Engraxador

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EDIÇÃO NÚMERO

O ENGRAXADOR Ainda há engraxadores, mas não é na rua que eles estão.

Engraxadores sem caixa há aos centos na cidade Que só usam de tal graxa Que envenena a sociedade. António Aleixo

HISTÓRIA DA PROFISSÃO

A profissão de engraxador de sapatos, é a pessoa que é responsável pelo polimento e limpeza dos sapatos. A tradição do ofício remete ao ano de 1806, quando um operário poliu em sinal de respeito as botas de um general francês e foi recompensado com uma moeda de ouro. Além disto, na segunda Guerra Mundial apareceram os “sciusciàs”, rapazes que para ganhar algum dinheiro lustravam as botas dos militares que passavam. Quando a guerra terminou, os sciusciàs e os engraxadores de Nápoles foram desaparecendo e, no ínicio dos anos 50, eles eram apenas mil. Hoje em dia, ocasionalmente, podem encontrar-se alguns desses engraxadores nas ruas napolitanas. Depois da imigração italiana, aparecem por volta de 1877, na cidade de São Paulo, os primeiros engraxadores.

No início as idades dos engraxadores rondavam dos 10 aos 14 anos, percorriam as ruas desde as 6h das manhã até à noite e levavam consigo uma caixa de madeira com as suas latas, escovas e entre alguns outros objetos. Em 1890, surgiram as primeiras cadeiras de engraxador, que foram inventadas por Morris N. Kohn. Nos dias de hoje, é cada vez mais difícil encontrar engraxadores pelas ruas, porque esta profissão está cada vez mais escassa, já que as as oportunidades e a diversidade de profissões e qualificações do mundo moderno tiveram um aumento. Por enquanto, os engraxadores resistem, são postais para os turistas que lhes pedem fotografias que guardam histórias.

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SR. ARMANDO INTRODUÇÃO No passado dia 17 de Maio, fui conhecer o Senhor Armando, engraxador há 12 anos, 5, a realizar o seu ofício no café Velasquez localizado no Porto. Fiz-lhe uma pequena entrevista para ficar a conhecer melhor acerca desta profissão e muito abertamente, respondeu-me prevendo o que infelizmente se espera: a profissão dos engraxadores está cada vez mais em vias de extinção em relação aos outros ofícios.

ENTREVISTA SR. ARMANDO

Quando começou a exercer a sua profissão? Antes trabalhava numa sapataria, depois fui para a rua e comecei a engraxar sapatos. Comecei a fazê-lo à cerca de 12 anos atrás.

trabalho Como chama a atenção das pessoas? Como tenho clientes habituais, eles normalmente vem ter comigo

Porque decidiu fazê-lo? Na altura precisava de ganhar mais dinheiro então decidi começar a engraxar sapatos, também pelo incentivo de amigos.

Agora vê-se muito poucos engraxadores de sapatos na cidade, porque acha que isto acontece? No geral como estamos em crise é normal esta profissão ficar desvalorizada e penso mesmo que deixem de haver engraxadores no futuro, além de que hoje em dia, a nova geração como usa muito sapatilhas, é cada vez menos preciso engraxar os sapatos. Antigamente fazia parte da rotina engraxar os sapatos e tinha-se mais cuidado nesse aspeto, hoje em dia é cada vez menos frequente as pessoas recorrerem a isso.

Em média quantas graxas faz por dia? Cerca de 5 graxas, mas também só trabalho pela manhã. Costuma estar neste local ou varia ? Antes estava nos aliados, à beira da império e depois comecei por estar aqui pelo café e consegui os clientes habituais. A que horas é mais comum as pessoas engraxarem os sapatos? De manhã quando vem aqui normalmente enquanto tomam café ou antes de irem para o

Tem alguma técnica de engraxar? Nomes dos instrumentos? (risos) Não, eu apenas uso uma escova para polir os sapatos, escova para aplicar a graxa, um pano tipo flanela, graxa e um tecido. Basicamente primeiro passa-se o sapato com

“ANTIGAMENTE FAZIA PARTE DA ROTINA ENGRAXAR OS SAPATOS E TINHA-SE MAIS CUIDADO NESSE ASPETO”


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uma escova para tirar as sujeiras que estejam na pele do sapato; depois aplica-se a graxa pelo sapato, nas partes onde tem o couro e depois da graxa secar, escova-se para lustrar o sapato para dar mais brilho. Sapatos bem engraxados podem manter-se impecáveis durante mais tempo, a qualidade das graxas e pomadas e o tipo de escova que se utiliza são fundamentais para um serviço bem feito. Apesar de que antigamente o material era melhor do que é agora. Quais são as exigências que um engraxador tem de ter para o seu ofício? Educação, limpeza e trabalho bem feito. Acho que a postura, a honestidade e a educação podem mudar a visão que algumas pessoas têm do engraxador; Hoje em dia ainda existe um estigma social com a nossa profissão, quem engraxa sapatos não tem de ser um analfabeto, uma pessoa com vícios, sem eira nem beira, é um profissional! Trocava de profissão? É assim isto é o que serve, mas peço a Deus para nunca ver um filho ou um neto neste ofício. Como já tenho tantos anos disto, estou habituado, mas para os meus filhos não. Tem mais clientes homens ou mulheres? Hoje os clientes são na maioria homens, com quem tenho o hábito de conversar, muito de vez em quando já engraxei os sapatos e botas a clientes femininas.


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SR. JOSÉ GESTO Na Avenida dos Aliados, perto do McDonald’s, quer faça chuva, quer faça sol, lá está o Sr. José Gesto, que eu tive oportunidade de conhecer e de lhe fazer uma entrevista para conhecer o seu ponto de vista acerca desta profissão.

ENTREVISTA SR. JOSÉ GESTO Quando começou a exercer a sua profissão? Quando era novo, trabalhava numa litografia mas como não gostava do que fazia e faltava muitas vezes o meu pai obrigou-me a seguir esta arte e então vim para as ruas do Porto engraxar sapatos. Também me sujeitei a isto porque com a minha idade ninguém me dá trabalho. O que difere o antigamente para o agora da sua profissão? Antigamente havia mais engraxadores, muitos nos aliados e hoje são só 4 ou 5 que andam por aqui pelos Aliados. Antes as barbearias tinham engraxadores e agora não. Além de que antes fazia parte da boa educação de um homem andar com os sapatos bem engraxados, hoje em dia ninguém liga a isso e a malta jovem anda com sapatilhas. Quanto fica engraxar os sapatos? 3€ Como chama a atenção das pessoas? Já estou aqui há muitos anos, as pessoas que por aqui passam já me conhecem não tenho que as chamar. Porque acha que as pessoas devem recorrer a um engraxador do que ir a uma sapataria? É um serviço único, um engraxador trata os sapatos como deve de


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ser, porque vamos a cada pormenor, tratamos o cliente de uma forma profissional. Todo o serviço que é feito com amor, as pessoas tendem a gostar mais e fica um trabalho muito melhor feito. Tem alguma técnica para engraxar sapatos? Não a única coisa que é preciso é graxa, tecido e escova e claro ter amor pelo trabalho! Um bom profissional, pela experiência, a primeira coisa que faz é olhar para o calçado e estabelecer um diagnóstico. A seguir, consoante o estado dos sapatos, ora aplica mais tinta, mais graxa, está a compreender? Eu trato o calçado com amor e carinho. Desempenho a minha profissão com toda a entrega, como se fosse uma paixão! Sente que há competição entre engraxadores, visto que há cada vez menos? Sim há! Alguns clientes como me conhecem vem ter aqui e quando eu não estou, vão se embora... Há um bocadinho de inveja mas isso é normal, é como em todas as profissões. Mas eu não me aborreco, as conversas ficam para os clientes. Quais são os temas de conversa? Normalmente falamos sobre política, sobrefutebol e sobre o país... vai dependendo.


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ENGRAXADOR EM NOVA IORQUE Se por um lado se ouve que a profissão está em extinção, por outro lado temos a história de Carlos Mesquita que transformou uma banca de engraxador num império de reparação de sapatos. É o homem de eleição de alguns nomes no mundo da moda como Chanel e trabalha com estrelas como Jennifer Lopez.

Tudo começou quando o pai lhe sugeriu começar a engraxar sapatos numa barbearia. Agarrou nas poupanças que tinha, comprou uma mala de engraxador, montou um banco e colocou a mala das tintas e ceras e um frasco de gorjetas no chão e ficou à espera. Era assim que ganhava a vida, os clientes engraxavam e deixavam gorjeta. Desde criança que sentia que o caminho dele não era aquele e por isso passados mais de 50 anos, é agora dono das Leather Spa, uma loja

onde os nova-iorquinos reparam e personalizam os sapatos e acessórios em pele. Já foi elogiado em revistas como GQ, Esquire, Vogue, The New Yorker, InStyle, New York Magazine e a revista Time Out. Carlos ganhou o gosto pelas coisas bem feitas pelas várias visitas que fazia ao seu pai que na altura trabalhava numa fábrica localizada em Vila Nova de Famalicão. Aos 17 anos emigrou para Vigo e começou a trabalhar como pintor; passados dois anos mudou-se para França onde trabalhou na

“FOI UMA SURPRESA, NINGUÉM ESTAVA À ESPERA.” DIZ CARLOS ACERCA DA ABERTURA DA LOJA

ENGRAXADOR DE SUCESSO


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SAPATOS “LEATHER SPA” Michein e depois numa empresa de reparação de sapatos e outros serviços como carimbos, chaves e cartões de visita, com lojas espalhadas por todo o país. Passados alguns anos, foi supervisor responsável de 18 lojas. Trabalhou durante 16 anos para a mesma empresa e mais tarde acabou por se tornar sócio de algumas lojas. Ninguém estava a espera quando a loja abriu, mas o negócio não foi imediatamente um sucesso. Carlos tinha importado o conceito europeu de serviços ao minuto, que o público norte-americano não entendeu nessa mesma altura.


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CUIDAR DOS SAPATOS TER EM CONSIDERAÇÃO QUE ... Mais importante do que ter um sapato bonito no armário é saber como mantê-lo sempre em bom estado. Em baixo estão algumas informações de como manter o calçado sempre em bom estado, porque se queremos que este dure, temos de saber a melhor forma de cuidar dele.

SAPATOS DE COURO 1. Se o sapato estiver limpo, simplesmente passe uma escova seca. 2. No caso dos sapatos muito sujos, lave-os com sabão especial para couro. 3. Tire as manchas com um tira-nódoas adequado. 4. Use cera ou graxa da cor do seu sapato. Esfregue bem com um pano macio para o produto penetrar no couro, depois volte a esfregar com uma flanela limpa ou uma escova bem macia. 5. Dê um lustre com um pano limpo e macio e aplique a seguir um produto de proteção para couro, deixe secar num ambiente ventilado para evitar o cheiro forte desses produtos.

SAPATOS CAMURÇA SAPATOS DE CAMURÇA 1. Com os sapatos bem secos, escove-os com uma escova especial para camurça, fazendo movimentos circulares. 2. Com uma pequena esponja molhada com água e sabonete, retire as marcas que têm de pisadelas etc.... 3. Se as manchas forem dificeis de retirar utilize um champô apropriado para camurça. 4. No caso de manchas mais difíceis pode usar o tira-nódoas.

SAPATOS COURO


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SAPATILHAS DE LONA

SAPATOS DE LONA E TÊNIS 1. Escove o pó e a lama assim que os sapatos estiverem secos. 2. Lave as nódoas com as mãos ou ponha os sapatos numa fronha e lave-os numa máquina de lavar. 3. Aplique um produto de limpeza para tecidos de cor quando os sapatos estiverem secos. 4. Evite secar os sapatos ao sol, deixe num local ventilado e com luz, mas que não apanhe sol directamente. 5. Os cordões podem ser escovados com uma escova de dentes velha, evite escovas mais grossas, pois podem desfiar os mesmos.


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ENGRAXADORES DO FUTURO

A profissão está a extinguir-se, com as novas tecnológias a máquina está a assumir a posição de trabalho do Homem. Hoje em dia há cada vez mais máquinas conseguiram tirar o lugar de um profissional. Neste caso, vamos centrar-nos nas máquinas de engraxar sapatos que já se vêem nos centros comerciais, sapatarias e barbearias e que têm a capacidade de não só limpar mas também engraxar o calçado com o pequeno esforço de um clique. A verdade é que esta profissão está em eminência de desaparecer não só por estas máquinas mas também porque cada vez mais as pessoas andam mais com sapatilhas do que com sapatos de couro; Muitas das preocupações dos engraxadores passa por dizer que, a nova geração, que na sua maioria anda com sapatilhas, não terá interesse de no futuro continuar com o ofício de engraxador de sapatos.


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MÁQUINAS DE ENGRAXAR


O ENGRAXADOR Ele sabe de cor Todas as caras Todas as pernas que caminham apressadas Nada mudou, Talvez a moda Talvez a fivela do sapato seja agora Uma fita de velcro cor-de-rosa Ele sabe de cor Estranhos segredos Das velhas que vivem a falar pelos cotovelos Nada mudou, Talvez a moda Talvez o sapato de pelica seja agora Uma bota de verniz e pele de cobra E sentado na cadeira gasta De gente e de restos de graxa Imagina-se num teatro inglês A recitar Shakespeare em Português Com a camisa e gravata de cerimônia E depois da actuação O olhar de comoção Põe um ponto no grande retrato Um aplauso ensurdecedor Faz com que o engraxador Enfeite de lágrimas a gravata de cetim E sentado na cadeira gasta, De gente e de restos de graxa Imagina-se num teatro inglês A recitar Shakespeare em Português Com a camisa e gravata de cerimônia Acorda então em sobressalto Porque a graxa do sapato Do cliente amargurado chegara ao fim Luísa Sobral

MÚSICA “O ENGRAXADOR”


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