António Luís Marques Tavares
SEPULTURAS ESCAVADAS NA ROCHA
DAS
FREGUESIAS DE CUNHA BAIXA E ESPINHO (MANGUALDE)
Contributos para a Historia da Alta Idade Media numa micro-região.
Ficha Técnica Titulo Sepulturas escavadas na rocha das freguesias de Cunha Baixa e Espinho Contributos para a História da Alta Idade Média numa micro-região Colecção Património Vivo Autor António Luís Marques Tavares Editor Grupo Cultural e Recreativo de Santo Amaro de Azurara Rua Padre Mário Marcelino, 37 3530-256 Mangualde Texto / Fotografia / Estampas António Luís Marques Tavares Gravuras António Manuel Marques Ferreira Gestão e Coordenação João Manuel Marques Ferreira Design Gráfico GCR Audiovisuais Capa António Manuel Marques Ferreira Impressão e Acabamentos Beira Alta tipografia – Viseu Depósito Legal 271668/08 Copyright Autor Mangualde, 2007
Obra subsidiada Ministério da Cultura
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ÍNDICE INTRODUÇÃO ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO-HISTÓRICO ESTAÇÕES
Freguesia de Cunha Baixa Carvalha Gorda Curtinhal Quinta da Raposeira Freguesia de Espinho Cumieira Bôcha Velha Cova da Moira Laje Lajinha ou Moledo Tapada ESTAMPAS DOS DADOS RECOLHIDOS
Localização das sepulturas Tipologia das estações Contexto arqueológico Estado de conservação Tipologia das sepulturas Dimensão das sepulturas Profundidade Rebordo Orifícios de drenagem Pios escavados Orientação Símbolos escavados HISTORIOGRAFIA E CRONOLOGIA DAS SEPULTURAS RITUAIS FUNERÁRIOS SEPULTURAS E PARÓQUIAS MEDIEVAIS QUEM ESCAVOU AS SEPULTURAS A QUEM SE DESTINAVA AS SEPULTURAS AS SEPULTURAS E O POVOAMENTO CONCLUSÃO FOTOS ANEXOS BIBLIOGRAFIA
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INTRODUÇÃO
As sepulturas escavadas na rocha são um dos testemunhos arqueológicos mais abundantes nas antigas Terras de Azurara e de Tavares, actual concelho de Mangualde. O presente estudo aborda as existentes nas freguesias de Cunha Baixa e de Espinho, popularmente conhecidas por “campas”, “campas dos mouros” e “pias dos mouros”. A freguesia de Cunha Baixa sempre pertenceu ao concelho de Azurara; a de Espinho é composta por aldeias, algumas das quais, nos tempos medievos, pertenciam ao vizinho concelho de Senhorim, que hoje constitui parte do actual concelho de Nelas, e que são Gandufe e Vila Nova de Espinho. A freguesia de Cunha Baixa, que compreende a aldeia que lhe dá nome e a povoação de Abrunhosa do Mato, deverá ter tido a mesma área geográfica e certamente correspondência com a paróquia medieval. O mesmo não acontece com a outra freguesia em estudo. Os objectivos do trabalho orientaram-se no sentido de se proceder a uma revisão das sepulturas publicadas pelo autor (Tavares, 1987 e 1999), por Gomes e Carvalho (1992) e por Menezes Marques (2000). A confirmação da existência na actualidade de todos os monumentos referenciados por estes autores, foi outro propósito. Identificar novas estações ou sepulturas nas estações já existentes, recolher informação e proceder à tentativa de integração no contexto arqueológico e histórico onde se localizam, foram as restantes tarefas propostas. Após batida de campo verifica-se a não existência de todas as sepulturas: somente 13 das iniciais15. Fez-se a recolha da informação relativa aos túmulos, com registo pormenorizado. Não se detectaram novas estações; porém, fontes orais garantiram-nos a existência de mais uma sepultura na estação do Curtinhal, na Cunha Baixa. Dada a intensa vegetação, não a localizamos. Considerando a contextualização das sepulturas parte-se para uma interpretação que permita perceber o povoamento e as práticas funerárias, isto é, que ajude a decifrar a paisagem humana daquela área na época alto-medieval. A cronologia, problemática sempre presente nestes estudos, foi estabelecida em função do contexto arqueológico e histórico e, sobretudo, tendo em conta os estudos realizados em Portugal e em Espanha. Porque as sepulturas aqui estudadas se encontram estratigraficamente desinseridas, e sem espólio de qualquer espécie, está impossibilitada qualquer tentativa de datação absoluta. A metodologia baseou-se na pesquisa e análise bibliográficas, documental e na insubstituível e agradável batida de campo. Socorremo-nos do Levantamento Arqueológico (Gomes e Tavares, 1985), das nossas publicações anteriores (Tavares, 1987 e 1999) e de Menezes Marques (2000), e das obras citadas na Bibliografia. Na batida de campo contámos com a ajuda de Mafalda Tavares, Rita Tavares, Fernanda Tavares, Bruno Claro, José Almeida, Nina, Rui Cabral e João Ferreira. Agradecemos a ajuda na localização de alguns túmulos aos Srs. José Duarte e João Paulo Morais, de Vila Ruiva, Amaral e José Coelho, de Vila Nova de Espinho e Gabriel, de Água Levada. António Ferreira fez o tratamento digital das gravuras. Elaborou-se uma matriz, Quadro 1, a partir de exemplos colhidos em trabalhos anteriormente publicados (Barroca, 1987; Barroca e Morais, 1984; Marques, 1991; Marques, 2000; N.E.S.E.R., 1989; Nóbrega, 2004; Nóbrega, 2005; Silva, 1989; Tavares, 1999; Tente e Lourenço, 1998; Tente e Lourenço, 2002; Valera, 1990; Vieira, 1999). Com base nessa matriz criámos uma ficha de campo (ANEXOS - Gravura I). Publica-se também a gravura utilizada na ficha de campo para se indicar os pontos a partir dos quais tirámos as medidas e que designámos por Pontos de Colheita de Medidas -3-
(ANEXOS - Gravura II). Nesta não exemplificámos os pontos de colheita de medidas em planta para uma sepultura ovalada ou rectangular, por facilidade de percepção. As estações estão ordenadas alfabeticamente por freguesias, localidades e microtopónimos. A descrição individual da estação faz-se da seguinte forma: localização, acessos, contexto geográfico, descrição da sepultura, contexto arqueológico. Tentou-se estabelecer uma relação da estação com os vestígios arqueológicos que pudessem existir, com elementos arquitectónicos próximos, e com a toponímia local e a eventual referência àquele espaço pela documentação medieval. Por fim, referimos a bibliografia exclusiva da estação descrita e o desenho das plantas e secções das sepulturas. Na localização, as coordenadas e a altitude foram colhidas por GPS e as orientações (eixo cabeça-pés) apresentam-se em graus, recolhidos por bússola. Referencia-se a localização das estações na Carta Militar de Portugal, 1:25 000. A cartografia apresentada foi elaborada a partir da mesma Carta. Na descrição da sepultura inclui-se um quadro metrológico com as medidas expressas em centímetros ordenadas conforme a Matriz. No sentido da identificação rápida das sepulturas, optámos por seguir a proposta de Nóbrega (2004): atribuição a cada sepultura duma sigla composta pela letra S (de sepultura), o número da mesma e a abreviatura da estação. ID - Identificação
CG - Contexto geográfico
C - Cabeceira
CT - Comprimento total
CT - Corte Transversal
SS - Situação da sepultura
0 - Local ermo
0 - Não individualizada
O - Isolada
1 - Meia encosta
1 - Arco ultrapassado
1 - Necrópole
2 - Vale
2 - Arco peraltado
11 - Isolada na Necrópole
3 - Monte
3 - Arco de volta perfeita
12 - em grupos de 2
4 - Esporão
4 - Trapezoidal
2 - Grupo de 3
5 - Planalto
5 - Rectangular horizontal
3- Grupo de 4
6 - Terrenos agrícloas
6 - Rectangular vertical
M - Rocha de Base
7 - Junto a Caminhos
7 - Afunilamento do pescoço
0 - Granito
O - Orientação
8 - Arranque subtil
1 - Xisto
TG - Tipologia geral
9 - Almofada
A - Àrea
0 - Não antropomófica
10 - Cantos paralelipipédicos
0 - Afloramento
1 - Antropomórfica
11 - Cantos arqueados
R - Rebordo
0 - Nenhum
1 - Aproveitamento da diaclase
TG0 - Tipologia 0
12 - Cantos em meia lua
O - Indistinto
1 - Associada a Templo
EC - Estado de Conservação
0 - Rectangualr
13 - Dupla cabeceira
1 - Alteado
11 - Adro
0 - Inteira sem tampa
1 - Trapezoidal
14 - Assimétrica
2 - Rebaixado
12 - Interior
1 - Inteira com tampa
2 - Ovalada
3 - Total
2 - Vestígios romanos
2 - Fracturada
3 - Sub-rectangular
OM - Ombros
4 - Parcial
3 - Vestígios Medievais
3 - Inacabada
TG1 - Tipologia 1
0 - Não individualizados
CL - Corte Longitudinal
4 - Destruida
0 - Rectangualr
1 - Arredondados
0 - Assimétrico
OD - Orifício de Drenagem
TC - Técnica de construção
1 - Sub-rectangular
2 - Rectangulares
1 - Rectangular
0 - Nenhum
0 - Indeterminada
2 - Trapezoidal
2 - Trapezoidal
1 - Um
1 - Toda escavada na rocha
3 - Sub-trapezoidal
P - Pés
3 - Trapezoidal invertido
2 - Dois
2 - Parte escavada na rocha
4 - Simétrica
0 - Não individualizados
4 - Losanguico
3 - Mais de Dois
3 - parte escavada na rocha e
5 - Assimétrica
1 - Arredondados
X1 - Perfil Arredondado
X1 - nos pés
completada por lages
6 - Ombro Esquerdo
2 - Rectangulares
X2 - Perfil Anguloso
X2 - noutra zona da sepultura
4 - Escavada no saibro
7 - Ombro direito
3 - Individualizados
XX1 - Plano inclinado C-P
5 - Em cista
8 - Curva de braços
4 - Rebaixados
XX2 - Plano inclinado P-C
0 - Assimétrico Cc - Comprimento cabeceira
1 - Rectangular 2 - Trapezoidal
Lc - Largura da cabeceira
3 - Trapezoidal invertido 4 - Losanguico
Lo - Largura dos ombros
X1 - Perfil Arredondado X2 - Perfil Anguloso
Lm - Largura a meio
XX1 - Plano inclinado D-E XX2 - Plano inclinado E-D
Lp - Largura dos pés CA - Contexto Arqueológico
Quadro 1
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ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO-HISTÓRICO As freguesias de Cunha Baixa e de Espinho são vizinhas e ocupam parte do território sudoeste do concelho de Mangualde, no Distrito de Viseu. A norte, a Oeste e a Este ficam o restante território do concelho e a Sul confinam com o rio Mondego e com o concelho de Nelas. Integradas na plataforma do rio Mondego e, num contexto geográfico regional mais alargado, a Norte e Nordeste ficam os Planaltos Centrais, nomeadamente o Planalto de Aguiar da Beira, a Oeste a Serra do Caramulo e a Sudeste a Serra da Estrela. Os solos são compostos por granitos calco-alcalinos e alcalinos, porfiróides e equigranulares, de grão médio e fino, biotíticos ou de duas micas, apresentando também pequenas manchas de xistos grauvaques e rochas do complexo xisto-migmatítico (Ferreira, 1978). Faz parte da “Civilização do Granito”, como refere Orlando Ribeiro para caracterizar a vasta área que compõe a região de Viseu e Guarda. O território ora considerado ocupa uma área de cerca de 31 km quadrados. Na actualidade tem uma população que ronda os 2 400 habitantes, segundo o Recenseamento Geral da População e Habitação de 2001. Espinho, hoje, é composta por seis povoações: Água Levada, Espinho, Gandufe, Outeiro, Póvoa de Espinho e Vila Nova de Espinho. Cunha Baixa é delimitada a Sul pelo Mondego e pela aldeia de Abrunhosa do Mato. A paisagem vegetativa deste território é, agora, composta pelo pinheiro bravo, manso, carvalho e castanheiro. A mata é revestida pelo tojo, pela giesta e pelo feto. Agricolamente é o milho, a batata, as leguminosas, a oliveira e a vinha que ocupam os terrenos, a par duma grande diversidade de árvores de fruto. Se para os tempos remotos a reconstituição da paisagem desta área é difícil, pressupõe-se que esta se compusesse, ao nível arborícola, pelas mesmas espécies. O homem desde cedo impôs a sua marca transformadora na paisagem. O recuo da floresta pelo amanho da terra foi intenso a partir da época romana. Também neste microterritório estamos perante uma paisagem fortemente intervencionada pelo homem. O solo, fértil, rico em cursos de água subsidiários do Mondego, que proporcionam a boa prática da agricultura, pastorícia e criação de gado bovino, bem como alguma actividade piscatória e um clima ameno, de características atlânticas (Ribeiro, 1995), foram os factores que motivaram a presença do homem nestas paragens já desde tempos imemoráveis. Recuando à pré-história temos o megálito da “Casa da Orca”, na planície que liga Cunha Baixa a Espinho, junto ao rio Castelo. Monumento Nacional desde 1910. Aqui encontrámos uma peça em quartzito com sulco longitudinal envolvente no sentido do eixo mais curto (Gomes e Tavares, 1985, p. 65), característica que leva alguns autores a classificar tais objectos como martelos de mineiros (Vilaça e Cruz, 1990, p.16) e que para outros autores são pesos de rede (Pereira, 2005). A sudoeste ficam as ruínas da “Orca dos Padrões”, recuperadas. Também nas terras de Espinho se referenciam outros dólmenes: a “Orca dos Braçais” ou do “Braçal” que, imprecisamente localizada por Leite de Vasconcelos, (1895b, p. 326) foi situada por Irisalva Moita, (1966, p-254255) a Este da povoação de Outeiro. Não foi detectada por nós. Porém existe no Museu Nacional de Arqueologia algum espólio dali proveniente. No lugar da Laje da Ribeira, perto de Gandufe, é referida a existência de um dólmen, mas já em 1912 demolido (Vasconcelos, 1913, p. 80-81). O território em questão é o mais rico em megalitismo de todo o concelho. A toponímia das duas freguesias indicia a existência de mais exemplares: “Mamoa”, “Val d’Anta”, em terras de Cunha Baixa. Perto também o “Dólmen de Alcafache”, na vizinha freguesia de Moimenta do Dão (Vasconcelos, 1913, p. 81), e a sul, junto à estrada que -5-
liga Vila Ruiva a São João do Monte, na freguesia de Senhorim do concelho de Nelas, a “Orca dos Amiais” (Vasconcelos, 1897, p. 363-365; Moita, 1966, p. 256; Vilaça e Cruz, 1990, p. 5). O complexo Rupestre da Quinta da Ponte, junto à margem direita do Rio Castelo, entre Gandufe e Outeiro de Espinho, é um conjunto de gravuras rupestres cronologicamente inserido num período impreciso da Idade do Bronze. Do género mais terão existido junto aos Braçais, em Outeiro (Gomes e Tavares, 1985, p. 98-101; Gomes e Carvalho, 1992, p. 52-56; Vasconcelos, 1897, p. 368-372). A ocupação romana foi também uma constante nesta zona. A testemunhá-la estão os vestígios que aparecem à superfície, bem como diversos elementos arquitectónicos. A ocupação pode ir de simples casais a villae, estações de muda e estalagens, preferencialmente distribuídas ao longo das vias de comunicação da época. Gomes e Carvalho (1992) na projecção da rede viária romana que passava pelo actual concelho, definem um troço que vindo de Alcafache a Moimenta do Dão entraria na freguesia de Espinho por Água Levada, onde existem importantes vestígios de estações romanas: Bôcha, Cerca, Olival do Mendes, seguindo para Espinho, onde há vestígios de uma Villa, bem como dois prováveis marcos miliários, anepígrafos. Daqui seguiria por Abadia, Outeiro, em direcção a Vila Nova de Espinho, local onde existem várias estações romanas dada a quantidade de vestígios encontrados nos terrenos limítrofes: cerâmicas, tegulae, restos de colunas, fustes, silhares aparelhados, capiteis. A mesma via seguiria rumo á freguesia de Cunha Baixa orientando-se para Abrunhosa do Mato. Aqui existe um habitat, romano, no sítio de Oliveirinha onde se encontrou fragmentos de cerâmica comum: dolia, cerâmica de ir ao lume. Fragmento de mó manuária girante, uma soleira de porta, uma peça em bronze, etc. Perto é visível um troço de calçada que, embora de cronologia indeterminada, poderá ter sido romana, com posteriores utilizações, nomeadamente na Idade Média. A via seguiria pelo Moledo, Contensas de Cima, de Baixo, entroncando em Mourilhe na que, vinda de Mangualde, rumava à zona de Gouveia. O marco miliário do imperador Cláudio, encontrado na Abadia de Espinho, bem como mais três anepígrafos, podem determinar que aqui seria o cruzamento desta via secundária com a via principal que vinha de Bobadela e seguia por Póvoa de Espinho, Santa Luzia passando por Mangualde. (Alarcão, 1988 e 1989; Coelho, 1945; Gomes e Tavares, 1985, 1999; Gomes e Carvalho, 1992; Nóbrega, 2003; Silva, 1945; Vasconcelos 1897,1917; Vaz, 1983, 1992, 1993-94, 1997). Ver Anexos – Gravura III. Quanto à presença medieval refira-se a Cerca, estação arqueológica das imediações de Água Levada, que não existe já, e que Vasconcelos (1895, p. 218-219 e 1917) refere como castro romanizado, e que Nóbrega (2004, p. 26-27) sugere ter tido na Idade Média a função de recinto para guarda de gado. Refira-se a Torre Medieval de Gandufe. É relevante referir as Inquirições de 1258 (P.M.H., Inq.). Praticamente todas as aldeias aqui estudadas são citadas: Cunha Baixa (Cuya Perra/Cuia Perra), Abrunhosa do Mato (Brunosa), Água Levada (Aqua Levata), Espinho (Spino), Gandufe (Gundufe), Outeiro de Espinho (Auteiro), Vila Nova de Espinho (Villa Nova). Nestes documentos Espinho é sede de paróquia, e sua a Igreja era apresentada pelos paroquianos e naturais. Ficámos a saber também o nome de algumas pessoas, referenciados na qualidade de inquiridos, de habitantes, de proprietários e de testemunhas.
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ESTAÇÕES
FREGUESIA DE CUNHA BAIXA
Abrunhosa do Mato Carvalha Gorda Longitude: 7º 44,2048’ Latitude: 40º 33,2675’ Altitude: 456 m C.M.P. 1:25000: f. nº 201 Localizada a meia encosta de um monte, no lugar de Carvalha Gorda. Inserida num afloramento granítico de grão grosseiro, rodeada por vegetação rasteira e pinhal. Junto a um caminho. A cerca de 200m fica a ribeira da Regada. Antropomórfica e simétrica. Cabeça em arco ultrapassado, com almofada. Ombros bem diferenciados cujos ângulos são arredondados. Lados ligeiramente curvilíneos afunilando para os pés que são arredondados. Apresenta profundidade diminuta, sobretudo na zona dos pés. Isolada. Profundidade média de 15 cm. Pelas dimensões trata-se de uma sepultura de um jovem. Não se registam vestígios arqueológicos nas imediações. Nas Inquirições de 1258 o nome de Brunosa designa a localidade, referenciando-se quatro casais testados ao Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão por Donnus Guterri e sua esposa Donna Maria, no reinado de D. Afonso II. ID s1CG
SS 0
M 0
A 0
EC TC CG O TG TG0 TG1 0 1 1 45º 1 4
C 1
OM 1
P 1
CT Cc 175 27
Lc 32
Lo 47
Lm Lp 45 25
R 0
CL X1
CT X1
Tomando-se a estrada municipal de Abrunhosa do Mato a Contenças de Cima, a 200 metros antes da ponte da Alçaperna, há uma cortada à esquerda. Seguindo este caminho sempre no sentido da direita, encontra-se o túmulo a 200m. Estampas: s1CG Bibliografia: Tavares, 1987, p.28-29; Tavares, 1999, p.30-31.
Cunha Baixa Curtinhal Longitude: 7º 45,4513’ Latitude: 40º 34,4541’ Altitude: 455m C.M.P. 1:25000: f. nº 189 Núcleo de três sepulturas. Duas implantam-se num morro granítico e a terceira situa-se em baixo, na base, algo isolada das anteriores. A dividir o morro da base passa -7-
CA OD 0 0
um caminho de acesso à aldeia. Populares referiram-nos a existência de uma quarta sepultura, logo ali ao lado, porém pela intensa e extensa vegetação não foi possível a sua localização. No cimo do monte tem-se uma visão ampla sobre o vale agrícola e sobre a povoação. A vegetação é pinheiros bravos e mansos, carvalhos e a típica vegetação rasteira. Não muito longe passa o ribeiro de Chaves, divisória natural desta freguesia com a de Mesquitela. As três sepulturas são antropomórficas. A sepultura 1, no morro, tem cabeça quadrangular com cantos paralelipipédicos rebaixados. A sua forma geral é rectangular com ombros bem definidos e pés algo arredondados. No leito, quase a meio, existe uma cova cónica, de 10cm de diâmetro e 6cm de profundidade. A sepultura 2, logo a seguir, é também rectangular antropomórfica, cabeça algo trapezoidal formada também por cantos rebaixados, paralelipipédicos. Pés rectangulares. Ao nível do leito, internamente, nota-se um afunilar a partir dos joelhos para os pés. A sepultura 3, implantada na base do monte, do outro lado do caminho, também antropomórfica, exibe uma cabeceira rectangular, mas, contrariamente às outras, não possui cantos rebaixados. Pés rectangulares. O leito apresenta desbaste extremamente irregular. As sepulturas apresentam uma profundidade média de 22 cm. Sepulturas de adulto. Dada a semelhança tipológica da sepultura 1 e 2 cremos serem coevas, talhadas pelo mesmo construtor e para pessoas concretas. Sem dúvida um núcleo familiar. Nos terrenos agrícolas contíguos aparecem fragmentos de tégulas, imbrices, bem como pedras aparelhadas. Marques (2000, p. 71) refere a recolha de um fragmento de mó girante circular. Valentim da Silva (1945, p. 408-409) relata a lenda que terá sido no local de Curtinhal que a aldeia de Cunha Baixa teve o seu início. Depois, devido a uma invasão de formigas, a população teve que deslocar-se para a outra colina, abandonando esta área. Bem, os vestígios romanos e as sepulturas indicam que de facto houve aqui uma ocupação bastante antiga. Também as Inquirições de 1258 referem a aldeia de Cuya Perra, e o nome de um dos seus habitantes: Johannes Faber, que testemunhou sobre vários locais e localidades das então terras de Azurara. ID SS s1C 2 s2C 2 s3C 2
M 0 0 0
A 0 0 0
EC 0 0 0
TC CG O TG TG0 TG1 C OM 1 3 165º 1 0 10 2 1 3 125º 1 0 10 2 1 1 145º 1 4 5 2
P 1 2 2
CT 184 176 186
Cc 26 24 27
Lc 27 39 33
Lo 50 42 52
Lm Lp 48 41 39 32 52 39
R 0 0 0
CL CT CA OD X2 1 2 0 X2 1 2 0 X1 XX2 2 0
Pela estrada municipal de Mangualde para Cunha Baixa, imediatamente a seguir ao Ribeiro de Chaves, na curva, há uma cortada à esquerda. Segue-se no sentido da direita e a 600 m surge um entroncamento. A 100 m, no caminho à esquerda, fica uma entrada num muro de granito: é aí a estação. Estampas: s1C, s2C, s3C Bibliografia: Gomes e Tavares, 1985, p. 86-90; Tavares, 1987, p.23-25; Gomes e Carvalho, 1992, p.47-48 e 160; Tavares, 1999, p.25-27; Marques, 2000, p. 70-71.
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Quinta da Raposeira Longitude: Latitude: Altitude: C.M.P. 1:25000: f. nº 200 Após batida de campo não encontrámos o túmulo. Já em 2000 Menezes Marques o não encontrou. Quando em 1986 visitámos a sepultura ela implantava-se num afloramento granítico, com vegetação rasteira à volta, e pinhal, junto ao caminho entre Cunha Baixa e a Quinta dos Carvalhais, em Outeiro de Espinho. Sepultura antropomórfica, cabeceira de arco de volta perfeita, simétrica, afunilando progressivamente para os pés, ombros diferenciados de ângulos rectos. Os pés são arredondados. Sepultura de adulto. Não foi recolhido qualquer espólio, nem nos terrenos vizinhos há notícia de vestígios arqueológicos. ID s1QR
SS 0
M 0
A 0
EC TC CG 1 5
O
TG TG0 TG1 C 1 4 3
OM 2
P 1
CT Cc 180
Lc 31
Lo 54
Lm Lp 49 29
R 0
CL
CT
A orientação colhida no primeiro levantamento foi SE. O acesso era feito pelo caminho já referido no primeiro parágrafo. Estampas: s1QR Bibliografia: Gomes e Tavares, 1985; Tavares, 1987, p. 26-27; Gomes e Carvalho, 1992, p. 48 e 160; Tavares, 1999, p. 28-29; Marques, 2000, p. 70.
FREGUESIA DE ESPINHO
Água Levada Cumieira Longitude: 7º 48,3280’ Latitude: 40º 34,7381’ Altitude: 440m C.M.P. 1:25000: f. nº 189 Constituída por duas sepulturas implantadas na mesma laje granítica situada num planalto, olhando para o rio Videira e para a aldeia de Água Levada. Leite de Vasconcelos em 1917 refere-se a estas campas. Em 1985, Luís Filipe Gomes e o signatário deste trabalho referem a existência de três campas, obtendo fotografias e procedendo ao levantamento metrológico das mesmas. Na altura o terreno era um pinhal. O signatário, em 1987 e em 1999, publica esta estação fazendo referência aos mesmos três túmulos, referindo que um é ovalado. Em 1992, Luís Filipe Gomes e Pedro Carvalho dão a estação como tendo 4 sepulturas, sendo que uma delas apenas conservava vestígios dos pés. Atribuem-lhe o microtopónimo de Cova dos Moiros. -9-
CA OD 0
Marques, em 2000, relata a existência de 4 sepulturas, sendo que uma delas se encontrava bastante danificada na zona da cabeceira e noutra só se reconheciam os pés e apresenta os dados metrológicos de três. Actualmente apenas damos conta da existência de 2 sepulturas. As outras foram definitivamente destruídas. Os exemplares que restam são antropomórfico, simétricos, de cabeceira de arco de volta perfeita, sendo que a sepultura nº 2 evidencia um arco ultrapassado. Os ombros, de ângulos arredondados, também se diferenciam na mesma sepultura, por serem um pouco descaídos no sentido do corpo. Lados equidistantes, afunilando para os pés que são arredondados. Esta apresenta-se fracturada do lado direito. Os túmulos exibem uma profundidade média de 22 cm. Sepulturas de adulto. Estão lado a lado, com avanço da sepultura 2. À semelhança do Curtinhal, trata-se dum núcleo familiar. Porém, não podemos afirmar da contemporaneidade entre as sepulturas, pois tipologicamente apenas duas são antropomórficas e, porque uma das sepulturas (que já não existe) era ovalada. Os elementos que se observam não nos permitem tirar qualquer conclusão acerca deste aspecto. Não existem vestígios arqueológicos nos terrenos envolventes. Do local avistase o sítio da Cerca, local onde terá existido um castro romanizado (Vasconcelos, 1895) e que poderá ter tido a função de recinto para a guarda de gado (Nóbrega, 2004, p. 27). As Inquirições de 1258 referem Aqua Levata, dando conta de uma herdade foreira ao Rei testada ao Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão por Rodericus Petri, de Spino (Espinho), no reinado de D.Afonso III. ID SS s1Ca 3 s2Ca 3
M 0 0
A 0 0
EC TC CG O TG TG0 TG1 C 0 1 5 85º 1 4 3 2 1 5 70º 1 4 1
OM 1 1
P 1 1
CT Cc 177 23 176 18
Lc 26 26
Lo Lm Lp 57 52 27 50 40 27
R 0 0
CL CT CA OD X1 X1 0 0 0 X2 0 0
O acesso é feito pela E.N. 234, no sentido Mangualde Nelas, e ao km 97,3 tomase um caminho em terra batida, à esquerda, seguindo-o em cerca de 150 metros. Estampas: s1Ca, s2Ca Bibliografia: Vasconcelos, 1917, p. 136; Gomes e Tavares, 1985, p. 120-121; Tavares, 1987, p. 2931; Gomes e Carvalho, 1992, p. 63 e 160; Tavares, 1999, p. 31-33; Marques, 2000, p. 72.
Vila Nova de Espinho Bôcha Velha Longitude: 7º 46,6385’ Latitude: 40º 32,8592’ Altitude: 436m C.M.P. 1:25000: f. nº 200 Aqui encontram-se duas sepulturas, distando uma da outra cerca de 50m. Implantadas numa encosta suave, de pinhal, virada a sudeste, para a Serra da Estrela, numa zona extraordinariamente povoada de afloramentos e lajes graníticas. Núcleo de 2 sepulturas, pese embora o afastamento de uma da outra. De tipologias e tamanhos - 10 -
diferentes. O túmulo 1 é antropomórfico com cabeceira em arco de volta perfeita. Ombros bem definidos, mas de ângulos suavizados. Simétrica, mas a 40 cm dos pés, no lado direito afunila. Termina em ângulos rectos. Exibe no topo da cabeceira a inscultura de uma cruz, com braços que medem 17 e 20 cm. Sepultura de adulto. A sepultura 2 é ovalada e pelas reduzidas dimensões serviu de última morada a uma criança de tenra idade. Como já referimos as sepulturas foram escavadas em afloramentos num pinhal, mas os terrenos agrícolas ficam relativamente perto, a cerca de 300 metros, sendo estes abundantes em vestígios arqueológicos de origem romana. Estas sepulturas, embora isoladas, inserem-se num contexto onde existem mais exemplares, como iremos ver. ID s1BV
s2BV
SS 12 12
M 0 0
A 0 0
EC 0 0
TC CG O TG TG0 TG1 C 1 1 350º 1 4 3 1 1 155º 0 2 0
OM 1 0
P 2 1
CT Cc 186 25 113
Lc 33 26
Lo 45
Lm Lp 45 28 30 17
R 0 0
CL X1 X1
CT X2 X2
CA OD 2 0 2 0
O melhor acesso à Bôcha Velha é a partir da Aldeia de Vila Ruiva, do Concelho de Nelas. Estampas: s1BV, s2BV Bibliografia: Vasconcelos, 1917, p. 113-114; Gomes e Carvalho, 1992, p. 60 e 160; Tavares, 1999, p. 33; Marques, 2000, p. 72-73.
Cova da Moira Longitude: 7º 46, 4235’ Latitude: 40º 33,2871 Altitude: 525m C.M.P. 1:25000: f. nº 200 A estação é composta por uma campa, num planalto, actualmente inserida na vinha que faz parte da Quinta dos Carvalhais, da Sogrape. Isolada. Antropomórfica, rectangular, mas de ângulos suavizados, com cabeceira diferenciada do corpo apenas por um ombro, o direito. O leito é plano e evidencia um perfil de ângulos rectos. Profundidade média de 35 cm. Na rocha de suporte a este túmulo estão gravadas as seguintes inscrições: uma cruz no lateral direito, junto ao ombro e logo a seguir uma pequena covinha; na zona das pernas aparece insculpida uma nova cruz. No lateral esquerdo está gravado um R, a data 1714 e por baixo desta novamente uma cruz. Sepultura de adulto. Nos terrenos não aparecem vestígios arqueológicos, porém o arcaz, embora isolado, faz parte do aglomerado de sepulturas que aqui existe. A 200 metros está a Orca dos Padrões. ID s1CM
SS 0
M 0
A 0
EC TC CG O TG TG0 TG1 C OM 0 1 5 330º 1 7 14 1
P 2
CT Cc 185 32
Lc 28
Lo Lm Lp 41 43 35
R 0
CL 1
CT 1
- 11 -
CA OD 0 0
O acesso é feito pela estrada municipal de Vila Nova de Espinho a Outeiro de Espinho. Estampas: s1CM, s1CM vista geral Bibliografia: Vasconcelos, 1917, p. 113; Gomes e Carvalho, 1992, p. 64 e 161; Tavares, 1999, p. 33; Marques, 2000, p 71.
Laje Longitude: 7º 46,4896’ Latitude: 40º 32, 8950’ Altitude: 446 m C.M.P. 1:25000: f. nº 200 A sepultura desta estação encontra-se num afloramento granítico, junto a penedos, numa encosta suave, virada a Sul. Os terrenos de agricultura alternam com algum pinhal. Surge isolada. Antropomórfica, de lados rectilíneos equidistantes, afunilando ligeiramente para os pés que são rectangulares. A cabeceira é em arco ultrapassado. A diferenciação dos ombros é feita ao nível do pescoço, num plano rebaixado relativamente ao que é observado na superfície da sepultura. Tem uma profundidade média de 30 cm. Túmulo de adulto. Insere-se no já referido contexto arqueológico da área de Vila Nova de Espinho e pertence ao aglomerado sepulcral que ali existe: dista 150 m da estação Lajinha ou Moledo, à mesma distância da estação Tapada, e a 200 m da Bocha Velha. ID SS s1L 0
M 0
A 0
EC TC CG O TG TG0 TG1 C 0 1 1 115º 1 4 1
OM 1
P 2
CT Cc 185 29
Lc 36
Lo Lm Lp 44 43 36
R 0
CL 1
CT CA OD 1 2 0
O acesso faz-se pela estrada municipal de Vila Nova de Espinho a Outeiro, cortando-se à esquerda para o interior dos pinhais. A 400 metros corta-se de novo à esquerda. Surge, no final do caminho, a 150 metros. Estampas: s1L Bibliografia: Vasconcelos, 1917, p. 113-114; Gomes e Carvalho, 1992, p. 60 e 160; Tavares, 1999, p. 33; Marques, 2000, p. 73.
Lajinha ou Moledo Longitude: 7º 46,4108’ Latitude: 40º 32,9249’ Altitude: 445 m C.M.P. 1:25000: f. nº 200
- 12 -
A sepultura surge isolada num afloramento granítico, no interior de pinhal, a meia encosta. Perto fica um caminho. Perto também dos terrenos de cultivo. Antropomórfica, simétrica, cujos lados progressivamente afunilam para os pés que são arredondados. Cabeceira em arco de volta perfeita, ombros arredondados. Apresenta alguns danos no lateral esquerdo. Revela a existência de rebordo, provavelmente natural, mas que se destaca (foto LM 4). Pelas dimensões serviu para alguém cedo arrancado à vida. Nos terrenos de cultivo adjacentes à sepultura foram encontrados vários vestígios de materiais cerâmicos romanos pelos autores do Levantamento Arqueológico de Mangualde, seguindo uma informação de Leite de Vasconcelos proferida em 1917.
ID s1LM
SS 0
M 0
A 0
EC TC CG O TG TG0 TG1 C 0 1 1 75º 1 4 3
OM 1
P 1
CT Cc 145 19
Lc 29
Lo 39
Lm Lp 39 20
R 0
CL X1
CT CA OD 1 2 0
O Acesso é o mesmo descrito para a estação anterior. Estampas: s1LM Bibliografia: Gomes e Carvalho, 1992, p. 60 e 160; Vaz, 1993, p. 48; Tavares, 1999, p. 33; Marques, 2000, p. 73-74.
Tapada Longitude: 7º 46,3822’ Latitude: 40º 32,8802’ Altitude: 445 m C.M.P. 1:25000: f. nº 200 A sepultura foi escavada num afloramento granítico, nas imediações de terrenos que hoje são agrícolas. A meia encosta que dá início à planície agrícola, junto a uma construção já em ruínas e outra que ainda se conserva. O lado direito do túmulo está destruído por completo, porém o que resta do lateral esquerdo permite-nos afirmar que se trata de uma campa de tipologia antropomórfica, presumivelmente com os lados equidistantes que afunilam para os pés, de cabeceira trapezoidal sendo mais larga no pescoço. Os pés são arredondados. No lado esquerdo, a 23cm da sepultura, existe um pio mais ou menos quadrangular, cuja medida do lado maior é 23cm e a profundidade é 8cm. Sepultura de adulto. O topónimo Tapada refere-se a terrenos cercados, sobretudo de matos. Também se insere no contexto arqueológico e no mesmo aglomerado sepulcral que temos vindo a referir. ID SS s1T 0
M 0
A 0
EC TC CG O TG TG0 TG1 C 4 0 1 160º 1 4 4
OM 2
P 1
CT Cc 194 20
Lc Lo Lm Lp 30 42? 50? 33
R 0
CL X2
CT X2
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CA OD 2 0
O acesso é o mesmo referido para a estação de Lajinha-Moledo. Estampas: s1T Bibliografia: Silva, 1945, p. 34; Vasconcelos, 1917; Gomes e Tavares, 1985; Gomes e Carvalho, 1992, p.60 e 160; Marques, 2000, p. 74. As sepulturas das estações referidas na aldeia de Vila Nova de Espinho, embora isoladas umas das outras, constituem um aglomerado. Distam umas das outras entre 150 a 200 metros, estando a Cova da Moira um pouco mais distante, mais perto da Orca dos Padrões. Os terrenos adjacentes à actual aldeia de Vila Nova, vale fértil para a agricultura, são também férteis em vestígios arqueológicos do período romano: tegulas, imbreces, pedras aparelhadas, colunas, fustes, mós manuárias, entre outros. E é à volta deste vale que se dispõem os túmulos escavados na rocha. A aldeia surge nas Inquirições referida como Villa Nova.
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ESTAMPAS
s1CG
s2C
s1C
s3C
- 15 -
s1QR
s1Ca
s2Ca
s1BV
s2BV
s1CM vista geral
s1CM
s1L
- 16 -
s1LM
s1T
Todas as estampas estão à escala 1:10
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DOS DADOS RECOLHIDOS
Localização das estações: Situadas a uma altitude média de 450 metros as estações em estudo implantamse a meia encosta, descendo para os vales férteis, ou já no declive de planalto. Apenas uma aparece no cimo de um monte: duas das três sepulturas do Curtinhal. O facto de se localizarem nestes locais poderá indicar que as casas de habitação, os casais, ou os aglomerados habitacionais se situariam bastante perto, deixando os terrenos de vale e planície para a agricultura, característica, aliás, vinda da ocupação romana. Verificamos também que, no que diz respeito às estações, mais de metade encontra-se junto a caminhos. Se contabilizarmos as sepulturas que cada estação possui observamos a mesma situação. Marques (2000, p. 184) e outros autores sustentam que esta é uma característica deste tipo de sepulcros. Barroca (1987, p. 10-12) faz entroncar esta situação na tradição mental e ritual funerária dos romanos. Porém, para validarmos, no caso concreto, esta hipótese seria necessário verificar a contemporaneidade destes caminhos com as sepulturas. SEPULTURAS
ESTAÇÕES
M 10% P 30%
M 15%
ME 60%
Meia Encosta s1,2BV; s3C; s1CG; s1L; s1LM; s1T 6 (60%) 7 (54%)
Planalto s1,2Ca; s1CM; s1QR 3 (30%) 4 (31%)
ESTAÇÕES
OL 44%
M E 54%
P 31%
Monte s1,2C 1 (10%) 2 (15%)
Estações Sepulturas
SEPULTURAS
JC 56%
OL 46%
JC 54%
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Junto a caminhos s1,2,3C; s1 CG; s1L; s1LM,s1QR 5 (56%) 7 (54%)
Outras localizações s1,2BV; s1,2Ca; s1CM; s1T 4 (44%) 6 (46%)
Estações Sepulturas
Tipologia das estações: As estações destas freguesias caracterizam-se, à semelhança da realidade verificada no resto do Concelho (Tavares, 1987, 1999) e do resto da região de Viseu (Marques, 2000; Tente e Lourenço, 1998; Vieira, 2004) bem como de outras regiões do país (Barroca, 1987; Valera, 1990), por ter um número diminuto de sepulturas. Não significa dizer que a tão reduzido número de sepulturas corresponda necessariamente uma tão reduzida população. Trataremos deste ponto mais adiante. Assim, a maioria das estações é constituída por túmulos isolados: 6 no total. Refira-se que a estação da Bôcha Velha é constituída por 2 sepulturas, distando uma da outra cerca de 50 metros, constituindo assim um grupo de 2. Existe um núcleo de 4 que é a Cumieira, uma vez que pelos estudos feitos anteriormente, existiu esse número de exemplares, restando agora apenas 2 sepulturas. Temos ainda a estação do Curtinhal que é um núcleo com 3 estando 1 em situação de isolada no núcleo. ESTAÇÕES
SEPULTURAS
N 4 N 3 11% 11% N 2 11%
N 4 15%
ESI 67%
Estações de Sep. Isoladas s1CG; s1CM; s1L; s1LM; s1QR; s1T 6 (67%) 6 (47%)
ES I 47%
N 3 23% N 2 15%
Núcleo de 2 s1,2BV 1 (11%) 2 (15%)
Núcleo de 3 s1,2,3C 1 (11%) 3 (23%)
Núcleo de 4 s1,2Ca 1 (11%) 2 (15%)
Estações Sepulturas
Contexto arqueológico: A maioria das estações insere-se em terrenos evidenciando vestígios arqueológicos; sobretudo cerâmica comum e de construção romana. Convém referir que podem aparecer cerâmicas de outros horizontes cronológicos, eventualmente altomedievais, porém o deficiente conhecimento dos materiais correspondentes a esta época podem levar-nos a atribui-los erradamente à época romana. No Curtinhal e nas estações periféricas a Vila Nova de Espinho, estão referenciados achados de pedras aparelhadas, bases de colunas, fustes, capitéis, mós manuárias. São, contudo materiais de superfície. Porém, nesta última aldeia existe um abundante manancial de vestígios romanos: fustes de colunas, bases de colunas, pedras aparelhadas que, integrado na construção das casas actuais, revela a significativa ocupação que esta área teve naquela época.
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Nas restantes não foi referido por nenhum autor qualquer vestígio arqueológico ou espólio. FREGUESIAS CUNHA BAIXA Abrunhosa do Mato Cunha Baixa
ESTAÇÕES
Nº Sepulturas
Carvalha Gorda Curtinhal Quinta da Raposeira
1 3 1
Não Romano Não
2 2 1 1 1 1
Não Romano Romano Romano Romano Romano
ESPINHO Água Levada Cumieira Vila Nova de Espinho Bocha Velha Cova da Moira Laje Lajinha ou Moledo Tapada
Contexto Arqueológico
ESTAÇÕES
SEPULTURAS
S CA 31%
S CA 33% CA 67%
CA 69%
Estado de conservação: Todas as sepulturas não exibem cobertura. Tendo em conta o desgaste provocado pelos agentes da Natureza ao longo de séculos, a qualidade do granito onde os túmulos foram escavados, pode dizer-se que o estado de conservação é bom, apesar dos danos que algumas empoem. Os túmulos do Curtinhal, dada a excelente qualidade do granito, estão muito bem conservados. Em igual estado estão também as sepulturas da Bôcha Velha e da Laje. A sepultura de Carvalha Gorda apresenta vestígios de forte erosão, dado o grão do granito. O exemplar da Cova da Moira também apresenta alguns danos, inclusive as diáclases da rocha. Na Lajinha-Moledo é o bordo do lado esquerdo, na zona dos pés, que está danificado. As duas sepulturas da Cumieira evidenciam danos nos bordos. Por fim a da Tapada revela a falta de todo o lado esquerdo.
Tipologia das sepulturas: Das sepulturas analisadas 12 são antropomórficas e apenas uma ovalada. Em estudos anteriores referimos a existência da sepultura ovalada na estação da Cumieira, que já não existe (Tavares 1987, p.29-30; 1999, p. 32-33).
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Tipologia Geral
NA 8%
A 92%
Não Antropomórficas Antropomórficas
1 (8%) 12 (92%)
Quanto à Tipologia Geral 1 (ver Quadro 1) observamos 8 túmulos simétricos, 3 rectangulares e 1 de ombro direito. Tipologia Geral 1
O Dto 8% R 25%
S 67%
Simétricas s1CG; s1BV; s1,2Ca; s1L; s1LM; s1QR; s1T 8 (67%)
Rectangulares s1,2,3C 3 (25%)
Ombro Direito s1CM 1 (8%)
Quanto à forma da cabeceira é observável uma multiplicidade de tipos: desde o arco de volta perfeita, passando pelo arco ultrapassado e pelos exemplares interessantes que são os de cantos paralelipipédicos das sepulturas 1 e 2 do Curtinhal. Para Castillo (1972) e outros autores catalães o antropomorfismo é uma evolução tipológica a partir das sepulturas ditas de banheira, e é esta evolução que lhes permite traçar um quadro cronológico. Barroca (1987, p. 130) e Marques (2000, p. 192), para além disso, teorizam que o antropomorfismo se baseia na vontade de se querer imobilizar a cabeça do defunto e permitir que o rosto se mantenha voltado para o exterior. Nóbrega (2004, p. 24) entende que a inumação por si só, bem como a cobertura das sepulturas, provavelmente feita à base de terra, eram suficientes para conseguir esse objectivo. Nós acrescentamos que o rigor mortis se encarrega de imobilizar o corpo, bem como a cabeça.
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Cabeceira
A 8%
N I 8% AVP 34%
RH 8%
CP 17% AU 25%
AV P AU CP RH A NI s1BV; s1Ca; s1LM; s1QR s2Ca; s1CG; s1L s1,2C s3C s1CM s2BV 4 3 2 1 1 1 Legenda: A V P: arco de Volta perfeita; AU: arco ultrapassado; CP: cantos paralelipipédicos; RH: rectangular Horizontal; A: assimétrica; NI: não individualizada.
Exceptuando a sepultura 2 da Bôcha Velha, por ser ovalada, 7 têm ombros de arestas arredondadas e 5 de arestas vivas ou rectangulares. Quanto aos pés, a maioria, 8, apresentam a forma arredondada e as restantes a rectangular. Nenhum exemplar na área em estudo, à semelhança do que se verifica no resto do concelho, apresenta pés individualizados.
Ombros
Pés
N I 8% R 38% R 38%
Arredondados 7 s1BV; s1,2Ca s1CG; s1CM s1LM
A 54%
A 62%
OMBROS PÉS Rectangulares Não Identificados Arredondados Rectangulares 5 1 8 5 s1,2,3C; s1QR s2BV s2BV; s1C s1BV; s2,3C s1T s1,2Ca; s1CG s1CM; s1L s1LM; s1QR s1T
Numa análise das formas tipológicas das cabeceiras, dos ombros e dos pés, verifica-se não haver qualquer tipo de correspondência entre elas. Isto é, a uma cabeceira do tipo arco de volta perfeita pode corresponder qualquer tipo de ombros e - 22 -
qualquer tipo de pés. O mesmo se verifica nas sepulturas dos núcleos. As sepulturas 1 e 2 do Curtinhal apesar de terem uma cabeceira idêntica, cantos paralelipipédicos, ombros rectangulares, exibem pés distintos: a 1 é do tipo arredondado e a 2 do tipo rectangular.
Dimensões das sepulturas: Verifica-se uma predominância de sepulturas para adultos, dado haver 5 exemplares no intervalo entre 161 e 180cm e 6 se situarem no intervalo que vai de 181 a 200 cm. Existe apenas uma sepultura de bebé: a sepultura 2 da Bôcha Velha. O arcaz da Carvalha Gorda é de um jovem, bem como a da Lajinha – Moledo. Barroca (1987, p. 121) e outros autores alertaram que as sepulturas deverão certamente exceder o tamanho real dos inumados talvez em 10 a 20 cm. Esta folga permitia que o corpo do defunto coubesse na sepultura. Assim, podemos calcular o tamanho dos inumados, mas como referem Tente e Lourenço (2002, p. 255) apenas se pode assim concluir relativamente aos inauguradores dos sepulcros, partindo do princípio que as reutilizações destes eram prática frequente. Num exercício de cálculo, retirando 10cm às medidas de comprimento total, temos que no grupo intervalado entre 161 e 180 a média de altura dos inumados é de 166,8 cm. No intervalo seguinte vê-se uma média de 176cm. Estas médias inserem-se nas verificadas para o concelho de Mangualde, para as da região de Viseu, e para outras regiões do país (dados recolhidos em Tavares (1987, 1999), Valera (1990), Marques (2000), Tente e Lourenço (1998, 2002). Verificando a largura dos ombros e a largura média a meio apuramos uma frequência mais elevada no intervalo entre os 41 e os 55cm, o que, a par dos comprimentos totais, atesta uma população de estatura mediana, nada alta, de robustez física não muito acentuada. Estas conclusões de carácter antropológico apenas se referem à população que ocupou estas sepulturas, não permitindo conjecturas de ordem generalista, dada a inexistência de espólio osteológico. 100 – 120 121 - 140 1 Comprimentos Totais
141 - 160 1
161 - 180 5
181 - 200 6
35 - 40 41 - 45 1 5 Larguras de Ombros
46 - 50 3
51 - 55 2
56 - 60 1
30 - 35 1 Larguras a meio
41 - 45 4
46 - 50 3
51 - 55 1
36 - 40 3
- 23 -
Comprimentos Totais 6 5 6
4
5
3 2 1
1
1
0 100 - 120
121 – 140
141 - 160
161 - 180
181 - 200
Larguras de Ombros 5 4,5 5
4 3,5 3
3
2,5 2
2
1,5 1 0,5
1
1
0 35 - 40
41 - 45
46 - 50
51 - 55
56 - 60
Larguras a Meio 4 3,5
4
3 3
2,5
3
2 1,5 1 0,5
1
1
0 30 - 35
36 - 40
41 - 45
46 - 50
51 - 55
- 24 -
Profundidade: A profundidade é bastante variada, situando-se numa média de 25/30 cm.
Rebordo: Não distinguimos a existência de rebordo em nenhuma sepultura. Porém, a sepultura da Lajinha – Moledo ostenta um rebordo que parece ser natural, aproveitando a configuração do afloramento. Generalizadamente os laterais da maioria das sepulturas revelam horizontalidade capaz de receber tampas de cobertura, não se tendo, todavia, encontrado nenhuma. Além disso não há vestígios de encaixe que leve a concluir da existência dessas tampas. O perfil das restantes leva-nos a pensar que a cobertura se fazia com terra e pedregulhos, evitando o deslizamento dessa mesma terra.
Orifícios de drenagem: Não detectámos nenhum espécimen com orifício de drenagem. Em algumas sepulturas doutros territórios esse orifício está presente, permitindo o escoamento dos fluidos resultantes da decomposição dos féretros, bem como das águas pluviais que se infiltrassem. Marques (2000, p. 193) faz alusão a estes orifícios, e Nóbrega (2004, p. 30) refere a existência de duas sepulturas da freguesia de Quintela de Azurara, Mangualde, contendo esses orifícios, junto aos pés.
Pios escavados: Nas estações em estudo encontrámos um pio escavado na própria rocha da sepultura: o pio quadrangular do lateral esquerdo da campa da Tapada, Vila Nova de Espinho. O lado maior do pio tem 23cm e uma profundidade de 8cm. A utilidade destes pios associados às sepulturas é problemática, havendo autores que os relacionam com os rituais funerários de lavagem do corpo do defunto. Este assunto é falado no capítulo dos Rituais Funerários. Existem no concelho de Mangualde sepulturas que ostentam esses pios: a da Mata dos Condes, em Mangualde e a do Rossio, na Mesquitela (Gomes e carvalho, 1992, p. 104 e 107)
Orientação: A orientação das sepulturas escavadas na rocha é um ponto habitualmente tratado pelos investigadores, dado o potencial de esclarecimento da mentalidade cultural e religiosa do homem medieval. A recomendação canónica que imperava aos enterramentos determinava que esta fosse no sentido Oeste-Este, ficando a cabeça a Oeste, olhando para Este. O substrato cultural subjacente é a crença cristã que diz que Deus aparecerá a Este no dia do Juízo final (YOUNG, 1975)
- 25 -
É, assim, espectável que as sepulturas se orientem segundo este critério. Na Península Ibérica observa-se uma predominância à volta deste eixo, havendo, contudo, grande variedade de orientações, colocando-se em desacordo com o critério canónico. Partindo do pressuposto que a orientação dos túmulos decorria da vontade humana convém salientar que a não exactidão do eixo se devia ao facto dessa orientação se efectuar por observação directa dos astros, sem recurso a instrumentos de determinação dos pontos cardeais. Logo, a variação que se verifica pode depender das diferentes alturas do ano em que se abria os túmulos. Também não se pode argumentar que tal se devia a impeditivos de natureza topográfica ou geológica, porquanto bastaria escolher um outro afloramento que permitisse a obediência ao eixo canónico. Autores há que defendem que muitas das sepulturas se orientaram em função de caminhos vicinais, garantindo assim o perpetuar da memória do sepultado por todos os que por ali perto passassem. Refira-se, também, que muitas das necrópoles situadas à volta das igrejas se ordenaram em função do próprio eixo do templo. Nos casos em análise observamos que a maioria, 7 em 13 (54%) se orienta a SE. 5 delas orientam-se a NE e apenas uma se a E, a sepultura 1 da Cumieira. Podemos depreender desta leitura que todas as sepulturas deste território se orientam para Este, espalhadas nos quadrantes norte e sul deste ponto cardeal. A realidade estudada no concelho de Mangualde (Tavares, 1987, 1999) evidenciou uma orientação maioritária para Este e quadrante SE. A tendência terá sido certamente a obediência à premissa canónica. Barroca (1987) refere que na região de Entre-Douro-eMinho a maior variação de orientações se verifica nas sepulturas não antropomórficas e, uma vez que não obedeciam à recomendação canónica, revelavam arcaísmo. Assim, para as sepulturas de Cunha Baixa e Espinho que são antropomórficas e tendo em conta a tendência das orientações, pode pensar-se estarmos perante exemplares relativamente tardios e de acordo com a norma religiosa.
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Graus Quadrante Sepulturas Estações 45º NE S1 Carvalha Gorda Carvalha Gorda 70º NE S2 Cumieira Cumieira 75º NE S1 Lajinha - Moledo Lajinha – Moledo 85º NE S1 Cumieira Cumieira 115º SE S1 Laje Laje 125º SE S2 Curtinhal Curtinhal 145º SE S3 Curtinhal Curtinhal 155º SE S2 Bocha Velha Bocha Velha 160º SE S1 Tapada Tapada 165º SE S1 Curtinhal Curtinhal 330º NW S1 Cova da Moira Cova da Moira 350º NW S1 Bocha Velha Bocha Velha SE Quinta da Raposeira Quinta da Raposeira
Símbolos insculpidos: A literatura referencia símbolos insculpidos nas sepulturas ou nos afloramentos onde se implantam, sendo por isso relacionáveis entre si. Não pudemos categoricamente, para muitos deles, afirmar da coetaneidade destes símbolos com as sepulturas, nem tão pouco inferir que tenham carga simbólica directamente relacionável com qualquer rito funerário ou religioso. São os símbolos cruciformes e as pequenas covinhas que aparecem mais vezes citados. Para a grande região de Viseu, Marques (2000, p. 134-135, 161, 113) apresenta um exemplar que tem duas cruzes gravadas no bordo, em Sobreiro, Canas de Santa Maria, Tondela; um na Quinta da Capela, em Lourosa de Baixo, São João de Lourosa e também o sarcófago da Igreja Paroquial de Pindo, no Concelho de Penalva do Castelo. Candeia da Silva (1989, p. 515), para a região da Beira Baixa, informa-nos da presença de tais sinais em algumas campas. Nas sepulturas ora estudadas confirmámos a existência das duas cruzes, da data de 1714 e da letra R mencionadas por Marques (2000) na sepultura da Cova da Moira. Acrescentamos ainda a existência de mais uma cruz no lado direito, junto aos pés do túmulo. No mesmo afloramento existem pequenas covinhas, à semelhança das que registámos na Necrópole de Cumareiro, Póvoa de Cervães, e na de Quelhadas, em Aldeia Nova, Santiago de Cassurrães (Tavares, 1987, p.44, 50; 1999; p. 49, 59). Na sepultura 1 de Bôcha Velha detectámos no bordo da cabeceira uma cruz (ver foto 9). Terão sido tais símbolos feitos pelos construtores dos túmulos? Serão posteriores e de data bem mais recente? Como é por demais evidente algumas gravações exibidas na Cova da Moira são relativamente recentes.
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HISTORIOGRAFIA E CRONOLOGIA DAS SEPULTURAS O estudo das sepulturas escavadas na rocha já tem muitos anos em Portugal. Autores como Leite de Vasconcelos, Martins Sarmento, Vergílio Correa, Santos Rocha, Félix Alves Pereira, entre outros dedicaram atenção a estes monumentos. Cronologicamente foram já classificadas como romanas. Amorim Girão (1933), Alberto Correia (1976) atribuíram-nas à época proto-histórica. Carlos Alberto Ferreira de Almeida (1974), entre outros, já lhes atribui uma cronologia medieval. Foram as investigações de Alberto del Castillo (1970, 1972) que marcaram de forma profunda a abordagem de estudo destes monumentos, influenciando a investigação ao nível da Península Ibérica. Baseado nas suas escavações, este autor estabeleceu uma tabela cronológica e tipológica que permitia relacionar as sepulturas com a Reconquista Cristã e com o povoamento. Castillo defendeu uma evolução tipológica onde a forma rectangular e oval eram as mais antigas, originadas por volta do séc. VII. As formas antropomórficas eram contemporâneas da Reconquista Cristã. A transição tipológica de um modelo para o outro deveu-se, segundo este autor, ao aperfeiçoamento da técnica de construção das sepulturas, verificando-se por volta do séc. IX, com o início do contorno do ombro esquerdo e o surgir da cabeça. O antropomorfismo definia-se no séc. X. Havia então uma época balizada entre os séc. VI-VII e VIII, e uma segunda época que se prolongava do séc. IX ao XI. Posteriormente generalizam-se os enterramentos nos adros das Igrejas. Katja Kliemann (1986) criticou os estudos deste autor, sobretudo a tipologia e a cronologia, defendendo que a maioria dos túmulos se inscreveria nos séculos IX e X. De facto, a realidade estudada em Espanha e Portugal denota que a transição do não antropomorfismo para o antropomorfismo se pode ter verificado segundo uma linha evolutiva crono-tipológica regional, e não tão linear como propôs Castillo. Para este a evolução da primeira forma para a segunda prendia-se com o delinear do ombro esquerdo. Hoje observa-se uma diversidade tipológica enorme que leva a considerar que a transição se processou de diversas formas, por exemplo: a cabeceira mal delineada, insuficientemente individualizada, mais descaída para um lado ou para o outro, o talhe de apenas um dos ombros, ou o esquerdo ou o direito. Aliás, refira-se que no concelho de Mangualde esta diversidade também acontece, e um dos exemplares em análise no presente estudo apresenta apenas um ombro delineado e não é o esquerdo, mas sim o direito (Cova da Moira, Vila Nova de Espinho, Espinho). Tente e Martins (1994, p. 286) adiantam que “dentro do antropomorfismo nada comprova que as diferenças tipológicas sejam explicadas unicamente em termos temporais (…)”. Assim, se porventura se considerar esta tese, “características tipológicas como o delineamento dos braços (como acontece no concelho de Carregal do Sal), a existência de cantos que estruturam a cabeceira ou o rebordo total elevado, são indicadores de uma cronologia mais tardia.” Estas autoras preferem pensar que tal diversidade tipológica se deve a um investimento diferente, apontando que uma sepultura de rebordo requer mais dispêndio (quer económico, técnico e de tempo). Tal significa que a variação tipológica poderá estar directamente relacionada com o estatuto socio-económico do inumado, tal como propôs Ariès (1988). Apesar de algumas conclusões divergentes face a Castillo, os seus trabalhos continuam a ser referência na actual investigação na Península Ibérica, continuando a pensar-se que, em traços gerais, a cronologia se relaciona com a tipologia. Em Portugal, a nova forma de encarar o estudo das sepulturas é iniciada por Mário Jorge Barroca e Cardoso Morais, nos anos 80 (1984). No artigo das escavações de Aguiar da Pena os autores traçam uma descrição morfológica e uma análise espacial das sepulturas, projectando-as para uma cronologia que vai do séc. VII ao XI. Mais - 28 -
tarde, acerca da realidade de Entre-Douro-e-Minho, Mário Barroca declara que as sepulturas estão fundamentalmente ligadas a uma forma de povoamento disperso, dado que naquela região eram predominantes os casos de sepulturas isoladas ou pequenos núcleos de 2 a 3, não sendo frequentes, portanto, as necrópoles. Recentemente, os trabalhos apresentados por Meneses Marques (1991, 1992, 2000), António Carlos Valera (1990), Catarina Tente (1994, 1998, 2002), Sandra Lourenço (1998, 2002), Marina Afonso Vieira (2004), entre outros, são conclusivos que na vasta região da Beira Alta (Distritos de Viseu e Guarda) a realidade se caracteriza também pela forte predominância dos casos isolados e pequenos núcleos de 2 a 3, sendo raras as grandes necrópoles. É também grande a diversidade tipológica. No contexto das grandes necrópoles refira-se a de São Julião, na Igreja Matriz de Mangualde, a das Forcadas, em Matança, bem como a da Tapada do Anjo, em Vila Ruiva, ambas no Concelho de Fornos de Algodres, e as de S. Gens em Celorico da Beira. Interessante é a posição adiantada por João Inês Vaz (1997, p. 414-415) que ligando as sepulturas ao povoamento aponta uma cronologia diferenciada. Estipula dois casos, por um lado os túmulos que surgem acompanhadas de materiais cerâmicos tipicamente romanos, como as tégulas e ímbrices deverão ser consideradas romanas ou tardo-romanas. As sepulturas que surgem isoladas, nos ermos, desinseridas de qualquer contexto de povoamento, serão isso sim, medievais. As sepulturas escavadas na rocha assumem, desta forma, um papel crucial para a caracterização do tipo de povoamento da Alta Idade Média. Como elucidam as últimas interpretações, a tipologia das estações sugere um povoamento disperso, baseado em pequenos núcleos familiares, que enterravam os seus mortos junto das suas casas, nas suas propriedades. Foi o Cristianismo que impulsionou o enterramento dos mortos como ritual religioso, a par da edificação de templos, a partir do século IV, em cujo interior se procedia à inumação dos crentes. É conveniente salientar que o I Concílio de Braga, no ano de 563, proibia o enterro dentro das igrejas. Mais tarde o II Concílio de Braga, em 572, faz referência à fundação de santuários ou monumentos (túmulos) por meros particulares in terra sua. (SILVA, 1989, p. 515). É, assim, natural depreender-se que as pessoas, talvez as mais abastadas, construíssem a sua sepultura dentro das suas terras. Poderá, por conseguinte, ser em finais século VI que se inaugura o enterramento nas sepulturas escavadas na rocha, prática que perdura até ao século XI, com a generalização da inumação nos adros das igrejas. De acordo, então, estão os estudiosos ao apontarem o arco temporal que vai do Século VI-VII ao século XI, como o período de vida para as sepulturas rupestres, Admitindo também que a transição para o antropomorfismo se verifica sobretudo no século IX. Assim, do século VI-VII ao XI temos uma realidade composta por sepulturas “rurais” e daí para a frente as necrópoles dos adros das igrejas. Será que a continuidade das sepulturas escavadas na rocha se processou desta forma? Por quanto tempo se processou a coexistência destas duas práticas? Na região da Beira Alta, vários foram os autores que se pronunciaram sobre tais testemunhos medievais: Leite de Vasconcelos, Santos Rocha, António de Almeida, Valentim da Silva, José Coelho, Alberto Correia; e mais recentemente António Valera, António Tavares, Evaristo Pinto, Menezes Marques, Catarina Tente e Sandra Lourenço, P. Monteiro, Ivone Pedro, M. Vieira, João Inês Vaz, Pina Nóbrega, entre outros. Genericamente estes estudos mais recentes permitem um maior conhecimento da realidade socioeconómica, das mentalidades, da organização espacial e do povoamento de uma época que ganha maior importância nos meios académicos e no público em geral. - 29 -
RITUAIS FUNERÁRIOS
Não há dúvidas que foi o Cristianismo impor a inumação como ritual a partir do século IV, como já afirmámos anteriormente. Nesta altura verificou-se a construção de muitas igrejas e os enterramentos eram feitos no seu interior. Já referimos a expulsão das sepulturas do interior das Igrejas, com o I Concílio de Braga, em 563. Esta situação desenvolveu práticas e rituais fúnebres de índole privado. Os enterramentos passaram a efectuar-se nas propriedades, nas terras das pessoas. A escolha dos sítios, a localização dependiam da vontade de cada um. Pouco se sabe dos rituais, da praxis religiosa que compunham o funeral na Alta Idade Média. Quando alguns autores defendem que estas sepulturas se implantam preferencialmente junto a caminhos, em locais que se destacam na paisagem, poderão pensar que se está perante uma forma concreta de rito funerário? Barroca alerta, como já referimos, para a tradição mental e funerária dos romanos. Para validação desta hipótese haveria que se averiguar da contemporaneidade dos caminhos com as sepulturas. Alguns autores falam no ritual da lavagem do corpo do morto para depois ser envolvido num sudário. Algumas sepulturas têm no mesmo afloramento algumas pias circulares, escavadas, que variam de diâmetro. Outras há que são quadrangulares. Em Espanha, Riu (1982), e outros autores enumeram a existência de tais pios, relacionandoos directamente com este ritual funerário de lavar o defunto. Na região da Beira Alta quer Menezes Marques quer Catarina Tente e Sandra Lourenço fazem referência à existência deles. Nós, para os exemplares estudados neste concelho, referimos a existência deste tipo de pias em alguns exemplares. Na estação de Tapada, Vila Nova de Espinho, a sepultura exibe uma pia quadrangular. Assim, de acordo com as hipóteses levantadas, tais pias serviam para o ritual de lavagem do corpo antes da inumação. Tratar-se-ia, porém, de um rito simbólico, uma vez que estas pias na maior parte dos casos, pela sua profundidade e diâmetro comportam pouca água. O mesmo acontece com o túmulo da estação da Tapada. Após a inumação a sepultura era tapada por uma laje única ou por várias lajes, ou mesmo apenas por terra e pedras, formando uma espécie de campa, ou em alguns casos tendo o aspecto de pequenas mamoas. As estações em estudo não apresentam encaixe para tampa. Já referimos que para Castillo (1972) e outros autores catalães o antropomorfismo é a evolução natural a partir dos túmulos ditos de banheira ou ovalados, porém Barroca (1987) e Marques (2000), por exemplo, defendem que esse mesmo antropomorfismo depende da vontade de se querer imobilizar a cabeça do defunto, permitindo assim que o rosto ficasse voltado para o exterior. Suportando esta argumentação temos o que refere Mattoso (1997, p. 7) quanto aos pressupostos mentais do culto dos mortos; este investigador escreve que o medo dos mortos provoca nos vivos a execução de uma panóplia de rituais que consistia fundamentalmente em imobilizar o defunto, por forma a que o espírito saísse e não voltasse a entrar. Estará o antropomorfismo das sepulturas eivado de tão grande carga simbólica? Não esqueçamos que o Rigor Mortis, como já referimos, se encarrega de imobilizar o corpo e a cabeça. As sepulturas, testemunho de vidas há muito extintas, não nos revelando quem as ocupou, dão-nos conta de um ritual funerário anónimo. Na Baixa Idade Média, com o regresso das inumações aos adros das Igrejas, o anonimato dos sepultados continua. A partir desta altura começa a generalizar-se o uso
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das estelas discóides, sendo mais frequentes no séculos XV e XVI, com incursões pelo século XVIII. Alguns autores defendem que as estelas funerárias evoluíram até esta forma tendo a sua origem nas estátuas funerárias, proto-históricas, estando subjacente a ideia de representar a figura do falecido, fosse para atrair e conservar, nessa imagem, a alma errante do morto ou fosse para proporcionar ao espírito uma figuração mais duradoura que o próprio corpo. Colocadas no topo e por vezes aos pés das sepulturas ostentam vários motivos decorativos, principalmente a cruz numa das faces e alguns instrumentos da profissão na outra. Não referem quem era o sepultado, mas declaram a sua profissão. Quando o homem morre, para várias crenças, verifica-se a divisão entre o corpo e a alma, ou várias almas. Alguns destes componentes ficam na sepultura; outros empreendem uma larga viagem a mundos fabulosos. Para realizar a viagem ou simplesmente para prosseguir com regularidade na sua vida de além-túmulo, o morto necessita da ajuda dos que ficaram sobre a terra. O culto dos antepassados, que é a base da maioria das religiões, explica-se assim, facilmente, como o cumprimento dos deveres exigidos aos vivos pelas suas crenças acerca da vida além-terrestre. SEPULTURAS E PARÓQUIAS MEDIEVAIS Ferreira de Almeida (1986) diz que a paróquia medieval, para a região do noroeste português, é um fenómeno que se estrutura nos séculos XII-XIII, embora alicerçado religiosa, social e economicamente na época anterior. Para este autor, a paróquia medieval pouco tem a ver com a paleocristã, ou mesmo com as paróquias da Reconquista. Esta realidade terá certamente correspondência para a região da Beira Alta. Só com a reforma gregoriana, em fins do século XI e pelo século XII é que se desenha uma estrutura paroquial definindo um espaço próprio que compreende o espaço da paróquia, da igreja, do adro e do cemitério. Esta nova realidade rompe com a observada até aqui: os enterramentos privados, efectuados nas propriedades, mais ou menos junto às habitações, dão lugar a um ritual funerário público. Os sepultamentos são agora realizados nos adros e cemitérios contíguos às Igrejas. A Igreja Paroquial assume desta forma um papel central e aglutinador das comunidades. Estamos, assim, perante duas formas distintas de organização do espaço religioso e necrológico e também social, em que a primeira denota a inexistência de um lugar definido, institucionalizado para os enterramentos. Na área em estudo não podemos afirmar que haja coincidência espacial ou cronológica entre as sepulturas e as Igrejas Paroquiais da Idade Média. Um dado observável é que as estações em análise são dispersas, aparentemente desinseridas de um contexto que nos permita relacioná-las com possíveis lugares de culto, pequenos templos rupestres até, ou com as Igrejas Paroquiais de cada uma das freguesias. Os microtopónimos destas estações também não sugerem relacionamento com templos, capelas ou cultos religiosos. Nem tão pouco conhecemos lendas que lhes façam alusão. QUEM ESCAVOU AS SEPULTURAS No período visigótico a inumação dos mortos era perpetrada na terra, ou em caixões feitos com pequenas pedras e telhas e em sarcófagos de mármore, com tampa exibindo decoração e inscrição. Historiadores espanhóis referem que na sua maioria estes procedem de oficinas de Roma, dando-se já conta de oficinas em território da Península (Bureba e Tarragona) no século V. Havia, portanto, um operariado especializado para a construção e decoração destes túmulos.
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As sepulturas invadem, nesta época, o interior das igrejas, para mais tarde irem para as propriedades privadas, de acordo com o Concílio já referido. Agora estes túmulos não ostentam qualquer tipo de inscrição ou decoração. São completamente incógnitos. Quem efectuava o trabalho da escavação? Jordi Bolós i Masclans, Fàbregues i Sabater, entre outros, defenderam que no caso das sepulturas isoladas ou núcleos de duas ou três, considerando que pertenceriam a eremitas, seriam construídas precisamente por estes. Quanto aos núcleos de maiores dimensões e às necrópoles à volta dos templos, a tarefa da escavação estaria a cargo de operários especializados, talvez itinerantes, que, contratados, desenvolveriam o seu trabalho nos diversos locais. Parece certo que para a execução da tarefa seria necessário possuir conhecimentos de cantaria, saber trabalhar a pedra e ter instrumentos capazes, isto é metálicos. Neste período as alfaias agrícolas eram sobretudo de madeira. Assim, não se torna fácil admitir que qualquer pessoa estivesse apta, quer técnica quer tecnologicamente, a proceder a tal acto. Essa tarefa estaria assim nas mãos de profissionais. Resultou do estudo de alguns exemplares inacabados a possibilidade de perceber a técnica de escavação. Inicialmente haveria a marcação na pedra da área a escavar, picotando-se, para depois se aprofundar o interior e por fim os acabamentos mais ou menos elaborados. O não acabar a sepultura talvez se devesse a erros de orientação, localização, das dimensões ou até a própria reabilitação da pessoa. No concelho de Mangualde, na necrópole das Quelhadas, na freguesia de Santiago de Cassurrães, conhecemos um monólito rectangular, com cerca de 2 metros de comprimento por 0,5 metros de largura. Apresenta na superfície superior duas zonas de desbaste. Provavelmente trata-se de uma obra inacabada do que poderia ser um sarcófago (Tavares, 1987, 1999). Também detectámos um exemplar inacabado em Santa luzia, Freguesia de Mangualde, no sítio denominado por São Mateus. Marques (2000) refere-se a uma campa idêntica, na mesma aldeia, mas dá-lhe o nome de Bocha; trata-se provavelmente do mesmo caso. Na zona de estudo do presente trabalho não aparece nenhuma sepultura inacabada. A QUEM SE DESTINAVA AS SEPULTURAS A observação das estações da área geográfica em análise, e inserindo-as no contexto mais alargado do concelho, bem como na restante região da Beira Alta, permite-nos verificar que, apesar destes túmulos serem abundantes, são, no entanto, escassos se quisermos relacioná-los com a densidade populacional. Não é crível que, mesmo admitindo a hipótese da reutilização das sepulturas, houvesse tão pouca gente nesta época. Ou seja, as sepulturas não reflectem, definitivamente, a população existente naquela época. Assim, esta não seria a única forma de sepultar os mortos. Dada a evidente e indiscutível facilidade em escavar as sepulturas na terra, é verosímil admitir que uma sepultura escavada na rocha se destinaria a alguém com poder socio-económico. A rocha perpetuava, na perfeição, a vontade de alguém se manter na memória dos que ficavam e dos que viriam. Aliás, a diversidade de tipologias do antropomorfismo: delineamento dos braços, cantos a definir correctamente a cabeceira, a existência de almofada, pormenores verificados em algumas das sepulturas em análise, pode determinar que se destinavam a pessoas de elevado poder económico, dado que um tipo de construção mais elaborada constituía um maior dispêndio de tempo e dinheiro. Admite-se, consequentemente, que
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as particularidades tipológicas dependiam da vontade, do gosto e das posses do defunto. Para as gentes de fracas posses a terra era o destino natural. As sepulturas escavadas na rocha constituíam o elemento revelador que até na morte nem todos os homens eram iguais. AS SEPULTURAS E O POVOAMENTO As sepulturas escavadas na rocha assumem um importante papel na descodificação das formas de povoamento na Alta Idade Média. Este horizonte temporal de setecentos anos, balizado entre o século VI e o século XII, não é pródigo em documentos escritos que nos permita obter uma percepção fiel sobre a forma como as sociedades se organizavam e se distribuíam no espaço. A realidade observada nos estudos mais recentes para a grande região da Beira Alta, elaborados por Menezes Marques (2000), A. Valera (1990), Catarina Tente e Sandra Lourenço (1998), A. Tavares (1987, 1999), Marina Vieira (2004), entre outros, apresenta como característica principal o isolamento geográfico das estações, uma certa distância das estações entre si e a ausência de grandes necrópoles. Na verdade, na maioria dos casos, existe apenas uma sepultura por estação, grupos de duas, de três ou mesmo de quatro sepulturas. Estes núcleos podem ser uma necrópole familiar, no fundo um cemitério familiar privado. A esta paisagem sepulcral corresponde um povoamento que é disperso, baseado em pequenos núcleos familiares, habitando em pequenos casais agrícolas. Estas unidades familiares sepultavam os seus mortos nas suas propriedades, junto às suas habitações. Terá sido este tipo de povoamento que certamente originou muitos dos locais, muitas das aldeias que aparecem referidos nas Inquirições de 1258. Conforme ressalva Menezes Marques (2000, p. 216) as necrópoles de Forcadas, Tapada do Anjo, Fornelos, sem igreja paroquial e as de Castelo de Penalva e Mangualde, inseridas nos adros das igrejas paroquiais respectivas, constituem cemitérios supra-familiares, verificando-se aí os enterramentos de uma determinada comunidade. Esta realidade não difere da estudada por Mário Barroca na região de EntreDouro-e-Minho, ou da realidade verificada no distrito de Évora por Tente e Lourenço. O estudo concreto das estações do território em apreço permitiu-nos verificar que estas se constituem por apenas uma sepultura, existindo apenas um núcleo de 3 (Curtinhal, Cunha Baixa) e um de 4 (Cumieira, em Água Levada, Espinho), do qual apenas restam 2. Situação que espelha a realidade do resto do concelho, aliás. Na freguesia de Cunha Baixa, as três estações estão distantes entre si. Na freguesia de Espinho, além do núcleo de Água Levada, verifica-se que as sepulturas, embora isoladas, se concentram numa área específica: no vale fértil contíguo à actual aldeia de Vila Nova de Espinho. Aqui situam-se seis dos treze exemplares existentes no território em estudo (ANEXOS - Gravura III). Não podemos ignorar que é também nas imediações desta aldeia que existe a maior mancha de vestígios de ocupação romana, a saber: três villae e dois habitats, assim classificados respeitando os critérios definidos por Jorge de Alarcão (1989) e por João L. Inês Vaz (1997). As estações inserem-se em zonas planas, de encosta suave, próximas de terrenos servidos de água, propícios à agricultura e à pastorícia. Excepção é a estação Quinta da Raposeira (Cunha Baixa) que ficava no interior de uma mata. Esta preferência por locais planos, permitindo uma agricultura e uma pastorícia capazes de prover ao sustento das famílias, iniciada no período romano, levou a que, de uma forma geral, pela Alta Idade Média se verificasse a continuidade do povoamento nos mesmos locais. A prova está nos vestígios materiais e na proximidade dos habitats - 33 -
com as sepulturas. A esta solução de continuidade de um período para o outro Inês Vaz deu o nome de Habitats romano-medievais (Vaz, 1993, p. 16). Porém, na maioria dos casos os materiais surgem desinseridos, são de superfície, e como Mário Barroca adianta a produção de tégulas poderá ter sido continuada até ao século XI, levando a supor que muitos dos habitas não terão tido continuidade com o período precedente (Barroca, 1987, p. 59). Do ponto de vista teórico é interessante aventar a tese da continuidade de ocupação humana, mas só mesmo escavações poderão fundamentar, ou não, tais suposições. E qual a realidade para esta zona? Terá havido uma solução de continuidade no povoamento do período romano para o período medieval? Para as estações de Carvalha Gorda e Quinta da Raposeira (cunha Baixa) essa continuidade não pode ser dada como adquirida, face à inexistência de ligações a vestígios arqueológicos e a não inserção em contexto habitacional. Apenas o núcleo do Curtinhal aparece associado a materiais romanos, mas aqui também de superfície. Valentim da Silva (1945, p. 408-409) faz alusão à lenda que diz o seguinte:”…conserva-se a tradição que o primitivo povoado de Cunha Baixa era no sítio denominado de Curtinhal, sendo daí transferido para o lugar onde hoje se encontra. Teria dado origem a esta mudança uma invasão de formigas que obrigou os seus moradores a irem fixar-se na outra encosta, cerca de 1 km a Sul…” Os achados de superfície no vale, as sepulturas, a lenda, tudo é sugestivo da existência de um núcleo, de um habitat romano com provável continuidade na Alta Idade Média. Na área de Vila Nova de Espinho (Espinho) pode admitir-se continuidade no povoamento. Sustenta-se esta hipótese pela proximidade das sepulturas com os diversos habitats e villae já aqui referenciados, conforme atestam os materiais romanos existentes. Não temos, no entanto, dados estratigráficos, que permitam afirmações categóricas. No entanto, tais testemunhos dão conta duma pujança vital em volta das villae, habitats ou outros assentamentos já referidos. Terá esta vitalidade, este processo ocupacional, sido interrompidos? Terão estas terras férteis sido subitamente abandonadas? Não terá antes havido, naturalmente, uma continuidade no povoamento? Surge-nos no entanto um problema: conforme Castillo refere e se aceita generalizadamente, as sepulturas antropomórficas são dos séculos X e XI, e as ovaladas dos séculos VI a VIII. Assim, neste micro-território temos que os exemplares são todos antropomórficos, teoricamente da segunda fase. Não nos surge nenhuma sepultura da primeira fase, excepção feita à S2 da Bôcha Velha, mas sendo de criança, está explicada esta forma. São abundantes os vestígios de uma forte presença romana nesta área. Que terá então acontecido desde os fins da ocupação romana até ao século X? Terá havido um hiato de ocupação? Bem, se tal se verificou foi certamente porque as pessoas foram forçadas a abandonar as suas terras, as suas habitações. Que terá motivado esse abandono? Terá sido a instabilidade que se viveu durante a ocupação suevo-visiótica? E para onde foram as pessoas? Terão fugido para lugares mais seguros? Terão optado pela reocupação dos antigos castros fortificados ou naturalmente defendidos da época protohistórica? Onde se situam esses castros nesta região? Uma das hipóteses explicativas pode ser a que talvez neste período se tenha verificado a inumação directamente na terra, e a vontade de se fazer sepultar nas campas rupestres tenha chegado ou tenha sido adoptada aqui bastante mais tarde. Mas, bem perto, nas freguesias vizinhas existem vários exemplares de sepulturas ovaladas… Para estas questões não temos respostas. Não podemos adiantar se este povoamento se alterou, ou não, em períodos de instabilidade político-administrativa. A Reconquista Cristã foi um factor que contribuiu decisivamente para o avanço e recuo das populações, tendo em conta as frentes de batalha. As fronteiras iam-se - 34 -
alterando com alguma frequência. Determinadas áreas geográficas foram por alguns períodos habitadas e abandonadas e novamente habitadas. Rita Costa Gomes diz que a região do Planalto Beirão, ou seja, as terras que ficam entre o Caramulo e a encosta ocidental da Estrela, se caracterizou, no século XI, por uma ocupação humana precoce e intensa, resultante da expansão que levou os cristãos até ao vale do Mondego, permitindo um povoamento organizado nos vales do Dão, Paiva e Vouga, constituindo as “terras”, tendo como ponto mais importante a cidade de origem romana: Viseu, que no século XII se encontrava já amuralhada (Gomes, 2001, p. 4). Afonso Henriques e Sancho I estiveram particularmente atentos ao povoamento e à organização territorial desta região. Já antes da nacionalidade D. Henrique e D. Teresa outorgaram foral às terras de Zurara e de Tavares. A ilação a retirar é que por aqui havia gente que terá proporcionado formas estáveis de povoamento. Se não houve uma constante continuidade na ocupação humana destas terras, os períodos de interrupção terão sido breves; o regresso das gentes às suas terras, às suas habitações, aos seus haveres permitiu um registo de povoamento mais ou menos perpetuado até aos nossos dias originando as actuais aldeias que, como já referimos, aparecem citadas nas Inquirições de D. Afonso III.
CONCLUSÃO
À guisa de conclusão podemos afirmar que este território atesta presença humana desde tempos pré-históricos. Os vestígios de materiais romanos junto das sepulturas, a presença de vias de comunicação, atestada no que resta de alguns troços da viação romana, revelam uma intensa vitalidade deste espaço. As gentes não terão de um momento para o outro abandonado as suas habitações, as suas terras, o seu gado para séculos mais tarde nos mesmos locais se voltar a testemunhar ocupação humana, que perdura até aos dias de hoje. Porém, não percamos de vista o que Orlando Ribeiro escreve: “muitas povoações ascendem a um passado remoto e anterior à história: a presença de ruínas ou restos arqueológicos indica que um lugar foi habitado na época a que se reportam, sem que daí se possa sempre concluir pela continuidade das populações até locais de habitação muito mais tardios” (Ribeiro, 1991, p. 354). Verificamos uma homogeneidade tipológica nas sepulturas, caracterizada pelo antropomorfismo. Levando em linha de conta as teorias de Alberto del Castillo (1972) quanto à cronologia e apesar do alerta de outros autores para uma diacronia de construção de sepulturas, podemos aceitar que os túmulos desta região são de um período mais recente. Verificámos também uma predominância de orientações cardeais em respeito à regra canónica, que pode ajudar a sustentar esta presunção. O carácter disperso das sepulturas pelo espaço pressupõe um tipo de povoamento constituído por pequenos núcleos, pequenos casais familiares, que gradualmente poderão ter originado algumas das aldeias que hoje conhecemos. Quando no início do trabalho enumerámos os objectivos a que nos propusemos referimos que era importante confirmar a existência de todas as sepulturas inventariadas e estudadas para este território. De facto, das 15 mencionadas, hoje já só restam 12, por destruição de duas e pela não localização de uma.
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Parece-nos evidente que, apesar de haver uma maior consciencialização das pessoas por estes assuntos, a tendência é a destruição destes monumentos, seja por incúria ou por outros motivos quaisquer. Perante esta situação urge apelar á sua preservação. Acções de limpeza do mato e vegetação rasteira, acções de divulgação junto das comunidades onde existem tais sítios arqueológicos, estreita colaboração das autarquias locais, nomeadamente das Juntas de Freguesia, com os arqueólogos, são de todo fundamentais à sobrevivência das sepulturas. Só assim se pode garantir o alcançar de uma melhor compreensão da paisagem humana dos tempos da Alta Idade Média.
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FOTOS
Freguesia de Cunha Baixa
Foto 1 - S1 Carvalha Gorda, Abrunhosa do Mato
Foto 2 - S1 Curtinhal, Cunha Baixa
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Foto 3 - S2 Curtinhal, Cunha Baixa
Foto 4 - S3 Curtinhal, Cunha Baixa - 38 -
Foto 5 - S1 Quinta da Raposeira, Cunha Baixa
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Freguesia de Espinho
Foto 6 - S1 Cumieira, Ă gua Levada
Foto 7 - S2 Cumieira, Ă gua Levada - 40 -
Foto 8 - Cumieira, vista geral
Foto 9 - S1 Bocha Velha, Vila Nova de Espinho
Pormenor da cruz da cabeceira.
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Foto 10 - S2 Bocha Velha
Foto 11 - S1 Cova da Moira, Vila Nova de Espinho
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Foto 12 - S1 Laje, Vila Nova de Espinho
Foto 13 - S1 Lajinha-Moledo, Vila Nova de Espinho - 43 -
Foto 14 - S1 Lajinha-Moledo, Pormenor do bordo
Foto 15 - S1 Tapada, Vila Nova de Espinho
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ANEXOS
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Gravura I – Ficha de Campo
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Gravura II – Pontos de Colheita de Medidas
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Gravura III
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