Almanaque Brasil 154 - Fevereiro 2012

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Novas vidas

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o mês passado, completei 66 anos. Ninguém chega a esta idade sem pensar no tempo. Vivi anos suficientes para saber que a negação do tempo é tão vã quanto ele próprio. O tempo é apenas uma série sucessiva de presentes, um caminho perpetuamente destruído e recomposto, pelo qual avançamos sem parar. Não sou mais tão jovem para não dar ao tempo que ainda disponho a importância de cada novo dia. O tempo tem hoje para mim o significado de uma estrada que não sei onde termina. Nela, o que hoje parece ter relevância, amanhã não passará de simples acessório. Por isso, busco o valor das virtudes com a mesma sinceridade dos anos passados. Tudo passa, enquanto o tempo assiste, imóvel, ao desfile de alegrias e tristezas – cortejo de que se compõe a vida. A dor, as desilusões, as frustrações não são redenção, mas evolução. É preciso ter esgotado todo o sofrimento para chegar ao tempo tranquilo que precede a aurora de uma nova vida. Ainda que tardia, ela pode ser produtiva e feliz. Hoje sou capaz de aceitar a infinita diversidade da minha natureza, que me conduziu por caminhos divergentes, mas sempre em busca da felicidade. Felicidade que hoje tenho razões de sobra para compartilhar com todos os que amo. Sobretudo com as novas vidas que me tratam carinhosamente como nono ou vovô. São essas pequenas criaturas a razão deste texto, feito com Nuno ainda no ventre de minha filha. Em breve poderei tê-lo nos braços, para contar-lhe que a vida é mistério, que cada um obedece a leis diferentes, que cada qual traça o seu próprio destino. Mesmo que ele não compreenda, direi que os séculos passam e o mundo se desgasta, mas a alma, esta sim, deve sempre permanecer jovem – como sinto a minha hoje, depois de 66 carnavais. Espero que o tempo seja generoso, me concedendo alguns anos mais para que possa repetir exaustivamente a essas novas vidas que os objetos da nossa felicidade estão à nossa frente. São eles que mantêm acesa a luz em nossos olhos, para que a vida seja preciosa enquanto durar. Gostaria de encerrar dizendo que acredito firmemente no esquecimento de tudo que não quero, para assim construir o triunfo do que quero viver e ser. Elifas Andreato

O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.

ARMAZÉM DA M E MÓRIA NAC IONAL Diretor editorial Elifas Andreato Diretor executivo Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisora Liliane Benetti Designers Guilherme Resende, Rodrigo Terra Vargas e

Soledad Cifuentes

Gerente administrativa Eliana Freitas Assistentes administrativas Viviane Silva e Geisa Lima Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Gráfica Oceano PUBLICIDADE Fernanda Santiago (11) 3873-9115 E-mail: publicidade@almanaquebrasil.com.br

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Tiragem auditada

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5 carta enigmática

26 JOGOS E BRINCADEIRAS

6 você sabia?

27 O Teco-teco

13 PAPO-CABEÇA

Aumente seu nível de brasilidade e ganhe pontos para trocar por uma infinidade de prêmios Quem assina o Almanaque acumula pontos na rede Multiplus Fidelidade

28 viva o brasil

Pagamento por cartão de crédito ou boleto bancário

32 em se plantando, tudo dá

Central de atendimento ao assinante: (11) 3512-9481 (21) 4063-4320 (51) 4063-6058 (61) 4063-8823

Eleanor Roosevelt, ativista norte-americana de direitos humanos

índice

Adélia Borges

16 IlUSTRES BRASILEIROS Nelson Cavaquinho

Ferrovia Madeira-Mamoré

Oliva – parte 1

20 ESPECIAL

34 bom humor

24 brasil na tv CANTOS E LETRAS

capa Guilherme Resende

É carnaval

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Ou pela internet: www.almanaquebrasil.com.br


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Solução na p. 26

Talvez tenha sido esse o mais remoto fato que o levou a uma defesa apaixonada da democracia, 20 anos depois. Em 1984, declarou: “Quero ficar no meu país. Mas, se não puder votar para presidente, vou embora”. Com a frustração da campanha das Diretas Já, cumpriu a palavra e partiu para a Itália, mas não ficou muito. Logo o processo de redemocratização do qual participou ativamente seria levado adiante. De volta ao Brasil, ainda pôde refazer uma dupla de meio de campo que encantou o mundo. O parceiro Zico diria sobre ele: “Jogando bola é difícil descrever tamanha classe, categoria e a inteligência que extrapolou os campos de futebol”. Quando o País cerrou os punhos pela sua morte, em 2011, era dia de final de campeonato. “E ele, que já era inesquecível, acrescentará à sua história ter morrido no dia em que seu time o homenageou sendo campeão”, anotou Juca Kfouri. (NP)

Tim Maia surpreendeu quando, em 1975, disse ter encontrado num livro toda a verdade sobre o universo. “Nós somos originários de um planeta distante e perfeito, e estamos na Terra exilados.” Era parte da doutrina do Universo em Desencanto. Tim transformou os hábitos alimentares, parou com as drogas e passou a vestir-se apenas de branco. Também gravou dois discos para disseminar as ideias em que passou a acreditar. Na foto ao lado, junto da irmã Luiza e 13 quilos mais magro, empunha o livro que o inspirou a mudar de vida. Alguns meses depois, acusou o criador do Universo em Desencanto, Manoel Jacinto Coelho, de ser um charlatão e voltou a ser o Tim Maia de sempre.

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a primeira vez que ele disputou uma partida no estádio do Pacaembu, precisou comprar um ingresso na bilheteria. É que, por dividir o futebol com a universidade, chegou atrasado e não sabia nem onde ficava o vestiário. O rapaz não tinha certeza se seguiria na carreira, apesar de sempre ter gostado muito de jogar futebol. As lembranças de infância do sujeito bom de bola dão pistas para entender quem ele foi. Nasceu em Belém do Pará, em 19 de fevereiro de 1954, mas passou a maior parte da juventude no interior de São Paulo. O pai, que era funcionário público, havia sido transferido de estado. Era ao lado de seu Raimundo que o menino assistia extasiado aos jogos disputados pelo Santos de Coutinho, Pepe e Pelé – isso antes de se encantar por outro time paulista. Também nunca esqueceu quando, aos 10 anos, viu o pai ter que queimar seus livros preferidos depois do Golpe Militar de 1964.

Fevereiro 2012


28/2/1928

7/2/1851

O navio Teviot chega ao Rio de Janeiro pela primeira vez, trazendo cartas da Europa. Inaugurava a linha de correspondência regular com o Velho Mundo.

f e v e r e i r o

avião postal de uma companhia francesa, atual Air France, sai do Rio de Janeiro e inaugura o primeiro voo regular entre Brasil e Europa.

Primeiro remédio do Brasil provocou furor na Europa 23/2

Laura HA

dia do o boticári

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este antídoto, se curam os Brazis de qualquer peçonha e mordedura de animais venenosos, como também de várias enfermidades, só com mastigá-las”, propagandeava um documento da época. O medicamento passou a ser produzido em larga escala. Em 1755, o marquês de Pombal tornou-se o dirigente político mais importante de Portugal. Com ideais iluministas, impôs anos depois que os jesuítas fossem expulsos de Portugal e do Brasil. Ao expulsar os desenvolvedores da Triaga Brasílica, um desembargador português exigiu que se encontrasse a receita do medicamento tupiniquim. Mas os jesuítas conseguiram escondê-la. O modo de preparar o medicamento era considerado secretíssimo pelos religiosos. E a fórmula nunca mais foi encontrada. (BH)

e você vivesse no século 18 e sentisse sintomas de epilepsia, melancolia, febre, sarampo, cólica ou fosse picado por cobra, era bom que estivesse na Bahia. Foi lá que surgiu o primeiro medicamento do Brasil, desenvolvido para esses e muitos outros males: a Triaga Brasílica, criada e produzida pelos jesuítas do Colégio da Bahia. Inspirado nas teriagas produzidas em Roma e Veneza, foi desenvolvida com 27 espécies vegetais e minerais, quase todas de origem da América portuguesa. Era dividida em raízes, sementes, extratos, gomas, óleos e sais químicos. A fama de seu poder de cura correu a Europa. Tanto que portugueses e espanhóis pagavam altas quantias para importar o medicamento. “Pois com algumas raízes, de que se compõe

No site do A lmanaque , leia mais sobre o medicamento.

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de fevereiro de 1977 era dia de posse dos vereadores eleitos para a Câmara Municipal de Porto Alegre. Tudo ocorria conforme o esperado quando o vereador do MDB e líder da oposição Glênio Peres, o segundo mais votado da cidade, iniciou seu discurso: “Esta é uma casa para se falar da falta de luz, dos buracos da rua, mas esta é também uma casa para falar da ausência da liberdade, do grande buraco aberto nos direitos humanos, nos direitos do cidadão brasileiro”, disparou. Uma mulher que assistia a tudo na plateia contestou, provocativa: “Não apoiado!”. Foi quando Peres deu o golpe final: “É também uma casa para dizer ‘não apoiado’, porque, para ser democrática, ela tem que ceder o microfone para a acusação. É para garantir o direito do

cidadão de pensar e agir, de não ser preso, torturado, perseguido, exilado por ter manifestado o seu pensamento”. Evidentemente, o discurso soou mal ao governo militar. O presidente Ernesto Geisel tirou da gaveta o ato institucional mais opressor da ditadura, o AI-5, que dava direitos absolutos ao governo para cassar cargos políticos. O vereador perdeu o mandato no dia seguinte. Uma semana depois, o novo líder da oposição, Marcos Klassmann, também enfrentou a ditadura ao fazer um discurso parecido com o de Peres. E a Câmara de Porto Alegre perdeu mais um vereador, em um dos últimos suspiros de arbitrariedade do governo militar. Em 1979, com a Lei da Anistia, os cargos tiveram que ser devolvidos (BH) aos oposicionistas.

No site do A lmanaque , leia uma matéria da época sobre a cassação de Glênio Peres. www.almanaquebrasil.com.br

Arquivo/AE

Porto Alegre ficou com menos dois vereadores em 1977

Ernesto Geisel: um dos últimos suspiros de arbitrariedade da ditadura.


Vasconcellos (ao centro) pretendia criar a “Disneylândia brasileira” em Guarulhos.

dia do comediante

uas mil pessoas no teatro Paramount, Rio de Janeiro, em 1958. Era a estreia de Eu Sou o Espetáculo, primeira apresentação solo de humor em um teatro brasileiro. E uma das primeiras do mundo. José Vasconcellos inaugurava o modelo hoje conhecido como stand-up comedy. “O Zé Vasconcellos foi o primeiro one-man-show que existiu”, afirma Jô Soares. O acreano criado no Rio de Janeiro começou a carreira ao ganhar um concurso de imitação na Rádio Clube do Brasil, em 1945. Depois, foi passando de emissora em emissora. Marcou época na Rádio Nacional, ao parodiar personalidades do momento. Sua especialidade era uma impagável imitação de Ari Barroso. A tevê seria inaugurada em 1950 e, dois anos depois, contaria com o seu primeiro programa de humor: A Toca do Zé, exibido pela TV Tupi de São Paulo. O comediante tornou-se um rosto conhecido nacionalmente. Sua fama se consolidou com a estreia de Eu Sou o Espetáculo – principalmente por ser o primeiro show de humor a ser transportado para discos, com vendagens acima das 100 mil cópias. Em 1964, teve uma ideia inusitada: criar em São Paulo a Vasconcelândia, um parque de diversões temático, aos moldes da Disneylândia. Não havia nada parecido no País. Investiu boa parte de suas economias no projeto. Não teve êxito e quase foi à falência. Nos anos seguintes, participou de importantes programas de humor, como a Escolinha do Professor Raimundo, no qual representava o gago Rui Barbosa Sa-Silva. Morreu em outubro de 2010, aos 85 anos, reverenciado pelos mais importantes humoristas brasileiros. “Zé é uma pessoa muito importante. Muito mais do que ele (BH) próprio pensa”, declarou, emocionado, Chico Anysio. No site do A lmanaque , assista ao documentário Ele é o Espetáculo, do cineasta Jean Carlo Szepilovski.

enigma figurado

e do futevôle ino aí ao lado seria um galã do surfe A credite:émo men lidade física que você habi pela é não a, cursado Educação Físic

R.: Conf ira a resp osta na pági na 26

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i. Apesar

de ter tamb nos anos 1970. Hoje É Dia de Rock, sua o conhece. Ele destacou-se no teatro, a ia a década seguinte com uma band primeira peça, já dava pistas: balançar za reve se ido em 19 de fevereiro de 1952 do gênero. Ainda hoje, o carioca nasc é? quem s vagas, pranchas de surfe. Já sabe entre câmeras, microfones e, nas hora

laura ha

Reprodução

Mulher da capa preta encanta 26/2 e apavora povo de Em humor, Zé Vasconcellos Maceió foi precursor em quase tudo N D

21/2 dia do carnaval

a Maceió de outros tempos, menor e mais ingênua, o povo vivia noites de festa e alegria nos grandes bailes que lotavam clubes que não existem mais. Certa noite, uma moça de nome Carolina Sampaio estava apreciando o grande baile, com banda de fora e tudo, quando percebeu os olhares interessados de um simpático rapaz, que segurava no braço uma capa de chuva preta. O desconhecido tomou coragem e foi falar com ela. O casal dançou e se divertiu noite adentro. No fim do baile, ele ofereceu uma carona. Ela, contudo, preferiu descer em uma esquina, deixando seu endereço e prometendo devolver a capa no dia seguinte. Encantado, ele retornou na outra noite, e qual não foi a sua surpresa ao encontrar a mãe da moça no endereço fornecido, lhe dizendo que já fazia tempo que a filha estava morta. Sobre o túmulo onde Carolina fora sepultada, ele encontrou sua capa de chuva. Muitas versões dessa história são contadas na capital alagoana. Tem quem diga que o rapaz é um caminhoneiro; ou um taxista. Há versões de uma Carolina do século 19; outras, dos anos 1980. Talvez seja a universalidade atemporal que torne uma lenda urbana como essa tão duradoura na história de uma cidade como Maceió. A história motivou a criação do Bloco Carnavalesco Mulher da Capa, que completa 12 anos de existência. Marcos Catende, seu fundador, explica que o bloco não passa de uma brincadeira. Outros foliões, no entanto, juram de pés juntos já terem visto uma mulher muito pálida, vestida de negro e com a pele gelada curtindo o carnaval no meio da multidão. (Marcelo Cabral, de Maceió-AL – OVERMUNDO)

SAIBA MAIS Conheça outras histórias carnavalescas, de diferentes cantos do País, em www.overmundo.com.br. Fevereiro 2012

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divulgação

de quem são estes olhos?

gen dia do a l ambienta

Apaixonado por orquídeas, Lenine cultiva 4 mil espécies

F 8

oi num momento em que o menino crescido na praia quis mergulhar na vida do interior que Lenine decidiu comprar um sítio em Petrópolis, nas serras verdejantes do Rio de Janeiro. Disposto a ver o que a terra dava, saiu por ali, levando apenas curiosidade e capacidade de se encantar. E ficou mesmo encantado por uma planta delicada e forte que se equilibrava no alto de uma árvore imensa. Era uma orquídea. O orquidário da propriedade hoje tem quatro mil espécies – um mundo de cores, tamanhos e aromas florindo o ano inteiro. Muito? Não para Lenine: “Para um universo de aproximadamente 40 mil espécies catalogadas no planeta, é quase nada”. As orquídeas deram ao cantor mais do que flores e inspiração. Com elas, aprendeu que tudo é reaproveitável. Em casa, o lixo orgânico – restos de alimentos, frutas e cascas – vai para a compostagem. Do lixo, nasce adubo fértil para as plantas. Mas, embalado pelos acordes da sustentabilidade, Lenine descobriu poder mais. “Hoje, quase 60% do lixo que produzo, reaproveito. Plástico, isopor, garrafa pet, vassoura velha, arame. Tudo eu uso no cultivo, ou como dreno, ou como suporte mesmo”, explica. “O universo das orquídeas é muito amplo e diverso. É uma constante pesquisa simular as características do substrato em que ocorrem essas maravilhosas plantas”, resume o artista pernambucano, celebrando cada flor com melodia. (Laís Duarte)

SAIBA MAIS Site de Lenine: www.lenine.com.br. www.almanaquebrasil.com.br

de fevereiro de 1954, é filha de produtor A dona destes olhos, nascida no Rio de Janeiro em 25 acaso. Asdrúbal Trouxe o Trombone, por teatro no entrou Mas ta. e neta de impor tante radialis veio de um código que usava com o nome da companhia que ajudou a fundar nos anos 1970, de televisão. Sempre identificada mas progra e s novela filmes, pai. Depois, participou de vários um palpite de quem seja? pelo humor, hoje destaca-se como apresentadora. Arrisca Confira a respos ta na página 26

Nem a morte (ou os dirigentes) separaram Didi e Guiomar 14/2 R

dia do amor

isque / Meu nome de seu caderno / Pois não suporto o inferno / Do nosso amor fracassado. Ari Barroso compôs o sambacanção Risque para uma das vedetes do seu programa de calouros, por quem tinha uma queda. É que, em 1951, Guiomar se juntou a Didi, então jogador do Fluminense, famoso por inventar o chute folha-seca. O que poderia ter sido mais uma aventura amorosa foi uma união para a vida toda – para o desconsolo também da opinião pública, que não aceitava Didi ter trocado a ex-mulher por uma vedete. Além da crônica esportiva, que achava que a relação atrapalhava o desempenho do atleta. Quando Didi viajou com a seleção para a Copa da Suíça, em 1954, não aceitou o confinamento proposto pelo técnico Zezé Moreira. Queria um telefone para falar com Guiomar. Decretou até greve de fome – auxiliado por Nilton Santos, que lhe entregava comida escondido. Na Copa seguinte, a direção da Confederação Brasileira de Desportos proibiu que os jogadores levassem as esposas para a Suécia. “Só um cego de nascença não via que se tratava de separar Didi de Guiomar”, comentou o jornalista Nelson Rodrigues. Tudo em vão: o atleta conseguiu um alvará para que ela o acompanhasse. Sempre atenta, a esposa cuidava pessoalmente desde os contratos até as cartas que Didi recebia das fãs. Em defesa dela, Nelson Rodrigues escreveu sobre a injustiça de sempre se culpar a mulher pelos fracassos do marido, mas não pelas glórias. Segundo ele, “ninguém conseguia imaginar Didi sem Guiomar e vice-versa”. Se o escritor tinha razão, a vida foi justa com o casal. Os dois morreram com um mês de diferença, aos 72 anos, em 2001. E permaneceram lado a lado num cemitério no Rio de Janeiro. (NP) No site do Almanaque, leia outras histórias sobre o relacionamento do casal. Acesse também a crônica Didi sem Guiomar, de Nelson Rodrigues.

reprodução

6/2 te


em saber que os garotos não assumiriam império algum, a educação dos filhos da princesa Isabel era especial para futuros governantes. Aos 12 anos, Pedro de Alcântara ganhou uma tipografia e passou a escrever e imprimir o Correio Mirim. O jornalzinho era distribuído entre a corte e narrava os assuntos do dia a dia da família real. A edição de 2 de fevereiro de 1888 chama atenção por deixar de lado os temas corriqueiros, como um pombo-correio ter dado a luz, a ocorrência de um espetáculo com bonecos bolivianos ou um evento a que compareceu toda a família. Noticiava a campanha abolicionista entre a alta sociedade: “Petrópolis vai encher-se de galas para saudar o

Acervo Museu Imperial

Aos 12 anos, filho da princesa Isabel já era abolicionista S Correio Mirim, jornal que Pedro de Alcântara imprimia em sua própria tipografia.

venturoso dia da emancipação de seus escravos”. Pedro de Alcântara, seus pais e irmãos procuravam as famílias em férias para encampar o projeto de alforrias. Seriam mais de 100 cartas compradas. O garoto deleitava-se em sua tipografia: “Levante-se aqui para todos o sol da liberdade, nem se misture mais um suspiro de cativo às brisas embalsamadas da risonha cidade de Pedro”. (NP)

No site do Almanaque, leia mais curiosidades sobre a princesa Isabel e a abolição da escravatura.

KARARAÔ OU BELO MONTE

Usina mudou de nome, mas a polêmica continua

Protásio Nene/ AE

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A caiapó Tuíra ameaça diretor da Eletronorte no 10 Encontro dos Povos Índigenas do Xingu.

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ais de três mil pessoas participaram do 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira, Pará, em 21 de fevereiro de 1989. Até Sting marcou presença. A chegada do músico inglês animou os adolescentes. Muitos o aguardavam com papel e caneta, prontos para o autógrafo. “Eles paravam qualquer loiro com cara de estrangeiro perguntando se o sujeito não era o ‘Stilingue’”, lembra o escritor Marcelo Rubens Paiva, que cobriu o evento pela Folha de S. Paulo.

Um dos principais motivos do encontro foi mostrar repúdio ao projeto de construção da usina hidrelétrica de Kararaô – palavra que significa grito de guerra para os caiapós. Durante a fala do diretor da Eletronorte, a índia caiapó Tuíra encostou a lâmina de seu facão no rosto do dirigente. Clicada, a cena rodou o mundo. Logo o nome da usina seria abandonado. Hoje se chama Belo Monte, mas a polêmica de (BH) 23 anos atrás continua a mesma.

estação colheita O que se colhe em fevereiro

Atemoia, goiaba, maracujá, fruta-do-conde, graviola, banana, maçã, manga, limão-taiti

fe ve re i ro t a mb é m t e m

1 Dia do Publicitário 2 Dia do Agente Fiscal 3 Dia do Desembargador Paulista 4 Dia das Missões Portuguesas 5 Dia do Papiloscopista 6 Dia do Padroeiro dos Cervejeiros 7 Dia Nacional do Gráfico 8 Dia do Frevo (Recife ) 9 Dia dos Mártires Evangélicos 10 Dia do Atleta Profissional 11 Dia do Zelador 12 Dia do Empregado em Edifícios (SP) 13 Dia do Ministério Público Estadual (SP) 14 Dia do Padroeiro dos Amantes 15 Dia Mundia l de Combate à Hansen íase 16 Dia Estadual da Dengue (SP) 17 Dia do Patrimônio Histórico 18 Dia Contra o Trabal ho Infanti l 19 Dia do Esporte 20 Dia da Padroeira das Parteir as 21 Dia Nacional do Naturismo 22 Dia da Vítima 23 Dia do Padroeiro dos Locatá rios 24 Dia da Promu lgação da Constituição 25 Dia do Padroeiro dos Motoristas 26 Dia Estadual do Handebol (SP) 27 Dia do Velhinho 28 Dia de Proteção à Pesca

o baú do Barão “Que faz o peixe, afinal? Nada.” Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

No site do Almanaque, assista a reportagens sobre a construção da usina de Belo Monte. Fevereiro 2012

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são

Origem da expres

ula pik, que

ar está ligada à partíc

a A origem do verbo pic adota a palavra picad O FIM DA PICADA o, um brasileirismo laura ha

rios idiomas. Por iss lamar que alguma significa golpe em vá s de facão. Logo, rec lpe go a er ta, ma na s abertos s. Corresponde a diz para atalhos rústico mosquitos ou inseto m co r ve a tem da a na absurdo. coisa é o fim da picad , por extensão, é um o fim do caminho. Ou é s, ída sa há o nã e qu

MULHER, NEGRA E BRASILEIRA

Lapinha abriu os palcos do velho para o novo 14/2 continente U

Nassau fez até boi voar para inaugurar ponte

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m decreto português caiu só para que os gajos da Península Ibérica recebessem uma apresentação da cantora lírica Joaquina Maria da Conceição da Lapa. Mulher, brasileira e, ainda por cima, negra, Joaquina – mais conhecida como Lapinha – foi recebida com pompa na Europa em pleno século 18. Até então, mulheres estavam proibidas de subir em palcos de Lisboa por decreto da rainha Maria 1°, provavelmente preocupada com flertes entre o marido Pedro 3° e as artistas estrangeiras. Apesar de ser a primeira artista brasileira prestigiada no Velho Continente, tendo representado peças dos maiores compositores europeus da época, o rosto de Lapinha é desconhecido. Tampouco se sabe o que sucedeu a ela depois de seu nome ter parado de aparecer em jornais e programas de ópera. Uma edição da Gazeta de Lisboa de 1795 descrevia a atração: “Natural do Brasil, onde se fizeram famosos os seus talentos musicais, que têm já sido admirados pelos melhores avaliadores desta capital”. Depois, o jornal não mediria palavras para o sucesso de público: “Houve no Teatro de São Carlos o maior concurso que ali se tem visto para ouvir a célebre cantora americana. Foram gerais e muito repetidos os aplausos que expressavam a admiração que causou a firmeza e sonora flexibilidade da sua voz”. No Rio de Janeiro, Lapinha apresentava-se em eventos importantes como aniversários e casamentos reais. Carismática, conquistou entusiasmo no meio estudantil de Coimbra e a admiração de poetas portugueses. Um deles, João Evangelista de Moraes Sarmento, a definiu: “Um volver d’olhos traz (NP) milhões de palmas”.

SAIBA MAIS Negras Líricas: Duas intérpretes brasileiras na música de concerto, de Sérgio Bittencourt-Sampaio (Sete Letras, 2008).

inda há quem espalhe no Recife a história de que Maurício de Nassau teria feito um boi voar sobre o rio Capibaribe. Bem que poderia ser uma lenda, dada a fama quase mitológica do conde holandês que por sete anos administrou a cidade no século 17. Mas, apesar de inusitado, o caso é real. Tudo porque Nassau fazia mesmo questão de ser extravagante, e não poupava recursos para isso. Aos 33 anos, chegou para administrar a colônia holandesa conquistada no Recife e logo mandou construir dois palácios, um jardim botânico, um zoológico e um observatório astronômico. Foi ele também quem, já prestes a deixar o cargo, mandou fazer a primeira ponte das Américas. Não é à toa que a construção, conhecida popularmente como ponte do Recife, leva seu nome. Acontece que a Companhia das Índias Ocidentais, grupo que cuidava da América holandesa, já estava insatisfeita com tanta gastança. Com a demora da obra da ponte, mandou um recado irônico a Nassau: “Como não recebemos há muito tempo notícia da ponte, faz-nos isto pensar que a mesma nunca será terminada”. Sem os recursos da coroa, o conde decidiu ele mesmo investir na engenharia da obra. Para a inauguração, em 28 de fevereiro de 1644, inventou uma artimanha para recuperar parte do gasto: um pedágio. Só faltava criar um pretexto para as pessoas quererem atravessar a ponte. Foi então que anunciou que um boi voaria sobre as águas. Não foi propaganda enganosa. Nassau tratou de criar uma engenhoca com instrumentos náuticos que levou um couro de boi inflado às alturas. “A gente rude ficou admirada, e muito mais a prudente, vendo que com aquela traça ajuntara ali o Conde de Nassau tanta gente para a fazer passar pela ponte, e tirar aquela tarde grande ganância”, narrou o frei Manuel Calado, um dos presentes. O religioso descreveu ainda a comemoração boêmia de Nassau: “No seguinte dia, fez outro banquete às damas, e a quantas taverneiras havia no Recife, e as mais delas (NP) emborrachou, e com isto se deu por despedido de Pernambuco”. SAIBA MAIS Tempos de Brasil, de Helio Brasil (Bom Texto, 2004).

Fases da Lua

1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 cheia

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minguante

nova

crescente

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A

dia da amizade afro-lusocarioca


xea s20-3 Pei20-2 A característica mais marcante do nativo deste signo é uma espécie de carisma não intencional, ligado a um certo ar de mistério. Mas apesar de introspectivos e muitas vezes distraídos com questões práticas, os piscianos costumam ser bastante solidários e atentos às necessidades alheias. Só não espere muita racionalidade. Intuição e imaginação estarão sempre em primeiro plano para quem nasceu sob este signo.

Nos jornais, Orestes Barbosa aprendeu a ler e levar a vida A

16/2 dia do repórter

reprodução

porta do barraco era sem trinco / Mas a lua, furando o nosso zinco / Salpicava de estrelas nosso chão / Tu pisavas os astros, distraída / Sem saber que a ventura desta vida / É a cabrocha, o luar e o violão. Os versos preferidos do poeta Manuel Bandeira, considerados por muitos os mais belos já escritos no Brasil, foram musicados por Silvio Caldas. O que poucos sabem é que o autor da letra de Chão de Estrelas, apesar do refinamento poético, ganhou a vida em páginas de jornais, escrevendo sobre o cotidiano carioca. Orestes Barbosa assinou dezenas de parcerias com nomes como Silvio Caldas, Orlando Silva e Heitor dos Prazeres, mas deixou espalhadas muito mais reportagens importantes feitas no Rio de Janeiro do século 20. Sem nunca ter pisado em instituição de ensino alguma, considerava-se sobretudo jornalista. O carioca tinha apenas seis anos quando parou na frente de um jornal pela primeira vez. Com a família desestruturada, fazia biscates, andava descalço e dormia pelas ruas. Aprendeu a ler observando as manchetes e questionando um vendedor de jornais sobre o que estava escrito. Mais tarde, esse homem ouviria suas músicas na rádio: “Ensinei o autor dessa beleza a ler”. A família já se estabelecera no subúrbio quando um vizinho conseguiu um emprego de revisor para Orestes, antes de completar 18 anos. O garoto nunca mais deixaria as redações: Gazeta de Notícias, O Século, A Manhã. Ainda rapazote, conheceu João do Rio no saguão de O Paiz. Ficou impressionado com a frase que ouviu do cronista: “Olhe, meu jovem, escrever nos jornais é abrir uma tenda de loucura no meio da rua”. João e Lima Barreto foram os mestres com quem aprendeu a falar sobre peixeiros, malandros, meretrizes e aristocratas em linguagem simples e saborosa. Ao entrevistar Dilermando de Assis, que

matara o escritor Euclides da Cunha em um crime passional, Orestes foi o único jornalista a não usar o termo “assassino” antes do julgamento. Certa vez, foi apurar um protesto de normalistas. Escreveu o perfil de uma poetisa órfã de 13 anos que seria interrogada na Justiça a pedido do diretor da escola. Era Cecília Meireles. Publicou ainda uma entrevista de improviso com João Cândido, ao encontrar o líder marinheiro cinco anos depois da Revolta da Chibata. Brincalhão e desbocado, Orestes não temia ninguém. Foi preso duas vezes nos anos 1920 por escrever críticas ao presidente Epitácio Pessoa – o que rendeu um livro de reportagens sobre os colegas de penitenciária. Depois de livre, continuou especialista no mundo do crime e da malandragem. A tenda de Orestes Barbosa, armada no meio da rua, como lhe (NP) ensinou João do Rio, nunca se fechou.

SAIBA MAIS Orestes Barbosa: Repórter, cronista e poeta, de Carlos Didier (Agir, 2005).

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Veridiana Cornélio Brás João de Brito Águeda Pedro Miki Ricardo Josefina Miguel Febres Escolástica Eulógio Eulália Martiniano Cirilo Claudio Onésimo Gertrudes de Nivelles Teotônio Conrado Francisco Pedro Damião Pedro Policarpo Sérgio Valburga Porfírio Gabriel das Dores Romão Leandro

São João de Brito O santo português passou perto de ser brasileiro – o pai foi governador do Rio de Janeiro. Nascido em família fidalga do século 17, ficou conhecido como são Francisco português. Recusou todas as oportunidades, até uma oferecida pelo imperador dom Pedro 2°, para ser missionário religioso na Índia. Foi martirizado por ter convertido um príncipe hindu ao cristianismo.

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Fotos João Bittar

Bittar não acreditava em fotojornalismo sem caráter e opinião

12 João Bittar em autorretrato de 2011. Nas fotos ao lado, o flagrante da provocação de Lula e o registro silencioso de Cartola.

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reve dos metalúrgicos na grande São Paulo, fim dos anos 1970. João Bittar fotografava o momento em que um suposto policial à paisana prendia um trabalhador grevista. Clic! Quando ouviu o barulho da máquina, o homem apontou a arma para o fotógrafo. “Não pensei duas vezes. Talvez até por ingenuidade, continuei retratando”, contou ele. Depois da foto revelada, deu para ver que se tratava de uma arma exclusiva do exército, o que comprovava a tese da revista que encomendara a reportagem: as forças armadas estavam envolvidas na repressão às greves. “Isso é fotojornalismo. O resto é para encher buraco”, defendia o fotógrafo quando lembrava da história. Bittar surpreendeu-se quando viu pela primeira vez uma foto sua à venda em forma de ímã de geladeira. Era também do meio sindical a imagem, a mais conhecida que já fez. Ele tinha ficado responsável por registrar o então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, o que fazia incansavelmente. Em dado momento, Lula levantou a camisa e apontou para o umbigo. “Fotografa!”, desafiou. Não era preciso. Bittar já estava com a imagem cristalizada na máquina. Desse caso também tirou uma lição: “Procuro muito as melhores fotos, mas elas acontecem na hora em que menos se espera.

Por isso eu já andava com a máquina sempre pronta, bem regulada e posicionada”. O jornalista fazia questão de destacar a importância da lealdade e o respeito com o fotografado. Uma série no camarim de Cartola, sem ter pedido autorização ou falado com o sambista, o marcou para sempre: “Estabeleceu-se uma cumplicidade incondicional entre o personagem e o fotógrafo. As cenas desse dia são momentos grandiosos que o destino pode oferecer a um fotojornalista. Graças a elas, num repente, eu posso compreender e medir a qualidade do tempo vivido”. Tom Jobim, Chacrinha, Miguel Arraes e centenas de outras personalidades e anônimos estiveram na mira certeira de Bittar, que comprou sua primeira máquina antes dos 17 anos e logo estaria fazendo fotos para alguns dos mais importantes veículos de informação do País: Folha de S. Paulo, Veja, Época, Exame, Gazeta Mercantil, entre tantos outros. Bittar morreu no fim de 2011, aos 60 anos, ainda encantado pelo ofício. “A paixão pelo fotojornalismo só aumenta a cada dia”, disse pouco antes daquele 18 de dezembro. Para muitos dos que trabalharam a seu lado, uma frase sua sintetiza com precisão o que aprenderam com ele: “É impossível fazer (NP) fotojornalismo sem ponto de vista, caráter e opinião”.

No site do Almanaque, confira outras fotos de João Bittar. Acesse também um vídeo com um depoimento sobre sua vida e obra. www.almanaquebrasil.com.br


Por João Rocha Rodrigues

ADÉLIA BORGES

O artesanato está vivo, em eterna transformação

Mariana Chama

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Quando a jornalista Adélia Borges aproximou-se do design, em meados dos anos 1980, o Brasil era visto apenas como um país promissor. De lá pra cá, junto com a estabilização da moeda, o crescimento sustentado da economia e a redescoberta do Brasil por brasileiros e estrangeiros, o design nacional amadureceu. Hoje, as principais revistas especializadas no tema veem o Brasil como um país capaz de oferecer ao mundo o frescor de novas ideias. Nesse contexto, o artesanato possui um papel importante. Talvez seja a manifestação mais concreta de nossa diversidade cultural. Por onde quer que se ande, ele marca presença. “Coisas lindas estão acontecendo por todo o País”, diz Adélia, autora do recém-lançado Design + Artesanato: O caminho brasileiro. Para escrevê-lo, ela rodou pelos quatro cantos, reunindo histórias de vida que entrelaçam tradição, inovação e transformação social. “Temos pobreza, sim. Temos carências, muitas. Mas também temos um potencial que está em nossos materiais e na nossa capacidade de transformá-los”, registrou. Perguntada sobre o que mais a encantou em suas andanças, Adélia aponta para a capacidade dos artesãos inovarem dentro da tradição. “Uma coisa que me apavora é condenar a comunidade a fazer sempre igual, quando só o que permanece igual é o que está morto. O artesanato está vivo, em eterna transformação.” Fevereiro 2012


Como você acha que o design brasileiro chega a esta segunda década do século 21? Acredito que estamos vivendo o melhor momento do design brasileiro. Mais do que um florescimento, já há até um certo amadurecimento. Isso também foi propiciado por todas as circunstâncias que estão deixando o Brasil muito bem na fita atualmente. O design é multidisciplinar. Tem muito a ver com a economia, com o desenvolvimento, com as expressões culturais e artísticas do País. As principais revistas especializadas internacionais deram edições temáticas para o Brasil, constantemente há notícias sobre o que produzimos, os nossos designers têm uma grande aceitação. Somos hoje importantes no cenário internacional.

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artesanato não joga contra o nosso potencial criativo? Em alguns países há um refinamento das revistas dedicadas ao artesanato. No Brasil, ainda predominam as publicações de trabalhos manuais. Há o que chamamos de Síndrome de Corfix, uma brincadeira com uma marca de tintas para pintar tecido. Para promover as vendas, as fábricas distribuem moldes e modelos para as pessoas, geralmente copiados de trabalhos europeus. É uma invasão de receitas prontas, que não têm nada a ver com a realidade local. Ninguém sabe como desenhar uma bromélia, mas sabe como desenhar uma edelvais, flor que não existe aqui. Essas empresas fazem promoções: compre três potinhos de tinta e ganhe 20 moldes para você copiar. Resultado: todo mundo passou a fazer a mesma coisa. Havia urso panda em tudo o que era lugar. Gente que nunca tinha visto um morango na vida estava fazendo morango de crochê.

O artesanato traz elementos importantes para esse fortalecimento? Muitos interlocutores internacionais veem no fato de o Brasil ainda ter uma mão de obra ligada ao artesanato o principal difeQuando esse quadro começou a mudar? Basicamente, quando as corencial do design brasileiro. Sem dúvida, o artesanato carrega munidades que produzem artesanato começauma série de atributos que influenciam o design ram a dialogar com gente que vinha dos grandes nacional. Nesse momento de tecnologia tão exacentros, interessada na produção local. Foram cerbada, o consumidor tem necessidade de coisurgindo projetos que tiveram talvez como sas que aportem um significado maior, uma maior mérito ajudar essas comunidades a se inconsciência maior. O discernimento do consu“Encontrei serirem em sua própria realidade. Desde então, midor não é mais só pelo fato de o produto ser bonito ou barato. O sujeito também quer saber coisas diferentes muita coisa boa foi feita. E também muita coisa ruim. Um cara urbano sensível chega a essas coqual é a história que ele conta, de onde ele vem, o em todo o País. munidades querendo ouvir, ser um facilitador. que ele significa. Num ensaio dos anos 1970, o Mas a pessoa com pouca sensibilidade chega doescritor mexicano Octavio Paz escreveu duas É bonito ver no da verdade, para dizer o que está na moda, o coisas muito bonitas sobre isso: que o produto esse Brasil que as pessoas devem fazer. Há a postura de diáartesanal traz a impressão digital de quem o faz, logo e a postura de monólogo, que muito se assee que ele celebra a fraternidade original entre os multifacetado, melha à visão colonialista. Todo o processo de homens. Ele estava certo. O artesanato fala ao que surge da colonização consiste em levar uma suposta vercoração das pessoas. dade para acabar com uma suposta ignorância diversidade e existente no lugar. Mas, na realidade, é o contráNeste momento de desterritorialização dos produtos, rio: altas tecnologias, altos conhecimentos, altas os atributos do artesanato ganham força? Sem dúvida. das riquezas sabedorias surgem do conhecimento das socieQuase não existe mais empresa nacional. Um têdades tradicionais. nis dito norte-americano pode ser de uma marca de que dispomos.” dos Estados Unidos, mas foi desenhado por deO que mais te encantou nas viagens que fez? Uma signers de diferentes cantos do mundo e é procoisa fascinante é ver como as pessoas estão duzido em qualquer país que ofereça mão de conseguindo inovar dentro da tradição. Por obra barata. Com isso, produtos com maior valor exemplo, na região Centro-Oeste, com o aproveitamento do agregado custam mais. Ao comprar uma toalha de mesa, você couro dos peixes, que era descartado e hoje é usado para fazer pode optar por uma bordada à máquina ou à mão. A bordada à flores, colares ou no acabamento de bolsas. São coisas lindas mão vai ser muito mais cara – e também terá pequenas imperfeique surgem num país riquíssimo em variedades de peixes, cada ções e irregularidades. É a beleza da imperfeição, ou a “boniteza um podendo oferecer diferentes texturas. Uma coisa que me torta” de que falava a escritora Cecília Meireles. Para se decidir apavora é condenar a comunidade a fazer sempre igual, do por ela, você tem que ser informado que a toalha levou dois memesmo jeito. Eu tenho o direito de mudar. Tenho o direito de ses para ser feita, que aquele bordado só existe naquele lugarejo, pensar diferente do que pensava antes. Mas, muitas vezes, se que é uma tradição de tempos imemoriais. Não se está compranquer que uma pessoa permaneça exatamente igual, quando só do uma toalha para simplesmente por na mesa. Está se como que permanece igual é o que está morto. O artesanato está prando uma história. Fala-se muito sobre línguas que acabam – vivo, em eterna transformação. na hora em que uma língua deixa de ser falada, o mundo fica mais pobre. Na hora em que um determinado tipo de bordado Em seu livro, você fala dos bordados do Matizes Dumont, que já foram deixar de ser feito, o mundo ficará mais pobre também. capa de livros, discos e até do Almanaque Brasil. É uma iniciativa As bancas de revistas estão inundadas de revistas especializadas em armuito bem sucedida, não? Os bordados do Matizes Dumont me tesanato, quase todas muito pouco elaboradas. Essa massificação do emocionam muito porque têm a ver com a história pessoal dessas www.almanaquebrasil.com.br


irmãs mineiras. Mas o que acho mais legal é que o grupo já treinou mais de 10 mil mulheres no Brasil – sempre estimulando a criatividade das bordadeiras. É incrível também o que vi na Rocinha, as artesãs fazendo tapetes em que o avesso é tão lindo quanto o direito. É impressionante chegar em uma cidadezinha tão especial como Pão de Açúcar, no interior de Alagoas, fronteira com Sergipe, e encontrar em um povoado rural uma técnica como o Boa Noite, uma mistura de renda e bordado que só existe lá, ninguém sabe o porquê. A 50 quilômetros dali já não existe mais. Uma coisa que também me alegrou muito foi descobrir como as pessoas estão olhando para as matérias-primas locais. A borracha, no Amazonas; as flores do cerrado. Coisas lindas estão acontecendo por todo o País.

lena trindade

lena trindade

O reaproveitamento de materiais é também algo bastante presente? Uma pesquisa do IBGE apontou que um tipo de artesanato que está crescendo muito é o que se vale de materiais industrializados descartados, o dejeto da sociedade industrial. Por exemplo, as garrafas PET sendo transformadas em coisas incríveis, adornos, decorações urbanas. Ou, como vi em Maria da Fé, interior de Minas, o uso de caixas de papelão de fábricas locais serem transformadas, com água e cola, em outros materiais, que lembram até madeira. É como se o papelão voltasse a ser árvore pelas mãos dos artesãos. Maria da Fé é um lugar em que sempre se plantou muita banana. Quando houve uma crise na produção bananeira, os artesãos começaram a aproveitar a fibra da fruta. Hoje, o dinheiro que se produz com a fibra da bananeira já é maior do que com a comercialização do fruto.

lucas moura

Durante muito tempo se associou o artesanato ao Nordeste. Seu livro prova que ele está vivo e pulsante em todo o País, não? Encontrei coisas diferentes em todo o País. Na Lagoa dos Patos, Rio Grande do Sul, quase fronteira com o Chuí, conheci um trabalho de artesanato diversificado, que tem como motivo a fauna local, bem característica. O que eu acho mais bonito, enfim, é ver esse Brasil multifacetado, que surge da diversidade e das riquezas de que dispomos. O que toca é a conciliação das pessoas com seus próprios lugares, é ver uma foto como a da abertura do último capítulo do livro, que mostra uma mulher trabalhando com o sobrinho pequeno ao lado. Há uma total harmonia entre ela, o menino e o local onde estão, um ateliê no meio do mato. Se essa mulher estivesse em São Paulo, provavelmente trabalharia como empregada doméstica, ia passar duas horas para chegar em casa depois do trabalho, não ia ver os filhos, o sobrinho, teria uma história de ruptura com sua família, sua vida, sua cultura.

Os números do mercado do artesanato são bastante imprecisos, mas é possível ter uma ideia do que ele representa para a economia brasileira? É difícil ter precisão nesses números porque a produção está pulveriada e não há órgão federal que se dedique exclusivamente a esse mercado. É um mercado informal, muitas vezes com produção feita em casa, entre o plantio e a colheita, entre arrumar a casa e começar a cozinhar. Só no ano passado o IBGE incluiu o artesanato no código de ocupações, o que não significa ainda que o considere uma profissão. No entanto, há estimativas. Em 2000, falava-se que havia 8,5 milhões de artesãos no Brasil. Então, Tânia Machado, da Associação Brasileira de Exportação de Artesanato, fez uma conta simples: se cada artesão atingir uma média de um salário mínimo por mês com esse trabalho, dá uma cifra de 55 bilhões de reais por ano. Nesse raciocínio, o artesanato estaria entre os cinco primeiros contribuintes do PIB brasileiro. Mas, por ser uma economia pulverizada, ativada por pequenos produtores, ele não tem o poder de fogo de competir com setores concentrados nas mãos de grandes multinacionais. Os impactos negativos do artesanato também são muito baixos, não? Uma pesquisa feita pela Unctad, organismo das Nações Unidas para o comércio e o desenvolvimento, diz que o custo por emprego gerado no setor petroquímico é de 220 mil dólares. No setor automobilístico, cada emprego custa 91 mil dólares. No artesanato, cada ocupação custa 75 dólares. É incomparável. Mesmo assim, a Lala Deheinzelin, que é uma consultora de economia criativa, fala que temos que criar novas formas de mensurar as coisas. Como deixar de lado na conta do artesanato o capital social, o capital cultural, o capital ambiental? Só para falar de capital ambiental, via de regra, o artesanato faz muito proveito de matérias-primas locais ou recicladas. O que não é o caso de outros grandes geradores de riqueza. Quanto ao capital social, quando as pessoas começam a produzir artesanato, começam a se juntar, se articular, tornam-se mais capazes de construir bens comuns que servem a toda a comunidade. Pode-se dizer que, por toda a nossa diversidade cultural e capacidade criativa, além dos benefícios de várias ordens que traz, o artesanato brasileiro representa um grande potencial a explorar? Sim. Ou exploramos esse potencial – usando a palavra no bom sentido, que é explorar sem esgotar – ou vamos perder uma grande oportunidade. E no plano pessoal, é preciso que os consumidores percebam o valor dos produtos artesanais, que na hora de comprar é preciso levar em conta outras coisas que não só o preço, que esse produto é importante para o desenvolvimento sustentável do País. Enfim, pode-se dizer que não é um potencial no sentido de algo que precisa ser plantado. Ele já está aí, maduro. Falta apenas colhê-lo. Fevereiro 2012

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ho cavaquin n o s l e n

e s e d o d O me mar saudade cha

Por Bruno Hoffmann

Manoel Pires/Folhapress

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C

erta noite, Nelson Cavaquinho acordou assustado e suando frio. Havia sonhado que morreria exatamente às três horas daquela madrugada. Olhou para o relógio e os ponteiros marcavam 2h55. Não dormiria mais. Passou a noite toda atrasando os ponteiros, para que não chegasse o horário fatídico. O medo da morte era a característica mais evidente da personalidade do sambista. E marcou uma das obras mais singulares da música brasileira. Morte, envelhecimento, melancolia, religiosidade e desamores foram os temas que tornaram o compositor carioca um dos mais importantes músicos do Brasil. “Ele é o poeta da morte”, define o crítico musical Ricardo Cravo Albin. Mas o compositor também entrou para a história por sua forma única de tocar violão, usando apenas o indicador e o polegar da mão direita para vibrar as cordas do instrumento. O resultado era um som rústico e rascante, tal qual sua voz. As letras – ora feita por ele, ora com parceiros – impressionavam pela profundidade. “O meu grande mestre em samba é o

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Ele passou 74 anos temendo o fim da vida. Enquanto isso, produziu uma belíssima e intrigante obra musical. A morte, a melancolia e outros sentimentos profundos figuraram em mais de 600 de seus sambas. Numa mistura de pessimismo e amor à vida, Nelson Cavaquinho tornou-se um dos maiores e mais originais artistas do Brasil.

Nelson Cavaquinho. Ele é o maior poeta popular do Brasil”, desmanchava-se Baden Powell.

De soldado a sambista

A trajetória de Nelson Antônio da Silva, nascido em 1911 no bairro da Tijuca, foi marcada pela pobreza. O garoto precisou largar os estudos na terceira série primária para trabalhar. Nas horas vagas, divertia-se ao ver o pai e o tio entoando choros e outros gêneros da época. Para acompanhar os mais velhos, improvisou o seu primeiro instrumento, uma caixa de charutos com alguns arames esticados. Mais tarde, já no meio de boêmios e malandros, passou a tomar gosto pelo cavaquinho. Depois migraria para o violão, mas o apelido que ganhou em suas primeiras rodas de samba o acompanharia a vida toda. Ao fazer 18 anos, entrou para a Cavalaria da Polícia Militar. Uma das incumbências do jovem soldado era patrulhar o morro da Mangueira. De tanto subir e descer o morro no lombo de um cavalo, tornou-se amigo dos bambas do lugar, como Cartola,


Despreocupado com o sucesso, explicava: “Faço músicas só para tirar as coisas de dentro do coração. É assim desde o dia em que fiz o meu primeiro samba”. Carlos Cachaça e Zé da Zilda. Até que, por absoluta incompetência para correr atrás de bandidos, pediu baixa da corporação. Longe das obrigações como policial, passou a compor sem parar. Porém, as dificuldades financeiras o obrigavam a vender seus sambas por qualquer ninharia. Foram muitas as composições negociadas. Até donos de bar e gerentes de hotel entraram para a história da música brasileira em troca de uma cachaça a mais ou de um teto para o compositor dormir. A vida de Nelson Cavaquinho ganhou outro rumo ao conhecer Guilherme de Brito, no início dos anos 1950. O compositor seria seu mais importante parceiro. Uma parceria de fato. De acordo com o sambista Nelson Sargento, “foi Guilherme que deu uma nova direção para a vida de Nelson, que começou a beber menos e a compor mais”.

Tire o seu sorriso do caminho

“Nelson e Guilherme eram uma dupla de compositores de amargo lirismo, voltada para as pequenas tragédias do cotidiano e para o caráter efêmero da vida”, escreveu André Diniz, autor do livro Almanaque do Samba. O tema da morte era caro a ambos. “Eu falo tanto de morte que é para ela ficar longe de mim”, justificava-se Nelson. Os clássicos surgiam um atrás do outro: Folhas Secas, Quando Eu Me Chamar Saudade, Pranto de Poeta, Tatuagem e uma porção de outras. Para o poeta Manuel Bandeira, o verso inicial de A Flor e o Espinho mereceria figurar em qualquer antologia de grandes momentos da poesia brasileira: Tire

o seu sorriso do caminho / Que eu quero passar com a minha dor. Mesmo com sambas de alta qualidade, só na década de 1960 Nelson começou a ficar conhecido no Rio de Janeiro. Foi quando começou a se apresentar no Zicartola, bar de Cartola e dona Zica, e chamou a atenção de novos artistas. Nara Leão gravou Pranto de Poeta; Elizeth Cardoso, Vou Partir. Nelson passou a ser convidado constantemente para apresentações. A novidade não o empolgava muito. Certa vez, o convocaram para participar de um programa de tevê. Como estava sem muita vontade, recusou. O produtor disse que o cachê era bom, e ouviu como resposta: “Não tem por que me apresentar. Dinheiro não rima com nada”. Foi só beirando os 60 anos que gravou o primeiro disco: Depoimento de Poeta. Depois lançaria mais dois. Em 1984, foi homenageado com o disco Flores em Vida, em que grandes artistas tratavam de reverenciá-lo. Teve ainda mais dois anos para desfrutar das tais flores em vida. Na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, encontrou-se com o momento que tanto temeu. Apesar do medo da morte, partiu com uma aparência serena. Deixou um repertório de mais de 600 canções e um vazio na música brasileira. Um artista que nunca se rendeu a temas fáceis para alcançar o sucesso. “Faço músicas só para tirar as coisas de dentro do coração. É assim desde o dia em que fiz o meu primeiro samba.” No site do Almanaque, assista a um documentário dirigido por Leon Hirszman sobre Nelson Cavaquinho e ouça canções do compositor.

O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO

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Texto: Natália Pesciotta Arte: Guilherme Resende

Na nossa festa mais democrática, personalidades como Carmen Miranda, Chacrinha, Carlos Marighella e princesa Isabel também viraram foliões. Prepare a serpentina e se junte a este grande bloco, onde ilustres brasileiros desfilam histórias carnavalescas em meio à multidão. o primeiro grito do recifense Galo da Madrugada até descer o pano da quarta-feira de cinzas, está instalada a festa. Já disse o Barão do Rio Branco: “No Brasil, só duas coisas são bem organizadas: a desordem e o carnaval”. Em nossa bagunça democrática, cabe “o maior espetáculo da terra” – como até Maradona definiu o desfile das escolas de samba cariocas –, os passos de frevo, o axé dos trios elétricos, marchinhas em blocos e bailes por todos os cantos. Adaptamos e assumimos como nenhum outro povo o costume da folia que nasceu na Antiguidade como uma homenagem a Saturno, atravessou a Idade Média e hoje marca o início da quaresma cristã. Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, o carnaval é cultura pura, ao apresentar “ardente a preocupação de criar beleza, de expressar alegria ou de manifestar sentimentos”. A máxima permanece, apesar das constantes transformações na forma e no conteúdo. Nesse balanço sem fim, reinventaram-se desde os entrudos dos tempos de Colônia, passando pelos cortejos de carruagens e nobres

bailes de máscaras do Império até os formatos que atravessaram o século 20. Que gente longe viva na lembrança / Que gente triste possa entrar na dança / Que gente grande saiba ser criança. O ideal descrito por Chico Buarque em Sonho de Um Carnaval se repete todo ano. E a fantasia vale não só para os anônimos. Antes de ser famoso, Chacrinha encarnou Rei Momo. O maestro Camargo Guarnieri deixou a música erudita de lado para compor marchinhas para um baile. O guerrilheiro Marighella, já atuante, não deixava de ir ao Bola Preta. E para que ninguém tome a folia por alienação, modernistas, intelectuais de Ipanema e até a princesa Isabel aproveitaram a ocasião para organizar festejos politizados. Nos blocos a seguir, veja como brasileiros de áreas tão distintas como pintura, música e política se renderam (ou não) à folia de Momo.


Segall Lasar museu Acervo

a vigente , a mo e d ia d n lâ ino o Na Spam te, cantava-se o h ida o V m A a l p a s jorn era o e lia-se o r-se de um o c ti ió tr Sp a n até trata e . Parece s bailes d d o S pa m a s um do e São Paulo n e p a a r e u q s país, ma is extravagantes izada foi organ ma l a r a v tu a n ia r a in c m c om cidade em nto modernista e já viu. A pa m im S v o a m a r pelo nd o s p a fu r a em 1933 d a do c o de arre Moderna) – além iada s o objetiv cr te r s fanta sia de Pró-A uarnieri (Socieda da a decoração e G o g Ca m a r e to v i. e tt T a . lf o a r aM , cla fleto. o festeiro a sar Segall e A nit e cuidou do pan esmos d propósit a L r do s m ta s como a e Mario de A nd ra a festa empolgado a p por artis ia h c n in â va g all, a march a s a r S eg em extra U ma c omp ô s só perca ssa vez, L biente tropical: e e il D a . b te o in m u a g e s m Talvez u o ia ta s no an co, criar modernis o de carnavales ia. d n lâ ã o ç n m a com a fu a s da S p o às Selv Expediçã

i st a s n r e d o M m fundara o territóri r i para ca na folia

Em plena ditad u moçada de Ipan ra, e pôs o bloco na ma rua Sentado na

mesa de um bar carioca em 1964 escrevia uma lis , o cartunista Ja ta. Os integrante guar s da futura Band fundava com am a de Ipanema, qu igos, chegavam e ele a 30. Mas, a part a companhia de ir daqui, ganhar mais de 10 mil pe ia m ss oa como rainha da s. Leila Diniz co bateria alternativ nsagrou-se a e gente como Be Ferreira foi hom th Carvalho e Bi enageada. A cens bi ura não proibia ipanema, mas di o carnaval da tu zem que chegou rm a de a m andar espiões in engajamento do filtrados. Apesar s participantes, nada de subversiv do Ali a afronta era o pôde ser encont a própria festa. Qu rado. ero a minha voz / Dentro do cora / Viva a vida e m l orra a morte / E a moçada de Ipanema/ Botou na rua seu carn aval, diz a marchinha de Se rgio Cabral e Rild o Hora. Desde 2004, o bl oco é tombado co mo patrimônio do Ri o de Janeiro.

Quando encontrou ade ex-mulher na Banda0, o Carnaval de 197 Ipanema, nosile ira João Saldanha

técnico da seleção bra ões meses separados, os foli não resistiu. Depois de as. tin pen ser e s fete entre con reataram o casamento

No último carnaval antes da Abolição, a princesa Isabel preparou

um festejo especial. Aos moldes das batalhas de flores francesas, enfeitou a carruagem com camélias – na época, símbolo da libertação dos escravos – e saiu com conde d’Eu e os filhos jogando flores e confetes pelas ruas. A ideia era mobilizar a alta sociedade para a causa e arrecadar recursos para a Confederação Abolicionista.

al , ca r n av

do de inguinha teve seu a b á s a Er va o Pix , quand anto apadrinha 3 7 9 1 em iro enfarto, enqu carioca. A Banda

derrade o numa igreja lado. Tratou de ca in o un um men a festejava ali d rinhoso, que n a C m e e n d de Ipa versão a r um a io. improvis de seu repertór iu mais sa

Antes de Chacrinha, Aberlado foi Rei Momo

O que Chacrinha tem a ver com é da carnaval? O nome e o pontap erto cob des foi tor carreira. O locu ndo qua rói Nite de io rád a por um os promovia a venda de chuveir da Rádio nca bra ta car em uma loja. Com rlado Abe , ma gra pro um r cria a Clube par s sica mú tar Barbosa escolheu apresen a, ssor emi da e sed carnavalescas na nome uma pequena chácara. Daí o o com ra ntu ave eira prim sua da o ciad asso u auditório, ao qual fico crinha. Cha na o Mom Rei O a vida toda:

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Arquivo/AE

Nem sua parce caramba / o Vila tivesse a d Caramba, s jurados d o h n ti que, um do redo que vez Mar ar al u T B a. o b ic h m C sa de a-en 10 ao samb os critérios gada reclamar d que não deu nal, na longa madru 7, 6 9 1 e d fi A nd o u m . el ra ti ab carnaval z uma ve a a Vila Is e d ar s p s ai ô m p o m co i vist não tinha s, Chico fo s Martinho a M o . ri dos desfile jú o havia ta scad o na sala d angueirense ardo Cravo m belo cochil o : ar ic e reclam quisador R o tanto do qu a Vila. O pes , lembra de um apel a ar p 9 ta o o an e m el co um a n u o aq ilhad o jurado d e fez. Marav , A lbin, outr ro de júri lh hico pediu : “Ricardo ei h an p m C , ra ei que o co u g ho da Man outra s”. o desempen sto com a s ju in r se xe não me dei

Mesmo p roibido, Jesus Cri sto samb O arceb ou quando so ispo do Rio de Ja neiro nã ube d a

o gostou ideia d de 1989. n ad a Proibiu n a Beija-Flor para o carnava a Justiça traria um l o c a e r n ro orm abre-ala s mendigo q ue . A monta e Cristo Redentor vestido c gem fa zia Urubus, L o mo pa r arguem a Minha Fa te do enredo Rato À s vésper ntasia, so se a s do desf bre a pob ile, o car Trinta ain reza. navalesco d a n ão s a Joãosinh bia o que a imagem o fa zer par . Ma s, na titubeou. a substitu h o r a d e Simplesm entrar na ir preto gro ente cobr a sseiro e u iu o Cristo venida, não ma enorm c om plá stic olhai por e faixa : “ o nós”. Foi Mesmo p do c a r n a u m roibido, a d a s c en a s m val carioc ais marca a. Em 20 depois da ntes 12, no pr morte imeiro ca desfila no de Joãosinho, a e rnaval scola rep vamente ete o feito com o Cr isto men digo cobe e rto.

Guerrilheiro ou folião?

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Arquivo /AE

rende e s a u q o d ra Papel de ju Chico Buarque a desavença o Chico entendeu / O enlareddeoradzão mo aoeu

Chacrinha, Carmen Miranda e Mula Manca eram as fantasias preferidas de Carlos Marighella. Vestir-se de mulher não estava em seu Minimanual do Guerrilheiro Urbano, mas sim entre as práticas que o carismático opositor da ditadura militar adotava durante o carnaval – desde a juventude, na Bahia, até mais tarde, no Rio. Ao juntar-se ao bloco Bola Preta, nem se preocupava com o que diria o severo Partido Comunista. O único receio era convidar o sisudo companheiro Luís Carlos Prestes para a festa. Apesar da vontade, nunca teve coragem.

é “Isso não”, disparou ar cada escola ra d a m i l i t e

é pa u-se qu carnaval,979, quando convencionob forma de protesto, o

1 So Cartola, em filar em 80 minutos. na avenida. es -se a entrar d u ia so er cu re dev ra ei u a Mang fundador d

Ismael Silva também ficou de fora de um desfile, em 1969, depois que a entrada na festa começou a ser cobrada. O criador da Deixa Falar, primeira escola de samba de que se tem notícia, não tinha dinheiro para assistir ao espetáculo que ajudou a colocar na avenida.

Imagine Raul Sei xas nhos enquanto ensaiando passi aval. Pois o Maluco Beleza

canta marchinhas de carn preferida, fez o número ao lado de sua cantora O clipe de 1978 rda. Gua m Jove da a mus a a, Wanderlé o com as Glob rede fazia parte de um especial da cos. críti por as eleit melhores marchas

Se R n ão i t a L e e qu a n p u l a d v espír o era gar a ca i

r n av

o t auto o roquei ta, não e ritár ro. O ra po io r p s a ís s em p , não per ai, ba sta adotar m n a ra o Rest te i t i aq av s se fa a à futur bailes pa ue a s filh nta si u a can as listan a du r a t nte o r com a s ora brin os. c ar d irmã feria e s em do. c a sa ,

al


Morte do Barão o s do Rio Branco Barro i r A e d a v i No brar multiplicou o carnaval e l e c a i d o p “Só duas coisas são bem organizadas no Brasil: a desordem e o carnaval”, não o disse uma vez o Barão do Rio Branco. Nem imaginava que, com sua morte, em m com Mseoarrepiava só de pen.sTarranbaalhando no fevereiro de 1912, o governo brasileiro decretaria luto, adiando o carnaval para

dois meses depois. Alheio aos decretos oficiais, o povo aquele ano multiplicou a so o de 1927 carioca teria Ari Barro e fevereir r d to o folia: comemorou o carnaval em fevereiro e abril. ã si ç o a p r? e m , o co ue fa z aproxim São Paulo nge da noiva. O q er à e d r io r inte val lo screv r o c ar na atou de e que pa ssa ista de 24 anos tr la não podia cair ian a: e a n g ad a O então p proibição express : “Fica s z r a a r , m e u d n a o d a ma a n d o b em tava p ue, medit oiva ri até ten A rq . o a p li r, fo a a c n an es fi bem a um o noivo, Nem dev comigo ? ão parece ed N g n r. a lo , rd o o nc d e M om s re h á s de c o e z nd o o p é : a te r se aos p inava ba rm a r g e te s tr a n e ”. M opinião é estranha a minha is o p , so em terra inhos só is la mais n , os pomb pois, e “Não se fa ironia da história s o ês a n d Por nitiva s tr fi cas e só essa”. d si ú s a m ç n e alia io d trocariam heiro de um prêm din o por Ari. g r a ç a s ao a s vencid sc le a v a n r ca

Carnaval abriu espaço para o coco de Jackson do Pandeiro

Elifas An dreato

Zé Jack estava co ntrariado. Partic iparia do show de carnaval da pe rnambucana Rá dio do Comércio, já como Jackson do Pandeiro, mas a música que escolheu tinha sido vetada. O pr odutor não quer que ele cant asse ia a marchinha ca rioca que ensaio “Esqueça isso. M u: ostre um desses cocos que você vive cant ando”. Jackson improv isou Seba stiana de Rossil Cavalc , anti. Depois daqu ele “A , e, i, o, u, ypsilone”, Jackso n não parou de emplacar sucess em todo o País. os

Calhambeq eletrizou S ue de Dodô e Osmar alvador Uma seman a antes do ca rn to

aval de 195 cou pelas ru 0, uma ban as de Salva da de frevo dor. A cena Adolfo e Osm per encantou es ar. A nimad pecialmente nambucana os com a id mecânico e ei os a de sacudir o técnico d e som equip as ruas com amigos falantes. G aram um ca uit arra s plu m lh g ambeque co úsica, o ad Naquele do m dois alto mingo de ca as em punhos, intitula ram-se “du rnav Quando a m o elétrico”. ultidão cheg al, o carro juntou cen tenas de fo ou perto do Dodô orden liões pelas s tradicionai ou ruas. s blocos da Tarde demai ao motorist a: “Vamos elite da cid parar antes s. A engenh ade, que a gente oca já havia multidão. L seja preso”. queb ogo conseguiram Dodô e Osmar trocara rado há tempos e era le m o Ford p mais um in or uma cam vada pela tegrante. N inhonete e ascia assim o trio elétri co. No site do A lmanaque , confira outras matérias especiais de carnaval.

e r n o u- s , o t o d A Q u an s o n o s E U e u q s e d a te v s u ce

n n Mira e t anto Carme r da folia qu a s. A ta Al se afa s u seu A bre pa r a ro vidou g n a s o c n o a c e u il q s igo Bra , um am carnaval no a, em vez o or pa ssar u-se : “Por ag strada e li o t a l a m en u m a c a m i s q ue i t e t em d o t s n e e m z li a de ‘V n fe aí’, in at o d a saí por ei um contr sin ser ‘A s or aqui’”. ip e u e fiq

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fila O Brasil des na sua tevê . Junto com ela, pierrôs,

ou sil finalmente cheg todo o País. is importante do Bra ruas e avenidas de las pe os A festa popular ma esc val na car es s pra lá de de sfil da de e sili s bra co s blo colombinas, acompanhar outra de ixe de o la TV Brasil, nã pe , o tra lad ou Brasil, veicu Entre uma farra e programa Almanaque personagem al s, ion uia aq dic an tra já Alm no rão animadas e o fanfar bre gante Luciana Mello orosas histórias so às sex tas, 20h. A ele fevereiro com sab de s do mê es o ad rão vid ita no ag nes, har as do ator Robson Nu de ainda acompan gina do do mundo. Você po e pelo Facebook (pá sil) bra ue o país mais divertido aq an alm (@ ê. r tev itte a Tw su lo la pe pe r ssa Almanaque Brasil que o Brasil vai pa sil). Abram alas ra B aque an lm A

Explicadores do Brasil - programa 26

• De Caminha a Sérgio Buarque de Holanda, histórias de quem dedicou a vida a decifrar o País. • O Você Sabia? lembra como os esquerdistas da seleção de 1970 convenceram até os militares. • No Ilustres Brasileiros, o talento múltiplo de Ari Barroso. • E no Cantos do Brasil, a genialidade mundialmente reconhecida de Naná Vasconcelos. TV Brasil: 27/1, 20h 24

TV Cultura: 5/2, 14h30

Histórias deste e de outros mundos

Santos, anjos e outros seres alados programa 28

• No Coisas Nossas, descubra como os santos estão em todos os cantos: dos altares aos estádios de futebol. • Você Sabia que Amélia era, sim, uma mulher de verdade? • Para atrair passarinhos é preciso conhecimento. É uma verdadeira Ciência Doméstica. • E ainda: o lirismo de Mario Quintana no Ilustres Brasileiros. TV Brasil: 10/2, 20h

TV Cultura: 19/2, 14h30

programa 27

• Coisas Nossas: do vampiro de Osasco ao ET Bilu, seres extraordinários assombram o programa. • No Papo-Cabeça, Denise Fraga fala sobre seu encantamento ao encenar e contar histórias. • Com Toquinho, não faltam histórias da música brasileira no Cantos do Brasil. • Um pintor paranaense retratou nos quadros sua experiência em Marte. Você Sabia? TV Brasil: 3/2, 20h

TV Cultura: 12/2, 14h30

É o amor... - programa 29

• De Dorival Caymmi a Luís Carlos Prestes, como personalidades rasgaram o coração por amor. • Odair José traz mais romantismo para o Cantos do Brasil. • Chá pra que te quero: um caso para a Ciência Doméstica. • Você Sabia? Se não fosse Ronnie Von, os Mutantes não chamariam Mutantes. TV Brasil: 17/2, 20h

TV Cultura: 26/2, 14h30

Grandes talentos, grandes conquistas programa 30

• Recordes, grandiosidades e estatísticas curiosas que só o Brasil conquistou povoam este programa. • Cerâmica marajoara é só no Pará. Então fomos até lá descobrir Como É que se Faz. • Brasileiro sabe de futebol? No Ciência Doméstica, vamos revelar se somos mesmo 190 milhões de técnicos. • E no quadro É do Baú, a lembrança nostálgica e apimentada das chacretes. TV Brasil: 24/2, 20h

TV Cultura: 4/3, 14h30

Para se certificar das datas e horários de exibição, consulte o site das emissoras: www.tvbrasil.org.br e www.tvcultura.com.br.

Wado – Samba 808 (independente). Um disco com

1922 – A semana que não terminou, de Marcos Augusto Gonçalves (Companhia das Letras). Nos 90 anos da Semana de Arte Moderna, completos em 2012, pela primeira vez o contexto e acontecimentos do evento são remontados em livro. Além da repercussão do movimento, a narração fluida dá conta de perfis, desafetos, anseios e da organização de modernistas como Oswald de Andrade, Anita Malfatti e companhia.

Amelia Rabello – A Delicadeza que Vem Desses Sons (Acari Records). “Amelia traz em seu canto o que há de

O Rio É Tão Longe, de Otto Lara Resende (Companhia das Letras).

participação de Zeca Baleiro, Chico César, Mallu Magalhães, Marcelo Camelo, André Abujamra, Fernando Anitelli e outros. O autor da façanha apresenta, em seu sexto CD, uma mistura de gêneros e parceiros. Samba 808 também se destaca pela forma ousada de lançamento: apenas pela internet, por download gratuito. Para baixar, acesse www.wado.com.br.

mais brasileiro”, diz o compositor carioca Gabriel Cavalcante. Com beleza, a irmã do violonista Raphael Rabello traz músicas inéditas de Paulo César Pinheiro, além de composições de Radamés Gnatalli, Roque Ferreira e Moacyr Luz. Tudo sob direção musical de Cristóvão Bastos. www.almanaquebrasil.com.br

“Estou convencido de que sou o último cidadão que ainda se dedica a este gênero obsoleto que é o epistolar”, escreveu Otto Lara Resende sobre o gosto pelas cartas. O livro traz mensagens escritas por ele a outro escritor mineiro, Fernando Sabino, tratando dos mais diversos aspectos da vida: dos amores à literatura, das transformações nos costumes à política do Brasil.



O Calculista das Arábias

ligue os pontos

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b Primeira escola em que trabalhou Joãosinho Trinta, foi uma das precursoras do carnaval carioca ao criar enredos que colocavam os negros em destaque.

3

c Enaltecida por Chico Buarque e Tom Jobim, seu nome completo remete à localização da sede, perto daquela que era a primeira estação de trem a partir da Central do Brasil. d Campeã por nove vezes, teve em sua ala de compositores nomes como Silas de Oliveira, Dona Yvone Lara e Arlindo Cruz.

4

Um homem trabalhava para um califa cuidando de seus camelos. Apesar da função não lhe desagradar, era encantado por números. Depois de uma vida no mesmo posto, resolveu oferecer seus serviços como calculista. O patrão aceitou, desde que o homem cumprisse uma tarefa. Colocou à sua frente três das tinas usadas para dar água aos camelos. Cada uma delas tinha tamanhos diferentes: a maior possuía capacidade para 8 litros; a intermediária, 5 litros; e a menor, 3 litros. Apenas a tina maior estava completamente cheia, enquanto as outras duas não tinham água alguma. “Se fores capaz de dividir toda esta água entre dois dos recipientes, de forma que ambos fiquem com exatamente a mesma quantidade de água, aceito os seus serviços como calculista”, desafiou o califa. Para sua satisfação, a missão foi realizada a contento. O leitor sabe dizer como?

acervo da família

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a A escola de samba é uma das fundadoras dos desfiles carnavalescos do Rio de Janeiro. Paulinho da Viola fez um samba antológico em sua homenagem.

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

teste o nível de sua brasilidade

Palavras Cruzadas

A primeira transmissão em tevê em cores do Brasil, em 19/2/1972, exibiu: (a) Fórmula 1 (b) Cassino do Chacrinha (c) Fla-Flu (d) Festa da Uva de Caxias do Sul Em 15/2/1960, a Biblioteca Municipal de São Paulo foi rebatizada com o nome do escritor: (a) Oswald de Andrade (b) Machado de Assis (c) Mário de Andrade (d) Aluísio de Azevedo Banda internacional que se apresentou na praia de Copacabana em 18/2/2006: (a) U2 (b) Gipsy Kings (c) Nirvana (d) Rolling Stones A peça Eles Não Usam Black-tie, que estreou em São Paulo em 22/2/1958, foi escrita por: (a) Zé Celso (b) Ariano Suassuna (c) Gianfrancesco Guarnieri (d) Bibi Ferreira A primeira faculdade do Brasil, fundada em 18/2/1808: (a) Faculdade de Medicina da Bahia (b) Largo São Francisco (c) Faculdade de Filosofia de São Luís (d) UFRJ Em 13/2/1542, os exploradores espanhóis Gonzalo Pizarro e Francisco de Orellana descobriram: (a) Rio de Janeiro (b) Rio Amazonas (c) Baía de Todos os Santos (d) Rio Piracicaba

Respostas Regina Cazé

Morto em 14/2/1996, Taiguara não é compositor de: (a) Universo no Teu Corpo (b) Enquanto Engomo a Calça (c) Hoje (d) Apenas um Rapaz Latino-Americano

valiação

BRASILIÔMETRO 1a; 2d; 3c; 4d; 5c; 6a; 7b; 8d. SE LIGA NA HISTÓRIA 1d; 2c; 3b; 4a. ENIGMA FIGURADO Evandro Mesquita. O QUE É O QUE É? Disco. CARTA ENIGMÁTICA Morreu no dia em que seu time foi campeão (Sócrates).

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?

Fábio Guimarães/ Agência O Globo.

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Com os oito litros de água de que dispunha, o pretendente a calculista primeiro preencheu a tina de 3 litros. Em seguida, reservou esta quantidade de água na tina média. Depois, despejou mais 3 litros de água na tina pequena e, com essa medida, completou a média – como faltavam apenas 2 litros para ela estar cheia, sobrou 1 litro de água na tina pequena. Os 5 litros acumulados na tina média foram então despejados na tina grande, que já continha 2 litros. O litro que restou na pequena foi colocado na média. Bastou, por fim, usar a tina grande para novamente encher a menor e, em seguida, transferir essa medida para a tina média. Logo, a tina grande e a média passaram a conter 4 litros de água cada.

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Em 9/2/1986, foi avistado nos céus do Brasil: (a) Cometa Halley (b) Duas luas (c) Disco voador (d) Cachorro flutuante

1 0

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Conte um ponto por resposta certa

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i l u s t r açõ es

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Com rimas e denúncias, o rap tomou seu lugar

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m disco com um estilo musical diferente do que os brasileiros estavam acostumados despertou curiosidade em 1988: era Hip-Hop Cultura de Rua, o primeiro elepê de rap do Brasil. Poucos se ligaram de imediato, mas ali nascia o que viria a ser um dos gêneros musicais mais importantes do País. Mas de onde saiu a inspiração para o rap nacional? Na década de 1970, negros americanos e jamaicanos criaram festas em que alguém subia no palco e, ao som de um DJ, cantava letras sobre racismo, violência policial e outras questões sociais. Uma realidade parecida a que viviam os moradores das periferias das grandes cidades por estas bandas. Até que, em São Paulo, alguns entusiastas desse tipo de música começaram a se concentrar na estação São Bento do metrô. No local, além de entoar as letras rimadas, dançavam break e trocavam informações sobre grafite. Estava formada a tríade do movimento hip-hop nacional: música, dança e artes plásticas.

Já Pensou Nisso?

Jair Rodrigues mandou o primeiro rap nacional

O disco de rap mais vendido do Brasil é Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, que desde 1997 alcançou a marca de um milhão de cópias vendidas. E se a música mais conhecida do disco, Capítulo 4, Versículo 3, fosse tocada um milhão de vezes, uma atrás da outra, quanto tempo duraria? Fizemos as contas. A música tem oito minutos. Essa execução duraria exatas 133 mil horas, ou 5.552 dias, ou pouco mais de 14 anos. Haja disposição!

Deixem que digam / Que pensem / Que falem / Deixe isso pra lá / Vem pra cá / O que que tem? / Eu não to fazendo nada / Você também / É bom bater um papo assim gostoso com alguém. Apesar do movimento hip-hop ter se iniciado no Brasil no fim da década de 1980, essa música, gravada por Jair Rodrigues em 1964, é considerada o primeiro rap do País, por conta de sua letra falada e da “dancinha” que o cantor fazia com a mão. Entre no site do Almanaque para ver Jair Rodrigues em ação em Deixa Isso Pra Lá.

O que e redondo e chato, mas faz todo mundo dancar? SoluçÃO na p. 26

A faixa inicial do primeiro disco de rap lançado no Brasil era Corpo Fechado, cantada pelo nosso homenageado do mês. A música o consagraria como um dos mais importantes rappers do Brasil, embora tenha se aventurado também em filmes, programas e séries de tevê. Sabe de quem estamos falando?

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Para descobrir o nome do nosso homenageado do mês, basta preencher o diagrama abaixo. O número de cada quadrinho indica uma letra escondida na linha correspondente do texto lá de cima. Por exemplo: primeiro quadrinho, linha 1: T [conferir linha que tem T]. E assim por diante.

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Eu cantarolaria, ele cantarolaria, nós cantarolaríamos, eles cantarolariam. w w w. Lu ci a n oTa ss o.b lo g

s p ot.co m

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FERROVIA MADEIR A-MAMORÉ

Entre trilhos e sonhos Fruto de um dos mais grandiosos desafios da engenharia mundial, a estrada de ferro que prometia escoar a riqueza amazônica carrega histórias sobre a relação com os nossos vizinhos de continente

U 28

e as tentativas de explorar o maior bioma terrestre do planeta.

ma viagem a Rondônia pode facilmente traduzir-se em um intensivão de história do Brasil. Aquela paisagem foi cenário de duas obras monumentais: a linha telegráfica da Amazônia, instalada pelo marechal Rondon, e a grandiosa ferrovia Madeira-Mamoré. E sabe o que é melhor, e ainda causa azedume nos historiadores estrangeiros? É que por lá, com um pouco de imaginação, podemos assistir pessoalmente às cenas mais vivas desse passado. À primeira vista pode parecer uma cena banal: uma praça tranquila, sombreada por árvores frondosas, às margens do rio Madeira, em Porto Velho. Turistas circulam ao lado de moradores, tomando sorvete ou apreciando a natureza que a capital de Rondônia oferece. Mas a praça é peça central da mais importante obra da engenharia civil de nosso país no início do século 20.

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O desafio da construção da Madeira-Mamoré só é comparável à gigantesca obra do canal do Panamá. Há precisamente 100 anos, era inaugurada nessa praça a mais emblemática das ferrovias brasileiras – e quiçá do mundo. Em seus 366 quilômetros que cortavam a floresta amazônica, ela unia as recém-fundadas cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim, na divisa com a Bolívia. Ué? E pra quê? Um pouquinho de história não faz mal a ninguém. Em disputa com o Chile, a Bolívia perdeu, em meados do século 19, seu litoral no Pacífico. Assim, as riquezas bolivianas ficaram impedidas de chegar ao resto do mundo. O Brasil, num gesto de boa vontade, firmou com o país vizinho em 1867 um tratado de livre navegação pelos rios da Amazônia, a fim de facilitar o escoamento de seus produtos até o oceano Atlântico.


Nesse mesmo período, a Amazônia prosperava, graças às seringueiras Hevea brasiliensis. Dispersas na floresta, as árvores produziam uma borracha de qualidade única no mundo, tão essencial para o transporte, a comunicação e a indústria da época como o petróleo é hoje. E aí, no fim do século, para enriquecer ainda mais a história, uma questão diplomática opôs Brasil e Bolívia em disputa pelo Acre, que pertencia à nação vizinha e onde seringalistas brasileiros trabalhavam a toda.

Diplomacia em vez de canhoneiras Como esse bafafá na disputa pela borracha estava se esticando muito e poderia redundar num confronto armado, quem o Brasil chamou para resolver este imbróglio? Sempre ele, José Maria da Silva Paranhos, o barão do Rio Branco, o homem que desenhou nossas fronteiras. Com diplomacia, a questão foi resolvida pelo Tratado de Petrópolis, de 1903, com a compra do Acre pelo governo brasileiro. Por esse tratado, o Brasil se comprometia a pagar uma quantia em libras esterlinas e construir a estrada de ferro que uniria a fronteira boliviana com o povoado de Santo Antônio, no rio Madeira. Embora diferentes empresas tenham se aventurado desde 1872, somente em 1907, com a obrigatoriedade do governo brasileiro de assumir a construção, é que se fez ouvir o apito inicial. O término da obra se deu em 1912, depois de consumir o trabalho de 21 mil homens de mais de 50 nacionalidades, e de acontecer o diabo durante a execução. No rastro da ferrovia, seis mil perderam a vida, a maioria aferroada pelos mosquitos da malária e da febre amarela, que também bateram ponto na obra. Porém, a estrada de ferro tinha tudo para dar certo, já que a borracha continuava em alta no mercado mundial. Mas o inimigo, esse desmancha-prazeres, surgiu onde ninguém esperava. Henry Wickham, considerado o pai da biopirataria, havia contrabandeado para a Inglaterra, no fim do século 19, 60 mil sementes de seringueira. Posteriormente, as plantou na Indonésia. E assim, um ano após a inauguração, a Madeira-Mamoré sofreu um golpe mortal. O sudeste asiático inundou o mercado com sua borracha de mesma qualidade e preços mais baixos. Falida, a ferrovia monumental se arrastou até 1972, quando foi desativada. Dela restam hoje um museu, algumas locomotivas a vapor, ruínas de estações, pontes metálicas e o orgulho de termos construído uma obra de tamanha grandeza.

Preste atenção Dê uma olhada na diversidade ecológica de Rondônia. O estado possui os três mais importantes ecossistemas do Brasil: a floresta tropical, o cerrado e o pantanal. Além das variadas fauna e flora, a região abriga belezas naturais, como o encontro das águas barrentas do rio Mamoré com as cristalinas do Pacaás Novos, em Guajará-Mirim.

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Não deixe de conhecer Ela responde pelo nome de Mirtes Rufino, mas também é conhecida como a mulher das onças, dos dançarinos, dos caboclos – além de mulher dos palhaços, que são o carro-chefe de sua coleção. Essa artesã de mão-cheia desenvolveu uma técnica única e especial para criar suas obras: o corpo e a cabeça das peças são entalhados em madeiras que ela recolhe nos rios da região. A roupa é feita de uma mistura de pó de serra, látex e cola branca, posteriormente pintados com harmoniosas cores vivas.

Porto Vel ho tem mais

Coronel Church

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A maria-fumaça número 12, ou Coronel Church, já era uma relíquia quando começou a correr sobre os trilhos da Madeira-Mamoré, em 1912. Foi a primeira locomotiva a chegar à Amazônia, nos idos de 1878. Antes de virar peça de museu, foi depósito de água, galinheiro e até forno de padaria.

Mercado Cultural

O mais antigo mercado de Porto Velho foi totalmente restaurado e recebeu o nome de Mercado Cultural. Às quintas-feiras à tardinha, fecham-se as ruas em frente a ele e ali se instala outra época, com a interpretação de modinhas por grupos de músicos e cantores regionais.

Praça das Três Caixas d’Água

Símbolo da história de Porto Velho, as três caixas d’água em estrutura metálica foram edificadas entre 1910 e 1912, pela mesma empresa americana construtora da ferrovia Madeira-Mamoré. Elas abasteceram a cidade de água potável até 1957. Hoje, a praça é palco de diversas atividades culturais, e ponto de encontro dos moradores nos fins de semana.

Como chegar A TAM oferece voos diários para Porto Velho, saindo das principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br. Onde ficar Rondon Palace Hotel • Localização privilegiada, na principal avenida da cidade e perto de tudo. O destaque do café da manhã são as saborosas frutas da Amazônia. Fone: (69) 3211-3800. www.rondonpalacehotel.com.br. Eco Resort Três Capelas • Localizado a 40 quilômetros de Porto Velho, é excelente alternativa de descanso e lazer. Seus confortáveis e amplos chalés estão dispostos em meio ao bem cuidado jardim. Fone: (69) 3224-8829. www.trescapelas.com.br. www.almanaquebrasil.com.br

Onde comer Churrascaria Araguaia • Além de um cardápio que prima pelos peixes da região, o restaurante oferece um excelente self-service. Fone: (69) 3224-4546. Como circular Amazônia Adventure • A agência é especializada em roteiros culturais e de aventura em Rondônia. Fone: (69) 3221-0030. www.amazoniadventure.com.


Sonia virou anjo da guarda em Lins Em 2003, Sonia Aparecida Zambom Santana tinha uma vida tranquila em Lins, no interior de São Paulo. Casada e mãe de três filhos, dividia o cotidiano entre sua loja de malhas e as tarefas domésticas. Ao fechar a loja naquele ano, decidiu dedicar boa parte do tempo ao voluntariado no Grupo Linense de Combate ao Câncer. “Eu tive um pai que morreu de câncer e sabia da importância do trabalho da liga”, relembra. “No começo, pensava apenas em participar com o artesanato, que sempre foi meu hobby, para ser vendido nos bazares. Mas passei a me envolver.” Nunca mais Sonia sairia do grupo. Chegou a ser coordenadora geral por três vezes, e hoje, devido à habilidade artística, assumiu a coordenadoria de artesanato. O Grupo Linense de Combate ao Câncer atende a mais

Uma batalha que não permite descanso A história de Sonia e seus companheiros, que lutam dia após dia para amenizar as dificuldades dos pacientes com câncer em Lins, faz parte do campo de atuação da Federação Brasileira de Entidades de Combate ao Câncer. Criada em 2008, a Febec dedica-se a apoiar grupos de voluntários em campanhas de educação, prevenção e detecção precoce da doença, além de contribuir com acessibilidade ao tratamento e assistência social aos pacientes. Você também pode colaborar com essa luta. Saiba mais em www.febec.org.br.

de 300 pacientes. As atividades são múltiplas. A instituição fornece medicamentos, próteses, cadeiras de roda e de banho. Aos mais carentes, são entregues cestas básicas mensais, além de, quinzenalmente, legumes, frutas, frangos e ovos. Há ainda assistência psicológica e jurídica aos pacientes. Tudo de forma voluntária e gratuita. No começo das atividades, Sonia lembra de ter levado uma cesta básica para uma das assistidas. A mulher a chamou na cozinha, abriu a geladeira vazia e disse: “Não me preocupei. Eu sabia que vocês, que são anjos da guarda, saberiam quando eu ia precisar”. Sonia diz que esse dia foi decisivo para não mais abandonar o trabalho voluntário. “Quando se vê quantas pessoas carentes têm a vida um pouco melhorada por nosso trabalho, nunca mais conseguimos deixar de ajudar.”

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Custa pouco ajudar a combater o câncer no País Mencione a Febec ao assinar o Almanaque Brasil. O valor da sua assinatura será revertido para ações de entidades como o Grupo Linense de Combate ao Câncer e outras 50 ligas de voluntários associadas à Febec em diferentes partes do País.

NOTÍCIAS DA FEBEC Em dezembro de 2011, voluntários das ligas de combate ao câncer de Dracena, Ouro Verde e Junqueirópolis, cidades do interior de São Paulo, estiveram na Fundação Amaral Carvalho para entregar um cheque de 72 mil reais para a instituição. O valor foi arrecadado em um evento do Circuito de Leilões da Febec em prol do Hospital Amaral Carvalho, referência brasileira em tratamento de câncer.

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OLIVA - PARTE 1 Olea europaea communis, L.

Esmeralda vegetal Nossa conhecida desde a pré-história, a oliveira já era celebrada pelo Pai da Medicina há 25 séculos como fonte de saúde. Os povos mediterrâneos, fiéis consumidores do precioso óleo de oliva, comprovam. E uma boa nova nos chega: azeite brasileiro.

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notícia, na Folha de S. Paulo de 15 de setembro de 2011, nos surpreendeu: Azeite verde-amarelo. Os paulistanos passavam a ter o privilégio de encontrar em algumas lojas o primeiro óleo extra virgem produzido a partir de oliveiras cultivadas no Brasil. A planta da Ásia Menor chegou à Grécia 1.600 anos antes da era cristã; passou para Itália, França, Península Ibérica, norte da África. Só no século 18 veio para a América espanhola, trazida por missionários. Agora esta agradável novidade: azeite brasileiro. A oliva, ou azeitona, é nossa conhecida desde a Pré-história. Segundo a mitologia grega, Atena, deusa da sabedoria, fez brotar a oliveira de uma lança. Dos frutos, nutritivos, se obteria um líquido que, não só alimentaria o homem, como fortificaria seu organismo, aliviaria feridas e queimaduras, e iluminaria suas noites – usava-se azeite de oliva para manter acesa a mecha das candeias. No ocidente, foram povos mediterrâneos que mais souberam valorizar a oliva. Gregos, italianos, franceses, espanhóis consomem grande quantidade desta gordura, e nem por isso apresentam altos índices de doenças cardiovasculares. No século 18,

enciclopedistas franceses garantiam que o azeite é “a substância gordurosa por excelência” e “tem produzido infinitos bens”. Dois séculos depois, a Enciclopédia Gastronômica Larousse diria: “É, sem dúvida, a melhor das gorduras alimentícias e deve ser usado o mais possível na cozinha”. Quando visitamos nosso amigo Edmond em Madri, comprovamos que os espanhóis gostam de azeite mais ainda que os franceses. O primeiro lugar a que nos levou foi uma tasca famosa pelas tapas – aperitivos lambuzados de azeite e, se feitos de massa, com azeite nela. Edmond nos ensinou a fazer arroz sem água: cozido no azeite. Para nós, caro, mas delicioso. Outro amigo, Juan, nos preparou uma sopa fria, gazpacho, à base de tomate, pimentão, cebola, pepino, vinagre – e bastante azeite. Mediterrâneos podem usar à vontade azeite e azeitona, abundantes por lá. Vimos no balcão envidraçado de um mercado madrilenho dezenas de recipientes com azeitonas de todo tamanho e cor, cada qual com uma etiqueta que indicava seu tempero. Nosso azeite, segundo a notícia, custa uma nota, mais que o dobro do importado. Mas como neste país em plantando tudo dá, chegaremos lá.


Uma viagem com a oliva pela história

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reprodução

a ceia da tarde dos romanos não faltava azeitona. Gregos produziam três azeites: o da primeira prensagem, para a cozinha; o da segunda, para tratar a pele; o da terceira, para combustível. Atenas perdeu uma guerra em 404 a. C. principalmente porque Esparta lhe destruiu as oliveiras. Árabes, hábeis em extrair óleo de carneiro e de várias sementes, sempre preferiram disparadamente o azeite de oliva. Bizantinos, de requintada cozinha, em tudo punham azeite, trazido da ilha de Creta. Carlos Magno gostava de jumento assado, recheado com pão, trufas, pássaros e azeitonas. Era prato de festa. Napoleão devorava no desjejum, com ovos fritos e queijos curados, azeitonas temperadas. Em 1808, após uma batalha nos Alpes, o carroção de mantimentos dos generais se extraviou e os cozinheiros, percorrendo as redondezas, trouxeram: um frango, três ovos, quatro tomates, seis camarões, uns dentes de alho, um ramo de salsinha e algum azeite. Acrescentaram conhaque e fizeram um prato que Napoleão adorou. Topa experimentar?

Já dizia Hipócrates:

De teu alimento farás teu remédio

Ela é quase indestrutível

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giancarlo dessi

ma característica impressionante da oliveira é sua resistência e perenidade. Cresce em montanhas ou vales, terreno pedregoso ou solo fértil, sob calor e com pouca água. De desenvolvimento lento, mas contínuo, pode atingir sete metros de altura. Mesmo doente, ou velha e torcida, se veste de folhas verdes. E, ainda que cortada e queimada, novos ramos surgirão. Algumas brotam num sistema de raízes com mais de dois mil anos. De uma só árvore podem sair oito litros de azeite, ou mais, por safra.

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azeite extra virgem, produto da primeira prensagem das azeitonas, a frio, com 1% ou menos de acidez, reduz o mau colesterol e aumenta o bom. Eis por que mediterrâneos sofrem menos doenças do coração que americanos, embora consumam a mesma quantidade de gordura que eles. O bem que o azeite faz é reconhecido desde a antiguidade. Há mais de 25 séculos, Hipócrates, o Pai da Medicina, já dizia que, além de agradável ao paladar, é poderoso remédio. E há pouco se descobriu que produz efeito analgésico.

Na próxima edição do Almanaque, vamos visitar o “monte das oliveiras” de Chapecó, em Santa Catarina. SAIBA MAIS A Canja do Imperador, de J.A. Dias Lopes (Companhia Editora Nacional, 2004). O que Einstein Disse a seu Cozinheiro – volumes 1 e 2, de Robert L. Wolke (Zahar, 2002 e 2005).

Consultoria: nutricionista Aishá Zanella (aishazanella@hotmail.com)

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Assalto mal-sucedido

Dois homens assaltam um carro forte e cada um leva um malote fechado. Meses depois, eles se encontram: – Ô, Manoel! Tinha muito dinheiro no seu malote? – Que nada! Só oitocentos reais! E o seu? – Nem te conto! Tinha um monte de notas promissórias. Acabei de pagar a última ontem!

Pulando o galho

O passarinho macho estava tentando acasalar com a fêmea, mas nada de ela ceder. Suas explicações não colavam: – Acredite, eu não sou casado. Este anel foi colocado em mim no Instituto de Ornitologia!

Noitada agitada

O marido chega em casa todo animado: – Amorzão, vamos sair pra beber, dançar, namorar, nos divertir como nunca? – Nos divertir como nunca? Combinado! Quem voltar primeiro coloca a chave debaixo do tapete! 34

Causos de

Rolando Boldrin

O facínora no trem Antes dos ônibus rodoviários, o mais comum lá no interior era as pessoas usarem o trem para ir de uma cidade a outra. Nesse tempo, aconteceu certa vez uma história engraçada com um caipira que pegou o trem pela primeira vez. No mesmo vagão que ele estava, entrou um facínora que tinha mais de 20 mortes nas costas. Todo mundo que andava no trem já sabia do perigo. Mas não é que o sujeito foi sentar bem ao lado do caboclo, o único que não conhecia suas maldades? Não deu nem cinco minutos e o facínora, que estava fugindo da polícia, caiu no sono, com a faca atravessada na cintura e tudo. E o trem foi indo, passando pelas cidades. Quando ele ia dando aquela parada de rotina lá por Botucatu, depois de Presidente Prudente, o caboclo, que era passageiro de primeira viagem, já foi ficando bem enjoado. Foi enjoando, naquela náusea, até o momento que não aguentou. Aquilo respingou pra cima do facínora. O pessoal do vagão inteiro começou a fazer um movimento, pedindo para o motorneiro parar o trem: “Esse homem vai matar o caipira, motorneiro!”. Nisso, o facínora acordou. Pegou o chapéu do colo, vestiu na cabeça. Quando olhou pra mão, percebeu que tinha aquela meleca. Aí olhou para o caipira ao seu lado. Todos os passageiros ficaram apreensivos, olhando a situação só de rabo de olho. E o caipira se saiu com essa: “Ocê melhorô, fio?”.

Ordem cronológica

O pai caipira pede ao filho: – Ô, fio! Põe a sela no cavalo véio pra eu sair! – Uai, pai, mas por que ocê vai no cavalo véio? – É que nóis tem que gastá primero as coisa véia! – Ara! Então por que o senhor não vai a pé?

Presente pra sogra

O sujeito vai comprar roupas para a família toda, quando a sogra interpela: – Agenor, não se esqueça da sogrinha, hein? Compre algo que, assim que você bater o olho, se lembre de mim. Duas horas depois o sujeito volta com os presentes: – Tá aqui o seu tomara que caia, dona Eulália!




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