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INTRODUÇÃO

Além de ser a forma mais antiga, o canto é também a maneira mais natural de se fazer música, acompanhando a maior parte dos seres humanos por toda a vida. Diferente de um violão ou um piano, por exemplo, a nossa voz pode estar sempre com a gente, e ninguém diz que vai passar em casa para buscar a voz, ou que precisa de um apartamento maior para caber a sua voz, não é mesmo?! “O instrumento mais perfeito que existe, e que serve de referência para todos os outros, é a voz. Habilidades musicais como composição ou leitura musical também podem ser desenvolvidos a partir dele” (ROMANELLI, 2011, p. 51).

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Neste material, reuni exercícios desenvolvidos a partir da ludicidade, com referências da cultura tradicional brasileira, para serem trabalhados com vozes de crianças a partir de seis anos. Além da explicação de como devem ser executados, os exercícios vêm acompanhados de outras informações nas sessões “para ouvir”, “para entender mais de música” e “para pesquisar”, com sugestões de materiais que possam complementar a aula de canto. O objetivo é desenvolver não só a voz, mas a musicalidade da criança.

As atividades do livro foram organizadas iniciando com a preparação do corpo e da respiração. Em seguida, sugerimos exercícios utilizando consoantes sonoras, pois já preparam para um uso mais consciente da voz. Na sequência, propomos exercícios com uma progressão na dificuldade rítmica e melódica, iniciando em seguida com graus conjuntos, seguindo para melodias com saltos e alternando os modos maior e menor.

O treinamento auditivo é fundamental para a afinação da voz, pois muitas pessoas memorizam a música em uma tonalidade, mas têm dificuldade de cantá-la em outro tom. A modulação cromática dos exercícios é um bom treino para essa percepção. Para os que tiverem mais dificuldade, sugerimos modular os exercícios também em saltos. Mas acredito que o mais importante é nunca dizer ao aluno que ele é desafinado. De um modo geral, todos são capazes de cantar afinado e, mesmo assim, vez ou outra, todo mundo desafina. Até mesmo os grandes cantores.

É importante dizer que, mesmo tendo sido pensados para crianças, os exercícios e informações contidos neste livro podem ser aplicados a pessoas de todas as idades. Além disso, durante o caminho, trago algumas falas de educadores musicais para inspirar o nosso trabalho e, no final, deixo um espaço dedicado ao planejamento das aulas, como organizar os exercícios e a rotina com o aluno.

Carta Para O Professor

Querido professor, que desafio e também que alegria trabalharmos com vozes de crianças!

Nessa fase, o trabalho ainda é muito próximo ao de uma aula de musicalização. Inclusive, é desta área que podemos buscar muitas referências para enriquecer as nossas aulas. Devemos aproveitar a sensibilidade das crianças para aprender música de forma lúdica, através de jogos... e sempre cantando.

Um dos principais desafios é mostrar para o aluno a importância dos cuidados com a voz, como não gritar ou não se acostumar a imitar a voz de um adulto. Estas observações precisam ser feitas sempre, para que a criança entenda a sua importância - mas tudo sempre, sempre com bom humor. Gosto de dizer para o aluno que “queremos que a sua voz continue bonita e saudável, com 07, 17, 27, 77... até 107 anos”.

Não precisamos e nem devemos tratar os alunos com a rigidez de uma aula de técnica de instrumento tradicional (como costumávamos ver antigamente), mas sim criar um ambiente no qual eles se sintam acolhidos e, assim, prefiro uma abordagem mais leve, priorizando o prazer de cantar. Quanto mais a criança se sentir confortável na aula, mais ela irá se dedicar. Ao invés de passar uma música para estudar em casa, por exemplo, gosto de ensinar a música na aula de forma divertida, e a consequência será ela cantar em casa, como uma atividade prazerosa e de lazer. Claro que, conforme o trabalho for avançando e a criança for ficando mais velha e mais madura, as exigências vão aumentando, mas sempre com o cuidado de que não fique chato. Já temos muitas coisas chatas na vida, e cantar não precisa ser uma delas.

Não temos uma longa tradição de aulas de técnica vocal para crianças. Isso ainda é algo novo e nós, professores, estamos buscando, conhecendo e construindo estratégias para trabalhar com essas vozes. Por isso, gosto de chamar as atividades propostas de jogos ou desafios (ao invés de “brincadeiras”), para estimular a criança a fazer atenta às “regras”, se dedicando ao resultado esperado. Mas gostaria de lembrar que esta não é uma obra fechada ou um método definitivo. Pelo contrário! Espero que a partir dos exercícios e informações contidos neste livro, e das suas vivências, você também possa criar novas atividades e materiais. Os exercícios de movimento ajudam bastante no trabalho musical, mas precisamos ficar atentos para que a voz não fique “gritada”.

O papel mais importante do professor é indicar o caminho para que a criança goste de cantar, se divirta e se sinta segura, além de aprender a usar e cuidar bem da voz. E eu espero que este material ajude a trazer isso para as suas aulas!

Com carinho,

Carta Para O Aluno

Querida criança... Se está lendo esta carta, provavelmente você já canta, gosta ou se interessa pelo assunto. E isso é demais! Eu tive experiências maravilhosas cantando durante a minha infância, que contribuíram muito para a pessoa que eu sou hoje. Espero que você também tenha ótimas vivências cantando. Você sabia que, até quando vamos tocar outros instrumentos, cantar ajuda bastante?!

Eu criei os exercícios deste livro para que as aulas de canto ficassem cada vez mais animadas e cheias de informações bacanas. Aqui você vai encontrar várias referências de coisas legais sobre música - mas eu não vou dar spoiler.

Só quero muito que você se divirta, cuide da sua voz e (com as orientações do seu professor) continue cantando por muitos e muitos anos. Pois não é segredo para ninguém que “quem canta seus males espanta”.

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