Almanaque Brasil 143 - Março 2011

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Vale o escrito

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diamente. Não pude frequentar nenhuma escola e fui alfabetizado só na adolescência. No entanto, isso me fez aprender tudo para reconhecer em cada nova obra o quanto ainda não sei. Foram eles, os livros, que dimensionaram a minha ignorância. Hoje tenho livros espalhados por todos os lugares, para sempre recorrer a seus ensinamentos quando preciso. Muitas vezes, simplesmente para me deleitar com a sabedoria e com as palavras ordenadas de modo preciso – o que me causa sempre uma baita inveja. Como é difícil escrever! Posso dizer que li todos os livros que ilustrei – e foram muitos. Era condição inegociável para a minha participação. Essa imposição muitas vezes gerou reclamações das editoras. Para elas, ler era desnecessário para o ilustrador. Os editores, habituados a lidar com companheiros de ofício, indicavam o que pretendiam para a ilustração do livro e essa informação bastava para o ilustrador. Eu jamais admiti tal comportamento. Primeiro, por ter gosto pela leitura; segundo, e mais importante: a leitura sempre foi a única inspiração para os meus desenhos. Tive a sorte e o prazer de ilustrar textos de grandes escritores. Nenhum jamais reclamou do que viu. Alguns, claro, não poderiam reclamar por já estarem mortos. Mas eu os tratei com a reverência que mereciam. Imagino que ficariam felizes com o respeito e a absoluta sinceridade que dediquei ao trabalho, sempre que emprestei a seus grandes escritos meus modestos desenhos. Era a forma de convidar as pessoas para a leitura de seus livros, contos, ou mesmo artigos para jornais e revistas. Para todo e qualquer livro que leio tenho uma ideia de capa. Naturalmente, nunca se parece com a capa que tenho nas mãos. Muitas vezes, brinco de rabiscar a capa que me parece mais apropriada para a história que li, sempre com saudade do livro que vou devolver às prateleiras. Levo-o com o cuidado de quem carrega cristais, pois sei que, quando precisar reencontrá-lo, estará lá, à minha espera, como um velho amigo que nunca se despede. Para os livros nunca se deve dar adeus.

ARMAZÉM DA M E MÓRIA NAC IONAL Diretor editorial Elifas Andreato Diretor executivo Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisora Liliane Benetti Assistentes de arte Guilherme Resende, Rodrigo

Terra Vargas e Soledad Cifuentes Gerente administrativa Fabiana Rocha Oliveira Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Gráfica Oceano

PUBLICIDADE Belo Horizonte: (31) 3281-0283 Marco Aurélio Maia • mam@alol.com.br Rio de Janeiro: (21) 2245-8660 Fernando Silva • fernando@gestaodenegocios.com.br Enio Santiago • enio@gestaodenegocios.com.br Vitória: (27) 3389-3452 Flávio Castro • flavio@gestaodenegocios.com.br Outras localidades: (11) 3873-9115 Maria Fernanda Santos • comercial@almanaquebrasil.com.br Distribuição em voos nacionais e internacionais:

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Elifas Andreato

Um país se faz com homens e livros. Monteiro Lobato

nossa capa Daniel Bueno

divulgação

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edico este texto a todos os que amam os livros. Eu aprendi a amá-los tar-

Formado em Arquitetura e Urbanismo pela USP, Daniel atua como designer e ilustrador. Sua obra já rodou o mundo, em cidades como Bolonha, Nova Iorque, Barcelona e Ottawa. No Brasil, publicou trabalhos em diversas revistas e jornais, como Folha de S. Paulo, Superinteressante, Quatro Rodas e Caros Amigos. Seus traços também estão nos livros Um Garoto Chamado Rorbeto, de Gabriel O Pensador (prêmio Jabuti de melhor livro infantil em 2006), e A Janela de Esquina do Meu Primo, de E.T.A. Hoffmann. Atualmente, cursa mestrado na USP sobre a obra do cartunista Saul Steinberg. Para conhecer mais o trabalho do capista desta letrada edição do Almanaque, acesse www.buenozine.com.br.

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le foi dono de uma das mais importantes emissoras de tevê dos anos 1960 – importante até hoje, aliás. Com seus festivais de música, revelou nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão. Também comandava emissoras de rádio. Mas sua grande paixão era o futebol. Tanto que o mais charmoso estádio de São Paulo leva o seu nome. Formado em Direito, ele fundou sua rádio em 1931. A emissora cresceu rapidamente, com seu trabalho incansável por trás da mesa de negociações. Em 1953, inaugurou a emissora de tevê. Ao mesmo tempo, mantinha-se como diretor do São Paulo, clube do qual mais tarde seria presidente. Sob seu comando, o tricolor paulista ganhou vários campeonatos, fato que chamou a atenção do presidente da Confederação Brasileira de Desportos, João Havelange,

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que o convidou para chefiar a Seleção na Copa da Suécia, em 1958. Pela primeira vez, psicólogos, dentistas e massagistas integraram a delegação. O dirigente criou até uma espécie de cartilha com 96 itens a serem seguidos. Como resultado, o escrete canarinho voltou empunhando sua primeira Copa do Mundo, fato que se repetiria quatro anos depois, novamente sob seu comando. Também sabia ser extremamente supersticioso. O mesmo terno marrom que usou na estreia em 1958 seria usado em todos os jogos até a final contra a Tchecoslováquia, em 1962. Sua ótima passagem pela seleção lhe renderia um apelido: O Marechal da Vitória. Dali para frente, continuou a flertar com o futebol e a comandar suas emissoras. Morreu em 7 de março de 1992, pouco depois de a tevê que dirigiu ser vendida a donos de uma igreja evangélica. (BH)

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Um boato correu pelas ruas cariocas em 1937: Noel Rosa está morto. Não estava, mas continuava muito doente, acometido por uma violenta tuberculose. Para confirmar que o Filósofo do Samba estava vivo, o repórter de uma revista foi à sua casa em Vila Isabel. Noel estava abatido, mas falou sobre projetos musicais. Dois dias depois, inspirado pela matéria, foi a vez de uma vel violão. Era a última foto de Noel, que morreria um mês depois, durante a passagem do asteroide Hermes próximo à Terra. Assim como no ano em que nasceu, em 1910, quando o cometa Halley deixou seu rastro pelos céus.

Reprodução/AB

equipe de A Noite bater à sua porta. O fotógrafo registrou o artista empunhando seu insepará-

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Tomé de Souza, governador-geral do Brasil, funda a cidade-fortaleza de São Salvador, desde já capital da Bahia.

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O povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba é reconhecido como vila. Só após dois séculos viraria cidade e, depois, capital.

Para encher panela, 300 mil romperam o silêncio

Reprodução/ AB

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Repressão à Greve dos 300 mil.

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SAIBA MAIS História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil, de Vito Giannotti (Mauat, 2007).

APESAR DE VOCÊ

Chico jurou de pés juntos que queixa era contra mulher mandona

avia um ano que Chico Buarque estava autoexilado na Itália. Por um amigo, soube que a situação no Brasil havia melhorado. Não foi o que viu quando desembarcou no Rio em 1970. O cenário era de censura, tortura e arbitrariedades promovidas pelo governo. A situação o inspirou a criar então Apesar de Você, que sairia em compacto, com Desalento do outro lado. Até hoje Chico afirma que essa é uma de suas poucas músicas realmente dirigidas aos militares. O compositor enviou a canção à censura sem muita esperança de que fosse aprovada. Não se sabe como a música voltou liberada e sem cortes. O compacto vendeu mais de 100 mil cópias em menos de um mês. Quando o governo se tocou que o “você” da letra poderia ser o presidente militar Emílio Garrastazú Médici, a SAIBA MAIS No site do Almanaque, ouça Apesar de Você. www.almanaquebrasil.com.br

música já estava na boca do povo: Apesar de você / Amanhã há de ser outro dia... A polícia invadiu a gravadora. As cópias foram destruídas. O censor que liberou a letra foi punido. O compositor foi chamado para explicar quem era o tal “você” da canção. Chico saiu-se com essa: “É uma mulher muito mandona”. A partir daí, as composições do ex-símbolo do bom-mocismo começariam a ser recebidas com má vontade especial pelos censores. A canção tornou-se uma espécie de hino contra a ditadura militar. Numa carta a Vinicius de Moraes, Chico explicou com despojamento a experiência de gravar uma de suas primeiras músicas contra a ditadura:“Deu bolo com o Apesar de Você, tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para (BH) tirar um sarro”.

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ão, não era permitido fazer greves em 1953 – elas estavam proibidas desde o governo de Dutra (1945-1951). Mas isso não impediu que 60 mil operários aderissem à paralisação e fossem para a manifestação da “Panela Vazia”, no centro de São Paulo. Na semana seguinte, em 25 de março de 1953, já eram 300 mil. Getúlio Vargas havia assumido o poder, mas o salário-mínimo continuava praticamente sem aumento em um período em que o preço da cesta básica tinha dobrado. A data é histórica para o movimento sindical no Brasil e referência para greves ainda maiores nos anos 1970 e 1980. A manifestação reuniu operários têxteis, metalúrgicos, vidraceiros, gráficos e marceneiros. Pararam quase toda a indústria e, o principal, tiveram o apoio de outros setores. O sindicato dos médicos, por exemplo, se mobilizou para atender os feridos pela repressão. Demorou um mês, mas o Tribunal do Trabalho sentenciou a redução de 32% da jornada laboral. Mais tarde, os trabalhadores receberiam a notícia de que o salário-mínimo dobraria (NP) no ano seguinte.

Manuscrito original de Apesar de Você.

estação colheita

O que se colhe em MARÇO Caqui, fruta-do-conde, uva itália, atemoia, graviola, limão tahiti.


Origem da expressão

emos hoje aquecer algo

o de Maria, “a judia”, pod BANHO-MARIA Graças à invedençãque vem de muito imar a parte de baixo. A expressão

m dos maiores poetas parnasianos brasileiros, Olavo Bilac gozava de prestígio entre intelectuais, políticos e entendidos de literatura. O autor de Língua Portuguesa também foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, na qual ocupava a cadeira de número 15. Esse status foi comprovado quando a revista Fon-Fon convocou 173 escritores para eleger “o príncipe dos poetas brasileiros”. A disputa foi apertada, mas o resultado do concurso, lançado em 1º de março de 1907, não deixou margem para dúvidas: 39 escritores elegeram o carioca como o mais talentoso dos poetas nacionais. Muita gente concordou. Mas os parnasianos começariam a ser malvistos pelo distanciamento de questões populares e cotidianas. Oswald de Andrade, ironicamente, dizia que não precisava inventar a máquina de fazer versos: “Já havia o poeta parnasiano”. Carlos Drummond de Andrade, muitas décadas depois, criticou o título dado pela Fon-Fon, concluindo: “A poesia parnasiana de Bilac, bela e suntuosa, correspondia a uma zona limitada de bem-estar social, bebia inspiração europeia e, mesmo quando se debruçava sobre temas brasileiros, só era captada pela elite que comandava o sistema de poder político, econômico e mundano”. (BH) SAIBA MAIS No site do Almanaque, leia uma seleção de poesias de Olavo Bilac.

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Antônio Carlo

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Professor montou observatório astronômico em cima de casa

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ma noite enluarada. Um telescópio emprestado e o menino Antônio deu de cara com uma paixão. Observar os céus passou a ser a atividade preferida dele. Não eram poucos os que diziam que Antônio Carlos Oliveira nasceu virado para a lua, com vocação para a ciência. Estudou biologia e tornou-se o professor Tom nos anos 1980. Para ele, cada aula na Escola Estadual Professor Milton Cruzeiro, na zona leste da capital paulista, é momento de despertar o cientista que dorme dentro de toda criança. Mas, aos poucos, a sala de aula ficou pequena. Tom precisava estender seus horizontes. E o céu era o limite. Em cima da laje da casa dele foi instalada a cúpula do Observatório

Astronômico Albert Einstein, construído com recursos e mão de obra do próprio professor. De lá, os alunos têm a experiência de ver estrelas e planetas muito melhor do que nas páginas dos livros. A aula continua na rua. Telescópios doados ao professor transportam os estudantes para o universo. Os pontos luminosos aos poucos enchem o céu e os olhos da meninada. Vênus, Júpiter, uma infinidade de estrelas. Uma das lições, Tom aprendeu cedo, e não se cansa de repetir: conhecer o céu é a única maneira de salvar a humanidade. “Observando lá fora vemos que a Terra é única, rara. A vida que existe nela é o fenômeno mais complexo do universo, um fenômeno especial.” (Laís Duarte)

SAIBA MAIS O que É Ser Astrônomo?, de Ronaldo Mourão (Record, 2004).

enigma figurado

quarta-feira de cinzas, 4 de março de 1974, ele finalmente E m umaA mãe lhe deu o nome do famoso escritor colombiano

Reprodução/ AB

Revista de amenidades elegeu Bilac o príncipe dos poetas U

Acervo pess oal

Reprodução/ AB

uniformemente, sem correr o risco século 3. Grega, foi profetisa”, Maria viveu no Egito do longe. Também conhecida como “a das línguas costuma oria mai tas de que se tem notícia. A filósofa e uma das primeiras alquimis cês, bain marie. adotar a expressão original em fran

nasceu. que leu durante a gestação de risco. Quando cresceu – um pouco, de acordo com os apelidos Pixote e Pequeno – de certa forma não negou o nome de escritor. Já gostava de skate e surfe, depois veio o rap e ficou. Adicionou um complemento ao nome com o qual assinou, desde 1992, sete CDs.

R.: Confira a resposta na página 34 Março 2011

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Cena histórica é flagrada com dois séculos de atraso

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Kenneth Light nasceu no Brasil, mas foi criado na Inglaterra. Especializou-se na pesquisa da história que entrelaça os dois países, o que passa, claro, por Portugal. Ele se baseou no diário de bordo das naus britânicas que escoltaram os navios portugueses para escrever um livro com detalhes do trajeto da família real lusitana – desde o adiamento da partida por causa do tempo, o embarque apenas 18 horas antes da invasão de Lisboa pelos franceses, a travessia do Atlântico, até a chegada ao Rio. Tudo com descrição precisa da rotina, do que comiam, de como se organizavam. Só faltava mesmo um detalhe: Kenneth não encontrou nenhum retrato que abarcasse a dimensão do fato para ilustrar a capa Chegada da família real ao Rio de Janeiro, Geoff Hunt

lhe bem para o quadro abaixo. É o único registro da chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808. A pintura, no entanto, foi produzida há pouco mais de 10 anos. Mas os quase dois séculos entre o fato e o registro só aumentam a fidelidade da obra.

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da obra. Encomendou então a cena ao maior desenhista de esquadras, o britânico Geoff Hunt. Com o pedido, forneceu até mais informações do que o pintor poderia ter percebido se tivesse estado presente no momento histórico: minúcias das embarcações, posições, luminosidade, condições do clima, do mar e do vento, quantidade de pessoas, tipos de roupas. Para tornar mais preciso o trabalho de Hunt, Kenneth percorreu a Baía de Guanabara com um GPS, fotografando o local em diferentes ângulos. Quem vê o resultado é capaz de acreditar que a dupla realmente presenciou alguns nobres seguirem em pequenas embarcações para saudar seus patrícios no mar. Parece mesmo que eles observaram a grande nau no centro da tela, que abrigava dona Maria, dom João e dom Pedro, e que, neste momento, já fechava as velas. Tudo resultado de pouca imaginação, muita técnica e uma incrível obstinação. (NP)

SAIBA MAIS A Viagem Marítima da Família Real, de Kenneth Light (Zahar, 2008).

Fases da Lua

. 28 . 29 . 30 . 31 . . . . . . . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 22 23 24 25 26 27 . . . . . . . . 10 . 9 8 7 6 5 1 2 3 4 nova

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NEM NEGROS, NEM BRANCOS

foto: Associação Atlética Portuguesa/ cedidas por Cosmos Editora Publicidade e Assessoria.

Contra racismo, Portuguesa Santista não entrou em campo E

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dia ção da eliminainação m i r c dis racial

Brasil, Juscelino Kubistchek: “Soubemos que um m 1959, a equipe de futebol da Portuguesa time brasileiro, na Cidade do Cabo, está sendo Santista excursionava pela África. Um dos impedido de contar com os seus jogadores amistosos seria contra um time da Cidade do negros para um amistoso contra um time local. Cabo, na África do Sul. Os jogadores estavam no Pedimos que o Brasil se levante contra o racismo. hotel quando um dirigente local trouxe o recado: Queremos que o povo brasileiro mostre que não “Nossa política não permite jogadores negros na aceita o racismo”. partida. Entrem apenas com os brancos”. JK entrou em contato com os dirigentes da A notícia chegou aos ouvidos de Dennis Portuguesa, demonstrando apoio à equipe. Brutus, presidente da Associação Esportiva da Foi a primeira vez que o governo brasileiro se África do Sul, um branco que marcou a vida na Chegada ao Brasil da delegação da Portuguesa. posicionou contra o apartheid sul-africano. O jogo luta contra o apartheid. Dennis havia criado a foi cancelado. Em entrevista recente à tevê, Brutus, que morreu no fim de associação três meses antes, com a participação de Nelson Mandela, para 2009, deixou um recado aos brasileiros envolvidos no episódio: “Muito combater o racismo no esporte. obrigado por ter nos ajudado na nossa luta por Humanidade”. De imediato, o ativista enviou um telegrama para o presidente do (BH) Leia outras histórias da luta de Dennis Brutus no site do Almanaque.

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sogro dia do

o baú do Barão

Toquinho convenceu o sogro com Canção pra Mônica

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Reprodução/AB

oquinho e Mônica, casados por 22 anos, se conheceram em Belo Horizonte. O músico excursionava com um show em 1976, quando duas irmãs entraram no camarim, na capital mineira. Ele trocou telefones com Ágada, mas foi a outra que procurou no dia seguinte. Apesar da moça ter reconhecido os talentos do jovem compositor, o pai dela não se convenceu com o jeito de namorador do rapaz – Toquinho já havia até recebido de Vinicius de Moraes os versos de Regra Três: Tantas você fez que ela cansou / Porque você, rapaz, / Abusou da Toquinho e Mônica regra três / Onde menos vale mais. Dessa vez, porém, era para valer. O músico tinha até descido do avião, quando ia embora da capital mineira, disposto a levar Mônica junto. Mas seu Bento não deu chance: “Viajar com Mônica? Só casando”. Os dotes de compositor, então, não precisavam mais conquistar a pretendente, mas sim o pai dela. Foi o baterista e parceiro Mutinho quem teve a ideia, depois de vê-lo chorando, outras viagens depois. Fez a melodia para o amigo: “Agora você faz a letra para nós irmos lá conversar com o Bento”. A música, na verdade, era mais para o pai do que para a filha, mas o título ficou Canção pra Mônica. Mutinho lembra do medo dos rapazes quando viajaram para Belo Horizonte para encontrar Bento: “Chegamos lá e ele, que colecionava armas, começou a mostrar o arsenal. Eu pensava: ‘Onde é que fomos nos meter?’” No fim, tudo acabou bem: “Ele colocou um uísque na mesa e, quando Toquinho cantou a música, amoleceu”. Deixa eu poder adormecer / Sem ter medos calados nem nada a esconder / Sem ter olhos parados olhando sem ver / Mergulhados num mundo proibido a você. No ano seguinte, Canção pra Mônica ressoou na igreja, enquanto ela caminhava, braços dados com o pai, pelo tapete vermelho. O sogro (NP) ainda ganharia a própria canção, uma música instrumental chamada Bento Chaves. No site do Almanaque, ouça a canção de Toquinho e Mutinho.

Deputado cearense quis ventre livre 20 anos antes

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Acervo fortalezanobre.blogspot.com

deputado Pedro Pereira queria que aquele 22 de março de 1850 contribuísse para mudar a sociedade brasileira. Tudo que conseguiu foi mudar a sua própria vida – para pior. Os colegas da Câmara Geral do País não se atreveram nem a examinar o audacioso projeto que apresentou nesse dia. A Lei Eusébio de Queiroz já havia proibido o tráfico de escravos negros. Considerar emancipados os que nasciam no Brasil era quase uma loucura. Os escravocratas do Rio de Janeiro e de São Paulo armaram uma conspiração contra o cearense. Ele não só não conseguiu mais voltar à Câmara, como passou a vida perseguido politicamente. Quando foi nomeado juiz em Fortaleza, trataram de lhe arrumar uma ingrata transferência para o estado do Pará. Nada que o calasse. O ex-promotor, que também lecionou geometria, era ainda jornalista Pedro Pereira ferino. Passou a vida usando de ironia e sátira em textos finos nos jornais cearenses. Viveu para ver a Lei do Ventre Livre aprovada, 21 anos depois de ter apresentado a mesma ideia ao parlamento. Mas quando morreu, em 1876, faltava mais de uma década para a escravidão ser oficialmente abolida. (NP)

“A solidez de um negócio se mede pelo seu lucro líquido.”

Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

março ta mb é m te m 1 Dia do Turismo Ecológico 2 Dia Mundial de Orações da Mulher 3 Dia Nacional do Meteorologista 4 Dia Mundial da Prece 5 Dia Estadual do Poeta Cearense 6 Dia da Padroeira dos Pescadores 7 Dia do Fuzileiro Naval 8 Dia Internacional da Mulher 9 Dia da Padroeira dos Pintores 10 Dia do Ciclista 11 Dia Estadual do Motociclista (SP) 12 Dia do Bibliotecário (SP) 13 Dia do Conservacionismo 14 Dia Nacional da Poesia 15 Dia Mundial do Consumidor 16 Dia do Mercosul 17 Dia Internacional da Marinha 18 Dia da Chuva 19 Dia da Escola 20 Dia da Terra 21 Dia Mundial da Infância 22 Dia Nacional da Água 23 Dia Mundial da Meteorologia 24 Dia de Combate à Tuberculose 25 Dia do Especialista em Aeronáutica 26 Dia do Cacau 27 Dia Nacional do Grafite 28 Dia do Diagramador 29 Dia da Central do Brasil 30 Dia Mundial da Juventude 31 Dia da Saúde e Nutrição

SAIBA MAIS A Abolição, de Emília Viotti da Costa (Unesp, 2008). Março 2011

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s a 20-4 Árie20-3

Guilherme Resende

Em geral expansivos e comunicativos, os nativos em Áries costumam não ter meio-termo nos sentimentos e opiniões. Impacientes, têm sempre um ideal ou objetivo. Mas há um porém nessa segurança marcante: costumam se enrolar, geralmente com mudança repentina de humor, quando se sentem desprotegidos ou percebem que estavam enganados. Quem está perto não deve se preocupar, pois logo passa. Só não espere que um ariano te peça desculpas.

COMPROU, NÃO GOSTOU? CATIRE!

Mulheres mineiras fazem de objetos moeda de troca

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Cidadezinha goiana quer ser a terra dos Josés N 12

o Maranhão tem muito Ribamar. A Paraíba é conhecida por ser cheia de Raimundos Nonatos, e Goiás já tem uma forte candidata a terra dos Zés. É Itaguari, cidade de apenas quatro mil habitantes, a 90 quilômetros de Goiânia. Todos os anos, perto do dia de são José, acontece por lá a Festa dos Zés. Excepcionalmente, este ano o evento ocorrerá em abril, depois da quaresma, para não se chocar com quermesses e festividades da igreja católica. Como nas sete edições anteriores, a festa deve reunir cerca de 200 Josés, terá galinhada, shows de duplas sertanejas, catira e forró. Na abertura, católicos e evangélicos lerão passagens bíblicas sobre os Josés que aparecem nos textos do Evangelho. Na avenida principal da cidade, a José do Couto, o organizador da festa, José Divino, o Zelão, elenca os colegas. “Tem o Zé Pinto, Zé Leitão, Zé Gamela, Zé Paulista, Zé do Pau, Zé Pelanca, Zé Fogão, Zé Taboca, Zé Quiabo... Não, Zé Quiabo mudou para Goiânia”, corrige. O esforço para tornar Itaguari a terra dos Zés não é pequeno. Zezico, o primeiro e único tabelião da cidade, mostrou o fichário de seu cartório, que soma 137 documentos com reconhecimentos de firma de Josés, mais 260 registros de propriedades em nome de Zés. Cada livro de registro civil aponta uma média de 43 Josés nascidos na cidade; são seis livros, o que dá uma estimativa de 258 Josés nascidos nos últimos 30 anos em Itaguari, “uma verdadeira zé reforma agrária”, brinca Zezico. O município, cuja base econômica é o gado de leite, conta com dois laticínios. Não deve ser difícil ao leitor adivinhar o nome dos proprietários... (Edson Wander, de Goiânia-GO - OVERMUNDO)

SAIBA MAIS Conheça outras festas populares de Goiás em www.overmundo.com.br. www.almanaquebrasil.com.br

Acervo pessoal

dia de são José

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dia do consumidor

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uando o ritmo toca no interior, não há quem fique parado. A catira é dança folclórica que une raízes das culturas africanas, europeias e indígenas no coração do Brasil há mais de século. Mas para um grupo de mulheres de Uberlândia, Minas Gerais, é sinônimo de coisa nova. Por lá, a ordem é não comprar. Há 25 anos, semana sim, outra também, 30 mulheres se reúnem para “catirar”, que no bom mineirês quer dizer trocar. Vale tudo: utensílios de casa, objetos de decoração, acessórios, roupas, porcos, galinhas, móveis. “Só não vale catirar filho, porque até marido já entrou na roda”, conta Silvia Nascimento, organizadora do encontro, que trocou os serviços do marido eletricista por uma panela novinha em folha. Dinheiro por lá não entra. Se um produto vale mais do que o outro, o troco é também mercadoria. E se na hora faltar opções que agradem, basta pegar um vale e trocar na catira seguinte. Entre elas, nada se perde: se enjoou do sofá, o sapato não serviu, o relógio saiu de moda, tem quem queira propor algo em troca. Parece bagunça? Não se engane. Há até Código de Ética da Catira. A regra é clara: ninguém dá palpite. As duas catireiras envolvidas no negócio decidem se querem trocar ou não. Não importa se o negócio envolve uma caneta por um anel de ouro. Vale a satisfação garantida. É tanto riso, tanta alegria que a catira atravessa gerações. As filhas participam com as mães. Os filhos criaram um grupo para catirar carro. “A gente faz mais por prazer do que por necessidade. Na catira ninguém fica triste. A gente troca a depressão pelas risadas”, explica Silvia. (Laís Duarte) SAIBA MAIS A Catira, de Camilo José Cela (Ulisseia, 1954).

de quem são estes olhos?

desses olhos. O tema? Quase Revistas, jornais, tevê... Em algum meio você já viu, ouviu ou leu o dono O paulistano nascido em dade. sempre o mesmo, um dos preferidos dos brasileiros e sua especiali investigativa e crítica. forma de ele, sobre falar para os respeitad mais 4 de março de 1950 é um dos Apesar de atuar como jornalista, é formado em Ciências Sociais. Confira a resposta na página 34


REVOLUÇÃO DOS COVARDES

Integralistas não foram páreo para mulher e filha de Getúlio

A

noite de 10 de março de 1938 poderia mudar os rumos do Brasil. Pelo menos essa era a intenção dos integrantes da AIB, Ação Integralista Brasileira, grupo político com ideias muito parecidas com as do nazismo alemão e do fascismo italiano. Parte de seus integrantes estava disposta a invadir o Palácio da Guanabara, residência oficial do presidente da República, e depor Getúlio Vargas. O Brasil estava sob a ditadura do Estado Novo, um regime com muitos inimigos, entre eles a AIB – uma ex-aliada de Vargas –, que se tornara ilegal desde 1937. A cúpula do grupo se sentiu traída pelo presidente. A direção da AIB, sob o comando de Plínio Salgado, resolveu tomar o poder em nome da “Pátria, Deus e Família” – um dos lemas do grupo. Os camisas-verdes se armaram e se preparam para invadir o Palácio da Guanabara. Já era quase meia-noite quando, com a ajuda do chefe da guarda, entraram nos jardins do Palácio. Seguiram pé ante pé em direção à residência oficial, confiantes em tomar o poder. Só não esperavam de onde viria o contra-ataque. Das janelas do Palácio, Getúlio (de pijama), a mulher Darcy e a filha Alzirinha esperavam os golpistas com armas nas mãos. A família presidencial abriu fogo contra os rebeldes. Não houve

reação. Aliás, houve. Muitos saíram correndo pelos fundos do Palácio, em direção ao campo do Fluminense. Poucos dias depois, um repórter carioca não perdoou. Numa crônica sobre o episódio, batizou a tentativa de golpe como “a revolução dos covardes”, nome pela qual entrou para a história. Os integralistas tentariam tomar o poder novamente em maio, mas desta vez com resultados mais violentos. Milhares de presos, alguns mortos, e seu líder, Plínio Salgado, exilado no exterior. (BH)

1 terça Davi 2 quarta Simplício 3 quinta Marino 4 sexta Casimiro 5 sábado Dráusio 6 domingo Rosa de Viterbo 7 segunda Perpétua 8 terça João de Deus 9 quarta Catarina de Bolonha 10 quinta João Olgivie 11 sexta Eulógio 12 sábado Inocêncio 1° 13 domingo Nicéforo 14 segunda Matilde 15 terça Clemente Maria 16 quarta Julião de Anazarbus 17 quinta Gertrudes de Nivelles 18 sexta Cirilo de Jerusalém 19 sábado José 20 domingo Martinho de Braga 21 segunda Nicolau de Flue 22 terça Leia 23 quarta Turpibio de Mogrovejo 24 quinta Catarina da Suécia 25 sexta Dimas 26 sábado Lúdgero 27 domingo Ruperto 28 segunda Castor 29 terça Eustásio 30 quarta João Clímaco 31 quinta Benjamim

São Dimas

Reprodução / AB

Na versão da bíblia de Lucas ele não tinha nome. Era apenas o “bom ladrão” que se arrependia na hora da morte. Nomeado nas versões seguintes, passou a ser padroeiro dos prisioneiros e agentes funerários. É convocado para proteger casas de eventuais roubos e para a conversão de alcoólicos, viciados em jogo e ladrões. É mencionado até em letras de rap, como a figura que descumpriu a lei e se arrependeu. No site do Almanaque, assista a vídeos sobre o Integralismo. Março 2011

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Por Natália Pesciotta

ARTHUR NESTROVSKI

Precisamos ser uma orquestra brasileira como nenhuma outra jamais foi

edi Pereira/ Hórus Photograph

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No ano passado, uma mudança no modelo de gestão deixou a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo de cara nova. Arthur Nestrovski assumiu a direção artística, “um trabalho menos pessoal e mais colaborativo” na condução da maior orquestra brasileira. Versátil e íntimo tanto do mundo da música popular quanto da música erudita, o gaúcho tem doutorado em Música e já atuou como professor universitário, articulista, crítico, editor, compositor e escritor de obras sobre música e até de livros infantis. Sabe que a Osesp já atingiu nível de excelência. E mais: que tem condições de se assumir como curadora da música erudita latino-americana. Depois de ver as plateias “irem à loucura” com um frevo de Edu Lobo, na última turnê europeia da Osesp, Nestrovski defende uma contribuição original do Brasil à música de concerto: “Precisamos desenvolver formas de composição que explorem de forma inédita a riqueza quase inexplicável da música popular brasileira”. www.almanaquebrasil.com.br


Você foi o primeiro a assumir a direção artística da Osesp, cargo criado em 2009. Qual é a inovação dessa função? Até pouco tempo não se imaginava que a Osesp mudaria o modelo de gestão como aconteceu. Mas a maioria das orquestras tem uma pessoa para fazer o que eu faço aqui, que é diferente do diretor musical, que é quem rege. Além do principal – segurar a continuidade da excelência e fazer a programação dos concertos –, o diretor artístico cuida das atividades didáticas, publicações, projetos de gravação, da inserção da orquestra no contexto cultural da cidade e do País. Não é viável um regente dar conta de tudo, até porque ele só fica no Brasil em temporadas. Alguém precisa estar aqui o tempo todo, pensar a orquestra e ser a cara da orquestra. É importante frisar que tudo que faço é menos autoral e pessoal e mais colaborativo – e neste aspecto a figura do diretor artístico é muito diferente da figura do antecessor, que reunia tudo isso. Eu trabalho ouvindo a direção executiva, os consultores, o conselho da Fundação Osesp, músicos, mídia, coro, assinantes, solistas. Meu trabalho é escutar essas partes todas e conduzir a orquestra numa direção consensualmente decidida, para que ela chegue a lugares que não chegou ainda.

Existia o que a gente chamaria de música “folclórica”, de raiz. Esses compositores escreviam música querendo que tivesse, para sua plateia, o mesmo tipo de entendimento e apreciação imediata, espontânea, como a gente está acostumado a pensar numa apreciação à música popular. Eu diria que, hoje, internacionalmente, muitos compositores de música de concerto estão fazendo música que tem essa mesma comunicação imediata com as plateias mais variadas, sem deixar de ter reconhecimento crítico. O mundo musical mudou de forma muito positiva. As coisas que pareciam engessadas no ambiente de música de concerto, há muito tempo não o são mais. Quais contribuições o Brasil pode acrescentar a esse cenário? A contribuição do Brasil pode ser muito original, porque essas coisas já são naturais para nós. Temos que aproveitar isso para romper com uma outra série de barreiras, inclusive em termos das encomendas que a gente faz aqui. A Osesp encomenda pelo menos cinco temas de compositores brasileiros todos os anos. E estamos encomendando tanto de compositores que são da música de concerto hoje, da chamada vanguarda experimental, como de compositores que estão nessa fronteira que é indefinível entre música popular e de concerto: Edu Lobo, Proveta, André Mehmari. Na última turnê que fizemos pela Europa, tocamos no bis um frevo de Edu Lobo, que é um dos movimentos de uma peça que ele compôs para a Osesp e ainda vamos apresentar inteira. Foi um sucesso incrível. As plateias iam à loucura – em Viena, em Salzburgo, em Varsóvia, em Madri, na Croácia. A gente aqui no Brasil tem um privilégio. A música popular brasileira tem uma riqueza quase inexplicável. Em termos de qualidade, quantidade e variedade. Não tem nada comparado ao Brasil. Na canção, por exemplo, temos pelo menos 50 anos de tradição confirmada de altas formas de poesia musicada com sofisticada riqueza harmônica e melódica. E a inserção que tem a música popular na cultura brasileira é algo muito especial. Tendo dito isso, não faz sentido a gente, no campo da música clássica, de concerto, não fazer uso dessa riqueza. A questão é onde, como, quando a gente vai ser capaz de inventar ou desenvolver outras formas de composição musical, dentro do campo da música clássica, que explorem isso de forma inédita. Mas eu sinto que isso é o que o Brasil poderia fazer como nenhum outro País.

A música popular brasileira tem uma riqueza quase inexplicável. Não faz sentido, no campo da música clássica, não fazer uso disso.

Você transita com facilidade entre a música popular e a erudita. Não existe uma espécie de barreira entre esses universos? Tom Jobim já dizia, quando perguntavam a ele se havia diferença entre música clássica e música popular: “Pra mim, não. Mas que tem, tem”. Claro que tem. O processo de composição, de ensaio, de apresentação, o contexto. É tudo completamente diferente. São universos distintos. É mais diferente fazer música popular e música erudita do que fazer literatura e música. Mas o Brasil, por definição, é o lugar onde as coisas se misturam. Música brasileira já é essa mistura em si. É só pensar em Ernesto Nazareth e Villa-Lobos. No caso de Nazareth, um artista popular que bebe diretamente da fonte da música erudita. No caso de Villa-Lobos, um artista de música clássica que bebe diretamente da música popular. O único limite claro entre o que é popular e o que é música clássica é a situação em que ela acontece – uma sala de concerto não é um auditório de show. Tirando isso, nem sempre é fácil dizer o que é uma coisa e o que é outra. A gente tem uma música clássica que em muitos exemplos – Villa-Lobos e Camargo Guarnieri, para ficar com os dois compositores mais importantes do século 20 – têm ligação com a música popular, tanto quanto Ernesto Nazareth ou Tom Jobim têm com a música de concerto. No resto do mundo esses limites são mais claros? A pergunta é boa pelo seguinte: não conhecemos a música popular de dois, três séculos atrás. Ela desapareceu. Beethoven ou Mozart eram escutados no seu tempo como os grandes artistas da música popular são hoje. Aliás, não existia música popular de expressão, música urbana.

Sobre nossa música popular, você concorda com a máxima de que “não se faz mais música como antigamente”? Ou o vigor da música popular brasileira é inabalável? É inabalável. A quantidade de pessoas escrevendo os tipos mais variados de músicas, artistas novos, cantores novos... Neste momento, não estou nem um pouco preocupado com os destinos da música popular brasileira. E acho que os saudosistas da década de 1970 não estão ouvindo o tanto de coisas boas que há para ouvir por aí. Março 2011

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Quais os desafios para a orquestra “ocupar os espaços ainda não ocupados”? Musicalmente, a Osesp tem que manter o nível de excelência que atingiu. Mas não é isso que vai fazer a diferença. Pelo fato de ser uma orquestra brasileira de São Paulo, temos que ser capazes, a médio prazo, de construir projetos que tornem a contribuição musical e cultural dessa orquestra original e diferente de qualquer outra. Ela fez alguns projetos de divulgação da música brasileira altamente importantes, como a gravação dos choros de Villa-Lobos ou das sinfonias de Camargo Guarnieri. Nessa direção, a gente ainda precisa, eu acho, ocupar um espaço mais original, mais incisivo do que já ocupa. Esta precisa ser uma orquestra brasileira como nenhuma outra jamais foi. E tem mais: ao longo do ano, o que aprendi é que, para os regentes, agentes, solistas que vem de fora e para as plateias estrangeiras, essa não é só uma orquestra brasileira. É a mais importante orquestra da América Latina – apesar de não se costumar pensar nesses termos. Nós mesmos não nos assumimos assim. A Osesp tem potencial para ocupar o espaço de curadora de repertório da América Latina – tocar e gravar esse repertório como ele merece.

E o alcance do trabalho da Osesp entre o público brasileiro, como é? A relação com a música erudita de forma geral mudou no Brasil. Se a gente vai fazer uma apresentação ao ar livre, há plateias de dezenas de milhares de pessoas. Não estou exagerando. Tocamos em uma praia de Santos para 20 mil pessoas. Em Araraquara, havia 12 mil pessoas na praça. O Brasil hoje é em muitos aspectos ponta de lança em projetos de iniciação musical – especialmente no que diz respeito à inclusão social através da música. Por incrível que pareça, a enorme maioria dos projetos tem a ver com música clássica, e não com música popular. Isso significa que hoje tem muito mais gente estudando violino no Instituto Baccarelli, em Heliópolis, por exemplo, do que em renomados colégios particulares. Além disso, a Osesp aparece na tevê várias vezes por ano e toda semana o concerto é transmitido pela rádio e pela internet. Há 35 mil pessoas por segundo ouvindo o concerto pelo rádio só na cidade de São Paulo, o que é muita coisa. Isso significa que as pessoas já têm afinidade com a música de concerto. Deixou de ser algo distante.

Apesar de ser uma orquestra brasileira, a Osesp não deixa de ser internacional. Nela há músicos do mundo todo. Isso é decisivo para alcançar seu atual padrão? As audições para entrar na Osesp são feitas em padrão internacional. Cada músico toca atrás de um biombo. Não existe nem incentivo nem restrição a estrangeiros. A gente seleciona os melhores. Se for do Usbequistão, ótimo. Se for de Sorocaba, ficaremos felicíssimos. Então, claro que do ponto de vista musical é um ganho – afinal, era o melhor. Do ponto de vista humano, também só pode ser um ganho ter uma soma de culturas diferentes. O que é o Brasil se não isso? Onde o Brasil deu certo sempre teve a ver com mistura, não com a divisão. Por exemplo: o futebol, a música popular, onde indiscutivelmente demos contribuições importantíssimas para o mundo. A Osesp é mais uma prova. Tem músico da Alemanha, da Rússia, dos Estados Unidos, da Itália... Teve uma menina, por exemplo, a pianista da orquestra, que chegou do Usbequistão com 22 anos e está aqui até hoje, casada, com dois filhos. Todos vêm pra cá e não saem mais daqui por nada, exatamente por isso: pelo tipo de acolhimento e pela cultura brasileira de aceitação ao estrangeiro. Eu tenho muito orgulho da orquestra ser um organismo internacional. Mas sem perder nunca a consciência de que nós somos uma orquestra brasileira de São Paulo, cuja sede está no centro da cidade, em uma região, no mínimo, bem difícil. Nós não podemos nunca perder a consciência do milagre que é isso aqui, do privilégio que é ter um projeto desse porte, desse nível de excelência, nas condições que a gente tem no País onde a gente vive, na cidade onde a gente está. A nossa questão é reverter isso não em limites, mas em possibilidades.

Na Valentim/ Hórus Photograph

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O melhor da produção brasileira não está mais nos grandes canais de acesso popular, como na década de 1970. Se você pegar Tom Zé, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik, Ná Ozzeti, Arnaldo Antunes e puser na Rede Globo durante seis meses, essas músicas viram o que virou a do Chico Buarque e do Caetano em 1968, 1969, 1970. Aliás, Chico Buarque e Caetano Veloso não estão na televisão. Maria Bethânia não está. Milton Nascimento não está. Mesmo os grandes monstros sagrados da canção popular brasileira não estão na tevê aberta. A nostalgia que as pessoas sentem é dessa centralidade que a canção já teve num momento histórico particular, com um componente político também muito particular. Por outro lado, todos esse nomes que falei continuam produzindo maravilhosamente. A diversidade, o acesso e o público da música popular provavelmente é o melhor que já se teve. Não que eu ache que as as coisas estão melhores do que jamais foram. Gostaria muito que a gente tivesse esse tipo de produção musical brasileira de ponta ocupando o espaço que merece nos grandes canais de comunicação, com acesso a dezenas de milhões de pessoas.

Qual a importância da Osesp hoje no contexto mundial? A gente acabou de fazer uma importante turnê na Europa e passei um ano conversando com regentes solistas de grande renome. Então o que vou dizer não é minha opinião. É consensual entre todas essas pessoas: a Osesp já está entre as excelentes orquestras no cenário internacional. Não é ainda uma das maiores orquestras do mundo, mas é uma orquestra de alto nível em padrão internacional. www.almanaquebrasil.com.br


Almanaque naRegTinavtêm em comum?

f e Elis a-Lobos, Leonardo Bof grama O que Paulo Freire, Vill todos desfilarão pelo pro e sil Bra no am nascer renomada, muite gen Todos são ilustres, todos sa des m Alé . e o mês de março doAlmanaque Brasil durant pela dupla de apresenta anaque serão contadas alm son de s Rob r ória ato hist do ras m tas out personage anaquias, o extravagante ção de res Luciana Mello e Alm existem por trás da fabrica que os red seg os lo, mp e. E fort is ma vez a cad r Nunes. Conheça, por exe sce o fazer seu pimpolho cre com ra. ba afo Sai s ro. Paí cou tes de ren sandálias casas são dife o a arquitetura das nossas março. de s mê o e ant dur dê uma espiada em com tura Cul se ligue nas TVs Brasil e que você poderá, do Então, não se esqueça: haverá um tempinho em pre Sem ixo. aba s ário Brasil. do Confira os hor das sita inu is ar pelas histórias ma conforto de seu sofá, viaj

Destaques do programa 17 • Sambista, rapper e especialista: o Ciência Doméstica é sobre rimar. • Aves no Coisas Nossas: de sabiás gorjeantes ao canarinho da seleção. • O dia em que incriminaram um pombo-correio por subversão. • E o maior dos nossos sapateiros revela a arte das sandálias de couro.

Destaques do programa 20 • O batuque do Barbatuques no Cantos do Brasil. • Lar, doce lar: descubra como são as casas País afora. • No Ilustres Brasileiros, Paulo Freire, um educador de mentes e almas. • E uma entrevista com a escritora Tatiana Belinky. TV Brasil: 19/3, 19h • 21/3, 20h (reexibição) TV Cultura: 20/3, 14h30 • 26/3, 15h30 (reexibição)

TV Brasil: 5/3, 19h • 7/3, 20h (reexibição) TV Cultura: 6/3, 14h30 • 12/3, 15h30 (reexibição)

Destaques do programa 21 • Aventuras e desventuras da tevê brasileira.

Destaques do programa 19 • No Coisas Nossas, os primeiros inquilinos do Brasil.

• Um Papo-Cabeça inspirador com Leonardo Boff.

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• No Ciência Doméstica, receitas para as crianças crescerem fortes.

• Ilustre Villa-Lobos: obra brasileira e universal. • O Cantos do Brasil é em família, com Jair Oliveira.

• E para fechar o mês com energia, Elis Regina no Ilustres Brasileiros.

• No Como é que se Faz?, a delicada arte dos luthiers.

TV Brasil: 26/3, 19h • 28/3, 20h (reexibição)

TV Brasil: 12/3, 19h • 14/3, 20h (reexibição)

TV Cultura: 27/3, 14h30 • 2/4, 15h30 (reexibição)

TV Cultura: 13/3, 14h30 • 19/3, 15h30 (reexibição)

Para se certificar dos horários de exibição, consulte o site das emissoras: www.tvbrasil.org.br e www.tvcultura.com.br.

Luiz Henrique - Um Sinhô Compositor (independente). Sinhô é um dos precursores do samba e dono de clássicos como Jura. Por ser um nome ainda pouco conhecido, o cantor Luiz Henrique decidiu lançar um CD duplo com suas canções. No primeiro, nomes como Emilinha Borba e Paulinho da Viola. No segundo, o próprio Luiz Henrique dá a sua interpretação para as composições do artista carioca. Pouca Chinfra - Pouca Chinfra (independente). Saiu do Recife um dos melhores grupos de samba do momento. Não fosse o sotaque, pareceria que o grupo brotou nas calçadas da Lapa, no Rio. Às vezes soa como Noel, noutras como Cartola. Na maioria, como Pouca Chinfra mesmo. Nas músicas, tudo o que importa no autêntico samba: amor (e desamor), malandragem e malemolência.

O Rio de Manuel Joaquim de Macedo, organizado por Michelle Strzoda (Casa da Palavra). É do escritor fluminense aquele que é considerado o primeiro best-seller brasileiro, A Moreninha. Mas a organizadora desses artigos garante que o trabalho do autor na imprensa é mais interessante: “A ficção dele ficou um pouco datada. Já as crônicas são ainda muito atuais”.

Jazz Band na Sala da Gente, de Alexandre Staut (Toada). Quando o autor procurou conhecer a história do avô, um músico alemão, encontrou poucos dados. Por isso a imaginou em um romance. A ficção criada pelo jornalista reproduz com sensibilidade o antigo interior de São Paulo, tendo como pano de fundo o eco da perseguição aos judeus no fim da Segunda Guerra Mundial. Março 2011 Setembro 2010


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Reserva Natural Vale, em Linhares, Espírito Santo foto: Lucas Lenci

Um legado para as próximas gerações C

omo uma das empresas líderes globais no setor de mineração, a Vale está presente em cerca de 40 países, nos quais desenvolve atividades de gestão de negócios, pesquisa e exploração mineral e operações logísticas. Em todos esses lugares, a empresa leva seu compromisso de conservação do meio ambiente, fator fundamental de sua estratégia de sustentabilidade. A busca do equilíbrio entre o desenvolvimento socioeconômico dos territórios e a manutenção da qualidade dos recursos naturais, da biodiversidade e da vida está na essência de sua atuação. As unidades operacionais da Vale abrigam cerca de 2.850 espécies vegetais e 3.400 espécies animais. Desse total, 114 são classificadas como internacionalmente ameaçadas, de acordo com a Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature, e 165 constam em listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção.

espécies vegetais

animais 2.850 3.400 espécies são os números de espécies sob proteção nas unidades operacionais da Vale.


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872 mil hectares

Uma área equivalente a 46 mil Maracanãs 872

mil hectares. Esta é a soma das áreas em que a Vale desenvolve atividades destinadas à conservação da biodiversidade no Brasil. Para que se tenha uma ideia, esse verdadeiro território de proteção ambiental, que abrange três biomas (Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado), corresponde a uma área equivalente a 46 mil estádios do Maracanã. Entre as atividades que a Vale realiza nesses lugares,

380

é o número de espécies de aves sob proteção na Reserva Natural Vale.

é a soma das 22 áreas em que a Vale desenvolve atividades de conservação da biodiversidade.

3 biomas

são englobados pelas ações ambientais da Vale.

localizados em unidades no Espírito Santo, Minas Gerais, Pará e Maranhão, estão diversas ações de proteção ecossistêmica, como prevenção e combate à ocorrência de incêndios, ao corte de madeira, à coleta de flora e fauna, além de atividades com as comunidades.

Um museu vivo da Mata Atlântica C

om cerca de 22 mil hectares, a Reserva Natural Vale, localizada em Linhares, no Espírito Santo, é um dos últimos grandes remanescentes da Floresta de Tabuleiro, uma das formações florestais mais ameaçadas da Mata Atlântica. Em 2008, a reserva recebeu o título de Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, concedido pela Unesco por sua importância na conservação da flora e da fauna. Na reserva, que tem como principal foco a realização de pesquisas para o conhecimento da riqueza e diversidade ambiental, já foram catalogadas cerca de 1.460 morfoespécies de insetos, 179 espécies de aranhas, 26 de peixes, 66 de anfíbios, 69 de répteis, 105 de mamíferos e 380 de aves, além de quase 3.000 espécies vegetais.

Saiba mais

Você sabia?A Reserva Natural Vale

abriga um dos maiores viveiros de mudas de espécies nativas do Brasil, com capacidade anual de produção de milhões de mudas de mais de 800 espécies tropicais.

A Reserva Natural Vale conta com uma rica catalogação de material botânico, disponível no Herbário Virtual. As consultas podem ser feitas na internet a partir do nome popular, de espécies, gêneros ou famílias. Acesse: www.vale.com.

Plantas raras e ameaçadas sob cuidado no Jardim Botânico do Rio 3 mil A Vale também está presente em um dos mais famosos jardins botânicos do Brasil. A empresa é parceira do Jardim Botânico do Rio de Janeiro na manutenção de seu arboreto, onde foi criado um canteiro denominado Espaço Vale, inaugurado em 2009. A área é dedicada às plantas raras da Mata Atlântica, e abrange espécies encontradas naturalmente em baixa densidade populacional ou ameaçadas de extinção.

é o número de obras raras que integram a biblioteca do Jardim Botânico do Rio, tida como a mais completa do País especializada em botânica.

Você sabia? O Jardim Botânico do Rio foi criado por decreto de Dom João VI em

junho de 1808, pouco depois da mudança da família real portuguesa para o Brasil. É considerado um dos mais atraentes cartões postais cariocas.


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Zelando pelo patrimônio natural brasileiro em Minas A Vale possui 12 Reservas Particulares do Patrimônio Natural, localizadas no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Somadas, essas unidades totalizam mais de 7 mil hectares de áreas protegidas. As reservas contribuem para a conservação da flora e da fauna mineira, abrangendo remanescentes de Mata Atlântica e Cerrado, além de proporcionarem o desenvolvimento de pesquisas científicas. Para auxiliar na gestão das reservas, em 2008 foi implantado no município de Sabará o Centro de Pesquisas e Conservação

1 milhão de mudas

é a capacidade de produção anual do Centro de Pesquisas e Conservação da Biodiversidade do Quadrilátero Ferrífero.

da Biodiversidade do Quadrilátero Ferrífero. O centro dispõe de viveiro de mudas com capacidade de produção anual de até 1 milhão de unidades, obtidas pela coleta de sementes de espécies representativas da flora local, principalmente as de ocorrência rara ou ameaçadas de extinção. Além da produção de mudas, parte da coleta de sementes é destinada à formação de um banco para a conservação da diversidade genética local.

Você sabia? As mudas produzidas no Centro de Pesquisas e Conservação da Biodiversidade do Quadrilátero Ferrífero são destinadas ao reflorestamento de propriedades da Vale e de áreas afetadas pela ação humana ou desastres naturais.

Educação ambiental, pesquisa e conservação no Pará N 70% o coração na Floresta Nacional de Carajás, em Parauapebas, Pará, está localizado o Parque Zoobotânico Vale. Inaugurado em 1985, o parque, que integra o Mosaico de Unidades de Conservação da Região de Carajás, ocupa uma área de 30 hectares, sendo 70% de floresta primária. Vivem por ali cerca de 300 espécies de animais, entre mamíferos, aves e répteis. Entre elas, diversas ameaçadas de extinção, como arara azul, ararajuba, onça pintada, suçuarana, jaguatirica, gato-do-mato e macaco-aranhade-testa-branca.

é a porcentagem da área do Parque Zoobotânico Vale ocupada por floresta primária.

Você sabia?

O parque mantém uma infraestrutura organizada para receber o público, com destaque para recreação e educação ambiental. Além da floresta, os cerca de três mil visitantes mensais podem conhecer espaços como o herbário, o orquidário, o hospital veterinário e a sala de coleções, que reúne frutos, sementes, madeiras e insetos.

Saiba mais

O Parque Zoobotânico Vale é aberto ao público de terça a domingo, das 9h às 15h30. Informações e agendamentos: (94) 3327-5345 ou (94) 3327-5346.


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Árvore que nos 140

é o número de espécies de árvores que podem ser encontradas no Parque Botânico de Tubarão. Entre elas, o Pau-Brasil, árvore raramente vista hoje em dia, e que deu nome ao País.

batizou é destaque em Vitória Paus-brasis, jacarandás, ipês. Saguis, caticocos e gambás, além de variadas espécies de aves são algumas das atrações do Parque Botânico de Tubarão, em Vitória, Espírito Santo. Localizado no Complexo Industrial de Tubarão, o parque está inserido no Cinturão Verde da Vale e apresenta aos visitantes o processo de restauração florestal e preservação da Mata Atlântica, estabelecendo a integração entre a empresa e a comunidade. Em uma área de 33 hectares, o parque reúne mais de 140 espécies de árvores, além de representantes da fauna silvestre e várias espécies de aves, que podem ser vistos em cinco trilhas ecológicas. Conta ainda com orquidário composto por cerca de 500 mudas de espécies nacionais e provenientes de outros países.

Saiba mais O Parque Botânico de Tubarão

é aberto ao público de terça a domingo, das 8h às 17h, com diversos horários de saída para as trilhas. O parque promove ainda visitas orientadas à área industrial do Complexo de Tubarão. Informações e agendamentos: (27) 3333-6200.

Você sabia?

Além de infraestrutura para visitação e eventos, como anfiteatro, salas de aula, parque infantil e estacionamento, o Parque Botânico de Tubarão conta ainda com três ambientes temáticos que retratam a Mata Atlântica e o ciclo do minério de ferro.

Áreas florestais remanescentes sob proteção Você sabia? Localizado no Terminal Portuário de Ponta da Madeira (TPPM), o Parque Botânico Vale de São Luís contribui para a proteção ecossistêmica de um dos últimos fragmentos florestais remanescentes da ilha da capital do Maranhão. Lá estão sob cuidado espécies da flora, como pau-marfim, pequi, angelim, sumaúma, além de buritizeiros e juçareiras. Desfrutando dessa riqueza, podem ser vistos macacos-prego, macacos-capijuba, gatos-maracajá, preguiças, cutias, tatus peba, pacas e tamanduás-mirins, bem como beija-flores vermelhos, violetas e papagaios-maracanã-do-buriti.

O Parque Botânico Vale de São Luís possui viveiro de mudas, três trilhas de interpretação da natureza e três módulos temáticos que retratam os ecossistemas maranhenses. Também conta com anfiteatro, espaço de educação ambiental, salas de aula, salão de exposições e uma “ecoteca”, com brinquedos ecológicos.

Saiba mais

O Parque Botânico Vale de São Luís está aberto ao público de terça a domingo, das 9h às 17h. Informações e agendamentos podem ser feitos pelo telefone (98) 3218-6245.

integração > transformação > desenvolvimento Criado em parceria com organizações do Terceiro Setor, o Fundo Vale para o Desenvolvimento Sustentável já aportou R$ 9 milhões em oito projetos desenvolvidos por organizações da sociedade civil desde 2009. O fundo concilia conservação e uso sustentável dos recursos naturais com a melhoria das condições socioeconômicas regionais. Tudo com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável local e deixar um legado positivo e estratégico para as próximas gerações.

7

é o número de entidades que trabalham em cooperação com a empresa no Fundo Vale para o Desenvolvimento Sustentável: Instituto Internacional de Educação do Brasil, Instituto Floresta Tropical, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, Instituto Peabiru, Instituto Socioambiental e The Nature Conservancy.


r e h l u m a d o T quer ser feliz DINIZ LEILA

Por Bruno Hoffmann

Arquivo/ AE

24

S

etenta e dois. Esse foi o número de asteriscos que substituíram os palavrões proferidos por Leila Diniz numa histórica entrevista ao Pasquim, em 1969. Escândalo nacional. Não só pelas palavras, mas também pela postura libertária da entrevistada de apenas 24 anos: “Tive casos mil. Na minha cama dormem algumas noites, mais nada. Nada de estabilidade”; “Você pode amar muito uma pessoa e ir pra cama com outro”; “Censura é ridículo, não tem sentido nenhum”. Por causa dessa edição, os militares baixaram um decreto que autorizava a censura prévia à imprensa – apelidado de “decreto Leila Diniz”. A sua maneira espontânea – num tempo de patrulhas ideológicas para todos os lados – angariou antipatias. Os militares diziam que a atriz atentava contra os bons costumes. Os telespectadores prometiam nunca mais assistir a novelas em que ela

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Ela passou a breve vida em busca da felicidade, mas encontrou muitos obstáculos nessa empreitada. Sua postura libertária incomodou a direita e a esquerda, num tempo em que a patrulha ideológica dava plantão 24 horas por dia. Depois da morte, tornou-se mito. “Sem discurso nem requerimento, Leila Diniz soltou as mulheres de 20 anos presas ao tronco de uma especial escravidão”, sentenciou Drummond. estivesse presente. As feministas esbravejavam. Uma líder feminista afirmou: “Ser mulher é mais do que sair dando por aí”. Um diretor da Globo foi além: “Não estamos pensando em colocá-la na próxima novela. Não tem papel de prostituta”. A beleza fora do comum, talento nas interpretações e carisma hipnotizante atraíam os holofotes. Mas a Leila de fora das telas sempre provocou mais comentários. Em 1971, causou escândalo novamente ao aparecer em capas de revista de biquíni, com uma enorme barriga de seis meses de gravidez. No livro Ela É Carioca – Uma enciclopédia de Ipanema, Ruy Castro descreve: “As grandes massas nunca tinham visto aquilo. Hoje pode soar absurdo, mas choveram protestos, indignação e repulsa contra o gesto de Leila. Falou-se em deboche contra a maternidade, em afronta à Virgem Maria. Mas o grande problema não era a gravidez nem o biquíni. Era Leila Diniz”.


Alguns desinformados a viam como mulher fácil. Não percebiam que era ela quem escolhia com quem sairia. “Eu me deito com todo mundo. Mas não com qualquer um”, respondeu certa vez. De professora a mito

Leila nasceu em 25 de março de 1945, em Niterói. Aos 15 anos, tornou-se professora de maternal e jardim de infância. Quem via a linda professora, rodeada de anjinhos e pestinhas, não poderia imaginar o furor que causaria poucos anos depois. Mas já havia indícios. Na sala de aula, aboliu a mesa de professor e adotou uma igual à dos alunos. Mesmo com reclamações dos pais, tratava os pimpolhos de igual para igual. Ela os adorava, e a recíproca era verdadeira. Aos 17 anos, conheceu o cineasta Domingos de Oliveira, apaixonou-se e foram viver juntos. Pouco tempo depois faria a sua primeira peça de teatro. Também passou a ser convidada para novelas, principalmente da Tupi, Excelsior e Globo. Mas o cinema era a sua paixão. Fez parte de muitos filmes: Todas as Mulheres do Mundo, O Homem Nu, A Madona de Cedro. Sem preconceitos, atuava em filmes históricos como Corisco, o Diabo Loiro, de Carlos Coimbra, e comédias deslavadas, como O Donzelo, de Stefan Wohl. “Eu faço qualquer coisa que me dê alegria e dinheiro, seja Shakespeare ou Glória Magadan”, dizia. Ao todo, participou de 14 filmes Lá pelo fim dos anos 1960, Leila já era uma pessoa conhecida, mas depois da entrevista ao Pasquim, a coisa mudou de ares. Os convites para novos papéis passaram a ficar raros, e ela se assustou. O dinheiro minguava a cada dia. A moça até aceitou ser jurada do programa de Flávio Cavalcanti, dando notas aos aspirantes a cantores. A carreira no cinema continuava. No começo dos anos 1970, assumiu papéis de destaque em filmes como Mãos Vazias e Amor, Carnaval e Sonhos. A despeito do preconceito que sofria, continuava a viver com liberdade. Saiu com os homens que quis – e não foram poucos. Seu jeito avançado atraía muitos interessados. Alguns desinformados a viam

como uma mulher fácil. Não percebiam que era ela quem escolhia com quem sairia, não o contrário. Houve até quem oferecesse dinheiro por uma noite com ela. Para um empresário paulista, deu uma resposta categórica: “Eu me deito com todo mundo. Mas não com qualquer um”.

Toda mulher é meio Leila Diniz

Um dia, Leila decidiu que era hora de ser mãe. Escolheu o cineasta Ruy Guerra como pai, escandalizou o País com a barriga de fora, foi eleita a grávida do ano no programa do Chacrinha e deu à luz a Janaína. O amor pela filha era de devoção – talvez uma forma de compensar ter sido abandonada pela mãe aos sete meses de vida. Em junho de 1972, viajou para receber o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema da Austrália por Mãos Vazias, de Luiz Carlos Lacerda. Adiantou a volta em um dia, por saudade de Janaína. Mas o avião em que viajava explodiu sobre Nova Déli, na Índia. Tinha apenas 27 anos; Janaína, sete meses – por uma coincidência trágica, a mesma idade em que a mãe de Leila a abandonara. A morte comoveu o País. Surgiram canções em sua homenagem: Leila Diniz (Martinho da Vila e Nei Lopes), Coqueiro Verde (Erasmo Carlos). Em Todas as Mulheres do Mundo, Rita Lee canta: Toda mulher quer ser amada / Toda mulher quer ser feliz / Toda mulher se faz de coitada / Toda mulher é meio Leila Diniz. Tornou-se também uma espécie de símbolo da liberdade feminina. O poeta Carlos Drummond de Andrade resumiu: “Sem discurso nem requerimento, Leila Diniz soltou as mulheres de 20 anos presas ao tronco de uma especial escravidão”. SAIBA MAIS Leila Diniz – Uma revolução na praia, de Joaquim Ferreira dos Santos (Companhia das Letras, 2008). No site do Almanaque, assista a trechos de filmes em que Leila atuou.

O melhor produto do Brasil é o brasileiro

Março 2010

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BIBLIOTECA NACIONAL

Texto: Natália Pesciotta Arte: Soledad Cifuentes Imagens: Divulgação BN

Um palácio para a cultura

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Ela renasceu das cinzas, foi esquecida no porto na correria da fuga da família real, atravessou o oceano e aqui se transformou na oitava maior biblioteca do mundo – um tesouro com mais de nove milhões de volumes, repleto de grandes e pequenas histórias sobre o Brasil e a humanidade.

F

oi das cinzas que nasceu a biblioteca da família real portuguesa – a mesma que veio parar no Brasil e deu origem à maior coleção de livros da América Latina e a oitava maior do mundo. Em 1755, um terremoto em Lisboa provocou um incêndio que arruinou as obras. A coleção então foi remontada com esmero. Era o grande xodó de dom João. Tanto que, mesmo na apressada transferência da família real para o Brasil, praticamente uma fuga, o imperador expediu um decreto ordenando que a biblioteca viesse com ele já na primeira esquadra. Na confusão da partida, porém, as caixas acabaram esquecidas no porto. O único “livro” que veio naquela leva e até hoje está na Biblioteca Nacional é um calhamaço de folhas amareladas: a desordenada Listagem das Pessoas e Naus que Saíram de Portugal em 1807. Os livros mesmo só chegaram ao Rio de Janeiro três anos depois de dom João e sua turma. Eram 60 mil volumes. Por falta de maior planejamento, ficaram armazenados na sala do hospital de um convento. O frei Camilo de Monserrate, então diretor da biblioteca, insistiu com dom João que o local não era apropriado: “Os bastimentos do antigo hospital dos Carmelitas não são nem vastos, nem claros, nem salubres para oferecer uma situação de segurança para as coleções e um uso cômodo do público nas condições desejáveis”. O imperador então autorizou uma construção para a Real Bibliowww.almanaquebrasil.com.br

teca onde antes ficavam as catacumbas dos religiosos. A data em que as obras e objetos foram para lá, 24 de outubro de 1811, ficou marcada como Dia Nacional do Livro. Quando, pressionado por seus conterrâneos, dom João voltou para Portugal, tratou de acalmar a população brasileira: “Deixo aqui a minha biblioteca e meu filho”. Depois da Independência, a Imperial Biblioteca passou a ter prédio próprio, que logo ficou pequeno, devido a doações e aquisições. No centenário da biblioteca, no Dia do Livro, ela ganhou nova casa. Durante 140 dias, um carro comum fez mais de 1.100 viagens para levar cerca de oito mil caixas e outros volumes para a avenida Rio Branco, onde estão até hoje. Nas palavras do historiador Arno Wehling, é um verdadeiro “palácio da cultura”, que recebe cerca de três mil visitantes por mês. Com o segundo centenário recém-completo, a biblioteca não para de crescer. São mais de nove milhões de volumes, entre acervo comum, obras raras, periódicos, manuscritos, documentos, iconografia e cartografia. Ela recebe as publicações produzidas no País inteiro, além de coleções cedidas por especialistas. Depois da Proclamação da República, trocou o “real” e “imperial” do nome por “nacional”. Parece pouco, mas muito significa: da propriedade de alguns, passou a ser de toda a população. Conheçamos, então, pequenas e grandes histórias desse nosso patrimônio.


Visitantes ilustres se embrenharam nessas estantes M

uitas personalidades fundamentais para a cultura brasileira foram frequentadoras de carteirinha da Biblioteca Nacional – e não é modo de dizer. Lá estão guardadas fichas de usuários como J. D’Alencar e Sebastião Bernardes de Souza Prata, mais conhecidos como José de Alencar e Grande Otelo. Pode-se saber, por exemplo, que Joaquim Maria Machado de Assis, aos 16 anos, retirou das estantes a revista de humor A Marmota e livros de história. Assim como ele, um pouco mais tarde, Lima Barreto só teve acesso à erudição por causa da biblioteca – no começo do século 20, livros eram artigos de luxo.

A quatro é do drummond! Carlos Drummond de Andrade gostava de ler na Biblioteca Nacional, mas só se fosse na mesa de número 4. Caso a encontrasse ocupada, não tinha dúvidas: pedia para algum funcionário despejar o leitor desavisado.

Dentro das salas, o piso dos mezaninos da biblioteca é de vidro. Bem grosso, tem capacidade de suportar o peso e deixar a luminosidade penetrar no ambiente. As estantes de ferro, também originais do prédio, evitam cupins e insetos.

Mapa da mina Nem por um prédio

Estrela do acervo é uma bíblia

Protegido pelas paredes e cuidados da Biblioteca Nacional há um

livro sagrado que, por um detalhe, vale ouro. Trata-se da primeira bíblia que traz informações tipográficas: a data, o lugar e o nome de quem a imprimiu. São pouquíssimos exemplares do tipo, e a Biblioteca Nacional possui dois. Achou pouca coisa? Pois saiba que a Bíblia Mogúncia é procuradíssima por outras instituições e está sempre sendo cobiçada. Dizem que a Biblioteca de Washington, a maior do mundo, já ofereceu um prédio em Nova Iorque em troca de um exemplar. E não conseguiu fechar negócio.

VOCÊ SABIA?

Em 1914, a Biblioteca Nacional criou o primeiro curso de biblioteconomia da América Latina – antes mesmo de países como a França. Hoje, ele funciona na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

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Temos um dos poucos caminhos do ouro Quando o português André João Antonil literalmente descreveu o mapa da mina, em 1711, não demorou para que o governo português apreendesse a obra. O Conselho Ultramarino temia que Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas despertasse interesse estrangeiro pelas minas de ouro recém-descobertas. Dos sete exemplares de que se tem notícia, um está na Biblioteca Nacional.

Parece palavrão, mas não É. Incunábulo é como se chama um tipo especial de preciosidade para os amantes de livros raros: obras impressas em 1462, ano em que Gutemberg inventou os tipos móveis em Mogúncia, na Alemanha. É o caso do precioso par de bíblias da Biblioteca Nacional. Março 2011


O menor livro da Biblioteca Nacional tem o tamanho da unha de um bebê. Suas 32 páginas ensinam o Pai Nosso em sete idiomas.

Os Lusíadas “E”

Uma letra que vale ouro

Não confunda: não se trata de um exemplar comum de Os Lusíadas, mas sim um da raríssima chamada “Edição E”. A diferença? O 7° verso da primeira estância do Canto I: em vez de “Entre gente remota edificaram”, lê-se “E entre gente remota edificaram”. Apenas uma letra indica que o poema de Camões faz parte da verdadeira primeira edição, de 1572.

O mais antigo. A data não é certa, mas sabe-se que um pergaminho, escrito provavelmente no século 11, é o manuscrito mais antigo do acervo. Reúne os quatro evangelhos, escritos em grego. Manias imperiais

O que Teresa Cristina comia? 28

E m 1891, Pedro 2° decidiu doar sua biblio-

teca particular. Como reconhecimento, exigiu que a coleção levasse o nome de sua esposa, a imperatriz Teresa Cristina. Entre partituras originais de Beethoven e Mozart, outras obras raras e cerca de 23 mil fotografias – paixão pessoal do imperador –, a maior coleção já doada à Biblioteca Nacional revela também uma peculiar mania da imperatriz: em caixas e mais caixas, Teresa Cristina guardou todos os cardápios de suas refeições. Eram elaboradas peças de pano, muitas vezes com letras bordadas, que especificavam o que seria servido em almoços e jantares.

Ouviram do Ipiranga...

Antes de cair na boca do povo A

caligrafia não é mesmo das mais legíveis, mas basta identificar umas poucas palavras para entender que saíram da caneta de Osório Duque Estrada, autor da letra do hino nacional. O grifo em dois dos versos mostra que eles têm outra autoria. “Nossos bosques têm mais vida / Nossa vida, mais amores” são excertos da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. www.almanaquebrasil.com.br

Portos abertos

O “por enquanto” de dom João virou “para sempre” A ssim que chegou ao Brasil, em 1808,

dom João foi pressionado por comerciantes locais que queriam o fim da proibição do comércio exterior. Sem saber como proceder – já que seus conselheiros só chegariam mais tarde –, o imperador resolveu assinar o decreto de Abertura dos Portos, “interino e provisório”, conforme alertava o documento. Mas o decreto acabou sendo definitivo. É provavelmente o documento mais importante da nossa história disponível na Biblioteca Nacional.

Pode acreditar

Aqui nasceu o samba A polêmica é antiga. Em 1917, Donga en-

trou para a história como o compositor do primeiro samba. Mas há muito tempo a batucada corria solta nos terreiros cariocas, onde se cantavam sambas compostos meio de improviso, sem que se soubesse

exatamente quem eram os seus criadores. O grande mérito de Donga, muitos argumentam, foi registrar um samba pela primeira vez: “Pelo Telephone – samba carnavalesco”. E em que lugar ele fez isso? Na Biblioteca Nacional.

VOCÊ SABIA? Para provar que uma obra é de sua autoria é preciso registrá-la no Escritório de Direitos Autorais, sob responsabilidade da Biblioteca Nacional. O registro do primeiro samba passou décadas perdido entre tantos documentos, mas hoje está disponível no departamento de música da biblioteca. Todos os registros atuais, porém, são mantidos em sigilo.


Original de Os Sertões

É lei

Aqui (quase) cabe um País inteiro

“Ruim”, anotou o próprio Euclides

Diz a Lei do Depósito Legal: “Todas as publicações produzidas em ter-

ritório nacional, por qualquer meio ou processo, devem ter um exemplar remetido à Biblioteca Nacional”. Sim, você leu direito: todas as publicações do País. Assim, desde 1907, tenta-se garantir que a instituição ofereça toda a produção atual e, no futuro, guarde a memória nacional na íntegra. Segundo a lei, cada exemplar não remetido pode acarretar em multa de até 100 vezes o valor da obra no mercado. Mesmo que a prática ainda não seja universal, todos os meses cerca de oito mil peças chegam ao número 219 da avenida Rio Branco: livros, jornais, revistas, material iconográfico, CDs, DVDs, gibis, partituras.

A

pesar do sucesso de Os Sertões assim que foi lançado, em 1902, Euclides da Cunha levou quatro edições para se contentar com a obra-prima. O manuscrito abaixo comprova o perfeccionismo do autor. Ele tenta corrigir o texto original, com muitos traços e anotações: “ruim”, “descrever muito mais” etc. Por fim, descarta a página: “Ruim. Não foi publicado”.

ANTES E DEPOIS. Com a Lei do Depósito Legal, a Biblioteca reuniu algumas pérolas dos tempos de censura à imprensa. Muitas vezes, uma edição era vetada e recolhida das bancas. A editora então lançava uma versão ajustada, que seria conhecida pelo público. Mas, em muitos dos casos, as duas versões eram enviadas à biblioteca, que guarda alguns exemplares de mesmo número, porém diferentes.

Não basta ser maior

Nem todos os adultos podem ver as revistas “para adultos”

Claro que, se a Biblioteca Nacional recebe todos os periódicos publicados no Brasil, sua

coleção de impressos eróticos e pornográficos é bastante extensa. Playboy, G Magazine, Sexy e títulos mais inusitados como Homem Macho, dos anos 1930, ou a fotonovela Carol Blue, dos anos 1980, estão todos armazenados. Comprovam costumes e tradições ao longo das épocas. Entretanto, não estão disponíveis para o público comum. Para consultá-las é preciso ser pesquisador e apresentar documento oficial da instituição acadêmica.

SAIBA MAIS Biblioteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional: bndigital.bn.br. A biblioteca está aberta à visitação e consulta de segunda a sexta, das 9h às 20h. Visitas guiadas são realizadas em diversos horários, com agendamento prévio. Mais informações: (21) 3095 3879. Endereço: avenida Rio Branco, 219, Rio de Janeiro-RJ.

Imagens: Divulgação Bliboteca Nacional

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PIR ACICABA

Riso de graça A pouco mais de 150 quilômetros de São Paulo repousa uma cidade que encanta pelos sabores, paisagens e histórias. Mesclando o que é sério ao chiste, fazendo graça pela graça, o humor destas bandas tem como marca uma boa dose de sutileza.

S 30

orria, você está em Piracicaba! Mas atenção, os espirituosos moradores se divertem pregando peças nos visitantes. Com a cara séria para mais confundir o incauto recém-chegado, a primeira pergunta que lhe tascam é: “Você sabia que Piracicaba se escreve com três pês”? Diante da surpresa do interlocutor, que já começa a soletrar, o trocista emenda: “P de pamonha, pinga e peixe”. O viajante atento, porém, depois de conhecer melhor Piracicaba, poderá no fim do passeio afirmar que o chistoso refrão carece de se atualizar. A fila andou. Há muitos mais pês em Piracicaba. Quer contar? Vamos lá: P de piadas, cartuns, tiras e caricaturas do renomado Salão Internacional de Humor. P de Parque do Mirante, onde se caminha acompanhado do murmúrio do rio nas alamedas que o ladeiam. Um P gostoso de polenta com frango ou brostolada, tostada na chapa, além de strangolapreti, canederli e grostoi, delícias servidas nas festas tradicionais trentinas dos bairros de Santana ou Santa Olímpia. É dessas comunidades uma história de fazer gosto com outro P, de

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pericolosa bestia, um monstro inventado pelos velhos italianos para que os jovens não saíssem de casa à noite. Eles mesmos saíam em ronda pelos quintais, uivando, dando tiros e se lambuzando com sangue de ovelha. Retornavam exaustos e, diante dos olhos esbugalhados da filharada, diziam: “Desta vez foi por pouco”. Há ainda o P de passeios de barco pelo rio, com a lindeza das garças esperando o peixe nas ilhas de pedra. E o P de passarela pênsil, disposta sobre o salto do Piracicaba, em direção ao Engenho Central, construído em 1881. O próximo P – de pintores – poderia valer por muitos, pois vários deles, no século passado, gostavam de retratar o rio Piracicaba nas primeiras horas da matina. Envolto pela bruma, talvez evocasse as pinturas impressionistas francesas que tinham o rio Sena como protagonista. Entre os artistas, Almeida Júnior imprimia nas telas cenas do cotidiano caboclo da região, como em Caipiras Negaceando, O Violeiro e Caipira Picando Fumo. Chega de P? Pois saiba que há mais: P de Paula, a “Magic Paula”, que ganhou todos os títulos de basquete para a cidade.


Preste atenção

Riso, linguagem universal Para os índios paiaguás (epa, olha aí mais um P), piracicaba significava “lugar onde o peixe para”. Para os poetas piracicabanos, é a “Noiva da Colina”, por causa da bruma qual manto fino sobre o salto do rio que, banhado pelo luar, dá a impressão de um longo véu de noiva. “Nesse local, 50 anos atrás, a pesca era com guarda-chuva”, recorda um dos maiores contadores de histórias da cidade, Milton de Oliveira. Outra armadilha para fisgar visitante? “É sério, o pescador sentava nas pedras ao lado de um pequeno salto, colocava o guarda-chuva aberto, de ponta-cabeça, e era só esperar a chuva de peixes”, informa 1000Ton, como gosta de assinar. É dele também a história das pamonhas piracicabanas: “Lembra o refrão que ecoava nos alto-falantes pelas ruas de São Paulo? ‘Pamonha, pamonha, pamonha. É o puro creme do milho verde!’ Pois bem: certa vez deu milho pra chuchu nas terras de minha prima Benedita de Oliveira. Ela então resolveu fazer pamonha. O marido colocou centenas delas em uma brasília velha e saiu pelas ruas anunciando só no gogó. Como ficou rouco de tanto falar, gravou uma fita. As pamonhas de Piracicaba ficaram tão renomadas que outras cidades copiaram não só a ideia, mas também a origem”. Nessa terra de riso, a veia cômica se avolumou de vez com a criação do Salão do Humor de Piracicaba. O mais engraçado é que ele já nasceu irônico, em plena ditadura, nos anos 1970, quando a censura corria solta. Feras compunham o júri do primeiro salão: Millôr, Ziraldo, Zélio, Jaguar. Desde 1976, o Salão é internacional, e mais de 80 países já participaram do evento. Graças a ele, é possível saber por aqui o que provoca tanto riso nos ucranianos, iranianos, turcos, finlandeses, argentinos...

Entre os imigrantes italianos contratados para trabalhar na Usina Monte Alegre, de propriedade dos Morgante, estava o futuro pintor Alfredo Volpi (1896-1988). Quando, em 1930, os usineiros resolveram construir uma capela nos moldes da igreja matriz de Siena, na Itália, um dos pedreiros sugeriu que as paredes fossem decoradas pelo jovem Volpi, pois o rapaz “levava muito jeito com as tintas”.

Março 2011

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Piracicaba tem mais

Museu da Água

Na construção de 1887 funcionou a captação e bombeamento de água da cidade, primeira a ter água encanada no interior paulista. Tal luxo era exibido em torneiras nas salas das residências. Além da vista privilegiada do rio, ali se aprende a respeitar e a consumir adequadamente o precioso líquido. No aquário, podem ser observados os peixes carás, cascudos, bagres e lambaris de rabo amarelo ou vermelho.

Casa do Povoador

Única casa remanescente do século 19 na cidade, teria sido propriedade do capitão Antônio Corrêa Barbosa, quando ele mudou da antiga freguesia de Santo Antônio para a margem esquerda do rio, dando início a Piracicaba. Hoje, a casa abriga um centro cultural, do qual fazem parte os famosos “bonecos do Elias”. 32

Escola Superior de Agricultura

A Esalq, escola idealizada por Luiz de Queiroz, ergue-se em amplo parque gramado, com lagos e jardins projetados pelo paisagista belga Arsenio Putterman. É referência permanente quando se fala em cursos de Agronomia e de Engenharia Florestal no País.

Não deixe de saborear

Nos dias 26 e 27 de março e 2, 3, 9 e 10 de abril, no distrito de Tanquinho, bairro rural de Piracicaba, acontece uma festa tradicional, onde são servidos os mais variados pratos, salgados e doces, tendo como ingrediente principal o milho verde. Para acompanhar, apresentações de conjuntos folclóricos e duplas sertanejas.

s e rviç o

Como chegar A TAM oferece voos diários para São Paulo, saindo das principais cidades brasileiras. De São Paulo a Piracicaba são 160 quilômetros pela rodovia dos Bandeirantes. Onde ficar New Life Apart Hotel • Amplos quartos são o destaque desse hotel localizado na região central da cidade. Fone: (19) 3301-6800. www.newlifepiracicaba.com.br. Hotel Ibis • Integrante da rede de hotéis simples e econômicos, o Ibis de Piracicaba fica estrategicamente localizado em frente ao shopping da cidade. Fone: (19) 2105-5200. www.ibishotel.com.br. Onde comer Restaurante Remador • Os mais tradicionais peixes da região, como www.almanaquebrasil.com.br

dourado, piapara ou pintado, podem ser saboreados fritinhos na hora, no tambor, na brasa, ou assados na telha. Ou ainda servidos com moqueca ou cuscuz. Rua do Porto, 1689. Fone: (19) 3371-7374. www.restaurantereador.com.br. Cachaçaria Piracicabana • Além de comprar na fonte as melhores branquinhas, é possível agendar um saboroso almoço italiano, sob frondosas árvores e junto ao fogão a lenha. Rua do Porto, 76. Fone: (19) 3433-6592. www.cachacapiracicabana.com.br.



O Calculista das Arábias

ligue os pontos

Realidade

Pif Paf

1

teve vida curta: apenas oito edições. Tempo suficiente para inspirar outras publicações debochadas, como o Pasquim.

2

b Até seu aparecimento, em 1970, não havia uma revista nacional sobre esportes. Notabilizou-se ainda por matérias investigativas sobre corrupção no mundo do futebol.

3

c Grandes reportagens, abordagem criativa e liberdade editorial. Entre as matérias de destaque, a cobertura da Guerra do Vietnã, da qual o repórter voltou gravemente ferido. d A revista semanal nasceu em 1928 e, por muito tempo, foi a mais vendida do País. Foi também precursora ao dar generosos espaços ao fotojornalismo.

4

Certa vez, por ocasião de um congresso científico, no fim de um almoço em que se encontravam reunidos vários matemáticos conhecidos, alguns deles ilustres, Eduardo Lucas anunciou-lhes, inesperadamente, que iria propor um problema de matemática, e dos mais difíceis: “Suponho que, todos os dias, ao meio-dia, parte do Havre para Nova Iorque um navio e, à mesma hora, um paquete da mesma companhia parte de Nova Iorque para o Havre. A travessia é feita sempre em sete dias, tanto num sentido como no outro. Quantos navios dessa companhia, seguindo a rota oposta, encontrará no caminho o paquete que sair do Havre hoje ao meio-dia?” Alguns dos ilustres ouvintes responderam estouvadamente: “Sete.” Outros ficaram silenciosos, como se a questão os surpreendesse. Não houve um único que apontou a solução exata. Será que você, caro leitor, teria astúcia para resolver o problema?

acervo da família

O Cruzeiro

Placar

a A revista fundada em 1964 por Millôr Fernandes

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

Adaptado de Matemática Divertida e Curiosa, de Júlio César de Mello e Souza.

teste o nível de sua brasilidade

Palavras Cruzadas

Presidente eleito em 1º/3/1918, morto antes da posse, supostamente de gripe espanhola: (a) Getúlio Vargas (b) Rodrigues Alves (c) Jango (d) Deodoro da Fonseca Em 2/3/1974, é inaugurado um dos cartões-postais do Rio: (a) Maracanã (b) Cristo (c) Calçadão de Copacabana (d) Ponte Rio-Niterói Em 7/3/1977 estreia na Globo o programa infantil: (a) Xou da Xuxa (b) Oradukapeta (c) Sítio do Picapau Amarelo (d) Vila Sésamo Diretor do filme Lúcio Flávio – O passageiro da agonia, lançado em 9/3/1977: (a) Hector Babenco (b) Renato Aragão (c) José Padilha (d) Rogério Sganzerla Presídio para o qual, em 15/3/1936, Graciliano Ramos foi levado: (a) Carandiru (b) Bangu 3 (c) Ilha Grande (d) Aníbal Bruno

Respostas Juca Kfouri

Primeiro clube de Ronaldinho Gaúcho, nascido em 21/3/1980: (a) Inter (b) Grêmio (c) Brasil de Pelotas (d) Caxias Capital fundada em 12/3/1537: (a) Palmas (b) Belo Horizonte (c) Brasília (d) Recife

valiação

BRASILIÔMETRO 1a; 2b; 3d; 4c; 5a; 6c; 7b; 8d. SE LIGA NA HISTÓRIA 1b; 2d; 3a; 4c. ENIGMA FIGURADO Gabriel O Pensador. O QUE É O QUE É? Meia. CARTA ENIGMÁTICA O mais charmoso estádio de São Paulo tem o seu nome (Paulo Machado de Carvalho).

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?

Fabiano Accorsi/Folhapress

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS A resposta correta é 15 navios. O paquete cruzaria com uma embarcação na rota contrária a cada 12 horas, diferentemente do que talvez supuseram os matemáticos que responderam 7. Isso porque os barcos que ele encontraria teriam a mesma velocidade, no sentido oposto. Assim, desde a saída do porto, o paquete cruzaria um navio ao meio-dia e outro à meia-noite. Deve-se considerar que no momento da partida, bem como no momento da chegada, ele também encontraria embarcações.

34

Um dos líderes da Revolução Farroupilha, terminada em 1º/3/1845: (a) Bento Gonçalves (b) Bento Ribeiro (c) Chico Bento (d) Lupicínio Rodrigues

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Conte um ponto por resposta certa

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i l u s t r açõ es

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Sabe a última moda?

Ainda riremos dela

evem ser deuses”, pensaram alguns índios quando viram os portugueses chegando do mar pela “D primeira vez. Só não entenderam porque usavam aqueles panos em cima do corpo. Com

tanto calor, para quê se cobrir tanto? Ao mesmo tempo, os europeus caíram para trás ao ver aquele povo que nem “cobria suas vergonhas”. É só olhar ao redor que dá para entender o que aconteceu. Ficamos no meio-termo: não andamos nus, mas as roupas foram se adequando às atividades do dia a dia e ao clima tropical. Quando a gente olha um retrato de algum adulto quando era jovem, não repara que a imagem é antiga só pelas roupas? Pois é. Pode ter certeza: daqui a alguns anos você vai olhar as fotos que tirou agora e achar as roupas de todo mundo muito estranhas. Imagine só a cena: um rapaz olha em volta na rua, vê que não tem ninguém por perto e rouba uma peça cilíndrica do para-brisa do fusca estacionado. Pra quê? Para usar de anel, oras. Sim, o brucutu era a maior moda entre os jovens dos anos 1960 que gostavam do rock do Roberto Carlos e companhia. Usavam jaqueta de couro, calça boca de sino e costeletas. Logo depois, nos anos 1970, os adolescentes mostravam que só queriam paz e amor: cabelão, roupas soltas e coloridas. Ainda hoje pessoas se inspiram na moda hippie. Aquela foi a primeira vez em que roupas floridas e bem brasileiras entraram na moda.

JÁ PENSOU NISSO?

Das passarelas para as ruas

Provavelmente o chinelo de dedo é a moda brasileira que mais faz sucesso fora do País. Tem mais de 50 anos que o calçado foi inventado. É uma adaptação, em borracha, de uma sandália japonesa feita de palha de arroz – por isso o relevo no solado. Desde então já foram vendidos cerca de três bilhões de pares de havaianas no mundo todo. Se todos eles ficassem enfileirados, dariam quatro voltas inteiras na Terra!

Moda não é só o que acontece nas passarelas. Mas o que se faz lá acaba dando pistas do que vestiremos no dia a dia. No Brasil, os desfiles de moda começaram há pelo menos 60 anos, com o concurso Miss Elegante Bangu, promovido por uma fábrica de tecidos do Rio de Janeiro. Depois teve a Fenit (Feira Nacional da Indústria Têxtil), que fazia grandes eventos com desfiles e shows. Hoje a São Paulo Fashion Week é considerada uma das grandes passarelas do mundo. E todo o mundo está de olho na produção dos nossos criadores.

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Qual cor de calça

Sabe quem é o homenageado do mês? Para descobrir seu nome, basta preencher o diagrama abaixo. O número de cada quadrinho indica uma letra colorida escondida na linha correspondente do texto lá de cima. Por exemplo: primeiro quadrinho, linha 2: Z. E assim por diante.

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Ela foi a primeira estilista a levar para as passarelas tecidos brasileiros e a moda que se usava nas ruas do País. Só não inventou mais moda porque morreu cedo. Sabe quem é?

de qualquer cor.

SoluçÃO na p. 34

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MAMÃO Carica papaya Linneu

Dádiva tropical Os índios lhe davam fins alimentares e medicinais que só séculos mais tarde a “ciência” comprovaria. É gostoso. Refresca. Rejuvenesce. Muito digestivo, graças à papaína, que digere em instantes 200 vezes seu peso em proteínas. E nutre sem engordar.

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béricos não o conheciam até pisarem nos alegres trópicos. Viram que os índios não apenas comiam os frutos do arbusto ereto e sem galhos, encimado por grandes folhas ligadas por longos pecíolos ao caule, que, sulcado, deixa escorrer um suco leitoso, um látex; também usavam a folha como solvente da sujeira de tecidos; para fins medicinais; e na culinária – de que dá testemunho Juan Ponce de León. O espanhol que se celebrizou por procurar a quimérica fonte da juventude e conquistou terras cortadas pelo Trópico de Câncer, ao atingir a futura Flórida em 1521, escreveu ao rei de Espanha: “Os índios preparam a carne para cozinhar envolvendo-a, muitas horas antes de levá-la ao fogo, com folhas de uma árvore que produz um delicioso melão, o qual se come cru. E esse processo torna a carne tão tenra que suas fibras se separam facilmente com os dedos”. Os nativos da América davam ao mamão finalidades que nossa medicina, séculos depois, confirmaria, ao descobrir a importância de suas enzimas. Elas facilitam a digestão sem corroer as paredes do estômago, atacam tecidos mortos e preservam os vivos. A planta herbácea, com altura que varia de dois a 10 metros, frutifica por volta dos nove meses de idade. Pode viver 20 anos, mas para fins comerciais se recomenda renovar o

plantio a cada três ou quatro anos, pois a produção decai. Os frutos, arredondados ou alongados, têm polpa carnosa, macia, saborosa, de cor entre amarelada, laranja ou laranja-avermelhada. O mamoeiro é o parente mais importante na família das Caricáceas, com cerca de 45 espécies, caracterizadas pelo tronco leitoso e as folhas grandes no alto. É nativo de zonas tropicais das Américas e da África. Foram navegadores ibéricos que o levaram, entre 1600 e 1700, para Malásia, Filipinas e outros países do leste asiático. E o mamão seguiu difundindo-se por todas as regiões tropicais e temperadas, inclusive o Brasil. Temos também um mamão nativo, parente próximo da Carica papaya, com nome científico (Jaracatia spinosa) tirado da forma com que os índios se referem a ele: jaracatiá ou yaracatiá – soberana (yara), sadia (catü), redonda (â), pelo que inferimos do dicionário de tupi-guarani de Silveira Bueno. Fruta feminina para os índios, é mais um presente que nos regalou a mãe natureza sob o sol dos trópicos.


Chegou papay e virou mamão

E

m meados do século 16, quando ele chegou aqui, chamavam-no de papay, como na América Central, mas logo ele mudou de nome. “De Pernambuco veio à Bahia a semente de uma fruta a que chamam mamão”, atesta o cronista Gabriel Soares de Sousa, em 1587. O naturalista holandês Marcgrave confirma o poeta Botelho de Oliveira, anotando que não era muito estimado “por causa da abundância”. E Piso, vindo com Nassau em 1637, diz que os lusitanos chamam a fruta de mamão porque “fica pendente da árvore à semelhança de uma teta”.

Na boca dos poetas “Não são menos que as outras saborosas As várias frutas do Brasil campestres; Com gala de ouro e púrpura vistosas, Brilha a mangaba e os mocujés silvestres; Os mamões, moricis, e outras famosas, De que os rudes caboclos foram mestres, Que ensinaram os nomes.” Frei José de Santa Rita Durão (1720-1784), em Frutos, Caça e Pesca do Brasil.

“O mamão por frequente Se cria vulgarmente, E não preza o mundo Porque é muito vulgar em ser fecundo.” Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711), em As Frutas e os Legumes.

Iolanda Huzak

Iolanda Huzak

Farmácia e salão de beleza em casa

S

ua maior riqueza está nas enzimas, como: carpaína, tônico cardiovascular; fibrina, importante na coagulação do sangue; e papaína, a principal, forte digestivo e anti-inflamatório. O médico norte-americano Philip Pollack resolveu tratar com papaína uma mulher com hemorroidas expostas que já havia tentado de tudo. Em três dias, passando mamão “lá”, sumiram a dor e a inflamação. E ela se livrou do bisturi. Mamão tem muita vitamina A e C, que aumentam a imunidade e são antioxidantes, o que previne envelhecimento precoce. Ideal pela manhã, pois nutre; limpa o aparelho digestivo; depura o sangue. Mamão na alimentação protege de anemia, gripe, reumatismo, gastrite. Testes mostraram mais eficácia de suas enzimas contra úlceras do que remédios como omeprazol e ranitidina. E aí vão umas dicas: Prisão de ventre? Coma a polpa e engula as sementes. Calo, verruga, ferida? Aplique o leite das folhas. Mancha, espinha, cravo, ruga? Passe a casca interna no rosto, deixe secar, e lave – é beleza de graça.

SAIBA MAIS As Frutas na Medicina Doméstica, de Alfons Balbach (Edificação do Lar, 1973). Vitaminas e Proteínas – Fonte de vida e saúde, de Edgar T. William (UPF, s/d).

Consultoria: nutricionista Aishá Zanella (aishazanella@hotmail.com)

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Valentões no bar

Um sujeito baixinho está no bar quando, de repente, um grandão mal-encarado chega ao balcão e esbraveja ao atendente: – Quero uma cerveja agora, senão... O garçom rapidamente pega uma cerveja para o valentão. Pouco depois, chega outro, ainda maior e mais bravo. Ele bate na mesa e brada: – Manda uma gelada aí! Senão... Apavorado, o garçom corre e traz uma cerveja ao brutamontes. O baixinho, olhando tudo, resolve imitar os sujeitos. Encara o garçom firmemente, faz cara de mau e exclama: – Quero uma cerveja agora, ô garçom! Senão... – Senão o que, ô baixinho?! – responde o atendente, irritado. – Ah, senão pode ser um guaraná mesmo.

Ih...

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Ao terminar o serviço, o colocador de carpetes percebe que seu maço de cigarros havia desaparecido. Procura, procura, procura... e nada. Até que vê uma elevação se sobressaindo no carpete recém-colocado. Sem disposição para retirar o carpete e refazer o serviço, ele martela a elevação até que desapareça. No instante seguinte, a dona da casa entra na sala: – Seu Valmir, acho que estes cigarros são seus. A propósito, o senhor não viu o meu porquinho-da-índia por aí?

Causos de

Rolando Boldrin

São Jorge e o automóvel Todo santo tem um detalhe para ficar mais fácil a sua identificação junto aos fiéis. O causo que eu conto agora é de uma cumadi caipira lá de Bacuri, que depois que teve seu quadro de são Jorge danificado pelo fogo da lamparina de querosene, resolveu arranjar um quadro novo. Para isso, intimou seu filho pequeno, o Juquinha, para que fosse até o bazar do Salim comprar uma gravura nova do santo. Juquinha – Sêo Salim! A mãe mandô eu aqui pra móde comprá um quadro de são Jorge. Salim procura entre tantos quadros de santo que tinha para vender e não encontra nenhum. Então pega um de são Pedro e entrega pro Juquinha. Salim – Bronto. Bode leva este son Jorge. Juquinha – Brigado, sêo Salim. Quando o menino chegou em casa, a cumadi, católica fervorosa – e, portanto, conhecedora dos detalhes de cada santo do mundo –, esbravejou: Cumadi – Esse sêo Salim é tretero, mêmo. Pensa que eu sô besta? Pode levá de vorta, Juquinha. Diz pro sêo Salim que esse num é o meu são Jorge. O meu santo tá montado num cavalo bonito. Esse num tem nem cavalo! E tá com uma chave na mão! Onde já se viu são Jorge com uma chave na mão? Juquinha então voltou ao bazar de seu Salim. Juquinha – Sêo Salim! Minha mãe ficô braba. Ela disse que o são Jorge dela não é esse santo, não. O dela tem um cavalo bonito, e esse aí tá com uma chave na mão. Salim – Fala bra tua mãezinha que esse é son Jorge, sim. Ele tinha cavalo antes, quando era pobre. Agora ficô rico, melhorou de vida, combrô automóve. Olha aí a chave do carro na mão dele.

Conselho do chefe

O funcionário chega todo desanimado ao trabalho. Percebendo sua tristeza, o chefe solidário aconselha: – Olha, Palhares, quando estou mal, vou pra casa, tomo um banho e passo umas boas horas com a minha mulher. Por que você não faz o mesmo? Eu te libero. Agradecido, o sujeito aceita a recomendação. Três horas depois, está de volta, com um sorriso de ponta a ponta. E o chefe: – Estou vendo pela sua cara que você está ótimo! – Estou, sim! A sua mulher é incrível!

O carro do bêbado

O bêbado estava enchendo a cara no bar, quando chega um menino esbaforido: – Moço, moço! A enchente está levando seu carro! E o bêbado, enrolando as palavras: – Para de brin... brincadeira, ô moleque! Eu tô com a chave!




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