Almanaque Brasil 147 - Julho de 2011

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Simpatias da vó Maria

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urante alguns anos da minha infância, vivi num sítio distante, próximo ao vilarejo Maria Helena, no norte do Paraná. A estrada arenosa que chegava à região cortando a floresta era sempre um desafio para o velho GMC do meu pai. Os encalhes eram frequentes e exigiam esforço extra, além de calços para os pneus emergirem do areão. O procedimento atrasava as viagens, inclusive aquelas com doentes e mulheres grávidas – mais de uma vez deram à luz na cabine do velho caminhão. Médicos e remédios ficavam muito distantes. Para evitar essas penosas viagens, minha vó Maria, portuguesa crente, tinha receitas com plantas naturais da região para todos os males. O avô Juca era mestre em garrafadas, cujos ingredientes ele jamais revelou. Lembro que suas garrafas tinham um lugar especial na modesta dispensa. Em cada uma havia um rótulo tosco feito à mão com as informações dos males que curavam seus conteúdos. Avô Juca fazia o diagnóstico, prescrevia a dosagem correta e vigiava o doente, que nem sempre respeitava o tempo entre uma dose e outra. As plantas eram também ingredientes para as simpatias contra doenças crônicas que vó Maria chamava de “doenças teimosas”. Eu mesmo fui tratado com uma simpatia para curar um abcesso no baixo ventre. Tive que passar 20 vezes no vão de uma bananeira, cujo caule fora cortado ao meio de alto a baixo. O tratamento não deu certo. Só muito mais tarde, já em São Paulo, pude enfim me livrar do tumor, com a ajuda de anestesia e bisturi. Ainda hoje lembro dos nomes de algumas plantas e, vagamente, o que elas curavam. Uma delas é a pata-de-vaca branca, contra diabetes e inflamações – mas tinha que ser a branca, porque a roxa era imprópria e perigosa. Além dela, tenho vivas na lembrança mais duas, porque foram por longos dias espremidas no meu joelho direito para tratar uma ferida feita a foice por um tio desmiolado que, ao cortar uma cana de milho, cortou também a minha rótula. Com a perna imobilizada por uma tala improvisada, tive que sossegar por dias infindáveis, esperando a cicatrização com a ajuda do rubi e da arnica, espremidas de quatro em quatro horas sobre a minha ferida. Quando sangrava, o sangue era estancado com pó de café. Embora eu saiba que foi o corpo que tratou de fechar a minha ferida, sou grato à dedicação, às orações da família e ao alívio que o sumo fresquinho do rubi e da arnica deram ao meu joelho machucado. Elifas Andreato

Não é sábio quem sabe muitas coisas, e sim quem sabe coisas úteis. Ésquilo, dramaturgo grego

índice 5 carta enigmática 8 você sabia? 14 PAPO-CABEÇA João Bosco

20 Ilustres Brasileiros Alberto Nepomuceno

22 eSpecial

Plantas na cultura popular

26 JOGOS E BRINCADEIRAS 27 O Teco-teco www.almanaquebrasil.com.br

28 Viva o brasil Maceió

31 brasil na tv CANTOS E LETRAS 32 em se plantando, tudo dá

Cogumelo – parte 2

34 bom humor: nosso e dos leitores capa Rodrigo Terra Vargas

ARMAZÉM DA M E MÓRIA NAC IONAL Diretor editorial Elifas Andreato Diretor executivo Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisora Liliane Benetti Assistentes de arte Guilherme Resende, Rodrigo

Terra Vargas e Soledad Cifuentes Gerente administrativa Fabiana Rocha Oliveira Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Gráfica Oceano

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mecânica. Os carros de corrida ainda pareciam baratinhas – e eram assim apelidados – quando ele começou a carreira. A categoria em que o País viria a se consagrar só foi instituída em 1950, e já tínhamos lá o nosso representante brasileiro, ao lado de nomes como o ídolo argentino Fangio. O paulistano criou a primeira equipe da categoria no Brasil, a Bandeirantes. Quando pediu um carro para a famosa escuderia italiana, ouviu do presidente: “Não costumo vender nem alugar minhas máquinas. Mas vou ceder uma a você, porque é bravíssimo”. Depois que ele morreu, em 1989, a família cumpriu um pedido: jogou suas cinzas no Autódromo de Interlagos, que, em boa parte graças a seus esforços, voltou a fazer parte do circuito mundial no ano seguinte. (NP)

O papa Paulo 6° recebeu um agrado de cada presidente que assistiu à sua coroação, em 1963. Na foto ao lado, João Goulart lhe entrega um original estojo para as joias vaticanas. O religioso ficou bastante impressionado com o presente. Morreu, porém, sem saber de um segredo que a caixa guardava. O marceneiro responsável revelou ao jornalista Flávio Tavares: “Lembrei que, em uns 150 anos, as traças iriam comer o veludo, deixando apenas o pau-ferro. Então gravei nele um desenho e uma frase para o Vaticano se espantar algum dia”. Quem sabe daqui um século algum papa descubra, debaixo do forro, o símbolo da foice e do martelo feito por arte de seu Manuel Oliveira. Os dizeres? “Viva o Partido Comunista”.

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culos escuros, bigodinho e boina. Não, não estamos falando do figurino de alguém da cena artística ou musical. O homenageado desta carta enigmática nasceu em 14 de julho de 1907 e foi precursor de um esporte no Brasil. Para se ter uma ideia, em 1948, quando subiu pela primeira vez no lugar mais alto do pódio internacional, na Itália, o fato foi tão inesperado que os organizadores nem tinham o hino brasileiro para tocar. A vitória inédita foi celebrada ao som de O Guarani, de Carlos Gomes. Alguns anos antes, esse paulistano filho de italiano rodava pela cidade a bordo de seu táxi. Quando não tinha passageiro, desafiava os colegas taxistas em corridas pelas ruas de São Paulo. De carros entendia bem. Desde os 11 anos vivia entre eles na oficina do pai. Mais tarde também teria a sua própria oficina

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16/7/1950

Diante de 200 mil pessoas, o Brasil perde a final da Copa do Mundo para o Uruguai. Um menino de 9 anos promete ao pai: “Um dia ganharei uma Copa pro senhor”.

12/7/1980

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Cornélio Pires colocou música sertaneja pra girar música sertaneja já teve nomes como Cascatinha e Inhana, Alvarenga e Ranchinho, Milionário e José Rico, até tornarse um gênero musical altamente lucrativo, com cantores e duplas de sucesso nos quatro cantos do País. Todos deveriam tirar o chapéu para Cornélio Pires, o responsável por fazer do caipira e suas variantes gêneros fonográficos. O jornalista era obcecado pelas tradições do interior de São Paulo. Em 1910, apresentou na capital um espetáculo que reunia vertentes da cultura interiorana. Em 1924, fez a primeira apresentação de música caipira num cinema paulistano. Como escritor, publicou mais de 20 livros sobre caipirices. Só faltava levar o tema aos discos. Não faltou mais quando apresentou a uma gravadora um projeto

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inédito de discos com músicas e causos caipiras. Não foi aceito, mas Cornélio decidiu pagar do próprio bolso a produção de 25 mil cópias, que começariam a girar nas vitrolas no início de 1929. Tornou-se assim o primeiro produtor fonográfico independente do Brasil. Os discos eram divididos em cinco séries: folclórica, regional, humorística, serenatas e patriótica. E logo se esgotaram nos pontos de venda, abarrotados de tangos portenhos. “A música argentina está invadindo São Paulo. Não somos contra o tango, mas temos também que mostrar a nossa moda de viola”, disse certa vez. E se deu muito bem na empreitada. (BH) Reprodução

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Após ajudar o Brasil a ganhar três Copas, Pelé, o garotinho de 30 anos antes, é eleito por jornalistas do mundo todo “o atleta do século”.

No site do A lmanaque, assista a trechos de uma reportagem sobre Cornélio Pires.

Geisel determinou que o Rio voltasse a ser do Rio A

Reprodução

mudança da capital brasileira do Rio de Janeiro para Brasília em 1960 criou um clima de insatisfação entre a elite carioca. Afinal, representava uma natural perda de poder político. A solução encontrada foi a criação do estado da Guanabara – o equivalente hoje à cidade do Rio –, com

Mapa do estado da Guanabara. www.almanaquebrasil.com.br

autonomia em relação ao estado do Rio de Janeiro, inclusive com governador próprio. E assim foi até o começo da década de 1970, quando o presidente Ernesto Geisel propôs fundir os dois estados. Os críticos diziam que a medida visava diminuir a força política da Guanabara – o único estado do País governado pelo MDB, partido de oposição à ditadura. A proposta também feria a Constituição, que determinava consulta popular para mudanças de tal ordem. Mas não houve jeito. Em 1º de julho de 1974, Geisel assinou o decreto que tornou a cidade do Rio novamente capital do estado do Rio. Até hoje há quem queira a volta da Guanabara. Em 2004, um político lançou o movimento Autonomia Carioca, pela recriação do estado. Em 2008, cidadãos lançaram O Rio Decide, com o mesmo intuito. As propostas, como se sabe, não tiveram sucesso. Pelo menos por enquanto. (BH) No site do A lmanaque , confira outras informações sobre o episódio.


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Criador do A tal da “casa muito “profano bode black engraçada” existe mesmo metal brega core” também ama A 1/7

dia mundial do rock

dia mundial da arquitetura

Luis Rock

ndré Donzeli é uma figura. Bem acima do peso, ostenta várias tatuagens. São tantos os desenhos que ele mesmo já perdeu a conta. “Essa aqui é a número nova”, brinca, apontando para a mais recente. Mas há ainda outros adornos. De cara, nota-se que ele tem dois alargadores de orelha, dois piercings no nariz e um entre os dentes. Esse é Porkão, personalidade importante do cenário underground de Palmas e inventor maior do estilo denominado “profano bode core black metal brega”. Nascido na goiana Trindade, em 2000 Porkão pisou em solo tocantinense para ficar. Em 2002, após trabalhar em uma empresa de segurança, montou a loja Tendencies Rock Convenience. Um ano depois, organizou o primeiro Tendencies Rock Festival, evento que hoje marca presença no calendário de Palmas. Lá sua banda Baba de Mumm-rá, uma brincadeira com o ser de vida eterna do desenho animado Thundercats, é uma das mais aguardadas atrações, com uma performance que inclui a queima de pôsteres de pagodeiros e artistas do cenário pop. Porkão entra no palco transformado em Satanic Pigg, vestido de batina, com máscara de porco e cuspindo sangue – ketchup, groselha e afins, é bom que se diga. Mas no show também há espaço para o romance. No momento balada, as babetes – dançarinas e backing vocals do conjunto – fazem coreografias e jogam balões de coração para a plateia. Afinal, no coração de Porkão também há espaço para o amor.

Casapueblo, em Punta Ballena: do litoral uruguaio para a música de Vinicius de Moraes.

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ra uma casa muita engraçada / Não tinha teto, não tinha nada. Os versos de Vinicius de Moraes musicados por Toquinho para o disco infantil A Arca de Noé, de 1980, são conhecido por todos. Mas pouca gente sabe como era o fim original de A Casa, que não foi gravado em disco: Mas era feita com pororó / Era a casa de Vilaró. Vilaró é o artista uruguaio Carlos Páez Vilaró. E a “casa muito engraçada”, a Casapueblo, sua mais suntuosa obra. Em 1958, o artista plástico, cineasta e escritor – ou, como ele se define, “um fazedor de coisas” – construiu uma pequena casa de lata em Punta Ballena, no litoral uruguaio, pertinho de Punta del Este. Aos poucos, foi erguendo novas estruturas e cômodos, sempre em linhas arredondadas. Depois

pintou tudo de branco, “para interagir com o azul do céu”, disse. Vinicius, que por um tempo foi embaixador do Brasil no Uruguai, era amigo de Vilaró e presença constante na Casapueblo. Uma manhã, para agradar as filhas do artista, começou a improvisar a trova infantil: Era uma casa muito engraçada... Gostou do resultado e, mais tarde, com algumas aparafusadas, saiu a poesia. E a música. Até hoje a casa continua a ser construída. Vilaró mora na parte mais alta da edificação, que também funciona como hotel e restaurante. Todos os mais de 70 quartos são batizados com os nomes de seus primeiros hóspedes: Pelé, Alain Delon, Brigitte Bardot, Robert de Niro. Além do quarto Vinicius de (BH) Moraes, é claro.

No site do A lmanaque , assista a vídeos sobre a Casapueblo.

enigma figurado

(Glês Nascimento, de Palmas - TO - OVERMUNDO)

das “R ipa na chulipa, pimba na gorduchinha” é apenasaouma lado,

Àlbum de Família

Emerson Silva/ Divulgação

SAIBA MAIS Ouça o som da banda de Porkão em www.overmundo.com.br.

expressões eternizadas pela criatividade do garotinho nascido no interior de São Paulo em 28 de julho de 1949. Sua figura também é conhecida pelo engajamento na campanha das Diretas Já!. Em 1994, um acidente automobilístico prejudicou seu maior bem: a fala. Hoje o melhor jeito de se comunicar é pintando. E ele não perde oportunidades: suas obras marcam presença em exposições País afora.

R.: Confira a resposta na página 26 Julho 2011

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SALADA NO TELHADO

Em se plantando, até na laje dá

Artur Azevedo foi crítico de cinema antes mesmo do cinema 10

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rtur Azevedo marcou o teatro brasileiro com sua sagacidade, unindo denúncia social, ironia e humor. Talvez outro feito conhecido do maranhense tenha sido a fundação da Academia Brasileira de Letras, ao lado de outros escritores, como o irmão Aluísio de Azevedo. O que menos gente sabe é que o dramaturgo e poeta espalhava artigos e crônicas pelos jornais do Rio de Janeiro, muitas vezes com pseudônimos, defendendo a abolição da escravatura e outros assuntos polêmicos. Já na coluna A Palestra, do periódico O País, voltava-se para a crítica teatral. Foi nesse espaço que inaugurou a crítica de cinema no Brasil, em 17 de julho de 1897. A palavra “cinema”, nessa época, dizia respeito apenas a imagens aleatórias apresentadas em casas teatrais pelo cinematógrafo, aparelho inventado pelos irmãos Lumiére. Sempre ligado ao mundo do teatro francês, o escritor foi dos primeiros a acompanhar a nova tecnologia no País. Porém, quando morreu, em 1908, o cinema ainda estava (NP) longe de ser como o conhecemos hoje.

possível fazer crescer comida fresquinha em qualquer canto que receba no mínimo quatro horas de sol por dia e água na medida certa. Quem garante é Marcos Victorino, engenheiro agrônomo dia do ltor agricu e amante da terra. O prazer de ver brotar do solo o alimento que sustenta as pessoas foi semeado há tempos. Era só um menino de seis anos quando usava o quintal do vizinho para plantar milho, pela pura alegria de distribuir as espigas douradas aos amigos. Nascido em São Paulo, Marcos tratou de estudar as coisas da terra. Sabia que a paixão que tinha em cultivar era também paixão de muitos, lições aprendidas na infância no campo e esquecidas no aperto da cidade grande. Para estimular a agricultura dentro de casa, em pequenos espaços, em 2007 ele criou o projeto Plantando na Cidade, que ensina a montar hortas domésticas. As dicas foram descritas em uma cartilha que fica disponível de graça na internet. A ideia virou realidade em cinco escolas paulistanas. Mais de dois mil alunos já aprenderam com ele a preparar os canteirinhos nas telhas, na terra aglomerada sobre o cimento. Até no Rio Grande do Sul andam plantando hortaliças em casa. Marcos sabe que as plantas Hortas criadas a partir do projeto Plantando na Cidade. melhoram a qualidade do ar, diminuem as emissões de gases poluentes, mas para ele o maior ganho do projeto é outro: “Vale a pena ver as famílias comendo alimentos mais saudáveis sem gastar muito, ver avós semeando a terra com os netos”, resume. (Laís Duarte)

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divulgação

Reprodução

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No site do Almanaque, baixe a cartilha do Plantando na Cidade e assista a uma reportagem sobre o projeto.

de quem são estes olhos?

Saiba mais Artur Azevedo: A palavra e o riso, de Antonio Martins (Perspectiva, 1988).

estação colheita O que se colhe em JULHO Morango, abacate, mandioca, kiwi, pera, tomate. www.almanaquebrasil.com.br

tas esportivas recentes do Brasil. O carioca nascido É impossível dissociar sua carismática voz das grandes conquis a final da Copa do Mundo – tornou-se uma em 21 de julho de 1950 – na mesma semana em que o Brasil perdeu lmente citado no Twitter na última Copa, mundia foi nome Seu personalidade admirada e contestada pelo público. destes olhos “fazer silêncio”. dono o para polido, menos modo de , pediram tas quando os internau Confira a respost a na página 26


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Noel compôs baixarias para pregar peça em taxista-cantor

o baú do Barão

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“Cleptomaníaco: ladrão rico. Ladrão: cleptomaníaco pobre.” Divulgação

Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

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REPRODUção

sambista Noel Rosa costumava varar noites e noites em rodas boêmias no centro do Rio. No comecinho dos anos 1930, conheceu por lá um taxista (ou chofer, como se dizia à época) chamado Malhado, que também era metido a músico. Malhado gostava de cantar no estilo operístico, com letras rebuscadas, quase parnasianas, que muitas vezes não sabia o que queriam dizer. Depois de muitas viagens com Malhado, tendo que suportar seus dós de peito, Noel resolveu pregar uma peça no chofer. Escreveu uma música para que Malhado pudesse mostrar seus dotes a duas moças lindas, filhas de um coronel de Vila Isabel. No dia marcado, e depois de algum ensaio, os dois se encontraram para a serenata. Noel disse que tocaria violão do outro lado da rua, para dar o destaque que a voz de Malhado merecia. Ao som das primeiras dedilhadas, Malhado soltou a voz, lendo num papel a letra escrita pelo companheiro: Saí da tua alcova com o prepúcio dolorido / Deixando seu clitóris gotejante / De volúpia emurchecido / Porém, o gonococos da paixão / Aumentou minha tensão... O coronel, claro, não gostou nada da letra pornográfica dedicada a suas filhas. Surgiu na janela já de arma em punho. Malhado correu em disparada. Depois de algumas quadras, encontrou o Poeta da Vila. Esbaforido e assustadíssimo, exclamou: “Não entendi nada, o coronel saiu atirando”. E Noel, sem perder a pose: “Isso é pra você ver o que é a falta de sensibilidade dessa gente...”. (BH) No site do A lmanaque, ouça o músico Henrique Cazes contando o episódio.

Com graça, Maria Esther deu primeiro grand slam ao Brasil aia curta, cabelos impecáveis, olhar decidido. A paulistana Maria Esther Bueno pisou sem medo na quadra central de Wimbledon, em 4 de julho de 1959, para disputar a final no palco mais importante do tênis mundial. A adversária era a norte-americana Darlene Hard, favorita absoluta. Sob os olhares da família real, a desconhecida tenista brasileira de 19 anos impôs seu jogo, ganhando por dois sets a zero. Mas não comemorou de imediato. Preferiu cumprimentar serenamente a adversária. Logo depois, porém, chorou copiosamente, sob os aplausos da torcida londrina. Era o primeiro de três títulos que conquistaria individualmente no torneio – e um dos 19 grand

Arquivo /AE

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Maria Esther Bueno e o então presidente Juscelino Kubitschek.

slams que ganharia na carreira. Naquela tarde, Maria Esther começaria a merecer o apelido de “a bailarina de Wimbledon”, pela elegância em quadra. “Nunca houve campeã mais graciosa”, afirmou há pouco tempo John Barret, comentarista da BBC que acompanha todos os torneios em Londres desde 1945. (NP)

1 Dia Internacional do Cooperativismo 2 Dia Nacional do Bombeiro 3 Dia do Algodão 4 Dia do Operador de Telemarketing 5 Dia do Desportista Amador (CE) 6 Dia Estadual da Fauna (RJ) 7 Dia da Paneleira 8 Dia do Padeiro 9 Dia da Loira 10 Dia Mundial da Lei 11 Dia Mundial da População 12 Dia do Engenheiro Florestal 13 Dia Mundial do Rock 14 Dia Universal da Liberdade 15 Dia Internacional do Homem 16 Dia Nacional do Comerciante 17 Dia de Proteção às Florestas 18 Dia Nacional do Trovador 19 Dia da Caridade 2 0 Dia de Padre Cícero 21 Dia do Trabalhador Doméstico 2 Dia do Cantor Lírico 2 23 Dia do Guarda Rodoviário 24 Dia do Calouro 2 5 Dia do Escritor 2 6 Dia dos Avós 7 Dia do Motociclista 2 8 Dia do do Agricultor 2 29 Dia da Identificação 30 Dia do Leonismo Rondoniense 31 Dia Mundial do Orgasmo

Veja imagens do jogo decisivo no site do A lmanaque. Julho 2011

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m 1925, o militar Luís Carlos Prestes resolveu enfrentar os vícios da República Velha e organizou um movimento tenentista que seguiria Brasil adentro para combater as oligarquias e mobilizar o povo contra as injustiças sociais. Reunindo mais de mil Horácio de Matos e alguns de seus comandados. militares, a Coluna Prestes partiu do sul rumo ao norte do País. Ao longo da marcha, houve alguns embates com forças locais e do governo em várias regiões, sem abalar muito o intento do grupo. Até com Lampião, nomeado representante do governo contra a Coluna, os revoltosos tiveram que lidar. Só não esperavam encontrar na Bahia seu mais temível adversário, Horácio de Matos. O coronel baiano era uma figura poderosa na região da Chapada Diamantina. O presidente Artur Bernardes o considerou o mais habilitado para combater os revoltosos. Horácio aceitou a missão, até por um motivo pessoal: em um combate, tenentistas haviam matado dois parentes seus. Estava formado o Batalhão Patriótico Chapada Diamantina. Com direito a fardas e pagamento pela missão, 600 jagunços partiram em 5 de julho de 1926 da cidade de Lençóis no encalço dos tenentistas. Embates sangrentos ocorreram. Não havia cidade baiana desguarnecida de jagunços bem armados e leais a Horácio de Matos. Cercada, a Coluna Prestes resolveu seguir em direção ao oeste do Brasil. Mas até por questão de orgulho, os jagunços decidiram ir atrás dos tenentistas para eliminá-los de vez. A perseguição enfraqueceu os revoltosos remanescentes, que acabaram por se refugiar na Bolívia. Após 25 mil quilômetros de caminhada, a Coluna Prestes chegou ao fim. Já os jagunços foram recebidos como heróis no retorno a Lençóis. A Coluna Prestes, por sua vez, também teve sua vitória. Foi fundamental para abalar a credibilidade da República Velha, ajudando a abrir caminho para a Revolução de 1930. (BH) No site do A lmanaque, assista a uma reportagem sobre a Coluna Prestes.

A expressão é to na vida, com m péssimo momen nu tá es m ué alg do , na verdade, usada quan s. Rua da amargura ne re pe m ce re pa e sus desalentos qu o percorrido por Je à Via Sacra, o caminh do da e m do no m tro ve o ou é da expressã O primeiro registro o. çã ca cifi cru cá a da antes . De lá pr , que visitava Jerusalém i fre um r po a dit , século 16 na pior. de alguém que está tornou-se sinônimo

João Cabral driblou dor de cabeça 14/7 por 50 anos

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esmo depois de garantir sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, o poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto ainda dizia que uma de suas grandes frustrações era não ter sido jornalista. Ele achava, inclusive, que foi depois de ser rejeitado por um jornal, aos 16 anos, que começaram as dores de cabeça que o acompanharam vida afora. Não era uma dorzinha qualquer, não. O pernambucano passou 50 anos incomodado com a tal enxaqueca do lado esquerdo. Era um verdadeiro enigma para a medicina – doutor nenhum foi capaz de fazê-la cessar. Teve até um parente que recomendou um sanatório. Experiência traumática: “Foi uma internação que durou cerca de seis meses. Mas, apesar disso...”, brincava, “não produziu qualquer resultado positivo. Só deixou más lembranças”. O jeito foi apelar para as aspirinas. João chegava a tomar 10 comprimidos por dia. Regularmente, pelo menos um a cada quatro horas – prática que não o deixava nem mesmo dormir uma noite de sono inteira. Mesmo assim, era só gratidão ao “sol artificial”, que homenageou no inusitado poema Num Monumento à Aspirina: Sol imune às leis de meteorologia / A toda hora em que se necessita dele / Levanta e vem (sempre num claro dia). Claro que os mais de 70 mil comprimidos ingeridos ao longo da vida lhe causaram úlceras. Mas, como há males que vem para bem, a cirurgia emergencial teve inusitado efeito colateral. Aos 66 anos, o autor de Morte e Vida Severina pôde comemorar: depois da operação, a (NP) dor de cabeça desapareceu. Arquivo /AE

Reprodução

Jagunços baianos perseguiram Coluna Prestes até a Bolívia

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Origem da expres

Saiba mais João Cabral de Melo Neto: O homem sem alma, de José Castello (Bertrand, 2006).

Fases da Lua 1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30 . 31 nova

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Leão

22-7 a 22-8

Duas características que melhor definem os leoninos são a dedicação ao próximo e a preocupação em passar bons exemplos às pessoas amadas. Estão sempre dispostos a entrar em projetos, mesmo os alheios, com sincera dedicação. Mas nem tudo são flores. Assim como o leão é o animal mais temido da selva, os leoninos podem se tornar autoritários e intolerantes quando se sentem desvalorizados.

Santa Cruz enfrentou doenças e homicidas para jogar 19/7 na Amazônia

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uas mortes, dezenas de enfermos e três meses de uma aventura arriscada Brasil adentro. Parece história de exploradores, mas os acontecimentos fazem parte do que seria uma Jogadores do tricolor pernambucano em 1943. simples excursão do liberada e a delegação conseguiu se encaixar Santa Cruz à Amazônia, em 1943. O plano num navio para Pernambuco, com escala de era simples: o clube pernambucano faria quatro dias em São Luís. Com pouco dinheiro, amistosos em cidades do Norte para voltar os jogadores viajaram de terceira classe, ao com uns trocados a mais no caixa. Mas não lado de 35 perigosos homicidas deportados foi bem o que aconteceu. “Para mim, é a para o Maranhão. maior epopeia da história da humanidade”, Em São Luís, o clube se viu obrigado a entrar brinca o historiador Luiz Antonio Simas. em campo para levantar alguma grana. Até o A saída do Recife parecia prenunciar o que cozinheiro teve de vestir camisa de titular para viria pela frente. Com a Segunda Guerra Mundial compensar as baixas. Jogo feito, zarparam rumo em curso, navios alemães pipocavam no litoral ao lar, doce lar. Só que, quase no litoral do brasileiro. A embarcação com a equipe teve de Ceará, o comandante recebeu a notícia de que ser escoltada às escuras pela Marinha até Belém, submarinos alemães impediriam a passagem, e onde o Santa faria três amistosos. Depois dos decidiu retornar ao Maranhão. jogos, seguiram para Manaus num navio que Os exauridos jogadores resolveram então rebocava um batelão com alimentos. A viagem voltar para casa por terra, pegando carona num era para ser rápida, mas durou 15 dias – um trem de carga até Teresina – que atrasou a grupo de índios nada simpáticos e bem armados viagem por descarrilar duas vezes. Na capital do sequestrou a tripulação para roubar a comida. Piauí, fizeram um amistoso em troca de comida. Após os jogos em Manaus, parte dos Um dos jogadores foi esfaqueado na zona do jogadores foi acometida por uma infecção meretrício. Só então entraram num ônibus até estomacal das bravas. O goleiro King e o Fortaleza, de onde conseguiram, enfim, chegar a centroavante Papeira foram diagnosticados Pernambuco, dando fim à aventura. com febre tifoide no barco, que seguia de volta Hoje, apesar de ter sido o campeão estadual a Belém. Os dois atletas voltaram a entrar em de 2011, o Santa Cruz vive um momento de campo num jogo contra o Remo. Mas viria o vacas magras – disputa a série D do campeonato pior. Dois dias depois, King morreria; no dia brasileiro. Mas os torcedores antigos não têm seguinte, seria a vez de Papeira. dúvida: se o clube foi capaz de sobreviver a essa Era hora de voltar para casa. Mas, devido à epopeia – exceção feita a King e Papeira –, voltar guerra, o governo proibira o tráfego marítimo. à primeira divisão é uma questão de tempo. (BH) Somente três semanas depois a viagem foi

Reprodução

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Aragão Bernardino Tomé Odo Moduena Maria Goretti Vilibaldo Procópio Verônica Giuliani Antônio das Cavernas Olga Nabor Henrique Camilo de Lellis Vladimir Helério Aleixo Frederico Arsênio Elias Vítor de Marselha Maria Madalena Brígida Cristina Tiago Maior Ana Natália Sansão Marta Pedro Crisólogo Inácio de Loyola

Santa Marta A irmã dos também santos Lázaro e Maria Madalena foi uma das seguidoras de Jesus durante o calvário e ressurreição. Ela recebeu por mais de uma vez a visita de Jesus, e sempre esforçou-se para tratar o visitante com extremo zelo. Por esse motivo, é considerada padroeira das cozinheiras e das donas de casa.

Saiba mais Site oficial do Santa Cruz, com mais histórias sobre o clube: www.coralnet.com.br. Julho 2011

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Por João Rocha Rodrigues

JOÃO BOSCO

O Brasil me impressiona e espanta

fotos: LAURA HUZAK ANDREATO

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João Bosco podia ter sido engenheiro. Estudou seis anos para isso: estabilidade das construções, geometria analítica, mecânica aplicada. Só não se sabe se construiria algo mais consistente do que sua obra. Quando a música bateu à sua porta nos tempos de faculdade, escutou o conselho de Vinicius de Moraes e continuou naquela Ouro Preto barroca, ouvindo os ecos dos negros que povoaram sua infância em Ponte Nova. “Foi o período em que mais me desenvolvi musicalmente”, reconhece. Foi em Ouro Preto também que conheceu Aldir Blanc, com quem formou uma das parcerias mais importantes da nossa música. Do encontro surgiram clássicos como O Mestre Sala dos Mares; Dois pra Lá, Dois pra Cá; O Bêbado e a Equilibrista. Com Aldir e outros parceiros, João explorou África, Oriente Médio, Brasil. E ainda hoje se espanta como qualquer som se sente em casa por aqui. Prova disso é que agora percorre a Europa com uma big band alemã tocando sambas seus com uma levada de jazz. “É isso que me impressiona e espanta no Brasil. E que me deixa aliviado, porque somos assim.” www.almanaquebrasil.com.br


É verdade que a sua primeira apresentação musical foi em uma missa? Minha mãe frequentava muito a igreja. Teve uma incrível militância católica apostólica romana. Em Ponte Nova, cidade em que nasci, ela chegou a ponto de colaborar em extremas-unções. Deve até ter rezado missas. Como eu cantava direitinho, um dia me ensinaram uma letra que falava do papa. Era uma coisa assim: “Viva o papa, Deus o proteja”. E eu fui cantar na igreja. Paguei esse mico apostólico, e carrego essa cruz. Diz o Caetano Veloso: “Cada um carrega um Cristo e muitos carnavais”.

muito. E acabei, no meu trabalho, usando muito esse tipo de harmonia. E continuo usando até hoje. Você conviveu bastante com o maestro Radamés Gnatalli. Ele não te estimulava a estudar teoria musical? Pelo contrário. Frequentei muito a casa dele, fomos amigos. Embora eu ache que o que ele mais gostava de mim era a mangada que eu trazia de Ponte Nova. Tivemos conversas sobre essa questão de estudo. Ele dizia: “Você quer reger, quer fazer uns arranjos assim? Se não, fica assim que está bom. Vamos tomar nossa cerveja que está ótimo”. Mas eu acho que hoje, se estivesse numa outra situação, estudaria. É um pouco constrangedor tocar com uma big band, todo mundo com a sua estante, e você receber o álbum cheio de partituras. O máximo que posso fazer com elas é sentar em cima. Elas são inúteis para mim.

Como você começou a tocar violão? Minha casa era um lugar em que as pessoas iam tocar. Minha mãe era violinista; minha avó, bandonilista. Minha irmã tocava piano. Um dia ela comprou um violão numa espécie de armazém, em que ficam aqueles violões pendurados, meio esverdeados pelo tempo. E eu não deixava o violão descansar. Chegava da escola, tocava violão. Chegava das peladas na rua, pegava o violão. E o violão foi ficando comigo. Não leio

Sua música é muito marcada pela cultura negra. Isso já estava presente na sua infância? Tive grandes personagens em Ponte Nova. Todos eles pretos, e cada um com uma personalidade cifra mais fantástica do que a outra: Bilú, Cirilo, Zé nem partitura. Prego... E também Antônio Sacristão, que enVocê aprendeu a tocar sozinho? Aprendi sozinho. Eu via os caras da cidade tocando, decotendia de eletricidade e fazia os consertos na É meio rava as posições, armava os dedos e o negócio cidade, inclusive os da igreja, que vivia em paconstrangedor ne – por isso o chamavam de Sacristão. Ele bedava certo. Depois fui treinando os movimentos. Sempre tive ouvido muito bom. O que, de muito, vivia bêbado. Não sei como pegava receber um álbum bia uma certa maneira, me prejudicou, porque aqueles positivos e negativos para tirar luz. acabei não estudando música. Hoje, por exem- cheio de partituras. Acho, inclusive, que ele só fazia isso porque plo, não sei a música teórica, não leio partitura bebia muito. Mas a mais importante de todas, O máximo que que me colocou a par de todo esse universo nenem cifra. O que é lamentável. Se alguém é jovem e vai começar na música, tem que esposso fazer com gro, foi a minha babá, que chamávamos de tudar. Porque depois é chato. Cursei EngeAta. Era uma senhora negra, completamente elas é sentar nharia. Estudei estabilidade das construafricana: o jeito de falar, suas simpatias contra ções, geometria descritiva, geometria analía chuva – até hoje tenho pavor de raio. As soem cima. tica, mecânica racional, mecânica aplicada. noridades, esse jeito de falar, esses sons, esses Passei seis anos nesse martírio. Não vou ter fonemas, esses volumes presentes em minha paciência agora, infelizmente. Mas por ter obra são a negritude que vi dessa gente que esesse ouvido, comecei também a mudar a potava bem próxima de mim enquanto eu era um sição dos dedos no instrumento, e com isso fui conseguindo garoto de calça curta e pé no chão. Às vezes estou trabalhando fazer uns acordes, e o ouvido ia dizendo que era legal, ou numa ideia musical e essas coisas vêm lá de trás, e são incorque estava estranho. poradas imediatamente. Consigo visualizar às vezes até o momento em que ouvi aquilo. É uma coisa muito marcante. Em suas composições destacam-se acordes e harmonias absolutamente originais. Será que a origem do seu som, que é lá meio estraQuando a música começou a virar profissão? Quando fui cursar nho, não é justamente o fato de você não ter estudado? Essa coisa Engenharia em Ouro Preto, comecei a tocar muito. Vivia no da estranheza sonora nunca me assustou. Talvez porque a mimeio de músicos. Havia colegas que tinham discotecas fannha irmã tivesse discos de música clássica. E a música clástásticas de música brasileira e internacional, como jazz. Eu sica amplia o seu mundo musical. A gente acaba assimilando não saía da casa desses caras. No meu primeiro ano de facultoda a estranheza que está presente de forma natural, o ouvidade, em 1967, conheci Vinicius de Moraes. Daí é que vem do começa a aceitar a estranheza como uma coisa harmoniotoda a minha ideia do que fazer quando saísse da faculdade. sa. Na música popular, geralmente se tem acordes muito perEu poderia ter largado a faculdade, mas Vinicius me aconsefeitos. Quando comecei a tocar de verdade, esses acordes eslhou muito a ficar. Ele achava que Ouro Preto era um lugar tranhos não só não me assustavam, como me interessavam muito interessante do ponto de vista da inspiração. É realJulho 2011

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mente um lugar muito especial; é barroco, Mestre Athaíde, Aleijadinho. São as esculturas, pinturas, arquiteturas. Aquilo me inspirava muito. Me deixava muito ligado, muito sensível às manifestações artísticas. Vinicius dizia: “Não saia. Vai fazer o que no Rio? Vai trabalhar, arrumar um emprego para ter dinheiro para pagar suas despesas? Fique”. E eu fiquei o tempo todo. Foi exatamente o período em que mais me desenvolvi musicalmente.

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e compartilhar o trabalho com alguém. Eu sabia como proceder e como conduzir para estarmos sempre juntos na caminhada. O negócio é compartilhar uma ideia de tal forma que essa ideia se apresente como uma unidade, e não como uma coisa sobreposta. Parceria é fusão de ideias. A música popular brasileira tem uma larga experiência nisso. Veja o Baden com o Vinicius, que fizeram coisas fantásticas dentro do princípio da cooperação, dentro da unidade da canção. O próprio Vinicius com o Tom... Nós, brasileiros, temos talento para compartilhar ideias.

Sua parceria com Aldir Blanc é um dos grandes encontros da música brasileira. Como foi conciliar tão bem seu universo – mineiro, preto, barroco – com a poesia de um carioca como Aldir? Para nossa feliTalvez sua música mais popular, Papel Marchê, seja uma parceria cidade, entendemos muito cedo o que é ser parceiro. É entrar com Capinan. Qual é a história por trás dessa música? Conheci o dentro do mundo do outro. O Aldir percebeu isso, que ele tiCapinan ainda no meu tempo de estudante. Quem nos aprenha que “viajar” até Minas, entrar no meu universo diverso, sentou foi Vinicius, durante as férias da faculdade, em que em que trazia o barroco de Minas e mais mil e uma fantasias. vim para o Rio. Anos depois, em 1982, 1983, resolvemos fazer Nos conhecemos ainda na época da faculdade – uma música juntos. Aí ele foi em casa, viu as eu em Ouro Preto, ele cursando Medicina no esculturas que minha mulher, Angela, fazia Rio. Eu já havia escrito num jornal da faculdade em papel marchê e ficou muito impressionado. sobre como tinha me impressionado com ele Da Bahia ele me me escreveu uma carta em O urubu foi o num festival universitário. Um dia, tocando no meio, havia a letra de Papel Marchê. motivo do início que, num botequim, conheci um amigo dele, que Quer dizer, ele se deixou inspirar pelo trabalho de minha me ouviu e veio me procurar: “Pô, eu tenho que viu e fez disso uma canção. Também comum amigo no Rio que, se ouvisse essas coisas pus com Wally Salomão, Antônio Cícero, Belamizade que você está fazendo, faria letras bem bacanas. chior. E com Francisco Bosco, que “coincidencom um dos Acho que você ia gostar dele”. O tal amigo era temente” é meu filho. Juntos fizemos as músigrandes o Aldir. Um dia ele foi para Minas e nos conhecas de As Mil e Uma Aldeias, de Malabaristas cemos. Fomos para casa da minha mãe, que compositores de do Sinal Vermelho. Para o meu mais recente fez uma macarronada, e fiquei mostrando disco, Não Vou pro Céu, Mas Já Não Vivo no umas coisas que tinha prontas, entre as quais todos os tempos. Chão, também fizemos algumas canções. Agnus Sei, que mais tarde ele colocaria letra, e Ainda hoje Bala com Bala. Essa foi a nossa primeira músiQual é a importância de Clementina de Jesus para aprendo ca que a Elis gravou, em 1972. seu trabalho? Todo aquele assunto que a gente com Tom Jobim estava falando sobre a negritude de Ponte Nova, E seu encontro com Tom Jobim, naquele disco lanquando eu encontro a Clementina, acho que, todos os dias. çado no Pasquim, como se deu? Eu gravei aquele na verdade, ela pega a varinha mágica dela e faz disco de bolso, O Tom de Antonio Carlos Jobim aquilo tudo vir à tona de forma muito explícita – e o Tal de João Bosco, em julho de 1972. Quanàs vezes, coisas que eu tinha dentro, mas que do Tom ouviu Bala com Bala ficou maluco. Ele já era um estuainda não haviam saído; que eu ainda não havia expressado dioso do urubu. Não havia ainda gravado seu célebre disco Urubu, musicalmente. Clementina vem e permite que isso tudo venha mas já era um expert na ave. Quando escutou esse samba, que à tona. Em 1976, participamos juntos do projeto Seis e Meia, fala que “o urubu sai voando, manso”, ele ficou supercurioso e embrião do projeto Pixinguinha. Saímos em turnê e ficamos nos aproximamos. Em 1973, gravei meu primeiro LP e quem um ano viajando. Foi aí que comecei a incorporar de verdade os escreveu a contracapa foi o Tom, que começou assim: “João fonemas de origem afro. Tudo vem dela. Quando fui fazer a triBosco, sua música já atravessou o riacho” – porque eu vinha lá lha para o espetáculo de dança do grupo Corpo, o Benguelê, em de Minas, do interior. E terminou assim: “O urubu sai voando, 1998, me espelhei nessa convivência com ela e saí em busca de manso”. O urubu passou a ser uma espécie de motivo do início um som com essa africanidade brasileira, mas que não se atida amizade com aquele que eu acho um dos grandes composivesse apenas a aqui, mas viajasse para África do Norte, Oriente tores de todos os tempos. Ainda hoje aprendo com Tom todos Médio. Toda aquela trilha, o trampolim daquilo foi a Clementios dias. A sua música me ensina diariamente. na. Eu apoiei nela para dar esse salto. Nesse novo disco, o Não Vou pro Céu, Mas Já Não Vivo no Chão, gravei um samba que A experiência com Aldir te guiou por outras parcerias? Sem dúviaprendi com ela: Ingenuidade. Ela gravou essa música no mesda. O exercício da parceria com Aldir me ensinou como agir mo disco em que gravou a minha Incompatibilidade de Gênios. www.almanaquebrasil.com.br


Não foi desafiador se meter a compor para um espetáculo de dança? É uma oportunidade maravilhosa você poder compor uma trilha para expressão corporal, porque não há as mesmas regras que existem quando se grava um disco de carreira. É um outro tempo, a música tem uma outra função. É um privilégio que não pode ser adiado – embora a primeira coisa que disse quando fui convidado foi um não. Eu sou de Minas Gerais, então a primeira coisa que a gente fala é sempre não, depois vê se vai dar. A gente fica assim, ressabiado: “Será que eu consigo fazer isso?”. Mas como o Paulo e o Rodrigo Pederneiras, do Corpo, são também mineiros, eles sabem o que quer dizer esse não. Da segunda vez que eles me procuraram eu já quis saber melhor o que era isso, e o não já virou um mais ou menos. Na terceira, topei. Eu tinha ideias malucas. Gravei um pouco do Urubu Malandro, do Pixinguinha, em forma de quadrilha de Minas Gerais. Levei para o negro caipira o chorinho. Fiz um Benguelê, de Clementina, solo, sem os atabaques. Só a saudade de Benguela, o banzo mesmo. Em 2008 você gravou um disco com a prestigiada NDR Big Band. Como foi conciliar seu som brasileiro, mineiro, contaminado pelo banzo de Benguela, com uma big band jazzística alemã? A música é uma coisa universal. Tudo parte daqui, do meu violão. Eu tocando meu violão, acabou-se a minha aflição. Eu sou um cara muito aflito. Mas quando pego no violão, acaba a aflição. Eu devia andar na rua com um violão na mão, porque não teria nenhum tipo de ansiedade. O tempo é outro, muda tudo. Aí fico todo relaxado. O mundo eu vejo a partir dele. Como disse o Aldir num samba que fizemos, eu moro dentro da casca do meu violão: Não vou pro céu, mas já não vivo no chão / Eu vejo tudo aqui de dentro da casca do meu violão. No fundo, não interessa se é big band, se é solo, se é orquestra sinfônica. A linguagem instrumental não depende disso. Fui convidado a trabalhar com a NDR e aceitei. Pegamos músicas minhas, Tiro de Misericórdia, Ronco da Cuíca, e demos um tratamento completamente big band. Linha de Passe até já é uma coisa meio blues, além de samba. Não precisa fazer muita coisa. Aí fizemos uns 10 shows no Brasil, depois gravamos um cd, que saiu este ano na Europa. Agora vamos fazer shows nos festivais de verão europeus. Ficou ótimo, é um barato o disco.

O que mais te desperta atenção no universo da cultura popular brasileira? O que admiro mais é a diversificação, o que dificilmente se vê em outros países. É impressionante. Pelas dimensões geográficas, há vários países aqui dentro. Em outros lugares, como Caribe, Estados Unidos, alguns lugares da América do Sul, há alguma cultura popular, mas a expressão é muito tímida. No Brasil encontra-se uma infinidade de expressões artísticas do mundo popular. É interessante como ainda se pode fazer intercâmbio dessas expressões. Asa Branca, de Luiz Gonzaga, por exemplo, é vista de diversas maneiras, com sotaques de diversas regiões. Tantas interpretações distintas, e é uma música nordestina. Essa experiência que falei de pegar Urubu Malandro e levar para uma quadrilha de Minas, de festa junina, é incrível. A música do Pixinguinha se sente em casa ali. É uma coisa que impressiona no Brasil. A ponto de vários gêneros musicais estrangeiros acabarem se abrasileirando quando passam por aqui. Gêneros fortes do cenário universal chegam aqui e ganham novos sotaques. Essa capacidade de absorver e processar da música brasileira também se dá em outras áreas? O que a gente traz de novo para o mundo? As pessoas fora daqui já têm essa expectativa em relação ao Brasil em várias áreas. O Brasil virou um espaço onde as pessoas têm de passar para poder ver e sentir o que será o futuro. E, de alguma forma, até permitir que algo disso possa impregnar a personalidade deles. Na música, o exemplo mais evidente é a bossa nova. Em princípio, ela teve um flerte com músicas jazzísticas norte-americanas, feitas também por músicos vindos de tantos lugares diferentes. Mas isso foi crescendo a tal ponto que a bossa acabou criando seu próprio universo, tão rico e tão forte que acabou influenciando aquilo que a influenciava. É muito interessante. A partir de certo momento, você pega a música americana e sente a presença da bossa nova. O João Gilberto gravou uma música no disco Amoroso, que não sei se as pessoas conhecem como era antes dele gravar. Para mim, ela começou com João. Apesar de ser uma balada italiana, Estate foi abraçada pela bossa. O que era antes? Não faço a menor ideia. O João é que é o autor dessa leitura linda. É isso que me impressiona e me espanta no Brasil. E que me deixa aliviado, porque somos assim. Podemos ousar e experimentar. Julho 2011

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a a r e a c i s ú m a u S a s e u g u t r o líng ua p muceno o p e n o t r albe

Por Bruno Hoffmann

Reprodução

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A

crítica musical estava em polvorosa em 1895. Tudo porque o maestro Alberto Nepomuceno apresentara no Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro uma série de canções operísticas em que trazia uma novidade: as letras eram cantadas em português. Era quase um insulto acomodar a língua nativa em um meio tão sofisticado. O maestro então disparou a frase definitiva: “Não tem pátria um povo que não canta em sua língua”. Definitiva? Não para todos. Um dos mais ferozes oponentes da novidade era o temido crítico de arte Oscar Guanabarino. Defensor de que o português não era apropriado ao bel canto italiano, travou uma batalha na imprensa contra o aportuguesamento proposto por Nepomuceno. Entre outras obervações irônicas, dizia que o maestro era “adversário da música italiana”, “muito pretensioso” e que “estava longe de ser original”, já que

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Hoje parece natural o brasileiro cantar em seu idioma. Mas o maestro cearense precisou enfrentar preconceitos e ironias quando resolveu aportuguesar a música erudita nacional. Agitador cultural nato, não fugia das brigas em nome de seus ideais e convicções. “É o compositor mais intimamente nacional”, defendia Mário de Andrade.

outros compositores haviam feito a mesma coisa. Foi apenas uma das polêmicas que precisou combater na vida. Hoje pode soar absurdo, mas Nepomuceno também teve que enfrentar a opinião pública para incentivar o genial Heitor Villa-Lobos. Viu-se no meio de embates quando resolveu pôr ritmos populares em óperas e quando apoiou gente como Catulo da Paixão Cearense. Mas nunca fugiu de uma briga.

Olavo Bilac e Machado de Assis

Cearense nascido em 6 de julho de 1864, Nepomuceno tornou-se músico por influência do pai, violonista e mestre de bandas em Fortaleza. Ainda criança, a família mudou-se para o Recife, onde passou a adolescência entre estudos de piano e violino e reuniões com grupos de intelectuais da cidade – principalmente os alunos da Faculdade de Direito. Essa convivência


“Não tem pátria um povo que não canta em sua língua”, dizia, para a ira de seus oponentes.

o despertou para as causas republicanas e abolicionistas. Aos 18 anos, já assumia a direção dos concertos do Clube Carlos Gomes do Recife. E alimentava o desejo profundo de estudar música na Europa. Não era incomum que músicos de seu nível recebessem bolsas para estudar no Velho Continente. Mas seu pedido foi indeferido pelo governo imperial. Suas atividades políticas eram malvistas. Decidiu então mudar-se para o Rio de Janeiro. Se o Recife era efervescente, a capital federal o lançou ainda mais nas discussões políticas e estéticas. Começou a se aproximar de poetas e escritores da cidade. Tornou-se, inclusive, parceiro de alguns deles, ao musicar seus versos. E eram parceiros da pesada. Com Olavo Bilac, compôs Numa Concha; com Machado de Assis, Coração Triste. Em 1887 – portanto, um ano antes da abolição da escravatura – produziu a Dança dos Negros, provavelmente a primeira composição a usar ritmos afro-brasileiros na música nacional. Mas a intenção de estudar na Europa permanecia. Organizou recitais e fez uma turnê no Nordeste para reunir fundos. Três anos após a chegada ao Rio, conseguiu, enfim, embarcar para o Velho Continente. Esteve na Itália, Alemanha, França, Noruega. Nas férias de estudos, seguiu para Viena unicamente para assistir a concertos de Brahms. Na volta, em 1895, sentiu que estava preparado para fazer uma pequena revolução na música brasileira.

Intimamente nacional

Foi na volta ao Brasil que Nepomuceno preparou a histórica apresentação no Instituto Nacional de Música. Nunca mais abandonaria o projeto de abrasileiramento da música nacional. Em 1904, lançou o que seria considerada a primeira ópera verdadeiramente brasileira, O Garatuja,

inspirado no livro homônimo de José de Alencar. Até ritmos populares estavam presentes, como maxixe, lundu, polcas e tangos. Como nove anos antes, não faltou quem torcesse o nariz. Inclusive o próprio Guanabarino, que escreveu: “Apareceu também a chula (dança característica do Recôncavo Baiano), que os palhaços dançam nos circos de feira, dando um tom baixo e ordinário. Os fins musicais devem ser mais elevados”. Nessa época também dirigia a Associação de Concertos Populares, com o objetivo de promover e incentivar novos compositores. Houve – como era comum – quem o ironizou ao convidar o músico popular Catulo da Paixão Cearense para fazer um recital ao violão no Conservatório de Música, considerado um templo da música europeia. O sucesso, porém, foi retumbante. Ouviu chiadeira até quando resolveu ajudar a carreira do jovem Heitor Villa-Lobos. Nepomuceno o admirava tanto que exigia que as edições de suas próprias obras contivessem na contracapa alguma partitura do jovem músico. “Eu não teria escrito minhas canções sem Nepomuceno”, disse Villa-Lobos, tempos mais tarde, também marcado por temas nacionalistas. O maestro e agitador cultural deixou para a posteridade mais de 200 obras. E, entre tantos críticos, o tempo lhe deu muito mais admiradores. Para o jornalista Rodrigues Barbosa, Nepomuceno “é o fundador da música brasileira”. Já Mário de Andrade dizia que “dentre todos os compositores de sua geração, é o mais intimamente nacional”. O coração de Alberto Nepomuceno parou de bater quando tinha apenas 56 anos. “Quando viu que estava morrendo, começou a cantar”, disse um amigo próximo. Certamente, em português. SAIBA MAIS No site do A LMANAQUE, ouça composições de Alberto Nepomuceno.

O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO

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s a l e Com

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e d o p D

roe e ilyn Mon r a M ser m a s. Podem ssionar e e t r n p a j m a i i s v a El iros ntre aventure dingas. E r, n m a a r m a v u l o a s lo remédios heça o va usadas em s e amuletos, con ntas desta terra. há la banhos, c uriosidades das p ec histórias rgas Ter ra Va Tex

e : Ro tta A rt a pescio to : natáli

drigo

o país onde em se plantando, tudo dá, saiu até a essência do perfume de Coco Chanel, o mais famoso do mundo. Somando as plantas da terra com as que vieram de outros continentes, o povo não conteve criatividade e sabedoria. Há as que protegem, as que abrigam o diabo e as que têm ligação com Jesus Cristo. Sem falar nas que curam. Pode ser erva, raiz, casca de tronco, semente, fruto. Soubemos dar utilidade para tudo. O mercado do Ver-o-Peso, em Belém do Pará, é o grande templo no assunto. Na mesma cidade, metade dos lares ostentam um vaso de comigo-ninguém-pode como proteção. Mas as crendices estão por todos os cantos do País. Não há região onde os poderes das sete ervas não seja conhecido. O sambista carioca João Nogueira plantava alfavaca no jardim. Câmara Cascudo, folclorista potiguar, não dispensava um banho de ervas. Quando o tema é tratamentos físicos surgem polêmicas. Há quem confunda fitoterapia com superstição. Claro que chás não resolvem todos os quadros clínicos e que faltam fundamentos a algumas crenças. A erva quebra-pedra, por exemplo, costuma ser associada à solução de cálculo renal. No entanto, ela leva esse nome pela força da raiz, que pode quebrar o calçamento. Exceções à parte, muitos dos conhecimentos populares encontram base científica. Até o Ministério da Saúde já reconheceu que “como a maior diversidade vegetal do mundo”, possuímos “grande potencial para o desenvolvimento dessa terapêutica”. Segundo o mesmo documento oficial, é possível e necessário o “conhecimento tradicional aliado à tecnologia para validar cientificamente esse conhecimento”. Nas próximas páginas você confere tradições passadas de geração em geração, e, ainda assim, novinhas em folha.

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PAULO PINTO /AE

Quebranto Mau-olhado

Ver-o-Peso res resolve de do s de amor físicas a dore

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poeta Manuel Bandeira, quando foi a Belém do Pará, ficou impressionado: Nunca mais me esquecerei / Das velas encarnadas / Verdes / Azuis / Da doca do Ver-O-Peso / Nunca mais. O mercado paraense é a “epifania da cultura ribeirinha da cidade”, descreve o escritor amazonense Milton Hatoum. E continua: “É o encontro, o reencontro com as origens, com a infância, com a nostalgia, com a imaginação, com a saudade, com uma espécie de paraíso ainda não perdido na selva da cidade”.

Pau-Rosa N0 5

vivia o ã n e o r n o M n y il Mar ônico z a m a a m o r a m se

Maior feira livre do mundo, o Ver-o-Peso também guarda sabedoria desenvolvida por muitas gerações. Em banhos, sabonetes, perfumes, cremes ou pomadas, as erveiras têm soluções vegetais para qualquer problema: de dores físicas a desilusões amorosas, traição, falta de parceiro ou de sucesso profissional. Às vezes chamadas de feiticeiras, vendem misturas de ervas com nomes que mais lembram poções mágicas: pega-rapaz, pega não larga, vence batalha, chora nos meus pés, sexo de boto tucuxi e por aí vai.

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os anos 1920, quando Coco Chanel aprovou a quinta tentativa de mistura aromática que seus químicos lhe prepararam, lançou ao mundo seu primeiro e mais famoso perfume. Marilyn Monroe dizia que dormia vestida apenas com duas gotas do Chanel n° 5. O que pouca gente sabe é que o principal ingrediente da fragrância “com cheiro de mulher”, como definia a francesa, é o óleo essencial extraído da madeira do pau-rosa amazônico. Entre as ervas do Ver-o-Peso é fácil encontrar uma versão do perfume feito com cascas do tronco da árvore. E não sai por mais do que 10 reais.

is a in ic d e m s a t n la P s„ o coisa sÈria Erva-cidreira Calmante

Mandacaru

M

uita gente comemorou uma portaria do Ministério da Saúde de 2006, intitulada Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares. A partir da sua publicação, métodos alternativos de tratamento poderiam ser incorporados pelo sistema público de saúde. No documento, o ministério reconhece que a abordagem das plantas medicinais como formas farmacêuticas incentiva a participação social, a solidariedade e o

Possui propriedades contra problemas renais

Alcachofra

Diurética, traz benefícios contra diabetes, mau colesterol, problemas no fígado

Arruda

Analgésica, calmante, estimulante menstrual

Boldo

Tônico, digestivo

Urucum

desenvolvimento comunitário. Claro, muitas vezes a fitoterapia não resolve nada desacompanhada de outros tratamentos. Sem falar que é preciso conhecimento para usar as plantas de forma certeira. Em todo caso, não se pode negar que a ciência vem comprovando muitas propriedades que o povo já conhecia. E que há tempos a indústria as incorporou a seus produtos.

Juá

Age para evitar caspa

Digestivo, antidiarreico

jatobá

Usado contra tosse e problemas respiratórios Julho 2011

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JUVENAL PEREIRA/ AE

, Uma erva é boa

quedirásete?

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cultura popular uniu sete armas poderosas do reino vegetal em um só vaso. Talvez porque seja um número significativo, o vaso das sete ervas é promessa de proteção a sete chaves contra mau-olhado. Na instância máxima da

sorte vegetal, a pimenta é sempre a última guerreira. Além de viver por mais tempo, só mesmo um quebranto muito nefasto para ser um seca-pimenteira. “A pimenta é empregada em nível inimaginável”, descreve Câmara Cascudo.

smaridos Aromado alecrim atraiatéfuturo

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á quem diga que ela viva 33 anos, como viveu Cristo. Planta aromática, o alecrim já serviu para dar sabor especial a vinhos e é uma das preferidas para produzir fumaça em defumações rituais. Também vai parar debaixo do sutiã das damas, ou entre suas madeixas. Provavelmente devido ao cheiro agradável, acredita-se que atraia namorados ou

futuros maridos. Só não confunda a erva mediterrânea com o alecrim-do-campo, natural da América do Sul, que é uma erva capaz de devastar plantações: Alecrim, alecrim dourado / Que nasceu no campo / Sem ser semeado, diz a cantiga popular. Ela é também chamada de vassourinha, por que serve para a confecção do utensílio doméstico.

Jardim de João Nogueira inspirou samba

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ou pendurar uma figa no aço do meu cordão / Em casa um galho de arruda que corta / Um copo d’água no canto da porta / Vela acesa, e uma pimenteira no portão. Os sambistas João Nogueira e Paulo César Pinheiro deram a receita certeira contra mau-olhado em Banho de Manjericão. O samba, feito para a voz de Clara Nunes, esposa de Paulo César, nasceu na casa de João, no Rio de Janeiro. O refrão que diz Eu vou me banhar de manjericão / Vou sacudir a poeira do corpo batendo com a mão foi inspirado em um jardim da erva, também chamada alfavaca. João cultivava manjericão logo na entrada da casa, para perfumar o ambiente.

PLANT AS CASAMENia,T EIroRsaAbrSanca jasmim, garden

ruda r a , ia n ô l o c a d No tempo o sexual ã ç e t o r p e e t r o dava s

E

stá registrado: uma pintura do francês Jean Debret, do século 19, mostra escravas africanas comercializando arruda nas ruas brasileiras. Por influência da cultura africana, o galhinho era muito usado como amuleto para trazer sorte e proteção. De praxe, colocava-se o galho atrás da ore-

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lha. As escravas o usavam escondido sob a prega da roupa. Com outra finalidade, a prática de ocultá-lo nos seios era comum entre as mulheres brancas. Acreditavam que poderia funcionar como anticoncepcional e abortivo, já que a infusão da erva costumava ser feita com esse fim.

Em alto mara,rdia felicidade

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o tempo das grandes navegações, alguns tipos de pimenta valiam ouro nos navios. E não era pelo potencial para amuleto. As americanas, como dedo-de-moça e tabasco, concentram seis vezes mais vitamina C do que uma laranja. Além de grande arma contra escorbuto, os alimentos ardidos provocavam sensação de bem-estar por conter endorfina – coisa rara durante meses em alto-mar.


Cada orixácomsuaservas

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tradição dos banhos de ervas vem do sincretismo das religiões africanas. Todos os orixás do candomblé são associados a plantas. Veja alguns deles:

uém Em Belém, ning ém pode com ningu

Exu Vassourinha, babosa, bananeira, jurubeba. Oxum Jasmim, erva-cidreira, lírio-amarelo, gengibre, coentro, agrião.

N

a capital do Pará, 50% das casas guardam um vaso de comigo-ninguém-pode. A planta ganhou esse nome porque, como indicam suas manchas brancas, é altamente tóxica. A nomenclatura agradou aos supersticiosos, que logo trataram de associar as folhas indigestas à proteção espiritual.

Yemanjá Manjericão, malva-rosa, camomila, violeta, boldo, gerânio.

s, -pode três vezead Èm gu in n oig m co o AbraÁar jejum, garante um dia sem adversid es. de manhã e em zema a roupa bro.anca a lf a m co r a m fu Per mau-olhad do o protege de sexta-feira é o do recém-nasci à meia-noite de ra ei gu fi ixo de um viola com o melhor dos tocadores: o diabo. Postar-se emapba ar render a dedilh xta-Feira Santa melhor jeito de noite de uma Se aei m à ia ba samam não dá frutos... Colher o fruto daO problema é encontrá-lo – samambaia lidade. garante invisibi

o Câmara Cascud corpo tambémfechouo

O

maior mérito do folclorista Câmara Cascudo foi ter rodado o Brasil registrando nossas tradições. Este costume, porém, já estava cansado de saber por vivência própria: “Divulguei o banho de cheiro nordestino, muitas vezes tomado por mim: as plantas aromáticas são naturalmente tidas como as mais apropriadas para os banhos de cheiro, que servem para as moléstias de pele, contra o azar e o mau-olhado”. Cascudo dá também outras instruções: jamais usar sabonete, tampouco se secar com toalha. E indica as melhores madrugadas para o banho: Natal, ano-novo, sábado de aleluia e noite de são João.

Plantas celestiais nascem no chão

H

á um provérbio que diz: “Figueira tem o diabo à beira”. Em vários lugares do mundo, a árvore tem relação com o coisa ruim. Mas o número de vegetais associados ao pessoal do outro lado é bem maior. Rosas são de santa Terezinha, lírios têm a pureza de são José. Ao pé de maracujá pertence a flor da paixão de Cristo, que tem uma coroa como a usada por Jesus na crucificação – dizem até que ele recebeu a coroa debaixo de uma dessas árvores. A lágrima de Cristo inspirou outro nome de flor. Sem esquecer da quaresmeira, que foi assim nomeada porque floresce no período que antecede a Páscoa.

Nathalia Ziemkiewicz/ Ed. Globo

Xangô Levante, quebra-pedra, para-raio, alecrim-do-campo.

Carlota montou hospitaldeplantas na própria casa

E

la sempre gostou de cuidar de plantas. Mas só quando se viu desquitada, com filhos para criar, que a paulista Carlota Drey Dodowishy resolveu levar o assunto a sério. Em 1976, transformou sua casa em um hospital para tratar mudas e plantas adultas. Além de engessar caules, fazer enxertos, aplicar remédios caseiros e indicar o melhor lugar para os vasos, a profissional ainda dedica carinho especial às pacientes – e às suas próprias plantas, que ocupam um quarto inteiro na casa. Carlota gosta de conversar com elas e garante que dá para ver quando alguma está pedindo socorro.

SAIABlmAanMaqAueI,Sconfira

No site dsoinformaÁıes sobre . outra a cultura popular plantas n

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O Calculista das Arábias

ligue os pontos

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

a Em junho, completou 70 anos. Uma das

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b Vendeu mais de um milhão de discos, mas não se limitou à Jovem Guarda. Encenou até musicais, como o histórico Hair. Seu filho tornou-se conhecido após ganhar um reality show na tevê. c A música em que anunciava não precisar de

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espelho para se pentear é o maior sucesso de sua carreira. Teve casamento de 40 anos com outra figura famosa da Jovem Guarda.

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d Era considerado uma espécie de mascote da Jovem Guarda, pois integrou o movimento ainda adolescente. Teve sucesso efêmero, mas deu voz a canções conhecidas até hoje.

O príncipe de Lahore e Déli encontrava-se no reino de Iezid e fez um pedido ao califa. Queria que ele e os demais doutores de sua comitiva pudessem admirar a habilidade do geômetra persa Beremiz Samir, também hospedado no palácio. Realizou-se então um divã onde vários sábios propuseram ao calculista questões relacionadas à ciência dos números. Um escravo fez soar o gongo de prata e todos se curvaram para o início da cerimônia. Um velho ruivo foi o primeiro a desafiar Beremiz: “Uma questão elementar, para o início”. Queria que o geômetra usasse quatro algarismos 9 para escrever uma equação cujo resultado deveria ser 100. Para sua surpresa, a resposta foi, além de correta, imediata. Você saberia dizer qual a solução proposta por Beremiz?

acervo da família

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personalidades mais brilhantes da Jovem Guarda, começou a tornar-se um rosto conhecido no grupo The Snakes.

Adaptado de Matemática Divertida e Curiosa, de Malba Tahan (Record, 2009).

teste o nível de sua brasilidade

Palavras Cruzadas

Capital do Piauí até 20/7/1852: (a) Aroazes (b) Oeiras (c) Caracol (d) Wall Ferraz Em decreto de 22/7/1961, o presidente Jânio Quadros proibiu: (a) Revistas pornográficas (b) Skate (c) Espetáculos de hipnose (d) Futebol aos domingos Nascida em 18/7/1952, foi integrante do grupo Novos Baianos: (b) Gal Costa (a) Maria Bethânia (d) Baby do Brasil (c) Carmen Miranda Atacante uruguaio que, em 16/7/1950, fez o gol do título contra o Brasil na Copa do Mundo: (a) Gigghia (b) Francescoli (c) Daryo Pereira (d) Loco Abreu Gravado em 10/7/1958, o disco inaugural de João Gilberto continha: (a) Chega de Saudade e Bim-Bom (b) Wave e Meditação (c )Bahia com H e Sampa (d) O Pato e Brasil Pandeiro Em 2/7/1937, Dalva de Oliveira gravou pela primeira vez com a dupla: (a) Milionário e José Rico (b) Rick e Renner (c) Preto e Branco (d) Chico e Caetano

Respostas Galvão Bueno Divulgação

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Ao ser desafiado a usar quatro algarismos 9 para escrever uma equação cujo resultado deveria ser 100, Beremiz Samir não titubeou. Acostumado e afeito aos desafios, e profundo conhecedor da ciência dos números, respondeu imediatamente, para surpresa dos presentes: 99 + 9/9 = 100. BRASILIÔMETRO 1b; 2b; 3c; 4d; 5a; 6a; 7c; 8b.

O primeiro Fla-Flu, realizado em 7/7/1912, foi jogado no estádio: (a) Maracanã (b) Laranjeiras (c) Engenhão (d) Pacaembu

SE LIGA NA HISTÓRIA 1c (Eduardo Araújo); 2d (Ed Carlos); 3b (Vanusa); 4a (Erasmo Carlos).

valiação

ENIGMA FIGURADO Osmar Santos. O QUE É O QUE É? Piada. CARTA ENIGMÁTICA No seu tempo, os carros de corrida tinham o apelido de baratinha (Chico Landi).

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?

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Nome do primeiro computador projetado no Brasil, que entrou em funcionamento em 24/7/1972: (a) Janelas (b) Patinho Feio (c) Boniteza (d) InfoBrasil

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Conte um ponto por resposta certa

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Trapezista desastrado inventou a palhaçada No Brasil, em vez de fazer um numerozinho entre outras atrações, os palhaços ganharam lugar de destaque. Também deixaram de se comunicar apenas por mímicas e gestos. “Hoje tem marmelada?”, “Hoje tem goiabada?”. Aqui nasceram as famosas perguntas que todo mundo sabe responder. “E o palhaço, o que é?” Para eles, ser palhaço é um dom. Alguns já nascem artistas. Os pais de Piolin, por exemplo, eram donos de circo. Carequinha, o primeiro a ter um programa de tevê, era filho de trapezistas. Pode acreditar: a mãe dele começou o parto no meio de uma acrobacia. Hoje tem palhaçada nos picadeiros, na telinha, no teatro, na escola e até no hospital. Já percebeu que a maior graça, na verdade, é que aprendemos também a rir de nós mesmos?

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á havia palhaçada antes mesmo de existir palhaço, é verdade. Sempre houve figuras parecidas com as de nariz vermelho que conhecemos hoje, provocando gargalhadas. Arlequim e Pierrô, aqueles personagens franceses do carnaval, você deve conhecer. Sem falar nos bobos da corte, dos castelos medievais. Mas o palhaço de hoje existe desde que o trapezista de um circo alemão errou uma sequência inteira de acrobacias. O público adorou e o dono do circo o colocou para fazer gracinhas. Isso já faz mais de 200 anos.

JÁ PENSOU NISSO? Quando os palhaços estão em grupo, a piada mais famosa é entrarem todos dentro de um fusquinha pequeno. O fusca acabou virando o carro oficial da palhaçada. Agora imagine só se no Brasil todos os fuscas fossem comandados por uma trupe de nariz vermelho. Se de cada um dos carros saíssem seis palhaços, teríamos 20 milhões de palhaços no País! É como se toda a população de Minas Gerais vivesse de fazer graça. Haja marmelada e goiabada, sô!

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“Como vai, como vai, como vai?”. E as crianças: “Eu vou bem, muito bem, bem, bem”. Essa fala era do Arrelia, também um dos primeiros palhaços da tevê. Ele carregava uma enorme bengala e usava sapatos com um bico enorme. Piolin usava um chapéu coco. E Carequinha, o nome não nega, tinha sobrancelhas grossas e cabelo só dos lados. Palhaços são parecidos, mas repare que cada um tem o seu jeitão.

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A trupe tem truques e toques de mestre.

Para descobrir o nome do grupo homenageado do mês, basta preencher o diagrama abaixo. O número de cada quadrinho indica uma letra escondida na linha correspondente do texto lá de cima. Por exemplo: primeiro quadrinho, linha 1: D. E assim por diante.

D

Além do nariz vermelho

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Há 20 anos, uma turma da pesada visita hospitais pelo País para aplicar um seríssimo tratamento em crianças internadas: a besteirologia. Imagina o que é? Se você chutou que a equipe é formada por palhaços, acertou. Só falta descobrir o nome da trupe que acredita que rir é o melhor remédio.

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O que o palhaco e o pintinho tem em comum? SoluçÃO na p. 26

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MACEIÓ

Arco-íris de águas Protegido pela terceira maior barreira de coral do mundo, o mar arlequim das praias alagoanas contagiou toda sua cultura popular, dos guerreiros do Reisado, com seus chapéus de fitas coloridas, aos boizinhos do Boi-Bumbá, sem deixar de lado a caprichosa renda filé.

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e Deus é brasileiro? Pois é coisa sabida de certa! E de qual estado não precisa nem perguntar. É só espiar o que tem por aqui. E olhe que não é pêga, palavra que os alagoanos sempre utilizam quando exageram em alguma afirmação. Quer exemplos do que Ele fez? Me diga onde o Criador caprichou tanto, colocando todos os azuis e verdes de sua divina paleta, se não nas águas do mar alagoano? Onde mais plantou outro mar sem fim de coqueiros? Virgem Santa, é mais fácil as águas dos sete mares se acabarem do que faltar coco por aqui. E não é só de um tipo não, repare: tem do ouro, do anão, do reino, do indiano, e até do medicinal. Quem colhe nesse Brasilzão abacaxi mais doce e perfumoso? Onde mais o Pai de Todos botou na ideia das rendeiras e bordadeiras tanta festa de cores? E na das doceiras tamanho talento? Ainda que mal pergunte, quem celebra tudo isso com os mais belos versos se

www.almanaquebrasil.com.br

não Djavan Caetano Viana, que nasceu na capital? Mas para quem quiser tirar a prova dos nove, onde foi filmado Deus é Brasileiro, protagonizado por Wagner Moura e Antônio Fagundes? O diretor Cacá Diegues, também filho da terra, escolheu como cenário a encantada praia de Riacho Doce. Para outro filme, Joanna Francesa, convidou Jeanne Moreau. Ao ver o mar alagoano, a atriz francesa disse que conhecia o mar do Caribe, do Mediterrâneo e até o Índico, mas em nenhum deles havia encontrado tão inusitada união de cores. Tá dito? Tá mais, tá bendito!

Jogo das cores Bairrismo à parte, fica mesmo difícil explicar tamanha faceirice colorida. Começa na beirinha d’água, que ganha um tom dourado porque se mistura com a areia. Em seguida vêm os roxos, cor das


algas, que, juntando com o azul do mar, se traduzem em nuances azul lilás. Aí começam sequências de azul safira e turquesa, entremeados com verdes citrino, papagaio, até o denso esmeralda. Quando a maré baixa e surgem os recifes, os azuis se intercalam com ocres, sépias e tons canela. Cada horinha muda tudo, e no dia seguinte o Poderoso torna a mudar outra vez: cata a cor que estava aqui na frente e leva lá pra baixo. Já viu criatividade assim? No litoral sul alagoano, só para citar algumas praias, as prediletas são a do Gunga, do Francês e do Pontal da Barra. Depois de Maceió, na Costa dos Corais, vêm Jatiúca, Garça Torta, Riacho Doce, Pratagi, Ipioca e Paripueira, terra de dona Ambrosina da Conceição. Vaidosa, ela sempre andava enfeitada com chapéu, sombrinha e uma profusão de pulseiras, colares e anéis. Todo ano acontece por lá a eleição da Miss Paripueira. Mas quem ganha é a mais espandongada e mal vestida.

O que tem de melhor Seguindo à beira-mar, chega-se à praia que nem parece desse mundo, a do Carro Quebrado, na Barra de Santo Antônio. Dedicada a outro santo, a de São Miguel dos Milagres tem beleza tão incompreensível que só mesmo acreditando em prodígios. Em Porto de Pedras a igrejinha ostenta na fachada – nada mais apropriado – um sorridente solzão amarelo. Depois ainda tem Japaratinga, a praia do Patacho (tida como a mais bela entre tantas da costa brasileira), a praia de mais outro santo, o Bento, e a de Maragogi, com suas divinas piscinas naturais. Cruzes, vamos só falar de praias? Ora, se é o que tem de melhor em Maceió e região... Tá certo, tem ainda muito mais. Quer ouvir? Pois veja o que ensina o Reisado alagoano: Ô minha gente / Reisado, só de Viçosa / Fazenda, só cor de rosa / Baiana, só do Farol. / Ô minha gente / Dinheiro, só de papel / Carinho, só de mulher / Capital, só Maceió.

Preste atenção

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Repare nas marés. São elas que, dependendo da lua, vão determinar a saída dos passeios de catamarãs ou jangadas. A maré morta acontece nas luas minguante e crescente. Já as outras comandam a maré viva, que deixa corais e bancos de areia fora d’água. Os viajantes podem então nadar em meio a cardumes de peixes-sargentos. Julho 2011


Maceió tem mais

Massagueira

Não deixe de visitar 30

No caminho para a praia do Francês, a estrada cruza o bairro de Massagueira. As mulheres doceiras dessa terra de mar de coqueiros fazem doce do quê? De coco, ora. Só que elas inventaram de misturar com maracujá, jaca, queijo, goiaba, e acertaram no ponto: em simples barraquinhas ladeando a estrada, vendem a dois reais a doçura.

Cachaça de frutas

É quase um ponche, dizem, por causa da quantidade de frutas que navega dentro da garrafa: abacaxi, acerola, goiaba, manga, pedacinhos de cana. Mas não se engane, o teor alcoólico é alto. Basta ler o versinho que acompanha a garrafa: Beber, cuspir, pagar, sair, tombar, cair. Na praia da Avenida, um casarão cor de sorvete de baunilha contrasta com o céu cobalto. Tão bonito por fora quanto por seu conteúdo, o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore expõe instrumentos musicais, chapéus de palha, cerâmicas, esculturas em madeira, vestuários dos folguedos populares, artefatos em couro, almofadas e bilros das bordadeiras. Enfim, seu acervo é um verdadeiro santuário da cultura alagoana, formado por peças pinçadas vida afora pelo folclorista que dá nome ao espaço.

Peixe-boi

Em Porto de Pedras, uma associação de ribeirinhos se uniu em torno de projeto para a preservação do peixe-boi, conscientizando pescadores e organizando passeios em jangadas para a observação desses dóceis animais.

s e rviç o A TAM oferece voos diários para Maceió, partindo das principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br. Onde ficar Hotel Salinas de Maceió • O projeto arquitetônico privilegia a vista de todos os apartamentos para o bem cuidado jardim. E de cada um deles pode-se ouvir o barulho do mar. Fone: (82) 3296-3030. www.salinas.com.br. Hotel Salinas de Maragogi • A 130 quilômetros de Maceió, o hotel fica na foz do rio Maragogi, que também serpenteia por seus jardins, e de frente para as piscinas naturais. Fone: (82) 3296-3030. ww.salinas.com.br. www.almanaquebrasil.com.br

Onde comer Wanchako • Na praia de Jatiúca, a sugestão é provar as iguarias da chef Simone Simões Bert em pratos a base de mariscos, lulas, camarões e peixes. Fone: (82) 3377-6024. www.wanchako.com.br. Imperador dos Camarões • De frente para a praia de Pajuçara, como seu nome indica, só camarões reais entram nos nobres pratos elaborados pelo chef Maikel Brumatti. Fone: (82) 3327-5252. www.imperadordoscamaroes.com.br.


Novidades enchem de brasilidade a sua telinha divulgação

Confira novidades, bastidores, dias e horários de exibição no site do ALMANAQUE:

www.almanaquebrasil.com.br

laura huzak andreato

os momentos mais marcantes da carreira e resume o País em um verso: “Brasil, berço das artes reunidas”. Para reuni-las todas também nesse almanaque, Paulinho da Viola não deixa faltar samba já no programa de estreia. É ele quem desfia sua poética e mostra seu som no Cantos do Brasil. Além do Papo e do Cantos, seguimos com os esperados quadros Ilustres Brasileiros, Coisas Nossas, Você Sabia?, Como É Que Se Faz? e Ciência Doméstica. Se quiser saber qual o significado dos sonhos, como se faz um vitral e relembrar a vida e a obra de Betinho, você já sabe: é só postar-se no sofá. Prepare-se: a nova temporada do Almanaque vai encher de Brasil a sua telinha. bira crosariol

A nova temporada do Almanaque Brasil na tevê vem com novas atrações e muitas inovações. Mas não se preocupe: Luciana Mello continua no comando, acompanhada do indefectível Almanaquias, personagem de Robson Nunes. No primeiro programa, que vai ao ar em 29 de julho, você já pode conferir o que Almanaquias anda aprontando pelas ruas do País, em entrevistas, testes e desafios. Por exemplo: você sabe quem, segundo Câmara Cascudo, é a rainha do Brasil? E do anel brucutu, você lembra? É o assunto que inaugura o novo quadro É do Baú. Gente que viveu no tempo da Jovem Guarda explica porque essa moda da juventude deixava todos os fuscas com uma peça a menos. Poucos brasileiros poderiam ser tão especiais como Fernanda Montenegro para abrir a série novinha em folha de Papos-Cabeças que vem por aí. Ela lembra

divulgação

Em julho, o Almanaque Brasil estreia nova temporada na TV Brasil e TV Cultura. Os apresentadores Luciana Mello e Robson Nunes trazem novas atrações e um formato ainda mais divertido para o mais brasileiro dos programas.

Zimbo Trio & Grupo Sinfônico Arte Viva (Arte

Ribamar, de José Castello (Bertrand). Lembrar de uma canção que

Viva). Demorou um bocado, mas chegou. Com 45 anos de carreira, o mítico Zimbo Trio lança seu primeiro DVD, um registro da apresentação do grupo em São Paulo, no fim do ano passado, ao lado de 41 músicos do Grupo Sinfônico Arte Viva. O show tem ainda participação especial de Diogo Poças e Patty Ascher.

o pai lhe cantava na infância fez o escritor carioca partir para seu livro mais pessoal. Castello pediu para o irmão músico escrever a partitura da canção, que intitulou Cala Boca. Baseada nela, escreveu sobre seu pai, que se chamava Ribamar. Cada parte do livro é regida por uma nota musical. As notas influenciam também no comprimento: capítulos em semínima têm o dobro dos capítulos em colcheia, por exemplo.

Michel Freidenson - Notas no Ar (Azul Music). Ele

A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, de João de Sousa Lima (Fonte Viva). Não há certeza, mas acredita-se que a mulher mais famosa do cangaço completaria um centenário neste ano. Especialista no assunto, o autor narra a vida da sertaneja, sem julgamentos a respeito do bando. Conta desde as brincadeiras na infância e os bailes na juventude, passando pelo primeiro casamento atribulado, a paixão e vida com Lampião, até a morte ao lado do cangaceiro.

despontou no início dos anos 1980 como importante nome da revitalização da música instrumental brasileira. Desde então, participou de centenas de trabalhos de gente grande da música popular. Neste seu primeiro disco solo, o pianista recria com vitalidade jazz, sambas e bossas, ao lado de ilustres instrumentistas como Hermeto Pascoal e Raul de Souza.

Julho 2011 Setembro 2010

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COGUMELO - PARTE 2 Fungi

Símbolo do eterno renascer Vários povos o veem como sinal da regeneração da vida. Promissor coadjuvante na cura de câncer, na limpeza de águas poluídas, e na descoberta de novas iguarias: já provou uma torta de chocolate puxada no cogumelo e coberta com filetes de hiratake seco?

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á vimos que boa parte dos cogumelos cresce em material orgânico em decomposição (alguns no esterco de gado, como certos fungos alucinógenos). Então, quem resolve cultivar cogumelos comestíveis pode aproveitar restos do vegetal produzido em sua região – palha de trigo, de arroz; restos de bananeiras, de palmeiras; bagaço de cana. Ao chegar à Univille, em Joinville, 170 quilômetros ao norte de Florianópolis, encontramos, no laboratório de pesquisa em biotecnologia, moças do curso de Engenharia Química preparando substrato de pupunheira, palmeira cultivada por lá. Na extração do palmito, sobra muita bainha – que o abriga – mais palha e folha. E o que seria um problema para o agricultor é uma solução para quem cultiva cogumelo. As jovens são alunas de Mariane Bonatti Chaves, que acaba de defender tese de doutorado sobre cogumelos, e de Elisabeth Wisbeck, que, junto com outros pesquisadores, coordena projetos. Um deles, menina dos olhos do grupo, usa Pleorotus ostreatus, o hiratake. “A gente está apostando na área terapêutica”, informa Elisabeth. Elas nos contam que misturaram na ração de coelhos o “resto do resto” – o substrato depois de colhidos os cogu-

melos. No inverno, os coelhos que comiam ração comum ficaram gripados, com coriza e olhinhos fechados; e os que comiam a ração “especial” permaneceram sadios, ou seja: até o substrato adquiriu a ação antibiótica do cogumelo. A mais recente experiência, em laboratório, mostra o potencial do cogumelo na luta contra o câncer. Em cobaias com melanoma – tumor de pele maligno – aplicaram injeções de substância extraída do hiratake. “Obtivemos no teste 96% de redução do sarcoma 180 – nome do tumor de pele”, relata Elisabeth. Perguntamos quando o remédio vai para as prateleiras, e elas dizem que “isso é complicado”, exigiria uma série de testes e parceria com a indústria farmacêutica, “que ainda é difícil”. “A gente faz e publica o trabalho”, arremata Elisabeth. A coordenadora lamenta que o brasileiro ainda não consuma cogumelos como europeus e asiáticos. “Não temos o hábito, primeiro porque não faz parte da nossa cultura; e depois, o que existe é caro.” Ela apanha um saco de hiratakes secos e nos oferece: parecem chips de exótico sabor – que vamos provar dali a pouco numa fantástica sobremesa no laboratório de gastronomia.


Da morte nasce a vida

Iolanda Huzak

Uma torta de chocolate, morango e hiratake, eba!

Iolanda Huzak

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cogumelo comestível está na lista dos alimentos nutracêuticos, os que, além de nutrir, previnem ou tratam doenças. Na Univille, numa encosta a 100 metros da Biotecnologia, instala-se o curso de Gastronomia. Mariane nos reservava uma surpresa. Apresentou-nos à mestra Mariana Duprat (aparentada de Rogério Duprat, o maestro do Tropicalismo), que nos levou à sala-laboratório de confeitaria. O professor Alex Santos instruía 16 alunos na feitura de tortas e bolos. Rapazes e moças se debruçavam sobre uma torta de pão de ló negro – à base de chocolate e hiratake seco moído, recheada com morango e ganache, uma calda de chocolate em barra derretida no creme de leite. Um aluno cobria a torta com o ganache e enfeitava com mais morangos. E o professor fez o acabamento: dispôs em cima tiras de hiratake seco, em forma de raios. Aí veio o melhor da festa: a degustação. Nunca provamos torta de chocolate mais saborosa. O gosto delicado do cogumelo persistiu na boca por mais de uma hora.

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ara os chineses, ele simboliza a longevidade, sobretudo o agárico, que nasce em restos de vegetais: depois de seco, dura muito tempo. Acreditavam que o agárico só crescia se houvesse paz e prosperidade no império. Para o povo tungue da Sibéria, as almas se reencarnam na Lua como cogumelos e assim voltam à Terra. Bantus do Congo também os consideram símbolos da alma. Há um ponto comum nas crenças: o cogumelo é símbolo da vida regenerada após a decomposição orgânica, ou seja, a vida depois da morte.

Águas poluídas, não percam a esperança N uma pesquisa, vislumbramos um veio para limpar águas. Mariane nos mostra um equipamento, o biorreator, onde um líquido borbulha fazendo girar incontáveis células de Pleurotus – borbulhas de oxigênio, para que possam respirar. O líquido é um efluente de indústria têxtil, que chegou escuro de corantes. Houve a descoloração do efluente, que já parece água. Falta saber se os Pleurotus também descontaminaram a água. Saberemos no mês que vem. Caso sim, imagine as possibilidades de limpeza do meio ambiente. SAIBA MAIS Dieta Mediterrânea com Sabor Brasileiro, de Fernando Lucchese (L&PM, 2005). • No Reino dos Cogumelos, reportagem de Luciana Franco, publicada na revista Globo Rural 253, novembro de 2006.

Consultoria: nutricionista Aishá Zanella (aishazanella@hotmail.com)

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Bom motivo

Furiosa, a mulher abre a porta de casa para o marido às cinco da manhã. Ele entra completamente bêbado, com os cabelos desgrenhados e cheiro de perfume feminino. – Que vergonha! Quero ver você me dar um só motivo digno para chegar aqui a essa hora. – O café da manhã.

Contagem de universitário

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Uma vaga é aberta na empresa e a psicóloga do RH testa os candidatos. Pede para o primeiro: – Conte até 10, por favor. – 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1. – Por que você contou de trás para frente? – É que antes eu trabalhava na Agência Espacial Brasileira... Chega a vez do segundo: – 1,2,3,4,5,6,7,8... E 1,2,3,4,5,6,7,8. – Por que você só contou até 8? – Desculpa, é que antes eu era dançarino. Ao terceiro jovem, prefere começar indagando a colocação anterior. – Eu acabei de sair da faculdade. – Está certo, agora conte até 10, por favor – Ás, 2, 3, 4, 5, 6, 7, dama, valete, rei.

Causos de

Rolando Boldrin

Jogo de fitibó Aquele caboclo, o Zé Laurentino, de tão matuto, nunca tinha visto ou assistido pela tal da televisão um jogo de “fitibó”. Mas um dia, eis que passando por um campo de várzea, desses de arrancar toco mesmo, não só ele entra em contato com o “tar”, como, além de tudo, e na marra, o “coroné”, dono da fazenda, do campo, da bola e do apito, escala o dito cujo pra jogar. E de goleiro – ou de “quipa”, como se diz por lá. E lá vai ele para o gol, defendendo a redonda pra lá e pra cá, caindo toda a hora de boca na poeira. De repente... um pênalti! Todos explicaram pra ele como é a coisa, e que a bola não poderia entrar de jeito nenhum. Quem tomou posição foi o Zé Tombo, apelido que lhe foi dado por derrubar vários “gorquipa” no chão com seus chutes poderosos. E a bola partiu, mas partiu pra valer mesmo, e... Bom, deixa o Zé Laurentino arrematar em versos o que sucedeu: – E quando eu fui pegá a bola / Me atrapaiei, meu patrão / Passô pru entre meus braço / Bateu numa região / Que foi batendo, eu caindo / Espulinhando no chão. / Daquele dia pra cá nem mode ganhá dinhêro / Num jogo mais de golêro / Nem cum chuva, nem cum sór / Nem aqui, nem no deserto / Nunca mais passo nem perto / Dum campo de fitibó.

O mesmo pra você

O major está passeando com um amigo pelas ruas da pequena cidade, sede de seu regimento. Cada vez que um recruta faz continência, ele diz: – O mesmo pra você. A cena se repete muitas vezes, e o amigo não aguenta de curiosidade: – Por que você diz sempre isso? – É que eu já fui recruta. Sei o que eles pensam quando batem continência.

Cálculo aproximado

O dono da empresa acompanha um consultor pelos setores da fábrica, a fim de analisar o rendimento do trabalho. No setor de produção, pergunta para o encarregado: – Quantos funcionários trabalham aqui? O encarregado passa alguns instantes fazendo cálculos mentais: – Trabalhar mesmo? Aproximadamente metade.




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