Capa, projeto gráfico e diagramação. Livro de crônicas Fogo de Chão.

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Coletânea de textos publicados no jornal A Gazeta - SBS - SC

Toninho Gonçalves



Coletânea de textos publicados no jornal A Gazeta - SBS - SC

Toninho Gonçalves

1a Edição - 2017 SÃO BENTO DO SUL - SC - brasil

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Copyright © 2017 Toninho Gonçalves

Texto

Toninho Gonçalves Projeto gráfico e Diagramação

Aline Gonçalves dos Santos Scheffler com contribuições de Tiago André Gonçalves dos Santos e Joe Marçal Gonçalves dos Santos Revisão

Danielle Marangon Jung

Dados internacionais de catalogação na publicação Bibliotecária responsável: Mara Rejane Vicente Teixeira Gonçalves, Toninho. Memórias de um Fogo de Chão : coletânea de textos publicados no jornal A Gazeta - SBS - SC / Toninho Gonçalves. - São Bento do Sul, SC : Arte Final, 2017. 240 p. : 21 cm. ISBN 978-85-668616-04-8 1. Crônicas brasileiras. 2. Gaúchos - Usos e costumes - Crônicas. I. Título. CDD ( 22ª ed.) B869.8

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APRESENTAÇÃO

Sinto-me imensamente honrado em apresentar esta obra preciosa da cultura brasileira, fruto da sabedoria, do conhecimento agregado e da alma poética do amigo Antônio Gonçalves. Ora em prosa, ora em versos, ora em narrativas, o autor faz os seus leitores habituais da coluna Fogo de Chão, do jornal A Gazeta de São Bento do Sul - SC, todos os sábados se deleitarem com mostras dos costumes gaúchos. Suas linhas, de linguagem erudita e português fino, levam a todos conhecimentos impagáveis e propiciam aos seus leitores “asas à imaginação”. É pela nostalgia oportunizada nas bem concatenadas frases do autor que os leitores são levados a sonhar e a ter esperanças. E o que seríamos sem esperanças e sem saudades?! Resta, humildemente, agradecer ao Toninho por presentear a todos nós com a edição deste livro, que traz uma coletânea dos seus artigos semanais dedicadamente elaborados ao longo dos anos. Um livro para ler e reler. Para momentos de júbilo e também de introspecção. Vale a pena a leitura! Almir José Gorges

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AGRADECIMENTOS

Neste grato momento em que está sendo lançado meu trabalho sob o título Memórias de um Fogo de Chão, quero agradecer a Deus pelo dom da vida e à Erica, minha esposa, que quantas e quantas vezes estava acabando a tinta da minha caneta, isto é, não encontrava inspiração para escrever meus textos, então ela me fazia um costado e minha matéria acabava sendo enviada para publicação no jornal. Sou grato também aos meus filhos Joe, Aline e Tiago que, com a suas presenças em nossas vidas, me inspiraram não poucas vezes, quando faço referência à família, e de forma especial neste momento, quando estão participando diretamente na formatação deste livro. Agradeço também aos meus amigos Almir Gorges e Joni Peres que contribuíram com incentivo, ferramentas, críticas e elogios sobre os meus escritos e notadamente ao jornal A Gazeta, pelo espaço semanal a mim cedido sob a forma de cortesia, fatores estes que muito contribuíram para que minhas Memórias de um Fogo de Chão pudessem tornar-se realidade e ir ao encontro dos leitores dos meus textos elaborados nos últimos 15 anos e que se encontram compilados neste volume. O Autor

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PREFÁCIO

Amigo Leitor, Memórias de um Fogo de Chão é um compêndio de meus textos semanais publicados nas páginas do jornal A Gazeta de São Bento do Sul - SC, sempre aos sábados, desde 2002. Este volume traz os meus chasques publicados até 2005 e eu espero que eles tragam à memória do prezado leitor e da querida leitora um pouco daquilo que compartilhamos nas manhãs de sábados dessa faixa de tempo do passado. A forma como surgiu este volume atribuo às indagações de muitos amigos e da própria direção do jornal acima citado que, não raras vezes durante os últimos anos, questionaram: “por que tu não fazes um livro dos teus textos?”. Então eu aceitei o desafio. A coluna Fogo de Chão continua sendo publicada até o presente ano de 2017, portanto a história continua de tal forma que alhures poderão surgir outras Memórias de um Fogo de Chão. A empreitada de juntar as cinzas do meu velho Fogo de Chão e reacender esta chama nativa desde seu início, num primeiro momento, me pareceu uma tarefa difícil e distante de se tornar realidade, mas graças ao apoio e incentivo de minha família e de inúmeros amigos chegamos até aqui. Tenho orgulho de ser um Cataúcho, isto é: um Catarinense Gaúcho, nascido e bem criado na Terra dos Sete Povos das Missões e residente em Santa Catarina, desde a década de setenta, por este motivo todos os meus escritos trazem o sotaque e o semblante gaúcho. O peão ou a prenda que acompanham meus chasques semanais me perguntam algumas vezes qual o significado de uma ou outra palavra, por esta razão, no final de alguns textos procurei inserir o significado de palavras que eventualmente o prezado leitor ache um pouco diferentes, mas que são usadas na lida e no linguajar diário do gaúcho. As páginas deste volume não apresentam uma sequência de fatos, pois os textos foram elaborados reportando-se aos acontecimentos da ocasião.

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O leitor vai deparar-se com nomes ou referências de pessoas que talvez já tenham falecido ou outros nomes que são citados por fazerem parte de algum fato que estava ocorrendo na época. São narrativas feitas semanas após semanas, contando histórias ora hilariantes, ora de cunho político-social e algumas até com um tom de tristeza. Boa leitura, meus amigos.

Toninho Gonçalves

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Reflexões de quem anda por aí “Extraviei pelas distâncias pedaços do que juntei. E os assobios que deixei pra entreter as demoras Sonorizando as auroras nos horizontes tranquilos Renascem cantos de grilos nas rosetas das esporas. Por entender os que sofrem basteriei os sentimentos Sempre embuçalo momentos que tironeiam meu ser. Isso me fez aprender que os lançantes de ternura São luzes pra quem procura um rumo para crescer”. (Pedro Ortaça) Amigos da Gazeta e do nosso Fogo de Chão: Bomba, cuia, chimarrão e um cepo pra ir sentando, porque aos poucos lhes vou contando um causo que sucedeu. Era um feriado, aliás um dia santo, e dia santo o gaúcho respeita mais do que conselho de padre. Manhã de abril, outono prenunciando inverno brabo. O índio velho encilhou seu pingo, que era um bagual de raça. Entrou a passito num capão de mato, de repente uma onça-pintada saltou na frente do cavalo e pelo resmungo da bicha o gaúcho viu que ela não estava a fim de perder o almoço. Apeou, sacou da faca prateada que já fora de seu pai e se interpôs entre a onça e o alazão. Nesta hora de perigo, como todo o vivente faz, lembrou-se do PATRÃO VELHO lá de riba e fez sua prece xucra mais sincera, orando com estas palavras: “Patrão Velho, você me conhece muito mais do que eu penso, sabe quanto eu preciso do meu cavalo por isso te peço: me ajuda a defender o meu amigo. Se você estiver do meu lado me ajude a cravar minha faca bem no coração dessa fera, mas se você estiver do lado dela, faça com que ela me mate primeiro, porque eu não quero ver meu amigo morrer. Agora... se você não está do meu lado nem do lado da onça, porque a lei da sobrevivência eu também respeito, se for assim, Patrão Velho, puxe um cepo e vá sentando pra olhar porque esta peleia vai ser das buenas.” Até de repente. 04 de maio de 2002.

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O Horizonte é mais longe

Buenas Patrício amigo, irmão de Pátria, fé e querência! Ao abrir as cancelas deste Fogo de Chão, quero fazer uma homenagem crioula, simples mas de coração, à nossa querida São Bento do Sul. Pedra preciosa, incrustada no topo da Serra do Mar. Linda princesa que o sol vem aquecer primeiro. Terra de lindas prendas, loiras e morenas, quando meu coração se apequena pra cantar tanta beleza. Nas quatro estações do ano, no dia a dia a clarear, o grito do quero-quero é um clarim a despertar um povo de luta e labor, que segue pra seu trabalho com dedicação e amor. Escutando, a lo largo, o burburinho dos meus conterrâneos indo e vindo para o trabalho, lembro-me de uma frase que há 50 anos está gravada na minha mente e coração. Esse dístico estava estampado na minha primeira cartilha, o meu livro “Queres Ler?”, que dizia: “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever”. Hoje, uma grande massa de brasileiros, entre humildes e honrados, tem esse mote, se não por normas, por ideal ou formação de família. Excetua-se naturalmente, neste caso, uma catrefa de brasileiros que, sob um título público ou político, enchem os bornais e alforjes com as nossas magras patacas e mandam pra mão dos gringos, e nós ficamos “a ver navios”, carregados com nossas riquezas, esvaindo-se assim as veias fortes e ricas do nosso chão verde e amarelo. Está na hora do lenço maragato voltar a tremular solto ao vento, como símbolo de repúdio, protesto e descontentamento com os desmandos que enxovalham nosso país.

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Se concordas comigo, nosso horizonte está mais longe, e não serão promessas politiqueiras e vãs, descumpridas e não honradas, que nos tirarão a esperança de um Brasil melhor para nossos filhos. Eu te peço, tchê: dê ao teu voto o valor que ele merece. Não votes em carancho ou desconhecido. E te digo mais ainda: voto em branco ou nulo não faz parte da nossa índole libertária. Pensem nisso enquanto digo: Até de repente.

Do gauchês: Lenço maragato - cor vermelha - oposição. Lenço chimango - cor branca - situação. Carancho - ave de rapina, só pousa para apanhar a presa.

11 de maio de 2002.

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Amigos do Fogo de Chão

Com um forte “quebra-costela” cumprimento os amigos deste “Fogo de Chão” tão galponeiro e acolhedor, mormente nesta entrada de inverno que tarda mas não falha. A coluna de hoje dedico aos namorados de 15, de 30 ou de 70 anos. Estes então são os eternos namorados. Rima de Alma e Coração: Dizia um velho cantor que vivia o tempo a cantar “Quem vive o tempo cantando, não vê o tempo passar”. Quanto mais velho eu me torno, minh’alma fica mais menina, pois experiência e amizade jamais se encontram em bodega. São duas pedras preciosas, e quem as tem na garupa peleia por elas mas não entrega. Disseram a lo largo que o gaudério Só é homem para o lombo do cavalo, E há quem diga que não tem nem coração Só se emociona com o estrondo do pealo ou do trovão. Mas eu, homem rude dos fogões da pampa imensa, Chinchando a vida e o trabalho calejando a minha mão, Em meus sonhos, no galpão da noite imensa, te vejo, E sinto, que a saudade aperta o coração. Em cada taipa de açude abandonado no rincão, Te apeio, calma, da garupa do meu pingo E me enrodilho no teu corpo de ilusão. Livre adaptação do texto de Antonio Carlos Machado Como outros tantos namorados fomos comemorar esse dia no Búfalo Branco e fomos recebidos pela fidalguia e fina educação do seu proprietário, nosso conterrâneo e amigo Reinaldo, que com sua família e equipe cativa o cliente tanto pelo atendimento como pelo cardápio oferecido. O trio Artemanha e a Patrícia abrilhantaram a noitada com os imortais boleros e outros ritmos. Parabéns aos namorados. Até de repente. 18 de maio de 2002. 12


Reflexos do Orvalho

“Tenho um raio de sol, tenho um riso guri, Não me falta mais nada nesta calma alvorada para andar por aí, Se eu não tenho mais tino, se meu sonho é menino Que me importa afinal... que me importa este choro Se me resta o consolo de um clarão matinal, Se as manhãs do meu tempo já não têm mais alento Vou aguentando o tirão, vou curando as feridas Nas manhãs desta vida que rebrotam do chão”. Amigos desta coluna, com a parceria de Nenito Sarturi abro as porteiras deste chasque com vazão à veia poética que se aquerenciou em meu peito, falando em:

LIBERTAD As calmas manhãs de outono inspiram a pena e o poeta A alma fica pequena e o coração se irrequieta Dou rédeas ao pensamento, e sai como alazão, campo afora Em busca da liberdade, no lusco-fusco da aurora. Liberdade é como chinoca faceira linda, arisca e cobiçada Quem a tem não valoriza, às vezes até a ironiza, Mas quem está preso quer buscá-la, com ânsia desesperada.

DE ILUSÕES (sem fim, sem começo) No mercado de ilusões que povoa nosso universo ninguém sabe o que compra, nem mesmo o que se vende Mesmo porque ninguém entende pois a moeda é “verso e reverso”. É a sina do andejo, nas apostas de taberna, pensando em passar o tempo, mas é o tempo que lhe passa a perna. 13


É o tempo que passa... que passa... sem princípio, sem fim, sem medida, Vai levando, do mundo, as desgraças, vão com ele as vaidades da vida. Por isso, caro leitor, viva bem o dia de hoje, porque é o primeiro dia do resto da tua vida. Até de repente.

Do gauchês: Chasque - recado, mensagem. Tirão - puxão brusco. Tino - juízo, discernimento. Lusco-fusco - anoitecer ou amanhecer. Chinoca - termo carinhoso para se referir à menina/moça.

25 de maio de 2002.

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Gaúcho SIM, mas sem pretensão

Senhores, “Por bem, entrego a guaiaca e fico liso, sem um pila, porém, à ponta da faca ninguém me tira da trilha. Afinal, não tenho marca nem herança de família porque um dia nasci pelado no lombo destas coxilhas. Jamais arrotei grandeza pois fortuna não me encanta porque a minha maior riqueza Deus já me deu na garganta. Sou mais um que vira a mesa e faz chover quando canta pois pra pelear com a tristeza a minha voz se levanta.” Pedro Ortaça Nunca pensei em ficar rico, nem muito menos mais pobre. Por isso há uma alma nobre pra compreender os deserdados. E não há filosofia e nem curso de mestrado pra entender os que precisam e ajudar necessitados.

MINHA TERRA, MEU CHÃO Aos desgarrados do pago, dou meu grito de alerta, A fronteira está sempre aberta pra ir e vir sem receio. A saudade fica no meio pra compensar as andanças. Vá como se fosse criança em busca de um afago Hás de encontrar em meu pago Churrasco, arroz carreteiro e bom chimarrão À noite, tertúlia e gaitaço Com a marca xucra do meu chão. E se é vermelha minha terra não considere sujeira, pois foi nessa polvadeira que Sepé venceu a guerra.

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POÉTICO E TÉTRICO Se o anoitecer te entristece, considere um acalanto Pois é a querência com seu canto, que o verde pampa enternece. No más, a noite é sempre passageira A não ser para os que morrem dormindo Que às vezes até ficam sorrindo Para os que estão na cabeceira.

Até de repente.

Do gauchês: Guaiaca - cinturão de couro. Pila - dinheiro. Desgarrados - longe da terra natal. Pago - local onde a pessoa está aquerenciada, ou seja, onde está vivendo. Sepé Tiaraju - herói indígena que combateu os conquistadores espanhóis nas missões do povo guarani.

01 de junho de 2002.

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AMIGOS DO FOGO DE CHÃO

“Estendo a mão, cumprimento, também retiro o chapéu. Entendo as coisas do tempo olhando as coisas do céu”. Com este versito de Cenair Maicá, um dos melhores cantores missioneiros, eu abro esta coluna e, de fato, estendo a mão a todos os leitores da Gazeta de uma forma bem campeira, falando do nosso enorme prazer em chimarrear com vocês todos os sábados. E neste dia 8, de uma forma mui especial porque, entre uma rodada e outra de chimarrão, estaremos torcendo pela seleção canarinho. Enquanto escrevo esta coluna os “homens” estão fazendo o último treino antes de enfrentar a China. Aliás, China aqui no pago tem outra conotação, pois é a prenda, a mulher, e, neste caso, se enfrentar a China, o gaudério vai apanhar de relho, porque em mulher nunca se bate, se dá uma flor. “...e foram tantos os amores que se fossem flores teria um jardim... mas qual, nada dou, nada quero pois índio gaudério não tem coração”. Por falar em flores, no dia 28 de maio festejamos os 54 anos da Fiação São Bento; empresa do grupo em que me orgulho de trabalhar há mais de 30 anos. Na ocasião, entre outros atos tivemos oportunidade de homenagear uma série de colegas por seu tempo de casa, entre eles nossos diretores, Sr. Henrique Loyola, com 30 anos de empresa, e Sr. Horst Maul, com 50. Ambos receberam uma placa de honra ao mérito, confeccionada em ouro envelhecido com um bonito chasque de patrão. Este meio século de progresso contínuo é o testemunho vivo da perseverança, do idealismo e do trabalho destes dois cidadãos e sua equipe. Como disse o nosso amigo Luiz Henrique da Silveira: “onde estes homens põem a mão, a coisa anda”.

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Entre os inúmeros amigos que tenho na Vila Schwarz, eu tiro o chapéu para o Polaco (o irmão de Eder) que, no trato e no tranco da sua potranca zaina, forma o perfil do gaudério com boa montaria. Cuida bem dessa égua tchê, pois ela ainda promete muitos troféus de laço para você. Abri a porteira desta coluna falando do céu e a encerro falando do tempo, pedindo ao Patrão Velho que não demore muito pra nos mandar o inverno, pois nesta primavera ainda quero ver “As madrugadas que clareiam com os campos pelechando em flor, chinocas pedindo amor e potros que corcoveiam”. Até de repente.

Do gauchês: Gaudério - índio sem riqueza, sem raiz, tendo por ideal o respeito e a liberdade. Zaina - cor marrom escura. Pelechando - início de floração.

08 de junho de 2002.

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cusco amigo Fogo de lenha, pinhão na chapa, um bom vinho, cusco do lado, como a pensar: se o meu dono pode, eu também posso. É o companheiro amigo, nunca reclama da boia. Se às vezes é maltratado, é porque teve a “mala suerte” de ter um dono não tão bom como o próprio cachorro. Já ouvi dizer que o cachorro é um bicho inútil. Eu discordo. Naturalmente não dá pra comparar com alguns viventes que têm duas pernas e não latem mas falam demais, o cachorro só late e anda de quatro. Oportuna a entrevista com o Pedro Pipoca, que me perdoe ele, mas assim o conheci e nem por isso torna-se menos digno como pessoa humana. Aliás, se todos nós são-bentenses tivéssemos a consciência do Pedro Pipoca quanto ao destino correto do lixo, não haveria tantas bocas-de-lobo e bueiros entupidos em nossa cidade. Mania ou cacoete, como queiram chamar, para mim se chama educação e consciência para com a mãe natureza. Caros leitores do Fogo de Chão, falar bem dos amigos enche a alma e fortalece os ossos, e entre os meus amigos me orgulho em incluir o Odorico Gonçalves. Este sim é mais um irmão de Pátria e Querência. Empresário bem sucedido, traz a cabresto a humildade. Daí o seu sucesso. Cumprimentos à Rita, sua prenda. Além dos amigos proprietários da Gazeta, divido o calor e a fumaça do Fogo de Chão com os leitores que em boa parte não usam bombacha, mas nem por isso deixam de ser simpatizantes com os valores da nossa cultura. Até de repente. Do gauchês: Tirador - espécie de avental de couro curtido ou de sola. Pilcha - roupa típica do gaúcho. Dinheiro. Grana. Despilchado - mal vestido, sem dinheiro ou bens. Cusco - cachorro. Cão. 15 de junho de 2002.

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Buenas, amigos da Gazeta e do Fogo de Chão Permito-me brindá-los com um poema de minha autoria publicado no jornal literário Letras Santiaguenses, da cidade de Santiago do Boqueirão, Rio Grande do Sul, dedicado especialmente ao Tio Bala (Wilson Balardini), de bombacha, mala e cuia. Manias de Peão Gaudério Se hay cousa neste mundo que orgulha qualquer vivente É dizer-se descendente da velha cepa charrua, trazendo as marcas do tempo no bronze da fronte nua. Nunca rejeitei trabalho pelas quebradas da vida. O campo foi minha lida desde os tempos de guri, No alforje trago os ditados que o meu velho deixou pra mim: “Meu filho, dizia ele, com a calma de água de poço, Quando tu ficares moço hás de te lembrar de mim... Respeites pra ser respeitado e não troques teu não por sim”. Assim, segui seus conselhos, desde os tempos de milico, Nunca pensei em ficar rico, mas quero ter paz e aconchego; Dormir em paz com a consciência em cima dos meus pelegos. Ser gentil e cavalheiro são qualidades de um gaudério Que leva sua vida a sério na defesa de um ideal, Nas rondas de sesmarias, ou charla circunstancial. Quando me pediram ajuda, com caneta, laço ou arado, Eu não me fiz de rogado, pois sou do tipo “João faz tudo”, Não dobro esquina pra gringo nem pra quera melenudo. No bolso, magras patacas, de mil domas de aporreados, Ou de algum jogo de carteado disputado mano a mano. Mas nem por isso me aborreço, pois de longe reconheço O meu destino aragano. E assim, entre pealos e embretadas, cheguei à estância final, Encurto as rédeas do bagual e vou rumbando a despacito, Me aquietando na minha vida pois já encontrei minha Guarida, Neste meu pampa bendito. Do gauchês: Charrua - da tribo indígena que havia no Rio Grande do Sul. Aporreado - cavalo difícil de amansar. Pealo - ato de laçar o animal ou quando o gaúcho leva uma queda, uma surpresa desagradável. Embretada - dificuldade, enrascada. 22 de junho de 2002. 20


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