Almanaque Brasil 113 - Setembro de 2008

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Meu mestre de vida e obra

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embrar e agradecer quem me ajudou ao longo da vida é o exercício que faço regularmente neste espaço. Ele serve para preservar a minha memória, que em muitos casos se confunde com a história e a memória brasileira do meu tempo. Alguns personagens importantes em minha vida são também grandes personagens da história recente do Brasil. Um deles é Pedro Paulo Popovic, diretor editorial da Abril Cultural nos anos 1970, quando eu iniciava minha carreira no jornalismo e nas artes gráficas. Foi ele quem, depois de uma decepcionante aventura fazendo o projeto gráfico da revista Placar, me acolheu de volta na Abril Cultural para que eu fizesse a direção de arte da antológica coleção História da Música Popular Brasileira. Graças a ela, tornei-me em pouquíssimo tempo o mais requisitado capista da nossa música. Devo a ele tantas outras oportunidades, mas foram os seus ensinamentos o mais precioso patrimônio que herdei dele. De um nunca arredei pé: só vale mesmo desenhar o que o meu coração mandar. Jamais troquei qualquer trabalho apenas por dinheiro. Tudo o que me foi oferecido que violasse o código de conduta que me ensinou Pedro Paulo declinei. Com o tempo, mereci o direito de chamá-lo apenas de PPP. E com ele dividi por alguns anos um sobrado na zona oeste de São Paulo, onde funcionava a sua editora e o meu estúdio. Foram anos felizes e de intenso trabalho. Recentemente o encontrei na Sala São Paulo, durante o velório de dona Ruth Cardoso, de quem ele era amigo íntimo. Para a minha alegria, PPP apresentou-me a seus amigos como um velho colaborador e mestre. Encabulado, contei aos presentes a verdade: quase tudo o que pude realizar nestes 40 anos de profissão devo à sua generosidade. Ele que, lá no começo de tudo, quando nem mesmo eu acreditava ser o que ele dizia, reafirmava sua crença em meu trabalho e caráter. Saiba que você é o culpado pelo que sou hoje, amigo querido. A você, mestre de vida e obra, a minha gratidão e carinho. Elifas Andreato

A R M A Z É M DA M E M Ó R I A N AC I O N A L Diretor editorial Elifas Andreato Diretor executivo Bento Huzak Andreato Editor João Rocha Rodrigues Editor de arte Dennis Vecchione Editora de imagens Laura Huzak Andreato Editor contribuinte Mylton Severiano Redatores Bruno Hoffmann, Clara Caldeira e Nara Soares Revisor Lucas Carrasco Assistentes de arte Guilherme Resende e Paula Chiuratto Assistente administrativa Eliana Freitas Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas Advogados Jornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP) Impressão Posigraf

Presidente Cmte. David Barioni Neto Diretora de Marketing Manoela Amaro Mugnaini Diretor de Assuntos Corporativos Marcelo Xavier de

Mendonça

O ALMANAQUE é uma publicação da Andreato Comunicação & Cultura, distribuída nos vôos da TAM e por assinatura.

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Capa: Adaptação de O Artista, de Elifas Andreato,

O que se estriba em sua vontade firme forja o mundo a seu gosto.

tela produzida para o livro Metanóia, de Roberto Adami Tranjan (Andreato, 2006).

Goethe (1749-1832), escritor alemão.

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ILUSTRAÇÕES PAULA CHIURATTO

SOLUÇÃO NA P. 32

pesar de ter nascido no Rio de Janeiro, o personagem desta Carta Enigmática cresceu em Maceió. Por isso, considerava-se alagoano legítimo. Tornou-se ator contrariando a vontade do pai: “No dia em que você subir num palco, saio da platéia e te arranco de lá pela gola”. Mas a contensão durou somente até a morte do velho. Aos 20 anos, mudou-se para a capital fluminense, onde dormiu na rua e passou fome. Foi então que entrou para o corpo cênico do Teatro Ginástico Português, companhia de maior prestígio na época. Seu nome de batismo não era muito adequado à vida de ator: Pelópidas; que muitas vezes virava Petrópolis ou, para seu desespero, Envelope. Decidiu Então adotar outro nome, com o qual se tornou conhecido por todo o Brasil nas ondas da Rádio Nacional.

Fez um pouco de tudo: apresentou programas, brilhou em radionovelas e descambou para a comédia, assumindo o impagável Primo Rico, no humorístico Balança mas não Cai. Depois do surgimento da tevê, nos anos 1950, transportou-o para as telinhas e viveu incontáveis personagens de novela, como Tucão, em Bandeira 2, e o prefeito Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado. No cinema, teve atuação restrita, mas participou de clássicos do Cinema Novo, como Terra em Transe, de Glauber Rocha. Achava a sétima arte complicada demais: “É coisa de chinês”, dizia. Morreu no Rio de Janeiro, em 4 de setembro de 1995, aos 84 anos. Além de filho e neto atores, deixou um legado para muitas gerações de companheiros de telas e palcos. (CC)

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A foto ao lado registra um encontro inusitado: Villa-Lobos, Audrey Hepburn e um simpático cachorrinho cujo nome não entrou para a história. Foi feita em 1958, nos estúdios da MGM. O maestro acabava de concluir a trilha de A Flor que não Morreu, filme para o qual a diva hollywoodiasó aproveitou algumas das composições de Villa-Lobos, que acabou fazendo da obra completa uma espécie de poema sinfônico: Floresta Amazônica. Foi uma das últimas composições do maestro, que morreu em 1959, ano de estréia do filme.

REPRODUÇÃO/AB

na emprestava sua beleza. Apesar da amistosidade, o clima não estava muito bom. O estúdio

Setembro 2008


7/9/1944

7/9/1904

INAUGURAÇÃO DA AVENIDA GETÚLIO VARGAS, HOJE PRESIDENTE VARGAS, EM RAZÃO DO 122º ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA.

INAUGURAÇÃO DA AVENIDA CENTRAL DO RIO DE JANEIRO, FUTURA RIO BRANCO, EM RAZÃO DO 82º ANIVERSÁRIO DA INDEPENDÊNCIA.

Nascido em 26 de setembro de 1969, o dono desse par de olhos azuis é formado em comunicação social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing. Participou de diversos grupos de teatro paulistanos como ator e diretor. Seu primeiro longa de grande circulação foi Cronicamente Inviável, mas ficou conhecido mesmo com a polêmica causada por seu personagem na novela Mulheres Apaixonadas, da Rede Globo. (CC) Confira a resposta na página 32.

É PROIBIDO PROIBIR

Platéia indignada vaia guitarras e enlouquece Caetano

CONTRARIANDO O INIMIGO

Hipótese incerta de Castelinho vira destino certo de Brizola

ARQUIVO/AE

U. DELTMAR/FOLHA IMAGEM

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CAETANO NO 3º FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO.

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companhado pelos Mutantes, Caetano Veloso defenderia a música É Proibido Proibir no 3o Festival Internacional da Canção, em 15 de setembro de 1968, há 40 anos. Ao subir no palco, porém, recebeu uma das mais intensas vaias da história dos festivais. A platéia não queria saber de guitarras elétricas, consideradas um símbolo do imperialismo cultural norte-americano. Além dos apupos, ovos e tomates, o público virou-se de costas para o palco. Os Mutantes não tiveram dúvidas. Empunhando o objeto da discórdia, viraram-se também contra a platéia. Enquanto isso, Caetano disparava um furioso discurso de quase três minutos: “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?”; “Vocês estão querendo policiar a Música brasileira!”; “Se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos!”. E, sob as vaias que não findavam, cantou o refrão da música que (BH) defendia: É proibido proibir! SAIBA MAIS Ouça o discurso de Caetano em http://tropicalia.uol.com.br

BRIZOLA VOLTA DO EXÍLIO, EM 1979.

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esde o golpe de 1964, o ex-governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola vivia em exílio no Uruguai. Diante de mudanças políticas, foi obrigado a partir de lá após 13 anos. Acabou escolhendo os Estados Unidos. Enquanto morava provisoriamente num hotel novaiorquino, seguia sem saber que caminho tomar. Até que, no saguão do hotel, abriu o Jornal do Brasil, edição de 25 de setembro de 1977. Foi direto para a Coluna do Castello: “Brizola dificilmente deixará os Estados Unidos de hoje para se dirigir a Portugal, a não ser em viagem de agradecimento”, assegurava seu incansável crítico, o jornalista Carlos Castello Branco, o Castelinho. Dito e feito. O que era hipótese improvável virou destino certo para Brizola, que em Lisboa manteve contato com os futuros chefes de Estado Mário Soares (Portugal) e Mitterrand (França). De volta ao Brasil, assumiu o governo do Rio em 1982, e disputou a primeira (Lucas Carrasco) eleição direta para presidente em 29 anos. SAIBA MAIS Leia todas as colunas de Castelinho, de 1963 a 1993, em www.carloscastellobranco.com.br

“LEMBRE-SE DE QUE OS VENCEDORES FAZEM AQUILO QUE OS PERDEDORES NÃO QUEREM FAZER.”

H. Jackson Brown Jr.


HERANÇA MALDITA

BORGOMAINEIRO/REVISTA VIDA FLUMINENSE

Portugal permitiu a Independência, mas mandou a fatura O

CHARGE DA ÉPOCA

s portugueses mal tinham consentido a Independência brasileira e já mandavam uma conta salgada, destinada a compensar os prejuízos sofridos no período colonial. Para liquidar a fatura, só mesmo recorrendo a um empréstimo. Assim, em 7 de setembro de 1824, teve início a dívida externa brasileira: 3 milhões de libras esterlinas tomadas da Inglaterra. Se o valor não fosse atualizado, equivaleria hoje a cerca de 9 milhões de reais. Pouco, diante dos quase 200 bilhões de dólares que temos de dé-

bito atualmente. Mas na época não era. E foi a partir dessa dívida que teve início uma sucessão infindável de penduras. A incidência de juros sobre juros e a manutenção dos vícios dos tempos de Colônia contribuíram para o enraizamento das práticas de empréstimo. Não foi à-toa que conquistamos o título de um dos países mais endividados do mundo. Em 2008, o Banco Central informou que o Brasil possui recursos para acabar com a dívida – não que vá liquidar a fatura. (Maria Fernanda)

SAIBA MAIS Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado (Companhia das Letras, 2007).

O EMPRÉSTIMO SAIU CARO

Mistérios Gozosos de Zé Celso foram parar na justiça 7

REPRODUÇÃO/AE

ANTÔNIO GAUDERIO/FOLHA IMAGEM

sangue e o corpo de Cristo bendo do que se tratava, exigiu o enrepresentados por uma baquadramento da trupe na lei. Em 22 nana e uma taça de chamde setembro de 1995, seis atores e panhe. Esse foi o motivo que levou o paZé Celso foram intimados a prestar dedre Oswaldo Baldan a mover um proclarações, sob a acusação de vilipencesso contra o diretor Zé Celso e seu diar objetos religiosos. grupo de teatro, o Oficina Uzyna Uzona, O grupo alegou inocência e ganhou o e solicitar seu enquadramento no artigo apoio de artistas, intelectuais e da mí208 do Código Penal, que trata de ofendia. Em fevereiro de 1997, o juiz resA COMEMORAÇÃO APÓSDA O ARQUIVAMENTO PROCESSO. OS PAVILHÕES EXPOSIÇÃO, EMDO 1908. sas a cultos e objetos religiosos. ponsável pelo caso rejeitou a acusação Em 1995, Zé Celso levou a Araraquara, sua cidade natal, a peça e arquivou o processo. Em comemoração, os atores deixaram o fóMistérios Gozosos, adaptação do poema O Santeiro do Mangue, rum dançando e cantando: Yes, nós temos bananas! / Banana pra de Oswald de Andrade. Como faltavam objetos de cena, o padre dar e vender. “É mais do que liberdade de expressão. Essa vitória da paróquia São Bento emprestou de boa vontade objetos de culto deve ser transformada em materialização de sonhos dos artistas”, como turíbulo, terços e imagens. Certamente não conhecia a fama declarou Zé Celso. do grupo de Zé Celso, nem o conteúdo do poema de Oswald: uma Mas quem pensa que acabou por aí se engana. Insatisfeito com o arsátira à moral cristã. quivamento do processo, o promotor levou o caso adiante. Cinco anos O padre não compareceu à representação, mas quando ficou samais tarde Zé Celso e o Oficina foram finalmente absolvidos. (NS) SAIBA MAIS Site do grupo de Zé Celso: http://teatroficina.com.br

O R I G E M DA E X P R E S S ÃO

Dar uma canja A expressão teria surgido durante a década de 1960, no Clube dos Amigos do Jazz (Camja), em São Paulo. Ainda que não estivesse com seu instrumento, quem passava por lá tinha a chance de pegar um emprestado e participar da apresentação. No Camja havia sempre baixos, guitarras e bateria à disposição. A expressão acabou pegando entre os músicos.

Setembro 2008


S E T EMB R O 1 dia nacional da imprensa SOB ENCOMENDA

ACERVO MUSEU DA REPÚBLICA/REPRODUÇÃO FUNDAJ

Fotógrafo foi em busca da “verdade inteira” de Canudos

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anudos, 1897. O front das opede Machado, os militares trataram rações de guerra era o sertão de arregaçar as mangas para probaiano de Belo Monte, onduzir, eles próprios, as “feições” de de quatro anos antes foi construíConselheiro que lhes eram conveda uma cidade que se tornara palnientes. Se a “verdade inteira” viria co de resistência contra o goverà tona graças à alquimia de fixação no federal. Para botar tudo abaixo, de imagens num meio sensível à luz, AUGUSTO FLÁVIO DE BARROS: ÚNICAS IMAGENS DO CONFLITO. fora convocado até o ministro da foi enviado para o front o fotógrafo Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt. Mas a luta ganhaAugusto Flávio de Barros. Marchou ao lado do general Carlos Eugênio va contornos turvos. Já era a quinta investida do governo contra de Andrade Guimarães e de suas tropas. Partiram da Bahia em agosto, Canudos, que resistia. passaram no início de setembro por Queimadas, a mais de 100 quilôEmbora a cobertura da imprensa não fosse das mais completas, oumetros de Canudos, e por Cansanção. Chegaram ao sertão de Monte via-se falar da resistência e do carisma de Antônio Conselheiro até na Santo em 26 de setembro de 1897. Europa e nos Estados Unidos. Era também contra essa imagem que o Graças ao trabalho de Flávio, foram imortalizadas cenas desse imporExército brasileiro precisava lutar. Para isso, valia-se dos mais variatante episódio na história do País. As cerca de 70 fotografias são o dos expedientes, como sua influência sobre os canais de notícia e até o único registro visual da guerra – embora as descrições de Euclides da rastreamento de mensagens telegráficas. Cunha sobre o conflito sejam tão ricas que se aproximem da fotografia. Em janeiro Daquele ano, na Gazeta de Notícias, Machado de Assis Entre as imagens de Flávio, destacam-se o corpo exumado de Antônio condenava “a perseguição que se está fazendo à gente de Antônio Conselheiro, a destruição da Igreja Nova, a captura de conselheiristas Conselheiro”, e considerava que um “repórter paciente e sagaz, meio e o ataque final da artilharia. fotógrafo ou desenhista, para trazer as feições do Conselheiro e dos O fotógrafo ficou por lá até o último clique de canhão. As verdades que principais subchefes, podia ir ao centro da seita nova e colher a verdaregistrou foram reveladas em negativos de vidro sobre papel albumide inteira sobre ela”. nado. Mais de um século depois, em 2002, as fotografias passaram por (LC) Antes que qualquer órgão de imprensa acolhesse a recomendação um processo de recuperação digital. SAIBA MAIS Cadernos de Fotografia Brasileira dedicados a Canudos (IMS, 2002). (RC)

setembro também tem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Dia do Caixeiro Viajante Dia do Florista Dia Nacional do Biólogo Dia do Serventuário Dia da Defesa da Amazônia Dia do Cabeleireiro Dia da Independência do Brasil Dia Internacional da Literatura Dia do Administrador de Empresas Dia do Gordo

11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Dia Estadual do Combate à Aids (SP) Dia Nacional da Seresta Dia Mundial do Agrônomo Dia do Guarda Civil Metropolitano Dia do Musicoterapeuta Dia Internacional da Camada de Ozônio Dia Municipal da Costureira (SP) Dia dos Símbolos Nacionais Dia Nacional do Teatro Dia do Coletor de Lixo

21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Dia da Defesa da Flora Dia da Banana Dia da Internet Dia do Coração Dia da Tia Solteirona Dia do Policial Dia da Música Popular Brasileira Dia Nacional da Liberdade de Expressão Dia Mundial do Petróleo Dia do Churrasqueiro


2 dia da brasilidade NEURÓPOLIS

17 músicos de rua juntam sons e criam novo território

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REPRODUÇÃO/AB

magine juntar gente de todos os canNo CD resultante do projeto é possível outos e misturar ritmos legitimamente vir sambas acompanhados por harpas brasileiros com sons do Japão, Boparaguaias e forrós balanceados ao som lívia e Paraguai. Difícil? Não numa cidade guitaróns, uma espécie de contrabaixo de como São Paulo, que abriga os mais mexicano. Sem falar dos emboladores e variados sotaques e línguas. Foi a partir repentistas improvisando sobre a batida dessa proposta que o músico, maestro e do koto, instrumento de tradição japonesa. INTEGRANTES DA ORQUESTRA DOS MÚSICOS DAS RUAS. compositor Livio Tragtenberg reuniu artistas A cidade que recebeu todos eles não popopulares que tocam nas ruas, praças e deria deixar de ser homenageada: Toda estações da cidade para formar a Neurópolis – Orquestra dos Músicos mistura de raça aqui em São Paulo tem / Em qualquer hora do dia é o das Ruas de São Paulo. maior vai-e-vem / São Paulo é a capital que não pára de crescer / Vem O resultado é uma diverSidade enorme, fruto da bagagem de cada gente de todo canto para em São Paulo viver. um dos 17 integrantes. “Esses músicos são como nervos do corpo Com humor e suingue, a orquestra combina as diferentes fontes e humano, estão ocultos, mas por eles transitam alma e sensações nerraízes que formam nosso mosaico musical. Junta temperos dos luvosas”, diz Livio. Por isso a escolha do nome, da união de neuro e gares mais remotos e faz da desterritorializada Neurópolis mais um polis: cidade dos nervos. pontinho no mapa do Brasil. (NS) 9

SAIBA MAIS CD Neurópolis (Selo Sesc-SP, 2007).

10 dia nacional do jornalismo TAMANHO NÃO É DOCUMENTO

Grande Vossa Senhoria : o menor jornal do mundo

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LAURA HA

microjornal não era o menor do mundo. nformação não ocupa espaço. Pensando Com os brios feridos, em 1998 ela encolheu nisso, o jornalista Leônidas Schwindt criou ainda mais o Vossa Senhoria, que passou a em 1935, na cidade de Goiás, o jornal medir 3,5 cm por 2,5 cm, menor do que uma Vossa Senhoria. Curioso era o tamanho: nove caixa de fósforos. Tudo sem perder a qualidade. centímetros de altura por seis de comprimento. Pelas minúsculas páginas desfilavam até artiUma vez por semana a publicação chegava às gos e poemas de Adélia Prado, a mais ilustre bancas de Goiás, até o fundador mudar-se pahabitante de Divinópolis. ra Minas Gerais e transferir para lá o periódico. O jornalzinho mineiro ganhou assinantes na Até 1956, o jornalzinho circulava pela capital Europa e Estados Unidos. Atingiu a tiragem de e interior trazendo as boas novas do Brasil. 50 mil exemplares. Em março de 2000, veio o Ganhou fama, credibilidade e um pouquinho certificado do Livro dos Recordes, reconhecenmais de papel. Entre as montanhas de Minas, O PERIÓDICO, EM TAMANHO REAL. do-o como o menor jornal do mundo. Dolores chegou a medir 10 centímetros. faleceu após a conquista do título. Quem coordena o informativo hoje Com a morte de Leônidas, a filha Dolores assumiu o ofício. E a é a irmã dela, Dulce – orgulhosa do pequenino jornal, o grande feito redação mudou para Divinópolis, a 120 quilômetros de Belo Hode uma família. rizonte. Foi Dolores quem fez a descoberta: apesar do esforço, o (Laís Mota) SAIBA MAIS Site do jornalzinho: www.vossasenhoria.com.br Setembro 2008


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dia do árbitro esportivo PRIMEIROS SEM SEGUNDO

Árbitro se embanana e proclama dois campeões

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ARQUIVO/AE

inal do Campeonato Paulisda Lusa, falharam. Depois, Carlos Alta de 1973: Santos X Portuberto marcou, e Calegari errou novaguesa. Estádio do Morummente. Na seqüência, Edu estufou as bi, 116 mil pagantes. No tempo reguredes e Wilsinho mandou a bola na lamentar, a equipe da Vila Belmiro deu trave: Santos 2 a 0. Ainda havia chanshow. Vislumbrando que aquela seria ce de a Lusa empatar a série. Mas, paa última oportunidade de levar um cara espanto geral, Armando Marques neco pela equipe que o consagrou, Pese embananou nas contas e encerrou lé jogou como nos momentos áureos. a partida, dando o título para a equipe Driblou, correu, brigou, mandou boda Vila Belmiro. las na trave. Mas nada de gol. A valenEm vez de reclamar, o técnico da LuARMANDO MARQUES DÁ EXPLICAÇÕES DEPOIS DO JOGO. te Portuguesa se meteu lá atrás e consesa, Oto Glória, exigiu que seus jogaguiu segurar o afã do adversário. A prorrogação também terminou com dores fossem para o vestiário. E de lá para o ônibus. A virada, afinal, placar inalterado. A decisão foi para os pênaltis. E aí aconteceu uma das era improvável. Ao perceber o erro, o árbitro desceu ao vestiário para mais célebres trapalhadas do futebol brasileiro. O protagonista? Armanpedir que o time voltasse para o gramado, mas já não havia mais nindo Marques, considerado o melhor árbitro do País. guém. Sem saída, a Federação Paulista de Futebol teve que declarar Na primeira rodada de cobranças, Zé Carlos, do SanTos, e Isidoro, ambas as equipes campeãs. (BH) SAIBA MAIS Assista aos melhores momentos da final pelo Youtube (www.youtube.com) com cenas e narração do Canal 100. Busque pelos termos “Santos”, “Portuguesa” e “1973”.

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dia da América Latina TEM ATÉ QUE TIRAR VISTO

Do Oiapoque à Europa, é só atravessar o rio

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JOSÉ PATRÍCIO/AE

São 200 mil ao todo, e estima-se que uinze minutos de barco sepaaté 20% deles tenham vindo do Brasil. ram Brasil e França. O trajeto Muitos, porém, estão ilegais. Houve é feito em catraias que voam um tempo em que a imigração era inpelo rio Oiapoque, partindo da cidade de mesmo nome, localizacentivada, quando havia escassez de da no ponto mais extremo do Amapá, mão-de-obra. Supridas as necessidades, e chegando a São Jorge do Oiapoque hoje a Gendarmerie – polícia francesa DIVISA DO BRASIL COM A GUIANA FRANCESA. – ou Saint-George de L´Oyapock –, na – expulsa de garimpeiros a deputados, Guiana Francesa. como Manoel Mandi, do PV amapaense, que em fevereiro de 2008 O território tem status de departamento ultramarino. Na prátifoi “convidado” a voltar ao Oiapoque. ca, é um estado da França nas Américas: a moeda é o euro e a O interesse dos brasileiros pela outra margem do rio fez com que as língua oficial, o francês. A proximidade com o Brasil fez com regras para ingresso no País sejam severas, dificultando o turismo. que o idioma de Victor Hugo passasse a ser curricular nas escoPara entrar na Guiana é necessário visto consular e, para obtê-lo, o las públicas do Amapá. interessado precisa apresentar uma espécie de raio X da situação fiA vida na Guiana Francesa é privilegiada. Todos os benefícios oferenanceira: do holerite à cópia do imposto de renda completo, além de cidos aos membros da União Européia valem para seus habitantes. bilhetes aéreos, ida e volta. Mesmo que vá de catraia. (Mariana Albanese) SAIBA MAIS Amapá, Um norte para o Brasil, de Nilson Moulin (Cortez, 2000).


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dia internacional da limpeza

dia nacional do jornaleiro PEQUENO NERO

Garis tiram a poeira das antigas lições para mergulhar nas letras

Jornaleiro mirim botava fogo no Rio

LEITURA NAS HORAS VAGAS.

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O PEQUENO JORNALEIRO, DE FRITZ.

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e vassouras nas mãos, agilidade nos pés e uniforme alaranjado, os garis se espalham pelas ruas das cidades. São especialistas em limpar a sujeira deixada pelos outros. No centro da capital paulista eles se reúnem para o almoço ou a troca de turno no alojamento dos garis. Para aproveitar o movimento e dar oportunidade a esses homens e mulheres, a ONG Educa São Paulo instalou ali, há três anos, uma biblioteca comunitária. A sala novinha, recheada com quatro mil exemplares de livros, jornais e revistas logo chamou a atenção. Era só sobrar um tempinho entre uma faxina e outra que alguém aparecia para folhear um capítulo. Mas ficava só nisso: clássicos da literatura, romances, suspenses permaneciam nas prateleiras. Os organizadores da biblioteca perceberam que, apesar de muitos garis terem o Ensino Médio completo, alguns não conseguiam sequer ler as manchetes dos jornais. São os chamados analfabetos funcionais, aqueles que conhecem as letras mas não conseguem interpretar as frases. Foi então que a ONG fez uma parceria com a Puc de São Paulo. Os alunos da universidade tornaram-se professores voluntários. A biblioteca virou sala de aula com 120 garis matriculados, seduzidos pela idéia de tirar a poeira das antigas lições. A aula de reforço abriu o mundo da literatura para os servidores do centro. Os livros agora viajam pela cidade. Substituem as vassouras e limpam a mente de quem limpa São Paulo. (Laís Mota)

SAIBA MAIS ONG Educa São Paulo: (11) 3107-5470.

ADRYANA ALMEIDA/CPDOC JB

DIVULGAÇÃO/ONG EDUCA SÃO PAULO

VASSOURAS E LIVROS EM PUNHO

Extra! Extra! Um pavoroso incêndio no Rio”. O fogo, na verdade, mal havia chamuscado as paredes. O exagero era um dos recursos do menino José Bento, que vendia jornais no Rio de Janeiro no início do século passado – um personagem comum que acabou entrando para a história. Mereceu até a atenção do escritor Graciliano Ramos, em crônica de 1915: “É extraordinária a celeridade com que ele se transporta de um lugar para outro. Anuncia no Leme, na Tijuca, em Niterói, um jornal que a gente pensa ainda estar no prelo. (...) Fala sobre política, conhece o valor de nossos parlamentares, discute os principais episódios da conflagração européia, critica os atos do poder e emprega imoderadamente esses vistosos adjetivos que figuram nos cabeçalhos dos artigos importantes para engodar o público incauto”. Tornou-se uma lenda. A tal ponto que, em 1933, foi inaugurada uma estátua de bronze em sua hoMenagem: O Pequeno Jornaleiro. Feita por Anício Mota, o Fritz, reproduzia o pestinha quase em tamanho natural. Ficou na esquina das ruas Miguel Couto e do Ouvidor durante décadas, com sua boca gigante e o jornal debaixo do braço. Os transeuntes quase conseguiam ouvir as notícias saídas da garganta de bronze. Em 2002, correu a notícia de que a estátua havia desaparecido. Comoção na cidade. Notas de jornal, diz-que-diz-que nas ruas. Millôr Fernandes escreveu até um artigo lamentando o ocorrido. Mas não passou de boato – ou quase isso. O Pequeno Jornaleiro não havia sido roubado. Fora transferido para a avenida Sete de (BH) Setembro, onde permanece até hoje. SAIBA MAIS Leia o texto integral de Graciliano Ramos na internet. Busque no Google (www.google.com) pelos termos “O pequeno jornaleiro” e “Graciliano Ramos”. Setembro 2008


PAULO VANZOLINI RONALDO FRAGA

FOTOS: MANOEL MARQUES

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Quando você se interessou por zoologia? Quando eu tinha uns 10 anos, meu pai me deu uma bicicleta. Um dia pedalei até o Instituto Butantan. Fiquei fascinado pelas cobras que, junto com os lagartos, vieram a ser os temas das minhas pesquisas por toda a vida. Ia três vezes por semana ao Butantan, religiosamente, só pra ver se chegava alguma cobra nova. E por que preferiu cursar medicina? O curso de zoologia, naquela época, era muito ruim na área de vertebrados. Um amigo do meu pai me deu a sugestão de cursar medicina para, depois, me especializar em zoologia. Dizia que, ao fazer as cadeiras básicas da medicina na USP, teria mais facilidades no doutorado em países como a Inglaterra ou os Estados Unidos. E foi o que aconteceu. Tornei-me doutor pela Universidade de Harvard sem ter que fazer um curso sequer, apenas com a tese. O período

Ele é reconhecido pela comunidade científica mundial. Títulos internacionais, livros traduzidos para várias línguas. Mas não foi a ciência que o tornou popular, e sim o samba. Vanzolini é o autor de Ronda. Para quem acha que se trata de uma música romântica – uma mulher à procura de um homem para declarar o seu amor –, ele esclarece: “O que ela quer é descarregar o pente no pilantra”. Sucesso semelhante foi Volta por Cima, que deu até origem à expressão. E Praça Clóvis, em que narra a história do sujeito que tem a carteira roubada – com 25 cruzeiros e o retrato da amada – mas julga que, para se ver livre de seu “atraso de vida”, saiu barato: Vinte e cinco francamente foi de graça.

Lek jeZW i[cWdW } \WYkbZWZ[" cWi dkc h_jce c[deh$ ;ijek Yec .* Wdei$ J[d^e Z_h[_je W jhWXWb^Wh cW_i Z[lW]Whp_d^e$

nos Estados Unidos, de 1949 a 1951, foi uma bela época. Os norte-americanos foram bons comigo como ninguém nunca foi. Quando você começou a trabalhar no Museu de Zoologia da USP? Em 1945, e me aposentei em 1993. Fui diretor do museu durante 30 anos. Depois da aposentadoria, continuei a freqüentá-lo para realizar pesquisas próprias. Ainda vou toda semana à faculdade, mas num ritmo Bem menor. Afinal, já estou com 84 anos. Tenho direito a trabalhar mais devagarzinho... E como passou a fazer música? Eu era estudante de medicina, mas não saía da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Estava quase toda noite no Centro Acadêmico XI de Agosto pra jogar snooker e fazer música. Alguns membros do


XI de Agosto faziam parte de uma caravana artística que percorria o interior. Tornei-me speaker desse pessoal. Era um grupo de música regional muito bom, mas a grande finalidade mesmo era tomar cerveja de graça pelo Estado todo. Era uma farra.

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É verdade que você nunca aprendeu música? Meu grande amigo Paulinho Nogueira sempre disse que eu não sabia a diferença de tom maior e tom menor. E não sei mesmo. Não sou capaz de tocar nem tamborim. Todas as minhas músicas foram feitas na cabeça. Depois, dava para algum violonista tocá-la. Sambas meus que têm co-autor é porque me atrapalhei com a melodia, entrei num beco sem saída e pedi pra algum amigo me salvar. Sempre tive ótimos parceiros, como o Eduardo Gudin, o Luiz Carlos Paraná e muitos outros. Todas pessoas da maior qualidade e grandes amigos. Só houve um que era sem-vergonha. Mas não quero falar quem é porque já estou muito velho pra ficar arrumando polêmica à-toa. A única coisa que exijo das pessoas é que sejam direitas. Aliás, é assim que divido a humanidade: pessoas direitas e não direitas. Nenhum dos meus 60 e poucos sambas tem a palavra “malandro”. Eu tenho raiva de malandragem.

Ronda foi o seu primeiro sucesso. Qual é a história da música? Compus Ronda em 1945, quando estava servindo o Exército. Às vezes, dava patrulha do meretrício e, sabe como é, sambista está sempre atrás de temas. Eu via aquelas mulheres indo de bar em bar, como quem procurasse algo. A música é uma piada, uma brincadeira. Vou iludindo o ouvinte, que pensa que é uma música romântica, de uma mulher que pretende encontrar o amado. Aí, no fim, o que ela quer mesmo é descarregar o pente no pilantra. Na verdade, não acho essa canção grande coisa. É meio piegas. Ela só foi gravada anos depois, não é? A gravação só veio em 1953, e foi quase sem querer. Eu e minha primeira mulher éramos muito amigos da Inezita Barroso. Um certo dia, ela foi ao R io gravar. Nós fomos junto, apenas para fazer companhia. Mas, na hora da gravação, ela percebeu que não havia nenhuma canção para o lado B. Era um sábado de manhã e não dava tempo pra pedir autorização a outro compositor, só a mim. Ela gravou muito bem. A Inezita é uma das maiores cantoras de samba de todos os tempos. Já vi o morro do Salgueiro chorar ao ouvir ela cantar músicas de Noel Rosa. Praça Clóvis também é dessa época. Qual foi a inspiração? Eu pegava o lotação na Praça Clóvis, na região central de São Paulo, pra ir ao museu. Às vezes, demorava 15, 20 minutos para o carro

lotar. Pra passar o tempo, eu me divertia vendo os batedores de carteira em serviço. A polícia pegava, dava a volta no quarteirão, soltava e dizia: “Vai trabalhar, vagabundo!”. Você nunca encarou a música como profissão? Nunca. Música para mim sempre foi um hobby, uma diversão entre amigos. Também nunca compus para gravar. O mercado de música era uma droga, muito sujo. O primeiro sambista profissional que conheci foi o Ismael Silva. Aí eu perguntava: “Essa música não é sua? Não foi você que fez?”, e ele respondia: “Eu fiz, mas vendi para o Francisco Alves. Então é dele”. Sambas maravilhosos eram vendidos por 20 mil réis, uma mixaria.

Você ganhou dinheiro com as suas composições? A única que rendeu muita grana foi Volta por Cima. Doei todo o dinheiro para que o Museu de Zoologia comprasse novos livros. Quando a Globo lançou a música Cuitelinho numa novela, também caiu algo na conta. O meu parceiro nessa canção, Antônio Xandó, já havia morrido. Procurei seu filho e entreguei a metade do valor depositado. Era a minha obrigação. Qual a importância do Jogral, bar que você freqüentava nos anos 1960? Lá era o grande ponto-de-encontro dos intelectuais e músicos. O dono era o grande compositor e amigo Luiz Carlos Paraná. Quando ele ia inaugurá-lo, sugeri: “Faça do Jogral um bar diferente. Não ponha microfone”. O bar era pequeno, e o cantor se sentava às mesas e perguntava às pessoas o que queriam ouvir. Foi um bruto sucesso. Lá foram lançados Jorge Ben, Martinho da Vila, Trio Mocotó... Aliás, o nome do trio surgiu lá. Jorge Ben era vidrado numa mulher bem gorda que freqüentava o bar. Sempre que a moça aparecia, ele gritava: “Olha o mocotó da mulher!”. Você e Adoniran Barbosa são considerados os dois mais importantes sambistas de São Paulo. Havia rivalidade? Ele era muito meu amigo. Um dia fizeram a mesma pergunta para ele, que respondeu: “Não há rivalidade... O Paulo é erudito e eu sou pitoresco”. Sempre tomávamos uma cachacinha juntos. Ele só teve um problema sério na vida: metade do Adoniran se chamava Osvaldo Moles, que era produtor da Rádio Record. Um dos primeiros sambas do Adoniran, Tiro ao Álvaro, não é dele, mas do Moles, que deu pra ele gravar. Ele inventou um personagem para um programa de rádio, chamado Charutinho, em que Adoniran era o protagonista. Só que Adoniran se tornou Charutinho por toda a vida. O personagem entrou de tal forma nele que, muitas vezes, Adoniran não sabia mais quem era o personagem e quem era ele de verdade.

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Você também tinha uma relação próxima com a família Buarque de Holanda, não? Sim. O Sérgio Buarque de Holanda era diretor do Museu do Ipiranga, e éramos grandes amigos. Estava quase toda noite na casa deles. Adorava o Serjão e toda a família. O Chico sentou muito neste colo... Desde pequeno ele era um menino fabuloso e superinteligente. Um dia me mostrou uma música que havia acabado de compor. Era Pedro Pedreiro. Fiquei impressionado como aquela canção era perfeita. Chico é a única unanimidade que existe no Brasil. Pode-se discutir a respeito de qualquer pessoa, menos dele. A partir do Serjão, também conheci outras grandes personalidades, como Vinicius de Moraes, uma das melhores pessoas que encontrei na vida. Só tinha o defeito de fazer samba nas coxas, de uma noite pra outra, quase só com a emoção. Em geral, o resultado era ruim. Vinicius foi um dos maiores poetas da língua portuguesa, mas um péssimo sambista. Fazer samba é trabalho mais intelectual do que emocional? Claro. Apenas com emoção não dá certo. Escrever letra dá um trabalhão. Tem que ser bem produzida, escolher as palavras perfeitas. Conhece coisa mais inteligente que os sambas de Noel Rosa?

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Quando saiu o primeiro disco exclusivamente com as suas músicas? No começo dos anos 1970. O publicitário Marcus Pereira atendia a um banco que queria dar algum brinde aos clientes no Natal. Aí me convenceu a gravar Onze Sambas e uma Capoeira. Alguns anos depois, gravei o único em que canto, Paulo Vanzolini por Ele Mesmo. O disco foi feito de cabeça pra baixo. Cantei sem acompanhamento, porque o violão me atrapalha. A música foi posta depois. Seu último trabalho artístico foi Acerto de Contas, lançado em 2003, certo? É uma caixa com quase toda a sua obra... Tivemos total liberdade da gravadora, tanto para a escolha das músicas quanto para a dos intérpretes. O resultado final ficou exatamente como desejei. Além disso, há o crédito de todos os músicos participantes. O que é o mínimo, né? Muitos discos por aí não põem quem tocou o violão, o pandeiro... É um absurdo. Este ano você se apresentou em São Paulo. Foi uma loucura, não? Foi na Virada Cultural. Enchemos o Teatro Municipal. Havia uma fila que virava o quarteirão. É bonito, né? Eu adoro meu público. Quando faço shows menores, é a mesma coisa. Sempre aparecem ex-funcionários do museu: “Vai lá, doutor Paulo!”. Pra essa turma, mesmo no palco, ainda sou o doutor Paulo. É bem divertido.

E o samba de uns tempos pra cá? Dos atuais, os melhores são Chico e Paulinho da Viola. O Zeca Pagodinho também me agrada muito. Ele é um malandro do bem. Tenho certeza que é um ótimo pai de família... Mas conheço pouco outros nomes mais recentes. Ouço muito samba em botequins, e posso dizer que anda se fazendo música de alta qualidade. Quais cantoras você gosta de ouvir cantar as suas músicas? Tem várias. A minha mulher (Ana Bernardo), a Inês, a Claudia Morena, a Márcia, a Maria Marta, a Inezita, a Cristina Buarque. Além do Chico, do Eduardo Gudin... Há um monte de cantores de primeira que já gravaram minhas canções. Há um jeito apropriado de interpretar as suas obras? Eu sou absolutamente contra cantores excessivos, cheios de emoção e firulas. Meus sambas já têm muita emoção na letra. Se meter mais, lambuza tudo, fica uma coisa piegas. Sempre digo que se deve cantá-los com cara-de-pau. Mas nunca interfiro. Sou a favor do cantor ter total liberdade. Por exemplo, todo mundo canta um dos versos de Ronda errado. O certo é “Porém, com perfeita paciência / Sigo a te buscar”. Todos cantam “Porém, com perfeita paciência / Volto a te buscar”. Alguém errou e, desde então, só se canta a música dessa forma.

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Nunca houve preconceito no meio científico por você fazer música? Nada disso. Eles sempre acharam engraçadíssimo, tinham orgulho. E o mais divertido é que, para o público, tanto a música quanto a profissão quase se fundiram. Outro dia saiu um artigo científico meu num jornal de São Paulo. No crédito, estava desta maneira: “Paulo Vanzolini, zoólogo e sambista”. Agora sou sambista mesmo quando falo de ciência! Você pretende continuar fazendo shows? Sim, sempre que chamarem. É gostoso, mas faço principalmente pelos músicos que me acompanham. Em geral, ganha-se pouquíssimo em apresentações em bares e restaurantes. O pagamento é quase em cerveja e pizza. Fico revoltado com essa situação. Nos meus shows exijo que todos recebam com dignidade. E as composições? Ainda estão saindo? Não mais. Meu último samba foi Quando Eu For, Eu Vou sem Pena. Um belo dia, já quase com 80 anos, perdi totalmente a vontade de compor. Não haverá mais músicas minhas. Quem viu, viu. Fiz mais de 60 sambas. Já tá bom demais.



Enigma Figurado

LIGUE OS PONTOS

ste mineiro nasceu em Diamantina a 12 de setembro de 1902. Em 1914, entrou para o seminário, que abandonou aos 15 anos ao concluir o curso de humanidades. Para pagar os estudos na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, tornou-se telegrafista. Depois, foi nomeado para integrar o corpo de médicos do Hospital Militar. Mas a escolha do povo definiu que deveria seguir outros rumos. Arrisca dizer quem é? (CC)

R.:

(primeiro nome)

REPRODUÇÃO/AB

E

1

a Primeira bandeira republicana do Brasil, foi concebida por Rui Barbosa, inspirado nos ideais norte-americanos.

2

b A idéia veio de um grupo de positivistas. O pintor Décio Vilares e o militar Benjamin Constant colaboraram.

3

c Foi a primeira bandeira do Brasil, quando ainda éramos um principado do reino que incluía Portugal e Algarves.

4

d Desenhada por Jean-Baptiste Debret, foi adotada depois da Independência. Surge, enfim, o verde e o amArelo.

O Calculista das Arábias

ACERVO DA FAMÍLIA

Nossa homenagem a Júlio César de Mello e Souza, o Malba Tahan

Em visita à residência do jovem visir Ibrahim Maluf, o sábio Beremiz Samir foi instado a demonstrar suas habilidades. Maluf enunciou: “Eis a partida de camelos que enviarei ao pai de minha noiva. Sei precisamente quantos são. Quero agora que você, Beremiz, diga quantos camelos se acham no pátio diante de nós”. Os camelos eram numerosos e agitavam-se de um lado para o outro. Para facilitar a tarefa, o visir informou: “Somando as patas e orelhas dos camelos obtemos um total de 1.541. E um dos animais tem apenas uma orelha”. O Homem que Calculava nem titubeou. Mal o visir terminou de falar, já emendou a resposta. E você? Seria capaz de dizer quantos camelos estavam no pátio?

BRASILIÔMETRO TESTE O NÍVEL DE SUA BRASILIDADE 1 Sobrenome de importante chefe de Estado que visitou o Brasil em 1/9/1947? (a) Reagan (b) Marshall (c) Truman (d) Bolívar 2 Lei que, em 4/9/1850, proibiu o tráfico de escravos: (a) do Sexagenário (b) Eusébio de Queirós (c) do Ventre Livre (d) Áurea 3 Presidente que criou nossa primeira universidade (em 7/9/1920)? (a) Epitácio Pessoa (b) Jânio Quadros (c) Nilo Peçanha (d) Afonso Penna

PALAVRAS CRUZADAS

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4 Compositores brasileiros agraciados com a Ordem do Mérito Nacional em 7/9/1955: (a) Erasmo e Roberto (b) Noel Rosa e Vadico (c) Gil e Tom (d) Ary Barroso e Villa-Lobos 5 Material que contaminou Goiânia em 13/9/1987: (a) Urânio (b) Tório (c) Cobalto (d) Césio 6 Maior reserva florestal do Brasil (criada em 24/9/1980), na Amazônia: (a) Parque do Caparaó (b) Floresta da Tijuca (c) Parque Nacional do Jaú (d) Floresta do Jacu 7 Combustível do primeiro lampião do Rio de Janeiro (instalado em 19/9/1710): (a) Óleo de baleia (b) Azeite de peixe (c) Querosene (d) Álcool 8 Embarcação em que Amyr Klink chegou ao Brasil (em 11/9/1984), depois de cruzar o Atlântico: (a) Remo (b) Veleiro (c) Bote (d) Transatlântico Respostas na p. 32 AVALIAÇÃO – Conte um ponto por resposta certa: 0 a 2 - Brasilidade na reserva 3 a 4 - Meio tanque 5 a 8 - Tanque cheio

“EU SEMPRE ME PREPARO PARA O FRACASSO E ACABO SURPREENDIDO PELO SUCESSO.”

Steven Spielberg


Diversão para pequenos

I L U S T R AC Õ ES

TA S S O

E nada de dragões.

dência ali mesmo. Fez um discurso rápido, levantou a espada e bradou: “Independência ou morte!”. Muita gente diz que não foi assim. Acredite quem quiser. O fato é que, depois daquele grito (cantado até no nosso hino), o Brasil passou a não receber mais ordens de Portugal. Durante um tempo, Pedro foi rei. Depois, obedeceu o pai e voltou para casa, deixando a coroa para seu filho (outro Pedro, o segundo). Um detalhe: o menino tinha apenas 5 anos. Devia acreditar em bruxas, feiticeiros e dragões, embora nessa história não tenha dragão nenhum. Só quando completou 14 anos, pôde assumir o poder. Isso até 1889, quando outros descontentes resolveram que o País deveria ser uma República. Mas essa já é uma outra história.

uma bela manhã, um formoso reino recebia ordens de um outro reino distante. Com o cair da tarde, porém, este recanto tornou-se livre como sempre sonhou... Não, não houve feitiço nenhum. Nem bruxaria. Essa história que está aí em cima aconteceu no Brasil, e portanto não inclui bruxas, feiticeiros ou dragões. Mas tinha príncipes. Bem diferentes dos contos de fada, mas eram príncipes. Um deles, de nome Pedro, estava viajando de Santos a São Paulo quando recebeu uma carta do pai, o rei de Portugal. Devia estar bem bravo: exigiu a volta do filho para casa. Não porque estava tarde, mas porque disso dependia a manutenção do poder. Pedro não gostou nadinha da história. Estava ao lado do riacho do Ipiranga, em São Paulo, quando decidiu que promulgaria nossa indepen-

JÁ PENSOU NISSO?

“Alô, quem fala é dom Pedro II”

Você conhece este país como Brasil, certo? Mas saiba que nosso nome completo mudou muito desde a Independência. Durante a Monarquia, éramos conhecidos como “Império do Brasil”. Logo após a Proclamação da República, em 1889, fomos batizados de uma forma que causa estranheza: “Estados Unidos do Brasil”. Só em 1967 ficou decidido que seria adotada a forma que é utilizada até hoje: “República Federativa do Brasil”.

O nosso segundo rei era intelectual e curioso sobre as coisas do mundo. Falava várias línguas e se interessava pelos mais diversos assuntos. Um de seus feitos mais bacanas foi trazer os primeiros telefones ao País. Durante uma viagem aos Estados Unidos, em 1876, conheceu Alexander Graham Bell, o inventor do aparelho. Ao experimentar pela primeira vez, exclamou: “Esta coisa fala!”. Não teve dúvidas: encomendou 100 telefones ali mesmo, fazendo do Brasil um dos primeiros países do mundo a usar a nova tecnologia.

-LÍNG VA

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Cada número no diagrama abaixo corresponde a uma página do ALMANAQUE. Descubra a letrinha colorida na página indicada e vá preenchendo os quadrinhos até completar a mensagem cifrada que escrevemos para você.

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e grandalhões

Uma história de príncipes e reis.

N

C : LU

VO E R EPE TIR EM

Pedro prendeu

E

a perna perto do prédio público.

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preferidas dos reis?

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Solução na p. 32

Setembro 2008

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Uma parceria pela ciência

FOTOS: MARCOS CAMPOS

O

Boticário e a Universidade Positivo, de Curitiba, estreitaram parceria com a inauguração do Labim – Laboratório de Biologia Molecular. Trata-se de um espaço focado em estudos sobre os fenômenos bioquímicos envolvidos no envelhecimento da pele, bem como de ingredientes naturais da biodiversidade brasileira. O laboratório, que tem 110 metros quadrados, funciona dentro da Universidade Positivo e recebeu equipamentos considerados os mais modernos do mundo, adquiridos pelo Boticário, em investimentos de mais de 4 milhões de reais. “Desta união pioneira do meio acadêmico com o empresarial devem nascer as novidades tecnológicas em relação ao envelhecimento da pele. Temos aqui um grande núcleo gerador de conhecimento”, declara Israel Feferman, diretor de Pesquisa & Inovação do Boticário. O laboratório está capacitado a efetuar os avançados testes in vitro de segurança e eficácia. Desta forma, a empresa de cosméticos e perfumaria reforça a política interna estabelecida já no ano de

2000, que faz dela uma das primeiras do ramo a proibir a realização de testes em animais. “Em uma ação inovadora, o Boticário e a Universidade Positivo também disponibilizarão o laboratório para pesquisas – pré-aprovadas por ambas as instituições –, realizadas por alunos de outras universidades e pesquisadores de institutos de pesquisa do País, em nível de mestrado, doutorado e pós-doutorado”, ressalta Carlos Praes, gerente de Tecnologia de Produto do Boticário e coordenador do Labim. Praes ressalta ainda que os estudos beneficiarão o desenvolvimento de novos produtos do Boticário, que possui um portfólio com mais de 600 itens de perfumaria, maquiagem e cuidados com a pele. O consultor do Boticário no Labim é o pesquisador Luis Roberto Benghi Soares, professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que possui vasta experiência na área de Imunologia. O laboratório conta também com pesquisadores das áreas de Biofísica, Farmácia e Biologia.


Salvador

Cidade para ver e rever Gerada em fortes contrastes, entre beleza e miséria, encantamento e decepção, Salvador faz renascer quem chega para descobri-la com olhos de amor. A cidade, que foi capital do Brasil entre 1549 e 1763, segue nascendo e renascendo sob a mirada de seu povo e dos forasteiros que se encantam por ela. Texto, fotos e ilustrações de Heitor e Silvia Reali

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A BAÍA DE TODOS OS SANTOS VISTA DO ALTO, SANTOS QUE ABENÇOAM QUEM VIVE E CHEGA NA CIDADE.

A

o avistar as terras debruçadas no mar e banhadas pelo sol, os colonizadores a bordo da nau São Pedro navegavam nas águas escamadas e azuis da Baía de Todos os Santos.Vislumbravam naquelas altas encostas a futura Nova Lisboa. Para erguer a cidade que sonhavam, escravizaram milhares de africanos e índios. Os portugueses deram corpo àquelas terras, mas não contavam com a força cultural dos escravos que, ao imprimir outra vida à cidade, sopraram-lhe alma. Assim, em 1535, teve início a história de Salvador, que, para o jesuíta Simão de Vasconcelos,“é capaz de um reino”.

No final do século 16 houve um grande desenvolvimento econômico em Salvador. A capital brasileira ganhou vida com a construção de igrejas, edifícios públicos e imponentes casarões. Nas encostas íngremes viviam em casebres os trabalhadores pobres. A Cidade Baixa era habitada pelos pescadores. Às portas do Convento do Carmo nascia, em local de grande visibilidade, o Pelourinho, sinônimo de sofrimento, escárnio e tortura para os escravos. As fortalezas, como o Forte de São Marcelo e a Fortaleza de Santo Antônio, mais conhecida como Farol da Barra, seriam erguidas no século seguinte. Setembro 2008


22 O CASARIO DE SALVADOR, QUE PIERRE VERGER CHAMOU DE BOA TERRA.

O antropólogo baiano Antônio Risério descreve esse tempo de fortes contrastes:“Fome, peste, riqueza, invasões holandesas, tempo dos negros bantos vindos de Angola e do Congo, tempo de quilombos, calundus e capoeiras”. Em 1763 ocorre a transferência da capital para o Rio de Janeiro. Com a crise na produção do açúcar, vêm junto a decadência e uma epidemia de cólera. Somente no final do século 18 Salvador começa a crescer nos dois planos: Cidade Alta (São Bento, Sé, Desterro, Saúde, Santo Antônio e Carmo) e Cidade Baixa, bairro da praia. A ampliação do porto e a construção em 1873 do elevador hidráulico da Conceição, atual Elevador Lacerda – obra pioNeira da engenharia mundial –, trouxeram crescimento e modernização à área, mas gerou o empobrecimento e abandono do Pelourinho.

Outros olhares estrangeiros Uma nova terra se apresentou para o fotógrafo e etnólogo Pierre Verger, que desembarcou em Salvador em 1946, aos 44 anos, depois de percorrer o mundo.Verger se deslumbrou com os costumes,

as crenças, os becos e os altos e baixos daquela que chamou de Boa Terra. Mas não registrou tudo isso apenas com belas fotografias. Deu-nos uma Bahia que nós mesmos não enxergávamos. E entre seus nomes de batismo colocou Fatumbi, que no Ifá significa “renascido”. O mesmo ocorreu com o gravador alemão Karl Heinz Hansen. Antes de chegar a Salvador, em 1955, foi marinheiro, escultor e combateu na Segunda Guerra Mundial. Como prova de amor à terra que fez renascer o artista quase morto pelas lembranças da guerra, uniu o Estado para sempre a seu nome:

Preste Atenção Repare nas frondosas árvores de Salvador. São centenárias mangueiras, flamboyants, jacarandás, gameleiras e chapéus-de-sol. Seus troncos robustos sustentam copas generosas que, às vezes, cobrem as ruas, garantindo sombra, perfume e o colorido das flores e frutos. São verdadeiros oásis verdes de frescor para o visitante que caminha pelas ladeiras íngremes e pelas ruas tortuosas da cidade.


SALVADOR TEM MAIS Fundação Pierre Verger Pierre Verger (1902-1996) retratou em tons fortes a cultura africana no cotidiano da cidade, dos terreiros de umbanda à vadiagem; dos pescadores aos capoeiristas; além da paisagem e arquitetura de Salvador. Suas fotos em preto e branco fazem parte do acervo da galeria que fica em uma casa do centro histórico. O tema das exposições muda a cada quatro meses.

Sorveteria A Cubana A mais antiga sorveteria da cidade foi inaugurada em 1930 por um cubano exilado no Brasil. Os sorvetes artesanais – em 30 diferentes sabores, como cupuaçu, coco e tapioca – podem ser acompanhados da “prata da casa”, espécie de bolinho com nozes picadas por cima. De quebra, a sorveteria oferece a mais bela vista da cidade. Fica no Elevador Lacerda.

Feira de São Joaquim Na maior feira livre permanente da Bahia, com mais de 4 mil barraquinhas e boxes, se encontram de cerâmica e cestaria a pimentas e frutas, além de brinquedos artesanais em lata ou madeira e todos os utensílios próprios para o candomblé.

Não deixe de visitar, conhecer e consultar

Hansen Bahia. A história se repete com o artista argentino Hector Bernabó, o Carybé, que com traço puro mostrou, como poucos, a sensualidade, a malícia, a brincadeira e a malandragem do baiano. Esses artistas, segundo Jorge Amado, eram baianos fundamentais:“Baiano verdadeiro não é o que nasce, mas o que renasce na Bahia”. Em visão oposta à dos portugueses, do alto da cidade a baía é aureolada pela luz do sol se pondo. Horizonte, nuvens e o céu resplandecem. Dá para entender o nome de Baía de Todos os Santos, o que ali equivale a todos os deUses e orixás. Deuses que abençoam quem tiver a liberdade de retratar as criações divinas dessa natureza e de seus homens.

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Existem mais de mil terreiros de candomblé em Salvador. Eles mantêm vivos o culto e a devoção aos orixás, uma tradição vinda com os escravos negros a partir de 1549. O Terreiro de Gantois, ou Axé Yamasseê, fundado por Maria da Conceição Nazaré em 1849, é uma das casas de candomblé jeje-nagô mais freqüentadas e famosas da cidade. Seu nome se origina de um belga, dono do terreno onde foi construído o templo religioso. Ironicamente, ele era traficante de escravos.

SERVIÇO Como chegar A TAM oferece vôos diários para Salvador, saindo das principais cidades brasileiras. Confira em www.tam.com.br

Onde ficar Convento do Carmo Hotel Situado no centro, num

convento do século 16, é um patrimônio cultural decorado com móveis coloniais e centenas de obras de arte. www.conventodocarmo.com.br Catharina Paraguaçu Instalado num casarão do início do século passado, o hotel tem como um dos destaques o café-da-manhã regional, servido em salão decorado com potes e moringas cor de tijolo de Maragogipinho. www.hotelcatharinaparaguacu.com.br

Onde comer

Cantina da Lua Entre outros pratos, serve a Mariscada Grelhada, com frutos do mar, ervas fi nas e azeite de oliva. Tel.: (71) 3322-4041.

Restaurante São Paulo Antigo Também no Centro, sua especialidade são os pratos da cozinha caipira Destaque para o Leitão à Pururuca. De sobremesa, vá do tradicional Pudim de Leite. Tel.: (71) 4154-2726.

Bar da Ponta Localizado num antigo ancoradouro da Baía de Todos os Santos, é ideal para degustar petiscos ao pôr-do-sol. Tel.: (71) 3326-2211.

Setembro 2008


Samuel Wainer

Entre o sonho e o poder Por Bruno Hoffmann

Ele construiu uma trajetória profissional inusitada. Um dos mais talentosos repórteres da história, tornou-se dono do próprio jornal com o incentivo de Getúlio Vargas. Revolucionou a imprensa com uma publicação leve, dinâmica e que pagava

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os melhores salários do País. Ao mesmo tempo, defendia abertamente o getulismo e FOLHA IMAGEM

envolvia-se com o poder além dos limites da

evereiro de 1949. Um repórter dos Diários Associados voltava de avião, um Cessna bimotor, de uma reportagem sobre a cultura do trigo no Rio Grande do Sul. Em determinado momento, o piloto avisou ao jornalista que sobrevoavam a fazenda de Getúlio Vargas, ex-presidente que vivia um exílio voluntário desde que deixara o poder. “Então Pousemos o avião”, disse, confiante. O piloto rechaçou a idéia, lembrando que Vargas não falava com a imprensa havia anos. “Se ele me receber, farei uma bela reportagem. Caso contrário, farei uma reportagem dizendo que ele não recebe ninguém”, retrucou o jornalista. Diante do argumento, pousaram o avião, com a des-

ética. Tudo para manter seu sonho vivo.

culpa de que a aeronave tinha passado por uma pane. Samuel Wainer perguntou a um funcionário da fazenda se, para aproveitar a ocasião, poderia entrevistar o ilustre morador. Para o espanto de todos, Vargas consentiu. Na entrevista histórica, anunciou: “Voltarei como líder das massas”. O País estremeceu naquele Carnaval de 1949.

ÚLTIMA HORA , UMA PAIXÃO 1950. Wainer é escalado para cobrir a campanha do candidato Getúlio Vargas. Nascia então uma relação de amizade e de mútuo interesse com o ex-futuro-presidente. Depois de sua eleição, uma das grandes reclamações de Getúlio era a perseguição da imprensa. Em certo momento, fez uma sugestão estratégica ao repórter: “Faça seu próprio jornal”. Como Wainer estava infeliz no Diários


B ÇÃO/A REPRODU

E WAINER

FOLHA

IMAGEM

GETÚLIO

A edição do Última Hora após o suicídio de Getúlio foi disputada a tapa – literalmente, em alguns casos. Na capa, a manchete: Ele cumpriu a promessa: “Só morto sairei do Catete”.

Associados, aceitou a proposta. Buscou patrocínios e, poucos meses depois, nascia o Última Hora. O jornal revolucionou a imprensa brasileira, antes dominada por publicações carrancudas. No periódico dirigido de forma apaixonada por Wainer, duas características predominavam: texto moderno e ágil e bons salários aos profissionais. Com ótimos redatores, repórteres e editores na linha de frente, as vendas dispararam. Os colunistas também eram o que havia de melhor, como Nelson Rodrigues e Paulo Francis. Em menos de um ano, tornou-se o mais vendido do País. A influência do agora empresário da comunicação sobre o poder também se tornava cada dia mais intensa. Recebia empréstimos de poderosos para fortalecer o jornal, e os retribuía com favores editoriais. “Vendi minha alma ao diabo, corrompi-me até a medula”, disse, com impressionante sinceridade, em seu livro de memórias.

A MORTE DE VARGA O crescimento vertiginoso do Última Hora e as relações obscuras com o poder tornaram Wainer uma figura perseGuida por outros órgãos de imprensa. Um dos desafetos mais constantes era o jornalista Carlos Lacerda, da Tribuna da Imprensa. Travaram batalhas nas páginas dos jornais e até numa CPI, que o acusou – com razão – de receber empréstimos suspeitos para abrir o jornal e de não ser brasileiro, e sim nascido na Bessarábia, atual República da Moldova (é vetado a estrangeiros ser dono de veículos de comunicação). As conclusões da CPI foram desfavoráveis a Wainer, mas a situação não evoluiu. Com a morte de Vargas, a população voltou-se con-

tra o jornalismo que criticava o presidente. Já o Última Hora vendia sem parar. A edição após o suicídio no Catete foi disputada a tapa – literalmente, em alguns casos. Oitocentas mil cópias do jornal estamparam a manchete: O presidente cumpriu a palavra: “Só morto sairei do Catete!”.

DE DONO A EMPREGADO Depois da morte de seu defensor, Wainer manteve a publicação com alguma estabilidade até o golpe militar de 1964. Então exilou-se em Paris com a mulher, Danuza Leão, com quem teve três filhos. De volta ao País, manteve uma relação ora boa, ora tensa com os militares. Havia interferências editoriais constantes. Uma das mais inusitadas ocorreu após um concurso de textos para rebater a música antimilitarista Pra não Dizer que não Falei das Flores, de Geraldo Vandré. Um coronel exigiu que o texto vencedor, de um tal aspirante Bastos, fosse publicado na primeira página do Última Hora. Começava assim: Tu, Vandré, que andas pela noite no chopinho do Castelinho, que sabes da nossa pátria?. Em 1971, cheio de dívidas, Wainer vendeu o Última Hora para um grupo de investidores. No ano seguinte fundou a revista Domingo Ilustrado. Entre 1973 e 1975, surpreendentemente, tornou-se empregado do jornal que fundara 22 anos antes, agora sob o controle do Grupo Folha: era o novo redator-chefe do Última Hora. Mas o que lhe orgulhava mesmo no fim da carreira era sua coluna política na Folha de S.Paulo, que manteve de 1977 até a morte, aos 68 anos, em 2 de setembro de 1980. SAIBA MAIS Samuel Wainer – Minha razão de viver, de Samuel Wainer e Augusto Nunes (Planeta do Brasil, 2005).

O M ELHOR PRODUTO DO BRASIL É O BRASILEIRO CÂMARA CASCUDO

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AL

I EC

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Texto: Bruno Hoffmann Arte: Guilherme Resende

Arena, Oficina, TBC, Macunaíma. Estes e outros grupos paulistanos ajudaram a criar uma nova cara para o teatro brasileiro. Incorporaram o espírito de vanguarda para transformar a cidade no pólo mais efervescente das artes cênicas do País. Sente-se e faça algum silêncio. Este Especial vai contar a história do moderno teatro paulistano a partir de suas notórias companhias. O terceiro sinal já vai soar. Que se abram as cortinas...

K.D. CZERNY/ARQUIVO FUNARTE

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Q

o grupo os comediantes em VESTIDO DE NOIVA: INSPIRAÇÃO para o moderno teatro paulistano.

ue o leitor não se espante. Já no primeiro século de Brasil se fazia teatro por estas terras. Padres jesuítas promoviam a catequização dos índios com apresentações cênicas que misturavam temas do dia-a-dia das tribos com símbolos religiosos. Padre Anchieta, por exemplo, escreveu autos encenados por séculos. Depois, com a chegada da Família Real no século 19, houve um momento de intenso avanço. Um dos primeiros decretos reais exigia a construção de “teatros decentes”. Passou-se por fases de nacionalismo, realismo e comédia de costumes. Até que, em 1943, um grupo de intelectuais cariocas, batizado de Os Comediantes, resolveu nos colocar na era

da vanguarda. A encenação de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, foi o marco inicial do que conhecemos como teatro moderno. Apesar de serem do Rio, a inspiração estava nos ideais da Semana de Arte Moderna de 1922, ocorrida em São Paulo. Logo depois, a via se inverteu: foi a vez de São Paulo se inspirar nos cariocas para consolidar um teatro vanguardista na cidade. Nascia o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). De lá para cá, a capital paulista se tornou o pólo mais efervescente das artes cênicas do Brasil, sempre interagindo com o teatro de alta qualidade que foi e continua sendo feito nos quatro cantos do País – assunto para pelo menos mais 10 anos de A lmanaque.


FOLHA IMAGEM

Se Os Comediantes inauguraram o teatro moderno, o paulistano Teatro Brasileiro de Comédia o profissionalizou, a partir do ideal do italiano Franco Zampari. Em meados dos anos 1940, Zampari produziu diversas peças na cidade, mas se ressentia da falta de estrutura para as artes cênicas. Era tudo mambemFRANCO ZAMPARI be demais. Decidiu mudar a história. Com a ajuda de empresários, comprou um casarão no bairro da Bela Vista e inaugurou o TBC. O lugar tinha estrutura de causar inveja até nos mais abastados grupos atuais. Havia 18 camarins, sa-

ARQUIVO FREDI KLEEMANN/IDART

O PROFISSIONALISMO INAUGURAL DO TBC

MONTAGEM DE A DAMA DAS CAMÉLIAS (1951).

las de ensaio, de leitura, marcenaria – sem contar toda a equipe de apoio necessária. E, claro, os melhores atores da época. As montagens eram modernas e sofisticadas, quase todas de autores estrangeiros. Não havia espaço para experimentalismos. Afinal, era preciso pagar as contas. Ao longo de sua existência, o TBC reuniu sucessos extraordinários e fracassos retumbantes. Fechou as portas em 1964.

QUEM PASSOU PELO TBC Walmor Chagas

Nydia Lícia Cleyde Yáconis

Sérgio Cardoso

Tônia Carrero

Paulo Autran

Cacilda Becker

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FOLHA IMAGEM

O NACIONALISMO ENGAJADO DO ARENA O Teatro de Arena havia colecionado péssimos momentos. Suas encenações, que ainda não tinham uma linha definida, ELENCO DE BLACK-TIE. ora atraíam público, ora ficavam às moscas. A situação se alterou em 1958, com a primeira apresentação de Eles não Usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri. Nela, a classe operária era mostrada às claras, sem rebuscamentos

ou artificialismos. Os temas sociais passaram a ser o principal assunto do grupo. “O Teatro de Arena evoca, de imediato, o abrasileiramento do nosso palco”, explicou o crítico Sábato Magaldi. As peças nesse estilo foram se somando, uma após a outra. Revolução na América do Sul (1960), O Testamento do Cangaceiro (1961), Arena Conta Zumbi (1965), Arena Conta Tiradentes (1967). Com a opressão militar cada vez mais intensa, aos poucos seus integrantes foram se afastando; uns voluntariamente, outros para o exílio. Ainda assim, a marca de brasilidade nos palcos continuou inspirando grupos pelo País afora.

ASSOU PELO AREN A EM P U Q

Ahn?

Milton Gonçalves

Gianfrancesc

Flávio Migliaccio Augusto Boal

o Guarnieri

Joana Fomm Juca de Oliveira

Lima Duarte

I

magine-se num ônibus em São Paulo. Em dado momento, embarca um passageiro com curativo no olho esquerdo. Até aí, normal. Ele desce após dois pontos e sobe outro, também com um dos olhos encobertos. Dois pontos depois, a mesma coisa. E de novo. E de novo. E de novo. Até o ponto final. Os passageiros de verdade nada entendiam. Era apenas uma das intervenções que o grupo Viajou sem Passaporte fazia no fim dos anos 1970.

Dina Sfat

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O PROVOCATIVO OFICINA Direito do Largo São Francisco, da USP. A companhia ultrapassou o tempo (e o assombro dos mais conservadores) e existe até hoje, comandada por seu polêmico e inventivo diretor. Desde 1958 levou ao palco peças como O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade, Pequenos Burgueses (1963), de Máximo Gorki e Os Sertões (2002-2006), baseado na obra de Euclides da Cunha. Leia mais sobre o Oficina na página 7 deste Almanaque.

acervo uh/folha imagem

Fim dos anos 1960, início da pior fase da repressão militar. A peça Roda Viva, de Chico Buarque, estava em cartaz em São Paulo. No fim de uma das apresentações, depois de exaustivos aplausos, o público dá lugar a uma nova audiência. Eram os membros do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), uma organização de extrema direita, dispostos a destruir o cenário e CENA DE RODA VIVA. espancar os atores. Sentiam-se ofendidos com a montagem provocativa, visceral e desconcertante de Zé Celso Martinez Corrêa, diretor da peça e do Teatro Oficina. Sacudir a platéia com apresentações surpreendentes sempre foi característica do grupo fundado em 1958, na Faculdade de

QUEM PASSOU PELO OFICINA

Renato Borghi

Raul Cortez

Célia Helena

Bete Coelho

integrantes do união e olho vivo.

que viviam sob o Viaduto Guadalajara, na zona leste de São Paulo. O União e Olho Vivo foi criado em 1968, da junção dos grupos Teatro Onze – de estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco – e Teatro Casarão, formado por porteiros de clube, guardas de banco, engraxates e operários.

O LIBERTÁRIO MACUNAÍMA Antunes Filho já era um diretor rede oferecer melhores condições para conhecido no meio teatral quando, pesquisas, ensaios e apresentações. em 1977, decidiu montar o espetácuA tal ponto que a história de ambos lo Macunaíma, de Mário de Andrade. se confundem. Os atores, todos jovens, davam pitacos à A característica predominante do vontade durante os ensaios. O resultado Macunaíma é a busca da liberdade dessa criação coletiva é considerado um total do ator. Ou seja, que se livrem marco nas artes cênicas nacionais. Com dos dogmas aprendidos nas escocerca de 900 apresentações no País e no exlas de teatro. Antunes Filho eximontagem da peça que dÁ nome ao grupo. terior em 10 anos. ge profissionais expressivos, aberSe as diversas encenações eram sinais de sucesso, também eram tos a experimentos e sem vícios nas interpretações. um transtorno logístico para o Grupo Macunaíma, que começou São notórias as preparações, que vão da psicologia ao a se aproximar do Centro de Pesquisa Teatral do Sesc-SP, capaz zen-budismo. FOLHA IMAGEM

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O grupo paulistano de teatro amador União e Olho Vivo, comandado por César Vieira, é um dos raros que podem afirmar já ter se apresentado para papas e mendigos. Em 1996, a trupe encenou Us Juãos i os Magalis para João Paulo II em sua casa de campo na Itália. Meses depois, apresentava Barbosinha Futebó Crúbi para 100 mendigos

aRQUIVO/AE

HOLOFOTES NA PERIFERIA

QUEM PASSOU PELO MACUNAÍMA Cacá Car valho

Flavia Pucci

Giulia Gam

Luis Melo

Laura Cardoso


Praça Franklin Roosevelt. O espaço da região central da cidade que há poucas décadas estava em franca decadência é o lugar onde ocorre uma das cenas mais importantes do teatro paulistano atual. Os Satyros resolveram que lá seria seu novo endereço em 2000. A novidade agitou o local, antes famoso apenas pela freqüência de prostitutas e traficantes. Além do surgimento de outras salas, receberam um novo vizinho poucos anos depois: a companhia Parlapatões, de forte influência da linguagem circense. Criou-se então uma outra cara para o lugar. Espetáculos de domingo a domingo e simpáticos bares evocam os áureos tempos teatrais da região do Bixiga, a poucas quadras dali. No início do ano, Os Satyros estavam com 20 peças em cartaz. A situação

LUCIANA CAMARGO

A PRAÇA É NOSSA

OS SATYROS, EM DIVINAS PALAVRAS (1997).

deve ficar ainda melhor. A Prefeitura promete uma reforma urbanística radical na praça, que atualmente possui uma aparência pouco convidativa.

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MANDRÁGORA/DIVULGAÇÃO

Algumas das inúmeras companhias que se destacam na atual cena paulistana.

O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO/ DIVULGAÇÃO

Considerado um dos mais importantes grupos teatrais surgidos nos anos 1990, o Teatro da Vertigem se notabilizou por montar uma épica trilogia bíblica: Paraíso Perdido, O Livro de Jó e Apocalipse 1,11.

O LIVRO DE JÓ /FOLHA IMAGEM

Liderado pelo diretor Eduardo Tolentino, o Grupo TAPA nasceu no Rio, mas se transferiu para São Paulo. Mantém uma rigorosa dramaturgia, com intensa e criteriosa pesquisa de autores nacionais e estrangeiros.

Boa parte das peças do Grupo XIX de Teatro é encenada num casarão de uma ex-vila operária do bairro do Belenzinho, na zona leste da capital. A arquitetura e a iluminação natural entram nos enredos, baseados em dramas humanos e sociais.

I SA BA MAIS

HYSTERIA/ADALBERTO LIMA

Donos de uma linguagem crítica e criadores de encenações desprovidas de demasiados efeitos cenográficos, há 11 anos os integrantes da Companhia do Latão montam peças nas quais discutem, de forma implícita ou explícita, a mercantilização da cultura.

Cem Anos de Teatro em São Paulo, de Sábato Magaldi e Maria Thereza Vargas (Senac, 2001). Imagens do Teatro Paulista, organização de Mariângela Muraro Alves de Lima (Imprensa Oficial,1985).

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M AR ACUJÁ Passiflora edulis flavicarpa

Flor da paixão Os índios chamavam de mara kuya: alimento na cuia. Contém passiflorina, um calmante; pectina, um protetor do coração, inimigo do diabetes. Rico em vitaminas A, B e C; cálcio, fósforo, ferro. A fruta é gostosa de tudo quanto é jeito. E que beleza de flor. Por Mylton Severiano

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IN FLORA BRASILIENSIS

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maracujá não pede licença para nascer – é “esponespontâneo”,, dizem os botânicos. Assim é que, de repente, no começo do inverno, dou com uma trepadeira já taludinha escalando com suas gavinhas a coluna da varanda. Pelas folhas de três pontas, de um verde-escuro brilhante, vi que era um pé de maracujá. E pela ilustração de um velho livro, vi que se trata de Passiflora edulis flavicarpa.. Latim: flor da paixão comestível de frutos amarelos. Ou seja, maracujá-amarelo – uma das 150 variedades, originárias do nosso torrão, que crescem nos trópicos da América. O Brasil, aliás, é o maior produtor mundial dessa fruta fecunda – cada uma contém duas centenas de sementes. Meu maracujá confirma os manuais. Brotou espontaneamente de alguma das sementes que atirei no jardim com o resto de um drinque. O lugar não podia ser mais propício: solo de argila meio arenoso, fértil e, como ele gosta, ensolarado – só floresce com mais de 11 horas diárias de luminosidade. Seguindo o aramado que estendi para facilitar-lhe a vida, avança tão rápido que a gente nota a olhos vistos. Marquei a lápis no lugar em que a folha dianteira estava e, 24 horas depois, medi: cresceu mais de dois centímetros

num dia! Seguirá nesse ritmo inverno e primavera afora e, vizinhando o verão, terei uma cortina natural para proteger a varanda do sol. Conto com as mamangabas, essas abelhonas pretas, principais responsáveis pela polinização cruzada do maracujá – só frutifica se as flores forem fertilizadas com pólen de outro exemplar. Então, de janeiro a julho de 2009, ele me presenteará com seus frutos agridoces. Não preciso me preocupar em saber quando colher: caiu no chão, está maduro. E ainda vou usufruir do prazer estético proporcionado por suas flores, que inspiram poetas através dos tempos. O mais antigo poema a saudá-lo está em As Frutas e os Legumes, do baiano Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711): O maracujá também gostoso e frio / Entre as frutas merece nome e brio; / Tem nas pevides mais gostoso agrado / Do que açúcar rosado, / É belo, cordial e, como é mole, mole / Qual suave manjar todo se engole. Mas foi o fluminense Fagundes Varela (1841-1875), nosso primeiro grande lírico, quem lhe dedicou os mais belos versos, apaixonados e carregados de reverência cristã (observe os penúltimos versos de cada estrofe, na página ao lado).


A FLOR DO MARACUJÁ

P

elas rosas, pelos lírios, Pelas abelhas, sinhá, Pelas notas mais chorosas Do canto do sabiá, Pelo cálice de angústias Da flor do maracujá!

Fagundes Varela

Pelo jasmim, pelo goivo, Pelo agreste manacá, Pelas gotas de sereno Nas folhas do gravatá, Pela coroa de espinhos Da flor do maracujá.

Pelas azuis borboletas Que descem do Panamá, Pelos tesouros ocultos Nas minas do Sincorá, Pelas chagas roxeadas Da flor do maracujá.

Por tudo que o céu revela! Por tudo que a terra dá Eu te juro que minh’alma De tua alma escrava está! Guarda contigo este emblema Da flor do maracujá.

Pelas tranças da mãe-d’água Que junto da fonte está, Pelos colibris que brincam Nas alvas plumas do ubá, Pelos cravos desenhados Da flor do maracujá.

Pelo mar, pelo deserto, Pelas montanhas, sinhá! Pelas florestas imensas Que falam de Jeová! Pela lança ensangüentada Da flor do maracujá.

Não se enojem teus ouvidos De tantas rimas em – a – Mas ouve meus juramentos, Meus cantos ouve, sinhá! Te peço pelos mistérios Da flor do maracujá.

No princípio, elas eram brancas

Diabéticos, hipertensos e obesos, cheguei!

REPRODUÇÃO/AB

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MARCELO COSTA BARROS

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eza a lenda cristã que um pé de maracujá surgiu ao pé da cruz e o sangue de Jesus tingiu-lhe as flores, que eram brancas. A planta chegou a Roma no século 17, levada por sacerdotes brasileiros e oferecida ao papa Paulo V (1605-1621), que se ajoelhou diante da “revelação divina”.. A flor, um cálice; cinco anteras: as chagas de Cristo; três estigmas: os cravos na cruz; filamentos: a coroa de espinhos; o roxo: sangue de Jesus. Daí o nome científico começar com “flor da paixão”:: a paixão de Cristo.

suco é calmante, diurético, depurativo do sangue. A infusão das folhas é sedativa, antifebril. A casca contém pectina, bloqueador de gordura e redutor da taxa de glicose no sangue: torrada, triturada e peneirada, fornece uma farinha; em sucos, no leite ou nas refeições – duas colheres de sobremesa – traz bons resultados ao diabético, como mostram trabalhos das universidades federais do Rio de Janeiro e da Paraíba. Contra-indicação: pressão baixa. Como dizem as bulas, não use sem consultar o médico.

SAIBA MAIS As Frutas na Medicina Doméstica Doméstica, de Alfons Balbach (Edel, 1971). Ervas e Plantas – A medicina dos simples, de Ivacir João Franco (Vida, 1997).

Mylton Severiano é jornalista. jornalista


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segunda

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Almáquio

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Aristeu

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Rosália

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sexta

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sábado

Mansueto

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domingo segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo segunda terça

Regina

8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

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Corbiniano Severiano Sálvio Almiro Guido Maurílio Cornélio* Albino Cipriano Colomba Cupertino Januário Teodoro Jonas Cândido Tecla Geraldo Cleófas Colman Caio Salomão

Pernilongo caipira de um caboclo gozador que E sseum diacausofez écompanhia pra gente num ran-

cho de pescaria. A gente pescava boa parte do dia, bebericando umas cachaças e cervejas, e à noite puxava um truco, que é aquele jogo de baralho onde o melhor jogador é o que melhor sabe roubar. Pois bem. Era chegada a hora de a gente puxar uma soneca. Ninguém é de ferro e, no outro dia, seria a mesma lengalenga. O quarto do rancho em questão acomodava uns colchões velhos, que era onde a gente jogava o esqueleto por umas horas. Todo mundo junto. Um cheirando o chulé do outro. Daí começou o enxame de pernilongo. Pretejou o quarto, que era alumiado apenas por uma ou duas lamparinas a querosene, de tanto mardito

mosquitinho que pica doído, que é pra depois desandar numa coceira enjoada. Foi quando eu tive a idéia de apagar as luzes para que os ditos mosquitinhos se mancassem e fossem embora de vez. Todos concordam com a idéia, menos o caboclo de quem eu falei a pouco. Dizia ele que isso de nada ia adiantar, pois aqueles mosquitinhos safados eram espertos como caipiras. Pois bem. Apagamos as lamparinas e ficamos numa escuridão de breu. Ninguém enxergava ninguém, nem nada. Eis que, de repente, começaram a surgir naquele quarto escuro um monte de vaga-lumes. Foi quando o tal caboclo arrematou: “Num falei que num dianta apagar a luiz... Quando os marvado viram que num iam enxergá nóis, trataro de ir em casa buscá as lanterna!”.

Gabriel Esperança

Adaptado de Contando Causos, de Rolando Boldrin (Nova Alexandria, 2001).

LIBRA (23/9 a 22/10)

Sociáveis e simpáticos, os librianos são ótimos amigos. Excelentes conselheiros, conseguem pensar de forma sensata os prós e contras de uma situação, livres de preconceito. Amam dar festas, e têm o dom de fazer as pessoas se sentirem à vontade. Embora possam parecer fúteis, quem os conhece intimamente sabe que possuem um lado sério e conservador.

*São Cornélio Cornélio foi eleito papa em 251, mas sua consagração foi contestada por Novaciano, que o acusava de ser muito tolerante com aqueles que renegavam a fé. Quando o imperador Décio morreu, Galo, seu sucessor e aliado de Novaciano, perseguiu e processou Cornélio até ele ser exilado em Civitavecchia. O papa exilado faleceu vítima de tuberculose.

ROBSON FERNANDES/AE

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Verena

DE QUEM SÃO ESTES OLHOS? Dan Stulbach

ESTAÇÃO COLHEITA O que se colhe em SETEMBRO Ameixa, amora, pepino, maçã, cebola, marmelo, tomate.

Crescente: 7/9 às 14h10 Minguante: 22/9 às 5h28

Cheia: 15/9 às 9h35 Nova: 29/9 às 8h44

CARTA ENIGMÁTICA – Era o Primo Rico no Balança mas não Cai e Odorico Paraguaçu em O Bem Amado. (Paulo Gracindo) BRASILIÔMETRO – 1c; 2b; 3a; 4d; 5d; 6c; 7b; 8a. O QUE É O QUE É? – Coroas. ENIGMA FIGURADO – Juscelino Kubitschek. SE LIGA NA HISTÓRIA – 1a; 2b; 3d; 4c. O CALCULISTA DAS ARÁBIAS – Se um dos camelos não tinha uma orelha, ao total de patas e orelhas (1.541) deve ser somado o número 1, correspondente à orelha que está faltando. Depois, esse valor (1.542) deve ser dividido por (4+2) que corresponde respectivamente ao número de patas e orelhas de cada camelo. Logo, 1.542 : 6 = 257 camelos.

“SE VOCÊ NÃO FOR MELHOR QUE HOJE NO DIA DE AMANHÃ, ENTÃO PARA QUE VOCÊ PRECISA DO AMANHÃ? “

Rabbi Nahman de Brastslav


Frevereiro o ano inteiro Em 9 de fevereiro de 1907, num jornal recifense, registrou-se pela primeira vez o uso da palavra frevo, que já corria solto nos carnavais fazia algum tempo. Cem anos depois, o multiinstrumentista e multiperformático Antonio Nóbrega aproveitou a comemoração para lançar luz sobre a dança e a música, num projeto de releitura, criações e recriações intitulado Nove de Frevereiro. Depois de percorrer palcos de todos os cantos, Nóbrega lança agora um DVD com entrevistas, extras e cenas do show. Um dos principais objetivos do projeto é

demonstrar a riqueza do frevo e como ele não deveria se restringir aos limites do Carnaval. Com toda a propriedade, Nóbrega e sua trupe passam harmonicamente dos clássicos às mais novas tendências do estilo pernambucano. No palco, uma orquestra de 20 músicos, dançarinos e quatro cantoras. O DVD registra numerosas participações: Banda Mantiqueira, Quinteto de Cordas da Paraíba, Quinteto Villa-Lobos, Sujeito a Guincho, além dos cantores Geraldo Azevedo, Chico César, Elba Ramalho, Ná Ozzetti, Suzana Salles e Dominguinhos. (BH)

Canções de Viagem Neotropicalismo, jazz, samba e canções contemporâneas se misturam na maneira melancólica e carismática de cantar de Neno Miranda. Astrolábio Dona de um timbre doce e rascante no ponto exato, Alexia Bomtempo lança disco de estréia sob a benção de Nelson Motta e produção de Dadi, exCor do Som. Baita Negão O quarto CD de Virgínia Rosa homenageia o sambista Monsueto Campos de Menezes, autor de sucessos como Me Deixa em Paz, Mora na Filosofia e A Fonte Secou. 33

Na rodoviária, inutilidades que levam para todos os cantos Jornalista recém-formada, Vanessa Barbara escreve para a revista piauí, explorando temas como astrologia, telemarketing, hipnose e anões. Mantém também o periódico A Hortaliça, na múltipla função de redatora, tradutora e editora. No Livro Amarelo do Terminal, fruto de seu trabalho de conclusão de curso, flagrantes do cotidiano se mesclam às figuras lendárias da rodoviária do Tietê, em São Paulo. Personagens como Hugo, Kenedy, Marcos, um nenê que saracoteia com uma bolacha nas mãos ou uma moça que leva um fiapo preso ao

sapato se alternam na composição de um mosaico de vidas e histórias que conduz aos mais inóspitos cantos do Brasil. O que à primeira vista não passa, nas palavras da autora, de um “almanaque de dados irrelevantes e informações desconexas” vai revelando, página a página, um panorama complexo da maior rodoviária da América Latina. Um retrato nítido da porta de entrada e saída da metrópole. Uma cidade de chicletes abandonados, pessoas apressadas e coisas perdidas. (CC) Cosac Naify, 254 p., R$ 35

O Melhor de Rubem Alves Org.: Samuel Lago

O organizador reúne fragmentos da obra do educador Rubem Alves, numa saborosa sucessão de frases, pensamentos e pequenos textos ilustrados. Nossa Cultura, 359 p., R$ 49 Quem é Capitu? Org.: Alberto Schprejer

Contos, crônicas e ensaios de escritores como Luis Fernando Verissimo, Millôr Fernandes e Lya Luft sobre a enigmática personagem de Machado de Assis. Nova Fronteira, 176 p., R$ 30 Três Marias de Cecília Cecília Meireles

Uma reunião de cartas da poetisa endereçadas às suas três filhas, em que comparecem o amor materno e o lirismo, que marcou toda a sua obra. Moderna, 160 p., R$ 28 Setembro 2008


TEVÊ DA ROÇA O caipira estava passando na porta do amigo, quando o avistou lá dentro, vendo tevê: – E aí, cumpadi! Firme? – Não, cumpadi. Por enquanto tá na novela. EMERGÊNCIA O sujeito, desesperado, corre até o telefone, disca o número e implora ajuda: – Por favor, é uma emergência. Venham depressa! A minha sogra quer se atirar da janela. – O senhor ligou errado. Não é dos bombeiros. Aqui é uma carpintaria. – Eu sei. É que a janela não abre!

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LIVRE E ESPONTÂNEA VONTADE O bêbado está levando a maior dura do delegado: – Quer dizer que o senhor estava envolvido na briga desses pilantras? – Quem? Eu? De... hic... jeito nenhum, dotô. Eu sou... hic... da paz! – Então o senhor pode dizer por que os policiais o trouxeram pra cá? – Trouxeram... hic... não! Fui eu que quis vir. – Não entendi! – Tava a maior... hic... briga no bar! Aí encostou o... hic... camburão e um polícia... hic... gritou: “É cana pra todo mundo!”. Aí eu falei... hic...: “Tô dentro!”.

“A criança é a alegria do lar, quando está dormindo.” Bem comportada Zefinha sempre tinha muita vontade de assistir a missa. Seu pai, certa manhã de domingo, satisfez-lhe a vontade. Levou-a a igreja. Quando regressou a casa, sua mãe lhe perguntou: – Então, filha, comportou-se bem? – Comportei-me sim, mamãe. Tão bem que, quando um homem ofereceu-me dinheiro numa bandeja, eu lhe disse: Obrigada.

A idade da razão As crianças atingem aos 7 anos a idade da razão. Depois disso, começam a praticar toda espécie de loucuras, até o juízo final.

OUTRA DE BÊBADO No ritual de batismo, o pastor afunda a cabeça do fiel num tonel cheio d’água e pergunta: – Você viu Jesus? – Sim! – responde o fiel. – Aleluia, irmãos! – gritam todos. Chega o próximo. – Você viu Jesus? – Sim! – Aleluia, irmãos! O próximo da fila é um sujeito caindo de bêbado. O pastor repete o ritual. – Você viu Jesus? – Não, senhor! O pastor afunda novamente a cabeça dele. – Você viu Jesus? – Não, senhor! Irritado, o pastor insiste. – Você viu Jesus? E o bêbado: – Não vi, hômi! Tem certeza que ele caiu aí dentro?

Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

Laerte

RECADO AO LEITOR Mande suas histórias, causos, fatos anedóticos. Desde que provoque ao menos um riso. Se provocar gargalhada, melhor. Divida seu bom humor com os vizinhos de poltrona. redacao@almanaquebrasil.com.br Rua Dr. Franco da Rocha, 137, 11º andar – São Paulo/SP – CEP 05015-040.

“O IDEAL É NÃO ESPERAR PELO TEMPO IDEAL.”

Daniel Dantas




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