é de facto uma matéria-prima de referência, face
problema dos solos, designadamente a sua pre-
ao seu “apport” proteico, balanço nutricional, preço,
servação e o combate á erosão, sensibilizando os
competitividade. Existem, no entanto outros fato-
decisores políticos mundiais para a necessidade,
res a ter em conta, como eventuais limitações das
entre outras práticas, de criar zonas de conserva-
proteaginosas nas formulações, as especificidades
ção (na linha do que já acontece nos EUA, Brasil ou
dos animais e dos tipos de mercado. No entanto, a
na União Europeia, com o “greening”, as Zonas de
Indústria está preparada para ir ao encontro das
Interesse Ecológico ou as medidas agroambientais),
diferentes necessidades dos seus clientes.
a FAO assumiu 2016 como o Ano Internacional das
Paralelamente à dependência da Europa em maté-
Leguminosas (2016 AIL). O objetivo é relevar a
rias-primas e à escassez de fontes proteicas, verifi-
importância destas culturas no ambiente, na nutri-
cam-se vários problemas relacionados com tecnolo-
ção e alimentação, na diversificação cultural e ter-
gias de cultura, falta de variedades adequadas e a
ritorial, como fator de rendimento dos agricultores
inexistência de uma cadeia de valor suficientemente
e da competitividade das Fileiras agroalimentares.
organizada. Outra vertente importante será o papel
Enquanto elemento fundamental para uma produção
das entidades governamentais na consciencialização
(e consumo) que se quer cada vez mais responsável
da população sobre os benefícios nutricionais das
e sustentável. Sobretudo quando sabemos que o
leguminosas como parte de um sistema de produ-
desperdício alimentar representa cerca de 1/3 dos
ção alimentar sustentável. Investigação, desenvol-
alimentos produzidos.
vimento, mercado…um ano em que todos somos
A IACA associou-se desde logo a esta iniciativa por-
convidados a refletir sobre esta temática, tendo
que nos leva a refletir sobre a importância destas
em vista o aumento da produção e do consumo.
culturas na alimentação animal (proteaginosas) e o
Outro tema central desta edição da Revista “AA” tem
problema do deficit de proteína, que constitui um
a ver com a crise da pecuária, sobretudo ao nível
dossier essencial, político e geoestratégico, face
do leite e da carne de porco, mas que se estende
a constrangimentos como o problema dos OGM,
a toda a produção animal, incluindo outras carnes,
a dependência da soja, o aprovisionamento con-
bovino, coelho, frango, e ovos.
centrado em 3 países, a limitação das farinhas de
Trata-se de uma crise, nacional e europeia, que de
carne, a produção de biocombustíveis e as metas
algum modo se antevia: no leite, com o fim das
(ambientais) da Conferência de Paris, a utilização de
quotas leiteiras e a não existência de alternativas
farinha de insetos; a necessidade de se encontra-
que permitissem substituir aquele regime, apesar
rem alternativas viáveis, credíveis e aceites pelos
das discussões e preocupações sobre o impacto
consumidores.
da eliminação do sistema; na carne de porco, com
Também é importante conhecermos o que está a
o encerramento sanitário das fronteiras da Rús-
ser feito em Portugal, pelo que nesta edição da
sia, que se agravou com o embargo aos produtos
Revista, temos duas importantes reflexões da FAO
agroalimentares. A queda dos preços do petróleo
e do INIAV, para além de um artigo da FEFAC (a
criou problemas em Angola, um dos principais
concluir na próxima edição da AA) sobre a depen-
mercados de exportação dos produtos nacionais,
dência europeia de proteína (na ordem dos 70%) e
agravando ainda mais as dificuldades, a par de uma
as consequências para a Indústria.
desaceleração económica a nível mundial, sobretudo
É inegável que as leguminosas secas podem repre-
na China e no Brasil.
sentar uma oportunidade para o setor agroalimentar
A maior competitividade dos custos da alimenta-
em Portugal. Das muitas características positivas
ção animal nos últimos anos levou a que os princi-
que apresentam, destaca-se o interesse nutricional,
pais países europeus produtores, de leite e carne,
pois são fontes de proteína e de energia importantes
aumentassem os efetivos e a melhoria de índices
para a alimentação animal e humana, e o contributo
de conversão e de produtividade, a maiores produ-
para a agricultura pela sua capacidade de fixação de
ções, até mesmo em Portugal. Com um aumento da
azoto, sendo fundamentais para a recuperação da
oferta, sem consumo interno para escoar toda essa
fertilidade dos solos. Na alimentação animal, a soja
produção, com mercados externos fechados e uma
procura em quebra, estava criada a tempes-
negociações com o TTIP e o Mercosul, com
diárias, e uma prática corrente e assumida,
tade perfeita. Como reconheceram os líderes
a Austrália e Nova Zelândia. A margem de
em nome “da concorrência” e dos interesses
políticos europeus, uma crise sem preceden-
manobra é muito estreita e os instrumentos
dos consumidores, que apenas destrói valor
tes! E agora, como é sair daqui?
da PAC, de dimensão insuficiente.
e a estrutura produtiva. Legislar e fiscalizar
Na Europa, o alarme soou, infelizmente como
Sem prejuízo do enorme esforço que as orga-
para assegurar o cumprimento da rotulagem
é hábito, muito mais tarde, bem depois dos
nizações dos produtores estão a desenvolver
e limitar as promoções, a baixo preço, seria
avisos dos setores e apenas em setembro
e com o qual nos solidarizamos, do diálogo
um sinal político da maior importância neste
e outubro se formalizaram um conjunto de
do Governo, no sentido de confirmar as
momento.
medidas políticas, com envelopes financeiros
posições da Fileira e, mais recentemente, a
Produzir com custos superiores aos preços
de 500 milhões de €, dos quais 4.9 milhões
linha de crédito de 20 milhões de € para o
de venda não é, seguramente, uma opção que
para Portugal (e apenas para o leite) e medi-
desendividamento, abertura dos mercados, o
viabilize a actividade pecuária. Todos precisa-
das como a intervenção e armazenagem pri-
controlo das importações ou o alargamento
mos uns dos outros, o que torna ainda mais
vada, a criação de um Grupo de Alto Nível,
do prazo do RERAE, pensamos que o sinal
decisivo o Interprofissional.
que entre outras questões, vai analisar o
mais relevante seria ao nível do funciona-
Sem produção nacional não existe futuro. É
problema do funcionamento equilibrado da
mento da cadeia alimentar: as promoções
bom que, parceiros e decisores políticos, com-
cadeia alimentar. Um tema que tem estado
da grande distribuição são semanais ou
preendam esta simples mensagem.
na agenda de todos nós, em Portugal, na PARCA e em Bruxelas, também sob pressão do Parlamento Europeu. Temos feito sentir que esse Grupo tem de analisar igualmente as medidas e propostas que se colocam na alimentação animal (OGM, custos dos controlos oficias, restrições, barreiras técnicas e administrativas), que penalizam a Fileira. As conclusões do Conselho de março não só não trouxeram novidades significativas, no imediato, como algumas delas ainda vão necessitar de tempo para discussão e (eventual) aplicação. Destacam-se a criação do Observatório da Carne e as eventuais limitações da oferta no âmbito do artigo 222º da PAC, não tendo sido dado respostas a propostas como a redução de direitos para a importação de alguns consumos intermédios ou a canalização de gorduras para o biodiesel. Por outro lado, a que seria mais emblemática – a abertura da Rússia às exportações europeias ao leite e carne de porco – tem “términus” previsto para agosto de 2016 mas continua uma miragem e a única possibilidade real que existe, na qual a Comissão está a trabalhar, respeita a uma eventual abertura da Rússia em termos sanitários, razão inicial para a proibição das importações de carne de porco devido aos problemas da peste suína. Acentuam-se as divergências entre Estados-membros, os perigos de concessão de mais ajudas nacionais – para países como Portugal, com restrições orçamentais seria inaceitável – mais intervenção e limitações à produção, mais exportação e promoção nos mercados externos, com a certeza (e os riscos associados) de que vão ser aceleradas as
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL 2016 AIL
LEGUMINOSAS: PARA UMA VIDA SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL
Hélder Muteia Responsável do Escritório da FAO em Portugal e junto da CPLP
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ALIMEN TAÇÃO AN IM A L
Os mais recentes processos sociais, económicos e ambientais obrigam a humanidade a uma reflexão profunda sobre a necessidade de estabelecer novos equilíbrios e paradigmas na produção e no consumo. Os sistemas alimentares colocam-se no centro deste debate, pela sua relação privilegiada com a base de recursos naturais que sustenta a vida no planeta (particularmente os solos, a água, a biodiversidade, a fauna e as florestas), e pela crescente influência de fenómenos demográficos relacionados com o crescimento populacional, a urbanização e o envelhecimento demográfico. Os modelos simplificados de análise e avaliação da situação alimentar mundial, desenvolvidos nos anos 70 e 80, e que ao longo de décadas se mostraram fundamentais para os progressos realizados, tiveram que paulatinamente ser substituídos por modelos mais complexos, capazes de ajudar a interpretar uma nova vaga de paradoxos: a coexistência entre a abundância, a escassez e o desperdício; a exiguidade de recursos naturais em paralelo com a sua desenfreada delapidação; o surto de doenças relacionadas com uma alimentação inadequada e deficiente; e a passividade em ver abandonados bons hábitos milenares de alimentação saudável, como é o caso da dieta mediterrânica. Atenta ao desenrolar de algumas dessas dinâmicas, a 68ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas (AIL), na tentativa de promover um debate sobre a importância de uma alimentação saudável e sustentável, e o papel específico que as leguminosas (particularmente as leguminosas secas que em Inglês se designam por “pulses”) podiam cumprir nesses esforços. No grupo das leguminosas secas incluem-se aquelas que são produzidas com o intuito de aproveitar as suas sementes, como são os casos do feijão manteiga, feijão-frade, tremoço e grão-de-bico, por exemplo, todos com sólidas tradições da gastronomia portuguesa. Excluem-se as que são consumidas verdes (como o feijão verde e as favas frescas, que são produtos hortícolas) e as que caem na categoria de oleaginosas (como a soja, o amendoim, etc.). Do ponto de vista nutricional, as leguminosas secas são excelentes fontes proteicas de origem vegetal, por serem uma alternativa saudável às proteínas de origem animal, cujo crescente consumo excessivo está associado à elevada incidência de doenças cardiovasculares e complicações renais; além disso, são ricas em vitaminas, das quais se destacam as vitaminas C, E e o complexo B, importantes em muitos processos fisiológicos, com particular destaque para o desenvolvimento do sistema imunológico;
têm um teor elevado de ferro, potássio, fósforo, zinco e magnésio, minerais fundamentais para o sistema circulatório; fornecem fibras em proporções recomendadas para uma boa digestão; contêm importantes compostos bioactivos que ajudam a combater o cancro, a diabetes e as doenças cardiovasculares; fornecem hidratos de carbono complexos e de lenta absorção, que ajudam a controlar os níveis de açúcar no organismo; e apresentam um baixo teor de gordura, glúten e colesterol. As leguminosas secas demonstram ainda grande utilidade como complemento da alimentação de animais de pequeno, médio e grande porte. A sua fácil adaptabilidade aos mais variados regimes agro-ecológicos, e a possibilidade de serem conservados por longos períodos sem perderem o seu valor nutritivo, conferem-lhes um papel privilegiado no combate à insegurança alimentar, particularmente no Sul da Ásia, África Subsaariana e Ásia Oriental, onde a fome está estigmatizada. Nestas regiões vivem cerca de 80% das 795 milhões de pessoas que passam fome e das 2.000 milhões de pessoas com deficiências nutricionais. Do ponto de vista ambiental, podem também contribuir para a biodiversidade e a promoção de uma agricultura mais sustentável. Permitem a recuperação da fertilidade dos solos, através da sua capacidade de conversão de nitrogénio atmosférico em compostos de azoto utilizáveis pelas plantas. Além disso, contribuem para a libertação do fósforo fixo no solo, predispondo-o para a absorção pelas plantas, e demonstram uma elevada capacidade de canalizar água subterrânea a outras culturas que crescem em seu redor. São, assim, fundamentais em sistemas de consorciação e rotação de culturas. Estudos recentes demonstram que os novos hábitos alimentares, resultantes da crescente onda de urbanização, restringem a diversidade das dietas, porque o contexto urbano impõe hábitos de economia, de dinheiro e de tempo para a grande maioria das pessoas. As leguminosas secas, por serem mais difíceis de cozinhar, estão entre os alimentos mais afetados por esta tendência. Nota-se, por exemplo, que o consumo per capita de leguminosas tem reduzido sistematicamente, passando de 7,6 kg/pessoa/ano em 1970, para cerca de 6 kg/pessoa/ano nos últimos anos. Embora a produção de leguminosas secas tenha registado um crescimento na ordem de 1% ao ano desde 1960, esta situou-se muito abaixo do índice de crescimento demográfico. Em Portugal, a produção de leguminosas secas corresponde hoje a apenas a 0,04% do total da produção agrária para consumo humano, muito abaixo da
média mundial. Na década de 80 produzia-se mais de 35 mil toneladas por ano, e desde 2009 o valor mantém-se na ordem de 2.500 toneladas ano. O consumo anual per capita, que chegou a estar perto dos 7 kg/pessoa/ ano, situa-se hoje em 4 kg, nitidamente abaixo da média mundial acima referida. Tal como Portugal, há muitos países que têm vindo a reduzir a sua produção de leguminosas secas. Ela está hoje mais concentrada nos países com tradições vegetarianas como a Índia, o Myanmar, e nos países que se especializaram na produção de variedades de elevado valor comercial no mercado internacional, como os Estados Unidos, Canadá, Brasil e Argentina. Importa, assim, priorizar e promover a divulgação dos benefícios das leguminosas secas,
PRODUTOS
o incentivo ao seu consumo e produção, o desenvolvimento de pesquisas para o melhoramento dos seus índices de produtividade, o reforço da sua adaptabilidade aos diferentes ecossistemas, a recuperação de variedades em risco de extinção ou pouco produzidas e consumidas, a promoção de parcerias entre diferentes atores da sua cadeia de valor e o incentivo ao processamento e comercialização, para melhor atender às necessidades específicas dos consumidores. Isso inclui políticas de incentivo à produção, como benefícios fiscais, acesso ao crédito ou ao mercado, mesmo que em regime transitório. Nos países em desenvolvimento, a disponibilização de sementes de qualidade e serviços de extensão para os agriculto-
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res mais carenciados pode ser de importância vital. Na área do consumo é importante promover campanhas de sensibilização dos consumidores sobre as inúmeras vantagens das leguminosas. Dadas as dificuldades que elas apresentam para a sua confecção, particularmente no contexto urbano em que o tempo disponível pode ser um factor determinante, a cadeia de valor deve merecer alguma atenção, promovendo o pré-processamento, de modo a facilitar a sua utilização pelo consumidor final. Ao longo do AIL também se deverão encorajar parcerias entre operadores dos vários segmentos da cadeia de valor das leguminosas, favorecendo o seu comércio e o aumento da sua produção a nível global.
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL 2016 AIL
LEGUMINOSAS PARA GRÃO: CULTURAS COM FUTURO 1–A S LEGUMINOSAS PARA GRÃO EM PORTUGAL As leguminosas para grão além de serem uma fonte Isabel Duarte Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária *
de proteína e energia valiosas para a alimentação animal e humana, constituem uma prioridade para a agricultura, pela sua capacidade de fixação biológica do azoto. Deste modo, estas culturas poderão contribuir para a redução do uso de energia fóssil e das emissões de gases de efeito estufa, especialmente
aos seguintes problemas: • Baixo financiamento para a dinamização da investigação em proteaginosas • Não aproveitamento das variedades comerciais existentes • Falta de incentivo à produção • Falta de competitividade económica
como para a diversificação e sustentabilidade dos
• Política de importação de proteaginosas em
A par das razões ambientais, que a sociedade em geral tem vindo a dar maior atenção e importância, imperam negativamente razões económicas devido à dependência externa, dado que há uma grande escassez de fontes proteicas. A Europa está muito dependente de matérias-primas, concretamente para os alimentos compostos para Graça Pereira
animais, sendo o panorama em Portugal muito
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária *
semelhante. Desde os anos 60 tem-se vindo a registar uma acentuada redução da área e produção das leguminosas para grão na Europa e em Portugal. Esta situação estava associada a problemas vários nomeadamente relacionados com a tecnologia de cultura, falta de variedades adequadas, a problemas político-sociais como a falta de ajudas à produção, e, à não existência de uma cadeia comercial bem organizada. Atendendo a esta situação, no INIAV em Elvas (Estação Experimental com aptidão para estudos de melhoramento de plantas) iniciou-se nos anos 80 um programa de melhoramento genético de leguminosas para grão com o objetivo de obter variedades com alto valor agronómico, produtivo e nutritivo. A introdução de leguminosas para grão conduz à diversificação dos sistemas de agricultura, garante o autoaprovisionamento, aumenta o potencial de oferta e o consumo nacional. Porém, o aumento da área de produção pressupõe a competitividade económica destas em relação a outras culturas para assegurar que os agricultores as considerem * I NIAV – Estrada de Gil Vaz, Elvas Contacto e-mail: isabel.duarte@iniav.pt / graca.pereira@iniav.pt
A LIMEN TAÇÃO AN IM A L
situação ainda não foi fácil de contornar devido
através da redução do uso de fertilizantes, assim sistemas de agricultura.
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interessantes para os seus sistemas agrários. Esta
detrimento do interesse da produção interna • Inexistência de uma cadeia comercial organizada • Falta de ligação entre os diferentes setores da fileira Face a este cenário, a Comissão Europeia alargou as medidas greening no âmbito da Política Agrícola Comum 2014-2020 às leguminosas para grão (denominadas culturas fixadoras de azoto) tais como a ervilha, fava, tremoço, tremocilha, grão-de-bico e feijão. Nesta sequência, o então Secretário de Estado da Agricultura, salientou que “este alargamento” permitia ao produtor, ter um maior leque de escolha das áreas que contribuem para o cumprimento do greening. De facto, a introdução destas espécies ricas em proteína no sistema de agricultura nacional aporta diversos benefícios e oportunidades, tais como:
• Gestão ambiental dos recursos naturais (quebra de doenças e do ciclo de infestantes; melhoria na estrutura, fauna e fertilidade do solo) • Introdução de proteína vegetal nacional, nos alimentos compostos para animais • Aumento de stocks nacionais com redução da importação de soja • Aumento da produção e segurança alimentar • Aumento do valor acrescentado para o consumidor • Preços elevados destas matérias-primas a nível internacional. Desde há uns anos, o INIAV tem vindo a promover a aproximação a um modelo interativo de inovação para a formação de um Grupo Operacional de Produ-
ção de Proteína, no seio da PEI, com o objetivo de estimular a transferência de conhecimento e tecnologia, entre os diferentes sectores – Investigação e Desenvolvimento / Produção / Indústria. Com esta atividade procuramos criar condições para reverter a evolução negativa do setor, ao introduzir leguminosas para grão nos sistemas de agricultura de modo a rentabilizar as áreas cultivadas, criar cadeias
A
B
C
D
de valor e organizar a produção. O INIAV, com o conhecimento adquirido ao longo dos anos, está apto para dar resposta a alguns dos problemas apontados para a carência de fileira assim como para os problemas que sucedem no dia-a-dia da agricultura nacional.
2 – INVESTIGAÇÃO REALIZADA NO INIAV
Fig. 1. Campo de multiplicação de fava (A), ervilha (B), grão-de-bico (C) e tremoço (D)
O melhoramento genético é considerado
plantas, utilizando por exemplo algumas fer-
Atualmente existem inscritas no Catálogo
uma ciência complexa, multidisciplinar e
ramentas da biologia molecular.
Nacional de Variedades (CNV) 11 variedades
aplicada e tem como principal objetivo
As principais espécies estudadas no programa
das espécies referidas (quadro 1).
(independentemente do destino do produto
de melhoramento das leguminosas-grão para
Nos últimos anos têm-se vindo a evidenciar
final) a obtenção de novas variedades com
alimentação animal são a ervilha, grão-de-bico
como muito promissoras duas espécies de
características superiores de adaptabili-
tipo desi, fava, chícharo miúdo, tremoço e
Vicia de uso menor, Vicia ervilia (ervilha-de-
dade às condições específicas do ambiente
tremocilha (fig.1).
-pombo) e Vicia narbonensis (faveta de Beja).
mediterrânico e a obtenção de um pacote
Como o nome indica estas espécies são usa-
Estas espécies apresentam alta capacidade
de informação agronómica que permita o
das essencialmente pelos seus grãos. Podem
de adaptação ao nosso ambiente, com ele-
enquadramento nos sucessivos sistemas
ser também usadas como adubo verde para
vado rendimento (entre 1500 e 2000 kg/ha
de agricultura.
aumentar a produtividade do solo e em mis-
e 3500 e 4500 kg/ha, respetivamente) e sem
Na investigação realizada no INIAV, utilizam-
turas com outras culturas para feno e silagem.
problemas fitossanitários.
-se metodologias clássicas do melhoramento
A palha pode ser usada como suplemento
Está em curso a candidatura de uma varie-
de plantas com novas abordagens científicas,
proteico ou como substituto de dietas basea-
dade de V. narbonensis ao Catálogo Nacional
sobretudo as que visam a compreensão dos
das principalmente em palhas de cereais de
de Variedades.
efeitos de origem biótica ou abiótica, nas
baixa qualidade.
Quadro 1 – Características das variedades inscritas no Catálogo Nacional de Variedades Espécie
Nome comum
Pisum sativum
Ervilha proteaginosa
Cicer arietinum
Grão-de-bico preto
Vicia faba
Fava proteaginosa
Variedades
Rendimento (kg/ha)
P100S (g)
Proteína (%)
Grisel
2300-2600
27-30
21,4-22,5
Pixel
2300-2600
23-25
21,2-22,5
Elmo
1500-2000
22-25
21,5-23,0
Elite
1500-2000
23-27
20,0-23,0
Favel
2500-3000
85-95
26,5-28,0
Grão-da-Gramicha
2100-2300
7-8
25,0-27,0
Grão-da-Comenda
2100-2300
6-8
25,0-27,0
Lathyrus cicera
Chícharo miúdo
Lupinus albus
Tremoço branco
Estoril
1300-2500
35-37
34,3-40
Lupinus angustifolius
Tremoço azul ou bravo
Giribita
1400-1700
13-14
32,2-35,7
Lupinus luteus
Tremocilha
Acos
1300-1700
9-15
39-42
Cardiga
1250-1300
10-15
37-43
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL 2016 AIL
SOJA DOMÉSTICA PARA COMPENSAR O DÉFICE PROTEICO EUROPEU: ILUSÃO OU OPORTUNIDADE REAL DE MERCADO? Resumo Este artigo é uma tentativa de analisar o potencial do mercado de soja cultivada na UE para se tornar uma alternativa credível com vista à redução do défice proteico europeu. A análise é Nicolas Martin FEFAC
feita do ponto de vista da indústria europeia da alimentação animal. A análise de mercado mostra que a UE tem muito pouco controlo sobre o seu abastecimento de soja. Mais, a natureza do défice proteico na UE exige um aumento da disponibilidade de ingredientes ricos em proteínas. Com uma panorâmica favorável do ponto de vista da procura, o modelo de crescimento mais relevante deveria ser determinado a fim de melhorar e aumentar a competitividade da soja para os agricultores de culturas arvenses da UE. As duas opções principais são nichos de mercado como um primeiro passo para se alcançar um abastecimento convencional ou uma abordagem mais direta para o abastecimento convencional que, muito provavelmente, exigiria apoio público. Palavras-chave: soja UE, défice proteico UE, competitividade, nicho de mercado, abastecimento convencional
Abstract This article is an attempt to analyse the potential for EU-grown soybean to become a credible market alternative in order to reduce the European protein deficit. The analysis is conducted from the perspective of the European feed industry. The market analysis shows that the EU has very little control on its soybean supply. Moreover, the nature of the EU protein deficit calls for an increase of the availability of protein-rich ingredients. With a favourable outlook from the point of view of the demand, the most relevant growth model should be determined in order to improve the competiveness of soybean for EU arable crops farmers. The two main options are niche markets as a first step to reach mainstream supply or a more direct approach towards mainstream supply which would very probably require public support. Keywords : EU soybean, EU protein deficit, competitiveness, niche market, mainstream supply
Résumé Cet article s’efforce d’analyser le potentiel du soja cultivé en Europe pour constituer une alternative de marché crédible dans l’optique de réduire le déficit protéique européen. L’analyse est conduite du point de vue de l’industrie européenne des aliments composés pour animaux. L’analyse de marché montre que l’Union Européenne n’est pas en mesure de maîtriser ses approvisionnements en soja. De plus, la nature du défit protéique européen renforce le besoin d’augmenter la disponibilité des matières premières riches en protéines. Avec des perspectives favorables du point de vue de la demande, il importe maintenant de déterminer le modèle de croissance le plus adapté de façon à améliorer la compétitivité du soja pour les cultivateurs européens. Les deux options principales sont les marchés de niche, comme étape intermédiaire vers le marché principal, ou une approche plus directe vers le marché principal qui nécessitera très probablement un soutien public. Mots clés : soja européen, déficit protéique européen, compétitivité, alimentation animale, marché de niche, marché principal
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Introdução Este artigo segue – se a um outro publicado na revista OCL (Martin, 2014) que descrevia o caminho a seguir no que diz respeito à oferta de proteínas do ponto de vista da indústria europeia de alimentos compostos para animais. É uma tentativa de analisar mais em profundidade a possibilidade de utilizar a soja cultivada na UE como alternativa credível para reduzir o défice proteico europeu. Após uma breve descrição da produção global de soja e do consumo e produção de soja na UE, a segunda parte deste artigo analisa o défice proteico europeu numa perspetiva diferente. Na terceira e quarta secções (a publicar na próxima edição da AA), iremos então avaliar os fatores que podem ter influência na produção europeia de soja, respetivamente numa perspetiva da oferta/procura. Como conclusão, este artigo irá comparar dois modelos de crescimento para a produção europeia de soja, um focado em nichos de mercado de valor elevado e o outro com o objetivo de abastecer o mercado convencional.
1 – Panorâmica da produção global e europeia de soja a) Produção e comércio global De acordo com o USDA1, a área e produção de soja mundial cresceram a um ritmo constante ao longo dos últimos dez anos e estimam-se nos 118 milhões de hectares para a campanha de 2014/2015 (ver figura 1). As últimas projeções da oferta e procura global a cinco anos do Conselho Internacional de Cereais preveem que este crescimento continue
370
130
320
120
270 220
110 100 90
170
80
120
70
área mundial de soja (Mha)
produção mundial de soja (MT)
durante os próximos cinco anos, mas a um ritmo mais lento.
100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%
18% 21% 21% 15% 21% 19% 17% 18% 19% 18% 27% 26% 25% 26% 29% 28% 31% 30% 30% 28%
Outros Canadá Paraguai Índia China
38% 37% 33% 38% 35% 34% 35% 31% 32% 34%
Argentina Brasil EUA
Figura 2: Evolução da quota na produção mundial de soja (fonte: USDA)
Logicamente, os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina, por acaso, são também os principais países exportadores de soja. A sua importância relativa no comércio da soja é ainda maior para o comércio do que para a produção, tal como mostra a figura 3. Quando se considera o comércio de soja e de bagaço de soja, o Brasil foi o país líder nos últimos 4 anos.
Quota de mercado dos países exportadores (equivalente bagaço de soja) 40%
EUA
35% Argentina
30% 25%
Brasil
20% produção productio n
área area
Figura 1: Evolução da área e produção mundial de soja (fonte: USDA)
Os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina são os principais países produtores de soja, produzindo, tal como mostra a figura 2. Em 2014/2015, os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina representam, respetivamente, 34 %, 30 % e 18 % da produção mundial de soja. Nos últimos dez anos, a quota do Brasil na produção global de soja aumentou ligeiramente à custa dos Estados Unidos.
Figura 3: Evolução da quota de mercado dos principais países exportadores de soja (fonte: USDA)
b) Consumo de soja na União Europeia A União Europeia (UE) importa uma média anual de 13 milhões de toneladas de soja e 18 milhões de toneladas de bagaços de soja de diferentes origens. Tal como mostra a figura 4, o Brasil, a Argentina, os Estados Unidos e, em menor medida, o Paraguai e o Canadá são os principais fornecedores de soja da UE. Desde a campanha 2009/2010 que a União Europeia perdeu o estatuto de principal importador de soja no mercado global a favor da China. A concentração de países exportadores de soja e a importância decrescente da UE no mercado global da soja resultam num nível bastante baixo de controlo da UE sobre os seus abastecimentos de soja.
USDA : United States Department of Agriculture (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos)
1
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• Limitação do apoio da UE às sementes oleaginosas na sequência do acordo de Blair House em 1992 • Redução do apoio associado através da reforma da Política Agrícola Comum (PAC) em 1992
Soja
• Dissociação dos pagamentos diretos no âmbito da reforma da PAC de 2003.
Uruguai
Canadá
Ucrânia
Paraguai
Índia
EUA
Brasil
Bagaço de soja
Argentina
(KT)
• Eliminação dos direitos de importação da UE para as sementes oleaginosas em 1962
10 000 9 000 8 000 7 000 6 000 5 000 4 000 3 000 2 000 1 000 0
Figura 4: Principais fornecedores de soja da UE (mil toneladas, fonte: Global Trade Information Service 2013/2014 [Serviço de Informação de Comércio Global 2013/2014])
c) Enfoque na produção de soja da UE De acordo com o Copa-Cogeca (Comité das Organizações Profissionais Agrícolas, Comité-Geral das Cooperativas Agrícolas da União Europeia), a área cultivada de soja da UE chegou aos 490.000 hectares e 416.000 hectares para as colheitas de 2014 e 2013, respetivamente. Para a colheita de 2015, prevê-se uma área cultivada de 477.000 hectares. Tal como descrito na figura 5, existiam em 2014 sete Estados-Membros que cultivavam mais de 10.000 hectares de soja e cinco Estados-Membros cuja produção de soja foi superior a 100.000 toneladas. Em 2014, a Itália foi, de longe, o maior produtor de soja da UE, seguida da França, cuja produção aumentou drasticamente em comparação com 2013, Roménia, Áustria e Hungria. A produção total de soja da UE a 28, em 2014, cifra-se em 1,75 milhões de toneladas. Este número deve ser comparado às importações anuais de soja da UE, ou seja, 13 milhões de toneladas de grão e 18 milhões de toneladas de bagaço.
No mesmo artigo, apelámos a uma abordagem mais sofisticada para o cálculo do balanço de proteínas da UE com vista a ter em conta alguns dos ingredientes principais dos alimentos para animais, tais como as forragens e os cereais. Continua a ser necessário desenvolver mais trabalho nesse sentido, mas os resultados preliminares já se encontram disponíveis2 (Toublanc, Poinot, Uittenboggaard, 2014, comunicação pessoal). Tendo em conta os cereais e forragens, o balanço de proteínas da UE mostra que o nível de autossuficiência proteico é cerca de 80%, tal como se mostra nas figuras 6 e 7. A abordagem utilizada para estes cálculos baseia-se no teor de proteína bruta dos diferentes ingredientes dos alimentos para animais e não abarca, por exemplo, a digestibilidade da proteína e a composição de aminoácidos. Balanço das proteínas na alimentação animal UE 100 000 90 000
80 000 70 000 60 000
Ingredientes ricos em proteína
50 000
Cereais
40 000
Forragens
30 000 20 000 10 000 -
Produção de proteínas (kt)
Consumo de proteínas (kt)
Figura 6: Balanço das proteínas na União Europeia (FEFAC, 2014)
Figura 5: Principais países produtores de soja da UE (fonte: Copa-Cogeca, apenas os países que cultivam mais de 10.000 hectares são mencionados)
2 – O défice proteico da UE: necessidade de fontes concentradas de proteína Os motivos que conduziram ao atual défice proteico da UE foram descritos em pormenor num artigo OCL (Martin, 2014) anterior. Os principais são enumerados a seguir: 12 |
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Estes resultados devem ser interpretados com cautela. Em particular, estimando-se que o contributo de forragens para o fornecimento de proteínas ao nível da UE implica bastantes incertezas. Os resultados mostram, no entanto, que é mais relevante falar sobre o défice de ingredientes ricos em proteínas da UE e que restringir a abordagem a um simples défice proteico pode até ser enganador uma vez que a realidade é mais complexa. Estes resultados mostram ainda que as fontes de proteína com baixo ou médio teor proteico já estão disponíveis a partir da produção interna da UE. O estímulo à produção europeia de proteínas deveria, portanto, ser orientado para fontes mais concentradas, tais como a soja. (Continua na próxima edição da Revista Alimentação Animal)
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autossuficiência proteica na União Europeia: considerando cereais, ricos em A proteínas e forragens. Xavier Toublanc, Sophie Poinot, Gera Uittenboggaard, 2014, comunicação pessoal, não publicada
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL BIOTECNOLOGIA
OGM: BOM SENSO OU HIPOCRISIA?
GMO: COMMON SENSE OR HYPOCRISY?
Jaime Piçarra Eng. Agrónomo
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Depois de 20 anos de utilização a nível mundial, com crescente adoção nos principais países exportadores de matérias-primas para a alimentação animal, a Biotecnologia Agrícola, mais concretamente, os Organismos Geneticamente Modificados (OGM) continuam a ser objeto de grande controvérsia, numa discussão que já nada tem de científico, sendo claramente política e ideológica. Curiosamente, a biotecnologia é utilizada em inúmeros setores, desde logo na saúde (insulina), sem que ninguém a questione. Na União Europeia, o milho transgénico foi autorizado em 1998 e em Portugal, em 2005, há exatamente 10 anos, iniciou-se o seu cultivo regular. Depois de intermináveis debates e inúmeros estudos, com larga experiência de campo e de consumo a nível mundial, a controvérsia tende a subir de tom na Europa, como se fosse possível não ter em conta toda a experiência e monitorização, os interesses de produtores, utilizadores e consumidores, o impacto no ambiente, nos mercados e na competitividade dos sectores, o direito á informação, à liberdade de escolha e, sobretudo, as avaliações científicas efectuadas pela EFSA, a Agência Europeia para a Segurança dos Alimentos. Será que podemos ignorar que estas plantas são cultivadas por 18 milhões de agricultores em todo o mundo, 90% dos quais pequenos agricultores, em 181.5 milhões de hectares? Que as principais matérias-primas para a alimentação animal, desde logo a soja, que a Europa não produz, é cerca de 90% GM? Que vivemos numa economia globalizada, com normas estabelecidas na OMC, ou em acordos comerciais bilaterais, e que temos um Mercado Único na União Europeia? Que estão definidas regras muito claras de rotulagem para os alimentos compostos para animais e para os géneros alimentícios? Que os eventos autorizados para cultivo e importação, são avaliados com grande rigor, não só na União Europeia como nos países exportadores (Estados Unidos, Argentina, Brasil, Canadá… que connosco competem nos mercados do leite, carne e ovos), sendo apenas autorizados quando se comprovam que não têm maiores riscos e são tão seguros para a saúde, humana ou animal e ambiente, como os seus congéneres convencionais? Que Portugal tem uma legislação sobre a coexistência que é particularmente exigente, quer para os que optam pela agricultura convencional, pelo milho geneticamente modificado (cujas práticas e formação assumem grande rigor e responsabilidade) ou pela agricultura
After 20 years of worldwide use, with increasing adoption by the main exporters of raw materials for animal feed, Agricultural Biotechnology, more specifically, Genetically Modified Organisms (GMOs) continue to be the object of a great deal of controversy, in a discussion that is no longer scientific, being clearly a political and ideological one. Interestingly, biotechnology is used in many sectors, foremost in health (insulin) without anyone questioning it. In the European Union, GM maize was authorized in 1998, and in Portugal, in 2005, exactly 10 years ago, its regular cultivation began. After endless discussions and numerous studies, with extensive field and consumption experience worldwide, the controversy tends to tone up in Europe, as if it were possible not to take into consideration all the experience and monitoring, the interests of producers, users and consumers, the impact on the environment, on the markets and on the sectors’ competitiveness, the right to information, the freedom of choice and, above all, the scientific assessments by the EFSA, the European Food Safety Authority. Can we ignore the fact that these plants are grown by 18 million farmers worldwide, 90 % of whom are small farmers, on 181.5 million hectares? That the main raw materials for animal feed, soybean, that Europe does not produce, is about 90% GM? Can we ignore that we live in a globalised economy, with rules established by the WTO, or by bilateral trade agreements, and that we have a Single Market in the European Union? That very clear rules on labelling are established for feed and food? That events authorized for cultivation and import are evaluated with great accuracy not only in the European Union and in exporting countries (United States, Argentina, Brazil, Canada... that compete with us in the milk, meat and eggs markets), and authorized only when it is proven that they do not carry major risks and are as safe for human or animal health and environment as their conventional counterparts? That Portugal has legislation on the coexistence that is particularly demanding, both for those opting for conventional farming, for the genetically modified maize (whose practices and training are of great rigour and responsibility) or for organic farming, not having found any incidents that question its effectiveness?
biológica, não se tendo verificado quaisquer inci-
In recent months, the GMOs dossier experienced
dentes que ponham em causa a eficácia da mesma?
a significant progress, with mixed signals: at the
Nos últimos meses, o dossier dos OGM conheceu
level of cultivation, the decision to ban or autho-
uma evolução significativa, com sinais contradi-
rize is now the competence of the Member Sta-
tórios: ao nível do cultivo, a decisão de proibir ou
tes (MS); the introduction of a proposal by the
autorizar, passou para a competência dos Estados-
Commission to leave the possibility of importing
-membros (EM); a introdução de uma proposta da Comissão no sentido de deixar ao critério de cada País a possibilidade de importar matérias-primas GM; a constatação, da parte do Provedor Europeu de Justiça, de que a Comissão atrasou deliberadamente as aprovações de novos eventos devido à ausência de consensos dos EM, recomendando o rigoroso cumprimento da Lei; em Portugal, já em janeiro de 2016, a apresentação de vários projetos de Lei visando a proibição da cultura de milho geneticamente modificado; por último, a apresentação, em Bruxelas, de um parecer dos serviços jurídicos do Conselho que considera que a proposta da Comissão é contrária aos princípios do Mercado Único e da OMC, reforçando os argumentos, de todas as organizações europeias e do Parlamento
GM raw materials to the discretion of each country; the realization, on the part of the European Ombudsman, that the Commission deliberately delayed the approvals of new events due to the lack of consensus among Member States, recommending the strict compliance with the law; in Portugal, in January 2016, the presentation of several bills aimed at the ban of genetically modified maize cultivation. Finally, the presentation in Brussels of an opinion by the legal services of the Council considers that the Commission proposal is contrary to the Single Market and WTO principles, reinforcing the arguments of all European organizations and the European Parliament, which due to the strongly negative impact on the
Europeu, que, pelo impacto fortemente negativo
interests of the Union, took a stand against the
para os interesses da União, se assumiram contra
Brussels draft, requesting the Commission its
o projecto de Bruxelas, solicitando à Comissão a
urgent removal.
sua urgente retirada.
Fortunately, in our country, the Parliament refu-
Felizmente, no nosso País, a Assembleia da Repú-
sed the intended ban by Bloco, PCP, PEV and
blica recusou a proibição pretendida pelo Bloco,
PAN, showing an enormous common sense and
PCP, PEV e PAN, demonstrando um enorme bom
an emphasis on knowledge, science and research,
senso e uma aposta no conhecimento, na ciência e
freedom of choice and improvement of the com-
investigação, na liberdade de escolha e na melho-
petitiveness of agriculture and the agri-food
ria da competitividade da agricultura e do sector
sector. Without forgetting caution, assessment
agroalimentar. Sem esquecer a precaução, a avaliação e monitorização. Numa Sociedade que julga ser possível viver com risco zero, o debate na Europa tem sido marcado pelo ruído e pela manipulação. Por movimentos que recusam tudo o que não seja coerente com a sua linha de pensamento e que consideram apenas como aceitável as suas regras, em nome do ambiente, do bem-estar animal ou da saúde pública. Mas essas bandeiras, não são, não podem ser, exclusivos dos que defendem a agricultura biológica, dos ambientalistas ou dos partidos de esquerda. São de todos aqueles que, tal como nós, se preocupam com o futuro da Agricultura enquanto motor da economia nacional, da Sustentabilidade. Da utilização de todas as tecnologias que permitam a criação de emprego e
and monitoring. In a society that believes it is possible to live with zero risk, the debate in Europe has been marked by noise and manipulation. By movements that reject anything that is not consistent within their line of thought and that only accept their rules on behalf of the environment, animal welfare or public health. However, these flags are not, they cannot be, exclusive of those who advocate organic farming, of the environmentalists and leftist parties. They belong to all those who, like us, care about the future of Agriculture as an engine of the national economy, of Sustainability, of the use of all technologies that enable the creation of employment and wealth, building a better Society.
de riqueza, a construção de uma Sociedade melhor.
For now, common sense seems to have gained
Por agora, parece ter ganho o bom senso mas a
the battle, but hypocrisy lurks at all times and it
hipocrisia espreita a todo o momento, podendo
may add crisis to the crisis. A crisis that has to
acrescentar mais crise à crise. De valores e atraso
do with values and technological backwardness.
tecnológico. É que o dossier dos OGM, qual “via-
The GMOs dossier shall continue on the political
-sacra”, continuará no centro da agenda política.
agenda as a “Via Crucis”. A L I ME N TAÇÃO A N I M A L
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL CRISE DA PECUÁRIA
O LEITE COMO LUZ-AVISADORA
Pedro Pimentel Diretor-Geral
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
Completam-se agora três anos que me desliguei de um longo período de trabalho no sector lácteo e da liderança da sua associação mais representativa, tendo assumido a direcção geral de uma outra associação, a Centromarca, mais direcionada para as questões das marcas e do mercado. Hoje as (minhas) preocupações são outras, mas até porque há uma forte interligação entre as matérias, é praticamente impossível desligar-me do que vai acontecendo em toda a fileira do leite e mesmo em outras fileiras produtivas, agrícolas e pecuárias. Há dias pediam-me para comentar a situação na fileira e depois de um longo período de ‘luto’ e de ter imposto a mim mesmo algum silêncio, até por respeito por quem está em funções no sector, tentei fazer alguma sistematização de informação e fazer valer aquela que é a área em que me movo actualmente, no apoio à reflexão que o sector desenvolve, envolvido pela crise que atravessa, de contornos que se podem já considerar estruturais. A crise do sector lácteo em Portugal está instalada há alguns anos e, aparentemente, veio para ficar. E digo-o com mágoa, como actor que fui, sentindo ter a minha quota-parte de responsabilidades por, mais não fosse, não ter conseguido contribuir mais fortemente para inverter a evolução que o sector tomou, em especial desde meados da década passada. A produção definha, o consumo não descola, a rentabilidade na produção, mas também na transformação, não cessa de quebrar e a fileira do leite passou, aparentemente, de sector estrela, pujante e sinónimo de sucesso do agro-alimentar nacional, para um quase ‘patinho-feio’ de que se fala por não ter acompanhado o disparar de outras fileiras, pelos muitos problemas do presente e pelo que ‘já-foi’ do passado. Hoje, a fileira do leite pode funcionar, pelo menos, como a luz avisadora relativamente a modelos de funcionamento que, se não forem alterados e melhorados, empurrarão vários outros sectores da pecuária e do agroalimentar para o mesmo ciclo depressivo. Mas façamos, em primeiro lugar, uma breve análise de algumas tendências internacionais que têm contribuído para o reforço da oferta e, dessa forma, pressionado os preços da matéria-prima em sentido descendente. Assim, e desde logo a desregulação da produção leiteira na União Europeia associada ao desmantelamento do sistema de quotas e ao crescimento da produção em vários países, muito em especial no Norte da Europa. Por outro lado, verifica-se um significativo (e sustentado) incremento da produção em várias zonas consideradas não tradicionais, seja pelo desenvolvimento de programas de fomento e desenvolvimento da produção, seja por programas integrados de substituição de importações, seja por programas de saúde animal, higiene alimentar
e melhoramento genético em curso nas mais diferentes zonas. Desta forma, observa-se o desenvolvimento de produções locais (em resposta ao incremento do consumo das populações respectivas), a industrialização – nesses mercados – dessas produções (ainda que muitas vezes complementado por matérias-primas importadas) e a compressão dos volumes exportados a partir dos grandes polos de produção (UE, Nova Zelândia, EUA, América Latina). Mas a pressão negativa sobre os preços é igualmente sensível a partir de múltiplos fenómenos que tendem a comprimir a procura, seja de natureza económica, geopolítica ou sociodemográfica. Assim, nos dois últimos anos tem sido notória a desaceleração do crescimento económico das chamadas economias emergentes e, muito em especial, do bloco BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). O Brasil atravessa uma profunda crise económica. A Rússia é fortemente afectada pela quebra das cotações do petróleo e pelo funcionamento caótico de muitos sectores de actividade, sendo que as questões políticas e militares ainda penalizam mais a respectiva economia. A China começa a sentir o que normalmente se designa como ‘dores de crescimento’, com o aumento das tensões sociais, a incapacidade de manter um crescimento económico feroz mas assente num sistema misto de controlo político do mercado misturado com ‘arquipélagos’ de capitalismo desenfreado, sendo que essa mistura se mostra cada vez menos sustentável. E mesmo a Índia parece acometida de algo semelhante ao Princípio de Peter, estando com dificuldades em desenvolver mecanismos de especialização e de ultrapassar os atavismos de uma organização social que atrapalha fortemente o desenvolvimento da economia e do mercado. A própria demografia – nessas zonas do globo – tem também desajudado a fileira do leite. As políticas públicas, mas também a retracção das famílias, no controlo da natalidade, tem diminuído o mercado potencial dos produtos lácteos, sabendo-se que, em especial no Continente Asiático, uma parte substancial do consumo está relacionada com a primeira infância. O embargo russo à importação de produtos de origem animal com origem na União Europeia, faz diminuir a procura de produtos lácteos europeus, mas dir-se-ia que havendo consumo e mercado naquele grande país, o abastecimento proviria de outras origens, libertando noutras geografias espaço para os produtos da UE. Contudo, a crise económica que aquele país atravessa, mais acentuada pela crise do petróleo, gerou uma efectiva compressão do mercado à escala global. Finalmente, é significativo o crescimento do consumo de produtos concorrentes ou substitutos,
seja nos sectores dos sumos e bebidas refrigerantes, seja pela via das bebidas vegetais. Estes fenómenos são especialmente notórios nos mercados lácteos mais maduros, casos dos Estados Unidos ou da Europa Ocidental, mas também nos mercados emergentes, onde aquelas indústrias têm feito um forte investimento e onde alguns desses produtos correspondem a um padrão de ‘ocidentalização’ do consumo, o que, hoje por hoje, corresponde a uma aspiração sentida por largas franjas das numerosas populações desses países. Olhando agora mais de perto para a realidade nacional… Também no nosso mercado e para além de todas pressões que provêm do exterior, os factores que promovam uma ampliação da oferta ou uma compressão da procura, se não compensados por fenómenos inversos, pressionam efectivamente os preços de venda ao público dos diferentes produtos lácteos e, consequentemente, os preços pagos pelo leite ao produtor. Se opções políticas (nacionais e comunitárias) inadequadas e mecanismos de apoio desajustados, desestruturam a fileira e fazem quebrar a rentabilidade da operação de produtores e industriais, é no mercado (especialmente no mercado nacional) que a parte de leão da rentabilidade da fileira do leite se constrói. Os preços favoráveis ao produtor, verificados entre o Verão de 2013 e o final de 2014, motivaram um crescimento da produção de mais de 150 mil toneladas (mais 8,5 por cento) entre 2014 e 2015, em claro contraciclo com o consumo. Estes crescimentos produtivos, bem como a estagnação (ou mesmo retrocesso) do consumo em diversos mercados europeus, motivaram a criação de diversas bolsas de excedentes que permitiram aos distribuidores nacionais abastecerem-se no exterior a preços inferiores aos do mercado nacional. Esta atitude gera, como consequência, a criação, também em Portugal de uma bolsa de excedentes, fazendo crescer a produção de produtos de menor valor acrescentado, de que o exemplo mais gritante será o leite em pó (mais 12.500 toneladas, ou mais 85%, de 2015 face a 2013), ou obrigando à venda, em Portugal ou para o exterior, de produtos a preços unitários ‘de saldo’. Por outro lado, nestes últimos dois anos o crescimento da produção de leite não significou uma redução dos volumes importados dos produtos de maior valor acrescentado dentro do sector: o iogurte e o queijo. E se no iogurte, houve praticamente uma estagnação dos valores importados, o crescimento das importações de queijos (muito em especial nas gamas de preço mais baixa) não cessou e correspondeu a mais 19% de importações, ou em valor absoluto, a mais 7.700 toneladas de queijo a entrar no país face ao padrão de 2013, ou – se quisermos ver este número pelo ângulo da produção primária – a mais 77 milhões de litros de leite que, sob outra forma, entraram no país. Refira-se que não obstante a disponibilidade de leite no nosso país, muitas referências das marcas de distribuidor, seja de leite, de iogurte, de queijo ou de manteiga, continuaram a ser fornecidas por operadores fora das nossas fronteiras e se, em alguns casos, falamos de cadeias estrangeiras com lojas em Portugal, mas lógicas de aprovisionamento centralizadas para vários países, já no caso dos distribuidores de origem nacional, essa importação corresponde a uma decisão consciente de não aprovisionamento no mercado português, procurando fora aquilo que, com maior valor e efeito multiplicador na economia nacional, poderiam encontrar em território nacional. Do lado da procura, há dois fenómenos fora de fronteiras que afectaram fortemente as vendas das empresas lácteas nacionais. Por um lado, o já antes referenciado embargo russo penaliza volumes exportados e preços para exportação. Esse impacto, surge não tanto pelas quantidades exportadas directamente para aquele mercado, que apesar de crescentes (em face da aposta de governo e empresas portuguesas na penetração no mercado do gigante de leste), eram
ainda assim marginais, mas pelo efeito dominó gerado pelo facto de muitos operadores europeus que ali realizavam operações de dimensão relevante, terem que – pelo fecho daquele mercado – encontrar alternativas de colocação das suas produções, seja aumentando as exportações para Portugal, seja tapando espaços onde as empresas portuguesas poderiam vender os seus produtos. Por outro, alguns dos principais mercados de exportação do sector, com destaque para Angola e, em menor grau, a Venezuela, estarem a viver uma situação de desesperante dificuldade económica em função da erosão das cotações do petróleo, limitando as suas compras, impedindo o bom pagamento das encomendas efectuadas. Finalmente, dois temas que, por proximidade profissional e conhecimento mais focado, julgo muito contribuírem para as dificuldades que a fileira atravessa nesta altura: a desvalorização de vários segmentos do mercado pelos operadores da distribuição e o ataque comunicacional, maciço e concertado, dirigido ao leite (mais do que aos produtos lácteos) Assim, os Lácteos (aqui consideradas todas as suas categorias de produtos: leite líquido, iogurte, queijo, manteiga, nata, bebidas e sobremesas lácteas, leite em pó e leite condensado,…) são a única família de produtos que atinge uma penetração em 100% dos Lares e assim é desde há muitos anos. A não evolução do respectivo consumo já se vinha sentindo desde meados da década passada, mas com o estalar da crise económica e com a intervenção da troika no nosso país, as taxas de evolução passaram a negativas com quebras nos últimos quatro anos de entre 2 e 4% ao ano. Contudo, em dada altura, essa era uma situação observável na quase totalidade das famílias de produtos, pelo que mais do que a uma qualquer alteração mais estrutural do consumo, aquela quebra foi atirada para cima das costas da crise. Em 2015, verificou-se pelo primeira vez desde 2011, uma recuperação sustentada e consistente do consumo no nosso país e todas as categorias principais mostraram crescimentos prometedores e apenas os lácteos mantiveram o seu ciclo negativo, sendo que a quebra do consumo assume dimensões muito preocupantes. Para além disso, observa-se que essa quebra assenta na redução de vendas das chamadas ‘marcas brancas’ ou ‘marcas de distribuidor’ (MDD), enquanto as marcas de fabricante até apresentam um ligeiro crescimento (mais em volume do que em valor). Mas também especialmente significativo é o facto de, não obstante a quebra de consumo, haver sido a família dos lácteos aquela que, em todo o mercado do grande consumo, mais aumentou a profundidade promocional, com um crescimento de 10 pontos percentuais no último ano, sendo que no final de 2015, em cada 100 euros de produtos lácteos comprados, 42€ foram gastos em produtos que apresentavam um qualquer tipo de promoção, enquanto no final de 2014 o valor equivalente não ultrapassava os 32 euros. Esta situação, resulta também numa redução de 2% do preço médio de venda, redução que incide muito mais nas marcas de fabricante (-5%) do que nos produtos de ‘marca branca’ (-1%), sendo fácil concluir que o esforço promocional incidiu essencialmente nos produtos de marca e nas marcas mais acarinhadas pelos consumidores. Esta observação dos factos deixa-nos com várias questões: a diminuição da quota de mercado da MDD foi uma consequência do desenvolvimento do mercado ou foi uma atitude pensada dos operadores da distribuição? porquê reforçar tão fortemente o esforço promocional quando a penetração é de 100% e já não há consumidores para trazer para o consumo? porquê reforçar promoções com um produto cujo preço de venda ao público (do leite por exemplo) é já tão baixo e com tão escassa rentabilidade? com uma tão forte quebra do consumo, A LI ME N TAÇÃO A N I M A L
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qual foi o efeito prático dessas promoções? será que as promoções conseguiram sequer minimizar a quebra de consumo? e porque é que elas incidiram muito mais fortemente nas MDF? e porque é que estas foram muito mais penalizadas ao nível de preço médio? Ou seja e na prática, as promoções geraram vantagem competitiva ou fidelização para produto ou marca? Ou, ao contrário, geraram apenas maior tráfico nas lojas? E vendas adicionais de outros produtos? Uma análise um pouco mais atenta aos números de mercado permitem perceber que a política de aprovisionamento externo das marcas da distribuição, embora não tenha sequer tentado ajudar a mitigar as dificuldades da fileira, também não provocou um agravamento da situação dada a sensível quebra de vendas que apresentaram ao longo de 2015; também o incremento promocional não teve um qualquer efeito prático mobilizador das vendas, verificando-se cada vez mais um fenómeno (comum a variadíssimas famílias de produtos) de saturação promocional, com a canibalização das vendas base pelas vendas promocionadas. Explicando de uma outra forma, os consumidores não aumentaram as suas compras pelo facto de lhe serem oferecidas as mais diferentes promoções, apenas trocaram aquelas que seriam as suas compras normais (as que realizariam existissem ou não promoções) pela compra dos mesmos produtos (ou de outros produtos da mesma família) que se encontravam em promoção. Por tudo isto, foram as marcas líderes as que lideraram as campanhas de promoção, desejosas de reconquistar o espaço que nos últimos anos havia sido progressivamente ocupado pelas ‘marcas brancas’, mas também empurradas pelos operadores da moderna distribuição, sedentos de utilizar as marcas de referência nas suas acções e, dessa forma, atraírem os consumidores às suas lojas, mas igualmente interessados no financiamento dado pelas marcas a essas acções… afinal, no final do dia, alguém tem que pagar a diferença correspondente ao desconto apresentado pelo produto. O resultado prático mais palpável deste aprofundamento promocional foi um e um só – a DESTRUIÇÃO DE VALOR – sendo que o único ganhador desta estratégia foram os próprios distribuidores que, com o íman dos preços baixos de produtos presentes em todos os lares, atraiu os consumidores às suas lojas e tentou encher os respectivos carrinhos de compras com outros produtos, em muitos dos quais com rentabilidades que mais que compensaram o sacrifício feito nas margens dos produtos lácteos básicos e de outros produtos-isco. O problema, obviamente, é que se essa diversificação de rentabilidade é possível para um distribuidor que tem um sortido de milhares de produtos nas suas lojas, já o mesmo não se verifica para os respectivos fornecedores, considerados individualmente, que tendo os ovos todos no mesmo cesto são fortemente pressionados a transferir todo o valor construído para acções promocionais absurdas e para a subsidiação da conta de resultados dos distribuidores. Parece-me, ainda assim, que é possível fazer e obrigar as autoridades competentes a fazer algumas acções que poderiam levar a um melhor e mais fluido funcionamento do mercado (e a promover uma maior equidade na distribuição de valor). Exemplos: monitorizar o aumento do grau de Dependência Económica dos fornecedores face à distribuição, promovendo a revisão do Estudo da AdC de 2010 (mas construído com dados de 2008) e sendo mais consequente relativamente às constatações extraídas e às recomendações efectuadas; escrutinar o aumento ‘não transparente’ do poder negocial das grandes cadeias e em especial o reforço de presença no mercado via franchising, bem como a ausência total de controlo das chamadas Alianças de Compradores… a concentração do mercado da distribuição não é perniciosa para os fornecedores por si só, mas quando aliada a uma menor ética negocial, é um alimentador de más práticas e uma fonte de geração de um sen18 |
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tido de impunidade que atravessa alguns dos operadores presentes no mercado português; utilizar os instrumentos legais para promover uma efectiva regulação do mercado, dotando as autoridades competentes (ASAE) de meios reforçados de fiscalização e levando o diploma PIRC para além das vendas com prejuízo, com uma muito maior atenção ao controlo das chamadas práticas abusivas; mobilizar os operadores para um melhor entendimento, favorável ao consumidor, reactivando a PARCA, alargando o seu âmbito e dotando-a de funções renovadas e apoiando a consensualização, eventualmente pela via da coregulação, de um Código de Boas Práticas Comerciais eficaz, actuante e adequado às especificidades do mercado do grande consumo nacional. Em minha opinião, o (mau) funcionamento do mercado penaliza a rentabilidade do sector, promove a destruição de valor, mas, em termos últimos, não me parece ser a razão maior para a evolução dos níveis de consumo. E se assim é: porque está o consumo a quebrar tão fortemente?
Estes são alguns títulos da imprensa em língua portuguesa que consegui apanhar, apenas desde o início de 2015. A linguagem é muito agressiva… e repetida. Podem não ser muitos os que expressam publicamente a sua rejeição ao consumo, mas são aguerridos, ruidosos e é-lhes dado amplo tempo de antena. Mas olhando o mundo de informação e de comunicação que nos rodeia, percebemos que entre 2011 e 2013, os sinais de quebra de consumo se faziam sentir mais em valor do que em volume. Ou seja, os consumidores pareciam não estar a comprar menos leite e produtos lácteos, mas – até em resposta aos estímulos da situação económica – essencialmente a transferirem o seu consumo para as gamas mais baratas. Nesta fase, o produto que parecia estar a sofrer um maior ‘rombo’ era não o leite líquido, mas o iogurte, onde se verificava um crescimento assustador da quota de mercado das ‘marcas brancas’ e uma quebra muito significativa de vendas das referências de maior valor acrescentado. Mas por baixo dessas ondas alterosas, sentia-se já uma maré de retrocesso do consumo, mascarada pelo cenário de dificuldades económicas do país e de redução do rendimento disponível das famílias. Em dado momento questionava-me até sobre se, num cenário de crise, o consumo do leite e lácteos – dado o seu forte apport nutritivo e baixo custo unitário – não deveria até ter um comportamento positivo, em compensação da quebra de consumo de outras proteínas de origem animal… No entanto, a partir de 2014 a guerra mediática ao leite subiu de tom e foi empolada até à exaustão, misturando um cocktail estranho mas ‘explosivo’ de ignorância, desinformação e ideologia, tornando-se bandeira de grupos apenas aparentemente anárquicos de consumidores, mas também de correntes ‘médicas’ alternativas, fazendo perguntar (e suspeitar) quais serão os interesses que estão efectivamente por trás desse foco de desinformação?
A própria agenda política actual é favorável a este ‘novo’ posicionamento do leite, sendo vista, em alguns círculos, esta guerra mediática como um ataque ao status quo e um ataque aos estilos de vida mais convencionais, sendo que até mesmo ao nível de aspectos tão simbólicos como os da política fiscal, se utiliza o fisco como arma de arremesso, bastando para tal ver as alterações introduzidas ao Código do IVA no Orçamento de Estado para 2016. No fundo, conseguiu-se instalar a dúvida na cabeça do consumidor…
Mas, apesar de tudo, há que reagir… mas como? Apostando na Informação ao Consumidor e montando uma verdadeira ‘central-de-informação’ para divulgação maciça de informação positiva sobre o leite, os efeitos benéficos do leite em termos nutricionais e de saúde pública, mas também os impactos positivos ao nível económico, socio-geográfico ou de preservação de usos e tradições. Apostando na Educação, na educação nutricional, na educação sobre o produto, na educação sobre o próprio processo produtivo. AF_raporal_anuncio_148x210mm.pdf
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Apostando na Comunicação, gizando campanhas de promoção do consumo atraentes e eficazes, atraindo key opinion leaders para esta causa, utilizando role models na conquista do consumidor. Recordando que há um Mundo Lácteo para além do Leite e fazendo, como diz o povo, que quem não caça com cão, caça com gato, pelo que sentindo que o estigma incide essencialmente no leite, há que dar mais tempo-de-antena, mais divulgação, mais atenção aos outros produtos lácteos. Apostando na adaptação dos produtos lácteos aos novos tempos, percebendo as crescentes preocupações dos consumidores ao nível de saúde e bem estar, mas também em relação a aspectos como a conveniência ou o paladar, ou à atenção à forma como responsabilidade social e responsabilidade ambiental são observadas por produtores ou industriais, abrindo assim as suas gamas de produtos a referências lactose free, referências com redução de açúcar e/ou gordura e/ou sal, ao lácteos ecológicos, aos lácteos ‘de quinta’ ou aos chamados produtos eat+go (produtos para comer ‘em trânsito’). E, finalmente, apostando em gerar Glamour na fileira, apostando na introdução dos produtos lácteos na alta gastronomia, elevando o perfil dos produtores, desenvolvendo um léxico que mostre melhor os seus aromas e sabores, apostando no culto da queijofilia, apoiando o desenvolvimento de um circuito de comércio especializado…
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SUINICULTURA – SERÁ ESTA A MAIOR CRISE DE SEMPRE?
António Tavares Presidente do Grupo de Trabalho da Carne de Porco do COPA-COGECA
Esta é uma pergunta que se vai colocando, actualmente, a todos os suinicultores. Infelizmente, a resposta parece ser SIM.
Europa e é bom que olhemos para o que se passa lá fora e façamos uma reflexão sobre o que se passa cá dentro.
Para os que andam há décadas no sector, já foram ultrapassadas muitas crises. Os problemas passados provocaram alterações substanciais na estrutura produtiva do nosso país, concentrando a produção em unidades de dimensão cada vez maior.
Portugal, nos últimos 2 anos, teve uma taxa de autoaprovisionamento de 65% e, no entanto, está a vender os porcos mais baratos cerca de 10 cêntimos/kg de carcaça do que os nossos parceiros europeus, espanhóis, que têm um autoaprovisionamento de 150%.
Esta crise é muito diferente de todas as outras. Porquê? Porque nas outras crises tivemos sempre uma redução da produção e os suinicultores, na maior parte dos casos, aguentaram-se pela forte ajuda financeira das fábricas de rações, que, em muitos casos, funcionaram como um autêntico banco de emergência da produção. Neste momento, as fábricas de rações não conseguem ter a disponibilidade financeira para conseguir dar o apoio que já deram. Por outro lado, é espantoso como entrando em crise no Verão de 2015, os suinicultores, no contexto geral, aumentaram o número de efectivos em 2015, cerca de 1,46%, ao nível das porcas reprodutoras e 4,94% ao nível de porcos de engorda, em relação a 2014, o que só pode ser justificado pela criação que, entretanto, ocorreu, de grandes grupos de produção, que têm vindo a absorver aqueles que não conseguem resistir e têm vindo a aumentar bastante a produtividade das explorações.
O porquê da crise? A crise acontece devido a um desequilíbrio entre a oferta e a procura, com um aumento considerável da produção europeia, que registou, em 2014, um aumento de 1,5% e, em 2015, de 2,6%. A juntar a este crescimento da produção, tivemos o problema do embargo russo, que dificultou, em muito, o escoamento dos nossos produtos, uma vez que a Rússia, em 2013, tinha absorvido 25% das nossas exportações, o que corresponde, “grosso modo”, a 3% da produção comunitária. Acontece que a Europa conseguiu reagir e encontrar alguns mercados alternativos, sendo que, se em 2014, com o embargo russo, tenhamos perdido 4% das nossas exportações, em 2015 crescemos 8%, recuperando o perdido, mas o aumento de produção foi superior à recuperação das exportações. Assim, a Europa e Portugal estão em crise, mas, infelizmente, a crise portuguesa é a mais grave da 20 |
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O consumo em Portugal mantém-se um dos mais altos da Europa, com cerca de 43 kg por habitante por ano, nos últimos 3 anos. Países semelhantes a Portugal, como a Suécia, com um autoaprovisionamento de cerca de 60%, nunca venderam os porcos abaixo de 1,5€/kg de carcaça e o Reino Unido, com cerca de 50% de autoaprovisionamento, também tem valores semelhantes. Então porque é que vendemos a 1,10€/kg de carcaça? É preciso reflectir bem sobre esta realidade. Se começarmos a olhar para a produção, o seu nível de organização é já bastante apreciável, não sendo, por isso, por aí que o problema surge. O problema parte de uma grande distribuição feroz, que pressiona e esmaga os preços, aproveitando uma estrutura de abate completamente desadequada da realidade europeia actual, com muitos pequenos matadouros, que servem para destabilizar o mercado e não têm qualquer capacidade competitiva com os grandes matadouros europeus, sobretudo, no nosso caso, os espanhóis. A grande distribuição em Portugal resolveu utilizar a carne de porco como produto âncora para captar o consumidor para outro tipo de produtos. Foi um dia negro para a suinicultura, o dia em que o Pingo Doce resolveu deitar abaixo o Continente e avançou com uma campanha de pressão de preços, sobretudo nos produtos âncora, como a carne de porco e o leite, que levaram o Continente a ter que reagir, arrastando atrás de si o Intermarché e o Auchan. Hoje, o consumidor atento terá sempre possibilidade de comprar carne de porco em promoções de preço, pois em qualquer dia do ano há sempre um operador a propor esta situação. De seguida, os nossos matadouros, devido à sua dimensão e fraca produtividade, na maior parte dos casos, não têm capacidade de exportação. A
agravar esta situação, temos o facto de o nosso principal mercado, o de Angola, ter deixado de pagar, o que provocou uma redução drástica dos fluxos de exportação. Neste momento, felizmente, resta-nos o mercado da Venezuela, cujas performances, em 2015, foram muito boas. Pode parecer um contrassenso, para um país que não produz mais de 65%, ter que exportar, mas se não o fizer, entra numa concorrência desigual com os matadouros espanhóis, que, ao venderem determinadas peças para países terceiros com boa valorização, podem permitir-se enviar outras peças a preços baixos para Portugal. O mais importante, neste momento, parece-nos que não é chorar sobre os nossos problemas, mas sim tentar encontrar soluções.
quem dependemos) para criarmos estruturas fortes e que possam ter um papel activo na formação do preço dos porcos. Estou a falar, concretamente, na importância crucial que um Interprofissional do Porco pode ter, no sentido de estruturar a oferta, promover a marca da carne de porco portuguesa e divulgá-la junto dos consumidores. A salvação da suinicultura portuguesa passa, seguramente, pelo consumidor português, ao preferir a carne de animais produzidos e abatidos no nosso país. Temos, por isso, de lhe fornecer carne da melhor qualidade possível, o que já fazemos e divulgar fortemente a marca “nacional – carne portuguesa” e esperar uma reacção positiva da parte do consumidor. No contexto internacional, a situação está a melhorar, com subidas de preços nas últimas
semanas, na Alemanha, na Holanda e na Dinamarca e com as perspectivas das subidas em Espanha, depois do efeito da Semana Santa, onde o consumo diminui drasticamente. As negociações com a Rússia não estão a ser fáceis, mas há fortes esperanças de que a Rússia venha a abrir, em breve, as suas fronteiras às gorduras, toucinhos e subprodutos de matadouro de alguns países europeus, onde Portugal tem fortíssimas hipóteses de ser incluído. E termino com uma palavra de esperança. Temos condições naturais óptimas para produzir porcos em Portugal. Se não o fizermos, seguramente outros virão cá fazer por nós, pelo que é preciso que nos organizemos e tenho muita esperança que este poder político nos venha a ajudar.
A Federação Portuguesa de Associação de Suinicultores (FPAS) tem tentado, por todos os meios, encontrar soluções junto do poder político, que tardam em chegar e que têm motivado grandes movimentações de protesto por parte dos suinicultores. Acontece que hoje, em Portugal, e esperemos que o nosso novo Presidente da República possa inverter essa situação, o poder económico tem dominado o poder político e não é fácil, para os políticos, atacarem os colossos da grande distribuição. Por exemplo, a lei da rotulagem, com um diferente nível de coimas, só agora virá a ser publicada, depois de toda a pressão que foi feita pelos suinicultores. Apesar do Sr Ministro da Agricultura e do Sr Secretário de Estado da Agricultura darem mostras de descontentamento pelas reacções dos produtores, eu estou convicto, por os conhecer como pessoas íntegras e muito preocupadas com a agricultura, que estão a agradecer, no seu íntimo, todas estas movimentações, que lhes dão, no fundo, a força política de que necessitam para pôr em prática medidas que vão chocar estes grandes grupos económicos, mas que são fundamentais para a salvação da suinicultura nacional. Acreditamos que as medidas que estão para ser publicadas, sobretudo ao nível da rotulagem, vão trazer um impacto positivo ao nível do mercado em Portugal. Não podemos, no entanto, ficar à espera de que o governo resolva todos os nossos problemas e temos, também, de trabalhar no sentido de nos organizarmos com os matadouros (que no fundo são os nossos compradores e de
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
O BOVINO DE RAÇA ALENTEJANA Em continuação do artigo da Revista Alimentação Animal, nº 92, (abril-maio-junho 2015), apresentamos como então referido, o que de interesse se nos afiguraria sobre o ensaio a realizar no Pólo de Investigação do INIAV, IP na Quinta da Fonte Boa, Vale de Santarém, designado por PROTOCOLO CARNALENTEJANA/ZOOPAN/SAPROGAL, sobre o bovino de Raça Alentejana. Assim, relembrando esse protocolo, sobre o estudo da possível influencia de um núcleo da ZOOPAN, em bovinos da Raça Alentejana, relativamente ao que é utilizado pela CARNALENTEJANA nas suas fórmulas, incidindo nas características quantitativa e qualitativa dos tecidos adiposo e muscular, damos a conhecer o Relatório desse ensaio, nas suas partes mais significativas.
Objetivo
Nuno Burguette
Foi estabelecido entre o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) através do Polo de Investigação da Fonte Boa no Vale de Santarém, e as empresas ZOOPAN e CARNALENTEJANA SA, um protocolo de colaboração técnico-científica, que teve como objetivo principal a comparação de dois tipos de pré-misturas (quadro 1) utilizadas na produção de alimentos compostos destinados a vitelos/ novilhos de raça Alentejana em crescimento.
Nutricionista da Carnalentejana
Quadro 1 – Composição das pré-misturas minero vitamínicas utilizadas no ensaio
Vitamina A (E-672) Vitamina A (protegida) Vitamina D3 (E-671) Vitamina D3 (protegida) Vitamina E (3a700 acetato alfatocoferil totalm. Racémico) Vitamina E (α tocoferol ) Vitamina B1 Betaína DL carnitina Ferro Magnésio (óxido de magnésio) Sódio (bicarbonato de sódio) Sulfato de amónio Cobre (sulfato de cobre penta-hidratado (E4)) Cobre (sulfato + quelato) Cobalto (Granulado revestido de carbonato de cobalto (II) 3b304) Zinco (óxido de zinco (E-6)) Zinco (óxido + quelato) Manganês (óxido manganoso (E-5)) Manganês (óxido + quelato) Iodo (iodeto de potássio (E-2)) Iodo Selénio (Selenito de sódio (E-8)) Antioxidante BHT (E321) Compostos aromatizantes (Carvacrol, Citrus sinensis) Saccharomyces cerevisiae CNCM I1077 (E-1711)
Foto: ACBRA 2015
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Novilhos/as II/ Novilhos AR I CARNALENTEJANA 400 000 UI/kg
Bovizoo extra 1%
1 000 000 UI/kg 134 000 UI/kg 200 000 UI/kg 6 670 mg 3 000 mg 300 mg 137,25 mg 12 mg 4950 mg 6.7% 14.5% 17% 667 mg 1 332 mg 20 mg 4670 mg 7 000 mg 4670 mg 6 999 mg 40 mg 40 mg 20 mg 200 mg 6.7 x 1010 CFU
15 g 18 x 1010 CFU
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
Metodologia Para a realização deste trabalho foram utilizados dois alimentos compostos para a produção de bovinos em crescimento. Em ambos os tratamentos, as fórmulas dos alimentos compostos foram produzidas pela empresa SAPROGAL e a sua composição integrava milho geneticamente modificado, corn gluten feed produzido a partir de milho geneticamente modificado, bagaço de girassol obtido por extração, bagaço de soja torrado obtido por extração de soja geneticamente modificada, carbonato de cálcio, triturado de alfarroba, melaço de cana, farinha forrageira de milho, cloreto de sódio, cevada e trigo. No caso da dieta controlo foi considerado o Premix com a fórmula utilizada para a produção de novilhos da raça Alentejana (Novilhos/ as II/Novilhos AR I CARNALENTEJANA) e na dieta experimental a fórmula referenciada no Quadro 1 como Bovizoo extra 1%. Para a realização do ensaio foram utilizados 8 parques para bovinos existentes no Pólo de Investigação da Fonte Boa. Os 16 animais utilizados foram provenientes do efetivo bovino de raça Alentejana existente no Mouchão do Esfola Vacas, propriedade do INIAV. Tratava-se de machos inteiros nascidos entre junho e novembro de 2014 que foram desmamados entre os 7 e 12 meses. Entre o desmame e o início do ensaio, os animais foram mantidos em grupo, recebendo feno e alimento composto produzido pela Unidade de Produção de Alimentos Compostos para Animais do Polo de Investigação da Fonte Boa. Os animais foram agrupados 2 a 2 de acordo com o peso
e a distribuição dos animais pelos parques e das dietas foi aleatória, conforme consta no quadro 2. Ficou assim delineado um ensaio completamente casualizado com dois tipos de alimentos compostos e quatro repetições. Foi considerado um período de 11 dias de adaptação às instalações e às dietas, em que os animais foram desparasitados com ivermectina e vacinados contra clostridioses, pasteureloses e IBR. O ensaio foi iniciado a 22 de junho de 2015 e teve uma duração de 11 semanas. As dietas experimentais foram constituídas pelos dois alimentos compostos, complementados com palha de trigo. Em todos os grupos, a distribuição dos alimentos foi feita ad libitum. A ingestão foi controlada diariamente por pesagens das quantidades oferecidas e recusadas em cada grupo. Foram recolhidas amostras dos alimentos distribuídos, constituindo-se ao longo do período de ensaio 3 amostras compósitas que foram enviadas para o laboratório de nutrição do Polo de Investigação da Fonte Boa para serem analisadas. As médias dos resultados obtidos apresentam-se no quadro 3. O controle do peso foi feito quinzenalmente, por pesagens individuais dos animais. O abate foi feito no dia 10 de setembro de 2015 no Matadouro Santacarnes, Comércio e Indústria de Carnes de Santarém S.A.. No dia seguinte ao abate foram feitas as medições das carcaças. O matadouro forneceu os elementos referentes aos pesos e classificação
Quadro 2 – Distribuição dos animais e dos tratamentos pelos grupos Dieta
Identificação do animal
Peso 26 de agosto
Idade (meses)
das carcaças segundo a grelha oficial em vigor. As carcaças foram transportadas para a empresa Montebravo, Produtos Alimentares S.A. onde, no dia 14 de setembro de 2015, foram separadas as peças
Parque 1
ZOOPAN
2446 2449
305 246
247 229
comerciais e colhidas amostras dos músculos Longissimus thora-
Parque 2
ZOOPAN
2438 2444
389 312
317 254
matadouro do Polo de Investigação da Fonte Boa, fez-se a medição
Parque 3
CONTROLE
2417 2422
415 434
402 387
a um colorímetro Minolta CR-400. Após a remoção do epimísio, as
Parque 4
CONTROLE
2434 2442
390 382
357 265
Parque 5
CONTROLE
2447 2448
302 284
246 229
Parque 6
CONTROLE
2430 2441
344 377
366 305
zando o Programa SAS (2009). Para o estudo da ingestão da matéria
Parque 7
ZOOPAN
2431 2439
392 399
363 316
se testaram as estruturas de covariância (ARH(1); TOEP; TOEPH; CS;
Parque 8
ZOOPAN
2427 2435
465 452
379 355
às medições ao longo do tempo. Para a ingestão de matéria seca, a
Média
368
314
cis ao nível da 13ª vertebra e do músculo Semimembranosus. Já no dos parâmetros da cor da carne no sistema L*, a* e b*com recurso amostras foram moídas, numa picadora de uso doméstico, embaladas em vácuo e enviadas para o laboratório de nutrição do Polo de Investigação da Fonte Boa. Os dados obtidos no ensaio foram analisados estatisticamente utiliseca e do índice de conversão, foi usado o Proc Mixed do SAS, em que CSH; UN) para selecionar a que permitiu definir melhor o erro associado estrutura de covariância selecionada foi a ARH(1) e para o índice de conversão a CSH. Os modelos utilizados incluíram o efeito fixo da
Quadro 3 – Composição química dos alimentos utilizados no ensaio MS
PB
GB
Açúcar
Amido
NDF
ADF
(%)
ADL
Cinzas
Ca
P
Na
K
Mg
(% MS)
Controle
89.5
16.8
3.0
8.4
38.7
25.9
10.4
3.0
11.0
1.86
0.60
0.46
0.62
0.55
Zoopan
90.3
15.9
2.9
8.3
39.9
25.3
10.3
3.1
11.0
1.98
0.67
0.20
0.66
0.55
Palha
92.3
4.7
78.4
54.7
7.7
7.9
0.36
0.18
0.24
0.67
0.09
24 |
ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
A L I ME N TAÇÃO A N I M A L
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
dieta que foi associado o efeito contínuo do tempo. Para as restantes variáveis, foi usado o Proc GLM do SAS, incluindo os efeitos fixos da dieta e do músculo e da sua interação, que foi removida do modelo
Quadro 5 – Efeito da pré-mistura do alimento concentrado nos pesos ao abate e da carcaça e no rendimento das carcaças de novilhos da raça Alentejana produzidos em sistema intensivo
quando não foi significativa. Quando do ponto de vista biológico se
Dieta
justificou, foram incluídas nos modelos estatísticos covariáveis (Peso
EPM
Controle
Zoopan
P
Inicial para os pesos de abate e da carcaça; Peso da Carcaça Fria para
Peso ao abate*
549.0
539.0
9.66
0.475
as dimensões da carcaça).
Peso da Carcaça Quente *
286.1
277.1
5.47
0.264
Os resultados apresentados correspondem às LSMEANS que foram
Peso da carcaça Fria (kg) *
280.4
271.5
5.35
0.265
comparadas para os efeitos incluídos nos modelos por um teste de
Rendimento quente (%) *
52.0
51.4
0.51
0.432
comparações múltiplas.
Rendimento frio (%) *
51.0
50.4
0.50
0.434
*-Valores ajustados para o peso inicial
Resultados Os resultados obtidos para os parâmetros de crescimento, ganho
No gráfico 1, apresentam-se os resultados obtidos para a classifica-
médio diário, ingestão de matéria seca e índice de conversão estão
ção comercial das carcaças feita no matadouro com recurso à gre-
apresentados no quadro 4. Para nenhum destes parâmetros foram
lha comunitária que considera 6 classes de conformação (Reg. (CEE)
encontrados efeitos associados com o alimento composto.
1026/91) e 5 classes de acabamento (Reg (CEE) 1208/81).
Os valores encontrados para os ganhos médios diários de peso são elevados e muito superiores aos resultados obtidos por outros autores que estudaram o crescimento de vitelos de raça Alentejana na fase de crescimento e em regimes de estabulação (Grave e Por-
Gráfico 1 – Classificação comercial das carcaças Acabamento
Conformação
tugal, 1988; Costa et al., 2013). Em qualquer um dos estudos a componente forrageira das dietas foi a silagem de milho, que constituiu a base das dietas, o que pode justificar o valor superior encontrado neste trabalho, que revela um potencial genético muito elevado da raça para o crescimento. Quadro 4 – Efeito da pré-mistura do alimento concentrado no peso ao abate e da carcaça, no ganho médio diário de peso (GMD), na ingestão de matéria seca e no índice de conversão (IC) de novilhos da raça Alentejana produzidos em sistema intensivo Dieta
EPM
P
Quanto à conformação, 75% das carcaças foram classificadas como O (Razoável) e 25 % como R (Boa); quanto ao acabamento 87.5% das carcaças classificaram-se como 3 ou 3+, a que corresponde um grau de acabamento médio. Os resultados da classificação não sugerem
Controle
Zoopan
GMD (kg)
2.369
2.284
0.1194
0.625
o que está de acordo com os resultados que foram obtidos para as
Ingestão (g/kgP0.75)
133.2
121.4
4.47
0.177
dimensões das carcaças e que se referem no quadro 6.
IC
5.50
5.06
0.392
0.442
que tenha havido um efeito associado com o tipo de concentrado,
Os valores encontrados para a ingestão são elevados, atendendo aos resultados que estimamos para vitelos da raça Alentejana
Quadro 6 – Efeito da pré-mistura do alimento concentrado nas características morfológicas das carcaças de novilhos da raça Alentejana produzidos em sistema intensivo Dieta
com os resultados referidos por Grave e Portugal (1988) e que são próximos das 102 g /kgP0.75. Naquele trabalho a dieta era composta por silagem de milho ad libitum complementada com 5
Comprimento da carcaça (cm)*
EPM
P
Controle
Zoopan
134.5
137.2
1.29
0.162
kg de milho grão moído e 1 kg de bagaço de girassol. Os valores
Comprimento da perna (cm)*
82.1
81.6
0.97
0.705
médios encontrados para o índice de conversão para as duas die-
Espessura da perna (cm)*
41.4
41.0
0.41
0.527
tas (Controle e Zoopan) são inferiores a 7.4, que foi o valor obtido
Perímetro da perna (cm)*
106.3
107.2
0.98
0.494
pelos mesmos autores para a fase de crescimento entre os 338 e
Profundidade do peito (cm)*
36.1
35.8
0.44
0.662
os 500 kg de peso vivo. No quadro 5 estão apresentados os pesos vivos ao abate e os pesos
* – valores ajustados para o peso da carcaça quente
das carcaças obtidos no matadouro. Com base nestes elementos
Conclusões
foram estimados os valores dos rendimentos quente (Peso da car-
Não foram encontrados efeitos significativos do alimento composto,
caça quente/Peso ao abate*100) e frio (Peso da carcaça fria/Peso ao
e portanto da pré-mistura utilizada, em nenhum dos parâmetros que
abate*100). Para nenhum destes parâmetros foi encontrado efeito do
foram considerados neste estudo. Nas condições desta experiência,
tipo de concentrado.
os animais apresentaram taxas de ingestão (>120g/kg P0.75) e de cres-
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
cimento (± 2300 g/dia) elevadas. Os rendimentos das carcaças variaram entre 48.5 e 53 % e as carcaças foram maioritariamente classificadas nas classes O para a conformação e 3 de para o acabamento. As carnes dos músculos Longissimus thoracis e Semimembranosus apresentaram um baixo teor em gordura com valores superiores no
Reg (CEE) 1208/81. Jornal Oficial das Comunidades Europeias, Nº L 293/6: 143-144. Reg. (CEE) 1026/91. Jornal Oficial das Comunidades Europeias, Nº L 106/2 SAS Institute Inc. (2009). SAS/STAT 9.2 User’s Guide (2nd ed.). Cary, NC: SAS Institute Inc.
Longissimus thoracis, (0.98 a 2.85 g/100g músculo) do que no Semi-
Responsáveis pela elaboração do Relatório:
membranosus (0.70 a 1.56 /100g de músculo).
José Santos Silvaa, António Sequeirab, Suzete Gaudênciob e Olga Moreiraa,b
Bibliografia Alfaia, C.M.M.; Ribeiro, V.S.S.; Lourenço, M.R.A.; Quaresma, M.A.G.; Martins, S.I.V.; A.P.V.; Fontes, C.M.G.A.; Bessa, R.J.B.; Castro, L.M.F.; Prates, J.A.M. (2006). Fatty acid composition, conjugated linoleic acid isomers and cholesterol in beef from crossbred bullocks intensively produced and from Alentejana purebred bullocks reared according to Carnalentejana-PDO specifications. Meat Science, 72: 425-436 Alfaia, C.P.M.; Alves, S. P.; Martins, S.I.V.; Costa, A.S.H.; Fontes, C. M.G.A.; Lemos, J.P.C.; Bessa, R. J.B. ; Prates, J. A.M. (2009). Effect of the feeding system on intramuscular fatty acids and conjugated linoleic acid isomers of beef cattle, with emphasis on their nutritional value and discriminatory ability. Food Chemistry, 114: 939–946 Costa, A.S.H.; Costa, P.; Bessa, R.J.B.; Lemos, J.P.C.; Simões, J.A.; Santos-Silva, J.; Fontes C.M.G.A.; Prates, J.A.M. (2013). Carcass fat partitioning and meat quality of Alentejana and Barrosã young bulls fed high or low maize silage diets. Meat Science, 93: 405–412. Grave, J.; Vaz Portugal, A. (1988). Comparação de parâmetros produtivos de novilhos alentejanos puros e cruzados. Revista Portuguesa Ciências Veterinárias, vol LXXXIII, nº 485: 61-74.
Colaboraram ainda no ensaio: pela CARNALENTEJANA – Nuno Burguette e Luis M.Bagulho da Silva; pela ZOOPAN – Sérgio Henriques e José Maria Cardoso pela SAPROGAL – João Malaca Também colaboraram as empresas: – MSD, fornecendo as vacinas Bovílis IBR, Bovipart RSP e Bravoxin; – Inogen, S.A., fornecendo o desparasitante Nota do Editor : “As conclusões deste trabalho de investigação devem ser interpretadas com algum cuidado, tendo em conta as especificidades da raça, do maneio, da dieta, bem como do tempo, condições e limitações em que decorreu o ensaio, que não foram as ideais para rentabilizar todos os produtos utilizados.” a b
Unidade de Investigação e Serviços de Produção e Saúde Animal Pólo de Investigação da Fonte Boa, INIAV I.P.
..........................................................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................................................
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
COMO ESCOLHER A XILANASE PARA MELHORAR O DESEMPENHO DE FORMA CONSISTENTE
Gilson Gomes Director Global da Área Técnica, AB Vista
Gustavo Cordero Responsável Técnico, EMEA AB Vista
A granulação da ração para frangos beneficia sem dúvida o desempenho animal através da melhoria no consumo de ração, aumentando a digestibilidade de nutrientes, além da redução tanto no desperdício de ração quanto na contaminação microbiana. As condições de granulação variam de forma drástica entre fábricas de ração a nível global, com temperaturas variando de 70 – 95˚C ou até mesmo superiores e tempo de condicionamento de 10 segundos a vários minutos. Devido à procura global por dietas livres de salmonela, os produtores de frangos estão agora a aplicar temperaturas de granulação mais altas, procurando uma descontaminação da ração. Temperaturas de granulação mais elevadas também podem melhorar a qualidade do pellet e aumentar a produtividade das fábricas de rações. Embora o condicionamento e a granulação possam melhorar a digestibilidade de alguns nutrientes e assim afectar positivamente o desempenho dos animais, deve-se também levar em consideração as potenciais “armadilhas” relacionadas com a granulação da ração, particularmente sob temperaturas mais elevadas. Vitaminas termolábeis, enzimas alimentares exógenas e alguns aminoácidos essenciais como a lisina podem ser particularmente afectados pela Figura 1. O custo de 1 ponto de conversão alimentar O gráfico abaixo traduz o custo de 1 ponto de CA em custos de ração, ao atribuir diferentes níveis de desempenho de frangos. A linha vermelha representa aves de desempenho superior e é o resultado da mudança da CA de 1,64 para 1,65; a linha azul representa aves de desempenho inferior e é o resultado da mudança de 1,74 para 1,75. No intervalo de custo de ração (€ 200 a 300/t), pode ser visto que 1 ponto de CA varia de € 1,15 à 1,83/t no custo. 1,90
Valor de 1 ponto de CA (€/t)
1,80 Valor (€/t)
1,70 1,60 1,50 1,40 1,30 1,20 1,10 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 Custo da Ração (€/t)
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
granulação. A bibliografia mostra que, quando a ração é processada sob altas temperaturas, as perdas de vitaminas e da atividade das enzimas podem chegar a 50% quando comparadas com a amostra equivalente farinada. Portanto, alguns dos benefícios financeiros e de desempenho com a ração granulada podem ser facilmente perdidos. Ano após ano, o melhoramento genético gera cerca de 1 ponto de CA. Para o produtor está cada vez mais caro alcançar um ponto de CA. No ambiente competitivo actual, para proteger potenciais ganhos com lucro, as situações de perdas de desempenho no processo de produção precisam ser minimizadas (ver Figura 1).
Papel importante em nutrição As enzimas NSP desempenham um papel importante na nutrição de frangos, como uma ferramenta para reduzir custos de alimentação através do aumento da degradação das fibras da alimentação e consequentemente, da melhoria da digestibilidade de nutrientes. Estas enzimas possibilitam reduzir o uso de ingredientes de maior valor energético (normalmente com um maior custo) nas fomulações de ração, permitindo aos nutricionistas reduzirem o teor de EMA de dietas à base de milho em até 100 Kcal/kg, economizando assim até € 7,00/t de ração. Termoestabilidade é uma questão chave, especialmente se as NSP forem utilizadas em pó e adicionadas à ração antes da peletização. Nem todas as enzimas são afectadas da mesma forma por altas temperaturas de granulação. Diferentes estratégias são usadas por fabricantes de enzimas para auxiliar na garantia da preservação das enzimas. Uma alternativa é o revestimento, que protege contra a humidade e as temperaturas elevadas. O risco desta alternativa é que pode retardar a libertação e a acção da enzima sobre o substrato. Os fornecedores de enzimas precisam garantir que as técnicas de revestimento estejam bem ajustadas para proteger a enzima sem afectar a libertação da mesma dentro do trato gastrointestinal dos animais. Uma forma de minimizar este risco é selecionar uma enzima intrinsecamente termoestável que não requer qualquer revestimento e resista ao
rigor das condições de granulação. Neste caso, é a molécula de enzima que é intrinsecamente estável à temperatura de granulação, não sendo necessário qualquer outra técnica de estabilização. Uma terceira alternativa para superar as questões de processamento térmico é a aplicação líquida da enzima pós granulação, cujo investimento inicial necessário para instalação de sistemas de dosagens e o desafio técnico para o funcionamento eficaz em fábricas de ração tem limitado globalmente o seu uso. Actualmente, estima-se que 10 a 15% das rações para frangos incluam enzimas líquidas na sua formulação, adicionadas após a granulação. A AB Vista recentemente realizou um experiência numa universidade europeia para avaliar a estabilidade térmica de três diferentes enzimas NSP, incluídas em dietas à base de trigo e processadas sob três diferentes temperaturas no condicionador (80, 85 e 90˚C). As enzimas testadas foram:
Performance , flexibilidade e estabilidade
• Uma preparação multienzimática revestida contendo principalmente actividade xilanase e glucanase • Uma xilanase intrinsicamente termotolerante originária de uma fonte bacteriana • Uma xilanase intrinsicamente termotolerante extraída de Trichoderma (Econase XT). A análise da ração granulada demonstrou que, enquanto a actividade da xilanase Econase XT resistiu ao processamento até 90˚C, os outros dois produtos perderam actividade sob temperaturas mais altas (Figura 2). Os resultados em frangos mostraram que a 80˚C todas as três enzimas melhoraram o desempenho. A Econase XT foi a única enzima que manteve um efeito consistente através das diferentes temperaturas de granulação, gerando o mesmo desempenho sob 80 e 90˚C. Isto também foi evidente ao analisar a viscosidade ileal de Figura 2. A influência da temperatura de condicionamento da ração (por 20 s) na recuperação de xilanase (80˚C), demonstrando a perda de actividade a temperaturas mais altas de produtos menos termoestáveis 110% 100%
Recuperação
93%
91%
80% 69% 71%
70%
59%
60%
51%
50% 40%
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100% 100% 100%
90%
Econase® XT eleva os padrões de desempenho.
80˚C Econase XT
85˚C 90˚C Temperatura de Condicionamento Coated multi-enzyme
Bacterial xylanase
A L I ME N TAÇÃO A N I M A L
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
CACPC, 35d (g:g)
1,70 1,65 1,60 1,55 1,50 1,45 1,40 1,35 1,30 1,25 1,20
1,62
CONTROL
1,62 1,57
1,49 1.50
1,46 1,37 1,36 1,35
80˚C
1,39
1,41
1.40
85˚C 90˚C Temperatura de condicionamento
Econase XT
Coated multi-enzyme
Bacterial xylanase
frangos aos 35 dias e foi estreitamente correlacionado com o desempenho animal e a recuperação da enzima. Os resultados deste estudo enfatizam a importância do monitoramento e análise da actividade de enzimas NSP na ração, e como selecionar a enzima certa é fundamental para garantir a resposta máxima de desempenho. Voltando ao processo de granulação, a variação ainda pode existir, mesmo dentro de uma fábrica de ração, entre o objectivo e a temperatura de processamento real, resultando em
30 |
ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
Figura 4. A influência da temperatura de condicionamento e da suplementação enzimática na viscosidade ileal da digesta aos 35 dias, mostrando que a uma temperatura mais alta de processamento somente a Econase XT foi bem sucedida na redução da viscosidade.
Viscosidade ileal , 35d (mPa.s)
Figura 3. A influência da temperatura de condicionamento e da suplementação enzimática na conversão alimentar corrigida para o mesmo peso corporal de 0 a 35 dias, mostrando que temperaturaturas de condicionamento mais altas originaram a redução de eficácia em dois dos produtos testados
5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5
4.3a
CONTROL
4.3a
2.6d
2.8cd 2.4de
80˚C
4.3a
4.1a
3.7b
3.1c 3.2c 2.1e
2.1e
85˚C
90˚C
Temperatura de Condicionamento Econase XT
Coated multi-enzyme
Bacterial xylanase
algum grau de perda da actividade enzimática e, portanto, do desempenho das aves. Nos últimos anos, os produtores enfrentaram a alta volatilidade dos preços de matérias-primas e a competitividade nos preços de carne, levando à diminuição das margens de lucro. Para aproveitar o máximo do potencial genético animal é muito importante escolher a NSP correcta, capaz de resistir aos rigores da granulação, flexível para diferentes cereais e finalmente, gerar o desempenho consistente das aves.
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
A UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS DERIVADOS DE LEVEDURAS – MOS, EM DESAFIOS SANITÁRIOS DE ESPÉCIES PECUÁRIAS Focando a saúde intestinal e o bem-estar animal O desmame precoce de leitões é muita vez acompanhado com diarreias devido á proliferação de uma ou mais estirpes de Escherichia coli (ETEC) no trato gastrointestinal provocando perdas de peso nas recrias. Nas últimas décadas foram testadas diferentes metodologias nutricionais para otimizar a saúde entérica após o desmame segundo Lalles et al, 2007. Essas investigações focaram-se em determinados aspetos nutricionais como a composição da dieta (proteína, fibra, etc.), substâncias alternativas (ácidos orgânicos, óxido zinco, prebióticos e probióticos) avaliando a performance dos suínos e suas variações no trato gastrointestinal bem como as respostas imunológicas. Entre estes, o efeito dos ácidos orgânicos e do óxido de zinco foram confirmados, no entanto, os prebióticos e probióticos são aditivos mais recentes com uma atividade bastante promissora na saúde intestinal em leitões desmamados. Os prebióticos e probióticos atuam nas alterações microbiológicas intestinais, incluindo o aumento de bactérias que favorecem a flora intestinal (lactobacilos e bífido-bactérias) bem como na diminuição das bactérias patogénicas (Escherichia coli, etc.). Adicionalmente os efeitos positivos dos mananoligossacáridos (MOS) no ceco de galinhas reduz a colonização de Salmonella enteritidis segundo Spring et al (2000).
Heinrichs et al (2003), descreveu que vitelos com diarreia recuperam mais rapidamente quando alimentadas com MOS do que o grupo de controlo. Segundo McGuirk et al, (2001) a diarreia precoce em vitelos é muitas vezes associada a Eschericha coli.
Uso de prebióticos MOS para aumentar a saúde intestinal Um probiótico é uma cultura de microrganismos vivos que criam e mantêm uma microflora saudável no intestino. Os probióticos podem ser bacilos, bifidobactérias ou leveduras. Por outro lado, os prebióticos são ingredientes não digeríveis que estimulam o crescimento e aumentam a atividade das bactérias benéficas para a saúde intestinal e eliminação de bactérias patogénicas. Vários estudos demonstraram o seu efeito benéfico quando são usadas isoladamente ou em combinação com probiótico ocorrendo um sinergismo. (Heo et al., 2012). Os prebióticos polissacarídeos como os MOS e os β-glucanos são os principais componentes das paredes de leveduras (produtos comerciais MOS). Os MOS são hidratos de carbono indigeríveis que possuem um efeito benéfico no intestino. Devido à sua afinidade específica, os MOS são eficazes na aglutinação de fimbrias tipo 1 das bactérias E. coli e Salmonella evitando a adesão destas bactérias à parede intestinal. Os complexos MOS + bactérias são eliminados via fezes. Quando se inicia o processo de adesão às fimbrias, as bac-
O uso de MOS no pré-starter e starter é uma ferramenta importante para aumentar a saúde intestinal após o desmame. 32 |
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL INVESTIGAÇÃO
Propriedades qualitativas Inúmeros produtos MOS estão disponíveis no mercado. Estes diferem na qualidade, especialmente na capacidade aglutinante. Quanto maior a concentração do produto em mananos, maior é o efeito de adesão. Adicionalmente, os níveis de amido deverão ser os mais baixos possíveis garantindo elevada pureza do produto. Existem também diferenças no que se refere à origem das leveduras; leveduras de crescimento primário (leveduras de panificação) são leveduras que resultam da fermentação com o único objetivo de produzir leveduras de elevada qualidade. Devido ao processo de fabrico direto, a atividade das paredes celulares da levedura de panificação é vantajosa em comparação com produtos resultantes da produção de cerveja ou etanol. Outra característica importante é o tamanho da partícula. Quanto mais fina for a partícula maior é a superfície de adesão e maior a capacidade de aglutinação. TechnoMos® (Biochem, Alemanha) possui um elevado conteúdo em MOS e β-glucanos. O pequeno tamanho das partículas do TechnoMos® permite uma elevada adesão às bactérias patogénicas como demonstra o estudo abaixo descrito.
Avaliação dos produtos MOS: Capacidade de adesão in vitro Na universidade de Freie Universität em Berlin, Alemanha, foram testados seis tipos diferentes de MOS (MOS 1-6) onde foi avaliada, in vitro, a capacidade de adesão às bactérias patogénicas. Foram adicionados os diferentes produtos de MOS em diferentes placas. Adicionou-se E.coli (ETEC K88) e favoreceu-se a sua adesão (22°C, 30 min). Após remoção das bactérias que não aderiram, as placas foram incubadas a 37°C durante 24 horas. Mediu-se a densidade ótica de modo a avaliar as curvas de crescimento. Ao avaliarmos a capacidade de adesão, o MOS 2 e 4 demonstraram significativamente menor capacidade de adesão que os outros MOS (p<0.05). O MOS 1 (TechnoMos®) demonstrou a maior capa-
cidade de adesão. MOS 3, MOS 5 e MOS 6 demostraram resultados intermédios.
Redução da adesão de Escherichia coli às células epiteliais do intestino utilizando MOS As células IPEC J2 (Intestinal Porcine Epithelial Cells-Jejunal 2) provenientes do intestino delgado dos leitões são usadas como modelo para avaliar a capacidade de adesão do MOS e diferenciar a atividade dos MOS presentes no mercado. Após incubação das células epiteliais em placas formando uma monocamada, as células são tratadas com uma suspensão de MOS (1%). Usaram-se 6 placas de incubação com 6 produtos de MOS (MOS1-6) que foram infetados com uma estirpe florescente de E. coli (Escherichia coli K88). As células IPEC foram detetadas por citometria de fluxo onde foi avaliada a capacidade de tratamento de cada MOS testado. No grupo de controlo, 45,2% das IPEC foram infetadas com E. coli. Todos os MOS avaliados foram capazes de reduzir a adesão da E.coli às IPEC. O MOS que apresentou o resultado menor, com uma diferença significativa, foi o MOS1 (TechnoMos®, 16.2%, p<0.05) seguido do MOS 2 (26.0%). As células infetadas com o MOS 5 apresentaram um valor de 28.4%. Tanto o MOS 3, 4 e 6 demonstraram taxas de infeção acima dos 30% (33.0%, 34.8% e 31.1%). O gráfico 2 indica a capacidade de redução de infeção em comparação com o grupo de controlo (100%). TechnoMos® demostrou que tem a maior capacidade de reduzir infeções de E.coli. Pelo exposto, o TechnoMos® pode ter um papel muito importante em nutrição animal, reduzindo a incidência de diarreias associadas a E.coli, em leitões. Figura 2: Gráfico demonstrativo da capacidade de redução da contaminação com E. coli, dos diferentes MOS estudados 100 % of infected IPEC-cells compared to control (=100%)
térias bifidobacteria e lactobacillus ssp são estimuladas a crescer e a aumentar a sua atividade. Os β-1.3-1.6-glucanos são polissacarídeos que estimulam o sistema imunitário não específico através da ativação da atividade dos macrófagos e do aumento de citoquinas que são os ativadores do sistema imunitário ajudando na defesa contra bactérias, vírus ou parasitas.
80 60 40 20 0
Gráfico 1:Capacidade de adesão dos diferentes MOS testados. O TechnoMOS tem a maior capacidade de adesão às bactérias in vitro.
Number of bound E. coli on the microtitration plate
1,2E+05
Estudos científicos demonstraram que os MOS são bastante eficazes na performance dos animais estimulando o crescimento e a imunidade natural. Sendo assim, é essencial a comparação das propriedades dos MOS existentes no que respeita à sua composição: Conteúdo de mananos e beta-1.3-1.6-glucanos, origem da levedura, pureza e tamanho das partículas.
8,0E+04 6,0E+04 4,0E+04 2,0E+04 0,0E+00
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Conclusão
1,0E+05
TechnoMos MOS 2
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MOS 3
MOS 4
MOS 5
MOS 6
Autor: Birgit Keimer, Departamento de I&D, Biochem, Alemanha, representada em Portugal pela InVivoNSA Portugal Lista de bibliografia disponível a pedido.
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL SFPM
SECÇÃO DOS FABRICANTES DE PRÉ-MISTURAS
SFPM • A Secção realizou um Plenário no dia 19 de Fevereiro de 2016, com a presença de todos os seus associados (excepto a Vetobiótica). • Participou nesta reunião o novo associado ZOOPAN, cuja adesão se saúda e se dá as boas-vindas. • As V JAA - Jornadas de Alimentação Animal, organizadas pela Secção, realizar-se-ão este ano no dia 22 de Setembro. Foi decidido convidar as Universidades / Escolas relacionadas com a alimentação animal a participarem. • Devido à retirada profissional do seu antigo presidente dr. Gonçalo Peixoto (TNA), a Secção quer agradecer-lhe a colaboração e o trabalho desenvolvido em prol desta associação e da Indústria, desejando-lhe as maiores felicidades futuras.
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
COMITÉ DE PRÉ-MISTURAS E ALIMENTOS MINERAIS A 8 de março do presente ano decorreu em
são para os produtos lácteos (120 ppm) serem
do mercado, apresentados pelos produtores de
Bruxelas na sede da FEFAC a 29ª Reunião do
claramente baixos, na generalidade dos casos,
vitaminas e de farinhas de produtos marinhos
Comité de Pré-misturas e Alimentos Minerais.
são praticáveis, contrariamente ao que acon-
são muito extensos. Novos estudos estão a ser
Nesta reunião foi decidido prolongar por mais
tecia com os valores apresentados pela EFSA.
preparados pelo ANTOXIAC, o Consórcio da
um ano a presidência (Reinder Sijtsma) e vice-
Os especialistas do Comité alertaram para o
FEFANA que apoia esta submissão, com vista a
-presidência (François Labarre) deste comité.
facto de à medida que os limites legais dos adi-
Foram discutido os assuntos a que se faz de
tivos autorizados forem sendo mais limitados,
resolver alguns dos problemas apontados pela
seguida referência.
se torna mais difícil não ultrapassar o limite
Aditivos para a alimentação animal Zinco A Comissão Europeia propôs ao SCoPAFF a redução dos níveis máximos de zinco permitidos na alimentação animal (de 250 para 180 ppm nos alimentos para animais de companhia, de 200 para 180 ppm nos peixes, de 200 para 120 ppm em substitutos do leite e de 150 para 120 ppm nas restantes espécies animais com exceção dos leitões, marrãs e coelhos, para os quais o valor seria mantido). Os valores máximos de zinco apresentados recentemente pela Comis-
(valor máximo legislado) porque deixa de haver espaço de manobra para considerar as quantidades desses mesmos aditivos provenientes das matérias-primas. A discussão a nível do SCoPAFF está suspensa em virtude do aconselhamento pedido ao EURL-FA quanto ao método para quantificar o grau de quelação dos quelatos de zinco.
EFSA na avaliação anterior do dossier submetido para a aprovação da etoxiquina, nomeadamente a presença de uma elevada percentagem de um metabolito com atividade genotóxica e da presença de impurezas potencialmente mutagénicas. Os especialistas consideraram importante, com vista a evitar constrangimentos no fornecimento de vitaminas a existência de um prazo de transição.
Os especialistas congratularam ainda a decisão
Formaldeído
da Comissão de não converter num requisito
A Comissão ainda não conseguiu chegar a acordo
legal a proposta da EFSA de diferenciar o valor
quanto à autorização do formaldeído como
máximo legal consoante a suplementação dos
melhorador das condições de higiene. Apenas
alimentos para animais com fitases.
metade dos Estados-membros se mostraram
são Europeia nos alimentos para as diferentes
Etoxiquina
favoráveis à proposta de autorização por 3 anos
espécies animais são ligeiramente superiores
O Comité aconselhou alguma cautela no envolvi-
deste produto em alimentos para aves e suínos,
aos inicialmente propostos pelo painel FEEDAP
mento da FEFAC neste assunto, visto que clara-
comprovadamente contaminados com salmonela.
(painel da EFSA responsável por este assunto).
mente esta substância é para eliminar da cadeia
A proposta relativa à existência de estabeleci-
Os especialistas deste painel consideram que
alimentar. No entanto, os prazos de transição, os
mentos autorizados para a descontaminação de
apesar dos valores apresentados pela Comis-
quais são essenciais para o bom funcionamento
matérias-primas contaminadas com salmonela
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devido a questões de saúde e segurança no trabalho foi retirada pela Comissão. Aromas A Comissão decidiu avançar com a autorização dos aromas com um nível máximo recomendado de utilização. Acima do valor máximo autorizado os operadores têm de justificar esse nível superior e, em particular, que o produto é seguro tornando-se, neste caso, obrigatória a declaração quantitativa nos rótulos. As propostas de Regulamento foram apresentados ao SCoPAFF para aromas de vários grupos. A votação deverá realizar-se em maio ou junho de 2016. Cobre A EFSA pediu às Associações informação sobre a utilização de cobre na alimentação animal. A FEFAC reencaminhou os dados relativos às necessidades em cobre dos animais, mas não deu informação quanto à composição “standard” das dietas visto considerar que não existe uma dieta standard. Os especialistas deste Comité chamaram a atenção para o facto de as restrições caírem em cima da indústria. A Comissão não está a considerar que a utilização destes nutrientes na exploração não é controlada, podendo o produtor utilizar diversos alimentos complementares com composições diferentes, os quais no seu conjunto poderão exceder os limites máximos admissíveis, para os mesmos nutrientes, na alimentação animal. Mais, a diminuição da utilização de cobre na alimentação animal pode ser um incentivo a que sejam prescritos por veterinários bolus alimentares para perfazer os níveis de cobre desejados, o que poderá desequilibrar a dieta do animal. Retirada dos aditivos órfãos A adoção do ato jurídico de revogação das autorizações de aditivos órfãos em alimentos para animais foi adiada. Os membros deste Comité afirmaram que os operadores já devem ter tomado precauções quanto à retirada destes aditivos e como tal a indústria não tem necessidade de medidas de transição mais longas para efeitos de escoamento dos stocks.
Revisão das guidelines para os aditivos para a alimentação animal Os especialistas deste Comité confirmaram o apoio ao documento de posicionamento da FEFANA para a revisão das guidelines para a avaliação dos aditivos na alimentação animal, em especial, no que se refere à melhoria da consistência de definição das categorias das diferentes espécies, à descrição dos aditivos para a alimentação animal e à redução esperada dos custos que beneficiaria as PME. A Comissão Europeia propôs regras simples para a declaração de aditivos na rotulagem dos alimentos compostos para animais e concordou em manter a declaração da quantidade de aditivo para os aditivos tecnológicos, orga38 |
ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
nolépticos e zootécnico (p.e. ácido propiónico), e considerar a declaração da quantidade de oligoelementos para compostos de oligoelementos (p.e. cobre) e a quantidade de substância ativa para outros aditivos nutricionais (p.e. acetato de retinilo) e coccidiostáticos. Os especialistas deste Comité congratulam a posição da indústria, contudo, alertam que esta alteração deve ser acompanhada por uma alteração da autorização dos aminoácidos e vitaminas para esclarecer que a substância ativa é o aminoácido ou vitamina (conceito de princípio ativo). Entretanto, em simultâneo com a revisão efetuada pela Comissão do Regulamento (CE) nº 429/2008, a EFSA começou a esboçar um documento guia com indicações sobre a declaração de aditivos para a alimentação animal, trabalho que está previsto terminar em 2018. Este trabalho parece de alguma forma concorrencial com o que está a ser desenvolvido pela Comissão.
COPA-COGECA / FEFAC: Código de boas práticas de rotulagem Apesar das alterações feitas ao Código, este ainda não foi aprovado pela Comissão Europeia. De acordo com os serviços da Comissão, os Estados-membros preferem esperar pela revisão dos anexos VI e VII do Regulamento (CE) nº 767/2009. No entanto, não havendo prazo para esta revisão é preferível avançar para a aprovação e quando a legislação for revista então atualiza-se o código. As autoridades têm manifestado em alguns Estados-membros, uma atenção crescente quanto à determinação da vida útil das pré-misturas e alimentos minerais, pelo que, parece ser necessário considerar no futuro, a elaboração de orientações mais detalhadas para a introdução no código de boas práticas de rotulagem. Isto porque não é possível para a indústria rotular de acordo com a perda de atividade ou diminuição do teor de determinados aditivos, ao longo do tempo e, consequentemente, do teor no alimento final, não estando as autoridades sensibilizadas para esta dificuldade quando fazem os controlos. A forma possível de contornar a esta questão seria colocar uma frase em que referisse que o teor em vitaminas pode diminuir. Quanto à rotulagem de preparações de aditivos, os especialistas do Comité reiteraram o que foi anteriormente defendido, i.e., os fabricantes de pré-misturas devem cingir-se ao que é exigido por lei para a rotulagem das pré-misturas, “pode conter aditivos tecnológicos incluídos nas preparações de aditivos, para os quais níveis máximos são definidos”. Por outro lado, a FEFANA deve fornecer informações sobre o tipo de aditivos tecnológicos em jogo (na preparação das pré-misturas) e o valor potencial de tais aditivos após a diluição no alimento composto final.
Tolerâncias analíticas A Comissão quer reabrir a discussão relativamente à revisão do Anexo IV do Regulamento (CE) nº 767/2009, pelo que é uma oportunidade de ajustar algumas falhas existentes. Uma das situações é a tolerância técnica e analítica do cálcio ser de 1%, o que é inferior à tolerância analítica do método. Assim sendo, é essencial aumentar a tolerância para o cálcio. Outra situação está relacionada com a obrigatoriedade de declarar a cinza e a fibra bruta, o que não faz muito sentido e poderá não estar de acordo com as quantidades dos diferentes nutrientes individuais incorporados, nomeadamente, do cálcio e fósforo (no caso da cinza insolúvel), pelo que parece fazer sentido remover o limite destes nutrientes.
Implementação da legislação CLP/ADR O Comité da UE para a aplicação do CLP e REACH (CARACAL) expressou a sua preferência por considerar as pré-misturas no âmbito desta legislação, mas excluir da mesma os alimentos minerais e os alimentos compostos. Os resultados desta votação foram apresentados aos membros do SCoPAFF, na sua reunião de 18 e 19 de fevereiro. Nesta reunião ainda não foi discutido o assunto em profundidade. Em comparação com a situação no último Comité em outubro de 2015, as autoridades austríacas estão agora a evoluir para a aplicação da legislação CLP/ADR às pré-misturas, ao passo que a Polónia ainda está a considerar tal opção e, as autoridades checas apenas o exigem a produtos importados de outros países. Relativamente aos Países Baixos, a situação foi considerada como não completamente clara. A IACA presente nesta reunião do Comité de Pré-misturas expressou veementemente a oposição da indústria nacional à inclusão das pré-misturas no âmbito da legislação CLP. As autoridades nacionais estão de acordo com a indústria quanto à interpretação do Regulamento (CE) nº 1272/2008, o qual refere explicitamente que não se aplica a várias indústrias pelo facto das mesmas terem legislação própria, nomeadamente a indústria de cosméticos, os medicamentos ou a alimentação animal. Este assunto tem vindo a ser forçado pelos franceses, os quais aplicam esta legislação desde 2003, bem antes de este Regulamento existir e ser aplicável. Importa ter em conta que de acordo com as regras do Tratado Europeu, uma interpretação final da lei pelo Tribunal Europeu de Justiça pode permitir a que Estados-membros ignorem a votação do CARACAL, a qual contou apenas com votação de 9 Estados-membros.
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL NOTÍCIAS
SEMINÁRIO “PERSPETIVAS E IMPACTE DAS NEGOCIAÇÕES DO TTIP NO SETOR AGROALIMENTAR” -se, sem dúvida, de um parceiro relevante, histórico, com a qual partilhamos valores essenciais e que queremos preservar e reforçar no futuro. Como conclusão do Seminário fica a vontade de ambas as partes de concluir as negociações do Acordo até final de 2016 (fim da Presidência Obama), havendo ainda bastantes arestas para limar até lá. Do lado da União Europeia, e no que ao agroalimentar diz respeito, será o garantir que não existam nos EUA nomes iguais aos produtos DOP (Denominação de Origem Protegida) e IGP (Indicação Geográfica Protegida), e questões relacionadas com o SPS (inclui No dia 11 de março, decorreu, na FLAD, o Seminário “Perspetivas e Impacte das Negociações do TTIP no Setor Agroalimentar”, coorganizado pela FIPA e pela Embaixada dos Estados Unidos. O objetivo do Seminário foi o de promover o diálogo relativamente à Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) entre stakeholders e representantes da Comissão Europeia, dos EUA e do Governo de Portugal. O TIIP é um acordo em negociação iniciado em 2013, que visa eliminar tarifas e barreiras não-pautais e harmonizar a regulamentação sem reduzir os elevados padrões de segurança e qualidade e tem por objetivo estimular o crescimento e a criação de emprego, criando a maior zona de comércio livre no mundo. Este acordo será a oportunidade de juntar dois blocos económicos de cerca de 800 milhões de pessoas e poderá acrescentar anualmente ao PIB de ambas as regiões cerca de 0,5%, e estima-se que possa impulsionar a economia da EU em 120 biliões €, a economia dos EUA em 90 biliões € a nível mundial 100 biliões de €. 40 |
ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
As negociações vão muito para além das questões agrícolas, estando igualmente em causa, serviços, investimento, e-commerce, circulação de pessoas, telecomunicações, serviços financeiros, seguros, transporte aéreo, resolução de litígios, entre outras. Na última ronda de negociações, que decorreu de 22 a 26 de fevereiro, foram realizados avanços na consolidação de textos em áreas fundamentais como por exemplo a Cooperação e Convergência Regulamentar (que inclui as Barreiras Técnicas ao Comércio, e as medidas SPS e os pesticidas), o Desenvolvimento Sustentável e a Proteção dos Investimentos. No âmbito do Acesso ao Mercado, as duas partes prosseguiram a análise das ofertas revistas em outubro de 2015, na anterior ronda negocial, que cobrem 97% das linhas tarifárias; as restantes 3% são os setores agrícolas mais sensíveis como as carnes de bovino, suíno e aves, setores onde temos interesses defensivos e que serão deixados para o final das negociações. O desafio para Portugal será fortalecer a sua posição nas relações com os EUA, pela sua localização geográfica e pela dimensão da sua Zona Económica Exclusiva. Trata-
pesticidas e LMR) e à segurança alimentar que devem ser inegociáveis. No que concerne ao lado americano, a principal preocupação prende-se com o facto de as exigências legislativas europeias não serem aplicadas de forma totalmente uniforme nos 28 Estados-Membros. De concluir que existe uma grande harmonização de pontos de vista entre a Indústria agroalimentar nacional e as autoridades portuguesas que acompanham as negociações, designadamente os Ministérios da Agricultura e dos Negócios Estrangeiros. Outra conclusão é a de que a Comissão pretende negociar, em simultâneo, o TTIP e o Mercosul, tendo já obtido luz verde do Parlamento Europeu, para a abertura das conversações com a Austrália e Nova Zelândia. Trata-se de grandes desafios mas igualmente de inúmeras oportunidades para a Indústria Agroalimentar, europeia e nacional. A FIPA não deixará de estar atenta a todos estes dossiers, promovendo contactos, quer a nível nacional quer internacional, com as empresas, FoodDrinkEurope e as autoridades nacionais, nomeadamente GPP e Assuntos Europeus.
Reduzir o nível de proteína bruta na dieta de porcos crescimento para melhorar o custo do alimento
Redução do preço do alimento
17,0 % 15,0 % Proteína bruta
Proteína bruta
Resultados da optimização do alimento para porcos crescimento considerando cada aminoácido essencial
☛ Os nutricionistas da Ajinomoto Eurolysine S.A.S. reviram e actualizaram recentemente as necessidades de aminoácidos essenciais para porcos crescimento (>25kg). As necessidades actualizadas, apresentadas na tabela seguinte, fornecem um caminho para a redução da proteina bruta da dieta sem consequências negativas na performance esperada dos suínos. ☛ A suplementação com aminoácidos como o L-Triptofano permite uma redução da proteína bruta da dieta e, consequentemente, do custo do alimento, permitindo assim uma performance optimizada ao menor custo. ☛ Adicionalmente, benefícios no ambiente são obtidos por menor excreção de azoto. PERFIL IDEAL DE AMINOÁCIDOS PARA PORCOS CRESCIMENTO E ACABAMENTO Relação SID relativamente à Lisina (%)
Crescimento 25 aos 65kg
Acabamento 65 aos 110kg
Lisina
100
100
Treonina
67
68
Metionina + Cistina
60
60
Triptofano
20
19
Valina
65
65
Isoleucina
53
53
Leucina
100
100
Acesso livre a toda a informação em: www.ajinomoto-eurolysine.com
Contact: INDUKERN PORTUGAL, LDA Centro Empresarial Sintra Estoril II – Rua Pé de Mouro – Edif. C Apartado 53 – Estr. de Albarraque, 2710-335 SINTRA Telef.: 219248140 – Fax: 219248141 – teresa.costa@indukern.pt A L I ME N TAÇÃO ANIMAL | 4 1
ALIMENTAÇÃO ANIMAL NOTÍCIAS
40 ANOS AO SERVIÇO DA IACA E DA INDÚSTRIA
Os recursos humanos são seguramente o melhor ativo de qualquer Empresa ou Organização. É assim também na IACA, pelo que a revista “Alimentação Animal” não podia deixar de referenciar e destacar os 40 anos de desempenho de funções ao serviço da IACA e da Indústria de Alimentos Compostos para Animais pelos nossos colaboradores Amália Silva e Luis Manuel Santos. É igualmente justo salientar, embora ainda não tenha feito os 40 anos mas aproxima-se muito rapidamente deste marco, a nossa colega Fátima Ferreira. Leais a todas as Direções e Órgãos Sociais, desde 1976. Sempre na retaguarda, com enorme discrição, mas a assegurar que tudo corre pelo melhor, sempre disponíveis, colaborantes, sem olhar a esforços e a fazer o que tem de ser feito. Mesmo nas situações mais adversas, seja por razões pessoais ou profissionais. Seguramente, um exemplo a seguir para as novas gerações. O reconhecimento e o prestígio da nossa Instituição também passam por eles. Por
Há alguns anos atrás… com o “sempre” Secretário-Geral Comendador Luís Marques
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ALIMEN TAÇÃO AN IMAL
tudo isto, são merecedores da nossa Homenagem e Gratidão. Em meu nome pessoal, enquanto Secretário-Geral e em nome da Direção e dos Órgãos Sociais da IACA, agradecemos à Amália, à Fátima e ao Manuel, todo o esforço, competência, profissionalismo, entusiamo, lealdade e dedicação que sempre colocaram, no dia-a-dia, ao serviço das empresas Associadas e da Indústria que nos orgulhamos de representar.
em que todos são igualmente importantes, sendo uma enorme honra a IACA poder contar com o seu contributo. Um reconhecimento que foi partilhado por muitas empresas e amigos que, na sequência da informação pública da IACA, se quiseram associar a esta muito justa Homenagem.
Também é um orgulho podermos contar com colaboradores como eles, com esta dimensão humana. Amália, Fátima e Manuel, Muito Obrigado. A “Alimentação Animal” muito lhes deve e também eles têm sido parte integrante do êxito desta publicação de referência no Setor e na Fileira. Nos 40 anos de atividade de funções da Amália e do Manuel, a Direção da IACA, em nome dos Órgãos Sociais da Instituição, decidiu entregar uma lembrança a cada um dos colaboradores, tendo a Presidente agradecido todo o trabalho e dedicação, toda uma vida, relembrando e destacando que eles foram e são parte importante do historial da IACA e do prestígio de que a nossa Organização tem sido credora. Os membros da Direção presentes exprimiram o mesmo sentimento e desejaram as maiores felicidades, pessoais e profissionais. A Direção, na sua reunião de 1 de abril, deliberou a atribuição de um voto de louvor pelo trabalho dos colaboradores, reconhecendo o contributo e o papel relevante que têm desempenhado no dia-a-dia da Instituição,
Amália Silva
Fátima Ferreira
Luís Manuel Santos
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS COMPOSTOS INVERTE TENDÊNCIA DE QUEBRA DOS ÚLTIMOS ANOS Apesar da degradação dos preços na produção do leite e carne de porco e das dificuldades nos bovinos de carne, nas aves e nos ovos, a produção de alimentos compostos inverteu a tendência de quebra dos últimos anos, com uma relativa estabilidade nos alimentos para aves, um aumento da oferta nos alimentos para bovinos (em grande parte devido á seca que afetou o País) e de suínos, ligado ao incremento dos efetivos mas igualmente ao aumento do peso de abate, com uma relativa estabilidade nos alimentos para outros animais, com exceção dos petfoods que continuam em alta. A produção das empresas associadas da IACA registou um incremento de 4.8% em 2015, situando-se em torno dos 3 milhões de toneladas, o que ficou a dever-se não só ao crescimento do mercado (da ordem dos 2%,
segundo a amostra mensal), mas igualmente devido ao reforço da produção associada, quer devido a novos associados, quer a eventuais conquistas de quota a empresas não associadas. De resto, 84% dos associados (35) registaram subidas ou manutenção das respetivas produções face ao ano anterior. Tendo presente a conjuntura de 2015 podemos retirar desde já algumas conclusões: • A primeira, a de que se inverteu uma tendência de quebra consecutiva ao nível das empresas associadas da IACA, que caraterizou o Setor nos últimos 7 anos, mantendo-se a linha de progressiva concentração da atividade; • A segunda, a de que isto, por si só, não representa uma boa notícia porque este crescimento ficou a dever-se à procura
de alimentos em dois setores que atravessam uma grave crise – bovinos de leite e carne de porco – o que significa produtores (clientes) descapitalizados e, consequentemente, apreensões no curto e médio prazo, pelos riscos de recebimento e dificuldades financeiras; • A terceira, que, apesar da tendência para as chamadas integrações, o “mercado livre” demonstrou uma notável capacidade de resiliência, seja por estratégias de mercado, seja por uma lógica de contratualização que parece fazer-se sentir nas relações entre as empresas e os clientes que, contrariamente ao passado, parece mais fidelizada, com produtores mais exigentes e melhores conhecimentos de nutrição e maneio, da qualidade
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ALIMENTAÇÃO ANIMAL NOTÍCIAS
e necessidades alimentares, o que não deixa de ser importante para o desenvolvimento da nossa Indústria e para o dinamismo do mercado; • Em quarto lugar, que os preços das matérias-primas, mais favoráveis em 2015, permitiram que a crise não fosse ainda maior mas também foi devido a esta conjuntura que assistimos na Europa a um incremento dos efetivos, em particular vacas leiteiras e suínos, em países tradicionalmente exportadores (Alemanha, Holanda, Espanha, França, Polónia…), que ao encontrarem dificuldades de colocação dos produtos no mercado mundial e confrontados com o embargo russo e redução da procura, criaram graves problemas no mercado interno e, consequentemente, nos mercados mais periféricos e vulneráveis como o nosso; • Como última conclusão, a de que esta crise permitiu relançar questões como
as ajudas aos produtores, a gestão das crises, medidas para mitigar a volatilidade dos preços e dos rendimentos – previstas na PAC – e o problema da transparência da cadeia alimentar, designadamente as relações entre produtores, indústria e grande distribuição, com a constituição de um Grupo de Trabalho em Bruxelas e as exigências de alterações legislativas da parte do Parlamento Europeu. Em Portugal esta questão teve uma grande atualidade no final do ano, com a profunda crise do setor dos suínos, de grande impacto na nossa Indústria, e as movimentações dos representantes da suinicultura e da indústria de carnes, com o Governo a servir, algumas vezes, de facilitador; A partir daqui, com este problema no centro da agenda política, nada poderá ficar como antes mas não deixa de ser preocupante continuarmos a assistir ao não cumprimento
das regras da rotulagem em alguns espaços comerciais e a sucessivas promoções de carne, leite e ovos, de origem nacional. Com todos estes elementos, é sabido que o ano de 2016, com um novo Governo e uma alteração nas políticas, sociais e económicas, nos vai trazer novas dificuldades e exigências, quer pela conjuntura em Portugal, que decorre do ambiente político de incerteza e dos pressupostos e objetivos definidos pelo Orçamento de Estado, quer a nível europeu e mundial, condicionados pela baixa dos preços do petróleo, relação euro/dólar, crise dos refugiados, a segurança devido aos ataques terroristas, o problema das dívidas soberanas, pelo menos em 10 Estados-membros, entre os quais Portugal, para além do abrandamento económicos de países como a China, Brasil ou a Rússia. Tudo isto conjugado com a crise bancária e a pouca atratividade para o investimento estrangeiro, com custos importantes para o financiamento das empresas.
IACA PRESENTE NO GMCC 15 terdão, de 17 a 20 de novembro. Recorde-se
tivermos em conta o pipeline de novos even-
que este evento, de 2 em 2 anos, aborda os
tos até 2020 ou 2050? Evidentemente que a
problemas ligados à coexistência entre os
proposta da Comissão não só não dá soluções
diferentes tipos de agricultura: convencio-
de competitividade á pecuária e á Indústria,
nal, biológica e com culturas geneticamente
como não fomenta alternativas em termos
modificadas.
de uma eventual procura de não OGM. Uma
A participação da FEFAC (Ruud Tijssens, Pre-
aberração, económica e jurídica, recusada por
sidente, e Jaime Piçarra) teve lugar na Sessão
todos, embora por razões diferentes. Também
Plenária dedicada ao tema da Coexistência no
neste GMCC 15 ficou bem demonstrado que
Comércio Internacional (“Coexistence in Inter-
este não é o caminho a seguir.
national Trade”), no dia 19 de novembro, num
Refira-se que para além da IACA, participa-
painel especificamente dedicado à proposta
ram neste evento, nas Sessões paralelas, os
da Comissão Europeia sobre a nacionaliza-
Professores Fátima Quedas e Carlos Trindade,
ção das importações de matérias-primas GM
da Escola Superior Agrária de Santarém, com
(mais conhecido por “opt-out”), moderado pelo Professor Justus Wesseler, da Universidade de Wageningen, tendo sido apresentadas diversas perspetivas: da Comissão, do comércio, alimentação animal e dos países exportadoTendo sido uma das entidades coorganizado-
res, concluindo-se pelo impacto fortemente
ras do GMCC 13, em Lisboa, a IACA regressou
negativo da proposta e que foi avaliado em
a este evento, em 2015, tendo o seu Secre-
2.8 biliões de € para o conjunto da Fileira, ao
tário-Geral participado, em representação
nível de toda a União Europeia. Terá a Indús-
da FEFAC, numa das Sessões Plenárias do
tria capacidade para continuar a fornecer a
GMCC 15 que decorreu na Holanda, Ams-
pecuária na União Europeia? Sobretudo se
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A Delegação de Portugal com o Presidente da Organização
trabalhos científicos sobre OGM ou ligados a problemas de coexistência. A Profª Fátima Quedas é ainda membro do Comité Científico desta organização internacional. As intervenções e fotos do evento estão disponíveis no website da organização (www.wageningenur. nl/gmcc2015). A próxima edição do GMCC 17 deverá realizar-se no Reino Unido ou Uruguai. Entretanto, quanto à proposta da Comissão, depois da recusa da parte do Parlamento Europeu, tivemos mais recentemente um parecer dos serviços jurídicos do Conselho que consideram que a proposta põem
condições para discutir a proposta mas é
Esquerda, Verdes, PCP e PAN, cujo obje-
em causa o Mercado Único, poderá não
de esperar que a Comissão possa retirar o
tivo era a proibição do cultivo de milho
estar conforme com as regras da OMC e
projeto, sendo convidada a apresentar uma
transgénico em Portugal e, no caso do
não constitui uma melhor alternativa, em
nova proposta porque existe a pressão do
Bloco, o cultivo e mesmo a importação.
termos de legislação, à que está em vigor
Parlamento Europeu.
Um dossier que continua polémico e que
na União Europeia. Tendo em conta a crise
Por cá, no início do ano, foram rejeita-
nos irá acompanhar certamente ao longo
da pecuária, os Estados-membros não têm
das as propostas de Lei do Bloco de
dos próximos anos.
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IACA VISITA SUPERVIT vit dedica-se em exclusividade ao mercado livre. Atualmente, o aspeto negativo a observar é a instabilidade do preço das matérias-primas que conduz à falta de previsibilidade no negócio, sendo esta uma questão transversal ao sector. A Qualidade das matérias-primas poucas vezes não é a melhor mas consideram que o QUALIACA, explicado com mais detalhe pela Assessora da IACA, é fundamental para terem uma relação ainda melhor com os fornecedores.
Depois de uma interrupção por motivos de agenda, em que nos dedicámos ao acompanhamento de alguns dossiers de relevância para a Indústria, designadamente o Protocolo QUALIACA, a crise da pecuária ou os OGM, retomámos o Programa de visitas às Empresas nossas associadas, o qual faz parte do Plano de Ação da Direção da IACA e naturalmente dos serviços, cultivando a proximidade com as empresas, a partilha de informação e de conhecimento, a monitorização e crítica do nosso trabalho. Para fazer sempre mais e melhor, mesmo diferente, no sentido de servir as Empresas e defender legitimamente o Setor que representamos. Conhecer e divulgar a História que existe por detrás de cada fábrica.
e a Assessora Ana Cristina Monteiro, estiveram nas Rações Supervit, onde, para além da visita às instalações, tiveram uma reunião de trabalho com os seus responsáveis, Jorge Antunes e Sérgio Antunes.
Tendo presentes estes objetivos, em 15 de fevereiro, o Secretário-Geral, Jaime Piçarra,
Após o final da década de 90 e o alienar destas duas empresas, a Rações Super-
As origens da empresa remontam a 28 de julho de 1969, iniciando a atividade como armazenistas e distribuidores de adubos, sendo agentes das Rações CUF Sanders, marca na altura de grande prestígio no mercado. No início dos anos 80, dá-se o arranque da fábrica de rações com a marca Supervit. Na década de 80 e 90 a Rações Supervit, fabricava para o mercado livre e para as empresas Milave e Propinto, propriedade da mesma Família.
Foram discutidos outros projetos da IACA, como o alargamento da Associação a outras atividades, com o qual concordam, assim como os alimentos medicamentosos, a resistência antimicrobiana e os medicamentos veterinários, os OGM, e a Contratação Coletiva de Trabalho. Para além de termos respondido a todas as questões colocadas, foi abordada a necessidade de realizar ações de formação enquadradas em aspetos mais técnicos e fabris, gestão de risco (repetindo a ação que fizemos com a Mercolérida sobre a volatilidade dos preços) e na segurança alimentar. O importante seria o de destacar o controlo de qualidade, HACCP, e/ou homogeneidade das misturas. Referimos ainda, na sequência de outras sugestões, a preparação de visitas ao estrangeiro para visitar empresas inovadoras e de referência, que permitam melhorar a performance do nosso Setor. A IACA agradece as palavras de apreço pelo trabalho realizado e as sugestões que foram deixadas, as quais certamente irão ajudar a melhorar os serviços que prestamos aos associados. O nosso muito Obrigado à Supervit.
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INQUÉRITO SOBRE ALIMENTAÇÃO ANIMAL DA ALLTECH: TENDÊNCIA REVELA AUMENTO DE 14% NA TONELAGEM DE RAÇÕES A NÍVEL MUNDIAL NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS [DUNBOYNE, Irlanda.] – Com o aumento global do rendimento disponível, os consumidores desenvolveram uma apetência por proteínas ao longo dos últimos cinco anos e a indústria de rações deu-lhes resposta. Os resultados do inquérito “2016 Global Feed Survey” publicado pela Alltech estimam uma tonelagem de rações a nível internacional na ordem dos 995,5 milhões de toneladas, um aumento de 1,5 por cento no último ano e um aumento de 14 por cento desde que a Alltech publicou os resultados do primeiro inquérito “Global Feed Survey” em 2011. A análise das tendências dos últimos cinco anos demonstra um aumento predominante nos setores de rações para suínos, aves e peixes, bem como a intensificação da produção nas regiões de África, Médio Oriente, América Latina e Europa. “A indústria de rações é um excelente barómetro da situação económica e, com base nos dados que recolhemos ao longo destes cinco anos, permite prever o crescimento económico com maior precisão do que qualquer outro índice”, afirma Aidan Connolly, Diretor de Inovação da Alltech, que conduziu a iniciativa de realizar o inquérito. O “Global Feed Survey” avalia a produção de rações compostas em mais de 130 países, através de informações obtidas em parceria com associações locais de alimentação animal e a equipa comercial da Alltech, que visita mais de 32.000 fábricas de rações anualmente. O inquérito de 2016 demonstrou que as rações para aves detêm a maioria do mercado e registam um crescimento superior ao das outras espécies, com um total de 46 por cento das rações produzidas especificamente para frangos, galinhas poedeiras, perus, patos e outras aves. O inquérito deste ano também confirmou que o milho e a soja são os ingredientes padrão das rações a nível mundial. Os 10 maiores produtores de rações mundiais permanecem inalterados: China, Estados Unidos, Brasil, México, Índia, Espanha, Rússia, Alemanha, Japão e França. Como região, a Europa apresentou o maior crescimento, com cerca de 13 milhões de toneladas ao longo do último ano, sendo que os maiores contributos foram provenientes da Rússia, da Turquia, da Bielorrússia e da Polónia. Com uma descida de 2 por cento relativamente ao ano passado, a China mantém o título de maior produtor de rações no inquérito anual da Alltech, com 179,93 milhões de toneladas fabricadas nas 8550 fábricas de rações daquele país. No entanto, este é o ter48 |
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ceiro ano em que o líder mundial registou uma consolidação da tonelagem da sua produção de ração em relação a um número inferior de fábricas de rações. O número de fábricas de rações nos Estados Unidos e no Brasil, o segundo e terceiro mercado, respetivamente, também diminuiu. Os EUA produziram 172,73 milhões de toneladas a partir de 6012 fábricas de rações (eram 6718 fábricas em 2014) e o Brasil produziu 68,7 milhões de toneladas em 1556 fábricas de rações (eram 1698 fábricas em 2014). Segundo Aidan Connolly, a consolidação da produção de rações num menor número de fábricas deve-se a diversos fatores. “Os chineses, em particular, vêm vantagens em ter menos fábricas de rações, com diminuição dos custos, aumento da eficiência e controlo facilitado do ponto de vista da rastreabilidade e segurança alimentar”, afirma Aidan Connolly. Outras estatísticas em destaque sobre as regiões e espécies retiradas do inquérito de 2016 são: • As 5545 fábricas de rações na Europa, com as contribuições da Rússia, aumentaram a sua produção em 22 por cento em 2015, comparativamente ao ano anterior. O Médio Oriente demonstrou um aumento de 17 por cento, com 21,438 milhões de toneladas nas 719 fábricas da região. A África, a região Ásia-Pacífico e a América Latina registaram um aumento de 5, 4 e 3 por cento respetivamente, enquanto a América do Norte permaneceu inalterável. • A produção de rações para suínos diminuiu 2 por cento, com 253,53 milhões de toneladas. No que diz respeito às rações para peixes, com 35,47 milhões de toneladas registou-se uma diminuição de 5 por cento este ano, embora fora da China este número esteja aparentemente ligado à maior precisão na recolha de dados e não a um declínio específico, sobretudo porque tem registado crescimento, até 19 por cento a nível global ao longo dos últimos cinco anos. As rações para equídeos, na ordem dos 8,22 milhões de toneladas, diminuiu 2 por cento comparativamente a 2014. • A produção de rações para aves continua a subir, registando um aumento de 5 por cento e atingindo um total de 463,69 milhões de toneladas. A produção de rações para ruminantes também foi positiva, com 201,36 milhões de toneladas, representando um aumento de 3 por cento. As rações para animais de estimação registaram um aumento
de 4 por cento, com 22,59 milhões de toneladas. “Tendo contatado diversos grupos, nomeadamente a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em Roma e a International Feed Industry Federation (IFIF), a Alltech reconhece a dificuldade de recolha e tratamento destes dados, mas também reconhece o respetivo valor na nossa missão de alimentar um planeta com mais de 9 biliões de pessoas até 2050”, afirma Aidan Connolly. “Representando cinco anos de trabalho, este é o conjunto de dados mais sólido e fiável deste setor disponível atualmente.” O “Global Feed Survey” resume a estimativa da Alltech das tendências e tonelagem das rações a nível mundial e pretende servir de recurso de informação livre para responsáveis pela tomada de decisões e profissionais desta indústria. Recursos: Um resumo das conclusões do inquérito “2016 Alltech Global Feed Survey”, incluindo uma gravação do webinar com Aidan Connolly, um folheto com os resultados e um mapa interativo, estão disponíveis em: http://stories. alltech.com/global-feed-survey-2016.html. Sobre a Alltech: Fundada em 1980 pelo empresário e cientista irlandês Dr. Pearse Lyons, a Alltech melhora a saúde e o desempenho de animais e plantas, através da inovação científica e nutricional, particularmente com tecnologia baseada nas leveduras, na nutrigenómica e em algas. Com cerca de 100 fábricas a nível mundial, a Alltech é o principal produtor de levedura e minerais orgânicos, e a fábrica modelo de produção de algas no Kentucky é uma das duas únicas no mundo. O princípio ACE (Animal, Consumer, Environment) pelo qual a empresa se guia procura desenvolver soluções seguras para o Animal, o Consumidor e o Ambiente, e é ativamente apoiado por mais de 4700 membros da equipa em todo o mundo. A Alltech é a única empresa privada entre as cinco maiores empresas de saúde animal do mundo. Tal constitui uma vantagem competitiva, que permite à Alltech uma rápida adaptação às necessidades dos clientes e manter-se focada na inovação avançada e nos objetivos a longo prazo. Sediada em Lexington, no estado norte-americano do Kentucky, a Alltech está fortemente representada em todas as regiões do mundo.
CORRIDA SOLIDÁRIA ANGARIA 6.000 OVOS PARA CRIANÇAS DESFAVORECIDAS PROMOVENDO UMA ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA Elanco, já provou que pequenas ações por grandes causas podem ter um impacto social enorme pois na última iniciativa que organizaram em 2015, foram doados alimentos para 5.000 refeições para os 400 sem-abrigo que o CASA (Centro de Apoio ao Sem Abrigo) de Lisboa apoia todos os dias.
A Elanco e a CAC juntaram-se para apoiar o Movimento Enough que visa sensibilizar a população mundial para um melhor acesso a uma alimentação saudável.
No dia 21 de Fevereiro de 2016 às 10h, o movimento Enough organizou o seu segundo evento em Portugal. Este movimento internacional, cuja promotora é a
Desta vez, o Movimento Enough lançou o desafio à CAC que prontamente se associou a esta causa, que em tudo se enquadra nos seus valores. Assim, por cada quilómetro corrido pelos atletas do Mov’et, um grupo constituído essencialmente por veterinários que se juntaram para correr por uma causa, a CAC doou um ovo a organizações sociais que apoiam crianças e jovens. Este foco nos mais jovens deve-se às características nutricionais intrínsecas deste alimento e que são elemento essencial numa alimentação e crescimento saudável. No final do ano alcançaram o objetivo traçado: 6000 ovos angariados. O evento solidário contou com a presença dos responsáveis da Elanco, a representar o Movimento Enough, da Mov’et, da CAC e das 6 organizações sociais que receberam a doação dos ovos, nomeadamente a Ajuda de Mãe, Centro Social 6 de Maio, Associação Auxílio e Amizade, Casa dos Rapazes, Aldeias SOS e Fundação O Século. Para saber mais sobre o Movimento Enough visite www.sensibletable.com
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FICHA TÉCNICA ALIMENTAÇÃO ANIMAL Revista da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA NIPC‑ 500835411
TRIMESTRAL ‑ ANO XXVII Nº 95
AGENDA DE REUNIÕES DA IACA
Janeiro / Fevereiro / Março
DIRETOR Cristina de Sousa
CONSELHO EDITORIAL E TÉCNICO Ana Cristina Monteiro Germano Marques da Silva Jaime Piçarra Pedro Folque Manuel Chaveiro Soares
COORDENAÇÃO Jaime Piçarra Amália Silva Serviços da IACA
ADMINISTRAÇÃO, SEDE DE REDAÇÃO E PUBLICIDADE
Data
JANEIRO 2016
8
• Reunião na DGAV sobre o QUALIACA
12
• Reunião da Direção
20
• Debate na Assembleia da República sobre OGM
Data
FEVEREIRO 2016
3
• Reunião em Bruxelas no COPA-COGECA
4
• Grupo de Diálogo Civil “Culturas Arvenses” (Comissão DGAGRI, Bruxelas)
8
• Reunião no INE sobre Conjuntura dos Mercados Pecuários
12
• Encontro Técnico Cientifico de Nutrição de Bovinos – UTAD Vila Real
15
• Visita à associada “Rações Supervit, Ldª”
iaca@iaca.pt
18
• 8º Colóquio Nacional do Milho Açores – Ponta Delgada
SITE
19
• Plenário Secção de Pré-Misturas (SFPM)
24
• Reunião da Direção da IACA • Reunião com Associados sobre Alteração Estatutos e QUALIACA
(incluindo receção de publicidade, assinaturas, textos e fotos) Amália Silva IACA ‑ Av. 5 de Outubro, 21 ‑ 2º E 1050‑047 LISBOA Tel. 21 351 17 70 Telefax 21 353 03 87
www.iaca.pt
EDITOR Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – IACA
EXECUÇÃO DA CAPA
Data
MARÇO 2016
1
• CCT – Reunião de conciliação
EXECUÇÃO GRÁFICA
3
Sersilito ‑ Empresa Gráfica, Lda. Travessa Sá e Melo, 209 4471‑909 Gueifães ‑ Maia
• Reunião Presidium da FEFAC – Bruxelas • Grupo de Diálogo Civil “Acordos Comerciais” (Comissão DGAGRI, Bruxelas)
8
• Comité Pré-Misturas da FEFAC
9
• Comité Nutrição Animal da FEFAC
11
• Seminário “Perspetivas e Impacte das Negociações do TTIP no Setor Agroalimentar”
14
• Reunião com IBEROL • Reunião com CONSULAI
18
• Assembleia Geral da Bolsa do Bovino
Pedro Moreira da Silva
PROPRIETÁRIO Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais ‑ IACA Av. 5 de Outubro, 21 ‑ 2º E 1050‑047 Lisboa
DEPÓSITO LEGAL Nº 26599/89
REGISTO Nº 113 810 no ICS
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21 a 23
• Missão FEFAC ao Brasil – Soja Sustentável
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