O fantástico Murilo Rubião
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primeiro livro de contos que ilustrei foi Pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião, em 1974. O livro inaugurava a coleção Nosso Tempo, na editora dirigida por Jiro Takahashi. A publicação do livro deu súbita fama a Murilo e, a mim, a oportunidade de ilustrar todos os demais livros da coleção. Não sei o número exato de livros, foram muitos. Não cito os autores, todos afamados, para não correr o risco de esquecer alguns. De Murilo Rubião conhecia poucas coisas. Sabia sobre seu primeiro livro, O Ex-Mágico, publicado em 1947, que teve pouco sucesso. Também sabia que era jornalista e que constava em seu currículo a chefia de gabinete do governador Juscelino Kubitschek. Ao receber seus originais, descobri que ficaram engavetados por 15 anos. Por isso, Murilo não teve o reconhecimento merecido como precursor da literatura fantástica, que tanto sucesso fazia em livros de autores latino-americanos. Ainda hoje, quando vejo os desenhos que fiz para os contos de Rubião, sinto uma enorme gratidão pela escolha do meu nome para ilustrar suas fantásticas histórias. Elas me permitiram criar imagens e ambientes estranhamente absurdos, que até então eu não havia experimentado. Não havia naqueles textos limites para a imaginação. No lançamento do livro, em Belo Horizonte, os editores levaram meu trabalho para uma galeria de arte onde ocorreria o evento. Antes fui conhecer o autor. Sua figura franzina vestida com terno e gravata não combinava com sua arte absurdamente surreal. Cortês e tímido, me cumprimentou e agradeceu pelos desenhos. Eu o abracei e agradeci pela oportunidade de também enlouquecer um pouco mais após ter lido e ilustrado suas histórias. Ele sorriu um riso silencioso que me lembrou o riso dos velhos palhaços. Emocionado e caminhando a seu lado, tive a certeza de que era ele próprio o meu personagem favorito, e não todos os outros para os quais inventei estranhas alegorias em preto, branco e cinza. Mais à noite, lhe disse: “Bárbara é o meu preferido!”. Ele sorriu e perguntou por que aquele conto era o que mais me agradara. Olhei para o céu, e ele, timidamente orgulhoso, falou: “Entendi”. Bárbara fazia pedidos absurdos ao marido. O sujeito prontamente atendia a todos os desejos. Uma noite, ele a viu olhando o céu. Imaginou que lhe pediria a Lua, mas quis apenas uma estrela, e ele foi buscá-la. Assim termina um dos mais belos contos já lidos por mim, escrito pelo autor-personagem mais fascinante que conheci. É bom poder contar, 37 anos depois, as lembranças de uma das melhores noites da minha vida. A noite em que conheci Murilo Rubião, o criador da literatura fantástica da América Latina. Uma literatura que nos foi sonegada pela negligência da nossa insistente ignorância diante de tudo que ainda não conhecemos. Elifas Andreato
Muitos se recusam a aceitar a realidade simplesmente porque entrariam em colapso se o fizessem. Johann Goethe
índice 5 carta enigmática 8 você sabia? 15 PAPO-CABEÇA Naná Vasconcelos
20 Ilustres Brasileiros Orlando Silva
22 eSpecial
Personagens da literatura brasileira
26 JOGOS E BRINCADEIRAS 27 O Teco-teco www.almanaquebrasil.com.br
28 Viva o brasil Liberdade
31 brasil na tv CANTOS E LETRAS 32 em se plantando, tudo dá
Cogumelo – parte 3
34 bom humor: nosso e dos leitores capa Dennis Vecchione
ARMAZÉM DA M E MÓRIA NAC IONAL Diretor editorial Elifas Andreato Diretor executivo Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisora Lidia Paula Sahagoff Designers Guilherme Resende, Rodrigo Terra Vargas, Soledad Cifuentes e Daniela Santiago (estagiária) Gerente administrativa Fabiana Rocha Oliveira Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Gráfica Oceano PUBLICIDADE Belo Horizonte: (31) 3281-0283 Marco Aurélio Maia • mam@alol.com.br Rio de Janeiro: (21) 2245-8660 Fernando Silva • fernando@gestaodenegocios.com.br Enio Santiago • enio@gestaodenegocios.com.br Vitória: (27) 3389-3452 Flávio Castro • flavio@gestaodenegocios.com.br Outras localidades: (11) 3873-9115 Fernanda Santiago • publicidade@almanaquebrasil.com.br Distribuição em voos nacionais e internacionais:
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resa pelo exército imperial, ela aproveitou um descuido dos soldados e improvisou uma fuga. Perseguida, se jogou às águas para fingir-se de morta. Passou quatro dias pela mata, sem comer ou beber. Depois de tudo, encontrou o marido e outros refugiados antes de dar à luz um bebê saudável, de nome Mennoti, em homenagem ao patriota italiano. Seria o primeiro de quatro filhos do casal revolucionário. A mulher corajosa e idealista nasceu em uma vila catarinense em 30 de agosto de 1821. Depois de perder o pai, um pequeno comerciante, a mãe insistiu para que arranjasse alguém que lhe desse sustento. No dia em que completou 14 anos, casou-se com um rapaz da vila, num casamento de apenas três anos. O marido deixou-a para alistar-se no exército, sem imaginar que,
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Solução na p. 26
pouco depois, ela seria perseguida pela instituição. Um grupo republicano havia instalado um país independente no sul do Brasil e logo fez de Laguna, cidade da jovem, sede da República Juliana. Foi então que ela conheceu um dos rebeldes, um revolucionário italiano, e se apaixonou por ele e sua luta. Depois da revolução mal sucedida no sul brasileiro, o casal exilou-se no Uruguai, onde nasceram Rosa, Teresa e Ricciotti. Seguiram então para a Itália, onde travaram batalhas importantes para a unificação da nação. Grávida novamente, a figura enigmática tentou chegar em um lugar tranquilo na França, para não atrapalhar a luta, mas foi perseguida por tropas até a morte. Com homenagens no Brasil e na Itália, é conhecida como heroína de dois mundos. (NP)
A torcida do Botafogo não gosta nada de ver a imagem ao lado, mas o fato é que o maior símbolo da equipe da estrela solitária já vestiu a camisa do arquirrival Flamengo. Garrincha já não era o mesmo de anos antes, mas, em 1968, o Flamengo resolveu apostar em um de seus maiores algozes. A foto ao lado registra a estreia contra o Vasco – que não foi muito boa. O time perdeu de 2 a 0 e o Anjo das Pernas Tortas se contundiu no finzinho do primeiro tempo. Sua passagem pelo rubro-negro carioca se encerraria pouco depois, com 12 jogos e quatro gols. Foi pelo Flamengo, inclusive, que Garrincha comemorou o último tento no estádio do Maracanã.
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Agência O Globo
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Agosto 2011
8/8/1963
Uma quadrilha assalta trem pagador na Inglaterra, no chamado “roubo do século”. Um dos ladrões, Ronald Biggs, foge para o Brasil.
8/8/1967
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Outro famoso criminoso não tem a mesma sorte. É preso em São Paulo João Acácio, o Bandido da Luz Vermelha, que assaltava mansões paulistas.
Dança dos Tapuias/ Albert Eckhout
Divulgação
Emmanuel reuniu o Pará todo num só trabalho
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Portugueses precisaram de 11 anos para D conquistar a Paraíba
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o Descobrimento do Brasil até a década de 1570, a região onde hoje está a Paraíba não chamou muita atenção dos colonizadores. A situação mudou quando, em 1574, a Coroa Portuguesa fundou a capitania real da Paraíba. Mas só no papel. Era necessário tomar posse de fato da região. Os nativos da etnia potiguara não eram muito amistosos. O primeiro português a se aventurar na conquista do território foi Fernão Silva, em 1575. Os combates com os índios foram duros, e restou aos lusitanos fugir pela costa em direção a Itamaracá. Houve mais três tentativas posteriores. O resultado foi o mesmo: combates sangrentos e portugueses dando no pé sob flechas lançadas pelos valentes potiguaras. Só 11 anos depois, em expedição comandada por João Tavares, a Coroa Portuguesa conseguiu tomar a região. Em 5 de agosto de 1585, era fundada a cidade de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa. Mas para isso foi fundamental a ajuda do povo tabajara, que se aliou aos portugueses para derrotar os potiguaras. (BH) No site do A lmanaque, leia outros episódios sobre a conquista da Paraíba pelos portugueses.
18/Pa8rá
dia do
Bandeiras, de Emmanuel Nassar: cinco anos em buscas dos estandartes paraenses.
esde que viu uma coleção de bandeiras de Gana, em um museu alemão, Emmanuel Nassar não parou de pensar nisso. Era 1993 e o artista paraense tinha acabado de participar da Bienal de Veneza. Mal pôde esperar chegar ao Brasil para começar um novo projeto: o interesse por aqueles símbolos o levou a um “tortuoso caminho” de cinco anos em busca das bandeiras de seu estado. “As dúvidas de como montar uma obra com aquilo começaram a se transformar em pesadelos quando vi a dificuldade em obter as flâmulas.” A “verdadeira aventura”, como ele mesmo define, incluía viagens pelo interior do Pará, chás de cadeira em gabinetes de políticos e claro, muito peixe frito, cerveja e cumprimentos entusiasmados de populares pelas ruas, felizes com a divulgação da terra natal. “Quero a bandeira de seu município em minha próxima exposição.” O artista publicou exatamente esse anúncio no jornal O Liberal. Num domingo, às oito da manhã, bate na porta de Emmanuel um senhor de cabelos brancos com um embrulho nas mãos. Ele viajara 150 quilômetros de Marapanim até Belém para levar a bandeira que ele próprio, aos 14 anos, havia desenhado para um concurso escolar que elegeu a bandeira da cidade. Assim o artista finalmente reuniu no Museu de Arte de São Paulo, em 1998, 123 bandeiras paraenses. Todas colocadas como uma grande colcha de retalhos, do chão ao teto, envolvendo o espectador em uma caixa colorida – “um mural pop, extraído das entranhas do Brasil, do Pará, de mim mesmo”, definiu. (NP)
SAIBA MAIS Visite o blog de Emmanuel Nassar, com outros textos sobre o assunto: www.nassartexts.blogspot.com.
Fases da Lua 1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30 . 31 crescente
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Em revolução sem tiros, herói do Acre acabou com a festa da Bolívia
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de agosto de 1902. Era dia de continuou tenso nos anos seguintes. comemorar a independência Após a tomada de Xapuri por Plácido da Bolívia. A pequena vila boliviana de Castro, a revolta se estenderia até de Xapuri estava preparada para os 1903, quando o militar conseguiu tomar festejos que começariam durante a cidade de Puerto Alonso – atual Porto a manhã. O prédio da intendência, Acre –, a última que resistia ao exército porém, recebeu uma visita inesperada brasileiro. Logo seria criado o Estado durante a madrugada. Era o militar Independente do Acre, que, por um curto gaúcho José Plácido de Castro. O período, foi independente dos dois países. intendente boliviano abriu a porta Barão do Rio Branco resolveria e, sonolento, avisou: “Está muito definitivamente a questão pela cedo para a festa”. O brasileiro diplomacia. Ele, que mais tarde seria Plácido de Castro: “Não é festa, mas revolução.” então contestou: “Não é festa, mas homenageado com o nome da capital revolução”. O militar começaria ali a conquista da região. Sem do estado, propôs que a Bolívia abrisse mão do Acre em troca nenhum tiro, Xapuri foi tomada pelos militares brasileiros. de uma alta quantia em dinheiro e da construção da rodovia A conquista foi um passo fundamental de uma revolução de ferro Madeira-Mamoré. Troca aceita, o estado tornou-se que se iniciara três anos antes. A maioria dos trabalhadores definitivamente brasileiro. seringueiros da região era formada por brasileiros, descontentes De toda essa epopeia, a conquista de Xapuri por Plácido de com os altos impostos cobrados pelo governo boliviano. Houve Castro foi considerada a de maior simbolismo. Tanto que todo 6 revoltas. A mais importante foi a liderada por Luiz Gálvez de agosto – enquanto os bolivianos celebram a independência do em 1899, que chegou a proclamar a independência do Acre. país – os acreanos comemoram a revolução que ajudou a tornar o A medida foi logo revertida pelos bolivianos. O clima, porém, Acre mais uma estrela na bandeira nacional. (BH) 9
No site do A lmanaque, assista a um documentário sobre Plácido de Castro.
enigma figurado
ABL do cordel tem imortais e até hino
SAIBA MAIS Site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel: www.ablc.com.br.
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a cara do Nordeste. Nos livrinhos pequenos estão um mundo de histórias. Mas a tradição dDeia do Poeta Cordel da literatura de cordel, tão brasileira, tem berço mais antigo e distante. Os conquistadores greco-romanos, fenícios, saxões, já exibiam a literatura de cordel. Andavam por céus e terras declamando versos, fazendo rimas em pedaços estreitos de papel. Em Portugal e na Espanha, os primeiros cordéis datam do século 16. Os patrícios os chamavam de “folhas soltas” ou “volantes”, e foram eles que apresentaram a novidade aos artistas brasileiros. Do balaio dos colonizadores, a mania de transformar causos em poesia se instalou em Salvador, a primeira capital do Brasil. Dali se espalhou. Lá pelos idos de 1750 recebeu o batismo de poesia popular. As rimas ricas ganharam representação com circunstância em 1988, mais de dois séculos depois, quando foi fundada a Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Na diretoria eram somente três os cordelistas: o presidente, Gonçalo Ferreira da Silva, o vice, Apolônio Alves dos Santos, e o diretor cultural, Hélio Dutra. Mas faltava ainda endereço oficial. As primeiras reuniões foram na sala de um político, depois em bares e restaurantes, até que um dia a Academia Internacional de Letras abriu espaço para o grupo na Federação das Academias de Letras do Brasil. Hoje já se somam nas cadeiras da ABLC 40 imortais da arte, com direito a site, blog e até hino. Tudo rimado, claro: “Da inspiração mais pura / No mais luminoso dia / Porque cordel é cultura / Nasceu nossa Academia / O céu da literatura / A casa da poesia.” (Laís Duarte)
A carioca acima, nascida em 23 de
agosto de 1922, na época da foto já era formada em Educação Física. Como se vê, não foi a profissão que seguiu. Além de esbanjar charme por Ipanema, marcou a história do teatro brasileiro, ao lado de atores como Paulo Autran e do diretor Adolfo Celi, com quem foi casada. Também deixou sua marca no cinema e na tevê, em novelas como Água Viva e Senhora do Destino. Já sabe quem é?
R.: Confira a resposta na página 26
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Afonso Julião Eymard Lidia João Maria Vianney Afra Bom Jesus do Bonfim Caetano de Tiene Domingos de Gusmão Juliano Lourenço Clara de Assis Euplúsio Hipólito de Roma Maximiliano Tarcísio Roque Jacinto Helena João Eudes Bernardo de Claraval Pio 10° Sinforiano Rosa de Lima Bartolomeu Genésio Micaela Mônica Agostinho Fiacre Félix Raimundo Nonato
São Bartolomeu Foi santificado por ser um dos apóstolos de Cristo. Não tem grandes feitos, mas a narração bíblica conta que Jesus elogiou sua lealdade assim que o conheceu. E completou: “Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas sob a figueira”. Talvez pela ligação com a árvore, associada ao demônio, uma crendice nordestina diz que no dia do santo “o diabo anda solto”.
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dia m un dos clubes (SP)
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Equipe e dirigentes do Cotonifício Rodolfo Crespi, rebatizado Juventus nos anos 1930.
stádio Conde Rodolfo Crespi, bairro da Mooca, zona leste de São Paulo – mais conhecido como estádio da rua Javari. É o palco onde, num jogo válido pelo Campeonato Paulista da terceira divisão de 2011, a torcida do Juventus cantava orgulhosa: Moleque Travesso / Da Mooca querida / Ganhando ou perdendo / Estou sempre contigo. Esse é o sentimento geral dos torcedores de um dos mais tradicionais times da cidade. Perder ou ganhar pouco importa. A história do Juventus começou na década de 1920, quando o futebol ainda era algo elitista na cidade. Não no bairro operário da Mooca. Os trabalhadores imigrantes – a maioria italianos – tinham paixão pelo esporte. O que não faltava eram clubes de várzea. Em 1924, o conde Rodolfo Crespi, dono de uma fábrica de procesamento de algodão que levava seu nome, resolveu fundir dois times varzeanos e fundar o Cotonifício Rodolfo Crespi Futebol Clube. Por determinação do dono – torcedor do Juventus italiano –, o clube foi rebatizado como Clube Atlético Juventus seis anos depois. O uniforme era roxo, mas ia desbotando a cada lavada. Acabou-se adotando a cor que surgia, o grená. Há quem diga, porém, que a cor é em homenagem ao também italiano Torino. O Juventus seria o primeiro clube fabril da capital a alcançar a elite do futebol do estado. Em 1930, estreou no Campeonato Paulista e conquistou uma surpreendente vitória sobre o Corinthians. De tanto aprontar pra cima dos
times grandes, o jornalista Thomas Mazzoni criou o apelido Moleque Travesso. Apesar disso, o clube nunca conquistou um título expressivo. Durante o Campeonato Paulista de 1959, aconteceu na Javari um lance que entrou para a história – e para o imaginário – do futebol mundial. Foi contra o Juventus que Pelé fez o gol mais bonito da carreira, após chapelar metade da defesa mooquense para estufar as redes. Nove mil pessoas viram o tento maravilhoso. Mas há uma anedota no bairro: pelo número de pessoas que juram de pés juntos estarem presentes no dia histórico, a Javari naquele dia era maior do que o Maracanã. Pelé tem um busto na entrada do estádio, ao lado de outro do zagueiro Clóvis, ídolo maior do clube. Hoje, quem vai à rua Javari presencia situações singulares, desde a falta de iluminação artificial até o forte sotaque italianado que vem de todos os cantos. Há ainda o canole, um doce do país da bota vendido por um mesmo senhor há mais de 30 anos. Também chama a atenção uma facção que se declara “inimiga do futebol moderno”. É a que mais canta, à moda das torcidas argentinas. A empolgação das arquibancadas atrai novos torcedores. Cada vez há mais adolescentes que são só juventinos, esquecendo os grandes times da capital. “Ou Juve ou nada!”, evoca um torcedor nas arquibancadas, como para mostrar que naquele pequeno templo ítalo-brasileiro as tradições não estão à venda. (BH)
No site do A lmanaque, assista a trechos de um documentário sobre o Juventus.
Acervo Clube Atlético Juventus
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Para torcedores do Juventus, tradições não estão à venda
Virgem
21-6 a 21-7
A principal característica dos nativos do signo é uma eterna insatisfação. Aperfeiçoar é palavra de ordem, sempre aliada à organização e disciplina. Só aturam imprecisão nos próprios sentimentos e, por isso mesmo, dificilmente os revelam. Em geral são pessoas capazes de colocar ideias em prática. Se quiser irritar um virginiano, basta sonhar com coisas distantes da realidade. Para eles, só interessa o possível.
Aníbal Philot /Agêncio O Globo
Depois de ouvir bossa nova, Zinng não quis mais sair do Brasil 19/8 P
No site do A lmanaque, veja uma galeria de fotos de David Zinng.
de quem são estes olhos?
Ouro olímpico de Joaquim Cruz ainda é único
Q Ed Viggiani/Folhapress
rimavera de 1962. João Gilberto fazia dia mund do fotóg ial um show no Rio com participação de rafo Tom, Vinicius, Milton Banana e Os Cariocas. “A bossa nova estava a caminho de realizar algo que nem Adolf Hitler ou Joe Stalin tinham conseguido: conquistar o mundo. Foi uma noite memorável para o Brasil e para um fotógrafo americano chamado David Zingg.” Quem assim contou foi o próprio fotógrafo. Depois de trabalhar para as maiores publicações de seu país, cobrir a Segunda Guerra e clicar de Che Guevara a John Kennedy, Zinng fazia uma matéria sobre cultura latina. Assistir àquela apresentação o teria, em suas palavras, “reprogramado emocionalmente de maneira terminal”. Foi ele que bolou o histórico show de bossa no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Dois anos depois, voltou ao Brasil para ficar. Na pátria que adotou, Tio Dave – como assinava a coluna na Folha de S.Paulo – tornou-se retratista essencial até o fim da vida, em 2000. Certamente você conhece suas fotos. Além das imagens mais importantes da bossa, registrou Caetano para seu primeiro disco, Gil de fardão, Nara e Elis com os joelhos de fora. E, para assombro dos conservadores, Leila Diniz com o barrigão de grávida à mostra. Em uma entrevista, Tom brincava com o amigo: “David veio para o Brasil e diz que foi por minha causa, mas na verdade ele vivia na praia, jogando peteca e frescobol com meninas bonitas”. Sobre sua relação com o País, o jornalista Matinas Suzuki conclui: “É difícil saber com certeza se Zingg registrou o Brasil real do seu tempo ou o inventou”. (NP)
uando adolescente, Joaquim Cruz gostava mesmo era de basquete. Meio a contragosto, decidiu migrar para o atletismo. As marcas em provas de meio fundo do garoto nascido em Taguatinga, Distrito Federal, começaram a impressionar. Ganhou todas as medalhas de ouro possíveis no Brasil. Em 1982 mudou-se para os Estados Unidos para estudar Educação Física e continuar os treinos. A grande recompensa viria dois anos depois. O rapaz de 21 anos chegou à Olimpíada de Los Angeles como um dos favoritos nos 800 metros rasos. O começo da prova final, realizada em 6 de agosto de 1984, não foi muito bom. Um corredor passou valiosos décimos de segundo à sua frente. Mas, numa arrancada fantástica, o brasileiro o ultrapassou e cruzou a linha de chegada em primeiro. “O País então respirou”, escreveu a Folha de S.Paulo. Passados 27 anos, o feito ainda permanece inédito. Até hoje Cruz é o único medalhista de ouro olímpico em provas de pista do Brasil. (BH)
fixar na capital, A dona destes cobiçados olhos nasceu em São Paulo no dia 29 de agosto de 1976. Antes de se os 14 anos, porém, viveu no interior do estado e até no Japão, fazendo sucesso nas passarelas. Modelo desde personagem a musa de ataca que espevitada moça a é Quem a partir dos 16 começou a estrelar como atriz. infantil na telinha, na telona e nos palcos? Confira a resposta na página 26
No site do A lmanaque, assista ao atleta conquistando o ouro na Olimpíada de Los Angeles.
estação colheita
O que se colhe em Agosto Kiwi, morango, uva, berinjela, mexerica, melão. Agosto 2011
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Origem da expressão TINTIM POR TINTIM A expressão nada mais é do que
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uma onomatopeia, a mesma que deu origem ao verbo tilintar. Já consta em dicionários desde o século 19 com o sentido de “minuciosamente”. “Dar conta ‘tentim por tentim’ é como quem conta e calcula”, esclarece um deles, de 1813. A palavra repetida vem do som da contagem de dinheiro em ouro ou prata, moeda por moeda – som que fazem ao cair umas sobre as outras.
Mário Ferreira dos Santos (sentado): “Alguma coisa há e o nada absoluto não há”.
Polêmico, intelectual paulista vendia 28/8 filosofia de porta em porta
Mais do que equipamentos, carreta da saúde 5/8 transporta esperança
dia da sa úde
dia do filósofo
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filósofo Mário Ferreira dos Santos, morto em 1968, tem uma obra que impressiona: mais de 50 publicações formam a coleção Enciclopédia de Ciências Filosóficas, um clássico da filosofia brasileira. Também fez traduções diretas de grego, francês, alemão e latim. E ainda escreveu romances – a maioria sob pseudônimos. Mas seu maior legado é a Filosofia Concreta. O sistema é totalmente baseado na lógica absoluta. “Alguma coisa há, e o nada absoluto não há” é a primeira tese da publicação e síntese das outras que vêm em seguida, simplesmente em quase todas as áreas do conhecimento. Mário queria que sua filosofia chegasse ao povo. Tentou emplacar seus livros em editoras na década de 1950, com o pedido de que fossem vendidos a preços acessíveis. Não conseguiu sequer que fossem caros – as editoras não quiseram publicar, sob a justificativa de que o povo não gostava do assunto. Resolveu então criar a própria editora, e passou a vender seus livros de porta em porta. O filósofo também era dado a provocar os desafetos. Num debate com o intelectual comunista Caio Prado Júnior – com a presença de Luís Carlos Prestes –, esperou pacientemente sua vez de falar. Quando chegou a hora, disse: “Me desculpe, mas creio que o comunismo tem elementos mais fortes do que os expostos pelo senhor. Vou refazer a sua exposição”. Refez tão bem que o público achou que havia se tornado comunista. Que nada. Logo emendou argumentos irrefutáveis contra o que havia acabado de defender. (BH) No site do A lmanaque, ouça trechos de aulas de Mário Ferreira dos Santos.
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Centro Integrado de Educação e Saúde: o hospital pega a estrada.
ouco antes de morrer, o pai de Roberto Kikawa lhe fez um pedido: “Prometa que você vai ser médico. Mas um que se preocupe com as pessoas, como o que me tratou”. O gastroenterologista terminou a faculdade de Medicina e levou a sério a promessa. É criador da maior carreta da saúde do mundo. O projeto, chamado Centro Integrado de Educação e Saúde, leva alta tecnologia em atendimento e diagnósticos para qualquer canto do País. A carreta nasceu quase na marra, inspirada nos contêineres que os Médicos Sem Fronteiras levavam à África. Em 2008 ela foi para a estrada, com a ideia de detectar doenças antes que elas chegassem em estágios avançados. No ano seguinte, já recebia um prêmio do Ministério da Ciência e Tecnologia. Não demorou para que Roberto e sua equipe criassem outras soluções: a van da saúde pode subir os morros cariocas, e o boxe da saúde pode ser levado em barcos para comunidades ribeirinhas da Amazônia. Já foram mais de 30 mil pessoas atendidas e 700 funcionários capacitados em 15 cidades. O negócio social fecha a conta ao envolver empresas, comunidades e governos. “Mostramos que é possível sim levar alta tecnologia às periferias”, comemora Roberto. Ele até já recebeu e estuda propostas de exportar o projeto para Timor Leste, Venezuela, Itália, Colômbia, Angola. E gosta de explicar o sucesso: “O projeto foi construído com amor de muitas pessoas para levar esse amor a outras. A carreta é apenas um instrumento”. (NP) No site do A lmanaque, leia uma entrevista com Roberto Kikawa.
A Proclamação da Independência, François-René Moreaux, 1844 / Acervo Museu Imperial
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Nossa independência custou dois milhões de libras
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ngana-se quem pensa que bastou um grito para o Brasil garantir soberania como nação. Três anos de diplomacia – e muitas libras – foram necessários para que Portugal reconhecesse a nova condição da antiga colônia. A aceitação lusitana era essencial para que o resto da Europa também respeitasse e fizesse transações comerciais com o jovem Império. Para isso, contamos com uma mão britânica – ou mais que isso. O Tratado de Paz e Aliança, arranjado
pela Inglaterra em 29 de agosto de 1825, definia que o governo brasileiro pagasse dois milhões de libras esterlinas como uma espécie de indenização à antiga metrópole. É de se imaginar quem emprestaria essa quantia para o pagamento. No fim das contas, o dinheiro nem saiu da terra da rainha, pois Portugal já devia isso para os ingleses. A dívida foi apenas transferida e fez o império brasileiro perpetuar por um bom tempo a relação de devedor com a Inglaterra. (NP)
SAIBA MAIS História da Independência do Brasil, de Josué Montello (Casa do Livro, 1972).
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dia do economis ta
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A vaquinha foi parar na internet
rowdfunding (ou financiamento da multidão, em tradução livre) é um conceito novo para uma velha prática: reunir pessoas em torno de uma ideia para torná-la viável economicamente. Ou seja, fazer uma vaquinha. Bastante presente no exterior, mais de uma dezena de plataformas que operam com essa ferramenta já surgiram na internet brasileira, como Catarse, Queremos, Benfeitoria, Mobsocial e Embolacha. E alguns sucessos já foram alcançados. O Queremos viabilizou seis shows internacionais no Rio de Janeiro; outros três, dois em São Paulo e um no Rio, tiveram a ajuda decisiva da Mobsocial; a banda Móveis Coloniais de Acaju levantou financiamento para realizar um festival por meio da plataforma Embolacha; sem falar na Casa Fora do Eixo, em São Paulo, que permitiu melhorias na plataforma Catarse. As plataformas operam apenas online, o que significa que as propostas de projetos são acessíveis na rede, assim como os aportes financeiros de um apoiador. Mas não é só isso: também o modo de mobilização para os financiamentos são preferencialmente online, em torno das redes sociais, utilizadas para mobilizar pessoas desconhecidas no universo offline, as quais, muitas vezes, agregam a um propósito pessoas que já fazem parte de um universo de relações fora da rede. O crowdfunding, da maneira pela qual se apresenta, seria ao mesmo tempo representante de um bem e um processo de realização de democracia e liberdade. A base desse discurso está justamente no ator central da plataforma, identificado em seu próprio nome: a multidão.
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Dia Mundial da Amamentação Dia Universal do Folclore Dia Estadual do Skate (SP) Dia do Padroeiro dos Padres Dia da Farmácia Dia do Ar Dia da Saúde Mental (RS) Dia do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional
Dia Internacional dos Povos Indígenas Dia da Enfermeira Dia do Garçom Dia Nacional das Artes Dia Internacional dos Canhotos Dia dos Pais Dia dos Solteiros Dia do Poeta Recifense Dia do Historiador Dia da Revolução Cultural Dia do Artista de Teatro Dia do Maçom Dia da Habitação Dia Nacional do Folclore Dia da Luta Contra a Injustiça Dia da Infância Dia do Feirante Dia da Igualdade da Mulher Dia Nacional do Psicólogo Dia do Filósofo Dia Nacional de Combate ao Fumo Dia do Vendedor Lojista Dia do Nutricionista
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(Michel Nicolau, de São Paulo-SP - OVERMUNDO)
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o baú do Barão
“O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso”
Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.
Agosto 2011
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3873 9115 • w w w. an d r eat o . c o m . b r
Por João Rocha Rodrigues
Naná Vasconcelos
A percussão é o símbolo da vida
FOTOS: LAURA HUZAK ANDREATO
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Não há na história da música brasileira trajetória parecida. Enquanto aqueles que se tornaram os grandes músicos de sua geração arranhavam violões no embalo da batida de João Gilberto, ele traduzia num bongô suas primeiras pulsações musicais. Aos 12 anos, acompanhava orquestras modestas, pondo boêmios e damas da noite para dançar. Quando partiu para o Rio de Janeiro, parecia decidido a não apenas “acompanhar canários” – embora até hoje empreste seu ritmo a nomes como Milton Nascimento, Caetano Veloso e Marisa Monte, agora na condição de convidado especial. Quando a oportunidade de deixar o fundo do palco surgiu, empunhou o berimbau – que com seu toque elevou à condição de instrumento musical – e ganhou o mundo. Tocou com alguns dos mais expressivos nomes da música mundial, das mais distintas vertentes: de Pat Metheny a Talking Heads; de B.B. King a Egberto Gismonti. E, mais excepcional do que isso, lançou dezenas de discos de carreira, ampliando sensivelmente os limites artísticos da percussão, que, para ele, traduz muito do que somos. “Cada povo tem seu tempo, sente o ritmo de um jeito diferente. Somos o resultado dessa rica mistura. Não parecemos com nada e, por isso mesmo, parecemos com tudo.” Agosto 2011
É verdade ou lenda que você começou a tocar profissionalmente em um prostíbulo? É verdade. Eu aperreei muito meu pai porque queria ser músico. Um dia recebi autorização do juizado de menores e fui acompanhar um conjunto no cabaré. Mas não podia descer do palco. A orquestra tocava por 45 minutos e depois parava para o pessoal namorar e tal, mas eu ficava no palco. Naquela época não se via criança na rua depois das nove da noite, principalmente na zona. Quando meu pai me levou pela primeira vez, exigiu: “O que você vir lá você deixa lá!”. Me lembro que quando cheguei em casa meus três irmãos estavam acordados, loucos para saber como era o cabaré. E eu não falei nada.
do o berimbau com as minhas ideias foi fora do Brasil. Um dia, o músico argentino Gato Barbieri me viu tocando num ensaio e me chamou para fazer uns concertos na Argentina. Eu topei, e lá ele abriu um tempo do espetáculo para que eu fizesse um solo de berimbau. Foi um sucesso. De lá, fui para os Estados Unidos, onde gravei meu primeiro disco. Tudo por causa do berimbau. A sua ida para o exterior foi importante para sua carreira deslanchar? Foi da maior importância. Se eu tivesse ficado aqui, estaria acompanhando canários até hoje. Adoro acompanhar gente como Milton Nascimento, com quem fiz coisas incríveis. Mas lá fora consegui até ser um músico solista de berimbau em orquestra. Entrei no mundo das orquestras, num encontro de extremos. Além disso, de fora é mais fácil entender o Brasil. Às vezes conversava com João Gilberto, quando éramos vizinhos nos Estados Unidos, sobre como era de impressionar a quantidade de estrelas que havia no Brasil. Para qualquer lado que você olhe, tem três, quatro, uma constelação. O Brasil é fantástico por isso.
Como era a sua relação com as garotas? Elas ficavam me tentando. Falavam para meu pai: “Pierre, deixa eu levar esse moleque pra casa”. E eu ficava lá, cheio de vergonha. Era a primeira vez que vestia calça comprida. Não podia perder aquela oportunidade, porque o que queria mesmo era ser músico. Eu tocava às quartas, nas apresentações que chamavam de recreios; sábados, nos bailes; e domingos, nas matinês. Eu vivia assim: tocava até duas horas da manhã, depois saía pela zona do Recife para esperar a lotação. Para mim era tudo fascinante, a vida no porto, os mari“Me surpreendi nheiros de diferentes países, as meninas...
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Até quando você tocou nesse lugar? Até o dia em que meu pai morreu. Foi aí que percebi que precisava ir além. Comprei uma bateria, aprendi sozinho e comecei a tocar. Depois que já tinha me tornado baterista no Recife, migrei para o Rio de Janeiro, que era uma vitrine. Eu tinha sido ritmista, tocava em bailes – é uma grande escola aprender a tocar para as pessoas dançarem. No Rio, entrei em grupos de teatro. Era uma época em que as artes caminhavam muito juntas. Eu tocava com Gal Costa, Hélio Oiticica fazia cenário, Capinam escrevia o texto. Anos depois, nos Estados Unidos, fui morar com Glauber Rocha; fui vizinho de João Gilberto. Foi uma geração de descobertas, de busca por mudanças.
ao perceber que muitas das coisas tradicionais que levava para as crianças africanas e portuguesas cantarem só resistiram no Brasil.”
Quando você percebeu que podia percorrer um caminho diferente, não apenas acompanhando outros músicos? Eu cresci vendo o ritmista como uma espécie de auxiliar do baterista. Mas sempre quis ter uma voz dentro daquela história. Talvez por não querer simplesmente ser músico de baile ou de acompanhamento de cantores, apostei num outro modelo. É claro que não foi fácil virar um solista com percussão, um instrumento que não é melódico. Mas eu quis isso, lutei por isso e estudei para isso. Como começou a sua história com o berimbau, hoje seu principal instrumento? Toquei berimbau pela primeira vez numa peça chamada Memórias de Dois Cantadores, que era como se fosse uma pesquisa da riqueza folclórica que existe no Nordeste. Na parte da Bahia havia capoeira, por isso tive que aprender berimbau. Quando terminou a peça, fiquei com o instrumento em casa. Como não podia estudar bateria no apartamento em que vivia, estudava berimbau. Aí comecei a experimentar outros ritmos, me afastando da capoeira. A primeira vez que fiz um show usanwww.almanaquebrasil.com.br
Em vários discos importantes da música mundial você não simplesmente tocou, mas deixou a sua marca. Os artistas que te convidavam esperavam isso? As coisas aconteciam meio por acaso. Lembro, por exemplo, que coloquei voz num disco de Pat Metheny, que nunca havia usado canto em suas músicas. E tudo foi muito natural. Eu estava no Japão com o Egberto Gismonti e Pat chegou para uma turnê com o mesmo promotor. Caminhando para o hotel a seu lado, cantarolei uma música dele. Ele se surpreendeu: “Eu nunca tinha ouvido uma música minha cantada”. Dois meses depois ele me chamou para fazer um disco com ele. Isso mudou a música dele. Pat começou a se ligar no Toninho Horta, no Milton Nascimento. Chegou até a morar um pouco aqui no Brasil. Foi um encontro interessante.
Outro encontro marcante para a música mundial foi com Don Cherry e Collin Walcott, não? Sem dúvida. Juntos criamos nos anos 1970 o Codona, que trazia as primeiras sílabas dos nossos nomes. Nisso que se diz agora world music, nós fomos pioneiros. Fizemos três discos. Os críticos diziam que era um acústico de Pink Floyd, porque era fora do comum. As influências eram diversas. Don e Collin eram grandes instrumentistas, conheciam as coisas africanas e orientais, mas eram mais do free jazz. Já eu vinha cantando aboios. Era o que me segurava, o que me fazia não esquecer da infância, das coisas que eu tinha vivido. Diferente de muitos brasileiros que foram viver nos Estados Unidos e começaram a cantar em inglês, que não viraram americanos e deixaram de ser brasileiros. Apesar de tantos anos distante, você considera que preservou as suas referências? Eu nunca perdi minha identidade porque nunca saí daqui. Estive apenas morando fora. Nunca quis ser americano. Eu fazia diferença na música deles. Eu sou um Brasil que o Brasil não conhece até hoje, e isso é ótimo. Eu não faço parte de fórmulas, movimentos ou coisas desse tipo. E sou Brasil mesmo assim.
Você foi convidado a tocar com várias orquestras. Não há certa incongruência entre o formalismo e a precisão da orquestra com o seu som? Eles mudam quando tocam comigo. Os músicos têm que olhar para o maestro e para mim, que sou o solista. É um comportamento um pouco diferente. Sou muito exigente e estudo muito para que as coisas que faço não fiquem caricatas. Não faço qualquer coisa. Foi difícil encontrar uma maneira de fazer um concerto com percussão que fosse musical, mas eu consegui isso com muito esforço, e continuo estudando para que outros sigam dessa maneira. A intuição ainda é uma coisa muito importante para mim e, de modo geral, para a cultura do brasileiro. Quando perdemos isso, perdemos em tudo. No futebol, na música, em qualquer coisa. Não somos europeus. É por isso que é quase impossível ter um rock brasileiro, porque somos muito sensuais. E o rock é uma coisa dura. O brasileiro tem o dendê, tem o tempero, tem o feijão. A expansão de fronteiras que seu trabalho proporcionou encontra repercussão na música que se faz hoje no Brasil? Hoje muita gente boa pega uma cuíca, um pandeiro e faz um uso diferente. O berimbau não é só para a capoeira; o pandeiro não é só para o samba. No cenário alternativo, que é onde acontecem as coisas mais importantes no Brasil hoje, muitos estão ousando, procurando misturar. Se você vir bem, a coisa do Chico Science, do Mangue Beat, saiu da ousadia de misturar. Deu um bicho maluco que ninguém tinha nem com quem comparar. É nisso que eu acredito. E é disso que espero mais. Qual a importância da natureza para a sua composição musical? Ouvindo VillaLobos, entendi a força visual que existe na música. Quando ele faz o Trenzinho Caipira, parece que você vê o que ele quer te mostrar. Se falamos de selva, eu procuro levar o ouvinte para a selva através de sons. É muito inspirador pensar dessa maneira porque você transcende a ideia de só tocar. Você quer também dizer. Essa ideia foi amadurecendo com a idade, como vinho. Quando toco com as pessoas que normalmente me procuram, como Milton, Marisa Monte, Caetano, penso no que a letra diz para montar o cenário. Não é para ilustrar, feito desenho animado, mas eu digo: vou botar você no céu, vou botar você no mar, vou botar você na selva. Como foi, depois de tanto tempo longe, voltar para o Brasil, mais especificamente para o Recife? A minha volta ao Brasil depois de 30 anos foi para me esconder – eu me escondo no Recife. Lá também venho podendo fazer coisas que acho importante fazer. Gosto de trabalhar com maracatu, com crianças carentes, sentir que o que sei serve para alguma coisa. E aprendo também. Hoje faço composições só com o corpo porque as crianças me levaram a isso. Estou muito mais preocupado em fazer coisas desse tipo do que simplesmente tocar ou fazer shows. Há 10 anos faço a abertura do carnaval do Recife, e isso também é um desafio. Eu ponho 17 nações – é como se
fossem escolas de samba rivais – para tocarem juntas. É uma celebração das diferenças; uma exaltação das similaridades. Sinto que a minha contribuição hoje está em, de certa forma, resgatar coisas que estavam desaparecendo sem registro. Foi com essa intenção que surgiu o projeto Língua Mãe? Em 1994, criei um projeto chamado ABC Musical, um trabalho com crianças de escolas públicas de sete a 10 anos, envolvendo o repertório da música folclórica brasileira. Eu acreditava que, através do folclore, as crianças poderiam aprender mais sobre o Brasil. A música é das artes mais importantes, porque mexe com sentimentos. A música é o momento. Dá dicção, dá ritmo, tudo. Para respirar, dormir, se alegrar, meditar. Enfim, com o tempo, surgiu a oportunidade de fazer isso num plano internacional, com crianças dos países que falam a língua portuguesa. Fizemos oficinas na Europa, na África e no Brasil, e depois montamos um grande espetáculo, reunindo todas essas crianças. Isso virou um DVD que mostra todo esse processo, chamado também Língua Mãe. Houve muitas surpresas nesse encontro de continentes? Foi tudo muito bonito, mas me surpreendi mesmo ao perceber que muitas das coisas tradicionais que levava para as crianças trabalharem, tanto africanas como portuguesas, só resistiram mesmo aqui no Brasil. Depois de anos de guerra civil, as crianças de Angola já não conheciam mais as coisas que um dia chegaram no Brasil. Só cantavam mesmo as canções da guerrilha. Em Portugal, eu cantava alguma coisa e as crianças se surpreendiam: “Que legal! Essa música é do Brasil?” Não, era portuguesa. De certo modo, não foi só uma troca, mas também o reencontro dessas crianças com as suas próprias tradições. Então, estávamos dando de volta para eles coisas que haviam perdido, mas que nos deram antes de perder. Na verdade, o Brasil faz muito isso. Em tudo o que o mundo nos dá, colocamos uma roupa de baiano e damos de volta, porque nós tivemos Villa-Lobos, nós tivemos a bossa nova... O que faz a música brasileira tão especial? A raiz é essa miscigenação que só nós temos. Não se pode dizer que a responsável foi apenas a África, por exemplo. Eu digo que a África é a espinha dorsal, mas a mistura é que deu essa magia, esse charme. Qual considera que seja o papel do ritmo, seu ofício, na riqueza cultural brasileira? A percussão é o símbolo da vida. Se o coração não bater, não tem vida. O ritmo dá vida, porque cada povo tem o seu. Se você cantar uma música para um americano, ele vai bater palmas no contratempo. Nós bateremos no tempo. Isso é orgânico. Cada povo tem seu tempo, sente o ritmo de um jeito diferente. Na Noruega tem muita neve, por isso as notas são longas, o tempo do ritmo é mais comprido. Aqui tem feijão, dendê, esse negócio todo. Somos o resultado dessa rica mistura. Graças a Deus, somos o que somos. Não parecemos com nada e, por isso mesmo, parecemos com tudo. Agosto 2011
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SILVA ORLANDO
z o v a d o n O do Por Natália Pesciotta
Reprodução
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E
sta é a história de uma voz. “Talvez a mais bela que o cancioneiro popular já utilizou. Uma voz que surge do nada, paira por um curto tempo entre os mortais para logo desaparecer numa bruma tão misteriosa quanto o relâmpago que a fez surgir”, descreve o biógrafo Jorge Aguiar. Desde a mais remota memória de Orlando, em que os Oito Batutas ensaiavam na sua casa, ele já se interessava por música. Celeste, o pai, poderia ter sido definitivamente um dos oito do grupo de Pixinguinha, se não tivesse três filhos para criar. Deixou a profissão de violinista pela de ferroviário, mas mesmo assim conviveu pouco com o caçula. Morreu de gripe espanhola em 1918, sem deixar muita coisa. E sem tampouco imaginar que algum dia o pequeno de três anos teria um programa de rádio aberto com tema especialmente feito por Pixinguinha e João de Barro: Meu coração / Não sei por que/ Bate feliz / Quando te vê... Além de Carinhoso, Orlando consagraria outras tantas músicas feitas por compositores que conheciam exatamente seu
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Foi Francisco Alves que afirmou: “Nenhum intérprete brasileiro jamais alcançou o nível de Orlando Silva”. Com grandes sucessos, o trocador de ônibus conquistou o Brasil nos anos 1940 e inspira gerações de cantores até hoje. Há quem diga que ninguém no mundo soube aliar o microfone a uma voz potente como o cantor das multidões.
gosto e timbre. Marchinhas, sambas-canção, valsas, baladas. Por fim, influenciaria cantores tão distintos quanto Cyro Monteiro, Nelson Gonçalves e João Gilberto.
Modelo do antimodelo
Orlando costumava levar para a escola folhetos de modinhas entre os livros. Acompanhava os sucessos do rádio na casa dos vizinhos que tinham o aparelho. Depois das aulas, subia descalço em um pé de amora no jardim e desfiava canções. As primeiras ouvintes do “cantor das multidões” moravam nas casas ao lado e gostavam de escolher as músicas. O gogó e a interpretação impecável faziam sucesso também na linha de ônibus em que o garoto trabalhava como trocador. O emprego era bom porque permitia que ficasse sentado – anos antes sofrera um trágico acidente no pé, quando subia em um bonde para fazer entregas. Os passageiros e vizinhos o incentivavam a cantar, mas na quarta vez em que foi até uma rádio no centro por indicação de um conhecido, começou a desanimar.
O gogó e a interpretação impecável faziam sucesso na linha de ônibus em que trabalhava. As rádios, porém, não davam atenção ao mulato suburbano, “modelo do antimodelo de artista”. Para Jonas Vieira, outro biógrafo, por ser “o modelo do antimodelo de artista e de grande ídolo, ainda mais puxando de uma perna”, a figura mulata e suburbana não conquistava atenção nas emissoras. Mais adiante, as roupas do cantor rasgadas por fãs enlouquecidas e a disputa do público por qualquer bituca de cigarro atirada na calçada comprovariam que as profecias estavam erradas.
Uma voz na multidão
O compositor e boêmio Bororó entrava na Rádio Nacional quando ficou paralisado. Perguntou ao menino que cantarolava na antessala: “Ei, você é da Nacional?”. Ao saber que não, insistiu: “Guanabara, Rádio Clube, onde você canta?”. Levou-o imediatamente até Francisco Alves. Depois de uma breve demonstração em seu carro, o Rei da Voz levou o menino de 17 anos para seu programa. O apresentou com o nome artístico Orlando Navarro. O pessoal de Engenho de Dentro, no entanto, reclamou, e o novato preferiu ficar com o nome da família: Orlando Silva, o cantor das multidões. O título famoso e definitivo foi dado por causa de uma apresentação em 1938. O auditório da Rádio do Comércio tinha ficado pequeno para ele. Improvisaram a sacada do prédio paulista para um show aberto, que reuniu 60 mil pessoas. Mas a nomenclatura representa também algo ainda maior: pelas ondas radiofônicas, foi imbatível sucesso de público. Nos anos 1940, era o campeão de vendas de discos e tinha o mais alto cachê. Os produtores brincavam que seus discos tinham lado A e lado A, pois tudo que gravava era um estouro. Durante toda a década de 1950, era sagrado o seu programa Quando os Ponteiros Se Encontram, ao meio-dia dos domingos, na Rádio Nacional. Certa vez, Orlando procurou no Teatro Municipal Tito Schippa, cantor lírico italiano com quem gostaria de tomar aulas. Ao ouvir Lágrimas na sua voz, porém, Tito vetou:
“Não estude jamais. Cante exatamente desse jeito em qualquer lugar do mundo”.
Melhor do mundo
“É possível arriscar que, de 1936 a 1942, ele foi o melhor cantor popular do mundo, ao saber como ninguém aliar a tecnologia do microfone a uma voz já potente”, defende o jornalista Ruy Castro. Os oito anos a partir de 1936 são considerados o período de ouro de Orlando. Depois disso, os mais críticos notam que não havia mais a limpidez absoluta peculiar. Há quem diga que a voz, quase uma entidade independente, o deixou depois de uma desilusão na conturbada relação que mantinha com a radioatriz Zezé Fonseca. Como no samba A Primeira Vez, em que cantava: Um dia você partiu / Meu pinho emudeceu / E a minha voz na garganta morreu. Mas há também quem aponte fatores mais concretos: Orlando precisou arrancar alguns dentes, o que o fez entrar em contato e se viciar em morfina. Com isso e com a separação sofrida, afundou-se em bebida. Quem o tirou da situação foi outra mulher. A partir do casamento com Maria de Lourdes, o jeito manso de falar e a pureza do olhar estavam de volta. Além disso, ninguém jamais negou a afinação, o timbre e a postura do cantor das multidões, que também se poderia chamar de cantor dos mandachuvas – Getúlio Vargas tinha como xodó A Jardineira; já Juscelino Kubitschek preferia Sertaneja. Continuou afamado em apresentações e LPs pelo Brasil todo. Em 7 de agosto de 1978, quando morreu, já tinha se recolhido com a esposa para uma vida calma na Ilha do Governador. Voltou para a Zona Sul do Rio para ser velado na sede do Flamengo, seu time do coração, como um dia havia pedido. Nada Além – A vida de Orlando Silva, de Jorge Aguiar (Globo, 1996). Orlando Silva – O cantor das multidões, de Jonas Vieira (Funarte, 2004). No site do ALMANAQUE, ouça uma seleção de músicas do cantor.
O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO
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Nossa gente entre pontos e vírgulas
Ao longo de suas páginas, grandes autores como João Cabral de Melo Neto, Mário de Andrade e Machado de Assis nos ajudaram a compreender a alma nacional. E povoaram as prateleiras da nossa imaginação com personagens inesquecíveis.
Texto: Bruno Hoffmann Arte: Dennis Vecchione 22
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les são muitos. Surgem a toda a hora e em todos os cantos. Mas não são tantos que vingam, ganhando sobrevida depois que seus autores abandonaram seus instrumentos de ofício. Ou, mais difícil ainda, após seus leitores fecharem de vez as páginas dos livros em que habitam. Poucos mesmo são aqueles que, passados anos, décadas, séculos, continuam vivos na imaginação de quem leu, como uma lembrança de lágrimas, boas risadas ou de um sentimento de indignação. Entre esses personagens inesquecíveis há gente de todos os tipos. Cada um tem o seu preferido. Neste especial, lembramos de alguns deles, numa lista com promessa de ampliação em futuras edições. Menino Maluquinho, por exemplo, lançado em livro por Ziraldo em 1980, simboliza o que seria uma infância vivida em sua plenitude, cheia de alegrias, mas também de contrariedades. Menos feliz foi a vida adulta de Policarpo Quaresma, personagem criado por Lima Barreto para Triste Fim de Policarpo Quaresma, de 1915. A existência também não foi sinônimo de felicidade para Brás Cubas. O autor-defunto de Memórias Póstumas de Brás Cubas, saído da genialidade de Machado de Assis em 1881, morreu sem conquistar o que tanto desejava. Ao menos teve a oportunidade de deixar suas memórias para a eternidade. A sensualidade rústica da mulher do Agreste é retratada por Jorge Amado em Gabriela Cravo e Canela, de 1958. A www.almanaquebrasil.com.br
mesma beleza natural que possui a protagonista de Iracema, romance escrito por José de Alencar em 1865, considerado um dos mais belos do gênero. Entre essas mulheres brilhantes, democraticamente há espaço também para um machista de primeira: O Analista de Bagé, engendrado por Luis Fernando Verissimo a partir de 1981, e que só virou livro depois de seu sucesso nas páginas dos jornais. E também para uma dupla de divertidos trambiqueiros resgatados do folclore nordestino por Ariano Suassuna, em Auto da Compadecida, de 1955. Além do impagável Macunaíma, nosso herói sem nenhum caráter, lançado ao mundo por Mário de Andrade em 1928. Histórias de sofrimento do homem nordestino foram ricamente tratadas em nossas páginas, como no caso de Severino, personagem condutor de Morte e Vida Severina, criado por João Cabral de Melo Neto em 1955. Nesse turbilhão de personagens, há espaço até para animais se tornarem célebres. Quem é que, tendo penetrado no universo lancinante de Graciliano Ramos em Vidas Secas, de 1938, é capaz de esquecer-se da cadelinha Baleia? Assim, de personagens singelos, sedutores, comoventes, debochados e divertidos, se fez e faz a literatura brasileira. Vez por outra eles não precisam sequer ser desalojados das prateleiras: saltam dos livros para a imaginação. E, como vemos a seguir, das linhas que os abrigam para as páginas deste Almanaque.
Policarpo queria
abolir a língua portuguesa
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ara ele, o Brasil era o primeiro em tudo. Não havia país mais formoso, povo mais amável e cultura mais interessante que a nossa. A fascinação de Policarpo Quaresma pelas coisas nacionais era tanta que chegou a enviar ao Congresso um projeto para institucionalizar o tupi-guarani como a língua nacional – o português, afinal, é coisa de europeu. No começo do século passado, violão era considerado
coisa de vagabundo. Não pegava bem ser empunhado por distintos funcionários públicos, como era o caso de Policarpo. Mas ele acreditava que se tratava do instrumento que mais bem registrava a alma nacional. Aprendeu a tocá-lo com o seresteiro Ricardo Coração dos Outros, personagem inspirado em Catulo da Paixão Cearense. Dá para imaginar sua decepção, portanto, ao constatar que grande parte das nossas canções e cantigas vinha do estrangeiro. Seu patriotismo era tão exacerbado que desdenhava da extensão real do rio Nilo. Tudo para apregoar que o Amazonas era o maior do mundo. Em 2007, quem diria, pesquisadores indicaram que o Amazonas pode realmente ser o mais extenso do planeta. Policarpo pode ter tido um triste fim, mas sabia das coisas.
Dupla escapava da miséria
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na base da malandragem
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oão Grilo e Chicó formavam uma dupla inseparável. O mais astuto era João. A esperteza era a sua única arma contra a vida miserável em que se encontrava. E a usava à exaustão. Conseguia ludibriar do patrão ao coronel, do padre ao cangaceiro. Nem que fosse por um pedaço de pão. Já Chicó era dado a contar histórias fantásticas – que poderiam soar como lorotas. Já disse que percorreu vários estados nordestinos em cima de um cavalo benzido, que tinha um pirarucu de estimação e que encontrou com Padre Cícero no céu. Quando o interlocutor exigia detalhes de suas histórias fantasiosas, saía pela tangente: “Não sei, só sei que foi assim”.
Um
menino com
macaquinhos no sótão
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le não tem nome. E nem precisa. É apenas conhecido como Menino Maluquinho, um arteiro de marca maior. É o que basta para um garoto que tem o olho maior que a barriga, vento nos pés, pernas que podem abraçar o mundo e macaquinhos no sótão. Sempre com uma panela na cabeça, ele vive uma infância repleta de alegrias. É o melhor goleiro do bairro e tem mais de 10 namoradas. Entretanto, nutre uma queda especial pela companheira de aventuras Julietinha, e chora escondido quando tem tristezas. Agosto 2011
Severino partiu em
busca de outro destino
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Gabriela seduziu
Nacib e uma multidão
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la tinha cheiro de cravo e cor de canela. Essa sensual mistura encantou o árabe Nacib. Gabriela vinha do Agreste e migrou para Ilhéus em busca de uma vida melhor. Começou a trabalhar na cozinha do bar de Nacib, que ficou completamente encantado com a sua beleza. Mas não só ele. A cada, dia o estabelecimento recebia mais clientes. A cidade toda estava fascinada com a beleza de Gabriela. Enciumado, o árabe resolveu que o melhor era se casar com ela. Mas percebia que cada vez se tornava mais difícil subjugar seu espírito livre. Após flagrála com outro homem, resolveu cancelar o casamento. Mas nunca conseguiu esquecer-se da cor e do sabor da moça.
le era mais um Severino do sertão de Pernambuco. Igual a ele, outros também tinham a cabeça grande, “que a custo é que se equilibra”, a barriga dilatada, contrastando com as pernas finas. E também o sangue com “pouca tinta”. Igual a ele tinham também o nome. Foi por isso que deram de chamá-lo Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Severino lutava para escapar da morte comum entre os outros de mesmo nome: “de velhice antes dos 30, de emboscada antes dos 20, de fome um pouco por dia”. Plantar, que era o único que lhe restava, era tarefa inglória. Até tentou despertar a terra para o plantio, “arrancar algum roçado da cinza”. Mas não podia. Por isso, juntou sua sina a de tantos outros Severinos, deixando sua terra em busca de outros destinos.
Por amor, Iracema lutou contra seu próprio povo
E
la viveu numa região onde hoje está o Ceará. Era uma belíssima índia tabajara, com lábios de mel e cabelos mais negros que a asa da graúna. Mas tanta beleza não deveria ser cortejada. O pai de Iracema, pajé do grupo, ordenou-lhe manter-se virgem, pois guardaria segredos que seriam perdidos caso não se mantivesse intocada. Porém a tabajara não pôde conter seu amor. Apaixonou-se por um português com olhos de um “azul triste das águas profundas”. Depois de abandonar o próprio povo, deu à luz um menino, cujo nome carregava os sentimentos da mãe: Moacir, “filho do meu sofrimento, da minha dor”.
Baleia morreu sonhando com Nordeste verdejante
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s dois filhos do casal de retirantes Fabiano e sinhá Vitória não tinham nome. Eram chamados apenas de “menino mais novo” e “menino mais velho”. Mas a cadela da família tinha: Baleia. A cachorrinha era dona de sentimentos quase humanos. Penou muito ao lado dos sertanejos para fugir da seca que assolava o Nordeste. Certo dia, adoeceu. Fabiano não viu outra solução a não ser sacrificá-la. Baleia aguardou a morte sonhando que acordaria num mundo cheio de preás. E que lamberia a mão de Fabiano. E também desejou rolar com as crianças num chiqueiro enorme. Segundos antes da morte, imaginou o Nordeste como um campo verdejante, cheio de árvores e bichos.
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Defunto- autor refez suas memórias
direto do além
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rás Cubas não está mais entre nós. Mas, onde estivesse, resolveu contar suas memórias postumamente. Nascido em uma típica família da elite carioca no começo do século 19, não casou nem deixou filhos: “Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”, registrou, com certo amargor e ironia. Aliás, eram essas as características mais presentes no sujeito. Tanto que dedicou seu livro ao verme que primeiro roesse sua fria carne. O vaidoso personagem passou a vida procurando fórmulas para deixar seu nome para a posteridade. Com afinco, tentou até criar um remédio destinado a aliviar a melancolia da humanidade, batizado de emplasto Brás Cubas. Acreditava que o invento lhe traria a glória entre os homens. Mas o máximo que conseguiu foi contrair pneumonia ao sair de casa para patentear a criação. O livro do nosso defunto-autor fez sucesso mundo afora. O cineasta norteamericano Woody Allen chegou a declarar que Memórias Póstumas está entre os cinco livros que mais tiveram impacto sobre sua vida e obra. “É tão moderno e prazeroso. É uma obra muito, muito original.” Onde estiver, Brás Cubas deve ter ficado muito envaidecido.
Analista tratava pacientes
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a base de pauladas
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ais ortodoxo que pomada Minâncora ou que caixa de Maizena”, o analista de Bagé declarava seguir a linha freudiana, mas costumava apresentar soluções bastante inusitadas a seus pacientes. Misturando técnicas científicas com a sabedoria popular dos pampas, os recebia de bombacha e portando um chimarrão – “para clarear a urina e as ideias”. Um dos tratamentos mais utilizados era o que singelamente chamava de “joelhaço”. O paciente chegava ao consultório triste da vida, apresentando suas dores subjetivas. Recebia então uma violenta pancada no joelho. Segundo o analista, o golpe era capaz de produzir uma dor tão intensa que logo o sujeito esquecia as “dores menores”.
De tão preguiçoso, nosso herói tornou-se constelação
‘‘A
i, que preguiça”. Essa é a frase característica de Macunaíma, um herói sem nenhum caráter. Nem todos se atentam que a frase mostra que essa figurinha é duplamente preguiçosa. “Aique”, num dos dialetos indígenas, significa exatamente “preguiça”. O sujeito nasceu numa tribo amazônica, no fundo do mato-virgem. Era “preto retinto e filho do medo da noite”. E de uma preguiça e insolência que impressionavam. Macunaíma era mentiroso, traidor, boca suja e praticante de toda a sorte de safadezas. Depois de muito aprontar, um feiticeiro decidiu transformá-lo na constelação de Ursa Maior. Até nessa hora permaneceu inútil. Foi viver no campo vasto do céu, “sem dar calor ou vida a ninguém”.
SAIBA MAIS No site do Almanaque, assista a trechos de séries de tevê, novelas, filmes e até músicas com os personagens apresentados neste especial. Agosto 2011
O Calculista das Arábias
ligue os pontos
Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan
depois de remarcada para centavos de cruzeiro novo. Tem o rosto do único presidente que se representou em cédula.
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b Primeira nota totalmente produzida no Brasil, ganhou as ruas a partir de 1961. Antes disso, as cédulas eram diagramadas e fabricadas no exterior.
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c Por causa dessa cédula, o dinheiro ganhou mais um sinônimo, depois que Carlos Drummond de Andrade publicou uma crônica nos jornais: barão.
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d Lançada depois da ditadura militar, homenageava um de nossos maiores poetas, com seu rosto e os versos: Eu preparo uma canção / Para acordar os homens.
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Em uma viagem pelo deserto, o calculista Beremiz Samir e seu companheiro de viagem encontraram um rico xeique que acabara de ser roubado. O mercador pediu para acompanhá-los até Bagdá. Beremiz possuía 5 pães e o amigo, 3. O xeique propôs que dividissem a comida: “Quando chegarmos, pagarei 8 moedas de ouro pelo pão que eu comer”. Juntaram então todos os pães em uma sacola e, a cada parada, dividiam um pão pelos três. Em Bagdá, o xeique agradeceu muito e pagou as 8 moedas prometidas: 5 para Beremiz, que contribuiu com 5 pães, e 3 para seu acompanhante, que havia dado 3. O calculista preferiu dividir igualmente a quantia com o amigo, mas afirmou: “Se fizéssemos a divisão proporcional, o certo seria que eu recebesse 7 moedas e meu companheiro, 1”. E estava certo. Sabe dizer por quê?
acervo da família
a Foi nossa nota de menor valor numérico,
Adaptado de Matemática Divertida e Curiosa, de Malba Tahan (Record, 2009).
teste o nível de sua brasilidade
Palavras Cruzadas
Cidade fictícia de Tieta do Agreste, obra de Jorge Amado lançada em 17/8/1977: (a) Canindé (b) Santana (d) Porto dos Milagres (c) Asa Branca Rainha do rádio, nascida em 30/8/1922, que imortalizou Chiquita Bacana: (a) Dalva de Oliveira (b) Emilinha Borba (d) Carmen Miranda (c) Aracy de Almeida Estado natal de Lupicínio Rodrigues, morto em 27/8/1974: (b) Pará (a) Rio de Janeiro (d) Rio Grande do Sul (c) Paraná O Bandido da Luz Vermelha, preso em São Paulo em 8/8/1967, tornou-se tema de filme de: (a) Glauber Rocha (b) Sganzerla (c) Júlio Bressane (d) José Padilha Primeiro programa exibido regularmente em rede nacional, a partir de 23/8/1969: (b) Jornal Nacional (a) Novela das oito (c )Repórter Esso (d) Cassino do Chacrinha
Respostas Luana Piovani
BRASILIÔMETRO 1c; 2b; 3b; 4d; 5b; 6b; 7c; 8c.
Participou do grupo Secos e Molhados, dissolvido em 21/8/1974: (a) Caetano Veloso (b) Lulu Santos (d) Rita Lee (c) Ney Matogrosso Significado do “U” da sigla CUT, central sindical fundada em 28/8/1983: (a) Universal (b) Unânime (c) Única (d) Uniformizada
valiação
SE LIGA NA HISTÓRIA 1d; 2a; 3c; 4b. ENIGMA FIGURADO Tônia Carrero. O QUE É O QUE É? Toalha. CARTA ENIGMÁTICA Com homenagens no Brasil e na Itália, é conhecida como heroína de DE QUEM SÃO ESTES OLHOS? dois mundos (Anita Garibaldi).
Divulgação
O CALCULISTA DAS ARÁBIAS Beremiz poderia justificar assim a afirmação de que deveria receber 7 das 8 moedas ofertadas pelo xeique: “Quando tínhamos fome, eu tirava um pão da sacola e dividia em três pedaços. Se dei 5 pães, dei 15 pedaços. Meu amigo deu 3 pães, isto é, 9 pedaços. No total, tínhamos 24 pedaços, dos quais cada um comeu um terço, ou 8 pedaços. Portando, dos meus 15 pedaços, consumi 8, então em verdade cedi 7. Dos 9 pedaços do meu companheiro, ele mesmo ficou com 8, cedendo apenas 1.”
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Primeiro time brasileiro a vencer a Libertadores, em 30/8/1962: (a) Cruzeiro (b) Atlético-MG (c) Santos (d) Corinthians
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Água é o que não falta nestas terras g V a ocê sabia que foi pelos rios que o interior do Brasil foi colonizado? Os portugueses quando cá che aram se fixaram no litoral. Seguir Brasil adentro era difícil, por causa da mata fechada. O jeito era buscar caminho pelos rios já existentes. E dá-lhe construir embarcações menores para alc nçar o interior do País. O mais extenso rio do mundo é o Amazonas, que começa no Peru, passa por um pedaço da Colômbia e corta o Brasil até desaguar no oceano Atlântico. Outro muito importante é o São Francisco. Suas águas cortam quatro estados nordestinos, mas sua nascente é no Sudeste, como ensina Caetano Veloso na música Ciúme: Velho Chico vem de Minas / De onde o oculto do mistério se escondeu... E há tantos outros importantíssimos em todas as regiões: rios Paraná, Tocantins, Tietê, Iguaçu, Araguaia, Negro, e por aí vai. Mas, apesar de tantos rios, o Brasil vem perdendo sua vocação para navegar pelas águas. Pode perceber: se você pretende ir para qualquer lugar mais distante, pensa imediatamente em carro, ônibus ou avião. Está na hora de retomarmos nossa vocação fluvial. Afinal, rio é o que não falta.
Negro e Solimões se encontram Já Pensou Nisso? mas não se misturam
Você imagina pegar uma onda no rio Amazonas e só saltar da prancha no litoral africano? É o que aconteceria se as ondas do rio não parassem mais. Ondas no Amazonas? Graças a um fenômeno chamado pororoca, em algumas épocas do ano são formadas ondas perto da foz do Amazonas que não deixam nada a dever às do Havaí. O fenômeno atrai muitos surfistas, que pegam ondas que chegam a 50 quilômetros por hora. Se a onda mantivesse a velocidade e atravessasse o oceano, esse surfista chegaria na Monróvia, capital da Libéria, em três dias e meio. Será que há uma barraquinha de açaí no meio do oceano para nosso aventureiro fazer uma boquinha?
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Quanto mais seca
Paraná não é Panará; Paranoá não é Panarã.
mais molhada fica? SoluçÃO na p. 26
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Os manauaras são vizinhos de um dos maiores espetáculos naturais do Brasil: o encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Quando eles emparelham em Manaus, suas águas caminham lado a lado, sem se misturar, por mais de seis quilômetros. Um lado fica mais escuro (o Negro) e o outro mais barrento (o Solimões). O fenômeno acontece pela diferença de temperatura, pela densidade das águas e pela velocidade das correntezas. Para os índios, no entanto, a explicação é outra: os dois rios não se misturam por serem orgulhosos demais.
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Sabia que o Rio de Janeiro ganhou esse nome por um equívoco? O chefe da expedição responsável pela descoberta, em 1502, achou que a Baía da Guanabara era a foz de um rio. E era mês de janeiro. Se tivesse acertado, hoje a cidade poderia se chamar Baía de Janeiro. Descubra o nome do português responsável pela descoberta da Cidade Maravilhosa. Para descobrir o nome do homenageado do mês, basta preencher o diagrama abaixo. O número de cada quadrinho indica uma letra escondida na linha correspondente do texto lá de cima. Conte as linhas, encontre as letrinhas e preencha os quadrinhos.
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LIBERDADE
Youkoso! O Japão, quem diria, cabe em um bairro de São Paulo. Mas a sua rica cultura se estende para outros pontos da cidade, oferecendo ao visitante uma imersão no universo oriental que vai muito além do visível. Liberdade ni Youkoso (benvindo à Liberdade)!
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japonês que deixar sua ilha natal e desembarcar no bairro da Liberdade, em São Paulo, pensará atônito que voltou para casa. Encontrará nos mercadinhos que pontilham pelas ruas dali sua marca de arroz predileta; uma pasta à base de ameixa de gosto salgado e azedo, a neri ume; uma alga escura, a mozuku; e a fruta pitaia. Caminhando pelo bairro identificado com portais vermelhos – torii –, poderá dar uma chegadinha ao barbeiro, especialista em aplacar a rebeldia daquele forte tipo de cabelo asiático. Talvez queira comprar um quimono, sandálias zoori ou uma cortina feita em origami com pequenos cisnes – tsurus – que, segundo a lenda, realizam qualquer desejo. Jornais e revistas japonesas pipocam nas bancas, mantendo sempre bem informados os issei, imigrantes japoneses, assim como os nissei, sansei e yonsei, respectiva-
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mente seus filhos, netos e bisnetos. Nosso amigo talvez queira meditar em silêncio. No templo Busshinji, da comunidade budista Soto Zenshu, será confortado pela presença das imagens de sua devoção. Até mesmo os móveis, os objetos e o perfume dos incensos lhe serão familiares. Bateu no nosso visitante uma inesperada fome? Em qualquer um dos vários restaurantes dali irá saborear seu lamen preferido, um sashimi de atum, um crocante yakisoba ou o achi ti biti, joelho de porco com cogumelos e gengibre. Se o nosso japonês gostar de consultar oráculos, encontrará especialistas em numerologia e leitura de mãos que ficam instalados em simples banquinhas na rua. No fim da tarde, ainda terá tempo de participar de uma cerimônia do chá, o ritual Chanoyu, em ambiente claro e tranquilo, decorado apenas com arranjo floral e
forrado de tatames revestidos com esteira de junco. O mais curioso é que se o nosso visitante não falar uma palavrinha sequer de português, talvez nem precise aprender. Poderá viver ali tranquilo, durante anos, sem que precise falar outro idioma que não seja o seu. Sentiria-se em casa nesse surpreendente Burajiru, como eles denominam nosso país. O leitor acha que exageramos? Qual o que: nem mencionamos o médico, o acupunturista, os esportes tradicionais, as seções de filmes japoneses, a prática de música folclórica shakuhachi e até mesmo passeios nos arredores de São Paulo que fazem eco a essa vibrante cultura.
O belo traz paz interior Fique certo: o Japão é aqui. Longe de casa, mas perto do coração. Vale conferir e conhecer um pouco mais sobre esse povo, um dos mais resilientes do planeta, capaz de superar as mais sérias dificuldades. Mas, acima de tudo, quem mergulhar na cultura japonesa poderá refletir sobre uma filosofia e sabedoria únicas, baseadas nos ensinamentos de Buda. Durante 80 anos ele pregou a igualdade entre os seres, afirmando que cada pessoa traz consigo uma importância preciosa e insubstituível. Um pouquinho mais distante do bairro da Liberdade, no parque Ibirapuera, fica o Pavilhão Japonês. Projetado pelo arquiteto Sutemi Horiguchi, foi construído no estilo tradicional, com materiais vindos do Japão. No Instituto Florestal, sob as sakura, cerejeiras floridas que vieram do Himalaia, comemora-se o ritual Hanami. Disposto a ir mais longe? Em Itapecerica da Serra, cidade da Grande São Paulo, fica o templo Kinkaku-Ji, que se reflete em um lago e tem camélias nipônicas. Observar o belo, particularmente uma flor, induz ao bem interior, de acordo com Mokiti Okada. Se forem milhares de flores, teremos um mundo mais feliz. Para vivenciar tal conceito, às margens da represa de Guarapiranga foi criado o Solo Sagrado, verdadeiro porto de paz que ajuda os visitantes a reencontrar o equilíbrio interior. Que tal agora, atiçado por tanta beleza, aprender o idioma japonês? Se é fácil, não sabemos. Mas logo ali, em Suzano, fica a Escola Kongoji Gakuen. Então, Youkoso! Benvindo a essa cultura milenar.
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Não deixe de conhecer essa bela história
Quando, em 1908, o navio Kasato Maru se aproximava do porto de Santos, uma cintilante onda verde esmeralda se agitava acima das cabeças dos imigrantes. Eram milhares de bandeirinhas do Brasil, presas a pequenas hastes de bambu e confeccionadas ainda no Japão, em delicada seda, para amavelmente saudar os brasileiros quando os imigrantes avistassem a nova pátria.
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A Liberdade tem mais
Doces Kanazawa
Entre as lojas da rua Galvão Bueno, essa se destaca por seus coloridos doces. Contam os risonhos doceiros que, quando o Imperador Akihito foi presenteado com uma bandejinha deles, pediu bis. Uma vez lá, prove o manju ou os tradicionais doces de arroz e de feijão.
Arte Brasil-Japão
O acervo da Pinacoteca de São Paulo, na praça da Luz, possui mais de 70 obras em diferentes estilos e técnicas de pintores e escultores japoneses ou nipo-brasileiros, como Takashi Fukushima, Manabu Mabe e Hisao Ohara.
Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil
Inaugurado em 1978, o espaço conta a história dos imigrantes por meio de 28 mil documentos, cinco mil objetos, 10 mil fotos e até maquete do pioneiro navio Kasato Maru, além de uma típica casa de colono nas fazendas cafeeiras. 30
Preste atenção Na profusão dos multicoloridos produtos japoneses que forram as prateleiras das lojas e arrebatam os visitantes, estão os Maneki-Nekô. Conta antiga lenda que uma estalagem recebia poucos hóspedes, até o gato Maneki sentar-se na soleira da porta e ficar acenando para as pessoas. O hotel passou a ficar sempre lotado e o gato tornou-se símbolo de fartura. Se balançar a pata esquerda, Maneki chamará fortuna. Se mover a direita, atrairá saúde e felicidade.
s e rviç o
Como chegar A TAM oferece voos diários para São Paulo, partindo das principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br. Onde ficar Quality Jardins • A localização é privilegiada, ao lado do Masp, de cinemas, teatros, shoppings e da estação de metrô Trianon-Masp. Fone: (11) 2182-0400. www.atlanticahotels.com.br. Golden Tulip Paulista Plaza • Além de seu tradicional bom serviço e hospitalidade, possui restaurante especializado em gastronomia japonesa. Fone: (11) 2627-1000. www.goldentulippaulistaplaza.com. www.almanaquebrasil.com.br
Onde comer Gombe • Tradicional gastronomia japonesa, com destaque para os saborosos e variados espetinhos de peixe ou carne. Rua Tomas Gonzaga, 22. Fone: (11) 3209-8499. Lamen Kazu • Além do sabor, impressiona na casa a variedade de composições com os lamens, como o Shoyu Tyashu, o Misso Lamen e o Shoyu Lamen. Rua Tomaz Gonzaga, 51. Fone: (11) 3277-4286.
quias o es do conforto d o Almanaque ada no finzinho de julho,
Tiramos o Almanatúdio
eia da nova tempor ção Após o programa de estr que marcarão a sua atra com todas as quentinhas sto erável ago ond imp o que é Brasil chega em des ida frente. Uma das nov nes, deixou de lado o preferida daqui para do pelo ator Robson Nu vivi m age son per as, rofone, carisma e conAlmanaqui mic seu com s do Brasil, armado povo é o que não vai o estúdio para sair às rua brasileiras. Interação com sas coi as sa Lucire sob nto hecime comandado pela talento pe: o estúdio continua e encantos tos can os os faltar. Mas não se preocu tod de s os quadros e atraçõe des ana Mello, que apresenta ê pode conferir as novida grama não começa, voc pro o to uan uebrasil. Conenq naq lma do País. E @a tter Twi o uebrasil.com.br e pel pelo site www.almanaq Almanaque Brasil. de exibição e se ligue no s ário hor e as dat fira as
Forrobodó no Almanaque programa 4
Somos os maiorais programa 2
• Do maior sanduíche à maior avenida, trazemos dados insólitos que colocam o Brasil no topo do mundo. • Todo o funk, groove e samba-rock do Trio Mocotó marcam presença no Cantos do Brasil. • Você imagina como pode ser difícil afinar um piano? Pois nós revelamos Como É que se Faz.
• Toca o fole, sanfoneiro, não deixe o salão esfriar: o forró marca presença no Coisas Nossas. • No Papo-Cabeça, o maestro Julio Medaglia conta histórias e desmistifica a música erudita. • Chá pra quê? O Ciência Doméstica investiga o poder das ervas em infusão. • E no Ilustres Brasileiros, Barão do Rio Branco, o homem que expandiu nossas fronteiras sem dar um só tiro. TV Brasil: 19/8, 20h
• O quadro É do Baú revira as lembranças dos telespectadores com as bonequinhas Fofoletes. TV Brasil: 5/8, 20h
Biblioteca mais que Nacional programa 5
Nós e as novelas programa 3
• Do rádio à tevê, um passeio pelas mais inesquecíveis novelas brasileiras. • No Cantos do Brasil, a Osesp mostra por que é a maior orquestra da América Latina. • Índio além do cocar: um Papo-Cabeça com o escritor Daniel Munduruku. • E este Almanaque Brasil que você tem em mãos, Como É que se Faz?
• Os tesouros da Biblioteca Nacional, uma das mais importantes bibliotecas do mundo.
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• No Papo-Cabeça, um olhar sobre o Brasil e os brasileiros pelas lentes de Araquém Alcântara. • Você Sabia? Pesca de lagostas quase causou guerra entre Brasil e França! • E no Ilustres Brasileiros, Zilda Arns, uma vida dedicada a um mundo melhor. TV Brasil: 26/8, 20h
TV Brasil: 12/8, 20h
Swami Jr. - Mundos e Fundos (Borandá). Depois de uma inspiradora turnê mundial com a cantora cubana Omara Portuondo, o violonista Swami Jr. compôs parte das músicas deste seu segundo disco solo. De seu violão, saem composições pulsantes e envolventes, deixando espaço também para músicas de nomes consagrados.
Literatura, Pão e Poesia, de Sérgio Vaz (Global). Em seu segundo livro, o poeta e agitador cultural da periferia paulistana apresenta poesias e crônicas não menos afiadas. Autodenominado “vira-lata da literatura”, o autor avisa, com talento: “O poema, que desfilava pela academia, de terno e gravata, proferindo palavras de alto calão para plateias desanimadas, hoje anda sem camisa, feito moleque pelos terreiros, comendo miudinho na mão da mulherada”.
Nosly - Parador (independente). O maranhense chega ao terceiro disco reforçando seu talento em misturar ritmos distintos. Com produção de Zeca Baleiro, Parador traz participações especiais de Chico César, Olga Savary, Fernanda Abreu e do próprio Zeca Baleiro, que divide os vocais na bela e divertida Oh Baby Perdoa.
Luiz Gama: O advogado dos escravos, de Nelson Câmara (Selo Negro). Luiz Gama era filho de escrava liberta, mas o pai, um fidalgo português, o vendeu aos 10 anos para pagar uma dívida de jogo. O livro narra a história do rapaz que no século 19 se alfabetizou mesmo cativo, conquistou a liberdade e, apesar de proibido de frequentar a faculdade de Direito, defendeu e libertou na Justiça mais de 500 escravos. Agosto 2011 Setembro 2010
COGUMELO - PARTE 3 Fungi
Símbolo do eterno renascer A humanidade o conhece como alimento desde épocas remotas, mas muitas outras aplicações vêm sendo descobertas. Conheça o casal que montou loja há um ano e já teme não dar conta da crescente procura. E aprenda a fazer uma delícia italiana: funghi trifolati.
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as lojas mais finas dedicadas a apetrechos de cozinha, do mais fino centro de compras paulistano, do finíssimo bairro Higienópolis, pedimos escova para limpar cogumelo fresco. Nunca ouviram falar, tampouco gente do ramo em Porto Alegre e Florianópolis, a denotar nossa pouca intimidade com cogumelos. Também não ouvíramos falar até visitar a FineFood (“comida fina” em inglês), na Lagoa, bairro florianopolitano. A empresa que o alemão Gerhard Dannapel toca há um ano com sua parceira, a paulista Angélica Correia, é uma distribuidora de cogumelos e produtos afins, como cosméticos. Trazem de Curitiba, São Paulo e até da China para atender lojas, restaurantes e, cada vez mais, particulares. A preocupação, dizem, é não dar conta da procura. Ligamos sábado à noite e os dois trabalhavam. O que mais sai é shiitake, champignon e shimeji. Dois assíduos “clientes” são eles mesmos: comem quase todo dia. Ainda assim, menos que chineses e japoneses, cujo consumo anual per capita é 12 quilos – no Brasil, recordemos, apenas 40 gramas. “Lá, a dona de casa usa todo dia: fresco, desidratado, na sopa, em pó no arremate de pratos”, diz Gerhard.
Na FineFood, aprendemos mais sobre o reino dos fungos: “No Oregon, tem um micélio (“raiz” do fungo) que é o ser mais velho que existe. O mínimo que falam é 2.400 anos de idade”. Outro fato surpreendente: um cogumelo servia como primitivo isqueiro. Gerhard diz que encontraram nos Alpes austríacos um homem congelado há 4.500 anos. Trazia consigo um Furnus fomentarius, cujo píleo (chapéu) é incandescente. Dirigindo para o píleo faíscas de duas pedras atritadas, o homem, com ajuda de palha seca, obtinha fogo. Uma cliente, conta Angélica, viu champignon in natura, espantou-se: “Mas pode comer fresco?”. Poucos sabem que o envidrado contém metabissulfato – conservante e branqueador que “lixa” as pintinhas do Agaricus bisporus, daí o aspecto liso e brilhante. O fresco pode não ser mais bonito, mas é mais saudável e nutritivo. E não se deve lavar, pois absorve muita água. Daí a tal escovinha, que Gerhard trouxe da Alemanha. Limpa os “fungos do fungo”, sem encharcá-lo, o que deixaria a comida aguada. Já que é difícil achar por aqui, perguntamos que tal uma escova de dentes macia. “Pode ser”, disseram. Então é frigir, assar, refogar...
Isqueiro primitivo “tem um passado e muito futuro” G
FUNGHI TRIFOLATI
Receita que o alemão trouxe da Itália
O maior e mais velho ser vivo da Terra
Iolanda Huzak
erhard fala do Furnus fomentarius: “Ele tem propriedades descontaminantes, já com uso industrial na Alemanha”. Vem trocando informações com um especialista de lá. O fomentarius promete muitas aplicações, inclusive veterinárias, e Gerhard planeja abrir novo nicho no mercado. Sobre a história de termos de produzir nos próximos 50 anos o que produzimos de alimentos nos últimos 12 mil anos, ele sorri: “Então vamos ter muito trabalho, mas nós gostamos, porque estamos fazendo uma coisa boa para a humanidade”.
Iolanda Huzak
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m 2000, pesquisadores encontraram numa floresta do Oregon, nos Estados Unidos, um Armillaria ostoyae, cogumelo-do-mel, cujo micélio já se espalha por nove quilômetros quadrados: é o maior ser vivo, com 605 toneladas, além de mais velho. Estudos mais acurados indicam que pode ter oito mil anos. Fungos, sob ameaça, lançam fruto (o cogumelo) para preservar a espécie. Este Armillaria, cheio de cogumelos, sob o solo rouba nutrientes das árvores, matando muitas delas. Novas espécies virão. E a mata do Oregon mudará de fisionomia.
lém de delicioso nas mais variadas receitas (já veremos uma), o champignon-de-paris é rico em: proteína, essencial para a formação dos tecidos; ácido fólico, que forma os glóbulos vermelhos e previne câncer; potássio, bom para músculos, rins, pressão; cobre, para ossos, tendões, previne anemia, alivia artrite; e selênio, poderoso antioxidante, portanto protege contra doenças degenerativas e combate o envelhecimento precoce. Gerhard morou na Itália e de lá nos trouxe de presente esta receita de funghi trifolati (cogumelos trufados). Pegue uma bandeja de champignons frescos, limpe e pique bem picado (há quem passe no moedor). Pique cebola ou alho. Ponha uma colher de manteiga na frigideira e vá refogando os ingredientes por uns quatro a cinco minutos, acrescentando sal, pimenta do reino, vinho branco, molho de soja, gengibre – se preferir, tomilho, páprica. Coma com arroz, massas; recheie empanada, pastel; sirva sobre torradas; ou à italiana: sobre brusquetas (fatias de pão grelhadas). É excelente.
SAIBA MAIS Ervas, Temperos e Condimentos de A a Z, de Tom Stobart (Zahar, 2010). Dieta Mediterrânea com Sabor Brasileiro, de Fernando Lucchese (L&PM, 2005).
Consultoria: nutricionista Aishá Zanella (aishazanella@hotmail.com)
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Mulher traída
Duas amigas se encontram no céu: – Ai, amiga, que coincidência! Como você morreu? – Morri congelada, foi um horror. E você? – Tive um enfarto. Eu estava desconfiada de que meu marido me traía. Aí um dia cheguei mais cedo em casa e ele estava sozinho. Procurei em tudo que é canto: nos quartos, na cozinha, no porão. Estava tão nervosa que me deu um piripaque. – Ai, colega, se você tivesse procurado no freezer nós duas estaríamos vivas!
Bêbado folgado 34
Um bêbado pra lá de Bagdá entra no ônibus e exclama, desafiante: – Desse banco pra frente todo mundo é tonto! E daqui pra trás todo mundo é vagabundo! Ao ouvir o desaforo, alguns passageiros se levantam e ameaçam agredir o sujeito. Para evitar confusão, o motorista freia bruscamente e quase todos caem. Um deles se levanta, pega o bêbado pelo colarinho e pergunta: – E aí? Diz agora: quem é vagabundo aqui? – Sei lá! Agora misturou tudo!
Causos de
Rolando Boldrin
O menino e a pesca Antes que eu tivesse programa, escrevesse livro e tudo mais, meu pai já sabia que eu gostava muito de causo. Então às vezes ele vinha me contar umas coisas que era pra depois eu contar para outras pessoas. Mesmo já velhinho, ele gostava muito de pescar. Todo dia saía com duas ou três varinhas pra beira do rio Sapucaí. Um dia que ele estava lá, pegando uns lambarizinhos para levar pra casa, encostou um menino ao lado dele. Era um molequinho espoleta, de uns sete ou oito anos, filho desses barranqueiros que moram na beira do rio. Só que o garoto chegou lá, sentou num canto e não saiu mais. Meu pai puxou a vara, pegou um lambari, colocou outra minhoca na vara. E de novo. E mais uma vez. Toda hora que ele olhava para trás, o menino continuava lá, acocoradinho, só olhando. Não abriu a boca pra falar nenhuma palavra, e também mal se mexeu. Meu pai continuou a pescaria. Só que ele contou no relógio três horas e o menino lá, do mesmo jeito. Aí se zangou e resolveu falar com ele: – Ô, menino, pega aqui uma varinha e venha pescar comigo, ara! E o menino: – Vou nada. Tenho paciência não, moço..
Uma de sogra
O sujeito acaba de voltar do enterro da sogra que ele odiava. Resolve parar num bar e tomar um porre daqueles para comemorar. Na volta para casa, passa perto de um edifício em construção, quando é surpreendido por um tijolo que cai a poucos centímetros de seu pé. – Não acredito! Aquela desgraçada já chegou no céu!
Dúvida pertinente
Joãozinho pergunta para a mãe: – No Natal quem traz os presentes é o Papai Noel, certo? – É sim, meu filho. – Na Páscoa, quem traz os ovos é o coelhinho, não é? – É sim, filhinho. – Quem traz as crianças é a cegonha, certo, mamãe? – Certísssimo! – E quem me busca na escola é você, né? – Isso mesmo. – Então pra que diabos serve o papai?