N
a minha juventude, 1º de maio era o dia do Torneio Início, um campeonato de futebol com times de várzea que ocorria no estádio do Nacional, na Água Branca, zona oeste de São Paulo. As equipes eram divididas em grupos de quatro. Quem perdesse era eliminado da competição. Os vencedores de cada grupo jogavam contra os vencedores do grupo seguinte. E assim a bola rolava sucessivamente até o fim do dia, quando os dois melhores disputavam a grande final. Com direito a taça, churrasco e muita cerveja. A torcida – formada por familiares dos jogadores, todos operários – fazia daquele dia uma festa. As mesas eram postas com fartura, e as crianças brincavam no generoso e arborizado espaço do clube. Era um dia especial. Eu era um dos atacantes reservas do SERVA, cuja sigla significa Sociedade Esportiva e Recreativa da Vila Anastácio, bairro em que eu morava. Tratava-se de uma boa equipe. Alguns jogadores tornaram-se profissionais em times paulistas. Ou seguiram carreira em outros estados – caso do meu irmão Eurípedes, o Nenê, que durante alguns anos brilhou no Dom Bosco, de Cuiabá. Eu era reserva, e poucos reservas entravam em campo nos minutos finais se a equipe estivesse em vantagem. O que eu mais queria, nas poucas oportunidades que tive, era marcar um gol naquele campo oficial, com gramado, torcida e redes no gol – coisa rara nos campos de várzea. Tentei algumas vezes, mas o tal gol era sempre adiado para o próximo ano. No último torneio que participei, entrei na metade do segundo tempo, quando o time já ganhava com folga e estava com a vaga garantida na final. Num lance bonito, recebi a bola na ponta esquerda, dei um corte no zagueiro com a canhota (que nunca prestou para muita coisa) e, já dentro da área, meti a bola no ângulo oposto. Foi lindo ver o goleiro batido, a rede balançando, o time todo de braços abertos para o abraço. E os gritos e aplausos da minha pequena torcida de operários. Passados tantos anos, ainda trago na lembrança este momento singelo, quando um aprendiz de operário sem nenhuma aptidão para o futebol pôde desfrutar de seu dia de glória. Elifas Andreato
O presente vemos apenas de perfil. É o passado que temos diante de nós.
ARMAZÉM DA M E MÓRIA NAC IONAL Elifas Andreato Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann e Natália Pesciotta Revisor Lucas Puntel Carrasco Assistentes de arte Guilherme Resende e Paula Chiuratto Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Gráfica Oceano Diretor editorial
Diretor executivo
Cmte. David Barioni Neto Manoela Amaro Mugnaini Diretor de Assuntos Corporativos Marcelo Xavier de Mendonça Presidente
Diretora de Marketing
O ALMANAQUE é uma publicação da Andreato Comunicação & Cultura, distribuída nos voos da TAM e por assinatura.
Correspondências
Rua Dr. Franco da Rocha, 137 - 11º andar Perdizes. São Paulo-SP CEP 05015-040 Fone: (11) 3873-9115 redacao@almanaquebrasil.com.br www.almanaquebrasil.com.br
O ALMANAQUE está sob licença Creative Commons. A cópia e a reprodução de seu conteúdo são autorizadas para uso não-comercial, desde que dado o devido crédito à publicação e aos autores. Não estão incluídas nessa licença obras de terceiros. Para reprodução com fins comerciais, entre em contato com a Andreato Comunicação & Cultura. Leia a íntegra da licença no site do ALMANAQUE.
Henry James (1843-1916), escritor britânico.
nossa capa
Aumente seu nível de brasilidade E ainda ganhe pontos para viajar
Ronaldo Fraga
BRUNO MAGALHÃES/DIVULGAÇÃO
4
Um dia de glória
Humor, ousadia e brasilidade são alguns dos elementos que permeiam a obra do estilista mineiro Ronaldo Fraga. Dentro das comemorações dos 10 anos do ALMANAQUE, ele criou uma capa exclusiva para a edição de maio da revista. Formado em estilismo pela UFMG, Ronaldo é pós-graduado na Parson’s School of Design, de Nova Iorque, e na Saint Martins School, de Londres. Entre as coleções que desfilou na São Paulo Fashion Week, destacam-se as inspiradas na vida e obra de ilustres brasileiros como Drummond, Guimarães Rosa, Nara Leão e Bispo do Rosário. Para além das passarelas, Ronaldo desenvolve uma série de projetos de geração de trabalho e renda em comunidades ligadas à indústria da confecção, utilizando elementos e saberes da cultura local. Em 2007, recebeu a Comenda da Ordem Cultural, concedida pelo governo brasileiro a personalidades que se destacam em ações pela cultura do País. Saiba mais sobre o capista de maio em: www.ronaldofraga.com.br
www.almanaquebrasil.com.br
Quem assina o Almanaque acumula pontos no Programa TAM Fidelidade Pagamento por cartão de crédito ou boleto bancário.
Central de atendimento ao assinante:
3512-9481 (51) 4063-6058 (11)
4063-4320 (61) 4063-8823
(21)
Ou pela internet: www.almanaquebrasil.com.br
ILUSTRAÇÕES PAULA CHIURATTO
SOLUÇÃO NA P. 24
le nasceu na cidade de Caetité, no sertão da Bahia, em 13 de maio de 1933. De família pobre, teve de trabalhar na juventude como lavrador, peão e garimpeiro. No fim dos anos 1950, embarcou para São Paulo para tentar a carreira como cantor e compositor. O sucesso não veio de imediato, e teve de se virar como engraxate. Logo, porém, viria a primeira gravação: Quem És Tu?. A canção, romanticamente amargurada, chamou a atenção do público. Ele também se destacava pelo visual inusitado: chapéu, óculos escuros e preto do pescoço aos pés, inspirado nos filmes de faroeste que assistia na infância. Durante décadas o repertório dor-de-cotovelo embalou os corações machucados de todo o Brasil, principalmente do Nordeste, onde tinha seu maior público cativo. Em uma das músicas, supli-
ca: Por favor leve essa carta / E entregue àquela ingrata / E diga como eu estou / Com os olhos rasos d’água. Os críticos musicais torciam o nariz. O público, entretanto, lotava as apresentações. Para os que o chamavam de brega, respondia: “Eles não sabem do que estão falando. Minha música é romântica. Fala dos sofrimentos do amor de uma maneira bonita”. E emendava: “Enquanto houver corno, mulher sofrida e bêbado no Brasil, eu vou ser sucesso”. Em 1972, viria a canção mais conhecida da carreira. Nela, afirma à amada não se tratar do melhor amigo do homem. Sucesso nacional. Ganhou até uma bem-humorada versão em inglês. Em 2005, a atriz e fã Patricia Pillar rodou um documentário sobre uma série de shows em São Paulo, Ceará e Caetité. O cantor morreu em 2008, com um legado de 500 canções gravadas. (BH)
5
31 de março de 1964. Em visita ao Rio de Janeiro, como se vê na foto ao lado, o presidente João Goulart é reverenciado por subtenentes e sargentos da Aeronáutica. A situação, no entanto, não passava nem perto de representar os ânimos dos militares brasileiros. Poucas horas depois, em Juiz de Fora, um gruBranco iniciava uma marcha que exigia a deposição do presidente, contando com o apoio de parte da população. A ditadura militar que nos assombrou de 1964 a 1985 começaria no dia seguinte.
REPRODUÇÃO/AB
po de militares da Escola Superior de Guerra comandado pelo general Castelo
Maio 2009
VOCĂŠ SABIA?
18/5/1850
INAUGURADO O TEATRO SANTA ISABEL, EM RECIFE. EM PLENA ESCRAVIDĂƒO, O PROJETO NEOCLĂ SSICO FOI ERGUIDO POR TRABALHADORES LIVRES.
M
A
I
O
Para intendente, lugar de pobre era na cama
enigma figurado
Vadico era o grande parceiro. Aracy de Almeida e MarĂlia
REPRODUĂ‡ĂƒO/AB
Baptista, as principais intÊrpretes. Quando morreu de tuberculose, aos 26 anos, em 4 de maio de 1937, jå tinha imortalizado suas crônicas, ironias e provocaçþes musicais. Branco e de classe mÊdia, provou que sabia fazer samba tambÊm. Parece inofensivo na foto ao lado, mas o bairro carioca de Vila Isabel nunca mais foi o mesmo depois de seu maior poeta.
R.:
E
calçaram chuteiras para salvar a escola
ra dĂŠcada de 1950. Dona Isolina, diretora de uma escola municipal em Araguari, no Triângulo Mineiro, amargava as contas no vermelho. Para saldar as dĂvidas, pensou em organizar um jogo com renda revertida para a escola. O diretor de futebol Ney Montes sugeriu uma partida diferente, de vanguarda. Mulheres em campo certamente chamariam mais atenção. A diretora reuniu 40 voluntĂĄrias para salvar o caixa escolar. No dia marcado, estĂĄdio lotado para ver a mulherada. Sucesso tamanho que a cidade vizinha, Uberlândia, quis repetir a partida. Foi preciso chamar a cavalaria para conter a torcida curiosa. Futebol de mulheres nunca tinha sido visto. A notĂcia do interior foi parar nas pĂĄginas da revista O Cruzeiro. Era sĂł o que faltava para as meninas de Araguari virarem atração nacional. Excursionaram pelo Brasil, desfilaram em carro de bombeiros em Salvador, Belo Horizonte. Foram convidadas atĂŠ para jogar no MĂŠxico. PorĂŠm, por força da lei, a sensação durou
O time de futebol feminino de Araguari, em foto de 1958.
pouco. Um decreto proibia mulheres de praticar esportes coletivos por serem “violentos e perigosos para a anatomia femininaâ€?. Os sonhos das pioneiras jogadoras foram por ĂĄgua abaixo. Elas pediram para praticar na escola, sĂł por diversĂŁo. Mas os pais proibiram. Hoje, as senhoras jogadoras de Araguari se lembram com saudade da ĂŠpoca em que eram craques em fazer histĂłria. E, certamente orgulhosas, veem o Brasil ser festejado por ter a melhor jogadora de futebol do mundo: Marta. (LaĂs Duarte)
Leia matĂŠria sobre os primĂłrdios do futebol feminino no Brasil no site do A LMANAQUE . www.almanaquebrasil.com.br
REPRODUĂ‡ĂƒO/AB
?D< ?< QDOoMD<
Mocinhas de Araguari
Decreto de 1808: toque de recolher Ă s 10 da noite.
7
ACERVO TERESA CRISTINA DE PAIVA MONTES
6
13/5/1982
INAUGURADO O CENTRO CULTURAL SĂ&#x192;O PAULO. ERGUIDO DURANTE A DITADURA MILITAR, PRETENDIA UMA OCUPAĂ&#x2021;Ă&#x192;O DEMOCRĂ TICA DO ESPAĂ&#x2021;O.
de maio de 1808. A IntendĂŞncia da PolĂcia da Corte proĂbe que vendas, casas de jogos e botequins fiquem abertos depois das 10 da noite em todo o Brasil. Assim explicava o motivo de mandar pra cama mais cedo o pĂşblico desses lugares: evitar â&#x20AC;&#x153;ajuntamento de ociososâ&#x20AC;?, incluindo escravos que â&#x20AC;&#x153;faltam ao serviço e se corrompemâ&#x20AC;? ou, ainda, â&#x20AC;&#x153;dĂŁo ocasiĂŁo a delitosâ&#x20AC;?. A IntendĂŞncia havia sido criada pouco depois da chegada da corte portuguesa ao Brasil. Sua função era botar ordem na casa e, de quebra, evitar que os ideais da Revolução Francesa se espalhassem por aqui. O intendente nĂŁo queria saber de burburinho e decretou vĂĄrias providĂŞncias que disciplinavam o tempo livre dos trabalhadores e escravos. No caso do â&#x20AC;&#x153;toque de recolherâ&#x20AC;?, cada pessoa que fosse pega em local proibido depois do horĂĄrio permitido levava multa de 1.200 rĂŠis. Metade para a intendĂŞncia, metade para o oficial de justiça. (NP) SAIBA MAIS PolĂcia no Rio de Janeiro â&#x20AC;&#x201C; RepressĂŁo e resistĂŞncia numa cidade do sĂŠculo 19, de Thomas Holloway (FGV, 1997)
o baĂş do BarĂŁo
PALMA, MARACANĂ&#x192;, PIRAPIRĂ&#x160;...
?D< ?< >JHPID?<?@
AlĂŠm do real, o Brasil tem muitas outras moedas
â&#x20AC;&#x153;O mar ĂŠ quando hĂĄ uma margem. O rio ĂŠ quando hĂĄ duas.â&#x20AC;?
Q
Nossa homenagem a AparĂcio Torelly, o BarĂŁo de ItararĂŠ.
ANOS DOURADOS
â&#x20AC;&#x153;Ă&#x2030; com os pĂŠs, ĂŠ com as mĂŁos, o Brasil ACERVO CONF. BRASILEIRA DE BASQUETE
ĂŠ bicampeĂŁoâ&#x20AC;?
REDE DE BANCOS COMUNITĂ RIOS/DIVULGAĂ&#x2021;Ă&#x192;O
uem pensa que o real ĂŠ a Ăşnica moeda que circula no Brasil estĂĄ redondamente enganado. Se estiver na cearense MaracanaĂş, por exemplo, o sujeito pode entrar num mercado e pagar as compras com 10 maracanĂŁs. Em Dourados, no Mato Grosso do Sul, pode sacar do bolso 5 pirapirĂŞs. Ou 2 girassĂłis, se estiver em Cariacica, no EspĂrito Santo. Calcula-se que o equivalente a 80 mil reais esteja impresso em cĂŠdulas com nomes alternativos pelo Brasil. Todo esse dinheiro vem dos bancos comunitĂĄrios, entidades que cedem emprĂŠstimos sem a burocracia e os juros dos bancos comuns. SĂł que esta ação nĂŁo parecia suficiente para desenvolver as regiĂľes onde eles atuam. O comum ĂŠ que o morador com crĂŠdito vĂĄ consumir nas lojas dos grandes centros. Criar um dinheiro aceito apenas pelo varejo local acaba sendo mais eficaz para girar a economia da comunidade. â&#x20AC;&#x153;A gente reproduzia o sistema colonial: a periferia mandava para o centro as riquezas em troca de alimentos e produtos nĂŁo durĂĄveisâ&#x20AC;?, explica Joaquim de Melo Neto. HĂĄ nove anos ele fundou o banco Palmas, que faz circular as notas de palmas no Conjunto Palmeiras, favela de Fortaleza. Desde entĂŁo, 25% dos moradores dizem ter aumentado a renda e 20% afirmam que conseguiram trabalho. AtĂŠ o ministro de
Os campeĂľes mundiais de basquete, apĂłs a partida final.
Economia Solidåria da Venezuela veio conhecer a instituição, em 2006. Hå quem alerte para o perigo de falsificaçþes e inflação. Mas a Secretaria Nacional de Economia Solidåria aposta no lado positivo do projeto. Jå ajudou mais de 30 bancos de moeda própria e pretende criar mais 150 atÊ 2010. (NP)
Conheça mais moedas alternativas brasileiras no site do ALMANAQUE.
de quem sĂŁo estes olhos?
Ao pular muros, o dono destes olhos assistia a competiçþes ao vivo. Paulistano, era vizinho do palco do esporte em que se consagrou. Foi para a Europa pela primeira vez aos 17 anos, usando um documento do pai. Sorte: nasceu em 23 de maio de 1972, mesmo dia do aniversårio do progenitor, e os nomes são iguais. Muitas vezes injustiçado, Ê o esportista com maior número de participaçþes em sua categoria. Confira a resposta na pågina 24.
A
seleção brasileira de basquete havia sido campeĂŁ mundial no Chile em 1959. A conquista, porĂŠm, foi manchada pela punição Ă UniĂŁo SoviĂŠtica, que perdeu os pontos por se recusar a enfrentar Formosa. No Mundial de 1963, no Brasil, era o momento de provar quem era o melhor. Comandada pelo tĂŠcnico Kanela, a seleção foi derrubando adversĂĄrio por adversĂĄrio. AtĂŠ que chegou o momento de enfrentar os invictos soviĂŠticos. O jogo foi disputado, mas terminou com o folgado placar de 90 a 79. A Ăşltima partida foi contra os Estados Unidos, em 25 de maio de 1963. Mais de 20 mil pessoas se acotovelavam no MaracanĂŁzinho. Jogo tenso, decidido apenas nos Ăşltimos segundos: 85 a 81 para os brasileiros. Enquanto o capitĂŁo Wlamir levantava a taça, a torcida cantava, lembrando-se do mundial de futebol conquistado um ano antes: â&#x20AC;&#x153;Ă&#x2030; com os pĂŠs, ĂŠ com as mĂŁos, o Brasil ĂŠ bicampeĂŁo.â&#x20AC;? (BH) SAIBA MAIS Site da Confederação Brasileira de Basquete: www.cbb.com.br Maio 2009
7
ISABEL OU POLIANA?
E 8
ra noite de 13 de maio de 1888. No Rio de Janeiro, a princesa Isabel havia acabado de assinar a Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil. Deitada na cama da casa de Petrópolis, escreveu para o pai, o imperador dom Pedro II, que estava na Europa. A carta é entusiasmada. Dá detalhes sobre a euforia que tomou conta da cidade. Em tom respeitoso, começa dizendo que apenas fizera uma velha vontade do pai: “Partimos para o Rio a fim de eu assinar a grande lei, cuja maior glória cabe a papai, que há tantos anos esforça-se para um tal fim”. Sem deixar de destacar a própria participação: “Eu também fiz alguma coisa e confesso que estou bem contente de também ter trabalhado para ideia tão humanitária e grandiosa”. Em seguida, conta sobre o clima eufórico que tomou conta das ruas do Rio: “Os nossos autógrafos da lei e o decreto foram assinados às três e meia, em público, na sala que precede a grande do trono,
passada a arranjar depois de sua partida. O Paço (mesmo as salas) e o Largo estavam cheios de gente, e havia grande entusiasmo, foi uma festa grandiosa”. E prossegue: “Discursos, vivas, flores, nada faltou, só a todos faltava saber papai bom e poder tributar-lhe todo o nosso amor e gratidão”. Isabel descreve mais festividades na chegada a Petrópolis: “Chuvas de flores, senhoras e cavalheiros armados de lanternas chinesas, foguetes, vivas. Queriam puxar meu carro, mas eu não quis e propus antes vir a pé com todos da estação”. Três dias depois, a princesa envia uma nova carta. O tom é o mesmo: “Tudo está em festa pela lei. Reina entusiasmo grande por toda a parte”. E assina de maneira carinhosa: “Adeus, meus queridos e bons pais, aceitem mil abraços e beijos saudosíssimos e deitem-nos sua bênção. Sua filhinha que tanto os ama. Isabel, (BH) Condessa d’Eu”.
Leia a íntegra das cartas de Princesa Isabel a Pedro II no site do A LMANAQUE .
osa 20-6 gême21-5
Curiosos, dinâmicos e comunicativos. Os nascidos em gêmeos nunca estão parados e não gostam de abrir mão de nenhuma atividade. Costumam ser receptivos e tornar qualquer lugar aconchegante. Marcados pela dualidade, têm humor e opinião inconstantes. São muito ligados à família. O problema é a dificuldade em lidar com o desejo de posse pelas pessoas que amam.
www.almanaquebrasil.com.br
MONTAGEM SOBRE REPRODUÇÃO/AB
A entusiasmada carta da princesa Isabel a dom Pedro II
1 i[njW 2 i|XWZe 3 Zec_d]e 4 i[]kdZW 5 j[h W 6 gkWhjW 7 gk_djW 8 i[njW 9 i|XWZe 10 Zec_d]e 11 i[]kdZW 12 j[h W 13 gkWhjW 14 gk_djW 15 i[njW 16 i|XWZe 17 Zec_d]e 18 i[]kdZW 19 j[h W 20 gkWhjW 21 gk_djW 22 i[njW 23 i|XWZe 24 Zec_d]e 25 i[]kdZW 26 j[h W 27 gkWhjW 28 gk_djW 29 i[njW 30 i|XWZe 31 Zec_d]e
@ei Ef[h|h_e Pe J_W]e <beh_Wde F[h[]h_de @kije ;ijWd_ibWk C_]k[b C|n_ce 7djed_de 7XWZ[i Z[ 9bkdo 7gk_b[i D$ I[d^ehW Z[ <|j_cW CWj_Wi ?i_Zehe I_c e IjeYa >[h|Z_e @e e ' ;cW 8[hdWhZ_de Z[ I[dW >eif Y_e H_jW Z[ 9|ii_W @kb_Wde CWhY_WdW L[d[hWdZe PWYWh_Wi 7]eij_d^e BkY_Wde CWn_c_Wde Z[ Jh l[i <[hdWdZe F[jheb_dW
São Fernando Fernando III de Leão e Castela foi o primeiro rei espanhol a ser canonizado, em 1671. Nasceu em 1201 e assumiu o trono de Castela aos 16 anos. Contribuiu para a unificação do país e ajudou na fundação da primeira universidade espanhola. Foi patrono das ordens de frades e incentivou o fim da discriminação religiosa.
Fases da Lua
1 . 2 . 3 . 4 . 5 . 6 . 7 . 8 . 9 . 10 . 11 . 12 . 13 . 14 . 15 . 16 . 17 . 18 . 19 . 20 . 21 . 22 . 23 . 24 . 25 . 26 . 27 . 28 . 29 . 30 . 31
I? D< G
?D< HP <ecJ ?< >JHPID> NJ>D<G
?J
Projeto cria rede de comunicação entre ribeirinhos
â&#x20AC;&#x153;CARA CHATO!â&#x20AC;?
Hemingway nĂŁo conseguia jogar Escravos de JĂł
DJ ?D< >DJI_M @SK@?D " ?< #
DIVULGAĂ&#x2021;Ă&#x192;O/PSA
E
A
s estradas sĂŁo os rios. As cidades, ribeirinhas. O acesso Ă educação e saĂşde, restrito. Esta ĂŠ a realidade em que vivem as cerca de 30 mil pessoas atendidas pelo Centro de Estudos Avançados de Promoção Social e Ambiental, o Projeto SaĂşde e Alegria. Com atuação em Belterra, Aveiro e SantarĂŠm, trĂŞs municĂpios no oeste do ParĂĄ, o trabalho do PSA começou em 1987. Tem como lema uma frase ouvida por seu fundador, o mĂŠdico EugĂŞnio Scannavino Netto, da boca de uma senhora que atendeu: â&#x20AC;&#x153;SaĂşde, alegria do corpo. Alegria, saĂşde da almaâ&#x20AC;?. A bordo do navio AbarĂŠ, uma unidade mĂłvel de saĂşde, o projeto chega a 73 comunidades. Paralelamente aos cuidados mĂŠdicos, o PSA encara outros trĂŞs eixos de atuação: Organização e GestĂŁo ComunitĂĄria, Economia da Floresta e Educação, Cultura e Comunicação. Este Ăşltimo se apropria da educomunicação para levar informaçþes que desenvolvam as comunidades. Para isso, foi criada a Rede Mocoronga de Comunicação Popular. Explica-se: mocorongo ĂŠ quem nasce em SantarĂŠm. Ă&#x2030;, tambĂŠm, o nome do jornal trimestral que reĂşne informaçþes enviadas pelas 26 comunidades que possuem seus prĂłprios informativos. Seis delas sĂŁo chamadas de â&#x20AC;&#x153;polos avançadosâ&#x20AC;? e receberam uma estrutura completa de comunicação, incluindo telecentros movidos a energia solar e rĂĄdios-poste, presentes tambĂŠm em inĂşmeras comunidades. HĂĄ ainda estrutura para produção regular de vĂdeos para a TV Mocoronga, apresentados tambĂŠm em mostras que premiam os melhores do ano. O prĂŞmio? Um Mocoroscar. (Mariana Albanese) Acesse o site do A LMANAQUE e assista a um vĂdeo sobre a Rede Mocoronga. www.almanaquebrasil.com.br
REPRODUĂ&#x2021;Ă&#x192;O/AB
Gravação de vĂdeo para a TV Mocoronga.
m 1944, GetĂşlio Vargas colocou o Brasil para lutar na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados. A Força ExpedicionĂĄria Brasileira acampava em PorretaTerme, na ItĂĄlia. Sem muito o que fazer no acampamento, o correspondente Egidio Squeff, vestindo uniforme militar a serviço do jornal O Globo, se distraĂa brincando de Escravos de O escritor norte-americano Ernest Hemingway. JĂł na porta da barraca. Cantava a musiquinha e ia revezando entre as mĂŁos e o chĂŁo uma pedrinha qualquer: â&#x20AC;&#x153;Tira, bota, deixa o ZĂŠ Pereira ficar...â&#x20AC;?. Durante duas semanas uma figura ilustre parou por ali: o escritor norte-americano Ernest Hemingway, a caminho da IugoslĂĄvia, vindo da Normandia. Ele atuava como espiĂŁo contra fascistas em Cuba e seu faro costumava levĂĄ-lo para fronts de guerra, assunto muito presente em seus livros. Ali, em Porreta-Terme, a cena singela na porta da barraca despertou sua atenção. O autor de O Velho e o Mar se encantou com o Escravos de JĂł. SĂł que nĂŁo conseguia aprender a brincadeira de jeito nenhum. Era bem vivido nessa histĂłria de â&#x20AC;&#x153;guerreiros com guerreirosâ&#x20AC;? fazendo â&#x20AC;&#x153;zigue zigue zĂĄâ&#x20AC;? e estava acostumado a desvendar coisas sublimes como em Por Quem os Sinos Dobram, seu livro mais recente na ĂŠpoca. Mas nĂŁo aprendia o jogo. Assim que chegava perto, Squeff começava a resmungar. Joel Silveira, repĂłrter dos DiĂĄrios Associados, cansou de ouvir o colega reclamando: â&#x20AC;&#x153;LĂĄ vem o Hemingway que, alĂŠm de chato, ĂŠ burro. Como ĂŠ que alguĂŠm consegue nĂŁo aprender a jogar uma (NP) bobagem dessas?â&#x20AC;?. SAIBA MAIS A Luta dos Pracinhas, de Joel Silveira e Thassilo Mitke (Record, 1983). Maio 2009
9
estação colheita
ULYSSES ESCLARECE
LUCIANO ANDRADE
Baioneta nĂŁo ĂŠ voto Cachorro nĂŁo ĂŠ urna
E
m 15 de novembro de 1978, os eleitores iriam escolher senadores, deputados estaduais e federais. De um lado, a Arena (partido dos militares); do outro, o MDB (de oposição). Para buscar votos, o MDB organizou uma caravana pelo Nordeste. Na liderança, o presidente do partido, Ulysses Guimarães. Em vårias reuniþes, arbitrariedades e abusos deixaram o clima pesado. O momento mais tenso ocorreu em
13 de maio de 1978, em Salvador. Policiais bloquearam a sede do MDB com cachorros e fuzis com baionetas. Ulysses aproximouse de um policial e bradou, enquanto empurrava sua arma: â&#x20AC;&#x153;Respeite o lĂder da oposição!â&#x20AC;?. Dentro da sede, fez um discurso histĂłrico: â&#x20AC;&#x153;Meus amigos, foi uma violĂŞncia estĂşpida, inĂştil e imbecil. Eles nos ajudam muitoâ&#x20AC;?. E encerrou com a frase que se tornou cĂŠlebre: â&#x20AC;&#x153;Baianos, marchemos para a vitĂłria a 15 de novembro. Baioneta nĂŁo ĂŠ voto e cachorro nĂŁo ĂŠ urnaâ&#x20AC;?. (BH)
10
ESCRITO NO CĂ&#x2030;U
Pra construir a vida, sĂł tijolo por tijolo
D
os 10 anos que a psicĂłloga Raquel Barros passou na ItĂĄlia, quatro foram em tratamentos de fertilização. Sem sucesso. Ela, que sempre quis ser mĂŁe e nĂŁo pĂ´de engravidar, uniu forças para uma associação voltada a meninas que nĂŁo tinham estrutura, mas engravidaram. De volta a sua cidade, Sorocaba, no interior de SĂŁo Paulo, criou a Lua Nova. â&#x20AC;&#x153;O nome representa o lado obscuro da Lua, que existe, mas ninguĂŠm quer ver, como a realidade das meninasâ&#x20AC;?, explica Raquel. A grande sacada ĂŠ que os passos para a autonomia das jovens, muitas vezes envolvidas com drogas, se apoiam nos laços da maternidade, enquanto as mĂŁes que moram em abrigos comuns logo sĂŁo separadas das crianças. Na Lua Nova elas constroem as prĂłprias casas, tijolo por tijolo. â&#x20AC;&#x153;Dar força para quem jĂĄ tem vontadeâ&#x20AC;? ĂŠ a ideia. Para isso, alĂŠm da empreiteira-escola, hĂĄ uma panificadora e um ateliĂŞ de artes. As bonecas de pano que as meninas
RENATO STOCKLER/DIVULGAĂ&#x2021;Ă&#x192;O
?D< ?<N Hc@N
A criadora da Lua Nova, Raquel Barros.
confeccionam têm tudo a ver com a própria história de mãe e menina. Foi a primeira atividade para geração de renda. Aos nove anos de existência, a instituição atua tambÊm direto no foco: as comunidades vulneråveis, carentes de oportunidades e informaçþes. No meio de tanto trabalho, quis o destino surpreender Raquel. Dois anos depois de fundar a Lua Nova, a psicóloga descobriu que estava esperando gêmeas. Júlia e Sofia, hoje com sete anos, são outros brilhantes frutos do lado desconhecido da vida. (NP)
Assista a vĂdeos do projeto Lua Nova no site do ALMANAQUE. www.almanaquebrasil.com.br
Abacate, arroz, berinjela, caqui, feijão, maçã, mandioca, tangerina, chuchu.
m a io ta m b ĂŠ m te m
Leia o discurso completo de Ulysses no site do ALMANAQUE.
O que se colhe em MAIO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Dia da Literatura Brasileira Dia Estadual do Imigrante LibanĂŞs (MG) Dia do Pau-Brasil Dia da Luta Contra a HipertensĂŁo Dia do Pintor Dia do Engenheiro CartogrĂĄfico Dia do do Oftalmologista Dia do Artista PlĂĄstico Dia Estadual da PolĂcia Civil (GO) Dia Nacional do Guia de Turismo Dia do ExĂŠrcito da Salvação Dia da Escrava AnastĂĄcia Dia do Preto Velho Dia do Brinquedo Dia do Gerente de Banco Dia do Gari Dia da Constituição Dia da Boa Vontade Dia do FĂsico Dia do ComissĂĄrio de Menores Dia da LĂngua Nacional Dia do Apicultor Dia da Juventude Constitucionalista Dia do Vestibulando Dia da Costureira Dia Nacional de Combate ao Glaucoma Dia do Profissional Liberal Dia do GrĂĄfico Dia do GeĂłgrafo Dia da Decoração Dia Mundial sem Fumo
SÃO GABRIEL DA CACHOEIR A
Ponte entre povos Com apenas 40 mil habitantes, o terceiro maior município do Brasil tem área superior à de Portugal. Encravado no coração da floresta, São Gabriel da Cachoeira possui 90% de mata virgem e uma população fiel e enraizada em suas tradições.
S 12
ão Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, oferece ao viajante um lampejo da sabedoria dos indígenas. De Manaus são 1.150 quilômetros pelo rio Negro, segundo maior rio em volume de água do mundo – só perde para o Amazonas. Em horas de voo, são quase três. Se o tempo estiver bom, vale ir direto para a janelinha espiar a mata virgem. Depois que a aeronave tomar a direção norte, o rio Negro desaparece, mas não sem antes dar um show, formando as ilhas de Anavilhanas, o maior arquipélago fluvial da Terra. A seguir começa a solidão da Amazônia. A floresta parece estender-se ao infinito. Extensões imensas de um verde que passa da
www.almanaquebrasil.com.br
conta. Habitada há 3 mil anos, a região noroeste da Amazônia brasileira apresenta um conjunto altamente diversificado de paisagens: matas fechadas com vegetação de porte alto, terras inundadas, savanas, capoeiras, palmeirais. Em comum, os rios que as serpenteiam e que, com a estiagem de outubro a fevereiro, desenham praias de areia branca de rara beleza. Quando nos aproximamos de São Gabriel da Cachoeira, a natureza torna-se ainda mais exuberante. Um imponente maciço azul parece levantar-se do meio do verde. É a Serra de Curicuriari, também coNhecida como Bela Adormecida, por sua formação que lembra a silhueta de uma jovem deitada.
Verdadeira Amazônia A cidade é pequena. A igreja matriz e o colégio salesiano são ainda suas maiores construções. O antigo povoado colonial-militar do século 18 abriga cerca de 40 mil habitantes, a maioria índios. É o terceiro maior município do Brasil em extensão, com área superior à de Portugal. E com 90% de mata virgem. O olhar sobre a região, entretanto, não se deve resumir à fauna e à flora, mas também à presença de uma população fiel e enraizada em suas tradições. Os indígenas são lúcidos no resguardo e na revitalização de sua cultura milenar, na briga contra sua cidadania encurralada, na luta por uma vida digna. Uma viagem a essa comunidade pode ser uma iniciação Sobre a verdadeira Amazônia. Há 21 anos os ventos começaram a soprar a favor dos 22 grupos étnicos que habitam a região. Foi quando surgiu a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. O direito dos índios em manter suas tradições encontrou aliados de peso. O Instituto Socioambiental, de ampla experiência no trabalho antropológico na região, uniu-se ao Iphan e, com os indígenas, conseguiram preservar a cachoeira Iauaretê, ameaçada de sumir do mapa pela construção de um campo de pouso. A cachoeira é local sagrado para muitas etnias. Os anciãos afirmam que dela surgiu a raça humana – índios e brancos. Porém, não todos os brancos: somente aqueles que juntam forças com os indígenas.
Preste Atenção
13
IGREJA MATRIZ DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA: A MAIOR CONSTRUÇÃO DA CIDADE
O amanhecer no rio Negro surpreende. Ainda sob a névoa matinal que ensombrece os contornos do relevo, tons quentes de carmim e laranja se espelham nas águas escuras do rio. Um instante mágico. Maio 2009
Sob o signo da união Mais do que o registro pelo Iphan como patrimônio cultural, Iauaretê desencadeou outra ação importante: a devolução dos basá busá – ornamentos sagrados de dança – para seus verdadeiros donos. Sentindo confiança em seus novos parceiros, os indígenas expressaram o desejo de reaver as peças cerimoniais que “jaziam” há mais de 70 anos no Museu dos Índios mantido pelas freiras do Patronato de Santa Terezinha, em Manaus. Apesar de quase um século fora de seu local de origem, este material nunca deixou de ter importância para a história e a cultura das etnias de fala tukano do rio Uaupés e do povo tariano. Entre essas peças, estão colares, as acângataras – uma espécie de cocar feito de penas de Arara, tucano, japu e garça –, cordas de pelo de macaco e cintos de dentes de onça e capivara. No histórico dia da restituição, em dezembro de 2008, vários chefes de tribos e numerosos indígenas do rio Negro estavam presentes. Muita gente e grande emoção. É sob o signo da união, portanto, que se deve conhecer São Gabriel da Cachoeira. 14
Ilha das Flores Mesmo quem já navegou pelos rios amazônicos e conhece sua natureza singular se encanta quando percorre os igarapés. A mata sombria iluminada pela luz que abre brechas entre as copas das árvores, formando fachos luminosos, cria uma atmosfera jurássica. Ouvir os pássaros é fácil, mas vê-los é quase impossível devido à densidade da floresta. Entre esse estranho jogo do real e das sombras, chega-se à comunidade baniwa Ilha das Flores. Ali plantam-se diferentes espécies de pimentas para um tempero especial. Mas não se permite que os não-indígenas vejam as plantações: “Olho de seca pimenteira”, dizem os baniwa. Longe de duvidar.
Wariró Loja de produtos indígenas do Alto do Rio Negro. Na espaçosa casa podem ser encontradas peças produzidas pelas diferentes etnias da região: cerâmicas e cestarias ricas em grafismos e tingidas com pigmentos naturais, tapetes, bancos, pulseiras, brincos e colares de sementes coloridas, além de CDs e livros que narram a história desses povos.
Não deixe de saborear
Pontão da Cultura
A pimenta produzida pelos baniwa em suas plantações secretas é imperdível. Resultado de uma mescla de várias sementes e condimentos, não é muito picante.
Inaugurado em dezembro de 2008, o local abriga a exposição Basá Busá – Ornamentos de dança até junho deste ano. Estão expostos cocares, colares e braçadeiras feitos de penas de pássaros, pelos de macaco e sementes silvestres.
S E RVIÇ O Como chegar A TAM oferece voos diários para Manaus, saindo das principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br Onde ficar
Hotel Deus Me Deu Localizado no centro da cidade, tem quartos simples, mas limpos. Tel.: (97) 3471-1395.
Instituto Socioambiental Com arquitetura moderna, inspirada numa maloca, fica em frente às corredeiras de São Gabriel. A melhor opção de alojamento. Prioriza pesquisadores. Tel.: (97) 3471-1156. www.almanaquebrasil.com.br
Onde comer
Restaurante do Conde Cardápio a base de peixes. A especialidade é o peixe com maracujá. Vale a pena. Em alguns dias tem apresentações de música ao vivo. Tel.: (97) 3471-1738.
Restaurante Íris Comida caseira. Tel.: (97) 3471-1288.
Ela deu v ida à memória TTAI ZÉLIA GA
Por Natália Pesciotta
Por trás da esposa dedicada, braço direito de Jorge Amado, estava uma lutadora, defensora dos próprios ideais. Mais atrás – ela mesma surpreendeu-se com a descoberta, aos 63 anos –, havia a escritora. A habilidade com as letras levou LUCIANA WHITAKER/FOLHA IMAGEM
16
S
eu Ernesto e dona Angelina discutiam em casa, que também abrigava uma oficina mecânica. São Paulo, 1916. Ele queria que a filha chamasse Pia. Tinha visto num romance. “Não seria melhor Bacia ou Balde?”, ironizava a mulher. Acabou prevalecendo a opinião de Maria Negra, a empregada da casa, que sugeriu Zélia. A caçula da família nasceu em 2 de julho, dia da principal comemoração da Bahia. Mais tarde adotaria o estado como lar e dele receberia as ordens do Mérito, em 1995, e o título de Cidadã Baiana, 10 anos depois. Quando era pequena, cantava de cor o hino da Internacional Comunista e vendia jornais anarquistas nos eventos políticooperários que frequentava com os pais. Só que, durante a festa da paróquia do bairro, em lugar de panfletos, vendia rifas para a igreja. Estes e vários outros causos a menina juntou, já senhora, no livro de estreia: Anarquistas Graças a Deus (1979).
www.almanaquebrasil.com.br
Zélia a revelar todas as suas camadas e, de quebra, os contextos históricos em que viveu. Para escrever memórias, diria, só tendo memórias, oras.
Só tem memória quem viveu
A fina ironia do livro deu a Zélia o Prêmio Paulista de Revelação Literária. Teve 200 mil cópias vendidas em menos de 20 anos e rendeu uma minissérie em 1984. A partir daí, toda a vivência foi, aos poucos, se cristalizando em letras. Foram 10 livros de memória no total, mesclas de casos pessoais com a realidade do País, sem deixar de lado boas doses de humor. Criou ainda três livros infantis e um romance. A afinidade com a literatura vinha da infância. Zélia e as irmãs costumavam explorar o armário proibido da mãe, onde se guardavam preciosidades: O Inferno de Dante, teorias anarquistas de Bakunin e Koptkin. Lá embaixo, o preferido de todas, Os Miseráveis, de Victor Hugo. Durante mais de meio século ao lado de Jorge Amado, datilografando e revisando seus originais, a intimidade com os livros só se fortaleceu. Por que estreou apenas aos 63 anos? “É que quem escreve memórias precisa ter as me-
O encontro com Jorge Amado podia ser mais um romance do escritor, desses que Zélia adorava. Mas entrou para o rol de casos reais narrados por ela. mórias.” E reforçava: “É preciso ter atingido um certo nível, uma certa maturidade para entender as pessoas.”
Sobre florestas e castelos
Aos 20 anos, Zélia casara com o militante comunista Aldo Veiga e dera à luz Luís Carlos. Depois que o pai foi preso pelo governo Vargas, a participação da moça no movimento de esquerda se intensificou. Foi quando conheceu Jorge Amado, durante o 1° Congresso de Escritores, organizado pelo Partido Comunista Brasileiro. O humorista Aparício Torelly, o Barão de Itararé, os apresentou. “Ao pousar pela primeira vez os olhos em você, meu coração disparou”, diria Jorge a ela mais tarde. Podia ser mais um romance do baiano, desses que Zélia admirava desde os 17 anos, mas a história era real, e quem contou foi ela, em Um Chapéu para Viagem (1982). Com Jorge eleito para a Câmara Federal, lá se foi o casal para o Rio de Janeiro, onde nasceu João Jorge. Um ano depois, com o PCB ilegal, partiram para o exílio. Em Paris, Zélia estudou Civilização e Língua Francesa na Sorbonne. Depois de fazer amizade com os Pablos Neruda e Picasso, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, o casal precisou partir novamente, expulso por ser comunista. O destino foi uma comunidade de escritores na Tchecoslováquia, experiência parecida com a dos antepassados Gattai. O avô de Zélia atravessara o oceano com os filhos pequenos, vindos da Itália, para viver numa comunidade anarquista no Sul do Brasil, a Colônia Cecília. Uma grande diferença é que os anarquistas italianos foram parar no meio da floresta, e os escritores comunistas num lindo castelo abandonado pela realeza. Nele nasceu a caçula Paloma, e as histórias ali vi-
vidas foram todas para O Castelo de Vidro (1988). Nessa época, Zélia tomou gosto pela fotografia. Guardou os registros de Jorge Amado capturados pela sua Rolleiflex para Reportagem Incompleta (1987).
“Chego a ver as cores”
Após passagens pela China, Mongólia e Rio de Janeiro, em 1963 finalmente o casal fixou-se na Bahia. As visitas de muitos amigos ilustres, sob as mangueiras do jardim, estão em A Casa do Rio Vermelho (1999). Só então, estimulada pelo marido, Zélia tomou impulso para escrever. Sempre sem consultar anotação alguma, contando apenas com as lembranças: “As coisas que vivi, que eu conto, não precisavam ter sido anotadas, porque me marcaram profundamente. E quando começo a escrever, me desligo do presente e volto a dar gargalhadas. Chego a ver as cores, os detalhes”. Por isso, depois da morte de Jorge, Zélia reviveu o romance dos dois, escrevendo sobre o amado. Faleceu sete anos depois, em 17 de maio de 2008. Ficou oficialmente imortalizada pela Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira que foi do companheiro. Na posse, em 2001, disse que trazia no sangue a qualidade de contadora de histórias. Mas revelou um segredo: “Muito cedo, comecei a entender que uma leitura ou uma história só prestam, empolgam e nos fazem sonhar quando transmitidas com prazer e emoção”. SAIBA MAIS Memorial do Amor (Record, 2004), o último livro publicado por Zélia Gattai, aos 88 anos. No site do ALMANAQUE, assista a um vídeo com fotos de Zélia ao longo da vida.
O melhor produto do Brasil é o brasileiro CÂMAR A CASCUDO
Maio 2009
17
ESPECIAL
20
.
O título acima é o verso de um samba de Lamartine Babo. Uma demonstração de como os discos estão no imaginário nacional. Há 107 anos, o primeiro começou a rodar no Brasil. De lá para cá, eles ditaram modas, causaram polêmicas, emocionaram ouvintes e sofreram diversas transformações. E, apesar das tecnologias digitais, continuam sendo o grande registro musical da alma brasileira.
ão importa o formato. São os discos que registram a história musical do Brasil. Tal qual os livros, têm o papel de preservar uma época ou pensamento e guardá-lo para a posteridade. Dos vozeirões bolerais aos protestos combativos do rap, tudo cabe nesse democrático objeto circular. O primeiro a ser gravado no Brasil, em 1902, trazia o lundu Isto é Bom, de Xisto Bahia, na voz do cantor Baiano: O inverno é rigoroso / Bem dizia a minha vó / Quem dorme junto tem frio / Quanto mais quem dorme só / Isto é bom, isto é bom / Isto é bom que dói... A gravação era mecânica. Apenas em alto e bom som era possível registrar a voz e os instrumentos. E dá-lhe cantores dó-depeito, que se esgoelavam ao microfone. Só em 1926 surgiria a gravação elétrica. Uma revolução. A partir daquele momento era possível registrar novas nuances e gingas, e cantores de vozes pequenas ganharam passe livre nos estúdios. Mas os discos eram de 78 rotações, à base de cera de carnaúba. Neles cabiam apenas duas músicas. Até que em 1950 surgiram os
LPs (long plays), com várias músicas de ambos os lados. Os
discos viraram produtos de massa. O elepê era o dono do pedaço até o fim dos anos 1980, quando surgiram os CDs (compact discs), menores e com som mais limpo. E, uma década depois – para o terror da indústria fonográfica –, o reduzido formato eletrônico MP3, com a possibilidade de troca gratuita de música pela internet. O que virá pela frente nesse intenso processo de mudanças é impossível saber. Mas, por sorte, um pouco da rica história da música brasileira está guardada nos discos. E nas próximas páginas deste ALMANAQUE.
#ARTOLA ESTREOU A BORDO DE UM NAVIO Como parte da chamada â&#x20AC;&#x153;polĂtica de boa vizinhançaâ&#x20AC;? norte-americana, o inglĂŞs radicado nos Estados Unidos Leopold Stokowski atracou seu navio no Rio de Janeiro em 1940. A missĂŁo: registrar â&#x20AC;&#x153;a mais legĂtima mĂşsica brasileiraâ&#x20AC;?. Para tal, pediu ao maestro Heitor Villa-Lobos que reunisse artistas de samba, batucada, marchas de rancho, macumba e embolada. E assim fez Villa-Lobos. A gravação foi a bordo do prĂłprio navio. AtĂŠ o capitĂŁo foi espiar. NĂŁo era para menos: durante oito horas consecutivas passaram pelos microfones Donga, Pixinguinha, Dona Neuma, ZĂŠ da Zilda, Jararaca e Ratinho, JoĂŁo da Baiana, alĂŠm de Cartola, que mandou Quem Me VĂŞ Sorrindo. Estavam prontos os dois ĂĄlbuns de Native Brazilian Music. O pagamento dos artistas? Entusiasmados cumprimentos... Muitos nem sequer ouviram a gravação. O disco nunca foi lançado no Brasil.
#ARTOLA GRAVOU O PRIMEIRO SAMBA EM -AS Sv EM LANlOU O PRIMEIRO DISCO SOLO COM CANlzES COMO !LVORADA $ISFARlA E #HORA E / 3OL .ASCERf
/L H A O 0AD I L H A
â&#x20AC;&#x153;Estou acostumado a acompanhar mĂşsica. Conversa ĂŠ a primeira vezâ&#x20AC;?, resmungou um violonista durante a gravação de O Ă&#x161;ltimo Malandro, de Moreira da Silva. O samba-de-breque ainda nĂŁo havia se popularizado, e aquele jeito de â&#x20AC;&#x153;brecarâ&#x20AC;? a canção para falar ainda causava estranhamento. O disco continuou a ser feito mesmo com a lendĂĄria bronca. Entre as cançþes, a pĂŠrola Olha o Padilha, que narra a histĂłria de uma batida policial: Um tira forte aborrecido me abotoou / (...) E jogou uma melancia pela minha calça adentro / Que engasgou no funil /
Eu bambeei, ele sorriu. O episĂłdio ĂŠ baseado numa histĂłria real. Padilha era um temido delegado carioca dos anos 1950, que costumava colocar um limĂŁo dentro da calça de quem considerasse suspeito. Se nĂŁo caĂsse no chĂŁo, era sinal que a calça era apertada â&#x20AC;&#x201C; coisa de vagabundo ou homossexual. O â&#x20AC;&#x153;melianteâ&#x20AC;? ia direto pra delegacia. O Ă&#x161;ltimo Malandro ĂŠ considerado o melhor elepĂŞ de Moreira da Silva.
Pela gravadora Elenco, Cesar Villela fez antolĂłgicas capas para boa parte dos ĂĄlbuns de bossa nova, consideradas revolucionĂĄrias atĂŠ hoje. Veja algumas:
21
Paulinho da Viola
¹-EU PRIMEIRO AMOR MORREU COMO A žOR² Ele tinha (e continua tendo) a fama de artista reservado, que pouco expþe a intimidade. Mas Paulinho da Viola abriu exceção em Nervos de Aço, gravado após a separação de sua primeira esposa. A confissão começa na capa, produzida pelo diretor editorial deste ALMANAQUE, Elifas Andreato. Ela mostra o artista amargurado, às lågrimas, empunhando um ramalhete de flores.
As cançþes melancĂłlicas vĂŞm uma atrĂĄs da outra: Comprimido (na qual aborda o suicĂdio), Nervos de Aço, Sentimentos. AlĂŠm da confissĂŁo definitiva: NĂŁo quero mais amar a ninguĂŠm / NĂŁo fui feliz, o destino nĂŁo quis / O meu primeiro amor / Morreu como a flor ainda em botĂŁo / Deixando espinhos que dilaceram meu coração...
/ JAZZISTA NORTE AMERICANO *ACK 7ILSON GRAVOU UM DISCO INSPIRADO NA BOSSA NOVA EM .OS CRmDITOS UM MISTERIOSO 4ONY "RAZIL AO VIOLjO 4RATAVA SE DE 4OM *OBIM #OMO TINHA CONTRATO COM OUTRA GRAVADORA 4OM ARRUMOU O PSEUDxNIMO DE GOSTO DUVIDOSO PARA PODER TOCAR 'ANHOU DvLARES DE CACHo 22
Chico Buarque
¹$EU PRA TIRAR UM SARRO²
%M /S .OVOS "AIANOS LANlARAM !CABOU #HORARE CONSIDERADO UM DOS GRANDES DISCOS DA M{SICA BRASILEIRA / TqTULO ENIGMfTICO SURGIU APvS OUVIREM UMA HISTvRIA DE *OjO 'ILBERTO 3UA ½LHA "EBEL HAVIA CAqDO E COMElOU A CHORAR !PvS SER ACUDIDA PELO PAI DECRETOU ¹!CABOU CHORARE²
Chico Buarque estava na ItĂĄlia hĂĄ mais de um ano quando recebeu a notĂcia de que as coisas no Brasil haviam melhorado. Decidiu voltar. SĂł o que encontrou naquele inĂcio de 1970 foi um cenĂĄrio de tortura, arbitrariedades e censura. Consternado, compĂ´s Apesar de VocĂŞ, um recado ao governo de MĂŠdici. Enviou para a censura com pouca esperança de que a mĂşsica fosse aprovada, mas os censores liberaram. O samba saiu num compacto simples. Em menos de um mĂŞs, 100 mil cĂłpias vendidas. SĂł entĂŁo os militares se tocaram. Mas o povo jĂĄ cantava nas ruas os versos da esperança: Apesar de vocĂŞ / AmanhĂŁ hĂĄ de ser / Outro dia... A polĂcia tratou de invadir a gravadora e destruir as cĂłpias do disco. Num interrogatĂłrio, perguntaram a Chico quem era o â&#x20AC;&#x153;vocĂŞâ&#x20AC;? da canção. â&#x20AC;&#x153;Ă&#x2030; uma mulher muito mandona, muito autoritĂĄria...â&#x20AC;? Numa carta a Vinicius, comentou o ocorrido: â&#x20AC;&#x153;Deu bolo com o Apesar de VocĂŞ, tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarroâ&#x20AC;?. 8
"OEMIA AQUI ME TENS DE REGRESSO % SUPLICANTE TE PElO A MINHA NOVA INSCRIljO / SAMBA CANljO ! 6OLTA DO "OoMIO INTERPRETADA POR .ELSON 'ONlALVES SE TORNOU EM O PRIMEIRO DISCO BRASILEIRO A CHEGAR g MARCA DE UM MILHjO DE CvPIAS VENDIDAS
3EM PADRE SEM REPvRTER 3EM ARMA SEM SOCORRO O Brasil virou os olhos e ouvidos para a periferia em 1997. A força das letras de Sobrevivendo no Inferno tornou os Racionais conhecidos no PaĂs todo, e despertou a nação para a misĂŠria e a violĂŞncia dos bolsĂľes de pobreza escondidos nas grandes cidades. A primeira mĂşsica a ganhar projeção foi DiĂĄrio de um Detento, escrita por um sobrevivente do massacre do Carandiru, em que narra os horrores do episĂłdio: Sem padre, sem repĂłrter / Sem arma, sem socorro / Vai pegar HIV na boca do cachorro / CadĂĄveres
! REDESCOBERTA DE .OEL 2OSA Noel Rosa morreu em 1937. AtĂŠ 1949 haveria apenas 19 gravaçþes de suas mĂşsicas. Muita coisa permanecia inĂŠdita, e obras-primas estavam fadadas ao esquecimento. AtĂŠ que Aracy de Almeida resolveu a questĂŁo. Com o apoio de Braguinha, entĂŁo diretor artĂstico da Continental, gravou dois ĂĄlbuns com repertĂłrio exclusivo do Poeta da Vila. Entre as preciosidades, Conversa de Botequim, O X do Problema, SilĂŞncio de um Minuto e O Orvalho Vem Caindo. Na capa, uma magistral ilustração de Di Cavalcanti e texto de LĂşcio Rangel. â&#x20AC;&#x153;Foram os primeiros lançamentos fonogrĂĄficos no Brasil a ganharem capas coloridas e textos informativosâ&#x20AC;?, explica o historiador Egeu Laus.
5M BAIANO BOSSA NOVA Chega de Saudade (1959) ĂŠ o histĂłrico elepĂŞ de estreia de JoĂŁo Gilberto. E, apesar de iniciante no mercado fonogrĂĄfico, mereceu um texto de exaltação na contracapa: â&#x20AC;&#x153;JoĂŁo Gilberto ĂŠ um baiano â&#x20AC;&#x2DC;bossa-novaâ&#x20AC;&#x2122; de 27 anos. Em pouquĂssimo tempo influenciou toda uma geração de arranjadores, guitarristas, mĂşsicos e cantores [...] Ele ĂŠ simples, sincero e extraordinariamente musical. PS: Caymmi tambĂŠm achaâ&#x20AC;?. O autor das linhas? Antonio Carlos Jobim.
XdYfi\j k j
\ il]\d f l H
7ILSON "ATISTA PRODUZIU O DISCO 0OLoMICA UMA COMPILAljO DOS SAMBAS COMPOSTOS A PARTIR DA BRIGA COM .OEL 2OSA &EZ UMA {NICA EXIGoNCIA A .fSSARA QUE ILUSTRARIA A CAPA ¹-E DESENHE COM A CAMISA DO &LAMENGO²
no poço, no pĂĄtio interno / Adolf Hitler sorri no inferno / O Robocop do governo ĂŠ frio, nĂŁo sente pena / SĂł Ăłdio, e ri como uma hiena. Mas a letra mais impactante ĂŠ de CapĂtulo 4, VersĂculo 3. Trata-se de um relato violento e realista do cotidiano dos negros pobres do PaĂs: Para os manos da Baixada Fluminense Ă Ceilândia / Eu sei, as ruas nĂŁo sĂŁo como a Disneylândia / De Guaianazes ao extremo sul de Santo Amaro / Ser um preto tipo A custa caro.
8
% O DISCO MAIS VENDIDO DA HISTvRIA DO 0AqS m
MĂşsicas para Louvar o Senhor Senhor, do Padre Marcelo Rossi (1998), com 3 milhĂľes e 400 mil cĂłpias.
3!)"! -!)3 !CESSE O SITE DO !,-!.!15% E CON½RA VqDEOS COM ALGUMAS DAS CANlzES ALmM DE INFORMAlzES COMPLETAS SOBRE OS DISCOS CITADOS NA MATmRIA
O Calculista das Arábias
LIGUE OS PONTOS
Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan
a Adversários soltaram um animal em campo e Henfil o transformou em mascote. O time foi cinco vezes campeão brasileiro e uma vez mundial.
1
de seu estado. Venceu quatro campeonatos brasileiros, 25 estaduais e um mundial.
2
c O preto só entrou no uniforme por falta de tintura castanha, rara em 1903. O mascote foi criado em 1946, mas a versão final é de 2001.
3
d O Palestra Itália teve o nome trocado na Segunda Guerra para o de uma constelação. Um dirigente astuto inspirou o mascote.
4
ACERVO DA FAMÍLIA
b O mosqueteiro chegou em 1910 ao futebol
Diofante, um célebre geômetra grego, está encerrado num túmulo que traz um problema. “Eis o túmulo que encerra Diofante – maravilha de se contemplar! Com artifício aritmético, a pedra ensina a sua idade. Deus concedeu-lhe passar a sexta parte de sua vida na juventude; um duodécimo, na adolescência; um sétimo, em seguida, foi escoado num casamento estéril. Decorreram mais cinco anos, depois do que lhe nasceu um filho. Mas este filho apenas tinha atingido a metade da idade do pai quando morreu. Quatro anos ainda mitigando a própria dor com o estudo da ciência dos números passou-os Diofante, antes de chegar ao termo de sua existência.” Conseguiria você desvendar a idade com que morreu o geômetra?
TESTE O NÍVEL DE SUA BRASILIDADE
PALAVRAS CRUZADAS
Aprovado em 10/5/1985, o Emendão instituiu: (a) “Pontes” nos feriados (b) Jornais sem intervalos (c) Eleições diretas (d) Reeleição Em qual cidade o dirigível Graf Zeppellin pousou pela primeira vez no Brasil, em 22/5/1930? (a) Brasília (b) São Paulo (c) Recife (d) Manaus Em 1/5/1928, Oswald de Andrade publica, sobre a arte moderna, o Manifesto: (a) Canibal (b) Antropofágico (c) Neoconcreto (d) Neoclássico Contemporâneo Oficializou o Dia das Mães em 5/5/1932: (a) Júlio Prestes (b) Vargas (c) Dutra (d) Café Filho Ayrton Senna acidentou-se em 1/5/1994 na curva: (a) Parabólica (b) Tamburello (c) do S (d) do M Noel Rosa, morto em 4/5/1937, não compôs: (a) Feitiço da Vila (b) Feitio de Oração (c) O Mundo É um Moinho (d) Filosofia
Respostas Rubens Barrichello JOSÉ PATRÍCIO/AE
O CALCULISTA DAS ARÁBIAS – Diofonte morreu com 84 anos. Para resolver o problema, basta traduzi-lo a uma expressão de 1° grau. Sendo x a idade de Diofonte, temos: x/6 + x/12 + x/7 + 5 + x/2 + 4 = x BRASILIÔMETRO – 1d; 2c; 3c; 4b; 5b; 6b; 7c; 8c.
Após treinos escondidos, em 14/5/1952, qual destes grupos se apresentou pela primeira vez? (a) Tropa de Choque (b) Torcida Canarinho (c) Esquadrilha da Fumaça (d) Cavalaria da República
SE LIGA NA HISTÓRIA – 1b (Corinthians); 2c (Grêmio); 3d (Cruzeiro); 4a (Flamengo).
valiação
ENIGMA FIGURADO – Noel Rosa. O QUE É O QUE É? – Javali.
2
CARTA ENIGMÁTICA –”Enquanto houver corno, mulher sofrida e bêbado no Brasil, eu vou ser sucesso.” (Waldick Soriano)
DE QUEM SÃO ESTES OLHOS?
24
Objeto milagroso de Frei Galvão, primeiro santo nascido no Brasil, canonizado em 11/5/2007: (a) Terço (b) Santinho (c) Pão (d) Pílula
1 0
3
4
5
6 7
Conte um ponto por resposta certa
8
I L U S T R AC Õ ES
C : LU
IANO
TA S S O
O Brasil já foi uma terra de dinossauros P Há evidências de sua existência de norte a sul do País. Tinha de todo o
ouca gente se dá conta, mas o Brasil já foi povoado por dinossauros.
Os indícios mais impressionantes estão no Vale dos Dinossauros, na Paraíba. São 505 trilhas com vestígios de 51 espécies que habitaram essa região há 120 milhões de anos. Há pe pegadas que variam de cinco centímetros, de uma espécie não maior do que uma galinha, a 40 centímetros de comprimento, per pertencentes a iguadontes, um bicho de quatro toneladas. Mas nem todos se conheceram, sa sabia? Há casos de dinossauros que viviam há 250 milhões de anos e outros há “apenas” 70 milhões. Eles não assustavam os índios, co como alguns pensam. Os dinossauros são anterio anteriores à existência dos nossos primeiros moradores. Sorte dos índios.
TA
L
ER
Z
A
AL
PA R
Os dinossauros viveram sobre a Terra durante 160 milhões de anos. E como desapareceram completamente? Cientistas explicam que, há 65 milhões de anos, caiu no planeta um meteoro de aproximadamente 10 quilômetros. O impacto teria sido tão violento que abriu uma cratera com 200 quilômetros. Uma espécie de nuvem de poeira grossa tampou a luz solar durante seis meses. A Terra resfriou, as plantas não podiam fazer fotossíntese e os animais não tinham o que comer. Resultado: todos os dinossauros morreram.
JÁ PENSOU NISSO?
-LÍNG VA
UA
26
E como eles desapareceram?
TRA
tipo: os que só comiam vegetais, os assustadores carnívoros gigantes, os que voavam e até pequenos e inofensivos dinossaurinhos. Em 2006, foi descoberto o que é considerado o maior dinossauro que já viveu em solo brasileiro. Ele tem o complicado nome de maxacalissauro e os fósseis foram encontrados em Minas Gerais. Pesava nove toneladas e tinha impressionantes 13 metros de comprimento. No norte havia o amazonssauro, que vivia onde está hoje a Floresta Amazônica. O bicho media 10 metros de comprimento e só comia vegetais. Se vivesse hoje em dia, desmataria um bocado de floresta toda vez que fosse almoçar...
VO E R EPE TIR EM
O dino pouca capa tem porque pouca paca compra.
Já foram descobertas cerca de 800 espécies de dinossauros. O maior de todos é o superssauro, que pesava o equivalente a um Boeing 737. O torossaurus tinha a cabeça maior do que um carro dos grandes. Só o pescoço do mamenchissaurus media nove metros de altura. O giganotossaurus pesava mais do que 125 pessoas juntas. Os triceratopos possuíam dois chifres na testa e um no nariz. Alguns dinossauros voadores tinham quatro asas. Já imaginou como seria um bicho que juntasse todas estas características?!
Cada número no diagrama abaixo corresponde a uma página do ALMANAQUE. Descubra a letrinha colorida na página indicada e vá preenchendo os quadrinhos até completar a mensagem cifrada que escrevemos para você. SOLUÇÃO NA P. 24
O 5
6
7
8
9
31 14 10
5
5
10
5
13 13 14 16
9
21 22 23 24
13 31 26 12 31 17 31 20 14
28 14 26 14
20
8
www.almanaquebrasil.com.br
7
31 12
8
8
5
17
5
31
7
9
26
8
7
26
5
6
5
6
7
8
8
29 30
7
28 W W W. LU C I A N OTA S S O. B LO G
S P OT.CO M
JUM NAKAO
As pessoas não precisam estar mais bem-vestidas. Precisam ser melhores Estranho ouvir isso de um estilista? Pois a moda, para Jum Nakao, nada mais é do que uma “ferramenta de descoberta”. Ele não aposta em tendências e padrões, mas em um novo formato de mercado: “A gente precisa reconectar as pessoas à essência humana”. Desde que deixou a passarela mais importante do País, em 2004, decidiu dedicar a carreira ao resgate de valores. Ministra cursos no sertão, desenvolve objetos sustentáveis com comunidades na Amazônia. O que mais dói, 28 EDI PEREIRA
conta, é perceber todo o potencial de recursos e saberes do País que fica “confinado ao silêncio”.
Qual é o papel que a moda pode desempenhar na sociedade?
Seu último desfile simbolizou este rompimento?
Eu vejo a moda como a relação do indivíduo com o lugar em que habita – sua cidade, seu país, a sociedade. A moda não deveria ter a característica do isolamento, que faz as pessoas perderem o senso de coletividade, de cultura, de sociedade. Se pensar nos guetos, por exemplo, eles traduzem visualmente crenças e cultura. Enfim, a moda é a última camada após as suas convicções. A moda sedimenta tudo aquilo que você é.
Foi uma apresentação fora do convencional. Eu queria mostrar que não importa do que a roupa é feita. E só usei papel no projeto, que chamamos de Costura do Invisível. Um papel pode conter ideias capazes de mudar o mundo. Pode conter a escrita e todo o seu significado, e ao mesmo tempo é algo em branco, um desafio. É algo barato, que só tem valor se você atribui valor a ele. Minha ideia era transformar o papel num monumento, num sonho. Gastamos quase uma tonelada de papel para fazer a cenografia e as roupas, e mais de 700 horas de trabalho. Num evento onde as pessoas vão para enxergar tendências, cores, de repente apresentamos um desfile em branco. Mas era uma fábula, um momento de encantamento. As roupas eram fantásticas e aquilo criou um silêncio. As pessoas foram transportadas para outro lugar, para dentro de um conto. As modelos usavam perucas tipo “playmobil”, um elemento lúdico que rompia com a barreira entre público e obra, porque havia um regaste de memória. Quando o público achou que o desfile tinha terminado, as modelos rasgaram tudo.
Por que decidiu parar de desfilar na São Paulo Fashion Week, em 2004? Para mim, o mais importante é transformar as pessoas. Eu não acho que as pessoas precisam estar mais bem-vestidas. Acho que as pessoas precisam ser melhores. Então, percebi que estava num sistema que tinha que ser repensado, com o qual eu não podia mais compactuar.
O que no seu trabalho destoava dos grandes eventos de moda? Eu nunca acreditei nas tendências. Eu acredito muito mais na moda como uma ferramenta de descoberta, não como um mecanismo a ser trabalhado dentro de um senso comum. A moda tem esse pressuposto de que você precisa ser igual. Igual a modelos estabelecidos, dentro de uma tendência, uniformizado. Uma crença única que, pra mim, é uma forma muito emburrecedora de lidar com as potencialidades das pessoas. Meus desfiles eram quase que modulares – as pessoas podiam recompor. Romper, para mim, foi uma questão ética. Eu preciso que as pessoas mudem, por isso decidi dedicar minha carreira às pessoas. www.almanaquebrasil.com.br
Qual foi a reação da plateia? Foi um baque. A plateia se jogou pra pegar pedacinhos rasgados, como se fosse possível guardar pedaços de um sonho. Com isso, mostrou-se que o invisível tem muito mais valor que o visível. Apesar de trabalhar num momento de extrema velocidade, de transformações, de efemeridade, uma obra em branco, se pulverizada, tem permanên-
cia. A ideia era falar: “Tá tudo errado, as coisas precisam ser mudadas”. E, para que as coisas mudem, a gente precisa reconectar as pessoas à essência humana. Tirá-las do “estado zumbi”. O objetivo era criar uma suspensão de tempo. Por um instante que seja, tiramos o chão daquelas 1.200 pessoas que estavam assistindo ao desfile. Espero que elas tenham refletido sobre o que está acontecendo.
Você deixou de acreditar na concepção dos grandes desfiles? Eu continuo acreditando na importância da moda, mas tenho que pensar em novos processos. Estou sempre com alunos, em oficinas e palestras, porque preciso formar pessoas. Não para o mercado. Preciso formar pessoas capazes de criar novos formatos de mercado. Se os processos não mudam, os hábitos continuam os mesmos.
Diante da crise mundial, a moda deve se transformar? Acho até curioso que uma crise como a que a gente vive esteja acontecendo, fazendo as pessoas pensarem nos seus conceitos, na sua cultura de consumo. Do que a gente precisa? Acho que esse primeiro quarto de século vai ser todo dominado por uma discussão sobre sustentabilidade, sobre novas éticas. Chegou um ponto em que é necessário reformular valores. Não há como imaginar que do jeito que está podemos continuar.
É preciso repensar os parâmetros de consumo?
Você tem andado muito pelo Brasil. O que tem visto? O País é muito rico de recursos e saberes. Se você for para qualquer lugar do País, vai encontrar um Brasil diferente. Mas você sabe que é a sua casa. E as pessoas te reconhecerão como brasileiro também. Isso você não vai sentir em nenhum outro lugar do mundo. Essa questão da hospitalidade – ainda que não seja restrita aos brasileiros – mostra como entre nós existe, sim, uma comunhão. Entretanto, há uma cultura muito viva, mas que está sendo sufocada. Não precisa ir longe. No interior de seu Estado você pode descobrir coisas de que nunca ouviu falar. A verdade é que a gente só olha para o que está sendo vendido. Há um potencial muito grande de saberes que fica confinado ao silêncio. Se não há demanda por estes saberes, as pessoas que os detêm simplesmente partem para outras atividades que possam garantir o sustento. Se a sociedade só quer carvão, estas pessoas vão fazer queimadas. Ou vão morrer de fome.
Existe brasilidade na moda? É um caminho?
Um país, para mim, não se define pelas fronteiras geográficas ou pelo PIB, mas pela cultura de seu povo.
O que mostra como uma comunidade vive é o consumo. Eu acho um absurdo que para a sociedade continuar existindo as pessoas tenham que consumir carros, por exemplo. Para suprir a necessidade atual do planeta inteiro, dentro dos hábitos atuais de consumo, precisamos de dois planetas. Se isso não mudar, é impossível falar em futuro. Uma outra questão é a própria hierarquia de valores. O valor do material é muito maior do que o valor do conhecimento. O de uma celebridade, muito maior que o de um pensador. A sociedade perdeu seus parâmetros. E não adianta as pessoas só falarem em “ecologicamente correto”, em “consciência de sustentabilidade”. Elas precisam comprar a ideia. Consumir não é ruim, é um ato político. Se você vai comprar um produto, tem que avaliar se ele está sendo produzido num sistema com o qual você concorda ou não. Desde que entrei no projeto Floresta Móbile, o que mais acho importante é que os produtos vendam. Senão a comunidade que acreditou no projeto como alternativa de sobrevivência vai voltar a queimar.
Como funciona o Floresta Móbile? É um projeto grande, desenvolvido no mundo todo. Eu trabalho com uma comunidade carvoeira na Amazônia. Produzimos móveis com resíduos de madeiras que seriam queimados. Na contramão da antiga Revolução Industrial, partimos para a “revolução humana”. Resgatamos o valor de como é feito, não do que é feito. Se um saber está sendo aplicado, a natureza ganha fôlego para o reflorestamento. Queimando, se acaba com algo como um Estado de São Paulo por dia. Colaborar, dar vida, animar – no sentido de dar alma a coisas inertes – exigem um tempo diferente do da destruição. Jogar uma bomba é rápido, reconstruir demora. A proposta é que essas comunidades se dediquem a construir, não a destruir. Se esses projetos não derem certo, elas vão voltar a destruir. Por isso é muito importante que a sociedade compre a ideia, e não somente no plano filosófico.
O que eu percebo é que há um certo risco nesse tipo de tentativa. Não podemos ter um pensamento isolacionista, achar que, para sermos brasileiros, temos que fechar as fronteiras e procurar a raiz. A cultura é um elemento transversal, um amalgamento de camadas. Não um retrato estático. Eu enxergo o Brasil com essa cara múltipla.
Essa multiplicidade muitas vezes é ignorada, não?
Eu lamento muito a situação cultural que o Pais vive. Um país, pra mim, não se define pelas fronteiras geográficas ou pelo PIB, mas pela cultura de seu povo. A nossa, até por uma falta de base educacional, deixa de ter materialidade. E, assim, acabamos apenas assimilando o que vem de fora. O que mais me dói é perceber todas estas potencialidades e, ao mesmo tempo, este silêncio. O que as pessoas acreditam que seja o Brasil, além de futebol, samba e feijoada? Temos que acreditar na cultura, nas pessoas que pensam. E em pesquisa tecnológica, em pesquisa estrutural, em produção mesmo.
Como você dizia, falta valorizar o saber... Como professor, em outros lugares do mundo, me chamam de “mestre”. Aqui não existe a valorização de quem lapida a cultura, a base. Como as coisas vão mudar? Precisamos de gente que entre na “guerrilha do bem”: que queira educar, fazer eventos, projetos democráticos, que mude pelo menos algumas pessoas.
Para finalizar: o que é brasilidade pra você? O que mais caracteriza a brasilidade para mim é essa cultura antropofágica. Pegar o mundo inteiro, amalgamar e devolver de uma forma singular, cheia de gambiarra, de ginga. Pegar o sushi, devolver o sushi de morango. Pegar o hi-tech e transformar no low-tech, mas com muita alma, muito suingue. Essa coisa cultural, de falar todas as línguas desse País. Não apenas as verbais, mas essas línguas de saberes que se somam e produzem todo um caldeirão, um caldo único. Confira no site do ALMANAQUE fotos e trechos em vídeo da entrevista, além de imagens e informações dos projetos mencionados por Jum Nakao.
Maio 2009
29
TOMATE Lycopersicum esculentum
Rei do licopeno Ele é fruto da segunda herbácea mais cultivada no mundo, depois da batata. Combate radicais livres. Protege o sistema cardiovascular. Anticancerígeno. E, ao contrário do que acontece na política, em vez de vergonhoso é digno de aplauso quando acaba em pizza.
Q 30
uando o conquistador espanhol Hernán Cortez chegou ao México em 1519, uma visão o deslum-brou ao atingir, certo dia, o alto de um outeiro: a seus pés estendiase o verde fosco de uma plantação, com um mundaréu de frutos dourados pendentes entre as acetinadas folhas. Era uma planta originária dos Andes, que crescia que nem mato entre os atuais Chile e Colômbia e que os astecas, primeiros a cultivá-la na América Central, chamavam de tomatl. Cortez levou a trepadeira para a Espanha e, até o século 19, europeus a cultivaram apenas como planta ornamental – achavam que era venenosa. E não é que não estavam de todo errados? De fato, folhas e hastes do tomateiro contêm substâncias tóxicas. Vários povos adotaram o nome asteca – em espanhol, português, francês: tomate; em inglês: tomato; mas, como a variedade levada à Europa dava um fruto amarelo-dourado, os italianos o batizaram de pomo d’oro, maçã de ouro, agora pomodoro. O tomateiro pertence à família das solanáceas, que se compõe dumas duas mil espécies – arbustos, ervas, trepadeiras e algumas árvores, muitas delas brasileiras. Entre seus
“parentes”, figuram pimentas, berin berinjela, pimentão, jiló, batatinha, tabaco. E o tomate é seu fruto, embora muita gente o considere hortaliça ou legume. Cultivado e consumido durante milênios por povos pré-colombianos, hoje não há cozinha no mundo que o dispense. O que seria da macarronada sem o su suculento molho vermelho? Que seria da pizza, da moqueca, da sopa espanhola gaspacho? E podemos apreciar seco, recheado, marinado, como hidratante suco salgado e gelado. Combina com alho, manjericão, orégano, comi cominho. Vai bem nas saladas, conservas, sanduíches. Com peixes, carnes, aves, caças. Não há alimento vegetal mais rico em licopeno, poderoso antioxidante que combate os radicais livres, retarda o envelhecimento e protege contra câncer de próstata, ovário e mama. Esse carotenoide responsável pelo vermelho do tomate, encontrável na melancia, na goiaba, no morango, no mamão, também reduz o colesterol e ajuda o organismo a defender-se das infecções. Estudos mostram que o licopeno é mais bem absorvido na presença de gorduras saudáveis e se você cozinha o tomate. Então, acrescente azeite extravirgem antes de servir. E se você faz parte da confraria do molho de tomate, use sem culpa e à vontade.
A pizza fugiu ao controle
REPRODUÇÃO/AB
IOLANDA HUZAK
Vitalidade para toda parte do corpo
O
REPRODUÇÃO/AB
tomate também é rei do magnésio, cimentador do cálcio, importante para ossos e dentes. Contém potássio, que controla a pressão, previne câimbra, dá saúde às artérias. Fósforo, bom para o cérebro, ativa a memória, esperta a inteligência e combate cansaço mental. Vitaminas: A, para olhos, mucosas, pele, crescimento; B, para o sistema nervoso, aparelho digestivo, coração; C, que combate infecções, dá resistência aos vasos, vitalidade às gengivas, ossos e dentes. E tem baixíssimo teor calórico, não engorda.
Truques da vovó • Retirar a pele? Espete o tomate num garfo e vá virando na chama do fogão: a pele se solta fácil. • Na salada, use-o maduro. Verde ou “de vez” pode fazer mal às vísceras e provocar prisão de ventre. • Se estiver mole, deixe de molho em água gelada 15 minutos. Ficará firme e fácil de cortar. • Vai comer cru? Higienize: lave e, por meia hora, deixe em água filtrada com água sanitária ou vinagre (uma colher de sopa por litro de água). • Vinagre ou limão na salada faz mal (o ácido do tomate misturado com outros torna-se tóxico).
N
ão existe aqui feijoada italiana, mas na Itália existe pizza brasiliana. A rigor, devemos a invenção a babilônios, hebreus, egípcios, que há 6 mil anos já misturavam trigo e água para assar o “pão de Abraão”, parecido com o pão árabe atual. Punham em cima carne, cebola e outros temperos e assavam sobre pedras aquecidas. Com as Cruzadas, a pizza primitiva, trazida de plagas muçulmanas, aporta em Nápoles. Mas pizza mesmo, de verdade, só depois que os napolitanos conheceram o tomate, vindo do Novo Mundo. A história da iguaria popular em todo o planeta dá outra guinada quando imigrantes italianos chegam ao Brasil em fins do século 19 e se instalam na capital paulista. Surgirá o pizzaiolo nordestino e se dará a reinvenção da pizza, para além do tomate. Criaram até pizza à Califórnia, com frutos em calda. A Itália torce o nariz e costuma chamar tal tipo de novidade de “pizza brasiliana”. Chegou a baixar “diretrizes”, uma delas a de que o tomate seja fresco, para se fazer “a verdadeira pizza”. Como assim? Se até italianos se rendem à verdadeira pizza paulistana!
SAIBA MAIS Tomate: Aromas e sabores da boa lembrança, de Sérgio Pagano e Danusia Barbara (Senac Nacional, 2005). No site do ALMANAQUE, acesse um especial da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp sobre tomates.
31
Comadre apresenta a modernidade do tradicional É impossível ouvir uma só, numa paródia livre daquele comercial de salgadinho. E não é exagero. A mistura moderna de coco, baião, maracatu e ciranda pode colocar Vou Voltar Andando, o terceiro disco da banda Comadre Fulozinha, na prateleira de produtos que causam dependência. A banda é comandada por Karina Buhr que, não se sabe como, é cantora, produtora, diretora musical, compositora de todas as canções e até ilustradora da capa. E, se não bastasse, leva à frente uma recém-lançada carreira solo. A Comadre Fulozinha também conta com duas inte-
grantes do divertido Barbatuques, Mairah Rocha e Flávia Maia, além de Letícia Coura e Marcelo Monteiro. As charmosas vozes femininas se misturam a sonoridades oriundas de instrumentos como alfaia, zabumba e rabeca. Cria-se um som com personalidade, agradável e surpreendente, flertando com os ritmos e o repertório tradicional da música popular pernambucana. E, para fechar a história, o CD foi prensado em formato SMD, que barateia os custos sem perdas de qualidade. O resultado: é vendido (BH) a 5 reais, como a capa comprova.
Serestando
João Macacão tocou com lendas como Silvio Caldas, Orlando Silva e Paulo Vanzolini. Aos 68 anos, grava o primeiro disco solo, com clássicos da música popular.
Cancioneiro
Os poemas de Fernando Pessoa recebem melodia de Jardel Caetano, em ritmos como acalanto e quadrilha. Entre os intérpretes, Antônio Nóbrega.
Coisas sem Grito
O compositor Henrique Vilar apresenta um álbum popular, mas sofisticado. Destaque para Do Tatuapé, do Tucuruvi, sobre o samba paulista.
32
O almanaque dos Almanaques Dez anos de revista, com uma edição por mês, significam 120 almanaques. Mais de 4 mil páginas. Como tudo isso não caberia num só livro – a não ser que fosse uma parruda enciclopédia – o jeito foi fazer uma seleção de alguns dos melhores momentos do ALMANAQUE. Nas 256 páginas de Almanaque Brasil – Todo dia é dia, cada capítulo aborda um mês da história cultural do País. Bem ao modo do ALMANAQUE – divertido, leve, despretensioso – vão desfilando personagens, causos, episódios cômicos, personalidades inesquecíveis. E para checar se este “vulgarizador da memória nacional” fez efeito, um grande Brasiliômetro promete averiguar a quantas www.almanaquebrasil.com.br
anda o nível de brasilidade dos leitores. A publicação faz parte da série de almanaques publicada pela Ediouro, como o Almanaque do Rock, Almanaque da TV, Almanaque Anos 80, Almanaque da Jovem Guarda. O formato e o projeto gráfico são diferentes do da revista, mas a vocação é a mesma: divertir e informar ao mesmo tempo. E espalhar razões de orgulho. “E hão de chover almanaques. O Tempo os imprime, Esperança os edita; é toda a oficina da vida”, saúda Machado de Assis logo no pri(NP) meiro capítulo. Ediouro, 256 p., R$ 54
Seis de Março Paulo Santos de Oliveira Com um romance em primeiro plano, o livro conta a história da Revolução Pernambucana de 1817 para o público de 10 a 16 anos. Comunigraf, 36 p., R$ 19
Curupiras, Sacis... Fábio Sombra Um inventário ilustrado das criaturas fantásticas brasileiras, de fadas amazônicas a seres assustadores. Rocco, 104 p., R$ 45
Nhozinho: Imensas miudezas
Com organização de Heloísa Alves e Alice Cavalcante, o livro traz obras, biografia e ensaios sobre o artesão maranhense que, apesar da privação dos movimentos, nunca abandonou sua arte. Sábios Projetos, Arco Arquitetura e Secretaria da Cultura do Maranhão, 124 p., R$ 30
Bendito ladrão O homem conversava com um amigo na mesa do bar: – Ontem meu cartão de crédito foi roubado, mas decidi não avisar a polícia. – Por quê? – pergunta o amigo. – O ladrão está gastando bem menos do que a minha mulher.
Locutor gago? O sujeito resolve se inscrever num concurso de locutores de rádio. – Qual o seu nome? – Jo-jo-jo-ão da Si-si-si-silva. – Ora, meu senhor! Como quer ser locutor se você é gago? – Não, gago era o meu pai. E o idiota do escrivão me registrou com esse nome!
34
Sinceridade infantil A tia vira-se para a Mariazinha e pergunta: – O que você vai fazer quando for grandona como a titia? – Um regime!
Causos de
Rolando Boldrin
Caipira não se aperta O cumpadi Juvêncio foi pra capitá. Na hora da boia, entrou no restaurante e, pra num fazer feio, sentou ao lado de um cidadão. Tudo o que ele pedia, o cumpadi pedia igual. A história se desenrolou assim: Cidadão – Ô garçom, me traga um bife a cavalo. Cumpadi – Um pra mim tomêm. Garçom (estranhando) – Os senhores estão juntos? Cidadão – Não, não estamos juntos. Aliás, nem conheço esse capiau aí! Cumpadi (seguro de si) – Nóis num tâmo junto, mas eu quero um bife-de-cavalo tomêm, uai. Cidadão (ainda para o garçom) – Aproveite e traga-me um arroz bem soltinho. Cumpadi – Dois. Um arroz pra mim tomêm. Daí seguiu-se essa lengalenga. Isso pra irritação do tal cidadão, que foi ficando vermelho. Cidadão – Traga-me uma água gelada. Cumpadi – Duas. Cidadão – Um cafezinho pra arrematar. Cumpadi – Dois. Um pra mim tomêm. Cidadão – A conta. Cumpadi – Duas. Pra mim tomêm (Ainda bem, pensou o cidadão). Aí o tal cidadão, ao olhar para os próprios pés, notou que os sapatos estavam precisando de uma boa graxa. Cidadão – Garçom! Traga-me um engraxate. Cumpadi (no ato) – Um pra mim tomêm! Cidadão – Peraí, ô capiau. Um engraxate pra nós dois é suficiente. Cumpadi (na lógica matuta dele) – O sinhô num tem nada cum isso. Eu como um, o sinhô come o ôtro, uai. Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001).
ponto final
Na escola O Joãozinho vai reclamar pra professora: – Ô fessora, acho que não mereço zero! – Eu também acho, Joãozinho, mas foi a menor nota que encontrei.
Culpa do café? O sujeito há anos sofria de um mal singular. Era só tomar um gole de café que sentia uma forte pontada no olho esquerdo. Não havia remédio que curasse. Até que um dia resolveu procurar o médico. Ao explicar o problema, o médico pediu para ele tomar café. E assim fez várias vezes, e as pontadas no olho esquerdo não cessavam. No fim do exame, o rapaz choramingou: – Pelo amor de Deus, doutor, meu problema tem solução? – Tem sim, Manoel. É só tirar a colherzinha de dentro da xícara...