Fronteiras do Pensamento

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ZERO HORA

Sábado, 26 de abril de 2014

Ideias para

[RE]inventar

Tadeu Villani

Ciclo de conferências debate os desafios éticos, econômicos, filosóficos e criativos do mundo contemporâneo


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PORTO ALEGRE, sábado, 26 DE ABRIL DE 2014

A reinvenção

do mundo V

ivemos uma época de turbulência. É possível que, no futuro, os historiadores venham a se referir dessa maneira ao nosso tempo. Também se trata de uma época de crescimento. A renda cresceu três vezes, em escala global, desde os anos 1960. A maioria das pessoas vive em cidades, desde meados da década passada, e a “revolução dos direitos” vem derrubando, país a país, discriminações de gênero, raça ou orientação sexual. Mesmo nesta época de progresso acelerado, há um mal-estar em nossa civilização. Um mal-estar difuso. O primeiro elemento que define esse mal-estar é a exigência democrática por parte dos cidadãos. Salman Rushdie, autor de Os Versos Satânicos, que experimentou na carne os efeitos da intolerância e do fundamentalismo, expressou essa ideia: “A liberdade é a questão maior de nosso tempo. Pode soar paradoxal, mas a liberdade depende da segurança das instituições”. Rushdie define, desse modo, aquela que talvez seja a grande agenda contemporânea: como transformar a indignação dos cidadãos, sua exigência de mais di-

reitos e transparência, em instituições. Instituições capazes de assegurar e dar estabilidade a essas ideias. No terreno da economia, o relatório da ONU Nosso Futuro Comum, coordenado e apresentado em 1987 por Gro Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega, já alertava o mundo sobre a necessidade de uma mudança nos padrões de consumo, produção energética, proteção da biodiversidade e uso dos recursos naturais, de modo a preservar os direitos das futuras gerações. Esse propósito deu expressão ao conceito de “desenvolvimento sustentável”. Pode-se dizer que, desde lá, criou-se um amplo consenso global sobre essa mudança, e será de extrema valia, no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, escutar da própria Brundtland sobre as prioridades que países, empresas e cidades deveriam adotar, no sentido do desenvolvimento sustentável, nos dias de hoje. Há o desafio ético. A economia de mercado se mostrou uma fonte inigualável de progresso, mas também de desigualdades injustificáveis, privações e patologias sociais. Conforme nos lembra o filósofo

Michael Sandel, é preciso pensar sobre “o que o dinheiro não pode comprar”. Sobre a preservação dos laços de solidariedade social e normas que desejamos vigentes para regular, ainda que preservando o apetite pela riqueza, nossas sociedades. O pensamento sistemático pode nos ajudar a enfrentar essas questões. Pode nos ajudar a agir com prudência, a recusar a sedução dos extremismos, a erguer instituições à luz do que ensina a experiência histórica. Pode nos ajudar a “reinventar o mundo” a cada geração. Este é o convite do Fronteiras do Pensamento para sua edição de 2014, que também traz o escritor argentino Ricardo Piglia, o filósofo francês Pascal Bruckner, o psicólogo canadense Paul Bloom, e os físicos Geoffrey West e Brian Greene justamente para atender ao desafio do pensar a partir de novas sínteses. E este também é o nosso convite para que, através desta revista, você conheça mais sobre a temporada anual do ciclo de conferências. Fernando Luís Schüler Curador do Fronteiras do Pensamento

Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado pela Braskem e tem o patrocínio de Unimed Porto Alegre, Gerdau e Hospital Mãe de Deus. Parceria acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e parceria cultural de Natura, PUCRS e Celulose Riograndense. Promoção Grupo RBS. INGRESSOS O acesso ao seminário internacional Fronteiras do Pensamento Porto Alegre se dará exclusivamente através da aquisição do pacote de ingressos para as oito conferências. VALOR DO PACOTE DE INGRESSOS R$ 1.424,00 Parcelado em até 5 vezes sem juros nos cartões de crédito. DESCONTO 50% • Inscritos no Fronteiras em edições anteriores • Médicos cooperados Unimed Porto Alegre • Professores da UFRGS e da PUCRS • Meia-entrada conforme a legislação DESCONTO 30% • Sócio do Clube do Assinante ZH PONTOS DE VENDA Central de Relacionamento Rua Cesar Lombroso, 49/301 Fone: 3019.2326 My Ticket Moinhos Rua Padre Chagas, 327 loja 6 Fone: 3273.3383

Confira a programação e saiba como adquirir o seu pacote de ingressos para a temporada 2014 do Fronteiras do Pensamento

Palavraria Rua Vasco da Gama, 165 Fone: 3268.4260 StudioClio Rua José do Patrocínio, 698 Fone: 3254.7200

12/maio Salman Rushdie

25/agosto Paul Bloom

4/agosto Geoffrey West

29/setembro Brian Greene

22/outubro Pascal Bruckner

26/maio Michael Sandel

Bamboletras Rua Gal. Lima e Silva, 776 loja 3 Fone: 3227.9930

15/setembro Gro Brundtland

• Descontos não cumulativos. • Ingressos não vendidos separadamente. • Vagas limitadas. • Não haverá emissão de certificado • Programação sujeita a alterações.

3/novembro Ricardo Piglia

EXPEDIENTE: Coordenação e Edição – Luciana Thomé, Michele Mastalir e Cybeli Moraes / Projeto Gráfico – Aluísio Pinheiro / Fotos – Bruno Alencastro / Fotos ensaio – Tadeu Vilani / Fotos página 16 – Luiz Munhoz / Revisão – Renato Deitos / Concepção – Pedro Longhi (Fronteiras do Pensamento), Claudia Laitano e Carlos André Moreira (Zero Hora). As opiniões expressas nos artigos desta revista são de inteira responsabilidade de seus autores.

LOCAL DAS CONFERÊNCIAS Salão de Atos da UFRGS Av. Paulo Gama, 110 Porto Alegre/RS HORÁRIO Início às 19h45.

INFORMAÇÕES 51 3019.2326 www.fronteiras.com VENDAS www.livepass.com.br


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cada ano que passa, o Fronteiras do Pensamento reafirma o seu compromisso com o público amplo que o frequenta, apresentando temas dos universos mais próximos e, ao mesmo tempo, mais distantes da produção do conhecimento. Basta perceber as abordagens recentes dos temas ditos mais “científicos” das edições de anos anteriores: dos oceanos profundos ao mapeamento do cérebro; da inteligência artificial à cura de doenças com o material genético que carregamos em nós mesmos, seguindo em direção ao surgimento do universo, o Fronteiras tem buscado apresentar temas que são alvo de pesquisas de ponta das mais avançadas e prementes no que diz respeito ao ser humano e ao seu entorno. Na programação de 2014, Geoffrey West, Paul Bloom e Brian Greene representam a ala do conhecimento científico como o reconhecemos ainda, dentro de suas especificidades vinculadas ao “complexo” e ao “difícil”, principalmente no universo da física, da química e da biologia. O desafio deste ano é aproximar um público curioso, mas não acadêmico e científico, de temas que articulam o altamente sofisticado de pesquisas em laboratórios de última geração às questões sociais que nos rodeiam, como a engenharia das grandes cidades; o relacionamento com o mundo à nossa volta desde a infância; as grandes leis do universo e, principalmente, as transformações que vêm ocorrendo nas concepções mais tradicionais da física, como a Teoria das Cordas, em que noções como as de dimensão estão sendo paulatinamente repensadas. Geoffrey West é um exemplo de como as ciências ditas “duras” – como a física – interagem com o conhecimento de caráter mais sociológico. Professor no Imperial

College em Londres, West direcionou suas pesquisas pioneiras às cidades, buscando encontrar modelos científicos que avaliam os conglomerados urbanos como resultantes finais de interações sociais originadas inicialmente nas partículas elementares – que não possuem nenhuma subestrutura, chegando aos quarks – e que acabam tendo, segundo o físico, implicações cosmológicas, atuando na estrutura, na evolução e na composição de todo o universo. West acredita que a diversidade é a grande chave para cidades mais justas e desenvolvidas, demonstrando como ciência e vida cotidiana estão diretamente conectadas. Já Paul Bloom é um estudioso dos primeiros meses e anos de vida dos seres humanos. Suas pesquisas iniciadas no MIT e que se desenvolvem em Yale, onde é professor, têm como objetivo estudar o comportamento dos bebês em sua interação com a arte e o mundo da ficção. Alguns dos resultados sugerem que nosso julgamento moral não surge de padrões instintivos ou meramente viscerais, como durante muito tempo se acreditou, mas de uma cadeia de relações que os bebês vão desenvolvendo desde o seu nascimento. Para ele, é a razão que rege as descobertas morais mais antigas, dotando, portanto, os seres humanos em sua mais primordial experiência de capacidade de avaliação e discernimento. Brian Greene é um exemplo da popularização de conceitos científicos considerados extremamente complexos. Abordando de forma simples e didática a Teoria das Cordas e das Supercordas, Greene tem sido um amplo divulgador e esclarecedor das questões mais profundas da física na contemporaneidade. Atuando em campos que vão dos fundamentos da relatividade e da física quântica à física do multiverso e dos universos paralelos, Brian Greene vai

Bruno Alencastro

A ciência pode ser pop Conhecer e inovar também pode ser divertido

nos aproximar de O universo elegante, seu livro premiado pela Royal Society. Do elementar ao cosmos, passando pelas reações de bebês, chegando às megacidades, encontraremos no Fronteiras do Pensamento 2014 a ciência como portal para acessar um conhecimento que segue rompendo barreiras entre o erudito e o popular, tornando a existência mais dinâmica, colorida e, por que não, divertida. Joana Bosak Professora do curso de História da Arte da UFRGS. É mestre em História e doutora em Literatura Comparada, consultora do Fronteiras do Pensamento e docente no Fronteiras Educação

“O Fronteiras tem buscado apresentar temas que são alvo de pesquisas de ponta das mais avançadas e prementes no que diz respeito ao ser humano e ao seu entorno.”

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Entre arquivo e memória:

literatura e arte A

artificial, do armazenamento de dados no mundo digital. O conhecimento que dava base à ideia de subjetividade, nome moderno da alma, sempre dependeu de mnemotécnicas. Adquirir conhecimento sempre implicou memorizá-lo. Hoje, preocupados em “emitir” ansiosamente qualquer informação por meio da internet, sobretudo em redes sociais, não é absurda a impressão de que não se quer mais adquirir memória, mas livrar-se dela. Que a história da memória esteja ligada a esforços da tradição ocultista transfigurados pela ciência moderna sinaliza para o abandono do tema da alma em nome das vantagens das tecnologias, cujos resultados mais diretos quanto a uma utilização pragmática da memória, tal como a vemos hoje, sempre encantou aqueles que, loucos por arquivos, museus, computadores, parecem ter pressa de viver. Quem tem pressa de viver quer os dados, não a experiência do tempo que se encontra, por exemplo, em um livro. Quem tem pressa quer o arquivo, não o livro. Fala-se hoje dos arquivos voluntários produzidos pela história, a ciência da meA memória na era digital mória; fala-se dos arquivos involuntários, analisados nos esforços de disciplinas arNão podemos deixar de nos colocar a queológicas tais como a psicanálise. Ambos pergunta crucial sobre o lugar da natural são controlados pelo cão de sete cabeças memória humana no tempo do arquivo que guarda as portas do inferno do esquememória cria a literatura, e a literatura cria a memória. Com essa ideia podemos nos situar na relação entre essas funções que, juntas, inventam historicamente o lugar onde ainda pode habitar a inarquivável alma humana. A memória sempre foi uma grande questão teórica e prática. A história da memória corresponde à “arte da memória” que se perdeu diante da luta do princípio do progresso da ciência moderna contra a tradição. Frances Yates mostrou como a arte da memória evoluiu desde a retórica da antiguidade clássica até se tornar método de criação do conhecimento na era moderna. Se durante a Idade Média e a Renascença a arte da memória se ligou ao ocultismo, se na modernidade ela produziu a enciclopédia, no século 20 ela foi salva no Atlas Mnemosyne de Aby Warburg. Nele, a palavra e a imagem se uniram na composição de uma forma de conhecimento que a literatura sempre conheceu e que a internet, por vias tortas, em uma direção totalmente diversa, acaba por retomar.

cimento. Sabemos que esse cão tem medo do que ele mesmo guarda, que ele não protege senão a si mesmo: a energia miserável e poderosa do ressentimento. Todos estamos marcados pela paixão de lembrar, mesmo quando talvez fosse melhor esquecer que há algo como uma verdade a buscar. O poder explosivo da verdade, confuso com o que, tendo sido vivido, ficou como algo inexplicado, ameaça a todos nós. O incompreensível tornou-se a própria verdade que ameaça arrebentar tudo. É por isso que tantas e tão complexas questões são colocadas, como se estivéssemos cada vez mais loucos por desarquivar, possuídos pela paixão devoradora do que Derrida chamou de “mal de arquivo”. Não entendemos essa paixão. Sob o efeito da promessa que fazemos a nós mesmos de um desarquivamento geral com o qual, ao mesmo tempo, temos medo de lidar, demoramos a descobrir que a verdade da vida é a ficção de nós mesmos.

Mnemosyne, o retorno Mnemosyne, a memória, era a divindade do panteão grego que presidia a função poética. Ao longo do tempo, ela foi se tornando cada vez mais ligada à função científica. Confinada ao mundo digital, ela se perdeu da experiência vivida. Afi-

“Se a vida foi reduzida a arquivos, e as pessoas, a funcionários de arquivos, a literatura é o lugar onde se recria a morada da memória.”

nal, a memória, e sua arte, é o cerne da experiência da narração, não apenas método para guardar o passado como um arquivo. É justamente neste o cenário que entra em cena novamente a literatura. De modo exemplar desde Proust, a literatura é solidária da memória enquanto experiência perdida. Tudo pode ser guardado na memória, em museus, em computadores, tudo pode hoje em dia estar na Rede, mas não a experiência da memória. Nosso problema é o que ficou na sombra do grande armazenamento de dados que é a internet. Se a vida foi reduzida a arquivos e as pessoas a funcionários de arquivos, a literatura é o lugar onde se recria a morada da memória, um lugar para a alma perdida na era de nossa robotização. Podemos dizer que a literatura nunca Fotos Bruno Alencastro

Em tempos de internet, não se quer mais adquirir memória, mas livrar-se dela


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de viver do Testemunho será a típica literatura do catastrófico século 20 que chama cada escritor a repensar o trauma. Mas a literatura do testemunho expõe a verdade de toda a literatura: quem escreve o faz por ser testemunha do seu tempo. Por saber que sobreviver, assim como viver, requer a presença atenta do leitor, alguém a quem se conta algo no qual não se pode acreditar. O escritor é cada vez mais aquele que encarna uma tarefa que se tornou histórica, a de ir em busca do tempo perdido, de uma memória que, escapando ao arquivo, é anarquívica. A literatura, a arte hipnótica que, segundo o narrador de Prisão Perpétua de Ricardo Piglia, consiste em parecer mentiroso quando se está dizendo a verdade, volta-se não para a conquista do passado individual ou coletivo, mas para a convivência com o mundo enquanto ele se apresenta num espelho em que coletivo e individual se reconhecem apenas como espectros apaixonados por uma realização impossível. A literatura é ainda a arte da memória quando não se trata mais de produzir arquivos. A literatura não é museu, é experiência da memória viva. Livros revelam o anarquívico desejo de memória, mãe da esquecida arte de viver que ainda é tempo de recuperar.

foi tão proustiana quanto em nossos dias. Lembrar é refletir sobre o que foi, sobre o que é, sobre o que fomos enquanto somos também aquilo que fomos. O esforço consciente ou inconsciente de muitos escritores em nossos dias é o de coletar os acontecimentos marcados pelo signo da perda, mas em uma direção totalmente diferente do arquivo de museu ou de computador. O acontecimento que é a literatura tem lugar na experiência individual e se aniquila no encontro com o ar viciado da globalização onde o particular é perdido, assim como é perdido o universal no qual o particular poderia se reconhecer. Ali, onde ninguém mais pode ser, a literatura dá lugar a quem escreve e lê, por recriar a ficção de si – narrador e personagens – na função poética sempre reinventada entre o eu e o tempo. Por isso, a literatura hoje é transfiguração da vida em ficção, e da ficção em vida. A ficção é a verdade mais íntima da vida, do texto em que o protagonismo depende do gesto de recriar-se. É essa a grande questão de Joseph Anton, o personagem atrás do qual Salman Rushdie conseguiu ainda ser alguém quando, sem imaginar, se tornou um sobrevivente diante da sentença de morte de um tirano que jamais seria capaz de entender o lugar da literatura na construção do mundo. Por isso, a chamada Literatura

Marcia Tiburi Escritora

RICARDO PIGLIA (1941), escritor argentino, é um dos maiores nomes da literatura contemporânea na América Latina. Além de ficcionista e crítico literário, é compositor de óperas, roteirista e diretor de cinema. Seu primeiro livro, A Invasão, lançado em 1967, conquistou o Prêmio Casa de las Américas. Já Respiração Artificial (1981) recebeu o Prêmio Boris Vian e foi eleito um dos dez melhores romances da história da literatura argentina. Em 2011, sua obra foi agraciada com o renomado Prêmio Rómulo Gallegos.

SALMAN RUSHDIE (1947), escritor britânico, é conhecido mundialmente pela publicação de Os Versos Satânicos, que causou controvérsia no mundo todo. Em 1989, o Aiatolá Ruhollah Khomeini proferiu a fatwa, ordenando sua execução pela suposta ofensa ao profeta Maomé. Sua produção literária inclui Os Filhos da Meia-noite, Vergonha e Haroun e o Mar de Histórias, entre outros livros. Em sua mais recente obra, intitulada Joseph Anton, narra a sua própria história durante a fatwa, que perdurou por uma década, época em que assumiu o pseudônimo que serve de título ao livro.

A literatura hoje é transfiguração da vida em ficção, e da ficção em vida

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Bruno Alencastro

A sociedade está inserida em um sistema de exigências e obrigações recíprocas

A tênue linha entre o

justo e o injusto

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os últimos tempos, diante dos espancamentos coletivos de criminosos, fomos instigados a pensar se é certo ou errado fazer justiça com as próprias mãos. E quanto a atacar mulheres que andam com pouca roupa na rua? E o aborto, a eutanásia, ou a união homoafetiva, são práticas corretas? E quanto ao Estado, é justo ele promover ações afirmativas, como a política de cotas para afrodescendentes nas universidades ou as políticas públicas de estímulo de renda? Todas essas indagações nos conduzem à distinção moral entre o certo e o errado, o bem e o mal, o justo e o injusto. Como, então, entender a moralidade dessa distinção? O ponto de partida para começarmos a compreender a moralidade é perceber que somos seres sociáveis e dependentes da vida em grupo; somos seres comunitários que julgam moralmente e compartilham crenças sobre o bem e o mal. Julgamos e agimos moralmente o tempo inteiro e usamos as palavras para expressar aprovação ou censura. Nós nos pronunciamos – enunciamos juízos – com base naquilo que julgamos ser o certo e o errado. Não só elaboramos a distinção moral, como também dizemos qual é a coisa certa a ser feita. Inseridos em um sistema de exigências e obrigações recíprocas, todos nós possuímos uma opinião sobre nossas ações e as ações alheias, seja no círculo familiar ou no social, seja na esfera pública do Estado ou na autorregulação do mercado. Julgamos o Estado ao reivindicar, como cida-

“Estamos envolvidos em obrigações morais que nascem e se fortalecem a partir da distinção entre o bem e o mal.” dãos, a distribuição igualitária dos seus bens e serviços. Por incrível que pareça, até mesmo o mercado – tido como regulado pela lógica da livre iniciativa – acaba sendo enquadrado nos limites da moralidade. É justo, por exemplo, um vendedor de produtos básicos, como água e alimentos, se aproveitar de uma catástrofe natural para inflacionar o preço de sua mercadoria, ou um professor ganhar infinitas vezes menos que uma celebridade da tevê ou um jogador de futebol? É justo o governo prestar socorro financeiro a instituições bancárias que ganharam muito dinheiro devido à ganância dos seus sócios e que, no anseio do lucro ilimitado, foram levadas à bancarrota? Para compreendermos com imparcialidade a moral, precisamos tomar o cuidado de não dizer o que é o bem e o mal; não definirmos a essência desses valores, nem julgarmos no lugar daquele que estamos a observar – que é o agente moral. Podemos,

se muito, explicar os motivos que levam a julgar desse ou daquele modo, mas nunca dizer em nome de outrem o que é certo ou errado. Do contrário, estaremos sendo moralistas, mais preocupados em exteriorizar nosso senso moral do que propriamente em entender a formulação dos juízos e o que nos leva a agir moralmente. Engana-se aquele que pensa que a investigação filosófica sobre o fenômeno moral consegue dizer, com certeza, o que é o certo e o errado, o bem e o mal, o justo e o injusto. Isso é filosoficamente insensato e não mais do que um projeto fadado ao fracasso. Estamos envolvidos em obrigações morais que nascem e se fortalecem a partir da distinção entre o bem e o mal, tanto é que não conseguimos ser indiferentes às atitudes dos outros. Por vezes, nós as aprovamos, e outras vezes, manifestamos nossa reprovação e dizemos que determinado comportamento é errado e não deve ser feito. Mesmo quando não conseguimos mudar o mundo, julgamos moralmente e manifestamos nossa opinião sobre o que é o correto naquela situação. Não que todos compartilhem o mesmo código de valores, visto que uns consideram alguns comportamentos como corretos, enquanto outros julgam o contrário, considerando errada a prática das mesmas ações. Contudo, temos um ponto em comum: o fato de que todos nós formulamos juízos sobre o bem e o mal. André Luiz Olivier da Silva Doutor em Filosofia e professor do curso de Direito da Unisinos

MICHAEL SANDEL (1953), filósofo político norte-americano, é apontado pelo The Guardian como “o mestre das grandes questões da vida”. É professor na Universidade de Harvard, onde já despertou o interesse de milhares de estudantes de todo o mundo pelo curso “Justiça”. Seguidor do método socrático de discussão orientada, suas aulas têm o objetivo de debater dilemas morais e éticos, sem a necessidade de diferenciar certo e errado. Assim, os alunos refletem e questionam sobre a forma como as pessoas justificam suas posições e atitudes. Seu livro Justiça já foi traduzido para os mais diversos idiomas.


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Por seres humanos

mais humanos

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classificando situações, objetos e pessoas a fim de se orientarem no mundo. Bloom analisa as emoções e os comportamentos frente a estímulos aversivos, para compreender casos de exclusão social como racismo e bullying, por exemplo. Parece paradoxal, mas pode-se afirmar que os preconceitos e exclusões sociais têm origem nesse processo adaptativo social saudável que é a construção de estereótipos e generalizações. Tendemos a excluir ou nos afastarmos do que nos é estranho/diferente (aversivo), o que dificulta a empatia nesses casos. Os jovens da chamada Geração Me ou Geração Y – foco de estudos conduzidos no grupo de pesquisa que coordeno – destacam-se em inteligência, raciocínio lógico

e elevada autoestima, porém mostram na clínica psicológica elevado grau de sofrimento psíquico. Os estudos mostram também uma acentuada dificuldade empática desses jovens adultos, assim como traços narcisistas e baixa tolerância à frustração. O contexto atual caracteriza-se por uma significativa valorização do individualismo, sendo ainda mais desafiador para as pessoas serem empáticas. O que deve ser estimulado nos indivíduos é a capacidade de inferir sobre os pensamentos e sentimentos da outra pessoa, sem necessariamente sentirem o mesmo que esta. Em um mundo globalizado que deveria aproximar e identificar mutuamente as pessoas, observam-se cada vez mais problemas de desrespeito às individualidades.

Talvez o mais difícil seja olhar para nós mesmos e reconhecer nossas próprias emoções. Aceitar as diferenças e a complexidade humana é também essencial. O desafio é grande, mas essa dinâmica de emoções, racionalidade e moralidade é que nos faz humanos. Urie Bronfenbrenner, psicólogo russo, enfatizou que a Ciência Psicológica deve estar a serviço de “fazer seres humanos humanos” (no inglês: making humans being human). Por um mundo menos simpático e mais empático. Carolina Lisboa Psicóloga, coordenadora do grupo de pesquisa Relações Interpessoais e Violência: Contextos Clínicos, Sociais, Educativos e Virtuais da PUCRS

PAUL BLOOM (1963), psicólogo canadense, é Ph.D. em Psicologia Cognitiva pelo MIT e professor de Psicologia e Ciência Cognitiva em Yale. Suas pesquisas exploram como crianças e adultos percebem o mundo físico e social, tendo como foco de estudo as questões de linguagem, moralidade, religião, ficção e arte. Sua mais recente publicação, Just Babies: The Origins of Good and Evil, ainda não publicada no Brasil, rejeita a visão de que nossa moral surge de sentimentos viscerais e de questões inconscientes. Para Bloom, é a razão que rege as descobertas morais.

Bruno Alencastro

vinda do psicólogo canadense Paul Bloom a Porto Alegre como um dos palestrantes do Fronteiras do Pensamento nos convida à reflexão acerca do processo de moralidade e empatia em seres humanos. Bloom estuda, dentre outras temáticas, aspectos inatos e aprendidos do processo de desenvolvimento da moralidade em bebês e crianças. Uma habilidade central para a discussão sobre moralidade é a empatia. Palavra bonita que no senso comum se confunde com simpatia, o termo empatia origina-se, no século 19, do alemão einfühlung, cujo significado se referia a uma projeção da predisposição interna de um observador em resposta à percepção de um objeto estético. Posteriormente, Edward Titchener, psicólogo britânico, usou o termo em inglês empathy, enfatizando que seria possível conhecer a consciência de outra pessoa através da imitação interior ou de um esforço da mente. Pesquisas atuais atestam que a empatia é um aspecto que garante a adaptação saudável dos indivíduos, principalmente através da construção de vínculos seguros e relações positivas. Pesquisadores como Paul Bloom têm observado que características como altruísmo, compaixão e bondade são instintivas, porém não indiscriminadas. Ou seja, em experimentos, este psicólogo observou que, em geral, nos compadecemos e conseguimos ser mais empáticos com a dor de pessoas próximas e/ou indivíduos específicos do que com a dor de pessoas com as quais não nos identificamos ou que fazem parte de um grupo maior de pessoas. É importante salientar que, além de serem simpáticos ao sofrimento dos outros, os indivíduos precisam se colocar efetivamente no lugar do outro e olhar o mundo através dos olhos dessa outra pessoa. Tarefa nada fácil, a empatia é um fenômeno emocional, mas predominantemente cognitivo. Bloom estuda e discute a capacidade empática a partir de processos de cognição social. As cognições sociais são os pensamentos orientados para as interações e, neste processo, os seres humanos constroem categorias na sua mente

Aceitar a complexidade humana e reconhecer as próprias emoções é essencial


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Equações que

revelam leis

BRIAN GREENE (1963), físico teórico norte-americano, é considerado um dos mais destacados especialistas em Cosmologia e Física de Partículas na atualidade. Conhecido por popularizar termos complexos da ciência, publicou, em 1999, o best-seller O Universo Elegante, agraciado com o Prêmio da Royal Society, além de finalista no Prêmio Pulitzer. A obra aborda de maneira didática a intrincada Teoria das Cordas e das Supercordas e foi transformada em documentário pelo canal educativo PBS. No seu livro mais recente no Brasil, A Realidade Oculta, explora o desenvolvimento da física do multiverso ao longo das últimas décadas.

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ão se pode descrever o movimento de um elétron como descrevemos o movimento de uma bola de futebol, usando a informação de onde a bola está e qual sua velocidade para prever onde ela estará. Com os elétrons, essa intuição aprendida com nossas experiências diárias desde criança não funciona. Não é possível simultaneamente medir a posição e a velocidade do elétron com precisão suficiente para aplicar às equações da mecânica clássica. Newton, quando propôs a Mecânica Clássica no século 17, baseou-se em observações da natureza adquiridas das suas experiências diárias. As equações propostas preveem situações que podem ser comparadas com o que esperamos que aconteça: se eu largo uma maçã de uma certa altura, ela cairá até o chão. Essa imagem da realidade, formada a partir de vivências anteriores, tanto sugere modelos matemáticos possíveis quanto é usada para validar o modelo proposto. Se o modelo prevê que a maçã sobe, descarto-o imediatamente usando o bom senso. No entanto, para fenômenos em situações não comuns à nossa vida diária, a

nossa intuição não corresponde à realidade. A realidade subatômica pode ser descrita de muitas maneiras. É inevitável a surpresa gerada pela discrepância entre o que esperamos baseados nas experiências diárias e o que os experimentos mostram ser o que acontece. Neste caso, quando os físicos devem propor uma explicação a fenômenos e não podem se inspirar nas imagens do mundo baseadas nas experiências diárias, o que fazer? Nos séculos 20 e 21 produziu-se uma quantidade muito grande de medidas ou dados sobre o universo tanto a partir de ondas eletromagnéticas e partículas que nos chegam do espaço como a partir de dados gerados pela colisão controlada de núcleos e outras partículas em aceleradores como o Grande Colisor de Hadrons (LHC do inglês Large Hadron Collider). A ideia é propor equações que, além de reproduzir os dados já obtidos, sejam capazes de prever as próximas medidas. As equações propostas por Newton consideram que há conservação no universo de algumas grandezas tais como energia, movimento linear, carga elétrica e muitas outras. Por conservação entende-se que a quantidade dessas grandezas

é sempre a mesma. Uma região do universo pode conter uma certa quantidade de energia, por exemplo, e essa quantidade pode mudar com o tempo. Mas essa mudança só pode acontecer porque houve trocas de energia com alguma outra parte do universo. Não pode haver criação ou destruição. Então, fazendo-se a contabilidade detalhada para todas as quantidades conservadas, poder-se-ia, em princípio, prever o que acontece com qualquer região do universo, seja a região ocupada por um elétron, por uma bola de futebol ou pela Nebulosa de Magalhães. A interpretação dos dados coletados a partir de raios cósmicos e dos aceleradores de partículas requer a proposição de equações que tanto descrevam os dados como não contradigam todas as outras observações que vêm sendo acumuladas desde que a humanidade acordou. Não é possível fazer isso baseado na experiência do dia a dia, mas dá para fazer isso baseado nos princípios de conservação que estão expressos nas equações de Newton, que, por sua vez, foram baseadas nas experiências do dia a dia. A adaptação desses princípios de conservação para grandezas que podem ser medidas hoje, entenden-


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universais “É inevitável a surpresa gerada pela discrepância entre o que esperamos baseados nas experiências diárias e o que os experimentos mostram ser o que acontece.”

do como se reduzem à nossa experiência diária no limite adequado de tamanhos, velocidades, densidades e intervalos de tempo, é o objeto de trabalho de muitos físicos teóricos. O professor Brian Greene investiga a Teoria das Cordas, que é um modelo matemático para explicar a gravitação nos limites onde efeitos quânticos são importantes e a mecânica de Newton não é mais válida. Para essas equações, há soluções em mais dimensões espaciais do que três; as dimensões adicionais estariam compactadas a tamanhos pequenos, explicando por que só percebemos

as usuais três dimensões. Por outro lado, essas dimensões a mais podem reconciliar a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica, um problema que a Física ainda precisa resolver. Uma segunda frente de trabalho diz respeito à capacidade de aumento de complexidade de sistemas biológicos e sociais. Se existir um outro planeta como a Terra, a vida surgiria novamente? Evoluiria para seres com consciência? Quão diferentes seriam as moléculas que fariam as vezes do DNA? Quanto da informação necessária para o desenvolvimento de um embrião em um ser humano está no DNA? Quanto está nas leis físicas e químicas que regem qualquer sistema? Informação não é uma quantidade conservada na natureza. Há fontes e sumidouros de informação, e assim a evolução da informação é descrita por equações complicadas. Perda de informação está relacionada com aumento de entropia, que parece ser o que direciona a flecha do tempo. Termodinâmica, a área da física que define entropia e a maneira como deve ser medida, funciona muito bem para sistemas em equilíbrio. Para fenômenos como a vida ainda falta uma generalização ade-

quada. Geoffrey West, originalmente um físico de partículas, propõe modelos matemáticos para a descrição de sistemas de muitos agentes que interagem, tais como organismos multicelulares ou cidades, a partir da análise de medidas experimentais desses sistemas. Os modelos quantitativos desses sistemas parecem apresentar características em comum, evidenciadas pela similaridade das equações que os descrevem. Tais similaridades podem levar a leis gerais. A descrição matemática dos fenômenos naturais é, assim, fundamental para o avanço da Física: possibilita que os cientistas possam imaginar e propor novas teorias mesmo quando o comportamento dos dados não pode ser descrito pela intuição adquirida das experiências diárias. Além disso, evidenciam comportamentos análogos em sistemas aparentemente muito diferentes, abrindo caminho para leis universais. Modificando os versos de Caetano Veloso: “...Se você tem uma ideia incrível, é melhor fazer uma equação”. Rita M. C. de Almeida Doutora em Física e professora do Instituto de Física da UFRGS

GEOFFREY WEST (1940), físico teórico britânico, é professor no Instituto Santa Fé, no Novo México (EUA). Foi eleito uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time e teve seu trabalho selecionado pela Harvard Business Review como uma das “ideias revolucionárias” apontadas em sua pesquisa anual de ideias e tendências. Em seu trabalho, dedica-se a entender quantitativamente a dinâmica e as estruturas de organizações sociais como empresas e cidades. Uma de suas preocupações é permitir que as metrópoles continuem crescendo sem negligenciar suas condições sociais. Para West, a diversidade é a chave para que centros urbanos prosperem.

Bruno Alencastro

A descrição matemática dos fenômenos naturais é fundamental para o avanço da Física


reinvençã 10 PORTO ALEGRE, sábado, 26 DE ABRIL DE 2014

Enquadres e desenquadres de uma


T

oda a moldura é mole e dura. Flexível, ela aponta fronteiras móveis, ainda que dentro do enquadramento rígido. Pois, ultrapassada a rigidez do quadro atualizado, a imagem que ali está se reatualiza, nas sensações que nós, observadores, produzimos. Essa é a brincadeira eterna do enquadramento: ele é sempre um [re]enquadrar – de repertórios, de ideias, de outras imagens. O ensaio que vemos nestas páginas, intitulado TV P&B, iniciado por Tadeu Vilani em 2009, foi vencedor do primeiro Prêmio de Artes da Fundação Conrado Wessel, em 2011. Na série, o fotógrafo retratou os moradores da Vila Dique, em Porto Alegre, e da Vila Umbu, em Alvorada. Nas idas e vindas pelos locais, Vilani encontrou um televisor sem o tubo e propôs observar como as pessoas dali interagiam com tais restos de molduras. As imagens refletem a necessidade de melhorias, em todos os sentidos, de uma população, mas também se conectam com as memórias do autor. Os velhos receptores em preto e branco fazem parte da vivência do fotógrafo, que, ainda criança, recorda, foi um dos primeiros de sua rua, no interior de Santo Ângelo, a ter uma tevê. Da Copa de 70, a que assistiu no aparelho, lembra do movimento das pessoas – o mesmo também retratado nos antigos filmes monocromáticos a que assistia no cinema onde seu tio era porteiro. Foi ali que decidiu ser um contador de histórias. Na fotografia, encontrou sua veia de expressão, reconhecendo-se como um ser humano que fotografa, e que por isso só já sabe que suas verdades não são as verdades do mundo. Ainda assim, a proposta que fica é: fotografar para mostrar, para transformar. Toda reinvenção passa, obrigatoriamente, por enquadres e desenquadres. Telas de telas que nos apontam a contribuição de toda imagem: ela não é uma janela, não pode ser um biombo, e só pode ser metáfora de nossa própria vida.

Cybeli Moraes Doutora em Comunicação e professora na Unisinos

Tadeu Vilani é fotojornalista da Zero Hora. Desenvolve trabalhos de expressão pessoal em fotografia e documentação, com séries premiadas sobre as ruínas de São Miguel das Missões e sobre os povos Guarani.

Fotos Tadeu Villani

ão


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O conceito de

desenvolvimen Quando o termo sustentabilidade vem à tona, as pessoas costumam associá-lo ao meio ambiente. O que muita gente desconhece é que o conceito, criado em 1987 em um relatório da ONU sobre o desenvolvimento de países ricos e pobres, vai muito além do verde. Trata sobre reciclagem de lixo, preservação da Amazônia, economia de água e alimentos orgânicos, mas também se refere aos nossos hábitos de consumo e à educação que recebemos. Ser sustentável significa estar bem informado para fazer escolhas mais conscientes, dando o primeiro passo para contribuir com um planeta melhor.

Três pilares da sustentabilidade

1972 – ONU cria PNUMA

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

1987 – RELATÓRIO NOSSO FUTURO COMUM

Liderado por Gro Brundtland, documento cunha o conceito de sustentabilidade ou DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, que em outras palavras é: • Progresso que atende as gerações presentes sem comprometer as futuras Conferências como a ECO-92 e a RIO+20 discutem como fazer isso. Usam recursos como a AGENDA 21

CRESCIMENTO

DAS CIDADES

$

$ Ambiental

Social

Econômico

Desafios lógica do consumo + gente nas cidades + carros + poluição + lixo nas ruas


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to sustentável O PAPEL DE CADA UM CIDADÃOS

Engajamento Participação Protesto Uso das redes

EMPRESAS

Consumo consciente

Fomento de novos mercados

ECONOMIA VERDE

Melhor aproveitamento dos recursos naturais Exploração de fontes alternativas de energia

Relatórios Indicadores Responsabilidade Economia verde

Educação Voto

Parcerias

MODA ecológica

BIO-construção

MOBILIDADE sustentável

GOVERNO

Leis Fiscalização Direitos básicos Decisões estratégicas

DIREITO ambiental

CRÉDITOS de carbono

ENERGIA limpa

DIMINUIÇÃO DA

Alimentos ORGÂNICOS

ENERGIA renovável

BIODIVERSIDADE

GRO BRUNDTLAND (1939), diplomata norueguesa, é líder internacional na área do desenvolvimento sustentável e da saúde pública. Em 1981, tornou-se a primeira mulher a chefiar o governo da Noruega, voltando a ocupar o cargo de primeira-ministra em outras duas ocasiões. Em 1987, liderou a Comissão da Organização das Nações Unidas que apresentou o relatório Nosso Futuro Comum, introduzindo o conceito de “desenvolvimento sustentável” nas discussões sobre preservação ambiental. Atualmente, é enviada especial das Nações Unidas para Mudanças Climáticas.

• Mudanças climáticas • Aquecimento global • Degelo dos polos • Impactos ambientais Catástrofes, enchentes, diminuição de espécies, aumento do nível dos oceanos

Lara Ely - Repórter da Zero Hora, especialista em Gestão Ambiental e mestre em Comunicação Social pela PUCRS.


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Bruno Alencastro

O amor se emancipou e adquiriu condição de direito universal

em xeque Amor

O

amor é livre e, como tal, está no ar, fluindo por toda parte – mas isso não faz muito tempo, ao contrário do que sugere o barulho feito à sua volta pelo palavreado cotidiano e os meios de comunicação. Às pessoas convém lembrar que, até o início do século passado, os relacionamentos afetivos eram, em geral, rigidamente controlados pelos ordenamentos coletivos. A família, a igreja, a etnia e até o Estado impunham suas normas à maneira como homens e mulheres podiam se relacionar. A liberdade para amar quem desejamos, com base apenas na atração mútua, começou a surgir há pouco mais de meio século e, em muitas partes do planeta, ainda é desconhecida. O fato de ter passado a ser assim é bom ou mau? As pessoas são, agora, mais felizes em sua vida afetiva? A resposta às perguntas não deveria ser linear. A prática do amor puro, exercido em condições de plena liberdade, pode ser tão custosa e desafiadora quanto a do relacionamento forçado e a convivência de circunstância que gravava nossa alma em um passado não muito distante. A burguesia se projetou como classe, entre outros aspectos, ao promover a valorização do sentimento interior, autêntico e espiritualizado, e, assim, condenar a frivolidade com que, segundo seus porta-vozes, o amor era vivido na sociedade aristocrática. O amor se tornou, para ela, algo profundo e comprometedor, em que era preciso ter pureza de intenções e saber escutar a voz do coração – sem, contudo, desrespeitar as convenções sociais e os ordenamentos coletivos. O resultado disso foi, como se sabe, a conversão de uma atividade lúdica, mais ou menos tolerada pelos costumes, desde que fora do casamento, em motivo esperado do bom matrimônio que, impossível de ser posto em prática pela maioria, rápido se tornou signo, às vezes patológico, da

“Os relacionamentos são livres e por eles não falta atração, mas paira hoje o sentimento de que estes se tornaram mais frágeis e difíceis.” hipocrisia moral burguesa. Por volta de 1900, o cenário, no entanto, começou a se alterar. Freud deu sinal de que esse arranjo se tornara insuportável. Apareceram movimentos políticos e sociais decididos a criar uma nova moral sexual, se não um novo cosmo amoroso. O amor livre passou não apenas a ser pensado pelos intelectuais, mas a ser posto em prática por setores cada vez mais amplos da sociedade. O movimento de emancipação política e jurídica da mulher, que lhe abriu a perspectiva da vida profissional, combinou-se com as reforma do mundo do trabalho, em meio a um novo ciclo de desenvolvimento do capitalismo, que levou o individualismo a prosperar entre as massas. As pessoas começaram a se destacar dos velhos ordenamentos, adquirindo uma consciência do eu individual que, apesar dos percalços, lhes trouxe, em vários setores da vida, mais liberdade. A crescente preocupação com os assuntos amorosos a que se assiste desde então deve ser situada neste contexto, marcado pelo aumento da prosperidade, mas também por um crescente estranhamento entre os seres humanos. Os sinais disso cada um vai aprendendo conforme amadurece, apesar de todo o treinamento romântico que, movido por um

interesse mercadológico, promovem a literatura, o cinema e as artes populares. Os relacionamentos são livres e por eles não falta atração, mas paira hoje o sentimento de que estes se tornaram mais frágeis e difíceis. Os críticos se apressam em acusar o narcisismo vigente em nosso tempo por tanto, mas se equivocam, tomando o efeito pela causa – se é que não tomam por cotidiano do homem comum do nosso tempo o que não passa, de fato, de seu aspecto cosmético. Vivemos em um sistema onde os principais estímulos nos movem no sentido da satisfação egoísta e que, por isso, tende, na prática, a dificultar o desenvolvimento das competências com que se poderia cultivar o tipo de relacionamento que o amor exige, uma vez posto em situação de liberdade. O fato de isso torná-lo ainda mais desejado e sedutor, predispondo-o à exploração como mercadoria barata pelos meios de comunicação, é apenas um indício do problema maior que deriva da ideia de que talvez não amar seja a regra em uma sociedade onde, menos que descartáveis, nossa condição é a de acessórios uns para os outros. O amor se emancipou das cadeias que o prendiam às autoridades tradicionais e, assim, adquiriu a condição de direito universal, que atravessa nossas vidas como fluido mágico prometedor de uma felicidade extraordinária. O problema consiste em saber como vivenciá-lo em meio a uma sociedade que, incentivando o individualismo e, em nosso caso, carecendo dos meios culturais que o atenuariam, obstaculiza o desenvolvimento de relacionamentos íntimos duráveis o bastante para trazerem a seus sujeitos estímulos, prazeres e admiração recíprocos. Francisco Rüdiger Professor da UFRGS e da PUCRS, publicou recentemente O Amor e a Mídia (UFRGS, 2013)

PASCAL BRUCKNER (1948), filósofo francês, é um dos principais pensadores dentre os chamados “Novos Filósofos”, grupo de intelectuais franceses que se definem pela oposição ao totalitarismo e rompimento com o pensamento marxista no início dos anos 1970. Autor de diversos livros de ficção e não ficção, teve seu romance Lua de Fel filmado pelo diretor polonês Roman Polanski. Em sua mais recente publicação no Brasil, Fracassou o Casamento por Amor?, faz uma análise filosófica das questões que envolvem o matrimônio por amor e as angústias da separação. Discute também sobre a obrigação da felicidade em nossa sociedade atual em seu livro A Euforia Perpétua.


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Homenagem

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à Universidade Federal

U

m pensador da alteridade e dos contrastes, mas ao mesmo tempo da celebração e das histórias, apaixonado pelo Brasil e pelos brasileiros. Este é o presente que o Fronteiras do Pensamento traz a Porto Alegre especialmente para homenagear os 80 anos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mia Couto realizará uma Aula Magna no Salão de Atos da UFRGS aberta a toda comunidade universitária, integrando a programação cultural e acadêmica do aniversário. O evento ocorre no dia 1o de setembro, às 10h, e festeja a universidade federal, explorando as fronteiras da atividade intelectual humana capaz de formar, refletir e permanecer num estado de saudável inquietação – como mostram os excertos da conferência de Mia Couto, proferida no mesmo Salão de Atos em 2012. Confira ao lado os trechos da conferência de Mia Couto realizada em 2012, selecionados a partir do livro Pensar a Cultura – Série Fronteiras do Pensamento (Arquipélago Editorial, 2013), que traz a conferência do escritor moçambicano e vários outros pensadores.

MIA COUTO (1955), escritor moçambicano, é um dos principais escritores do continente africano e, também, um dos mais traduzidos. Dentre suas obras publicadas no Brasil pela Companhia das Letras destacam-se O Fio das Missangas, E se Obama Fosse Africano?, Antes de Nascer o Mundo, Estórias Abensonhadas e Terra Sonâmbula. Mia Couto produz uma literatura engajada com a cultura do sudeste africano e com a luta do povo moçambicano pela sobrevivência. Foi agraciado recentemente com os prestigiosos Prêmio Camões de Literatura e Prêmio Literário Internacional Neustadt.

“Aprendemos a demarcarmo-nos do Outro e do Estranho como se fossem ameaças à nossa integridade, mesmo que ninguém saiba em que consiste essa integridade. Temos medo da mudança, medo da desordem, medo da complexidade. Precisamos de modelos para entender um universo (que é, afinal, um pluriverso ou um multiverso) que foi construído em permanente mudança, no meio do caos e do imprevisível. Esses modelos simplificam o que só pode ser entendido como entidade complexa e complicam o que só em simplicidade pode ser apreendido. Temos medo dos que pensam diferente e mais medo ainda daqueles que são tão diferentes que achamos que não pensam. Vivemos em estado de guerra com a alteridade que mora dentro e fora de nós.”

“Falo do Brasil sem ter a ingenuidade de romantizar uma nação que é feita de contrastes, de ambivalências, de desigualdades. A minha intenção não é promover uma campanha de simpatia a meu favor, falando de um modo apaixonado do Brasil e dos brasileiros. O que quero dizer é que temos, Moçambique e Brasil, as mesmas doenças e os mesmos remédios, apenas em graus diferentes. E temos a nosso favor sociedades que são plenas de vitalidade e diversidade, sociedades feitas de gente que não tem medo de se tocar, nem tem vergonha de ter corpo. Feitas de gente que ama celebrar a vida como uma festa de rua. Se fôssemos tucanos, a nossa casa teria certamente mais orifício que parede.”

“Se em Moçambique eu vivo uma realidade tão próxima da brasileira, a pergunta certa não seria por que gosto tanto de visitar o Brasil. A verdadeira pergunta seria outra: por que, vindo ao Brasil, me converto em Brasil? E a resposta é: porque aqui sou autor de travessias interiores, aqui sou viajante de histórias que, mais do que pessoas, mestiçaram deuses e crenças divinas. Os brasileiros têm essa tão feliz dificuldade de não pertencerem a uma identidade só. Cada brasileiro é mais do que ele próprio, mais do que a sua raça, o seu gênero, a sua origem. Cada brasileiro é o Brasil inteiro. E assim é impossível definir o que é um brasileiro típico, um brasileiro representativo, um brasileiro puro.”

“A fronteira concebida como vedação estanque tem a ver com o modo como pensamos e vivemos a nossa própria identidade. Essa identidade mora hoje em condomínio fechado. Uma invisível empresa de segurança impede o ‘Outro’ de entrar nesse espaço que chamamos de ‘intimidade’. Somos um pouco como a tucana que se despluma dentro do escuro. Temos a ilusão de que a nossa proteção vem da espessura da parede. Mas seriam as asas e a capacidade de voar que nos devolveriam a segurança de ter o mundo inteiro como a nossa casa.”

“É verdade que usufruímos de um tempo com acesso instantâneo à informação. Mas não podemos confundir ideias novas com informação recente. Muitas vezes são as ideias que temos que nos impedem de termos ideias novas. São esposas ciumentas que fecham as cortinas e trancam a porta. E rondamos dentro nós, num saturado monólogo interior. Cansadas, as ideias não fazem senão dormir na cama da memória. E nós nos tornamos naquilo que já fomos.”

“O pensamento nasceu para nos tornar livres, para nos dar asas e voarmos para além dos nossos limites. Foi o pensamento que nos deu barco e destino na épica viagem em que nos fizemos humanos e sobre-humanos. Tudo o que aqui falei não pretende reduzir o brilho dessa jornada épica com que fintamos o nosso próprio destino. Falo apenas do modo como, entretanto, nos deixamos cercar por uma razão que se considera já feita, definitiva, cristalizada em certezas. Aquilo que nasceu para ser fecundo tornou-se estéril, o que nasceu para ser semente tornou-se pedra.”


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Sensibilidade A

pensativa da música

música, a mais abstrata das artes, é força poderosa que instantaneamente atinge e ocupa todos os corpos, impondo suas vibrações, harmonias, melodias e imaginações. Intangível, ela nos atinge e transporta, ao toque dos dedos ágeis e do sopro das almas sensíveis dos músicos. Aqueles sons, combinações cheias de afeto, inteligência, memória e destreza, são parte nobre das melhores realizações da humanidade, uma parte generosamente construída e compartilhada por gênios cheios de personalidade e de filantropia. Nos interstícios do nosso mundo, nas brechas do cotidiano ou em recantos de nossas mentes, a música habita um palácio de cristal, onde melodias e harmonias maviosas arranjam a desordem da vida; de suas portas e janelas procedem sons que são raios dourados e todas as cores do arco-íris. O seu nome é Musa, e seu dom é o daquelas filhas de Zeus: rememorar para todos o melhor da cultura, o essencial da civilização, com o que poderemos avançar edificados.

É este o dom oferecido ao público pela Braskem na saudação musical, primeiro ato das conferências do Fronteiras do Pensamento. Uma passagem quase mágica para o universo onde brilham os melhores frutos, o pensamento, a expressão clara e criativa, o espírito da investigação e da descoberta, o mundo das ideias feito corpo e voz. É bom que cheguemos a este mundo conduzidos pela sensibilidade pensativa da música, com a qual nos enlevamos e animamos nossa vida interior. Assim melhor poderemos navegar no mar de ideias que logo inundará o Salão de Atos da Reitoria. A saudação musical é resultado de uma concepção harmonizada por numerosos fatores. A natureza da conferência, o assunto, a personalidade do(a) conferencista, sua nação e estilos, a cena musical de Porto Alegre, a variedade do repertório, a informação, divulgação e mensagens, e sobretudo a busca de um efeito sonoro capaz de realizar a meta ritual da música, antessala da conferência. São dez minutos, e o imperativo de ir diretamente ao ponto central, sem delongas. Tempo para que um ícone brilhe, uma ou duas

ideias musicais ganhem corpo, e tempo para que este poder da música afirme sua singularidade. Há sempre experiências novas e grande expectativa. Sabemos que o público valoriza esse momento e corresponde com o silêncio digno das salas de concerto e aplausos cálidos, gratificantes. É especialmente bom quando as ideias e intuições da curadoria musical tocam o coração de nossos convidados, o que tem ocorrido com muita frequência. Não os indagamos sobre música, mas apostamos que aquelas escolhas vão agradar, surpreender ou encantar. Muitos conseguem traduzir essa experiência em suas falas, referindo com carinho a homenagem musical. De outro lado, muitos músicos ambicionam ocupar aquele importante palco, e os que o fazem guardam a lembrança de um evento notável, o encontro musical com o público do Fronteiras do Pensamento. Francisco Marshall Historiador e arqueólogo, professor do Departamento de História da UFRGS e curador cultural do StudioClio

Luiz Munhoz

No palco do Fronteiras, as músicas e as ideias se unem

Seleção de alguns compositores e seus intérpretes nestes quatro anos de saudação musical Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Lia Cimaglia, Beatriz Lockhart – Olinda Allessandrini (piano) Philip Glass – Dimitri Cervo (piano) e James Strauss (flauta) Johann Sebastian Bach – Paulo Inda (violão) Johann Sebastian Bach, Georg Friedrich Händel – Fernando Cordella (cravo) Johann Sebastian Bach, Ferruccio Busoni – Cristina Capparelli Gerling (piano) Franz Liszt, Alexander Scriabin, Sergei Rachmaninoff, Viktor Vasnetsov – Josias Matschulat (piano) Johan Halvorsen, Georg Friedrich Händel – Elena Romanov (violino) e Vladimir Romanov (viola) Sergei Rachmaninoff – Simone Leitão (piano) Tom Jobim – Ayres Potthoff (flauta), Michel Dorfman (piano), Jorge Dorfman (baixo) e Rafa Marques (bateria) Octávio Dutra – grupo Regional Espia Só Noel Rosa – g ­ rupo vocal Sem Contraindicação, na regência do maestro Pablo Trindade Ernesto Nazareth, Astor Piazzolla – Eduardo Castañera (violão) e Maurício Marques (violão) Claude Debussy, Heitor Villa-Lobos – Paulo Meirelles (piano)


PORTO ALEGRE, sábado, 26 DE ABRIL DE 2014

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existência Os desafios da

No site www.fronteiras.com e no canal no YouTube é possível encontrar centenas de vídeos a partir de seis recortes específicos.

Jean-Pierre Lebrun A satisfação impossível

Vandana Shiva As mulheres e a construção do novo mundo

Alain de Botton A criação do meu eu: o desafio do século XXI

Edgar Morin A poesia da vida

Luc Ferry A sabedoria do amor

Peter Singer O status moral do sofrimento

Manuel Castells Por um Brasil que desconhecemos

Richard Sennett Sennett x Castells: existe sociedade fora da política?

Arte - Mundo - Ciência - Educação Pensamento - Séries Especiais Um conjunto diversificado e significativo de vídeos que representam o compromisso do Fronteiras de, ao longo destes oito anos, promover um debate qualificado e pertinente sobre os principais temas do mundo atual. Os vídeos são todos legendados e com atualizações às segundas e às quintas-feiras. Inscreva-se no canal do YouTube e acesse também a página do Fronteiras do Pensamento em zerohora.com

Reproduções YouTube

C

arreira? Família? Bens? Quais estruturas definem o indivíduo contemporâneo? Os caminhos são cada vez mais subjetivos. As fronteiras se dissolvem e o pensamento sobre quem eu sou e o que desejo é imprescindível para compreender e ultrapassar meus próprios limites. A psicanálise reforça a inexistência de um objeto que satisfará o sujeito, e a filosofia aponta o século 21 como o grande desafio para o “eu” – é preciso criar o que eu sou, não há mais definições prévias a seguir. A sociologia traz luz a este dilema: não se trata das conquistas, mas da jornada a trilhar. Assim, propõem a poesia de Edgar Morin e a sabedoria de Luc Ferry, que convidam esse novo sujeito a descobrir a felicidade e o amor na beleza dos desafios da existência. É tempo de mergulhar em uma profunda reflexão sobre o mundo que formamos e que nos forma, sobre aquilo que se apresenta enquanto condição humana, sobre os desejos mais íntimos e as aspirações mais universais. O Fronteiras.com apresenta as ideias destes que são os maiores ícones do pensamento contemporâneo. Ideias que podem reinventar o mundo e aquilo que entendemos sobre nós mesmos. A equipe digital do Fronteiras do Pensamento selecionou, dentro da temática Pensamento, alguns vídeos essenciais para esta discussão sobre os desafios da existência. Trazemos para o debate as ideias do psicanalista francês Jean-Pierre Lebrun, da ambientalista indiana Vandana Shiva, do filósofo suíço Alain de Botton, do sociólogo francês Edgar Morin, do filósofo francês Luc Ferry, do filósofo australiano Peter Singer, do sociólogo espanhol Manuel Castells e do sociólogo norte-americano Richard Sennett.


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Cinema

na fronteira

Aletéia Selonk Produtora audiovisual, diretora da Okna Produções, coordenadora do TECNA (Centro Tecnológico Audiovisual do RS) e do curso superior de Tecnologia em Produção Audiovisual da PUCRS.

A escolha de um tema e a sua delimitação para estimular um olhar atento ao que se quer notar ou estudar faz parte do trabalho de um estudioso. Os conferencistas do Fronteiras do Pensamento, intelectuais com larga trajetória, propõem este mesmo exercício à plateia atenta do projeto. Enquanto esperamos por estas noites estimulantes que estão por acontecer em Porto Alegre, podemos nos valer do enquadramento proposto pelo cinema e trafegarmos em universos ficcionais e, ao mesmo tempo, campos do conhecimento de nomes como Pascal Bruckner, Salman Rushdie e Ricardo Piglia.

Lua de Fel (Bitter Moon) 1992 Direção de Roman Polanski Com Peter Coyote, Emmanuelle Seigner, Hugh Grant e Kristin Scott Thomas O romance Lua de Fel, de Pascal Bruckner, deu origem ao emblemático filme de mesmo nome, dirigido pelo polonês Roman Polanski. As duas obras fazem um estudo sobre a paixão sem limites. O casal Nigel e Fiona faz uma viagem para renovar a relação conjugal, e conhecem outro casal, Mimi e Oscar. Esse encontro trará novas perspectivas para as suas individualidades e os seus desejos.

Os Filhos da Meia-noite (Midnight’s Children) 2012 Direção de Deepa Mehta Com Rajat Kapoor, Vansh Bhardwaj e Anupam Kher Salman Rushdie foi adaptado para o cinema recentemente na obra Os Filhos da Meia-noite, dirigido pela indiana Deepa Mehta. Baseado em seu romance homônimo, Rushdie é também narrador deste longa, que conta a história de dois bebês que foram trocados na maternidade no dia em que nasceram, a mesma data em que a Índia conquistou a independência.

Dinheiro Queimado

Coração Iluminado

(Plata Quemada) 2000 Direção de Marcelo Piñeyro Com Eduardo Noriega, Leonardo Sbaraglia e Pablo Echarri

1996 Direção de Hector Babenco Com Miguel Ángel Solá, Maria Luísa Mendonça, Walter Quiroz e Xuxa Lopes

A novela Plata Quemada, de Ricardo Piglia, conta a história de um crime espetacular que marcou a Argentina e o Uruguai na década de 1960. O diretor argentino Marcelo Piñeyro manteve o ritmo ágil do livro em sua adaptação para o cinema.

Vale também lembrar que o escritor argentino Ricardo Piglia foi corroteirista do cineasta Hector Babenco neste filme. A história conta um caso de amor entre um estudante e a sua amante e traz referências autobiográficas de um primeiro amor na adolescência.


PORTO ALEGRE, sábado, 26 DE ABRIL DE 2014

Livros Tito Montenegro - Jornalista e editor da Arquipélago Editorial

Liberdade para as ideias que odiamos Anthony Lewis Aracati (2011) 248 páginas A liberdade de expressão é um dos temas mais caros ao Fronteiras do Pensamento – sem ela, afinal de contas, não haveria como criar uma programação com conferencistas com ideias tão distintas. Em Liberdade para as ideias que odiamos, o pesquisador Anthony Lewis conta como nasceu e se desenvolveu a primeira emenda à Constituição Americana, aquela que diz “O Congresso não fará nenhuma lei [...] que restrinja a liberdade de expressão ou da imprensa”. O debate em torno do que essas palavras de fato significam – e quais são os limites para essa proteção – mobiliza jornalistas, juízes e parlamentares desde que elas passaram a fazer parte do texto constitucional, em 1791. Um debate ainda – e cada vez mais – atual.

que inspiram

Felicidade Eduardo Giannetti Companhia das Letras (2002) 232 páginas O economista brasileiro Eduardo Giannetti, também um brilhante historiador das ideias, apresenta neste livro um panorama do Iluminismo e suas promessas de felicidade – que viria por meio do conhecimento e do desenvolvimento da técnica e das artes. As ideias iluministas são debatidas em forma de diálogo entre quatro amigos que integram um grupo de estudos. O formato criativo, a fluência do texto e o amplo domínio de Giannetti sobre o tema fazem de Felicidade uma leitura essencial e ao mesmo tempo agradável, um passeio pelas ideias de pensadores que ainda hoje nos influenciam.

A civilização do espetáculo Mario Vargas Llosa Objetiva (2013) 208 páginas Neste livro provocativo, o Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa denuncia a banalização da cultura, a generalização da frivolidade e a proliferação do jornalismo da bisbilhotice e do escândalo. Para ele, essas são consequências do esvaziamento do próprio conceito de cultura, que estaria prestes a desaparecer. Afinal, quando tudo pode ser considerado cultura, nada o é. Também a figura do intelectual corre risco, escanteado do debate público e substituído pelas celebridades da televisão.

Poesia e polícia Robert Darnton Companhia das Letras (2014) 224 páginas Recém-lançado no Brasil, o novo livro do historiador Robert Darnton tem como subtítulo “Redes de comunicação na Paris do século 18”. O tema de Darnton é a disseminação de poemas de protesto, copiados em papel ou transformados em música, que se espalhavam pelas ruas e ajudavam a construir o que chamamos hoje de opinião pública. O livro nos mostra que “viralizar” uma mensagem não é algo que tenha surgido com a internet, como muita gente parece acreditar. Diz Darnton: “A informação permeou toda ordem social desde que os seres humanos aprenderam a trocar sinais. As maravilhas da tecnologia da comunicação no presente criaram uma falsa consciência acerca do passado”.

Pensar: o contemporâneo, a filosofia e a cultura A série Fronteiras do Pensamento pretende contribuir para uma reflexão aberta e variada sobre alguns dos temas mais urgentes e instigantes deste começo de século XXI: as revoluções morais, os movimentos sociais em rede, o papel da religião no mundo de hoje, as transformações e os desafios que a internet nos apresenta e a complexidade e a amplitude do debate filosófico e cultural da atualidade. Organizados por Cassiano Elek Machado (Pensar a Cultura, primeiro volume), Eduardo Wolf (Pensar a Filosofia, segundo volume) e Fernando Schüler e Eduardo Wolf (Pensar o Contemporâneo, terceiro volume), trazem artigos, ensaios e entrevistas com grandes nomes que já passaram pelo palco do Fronteiras.

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