REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
ABRIL 2O14 | EDIÇÃO NO 32 ANO 3 | ISSN 2237-2962
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Jovens cabeças pensantes Apesar da pouca idade, pesquisadores começam a se revelar como cientistas proeminentes da Amazônia. ASSUNTO DO MÊS, PÁG. 34
FERNANDO SETTE
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ABRIL 2O14
ABRIL 2O14 | EDIÇÃO NO 32 ANO 3 | ISSN 2237-2962
NOSSA CAPA Tasso Guimarães, César Favacho e Carmem Nascimento: ciência renovada
Fernando Arthur Neves
REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
EDIÇÃO Nº 32 / ANO 3
REALIZAÇÃO
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FOTO: FERNANDO SETTE
IDEIAS VERDES, PÁG. 31
Vem cá, xerimbabo CONCEITOS AMAZÔNICOS PÁG. 17
William Domingues QUEM É?, PÁG. 16
E MAIS EDITORIAL A ciência de tênis PRIMEIRO FOCO Notícias FATO REGISTRADO Pioneiras no trabalho CARTA ABERTA Comentários dos leitores MUDANÇA DE ATITUDE Cultive uma horta EM NÚMEROS Passageiros da região OLHARES NATIVOS Temas amazônicos COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL Reciclagem do esgoto PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR Curar o terçol
FERNANDO SETTE
O6 O7 17 17 19 2O 22 42 45 5O 52 56 59 6O 62 63 65 66
CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE Mutuca gigante UM DEDO DE PROSA Jorge Eiró
A força que vem da superação
ARTE REGIONAL Dicionário do açaí NA LISTA Animais protegidos MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS Gaspar Vianna AGENDA DE EVENTOS Simpósios e artes FAÇA VOCÊ MESMO Vaivém BOA HISTÓRIA Pãezinhos NOVOS CAMINHOS Thiago Barros
FE RN AN DO
SE TT E
Mulheres escalpeladas resgatam a autoestima através do trabalho voluntário na ONG dos Ribeirinhos Vítimas de Acidentes com Motor, a Orvam, onde também possuem fonte de renda com a confecção de perucas. VIDA EM COMUNIDADE, PÁG. 46 ABRIL 2014
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DA EDITORIA
PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA ABRIL 2014 / EDIÇÃO Nº 32 ANO 3 ISSN 2237-2962
A ciência de tênis
A
pesar das diversas maneiras de encarar o mundo, a inquietude é um sentimento comum e próprio da juventude. O mesmo se aplica aos jovens pesquisadores, que, ainda no período do Ensino Médio, optam em dedicar a vida profissional a encontrar na ciência respostas para mistérios e problemas que envolvem o conhecimento humano. A figura do cientista de cabelos desgrenhados e grisalhos, enfurnado em seu laboratório há muito tempo vem sendo deixada para trás. Hoje, com estudiosos cada vez mais jovens, a pesquisa, principalmente na região, ganha um novo frescor de ideias e na forma de investigação científica, renovando o senso de instigação necessário para o ofício científico.
Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR.
Na reportagem de capa desse mês, ouvimos alguns desses proeminentes estudiosos, que ainda nem passaram dos 30 anos, mas que, já mergulhados em sérias pesquisas sobre a região ou iniciando os primeiros passos na seara da ciência, contribuem com o avanço do desenvolvimento na Amazônia.
Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAN Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor Corporativo de Jornalismo WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA Diretor de Novos Negócios RIBAMAR GOMES
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Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR
Devido à melhoria na concepção da revista, a publicação da Amazônia Viva passa para a segunda quarta-feira de cada mês, como já vem ocorrendo desde a edição de março. Assim, esperamos agradar ainda mais nosso valioso público de leitores e conquistar novos seguidores no conhecimento da região por meio de nosso produto editorial.
Diretores JOSÉ EDSON SALAME JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor chefe FELIPE MELO (SRTE-PA 1769) Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196)
FELIPE MELO Editor chefe
Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB
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Colaboraram para esta edição O Liberal, Vale, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Fundação Curro Velho (acervo); Thiago Barros, Camila Machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, Anderson Araújo, Carmem Palheta, Alan Bordallo, Moisés Sarraf, Abilio Dantas, Brenda Pantoja (reportagem); Moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Janine Bargas (produção); Hely Pamplona, Fernando Sette, Tarso Sarraf, Roberta Brandão (fotos); André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Andrey Torres, Sávio Oliveira, Márcio Euclides (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9 Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.
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TARSO SARRAF
PRIMEIRO PRIMEIROFOCO FOCO O QUE É NOTÍCIA PARA A AMAZÔNIA
AULA MAGNA Professor Alfredo Homma fez a palestra de abertura para a 2a turma de mestrado do ITV
Muita pesquisa pela frente Ao inaugurar a segunda turma do mestrado profissional “Uso Sustentável de Recursos Naturais em Regiões Tropicais”, o Instituto Tecnológico Vale lança novos desafios aos pesquisadores na Amazônia
Achado Museu Paraense Emílio Goeldi descobre novas espécies na Amazônia. Pág. 13
Agricultura Plantação de coco no Estado do Pará é uma das maiores do Brasil. Pág. 14 ABRIL 2014
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PRIMEIRO FOCO
TARSO SARRAF
U
m panorama sobre a economia rural da Amazônia deu as boas vindas a 20 alunos na aula inaugural da segunda turma do mestrado profissional “Uso Sustentável de Recursos Naturais em Regiões Tropicais”, do Instituto Tecnológico Vale. A palestra, realizada no dia 17 de março, foi proferida pelo pesquisador Alfredo Homma para representantes de instituições de Ensino e Pesquisa no Estado e entidades de classe, além dos alunos do mestrado, gestores e empregados Vale e do ITV. Formada por mestrandos de diferentes áreas do conhecimento, em função do caráter multidisciplinar do curso, a turma reúne projetos de pesquisa variados, que vão da redução
da emissão de gases atmosféricos gerados por atividades econômicas à implantação da cadeia do dendê no nordeste paraense. “Tema de pesquisa é o que não falta na Amazônia para vocês”, garantiu o agrônomo Alfredo Homma, mestre e doutor em Economia Rural pela Universidade Federal de Viçosa (MG), que possui mais de 40 anos de pesquisas na Amazônia com pesquisas que lhe renderam reconhecimentos, como o Prêmio Nacional de Ecologia e um Jabuti de Literatura. Vive-se hoje, na opinião do pesquisador, “uma Amazônia digital”, com a difusão de informação muito facilitada, assim como a integração da região à sociedade de consumo. “Nosso grande desafio está nas tecnologias agrícolas e ambien-
tais”, completou, citando oportunidades econômicas que acabaram se esvaindo em ciclos econômicos, como a falência da economia do látex e do ciclo do cacau. O tema da aula magna “Agricultura na Amazônia: conflitos e oportunidades, quais os caminhos?” foi atentamente acompanhado pelos mestrandos, que se dividem em dois grupos, sendo dez empregados da Vale e dez estudantes selecionados entre 33 inscritos dos estados do Pará, Espírito Santo e Maranhão. Os discentes também foram segmentados nas duas linhas de pesquisa do mestrado: Sustentabilidade dos Recursos Naturais e Sustentabilidade na Mineração. O curso tem reconhecimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
OPORTUNIDADE
FOTOS: TARSO SARRAF
Os mestrandos do ITV Giliam Araújo e Cleber Almeida querem contribuir com o meio ambiente a partir de suas pesquisas acadêmicas. No alto, alunos da segunda turma de mestrado com o engenheiro agrônomo, dr. Homma.
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Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação. O caráter do tema sustentabilidade também estende as possibilidades dos alunos, que advêm de variadas disciplinas, como Biologia, Geografia, Geologia, Economia e diversas engenharias. A segunda turma do mestrado inicia as aulas enquanto a pioneira, com um ano de trabalho, já entra na segunda metade de suas atividades. “Essa segunda turma tem grande importância, representa que estamos em um processo de consolidação”, afirma o geólogo Roberto Dall’Agnol, doutor em Petrologia com ênfase em granito e diretor científico interino do ITV. Para ele, o instituto se posiciona perante a região com um papel estratégico, uma vez que “é muito raro, em nosso país, uma empresa privada investir em recursos humanos, ciência, tecnologia e informação”. “Esse é o primeiro [mestrado] oferecido por uma empresa do setor mineral”, completou Dall’Agnol, que também compõe o corpo docente da pós-graduação.
ALUNOS Depois de atuar como aprendiz e técnico, o hoje engenheiro ambiental Giliam Araújo, 27 anos, teve de deixar a empresa onde trabalhava para concluir sua graduação. De volta, desta vez como mestrando, ele desenvolverá um projeto para avaliar “os impactos ambientais na cadeia produtiva do dendê, que está sendo implantada no Pará”, diz Giliam, já que a companhia
também investe na produção de óleo de palma como matéria-prima do biodiesel. Cleber Almeida, 33 anos, engenheiro florestal de Minas Gerais, vai propor uma revisão “no conceito de avaliação de impacto ambiental”, como ele mesmo define, buscando “otimizar o processo de licenciamento, evitando gastos excessivos e focando em pontos realmente relevantes”. Enquanto os dois engenheiros iniciam os trabalhos em torno de seus objetos de pesquisa, os mestrandos da turma de 2013 já tiveram suas dissertações aprovadas. “A gente está indo muito bem. O grande teste é a conclusão dessas dissertações que está prevista para os meses de março e abril do próximo ano”, avalia Roberto Dall’Agnol. Em mais um ano, esses “mestrandos apresentarão o resultado de dois anos de pesquisas, concluindo a primeira turma, o que é um passo importante na consolidação do curso”. Um projeto que significa a “continuidade da proposta da Vale de investir em Ciência e Tecnologia”, comemora o pesquisador. Para o professor convidado, Alfredo Homma, a iniciativa ajuda a diminuir o déficit de cursos de pós-graduação na Amazônia. “Ao criar o mestrado do ITV, a Vale dá uma grande contribuição para a formação de mão de obra qualificada para a região”, comentou.
MUDANÇA
PESQUISADORA DEFENDE NOVO USO DO SOLO Artigo publicado pela pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ima Vieira (abaixo), na revista Nature Climate Change, mostra que a produção agropecuária evoluiu e que as emissões de gases de efeito estufa foram reduzidas nos últimos 20 anos no Brasil. Mais de 100 pesquisas basearam as conclusões apresentadas, entre elas a confirmação de uma mudança no padrão de uso do solo no país, com destaque para a região amazônica. Coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Biodiversidade e Uso da Terra, Ima Vieira está entre os 16 autores do artigo, intitulado “Pervasive transition of the Brazilian landuse system”.
AVANÇO Para Roberto Dall’Agnol, o mestrado do ITV está se consolidando na Amazônia
TARSO SARRAF
TURISMO ASTRO MUNDIAL DO FUTEBOL DIVULGA A AMAZÔNIA O ex-jogador de futebol inglês David Beckham (abaixo) mergulhou na vida amazônica durante duas semanas, em março. Capitão da seleção inglesa em três mundiais, ele esteve na região para gravar um documentário especial para a BBC sobre as belezas naturais que marcam Manaus (AM) uma das sub sedes da Copa de 2014. As aventuras de Beckham, acompanhado de três amigos, será mostrada em junho. O documentário tem cenas do astro pescando, acampando e explorando paisagens fantásticas na selva. A Inglaterra estreia na Copa do Mundo contra a Itália, no dia 14 de junho, na Arena da Amazônia, em Manaus. O confronto entre campeões mundiais tem gerado uma grande expectativa no Amazonas, sobretudo no setor de turismo. FOTOS: CRISTINO MARTINS / ARQUIVO O LIBERAL / DIVULGAÇÃO
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PRIMEIRO FOCO DIVULGAÇÃO
FICÇÃO E REALIDADE
Projeto pretende devolver a ararinha-azul à natureza Com exibição nos cinemas de todo o País, o filme animado “Rio 2”, mostra as aventuras de uma ararinha-azul no Brasil. Na história, os protagonistas Jade e Blu não vivem mais na natureza. Dessa vez, a história se passa na Amazônia e já arrastou multidões de crianças, jovens e adultos às salas de projeção. A ficção reproduziu a realidade de uma ave brasileira que desapareceu do país devido à captura para o comércio ilegal e à degradação de seu habitat. Considerada extinta na natureza, hoje a espécie só existe em cativeiro. Mas uma iniciativa de instituições públicas e iniciativa privada pretende reintroduzir o pássaro ao seu ambiente natural. O projeto Ararinha na Natureza, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave), do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), conta com a parceria da Vale, de organizações da sociedade civil sem fins lucrativos – Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil) e Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio); além de mantenedores da espécie no Brasil e no exterior. Para viabilizar a futura reintrodução das ararinhas-azuis no Brasil, a Al-Wabra Wildlife Preservation, do Catar; a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), da Alemanha; o criadouro Nest e a Fundação Lymington, no Brasil; fazem parte de um programa de reprodução em cativeiro onde o manejo de todos os indivíduos é feito como uma única população. O projeto também prevê a realização de estudos para propor a criação de unidades de conservação que possibilitem um habitat adequado e protegido para a volta da espécie à natureza.
EM CARTAZ A animação “Rio 2” conta a história de duas ararinhas-azuis. A espécie, na vida real, é alvo do tráfico de animais
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SOBREVOO
FLORESTA
A Gulfstream ARM 1, aeronave de propriedade do Departamento de Energia dos Estados Unidos, sobrevoou grande parte da floresta amazônica, em março, para coletar dados para estudos sobre a relação entre a atmosfera e áreas verdes, além do crescimento urbano da região. Esta é a primeira vez, em 20 anos, que um avião de pesquisa internacional recebe autorização do governo federal para transitar no espaço aéreo brasileiro. As pesquisas têm aporte de R$ 24 milhões e bases foram instaladas em Manaus e outros municípios do Amazonas. Durante os voos, a Gulfstream fez o levantamento de formação de nuvens, fluxos de radiação solar, variáveis meteorológicas e outras propriedades atmosféricas. Na segunda etapa dos estudos, novos voos vão acontecer entre setembro e outubro, no período da seca.
ÁRVORES
CICLO DE VIDA
Pesquisa publicada na revista científica “Ecology Letters” abriu discussão sobre a estratégia de vida de grande parte da flora amazônica. Crescimento acelerado e morte prematura, de acordo com o cientista Tim Baker, da Escola de Geografia da Universidade de Leeds, no Reino Unido, pode explicar a variedade de espécies em grande concentração na Amazônia. Cerca de 16 mil espécies são encontradas no bioma – aproximadamente 30% de todas as conhecidas no planeta. Em pequenos fragmentos de floresta, os pesquisadores listaram de 100 a 300 espécies de árvores. A pesquisa supõe que essa grande variedade sofre influência de um ciclo de vida rápido, que dá espaço para a formação de novas espécies – na Amazônia, reforça Baker, em entrevista à BBC News, é possível encontrar várias delas em uma mesma linhagem. Na segunda etapa da pesquisa, a equipe vai avaliar informações sobre características dos gêneros e associá-las à velocidade de diversificação da floresta.
ARYANE ALMEIDA / DIVULGAÇÃO
TALENTO Com o trabalho do disco “Trelêlê”, a cantora paraense Aíla Magalhães é uma das pré-selecionadas ao 25o Prêmio da Música Brasileira, patrocinado pela Vale MÚSICA
FESTIVAL
VERDE
REFLEXO
Cientistas da Universidade de Swansea, no País de Gales, desvendaram um mistério que durava uma década sobre a tonalidade da floresta amazônica em imagens de
satélite. Eles descobriram que uma ilusão de ótica faz a mata parecer mais verde e saudável no período da seca, quando normalmente sofre com a falta de chuvas e baixa umidade. Segundo os pesquisadores envolvidos no estudo, o reflexo da luz do sol captado pelos satélites influencia na percepção da imagem real da floresta, com variações da tonalidade verde. Nos satélites da Nasa, que ofereceram grande parte das imagens analisadas pela universidade, existem sensores que mensuram a quantidade de luz refletida da Amazônia. As medidas de vegetação são calculadas a partir de uma relação entre luz vermelha e infravermelha próxima. FERNANDO ARAÚJO / ARQUIVO O LIBERAL
A cantora paraense Aíla Magalhães é uma das pré-selecionadas ao 25° Prêmio da Música Brasileira. Ela concorre com o seu primeiro trabalho, o disco “Trelêlê”, que conta com as raízes fincadas em diversas referências, desde sonoridades amazônicas até a multiplicidade da música pop. Críticos, jornalistas e músicos irão definir os selecionados e os três finalistas, com o resultado sendo revelado na festa de entrega, em maio. A cantora participou da edição do ano passado do Prêmio, sendo a convidada especial do show da turnê de Belém, que homenageou Tom Jobim. Lançado em 1987, o evento, patrocinado pela Vale, incentiva a descoberta de talentos, além de premiar artistas consagrados e novos. Neste ano, o prêmio vai homenagear, pela primeira vez, o samba.
de satélite registradas durante 40 anos pelo Instituto Americano de Geologia. No lançamento da ferramenta, que é gratuita, os executivos do Google destacaram que a maioria dos países que abrigam florestas tropicais, apesar da existência de leis para a regulação do desmatamento, não tem como verificar o que realmente está acontecendo nas áreas verdes.
RADAR
DESMATAMENTO
Em parceria com organizações ambientalistas e governos de vários países, o Google lançou um observatório mundial do desmatamento. Com base de dados semelhante à do Google Earth, o site www. globalflorestwatch.org permite a observação do desmatamento de árvores em todo o planeta, a partir de dados atualizados sobre a devastação apresentados pelos principais centros de pesquisa mundiais e da compilação de milhões de imagens
VARIAÇÃO Cientistas britânicos ajudam a desvendar questões sobre as árvores da floresta amazônica
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PRIMEIRO FOCO
TARSO SARRAF / ARQUIVO O LIBERAL
RELÍQUIA O livro “Rerum Medicarum Novae Hispaniae” voltou para o Museu Goeldi
OBRA RARA
DEVOLUÇÃO
O Museu Paraense Emílio Goeldi recebeu de volta uma das obras raras de seu acervo após investigações que mobilizaram o FBI, a Interpol e a Polícia Federal brasileira. Roubada há quase seis anos, a obra “Rerum Medicarum Novae Hispaniae”, publicada em 1628 pelo médico e botânico espanhol Francisco Hernandez (1517-1578), foi recebida pela diretoria da instituição de pesquisa paraense em março. A coletânea sobre botânica da América Espanhola, raríssima, e por isso muito valorizada, foi oferecida à renomada galeria Swann, em Nova York, por R$ 54 mil. A casa de leilões americana desconfiou e pesquisou a procedência do livro e acionou o FBI quando descobriu que tratava-se de uma relíquia furtada. A biblioteca de obras raras do Museu Goeldi estava em reformas até 2012. Desde então, os títulos mais valiosos – ao todo são mais de 3 mil raridades - estão guardados em uma sala-cofre.
radores da comunidade coletaram ovos depositados às margens de rios e lagos e os resguardaram em buracos nas praias as conhecidas chocadeiras, que protegem os filhotes de predadores e caçadores. No final do ano passado, os filhotes começaram a nascer e foram mantidos em criatórios até o período ideal para a soltura. No ano passado, 27 mil quelônios foram soltos. Nos próximos oito meses, a meta é reintegrar mais 90 mil filhotes aos lagos de municípios do Baixo Amazonas.
INOVAÇÃO
PEIXE ELÉTRICO Cientistas da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, criaram robôs subaquáticos inspirados na espé-
cie ituí-cavalo ( Apteronotus albifrons ), peixe elétrico que pode ser encontrados em rios de toda a bacia amazônica. Cego, o animal emite uma pequena corrente elétrica na água para verificar o ambiente ao redor e se locomover com segurança. Ele é capaz de perceber as informações elétricas a partir de receptores especiais localizados na pele. Nos primeiros testes com sucesso, os robôs de Northwestern utilizaram a mesma estratégia para se mover em meio a destroços e na escuridão, um avanço em relação à atual geração de equipamentos subaquáticos, operados a partir de câmeras, destacou o líder das pesquisas, Malcolm Maclver, que estuda as características do peixe amazônico há vários anos.
TARTARUGAS
PRESERVAÇÃO
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PER ERIK SVILAND / DIVULGAÇÃO
Mais de 4.100 filhotes de tartarugada-amazônia foram reintegrados à natureza em Juruti, no oeste do Pará, na abertura da temporada de soltura, em março. O objetivo da ação, que começou na comunidade Miri Centro, é repovoar os lagos influenciados pelo rio Amazonas e garantir a sobrevivência da espécie. Orientados pela Base Integrada de Educação e Meio Ambiente (Biema), mo-
INSPIRAÇÃO O ituí-cavalo serviu de modelo para a construção de robôs subaquáticos
AÇAÍ
O açaí virou destaque em reportagem na revista semanal da Fifa da segunda quinzena de março. Entre as dicas da entidade sobre como se comportar durante os 32 dias da Copa do Mundo no Brasil, a partir do dia 12 de junho, está o consumo do fruto energético originário da floresta amazônica. Entre os dez itens da cartilha, que alerta turistas sobre os costumes dos brasileiros no trânsito, entre outros costumes polêmicos, este é o único considerado “positivo” aos olhos dos estrangeiros: “Experimentar o açaí – As bacias da Amazônia fazem maravilhas: previnem as rugas e têm o mesmo efeito de uma bebida energética. Algumas mordidas podem recuperar o jogador de futebol mais cansado”, diz a reportagem.
INDÍGENAS
OLIMPÍADAS
Uma inovadora ação social tem capacitado indígenas que sonham em disputar as competições de arco olímpico nos Jogos do Rio, em 2016. Virgílio Viana, o idealizador do projeto “Arqueria Indígena”, selecionou jovens da região do Alto Rio Negro, noroeste de Manaus, para fazer a transição da prática do arco nativo, usado para caça cotidiana nas tribos, para a modalidade esportiva. Após testes com 80 meninos e meninas, nove deles seguem no projeto, que tem apoio da Fundação Amazônia Sustentável. O grupo agora espera por uma visita de representantes da Confederação Brasileira de Tiro com Arco.
BIODIVERSIDADE
Museu Goeldi descobre 169 novas espécies Entre os anos 2010 e 2013, o Museu Paraense Emílio Goeldi alcançou uma marca considerável em termos de coleta e classificação de animais e plantas. Os pesquisadores da instituição descobriram 169 novas espécies, sendo 14 da flora e 155 da fauna. Para constatar o avanço é importante notar que há dois anos 130 novas espécies haviam sido descobertas como resultado do trabalho entre 2000 a 2011.
Dos novos números divulgados de espécies de animais, a maior parte pertence ao grupo dos aracnídeos. Em seguida, os peixes são o grupo do qual foram descobertas as maiores quantidades de espécies. O destaque para os novos dados do Museu é o primata Mico rondoni , encontrado apenas no Estado de Rondônia, que figura como o único novo mamífero dos estudos realizados.
LISTÃO DAS DESCOBERTAS Veja como estão divididos os novos achados na Amazônia
ARACNÍDEOS
PEIXES
AVES
ANFÍBIOS
RÉPTEIS
INSETOS MAMÍFEROS
112 novas espécies e 7 novos gêneros
12 espécies
10 espécies
10 espécies
6 espécies
(DÍPTEROS) 4 espécies
1 espécie
RADICAL
SALTO
Depois de vencer o Mundial de Esportes Aquáticos de Barcelona, no ano passado, o campeão mundial de salto de penhasco (high diving), o colombiano Orlando Duque voltou à terra natal para conhecer as árvores gigantes da Amazônia e saltar de cima delas. Em uma expedição à floresta, na divisa entre Colômbia, Peru e Brasil, o atleta passou dez dias junto de moradores de comunidades tradicionais e indígenas, onde aprendeu mais sobre a tradição desses povos. FONTE: AGÊNCIA MUSEU GOELDI
ILUSTRAÇÕES: MÁRCIO EUCLIDES
FIFA
PRIMEIRO FOCO
PLANTAÇÃO
RECORDE
VARIEDADE
CIPÓS-TITICA Uma revisão do gênero permitiu a descoberta de duas novas espécies de cipós-titica no Amazonas. Antes dos estudos de Maria de Lourdes Soares, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), eram conhecidas 16 variantes do cipó, muito utilizado na produção de vassouras e artesanato. Agora, a pesquisadora descreveu mais duas: a Heteropsis reticulata e a Heteropsis vasquezii . A descoberta foi registrada em artigo na revista científica Systematic Botany, da Sociedade Americana de Taxonomistas de Plantas. Mateiros, que já faziam uma diferenciação empírica entre tipos de cipós, foram fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa.
ARY SOUZA / ARQUIVO O LIBERAL
Duzentos e cinquenta mil cocos por dia. Esta é a capacidade de produção de um dos maiores coqueirais do Brasil, localizado no município de Moju, nordeste paraense. De propriedade da empresa brasileira Sococo, a área tem 900 mil árvores, espalhadas por 5.600 hectares, que produzem cerca
de 90 milhões de frutos ao ano. Os coqueiros foram plantados no final da década de 70, após um minucioso estudo sobre as condições climáticas e de solo. As chuvas constantes, uma característica desta região da Amazônia, estimulam a produção da fazenda, que, em 2012, somou quase metade da safra total do Pará, com 110 milhões de cocos.
REDUÇÃO
AQUECIMENTO
FARTURA No município de Moju, no nordeste do Pará, a produção passa dos 25O mil cocos por dia
CALENDÁRIOECOLÓGICO
Não existe uma definição precisa sobre as atribuições deste campo da pesquisa. O engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa, Alfredo Homma, explica que o termo é utilizado principalmente para a função administrativa de separar especialistas em departamentos de pesquisa. No entanto, de forma geral, é possível dizer que as Ciências da Terra referem-se aos conhecimentos sobre a relação do homem com a Terra e o Universo, distribuídos em áreas como a Oceanografia, Geologia, Meteorologia, Astronomia e Paleontologia. Segundo Homma, transformações da natureza como o aumento de chuvas, as cheias do rio Amazonas e o fenômeno das secas são alguns dos objetos de investigação dessas ciências.
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ILUSTRAÇÃO: SÁVIO OLIVEIRA
22 DE ABRIL DIA DA TERRA Quais são os principais objetos de estudo das Ciências da Terra?
Após uma série de pesquisas, a Agência Espacial Americana (Nasa) chegou à conclusão de que a floresta amazônica realmente auxilia na redução do aquecimento global, absorvendo uma quantidade maior de dióxido de carbono (CO 2 ) do que emite naturalmente. A principal dúvida, que ganhou corpo na década de 90, era referente à capacidade de absorvição das arvores ao longo de seu crescimento e a quantidade de CO 2 emitida no processo de decomposição. Com análises de imagens de satélite e outras tecnologias, a Nasa calculou que a emissão total de dióxido de carbono pela floresta é de 1,9 bilhão de toneladas ao ano, mas que o valor é superado pela capacidade de absorção, um comportamento padrão da floresta. O estudo contou com a colaboração de 22 pesquisadores e foi publicado em março na revista científica “Nature Communications”.
TRÊSQUESTÕES SOBRE A CULTURA DO CORPO
MOHAMED DARUS BIN HASIB / FLYBORG FILMS / VALE
TERMINAL O maior navio mineraleiro do mundo aportou no centro de distribuição Teluk Rubiah
Mineradora recebe primeiro navio Valemax na Malásia Vale n a con soli dação de su a e st ratégia de distribuição para a Ásia”, afirma o diretor-executivo de Ferrosos e Estratégia da Vale, J osé Car los Mar ti n s. As instalações são compostas de um porto de águas profundas e um pátio de estocagem, onde diferentes tipos de minério de ferro podem ser misturados e customizados de acordo com as necessidades das siderúrgicas. Quando concluída, a primeira fase do centro de distribuição da Malásia terá uma capacidade de 30 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. Até fevereiro de 2014, os navios do tipo Valemax realizaram 170 operações de descarga em 10 diferentes portos ao redor do mundo, além das duas estações de transferência de minério nas Filipinas. A Vale já exportou cerca de 56 milhões de toneladas de minério de ferro por meio desses navios. Atualmente, 30 navios Valemax (próprios e afretados) estão em operação.
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Quais são os projetos desenvolvidos?
Temos várias atividades como cursos, oficinas, palestras, workshops e projetos comunitários, e, entre eles, está a brinquedoteca, que tem incentivado a criatividade, a emoção, a formação de valores e a consciência crítica sobre a realidade vivida pelas crianças, valorizando as dimensões educativas das brincadeiras.
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Quem pode participar das atividades do projeto?
Os trabalhos são destinados aos alunos da educação básica, professores da rede pública, educadores sociais, artistas e comunidade em geral. A participação de artistas populares e produtores culturais comunitários também são valorizadas pelo grupo.
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Como funciona essa nova forma de educar?
Precisamos matricular os alunos nas escolas. Sendo assim, entendemos que estamos trabalhando com sujeitos concretos, dentro dos seus universos de linguagem e cultura, com o corpo inteiro que somos, integrado como uma unidade física, mental, cultural e política, que constituem significados cotidianos.
HELY PAMPLONA
A Vale celebrou no mês passado a chegada do primeiro navio Valemax no terminal marítimo e centro de distribuição Teluk Rubiah, na Malásia, que está em fase de comissionamento. A chegada do maior navio mineraleiro do mundo em Teluk Rubiah representa um marco importante para a empresa, que prevê iniciar as operações do centro de distribuição no segundo semestre de 2014. Em sua viagem inaugural para a Malásia, o navio Berge Everest foi carregado com 382,5 mil toneladas de minério de ferro, que serão armazenados no centro de distribuição para futuros embarques comerciais. Com um investimento total de US$ 1.371 bilhão, Teluk Rubiah faz parte da estratégia de negócios da Vale de investir em alta eficiência, sistemas de produção e logística integrada que visam melhorar a capacidade da empresa em gerar soluções customizadas para seus clientes na Ásia e no Sudeste Asiático. “É mais um grande passo da
O Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura do Corpo, Educação, Arte e Lazer (Lacor) se propõe a criar na Universidade Federal do Pará um espaço de estudos e experimentações sobre práticas educativas a partir da cultura corporal. Um dos coordenadores do projeto, professor Paulo Lima, conta como essas técnicas são praticadas.
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PRIMEIRO PRIMEIROFOCO FOCO
EUDISSE
PAULA SAMPAIO / ARQUIVO O LIBERAL
Devemos pensar a educação no sentido amplo, para o exercício da cidadania plena, planetária e nela a fotografia, com outra percepção, como processo com todo o seu potencial” MIGUEL CHIKAOKA, fotógrafo, arte educador e cofundador da Associação Fotoativa (UEL PORTAL)
Os igarapés fazem parte do cotidiano das pessoas que vivem na Amazônia, que entendem a necessidade da preservação desse tipo de ambiente” JANSEN ZUANON, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI)
“Não há dúvida de que um trabalho eficiente foi realizado por pesquisadores e gestores ao longo da última década” Emmanuel Zagury Tourinho, pró-reitor de Pesquisa e PósGraduação da Universidade Federal do Pará, sobre o aumento da nota de 16 programas de pós-graduação da instituição na Avaliação da Capes (PORTAL DA UFPA)
“O nosso saber é muito rico e merece ser valorizado, não pode se perder com a chegada da modernidade” Beth Cheirosinha, erveira da Feira do Ver-o-Peso, sobre importância do conhecimento popular. (G1 PARÁ)
(PORTAL D24AM)
“O Brasil tem pressa e capacidade para definir e priorizar os domínios tecnológicos e áreas científicas críticas para a transformação da estrutura produtiva brasileira” Clelio Campolina, novo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, na cerimônia de posse realizada em Brasília (PORTAL DO MINISTÉRIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA).
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FATOREGISTRADO
CARTA ABERTA TERAPIAS
Mulheres pioneiras A presença feminina no serviço público brasileiro é um fato mais que corriqueiro nos dias atuais, absolutamente normal. Mas houve um dia na história da Amazônia em que a nomeação de três mulheres para servir à administração pública se tornou um ato de pioneirismo. E sobre o Museu Paraense Emílio Goeldi recaem os louros de ter sido a primeira instituição pública nacional a incorporar mulheres em seu quadro funcional. A foto abaixo, cedida por Doralice Romeiro, responsável pelo arquivo permanente do museu, revela os rostos sisudos, humor habitual nas fotografias do início do século XX, da zoóloga alemã Emília Snethlage, além de Abigayal Mattos de Siqueira Rodrigues e Anna Rabelo Mendes, as duas últimas contratadas como primeira e segunda
oficiais administrativas, respectivamente. A foto é de 1907, feita em negativo de vidro, com as três pioneiras no parque do Museu Goeldi, registrando uma vitória do feminismo no Pará e no Brasil. O zoólogo e historiador Oswaldo Cunha registrou que o Museu Goeldi foi, de fato, a primeira instituição a contratar mulheres para compor seu corpo de servidores. As informações e as fotos fazem parte do “Arquivo Guilherme de La Penha”, da Coordenação de Informação e Documentação do MPEG. Pode até ser difícil de imaginar que aquelas mulheres, com seus cortes típicos da primeira década do século passado, estivessem de bom humor. Mas, acreditem: aquela imagem tem um enorme significado a elas e a toda a sociedade brasileira.
Queremos parabenizá-los pela excelente matéria de capa da revista nº 31, cujo tema é “Tecnologia que move a vida”, muito interessante e que retrata aquilo que hoje produzimos de novas tecnologias sem sofisticação, voltadas para a reabilitação de crianças com prognósticos muitas vezes reservados. Precisamos difundir bastante esse tema, divulgando aos pais essa oportunidade de melhorar ainda mais a qualidade de vida de seus filhos com deficiência.
Cecilia Guimarães Abrigo Especial Calabriano / Unidade de Referência Especial em Reabilitação Infantil (URE-REI)
Simone Harada Diretora Técnica da URE-REI Parabéns pela matéria de capa de março, que nos apresentou os avanços da tecnologia na melhoria da vida das pessoas com deficiência.
Claudino Martins Belém-Pará Excelente a reportagem sobre a “bototerapia” (“Terapia de Amizade”, Comportamento Sustentável, março de 2014), publicada na edição nº 31. Os botos são seres incrivelmente encantadores e estão ajudando o homem a desenvolver a ciência.
Elimara Martins Abaetetuba-Pará
PAZ Muito importante para nosso tempo a matéria sobre a cultura de paz (“Como estimular o bem”, Primeiro Foco, edição nº 31, março de 2014). Precisamos falar cada vez mais desse tema tão fundamental em nossa sociedade.
ACERVO MUSEU GOELDI
Christina Alves Belém-Pará
PIONEIRISMO Emília, Abigayal e Anna: mulheres do serviço público no início do século XX
Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email: amazoniaviva@orm.com.br ou escreva para o endereço: Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.
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QUEM É?
ALEXANDRE MORAES / ASCOM UFPA
William Domingues Primeiro professor indígena da UFPA aborda em seu trabalho a diversidade cultural em Altamira
Q
uando o dia 19 de abril se aproxima, os debates acerca da população indígena no Brasil ganham mais espaço nos meios de comunicação. Para o professor do curso de Etnodesenvolvimento, da Universidade Federal do Pará (UFPA), William Domingues, o crescimento demográfico desses povos é uma conquista atual importante, mas há ainda muito que se avançar em termos de políticas públicas e ao respeito às demarcações de terra na Amazônia. Primeiro professor indígena efetivo da UFPA, William teve sua formação divida entre a vivência de dois mundos: o dos mitos e saberes tradicionais de seu povo, os Xacriabá, localizados no norte de Minas Gerais, e o da luta pelos direitos civis. “Cresci em meio a uma intensa movimentação política dos povos indígenas e da sociedade brasileira de um modo geral visando ao fim da ditadura militar”, relembra.
NOME: William César L. Domingues 18
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Segundo o pesquisador, o preconceito e discriminação sofridos por sua etnia o levaram a crer na necessidade de se educar a sociedade de forma a que todos pudessem aceitar a diversidade étnica e religiosa que compõe o país. Por esse motivo, optou por cursar a graduação em pedagogia da UFPA e “cumprir o que já estava escrito”, como afirmavam seus parentes. William foi empossado em 2013 como titular da disciplina Antropologia da Saúde e passou a desenvolver um trabalho inédito na área acadêmica na região amazônica. O curso de Etnodesenvolvimento, do campus de Altamira, do qual é um dos criadores, é o primeiro pensado especificamente para estimular a diversidade cultural. Sua elaboração se deu em cooperação com diversos grupos indígenas. Desde então, William tem atuado em campos diferenciados do conhecimento, tais como Educação Indígena, Pedagogia
IDADE: 42 anos
FORMAÇÃO: Pedagogo
da Terra e Etnoagricultura. Este último relaciona-se a todas as práticas tradicionais de agricultura realizadas por diversos grupos étnicos. “Não só relacionadas ao cultivo do solo em si, mas também a uma série de conhecimentos e saberes que envolvem das condições climáticas a interdições de plantios por motivos relacionados aos rituais e orientações das lideranças espirituais desses povos”, comenta. Sobre o panorama indígena atual, o professor acredita que houve avanços na área da educação. Segundo ele, as universidades tem se empenhado em garantir reservas de vagas e processos seletivos diferenciados, com cursos específicos. No entanto, William afirma também que ainda há a necessidade de um diálogo sério e livre das amarras do preconceito. “Para que possamos formar professores indígenas, garantir a capacitação continuada e investir maciçamente na elaboração de materiais didáticos nas línguas indígenas”, completa.
TEMPO DE PROFISSÃO: 7 anos
Mudança de Atitude
PRIMEIRO CONCEITOS FOCO AMAZÔNICOS
Cultive uma horta em casa
SÁVIO OLIVEIRA
Meu querido xerimbabo Os primeiros seres humanos a ocupar a Amazônia tinham; o colonizador Francisco Caldeira Castelo Branco ao chegar à Amazônia também teve; os moradores da região têm; você, seu vizinho e sua vó também devem ter um. Estamos falando daquele companheiro de saúde e doença, que sempre está lá, no quintal ou na sala, o famoso xerimbabo, você sabe, o “animal de criação”, que, no tupi original, se escreve xerei’mbawa. Um costume facilmente visto, principalmente nas capitais ribeirinhas da Amazônia, sempre há alguém com um macaco-de-cheiro, um quati ou um jabotizinho para brincar e cuidar. Está aí um termo que, novamente, não existe noutras línguas, mesmo noutros idiomas nativos do Brasil. Incorporada ao português do Brasil, é uma das poucas ao redor do mundo com uma denominação específica para um animal de estimação. O hábito era dos tupinambás, que criavam os animais silvestres para tê-los como mascotes. Ah, sim, no Marajó há uma peculiaridade: fala-se “sirimbabo” para as crias do quintal. A essência, porém, é a mesma: uns animais que, muitas vezes, são postos
no mesmo patamar dos seres humanos, como pensantes e sentimentais. E a palavra virou commodity. O termo francês cherimbame, que significa “muito querida”, foi recolhido pelo missionário Jean de Léry (15341611) durante suas pesquisas para o livro “Viagem à Terra do Brasil”, de 1578. Ele, que também era pastor, tomou ciência da palavra ao observar a relação entre uma índia e um papagaio. A dona comandava o bicho, que cantou, dançou, assobiou e até imitou gritos de guerra dos tupinambás. Pelas bandas de cá, surgiu outro significado: xerimbabo é também um sujeito “puxa-saco”, sempre sujeito a um outro. Eles ainda são, normalmente em aldeias e comunidades ribeirinhas, filhotes encontrados na floresta que, no decorrer de seu crescimento, viram parente. Ou ainda são órfãos de pais abatidos em caçadas. Algumas tribos, inclusive, consideram que o xerimbabo ajuda o seu dono na passagem após a morte como uma forma de reconhecer o bom trato, carinho e amor que recebeu em vida: mais um bom motivo para cuidar bem do seu bichinho silvestre.
Ter uma horta em casa é mais fácil do que se imagina. E, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, é possível cultivar ervas e hortaliças em pequenos espaços. Considerando a formação cultural do amazônida, também influenciada por africanos, portugueses, japoneses e indígenas, podemos encontrar elos significativos dessas populações com o cultivo e consumo familiar de legumes e verduras. O agrônomo Sérgio Gusmão, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), explica que a técnica auxilia na alimentação complementar em escolas e projetos comunitários de áreas urbanas. Nas hortas caseiras pode ser feita a reciclagem de resíduos orgânicos com a compostagem e posterior uso como adubo. Materiais diversos podem ser utilizados como recipientes para hortas, incluindo as garrafas pet. Existe ainda a possibilidade de uso de terrenos sem edificação, normalmente destinados para despejo de lixo. A geração de trabalho e renda, proveniente das hortas urbanas e periurbanas, é fator que a médio prazo também traz influência, pois afeta a qualidade de vida de populações mais pobres. Toda família que cultiva uma horta em casa tem orgulho em mostrá-la a visitantes, além disso, onde há maiores espaços, as hortaliças podem compor hortas domésticas que incluem espécies não consideradas como hortaliças e que são utilizadas na fitoterapia. Vale lembrar que além de ser decorativa, plantas em casa deixam o aroma mais agradável no ambiente. É uma técnica que deve ser cada vez mais expandida.
SAUDÁVEL Nada como cultivar o próprio pé de alface na sacada da janela ou no quintal de casa
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O vaivém na Amazônia
EM NÚMEROS
A região amazônica tem mais de 24 milhões de habitantes, que precisam se deslocar entre os estados que compõem a Amazônia Brasileira, somando mais de 5 milhões de km² de território, percorridos por hidrovias, rodovias, espaço aéreo e pela Estrada de Ferro Carajás.
ANDANDO POR AÍ Veja as estatísticas e a quantidade de pessoas que usam meios de transportes na região Norte
PELAS ESTRADAS
3,8 milhões PELOS RIOS
8,9 milhões passageiros são transportados na Amazônia por ano
446
de pessoas são transportadas na região anualmente
147.250 km de rodovias
8.235 km de rodovias federais
11.205 km de rodovias estaduais
é o número oficial aproximado de embarcações registradas na região
3,7 milhões veículos formam a frota em circulação
173
64
no Pará
no Amapá
198
11
o Amazonas
em Rondônia
O Pará possui
20
40 portos
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PRINCIPAIS RODOVIAS
BR-230
(Transamazônica)
4.223 km
BR-163
(Cuiabá-Santarém)
3.467 km
BR-010
(Belém-Brasília)
1.959 km
PELOS TRILHOS
A Estrada de Ferro Carajás, considerada a mais eficiente do Brasil por estudo do Instituto de Logística e Supply Chain, possui
PELO CÉU
892 km de extensão, de Carajás (PA) até Porto de Ponta da Madeira (MA)
7,6 milhões
350 mil
de passageiros foram transportados nos
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aeroportos administrados pela Infraero na região Norte em 2013
166,766 mil
passageiros são transpotados por ano O trem de passageiros conecta
27 localidades entre o Pará e o Maranhão, com
1,3 mil passageiros diariamente
aeronaves pousaram nos aeroportos da região
5.477,4
toneladas
de cargas foram transportadas nos Terminais de Cargas dos Aeroportos da Infraero no ano passado.
R$ 60 milhões
70%
mais baratos para determinados trechos operados por ônibus
130 milhões de toneladas de cargas viajam pela ferrovia, em pelo menos 35 composições de trem simultaneamente
50,4 km/h
é a média de velocidade das composições Um dos maiores trens do mundo em operação circula na estrada com
330 vagões em 3,3 km de extensão
foram investidos em 2013 nos aeroportos da região Norte
Os custos com passagens chegam a ser
Até 2017 serão mais
570 km com a duplicação dos trilhos
101 km Há 217 locomotivas, com o total de 10.756 vagões
Será construído mais um ramal ferroviário de
para transportar produtos
FONTES: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE (CNT), AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS (ANTAQ), VALE, INFRAERO
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OLHARES NATIVOS
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Mais forma, mais vida A vida não vem em linha reta, o que é de todo doce e incrível. A apresentação singular e um tanto quanto torta estás ondas sonoras e do mar, no movimento dos rios, no que é feio e num piscar de olhos se torna lindo, na brincadeira entre luz e sombra. Está nas experiências infinitas da memória de cada um; no fim de tarde que poderia ser apenas um fim de tarde, mas não é; no trabalho duro e suado, necessário para o dia seguinte vingar; na harmonia com o cenário feito caprichosamente pela natureza. Olhá-la de um novo ângulo é tarefa das melhores. É a doce obrigação para achar o riso em um dia de chuva pesada. Uma simples caminhada em um dia de feira pode alçar os pés no rumo do céu. A imersão tecnológica corriqueira, muitas vezes enfadonha, pode ser num paraíso de águas e o futebol com os amigos, sem peso nenhum, ganha contornos de eterno em cena de cinema, cartão-postal invisível para os jogadores anônimos da pelada nossa de cada dia. O claro e o escuro, o novo e o clássico, o firmamento e a seguridade da terra, o belo e o estranho, todos estão ao alcance das mãos, aos olhos de todos. E enxerga, sempre, aqueles que querem. Mas, querem o que? Mais cor, mais forma, mais tempo, mais vida. Registro feito em um dia chuvoso no mercado do Ver-o-Peso, em Belém. FOTO: HELY PAMPLONA
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OLHARES NATIVOS
PARAÍSO O sabor da chegada, o cheiro da maresia no cais na ilha da Maiandeua, Algodoal. À margem, o cinematográfico cenário para o bate-bola no fim da tarde. FOTO: OSWALDO FORTE 24
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RAÍZES Na vila de Fortalezinha, o mangue o amanhã: o trabalho duro de catar caranguejo na paisagem úmida e cinza FOTO: OSWALDO FORTE
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OLHARES NATIVOS
AMIZADE O enfeite oportuno do tamaquaré: a beleza que chega pelo ar na sutileza da borboleta. FOTO: HELY PAMPLONA
A revista Amazônia Viva abre espaço para a publicação de fotos com temáticas amazônicas na seção “Olhares Nativos”. Entre em contato e saiba como participar. amazoniaviva@orm.com.br
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IDEIAS VERDES
O
saber científico e seu papel no desenvolvimento de novas tecnologias é um tema recorrente quando a Universidade é o assunto de debates e planejamentos estratégicos. No entanto, ainda é recente a valorização da sabedoria popular ou tradicional, tão presente em comunidades ribeirinhas e populações indígenas da Amazônia. Por esse motivo, o 6º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CBEU) apresenta o tema “Diálogos da Extensão: saberes tradicionais e inovação científica” para o centro das atenções. O evento será promovido entre os dias 19 e 22 de maio, na Universidade Federal do Pará (UFPA), e pretende reunir pesquisadores e estudantes de todo o País em torno de atividades voltadas à extensão universitária. Doutor em História Social e Pró-Reitor de Extensão da UFPA, o professor Fernando Arthur de Freitas Neves acredita ser uma honra e um desafio organizar o congresso pela primeira vez na região amazônica. Na entrevista a seguir, ele defende a importância do contato direto entre a sociedade e a pesquisa acadêmica e apresenta sua experiência de quatro anos e meio a frente da Pró-Reitoria de Extensão (Proex). Professor, como se deu a escolha do tema “saberes tradicionais e inovação científica” para o próximo Congresso Brasileiro de Extensão? Qual é a sua importância para a Amazônia? Quando apresentamos o tema ao Fórum de Pró-Reitores de Extensão (Forproex), tínhamos como objetivo estimular um debate que unisse questões ligadas à nossa região e as discussões, cada vez mais recorrentes, relacionadas à noção de ciência. Isso nos levou a pensar que a extensão universitária é um espaço muito rico para se tomar contato com experiências de outras formas de saberes. Assim, chegamos à proposição de diálogos entre os saberes tradicionais e a inovação científica. Essa escolha é também para que percebamos que um tipo de conhecimento, às vezes considerado como
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senso comum, carrega muita sabedoria. E que, quando a investigação científica se debruça sobre ele, pode identificar diversas propriedades a serem incorporadas ao cotidiano da maioria da sociedade.
“O mais difícil é fazer com que o conhecimento acadêmico reconheça a importância e autoridade que os conhecimentos populares detêm”
O senhor acredita que exista uma diferença clara entre esses conhecimentos? Existe certo limite, mas um pode passar ao outro. Em larga medida, muitas das coisas que nós temos como senso comum hoje, antes pode ter sido considerado ciência ou, pelo menos, parte de um saber científico. Hoje é evidente que partos se façam em hospitais, por exemplo, mas há algum tempo esta era uma atribuição apenas das parteiras e muito do que se aprendeu sobre isso foi graças a essas mulheres. Por esse motivo, é importante revisitar e apreender seus conhecimentos. Outro exemplo importante é a questão da construção dos barcos que navegam na Amazônia. Existe uma experiência secular dos mestres construtores de embarcações na região. A engenharia naval precisa aprender o que eles desenvolveram de tecnologia capaz de ser reproduzida e incorporada. Há também a incorporação de saberes acadêmicos pelas comunidades tradicionais? Cada tipo de conhecimento pode aprender um com o outro. A via de mão dupla é exatamente o que nós estamos propondo a partir do diálogo. Nosso objetivo principal é romper com o preconceito. Se nós observarmos com cuidado, veremos que não é verdade a ideia de que os saberes tradicionais é que possuem preconceito. O mais difícil é fazer com que o conhecimento acadêmico reconheça a importância e autoridade que os conhecimentos populares detêm. Como tem se dado esse debate especificamente na região amazônica? Ainda não temos um debate de forma sistemática, com encontros regulares, definições de prioridades e tratamento dos problemas específicos. Um exemplo disso
é a produção de farinha, parte importante da dieta dos paraenses. É preciso fazer com que a relação entre os que produzem, os que consomem e os que estudam essa produção seja mais próxima. Para que, assim, os benefícios do cultivo da mandioca não fiquem reduzidos à farinha, mas desenvolvam a geração de outros produtos. A experiência das erveiras da Amazônia também é um exemplo interessante. Existem hoje, na UFPA, algumas práticas regulares dos cursos de Farmácia e Química, a partir dos pesquisadores Wagner Barbosa e Marcos Valério Santos da Silva, que têm desenvolvido produtos importantes a partir do contato com o conhecimento das erveiras. Um dos resultados é o uso da fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS). Da mesma forma, podemos destacar o uso de produtos naturais na produção de cosméticos. Portanto, existem já formas diversas de cooperação. A ideia do tema “Diálogos da Extensão” vem para criarmos fóruns sistemáticos e encontros entre cientistas e os mestres do saber popular para tornar mais dinâmica e continuada essa relação. O tema “inovação científica” é muito relacionado à pesquisa científica. Como o contato direto da ciência com a sociedade, missão inerente à extensão universitária, se relaciona com ele? A inovação científica é uma cultura para qual o Brasil está despertando recentemente. Essa mudança é extremamente necessária. No caso da extensão universitária, devemos fazer com que a tecnologia desenvolvida na universidade seja apropriada totalmente pela comunidade. Existe hoje no país, por exemplo, um incentivo grande ao agronegócio por parte do governo, à monocultura. Um formato distinto da agricultura familiar. É importante que a sociedade entenda que existem várias alternativas que não só a produção em larga escala que inviabiliza outras formas de vida. De que maneira podemos incentivar essas alternativas? Por meio da inovação científica. A extensão tem como característica o estímulo ao diálogo para que ocorra a produção dessas novas tecnologias.
O senhor exerce o cargo de pró-reitor da UFPA desde 2009. Quais pontos dessa vivência o senhor destacaria? Encontramos a instituição em um elevado grau de organização. Nossa missão era dar continuidade aos trabalhos no campo da extensão. Para isso, criamos dois mecanismos que acredito serem importantes. O primeiro é o Edital de Eixo Transversal, que permite o desenvolvimento de projetos interdisciplinares. Isso ocorre a partir da escolha de um tema que vigora o ano inteiro. Este ano, a temática é “direitos humanos e tecnologia”. O outro é o Edital Navega Saberes, que pretende estimular trabalhos relacionados ao uso de novas tecnologias e à divulgação científica, pois o conhecimento produzido na Amazônia ainda chega de forma difícil às pessoas. O principal desafio da extensão é encontrar formas de alcançar e suprir as demandas que a sociedade tem em relação à universidade. Quais são suas expectativas para o congresso a ser promovido na UFPA? É uma honra para a UFPA e para essa PróReitoria, em especial, receber o 6º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. A expectativa é que tenhamos cerca de mil trabalhos apresentados sob a forma de mesaredonda, comunicação oral e oficinas. Nesse congresso, além da discussão acadêmica, há também uma mostra do que se faz hoje no Brasil na área da extensão. O objetivo é de que os produtos desenvolvidos nesse campo sejam mais rapidamente apropriados pela sociedade e possam servir de insumo à elaboração de políticas públicas. Um caminho que vem se tornando cada vez mais evidente é a questão da tolerância e a busca por uma sociedade multicultural, que respeita a diversidade sexual e é capaz de conviver com diferentes experiências religiosas. Trabalhos nesse sentido têm sido desenvolvidos no país inteiro. Há um panorama vasto de proposições e intervenções pedagógicas nas escolas que promovem reflexões que fortalecem uma cultura de solidariedade. Na UFPA, por exemplo, temos o projeto da professora Kátia Mendonça sobre a cultura de paz. Precisamos incorporar a cultura de paz definitivamente à nossa educação.
“O principal desafio da extensão é encontrar formas de alcançar e suprir as demandas que a sociedade tem em relação à universidade”
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A ciência de
cara nova Com dedicação e mo vados a encontrar respostas para problemas da região, jovens pesquisadores abrem novos caminhos para o desenvolvimento cien fico Brenda Pantoja
Fernando Sette e Roberta Brandão
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ASSUNTO DO MÊS
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ROBERTA BRANDÃO
P
esquisa científica, inovação e desenvolvimento sustentável são áreas que têm chamado bastante a atenção dos jovens. O público que, geralmente, chegava ao ensino superior sem nenhum contato ou com conhecimento raso sobre ciência e investigação científica, agora encontra mais estímulos para desbravar a área. Com o aumento do número de convênios do governo federal, investimentos em infraestrutura, programas de intercâmbio e premiações, muitos estudantes, do nível médio até a pós-graduação, se sentem encorajados a pesquisar soluções para problemas das comunidades onde vivem e que se refletem na região amazônica de modo geral. O diretor de pesquisa e iniciação científica da Universidade Federal do Pará (UFPA), professor Antonio Carlos Rosário Vallinoto, acredita que fomentar as pesquisas científicas locais é essencial para o desenvolvimento da Amazônia. “Dessa forma, nós mantemos conhecimento circulando aqui mesmo na região, gerado por pesquisadores locais, comprometidos com a Amazônia. Ao difundirmos esse conteúdo, incentivamos os alunos também”, defende. Ele também destaca que o envolvimento com programas de pesquisa na faculdade é importante para o crescimento profissional em qualquer área, independentemente de se seguir a carreira de pesquisador ou não. “A iniciação científica proporciona novos horizontes, perspectivas diferentes. O objetivo é formar um profissional mais qualificado, treinado a identificar o problema e encontrar a solução”, acrescenta. Por esse motivo é que, para ele, investir em ciência e tecnologia e nos jovens cientistas pode elevar o Brasil ao patamar de um país de primeiro mundo. “O cenário teve um avanço muito grande nos últimos anos. Na década de 1990, a UFPA tinha aproximadamente 60 bolsas de iniciação cientifica para toda a instituição. Agora passam de mil bolsas distribuídas nos campi da capital e interior”, comenta. Vallinoto ressalta que somente a UFPA possui mais de 60 programas de pós-graduação “stricto sensu”, sendo a “maior
instituição de pesquisa e ensino de toda a Amazônia”. “O salto não foi somente em quantidade, mas em qualidade. Tivemos projetos premiados nacionalmente e todo ano é realizado o seminário de iniciação científica”, diz. Uma característica relevante da maioria dos pesquisadores da universidade é voltar às linhas de pesquisa para áreas temáticas que envolvam a região amazônica. “A grande tarefa do pesquisador
na nossa instituição é tentar melhorar a qualidade de vida do povo local. Há vários projetos com esse objetivo nas áreas da biologia, saúde e engenharia. Muitos estudam o uso de recursos naturais de forma racional”, aponta. A responsabilidade é grande e o comprometimento é a característica necessária em quem almeja uma bolsa de pesquisa. Segundo o professor, é comum encontrar alunos na graduação que ainda
Praticante de esportes e fã de rock metal, TASSO GUIMARÃES, 30 ANOS, é formado em Oceanografia e nos tempos de faculdade era um aluno que não deixava passar uma boa oportunidade de crescer na carreira. Hoje, já tem doutorado e coordena uma pesquisa sobre mudanças climáticas no Instituto Tecnológico Vale
não definiram a área de interesse, mas essa indecisão é algo saudável. “Os alunos com quem trabalho são obrigados a ter desempenho excelente em todas as disciplinas do curso, tendo uma formação de base adequada e podendo optar por diversas linhas futuramente”, assegura. Ele recomenda os estágios voluntários nos laboratórios como uma boa alternativa para os jovens, pois os orientadores acompanham o aluno interessado e quan-
do surge uma bolsa remunerada, já tem a quem indicar para a oportunidade. Apesar de, atualmente, os recém-formados terem mais opções de se especializar sem sair do Estado, na opinião do professor Vallinoto, a chamada “pós-graduação sanduíche”, em que o estudante cursa alguns períodos em outras instituições nacionais ou estrangeiras, é uma boa oportunidade. “É uma ferramenta importante para agregar valor à carreira,
mas sempre incentivamos a formação de doutores na região, assim, podemos participar de editais de grandes órgãos de fomento. Ainda temos baixo contingente de doutores, sendo que a UFPA concentra um terço de todos os doutores da Amazônia”, ressalva. Com apenas 30 anos de idade, Tasso Guimarães faz parte do time de doutores formados no Pará e comanda uma pesquisa, no Instituto Tecnológico Vale (ITV), na área da paleoclimatologia. Com o estudo intitulado “A influência das mudanças climáticas no desenvolvimento da floresta tropical da Amazônia”, a meta é entender como as alterações geológicas e climáticas ocorridas ao longo de milhões de anos atrás influenciaram no padrão de biodiversidade da região amazônica atual. O período estudado vai de 60 milhões de anos atrás até o presente e, mesmo tratando de épocas tão distantes, pode ajudar a construir soluções futuras para a região. “Vivemos um novo cenário climático e as previsões para o futuro são alarmantes, com consequências fortes na Amazônia. O que vai acontecer? A floresta vai sumir, vai virar cerrado? Só podemos tentar prever sabendo como foi o comportamento do meio ambiente no passado”, explica Tasso.
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ASSUNTO DO MÊS
A graduação em Oceanografia na UFPA, concluída em 2006, foi o pontapé inicial na pesquisa científica. Ainda quando calouro, ele viu na bolsa de iniciação uma oportunidade de ser remunerado para trabalhar com um tema que lhe despertava o interesse. Ao final do curso, já estava totalmente familiarizado com a linha, que seguiu no mestrado e, posteriormente, no doutorado em Geologia com ênfase em Sedimentologia e Paleobotânica. “Eu era um aluno que não deixava passar uma boa oportunidade e isso chama a atenção dos orientadores, que buscam empenho dos bolsistas. No momento, por exemplo, temos seis bolsas para oferecer e não encontro alunos que preencham os requisitos”, diz Tasso. A rotina do jovem pesquisador combina horas de estudo e momentos de lazer, não necessariamente separados. “Gosto de trabalhar no laboratório ouvindo música, desde rock metal, quando a carga está puxada, até música clássica, passando por reggae e indie. Em casa, não tem como fugir da leitura de artigos e mais pesquisa, mas é uma tarefa prazerosa para mim”, comenta. Mesmo a academia, natação e corrida, que também são práticas diárias, beneficiam o raciocínio e ajudam Tasso a deixar a “mente limpa para encontrar soluções para a pesquisa”. As conquistas alcançadas e os planos para os próximos anos deram a ele um entendimento diferente da juventude e vida adulta. “Quando reencontro alguns amigos, percebo como mudaram as perspectivas pessoais e profissionais, o contato com pesquisadores traz um choque cultural e nova visão de mundo”, observa. Esse tipo de mudança veio ainda mais cedo para o universitário César Favacho, de 19 anos, que desde os dez acompanha pesquisas no Museu Paraense Emílio Goeldi, no setor de Entomologia. A curiosidade pelos insetos fazia o menino colecionar animais, observar o comportamento deles e reproduzi-los em desenhos, que renderam a ele um convite para trabalhar como assistente de pesqui-
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Desde os 10 anos, o estudante de Biologia, CÉSAR FAVACHO, 19 ANOS, acompanha o trabalho dos pesquisadores do Museu Goeldi. Para ele, o louva-deus é um animal especial e passa horas pesquisando sobre o inseto. Mas quando precisa de um descanso, procura ler mangás, jogar videogame e fotografar a natureza.
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sadores do Museu. “O louva-deus é meu principal objeto de estudo e a partir dele quero entender melhor os invertebrados da região, conseguir dados sobre as espécies, forma de reprodução e incidência pode fornecer indicadores ambientais de degradação”, explica César, que está no 5º período de Ciências Biológicas na UFPA. O estudo ocupa a maior parte do tempo do futuro biólogo, que continua a pesquisa em casa, onde mantém sua própria criação de insetos. “Às vezes fico acordado até de madrugada fazendo anotações, mas quando preciso de um descanso, gasto meu tempo livre lendo mangás, como “Hunter x Hunter”, e jogos de videogame, como “Skyrim”, além da fotografia. Tenho o hábito de todo dia tirar 15 minutos para caminhar pelo campus do Museu e fazer observações e um tempo no final de semana para a família, namorada e amigos”, diz. Com o hobby da fotografia, o universitário já produziu imagens de invertebrados que resultaram até em prêmios. Para o futuro próximo, César é otimista. “Em cinco anos me vejo alguém que não somente vai fazer ciência com os conhecimentos adquiridos, mas também vai levar invertebrados e outros bichos para mostrar às crianças desde cedo e despertar nelas o instinto de pesquisa”, adianta. Foi também no ensino médio que Carmem Françuasy Nascimento, de 17 anos, decidiu investir em pesquisa científica. Desde a infância, ela acompanha os estudos do pai, que é biólogo, e que foi a fonte de inspiração para a iniciativa dela. “Aos 15 anos, fiz um levantamento dos artrópodes presentes na minha escola. Os resultados foram ótimos e concluí que não percebemos a quantidade de seres vivos ao nosso redor, e dependendo do que fazemos com esse entendimento podemos ter benefícios ou malefícios”, afirma. Denominado “Artrópodes no ambiente escolar em área urbana de Belém”, o trabalho foi um dos vencedores do Prêmio José Márcio Ayres para Jovens Naturalistas, promovido pelo Museu Goeldi, em 2012.
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ASSUNTO DO MÊS Graças a influência do pai pesquisador, CARMEM NASCIMENTO, 17 ANOS, já se decidiu
pela profissão científica e se prepara para o vestibular. Quando tinha 15 anos, ela fez um levantamento sobre os artrópodes existentes no ambiente escolar, o que lhe rendeu um prêmio regional de ciência e despertou seu olhar naturalista.
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A estudante agora se prepara para cursar o vestibular no final do ano e ingressar no curso de Biologia, o que a obrigou a diminuir o ritmo das pesquisas pessoais. Carmem faz um estágio voluntário no Goeldi para atuar na área de Entomologia Básica, tornando-se uma das pesquisadoras mais novas da região. Para ela, os estudos são uma forma de diversão e o lazer só vem depois do trabalho. “Sou exigente demais comigo e só consigo me distrair depois de cumprir minhas obrigações. Faço parte do grupo de canto e dança da minha igreja, a música me relaxa bastante, assim como a leitura, mesmo que seja científica”, pontua. No modo de falar da jovem pesquisadora, percebe-se que ela gosta de incentivar o interesse pela ciência por onde passa. Recém-chegada na nova escola, Carmem já se mobilizou para solicitar à direção investimentos em laboratórios e pesquisas. No colégio anterior, ela organizou um acervo de insetos. “A gente vai encontrar limitações sempre, mas a inquietude, a vontade de não se conformar é uma coisa que a pesquisa científica provoca em nós”, garante. O desejo de mudar a realidade ao redor também move Edivan Pereira, de 20 anos, vencedor na categoria Ensino Médio, da última edição do Prêmio Jovem Cientista,
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realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O estudante recebeu a premiação, no ano passado, da presidente da República, Dilma Rousseff, em Brasília. Morador do município de Moju, no nordeste paraense, ele buscou soluções para dois problemas comuns na localidade: o consumo de água sem tratamento e a destinação dos caroços de açaí utilizados pelos batedores artesanais. A partir daí, surgiu a pesquisa sobre a obtenção de carvão do caroço de açaí ativado quimicamente com hidróxido de sódio e sua eficiência no tratamento de água para consumo. Para concretizar os estudos em laboratório, Edivan enfrentava distâncias de 80 quilômetros ou mais para se deslocar até Abaetetuba e Belém. Era durante as viagens que o estudante, agora cursando o último ano do ensino médio, se dedicava a uma das poucas atividades de lazer que ainda mantém: escutar música, principalmente Música Popular Brasileira (MPB). Ele quer cursar Engenharia Química, mas vê as Ciências Naturais como segunda opção. “Tenho alguns sonhos e estabeleço metas na minha vida. Quero estudar fora, mas sem esquecer a realidade da minha região. Toda a repercussão que a minha pesquisa alcançou parece pequena perto do que ainda quero conquistar”, avalia. O prêmio concedido pelo CNPq serviu para ele como oportunidade de comprovar que é possível fazer a diferença, mesmo com todos os obstáculos. A determinação de Edivan vem, em parte, do estímulo precoce à iniciação científica. Ele começou a se interessar pela ciência ainda no ensino fundamental e acredita que a ausência de incentivo para as crianças se reflete no ensino superior. “Não consigo ver outra maneira de desenvolver um município, de trazer qualidade de vida aos moradores de uma região, se não for através da pesquisa”, reforça. O jovem cientista pretende aprofundar a linha desenvolvida com o caroço do açaí, mas também tem outros temas em mente. Por enquanto, ele concilia o trabalho como auxiliar administrativo, os estudos preparatórios para o vestibular e
o tempo em família. “Passar o tempo com meus pais é uma das coisas que mais gosto de fazer quando tenho tempo. Gosto de ouvir a experiência deles, acumulada através dos anos e vivências, já que nenhum deles passou do ensino fundamental. Também aprecio separar uns minutos para percorrer as comunidades, explorando e tomando nota das rotinas, anormalidades e assuntos curiosos que podem render novas pesquisas”, completa. Uma vez envolvido com a ciência, Edivan tenta apresentá-la aos outros da forma mais atraente possível. Assim como para Edivan e demais pesquisadores entrevistados nesta reportagem, a curiosidade, a busca pelo conhecimento e a disposição em mudar os problemas encontrados na sociedade abrem a mente de estudantes e os impulsionam para uma Amazônia de progresso e promissora no cenário científico mundial. Como ensina o jovem cientista de Moju: “Por mais que se tenha obstáculos, tudo vale a pena quando se confirma hipóteses e se encontra respostas”.
Grande vencedor do Prêmio Jovem Cientista 2013, concedido pelo CNPq, EDIVAN PEREIRA, 20 ANOS,
mora em Moju, no nordeste paraense. No ensino médio, desenvolveu uma pesquisa sobre o reaproveitamento dos caroços de açaí. Ele pretende criar tecnologias em benefício das comunidades do interior do Estado.
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL
Esgoto que gera a vida O sucesso na utilização de rejeitos de esgoto doméstico como adubo aponta para novas possibilidades de reflorestamento no sudeste paraense Leandro Lage
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tratamento da água residual proveniente de casas, é uma das principais saídas encontradas para que o esgoto produzido nesses lugares não seja despejado diretamente nos rios. Além da água descontaminada pronta para ser despejada de volta à natureza, esses processos geram um rejeito, tecnicamente chamado de “biossólido”, um lodo de esgoto doméstico, que passa por uma decomposição microbiológica e de secagem. Esse material, riquíssimo em matéria orgânica e nutrientes, é usado como adubo para plantio de mudas pela equipe das operações de Níquel Onça Puma, da Vale, em Ourilândia do Norte, no sudeste do Pará.
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Com base em experimentos da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb) e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os pesquisadores da Onça Puma resolveram testar o lodo produzido pela estação de tratamento dos resíduos gerados pelos banheiros da indústria produtora de ferro-níquel. A ideia inicial foi avaliar a produção de diversas mudas em viveiro utilizando o biossólido como adubo. O passo seguinte foi o teste dessas mudas em campo. O objetivo final é comprovar a viabilidade do biossólido para, depois, transformálo em catalisador do processo de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, que, em geral, leva até 30 anos para alcançar patamares suficientes.
AGRICULTURA FAMILIAR O sucesso do experimento fez com que os pesquisadores da Onça Puma começassem a pensar na viabilidade do uso de biossólido para a agricultura familiar. No entanto, há alguma limitações. “Para espécies como o maracujá, o cacau, o açaí, o agricultor poderá utilizar, sim, mas, para hortaliças, que têm
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TERRA Pesquisa de Thiago Morais também pode ser útil e rentável para os pequenos agricultores do Estado
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de areia e biossólido. Cada conjunto com quatro mudas foi reproduzido dez vezes. Na ponta do lápis, em um dos experimentos, feito com 20 espécies, foram mais de 800 mudas testadas de uma vez só. E, dessas, 200 levavam o lodo de esgoto como substrato. O tempo médio para o crescimento das mudas em adubo sem adição de biossólido é de três meses. Passado esse período, elas já estão com 50 centímetros, tamanho suficiente para que sejam retiradas do viveiro rumo ao plantio em campo. Após os três meses de avaliações contínuas, os resultados das mudas com aplicações de biossólido saltam aos olhos da equipe. “Principalmente no que tange a altura e ao número de folhas, com um ganho de até 40% de diferença quando comparados aos demais tratamentos”, conta Thiago Morais. “Com a adição, conseguimos chegar ao tamanho apropriado à aplicação da muda para campo em até dois meses”, complementa o pesquisador. Depois da fase preliminar da pesquisa, o adubo com adição de biossólido deve ser utilizado para verificação do desenvolvimento das mudas em campo. Mesmo assim, a equipe já constatou que essa tecnologia é bastante promissora durante a fase inicial de crescimento de mudas, além de transformar um rejeito em um importante insumo agrícola. Outra enorme vantagem do uso de biossólido como fertilizante é que, quanto mais comum se tornar, menor será a utilização de fertilizantes minerais, que podem tornar o solo ácido e improdutivo. Além disso, essa tecnologia de produção de biossólido pode ainda baratear o custo total de produção de espécies florestais, tornando ainda mais viáveis as ações de recuperação de áreas degradadas por meio do reflorestamento.
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL
contato maior com o solo, o uso não é indicado, pois algumas bactérias podem resistir ao tratamento do biossólido”, afirma Thiago Morais. Segundo manuais técnicos da Cetesb, baseados em dados da Agência de Controle Ambiental dos Estados Unidos, onde 33% do lodo de esgoto é aplicado ao solo, essa aplicação deve seguir normas técnicas para evitar riscos de contaminação tanto das plantas quanto do solo. Apesar dos cuidados que devem ser tomados na aplicação de biossólido, a maioria deles diz respeito à utilização desse composto em produções de alta escala. Quando se fala
em agricultura familiar, o analista ambiental da Vale garante que a produção e o uso de biossólido podem ser úteis e rentáveis. “Um agricultor não vai ter um tratamento do material residual de esgoto, então poderia reutilizá-lo para a aplicação em campo. Nesse caso, precisa fazer a compostagem, deixar o lodo bastante seco e, só então, pode adicionar ao solo”, explica Thiago Morais. “Depois desse processo, o agricultor pode fazer a adubação da cobertura, mas somente para plantio de espécies como cacau, açaí, porque elas não têm interferência de bactérias na raiz”, detalha.
HELY PAMPLONA
PERGUNTA QUE NÂO NÃO QUER CALAR
Colocar o dedo quente sobre o terçol resolve o problema?
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ificilmente alguém escapa de ter um terçol ao menos uma vez na vida. É aquela inflamação na pálpebra, dolorida, incômoda e esteticamente indesejável. Como muitas outras mazelas, sobram remédios caseiros e simpatias na Amazônia para ter o olhar bonito de novo sem dores. A maioria das “curas” alternativas para o cientificamente conhecido como hordéolo envolve calor, o que de fato ajuda, mas não resolve. Entre os remédios e simpatias mais peculiares na região, existe o hábito de esfregar o dedo indicador na palma da mão até que a ponta fique bem quente com o atrito da pele e então pôr sobre o terçol. O calor produzido ajuda no tratamento, mas se o dedo não estiver bem higienizado, a medida pode piorar as coisas. Outras medidas ainda usadas no interior do Pará estão em esquentar uma aliança de casamento e encostá-la na inflamação ou colocar um ovo cozido morno sobre o tumor. Novamente, a ação do calor pode ajudar, mas não é solução recomendada. O melhor
mesmo é evitar coçar os olhos com as mãos sujas, muito menos com movimentos muito bruscos, pois se livrar de um pode levar até sete dias e há risco de que, se não tratado adequadamente, pode evoluir e, acredite, matar. Porém, para chegar ao ponto de um terçol matar alguém, é preciso enorme descuido com uma infecção de tratamento muito simples e que, em dois dias, pode já ter bons resultados. O mestre em Oftalmologia, José Jesu Filho, coordenador do programa de Residência Médica do hospital universitário Bettina Ferro de Souza, da Universidade Federal do Pará, explica que os hordéolos são pequenas infecções de glândulas situadas na borda da pálpebra, próximo dos cílios, mas precisamente no folículo piloso. Estafilococos e estreptococos são os micro-organismos que comumente causam o problema. Por isso, o uso de antibióticos é a melhor forma de eliminar o terçol e eliminar as chances de agravamento. “O tratamento do terçol resume-se a compressas mornas e úmidas, além de aplicação de pomadas antibióticas
no local. Nos idosos debilitados, devido à baixa resistência, deve-se usar antibióticos orais para que não se dissemine a infecção. O calor favorece a resolução do processo. Água boricada é uma substância que funciona como higienizador local”, explica o médico, se referindo aos diversos curiosos métodos de cura inusitados. Um alerta: espremer o pequeno tumor, jamais. Terçóis são mais comuns em crianças e adolescentes, devido às alterações hormonais e por terem o hábito de coçar os olhos com mãos sujas, como explica Jesu. Porém, adultos não escapam do problema ao pegarem constantemente em dinheiro ou tocar em superfícies diversas sem higienizar as mãos depois. O médico recomenda que se deve evitar coçar os olhos com mãos sujas; sempre remover maquiagem antes de dormir; em casos de pessoas de pele oleosa, sempre lavar cílios com xampu neutro; corrigir qualquer erro de refração dos óculos e consultar um médico antes de pensar em meter o dedo quente no tumor diante do desespero de recuperar um olhar mais bonito.
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VIDA EM COMUNIDADE
MOTIVAÇÃO Luiza Miranda sofreu o acidente há 25 anos. Hoje, superou a vergonha e enfrenta o preconceito de cabeça erguida.
Quando sorrir é um ato de superação Mulheres vítimas de escalpelamento mostram como é possível resgatar a autoestima e a vontade de continuar a vida após terem os cabelos arrancados por motores de barcos Carmen Palheta
“E
u não consigo chorar, nem sorrir por muito tempo porque a minha cabeça dói”. O desabafo de uma vítima de escalpelamento soou como um pedido de socorro à assistente social Maria Cristina Santos, em 2010, quando ela começava a desenvolver um projeto de assistência e promoção de mulheres vítimas de um tipo de acidente que parece banal nos rios da região, mas que é da-
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Fernando Sette
noso não só pela gravidade do trauma, mas porque altera a vida das pessoas definitivamente, mexe com a autoestima, e muitas vezes, leva à morte. A frase foi crucial para que Maria Cristina começasse a colocar em prática ações que auxiliassem na solução ou mesmo na minimização dos problemas causados pelos acidentes nos rios paraenses. Há quatro anos, mulheres escalpeladas em acidentes dentro de embar-
cações mal equipadas, estavam reunidas em uma praça no centro de Belém, no dia 28 de agosto - Dia de Combate ao Escalpelamento. As muitas histórias que Maria Cristina ouviu ali deram-lhe coragem para criar, no mesmo ano, a ONG dos Ribeirinhos Vítimas de Acidentes com Motor (Orvam). “Tudo começou com a sugestão de uma das mulheres em escrever uma carta para um programa de televisão pedindo
uma peruca de silicone, pois a que usava era de material sintético e feria muito a cabeça”, conta a assistente social, hoje presidente da Orvam. Ela resolveu ampliar o pedido ao programa de televisão e o sonho de um espaço para ajudar as vítimas virou realidade em 27 de janeiro de 2011, quando foi entregue a casa onde funciona a instituição. O objetivo era dar atendimento às vítimas, com a missão de trabalhar a autoestima, vencer preconceitos e promover a integração ao mercado de trabalho. As ações estariam pautadas em um cenário nada fácil, que envolve, além da desinformação, a falta de conscientização acerca do risco que significam as embarcações precárias que circulam nos rios paraenses, e que podem provocar acidentes graves como a escalpelamento. O passo seguinte seria criar alternativas para produzir perucas e estimular a autoestima. Símbolo de força, vigor e beleza em muitas culturas, o cabelo compõe a moldura do rosto. Em outras, assinala os papéis e as diferenças sociais; e até tendências religiosas. Para as mulheres e, em especial as escalpeladas, o cabelo passou a representar uma maneira de encarar a vida. “Com o cabelo arrancado de forma tão violenta na hora do acidente, são arrancadas também a vaidade, a autoestima, a coragem e a vontade de viver”, observa a assistente social. Para ela, oferecer a oportunidade de devolver o cabelo, mesmo em forma de peruca, era como recolocar nas vítimas esses sentimentos todos. “Não foi difícil sensibilizar as pessoas”, conta Maria Cristina. Com a visibilidade do trabalho na mídia, as doações começaram a chegar de várias partes do Brasil e de países como Japão e Portugal. Outra ajuda importante veio de São Paulo: o cabeleireiro Paulo Crispim esteve em Belém para ensinar às integrantes da ONG a técnica da confecção das perucas.
TRABALHADORAS Entre as atividades da ONG dos Ribeirinhos Vítimas de Acidentes com Motor (Orvam), está a produção de perucas para mulheres escalpadas e em tratamento contra o câncer. Renda é revertida às vítimas do trauma.
ESTÍMULO Sorrir ou chorar causa desconforto e dor às vítimas de escalpelamento porque
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VIDA EM COMUNIDADE o acidente interfere, gravemente, nos músculos da face. Mas será que a dor muscular é maior do que a da autoestima, do amor-próprio ferido, da exclusão social, do afastamento do trabalho? Na verdade, não se pode mensurar o sentimento, pois, para essas mulheres, não é fácil conviver com os dois sofrimentos. Para Luiza da Silva Miranda, 42 anos, vítima do trauma aos 17, precisou de seis anos para ter coragem de ir à Capitania dos Portos e pedir uma peruca para esconder a deformação em seu rosto. O pedido foi atendido e o acessório foi a senha para ter de volta muito do que o acidente havia levado. “Após o acidente, eu tinha vergonha de sair de casa e tive de abandonar três igrejas, porque não podia usar chapéu; sem contar os espelhos que quebrei para não ter que me encarar”, relata. Hoje, como funcionária da Orvam, Luiza ajuda outras mulheres a também reconquistarem a vontade de viver. “Aqui, posso ajudar outras pessoas, colocá-las para cima, dar apoio; e isso me ajuda a ser uma pessoa mais feliz”, diz. Ela e outras mulheres que passaram pelo mesmo problema produzem, atualmente, uma média de 25 perucas por mês - distribuídas, gratuitamente, às vítimas de escalpelamento cadastradas na Orvam. As perucas confeccionadas na ONG são vendidas para pessoas que não possuem cabelo, como as que fazem tratamentos contra o câncer. O valor é dividido, igualmente, entre as funcionárias e a organização. “Nosso sustento vem dessa atividade e das doações de roupas e cestas básicas com as quais promovemos bazares para ajudar no pagamento das despesas da casa”, informa Maria Cristina Santos. Quando foi fundada, apenas seis crianças estavam cadastradas na Orvam. Hoje, já são 93 vítimas de escalpelamento. Mas, segundo a presidente, o número é considerado baixo levando-se em conta os registros de acidentes no Pará. Levantamento realizado pela Comissão Estadual de Erradicação dos Acidentes de Motor com Escalpelamento, desde 1979 até o início deste ano, já são quase 400 casos. Além da produção de perucas, a Orvam promove atividades como oficinas e
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RESPEITO Maria Benedita do Nascimento se considera feliz apesar de ainda sofrer discriminação devido ao acidente
bate-papos sobre temas como preconceito, bullying, apoio familiar e resgate da autoestima. “Lidamos com toda forma de perdas, como a confiança em si mesma; as vaidades e o amor-próprio, pois elas se veem, muitas vezes, mutiladas e isso faz com que se sintam diferentes dos outros”, afirma Maria Cristina. No ano passado, todo o esforço da ONG foi reconhecido quando recebeu o Prêmio Reconhecer 2013, da Vale e Fundação Vale, ficando em 2º lugar na
Categoria Geração de Trabalho e Renda. O valor do prêmio vai começar a ser aplicado em projetos como outros cursos de produção de perucas e visitas às vítimas e familiares em seus domicílios.
GERAÇÃO DE RENDA Para Regina Formigosa de Lima, 41 anos, que sofreu o acidente há 20 anos, o espaço não só a ajudou a ter de volta a autoestima, mas também lhe rendeu
MARCAS PROFUNDAS O escalpelamento é um acidente grave, mas pode ser evitado O QUE É? É um acidente que ocorre quando a pessoa tem o couro cabeludo arrancado pelo eixo desprotegido do motor do barco. Além de perderem – total ou parcialmente - o couro cabeludo, muitas vezes as vítimas têm sobrancelhas, orelhas, parte do rosto, pescoço e braços mutilados.
ORIENTAÇÃO Na ONG, as famílias também recebem atendimento psicológico e social, além de aprenderem a evitar novos acidentes
“Lidamos com toda forma de perdas” Maria Cristina
Presidente da Orvam uma profissão. “Hoje sou ‘peruqueira’ e superei muitos preconceitos. Posso me olhar de frente, focar em meu trabalho e dizer que valeu a pena ter chegado até aqui. Sinto-me uma pessoa realizada”. O mesmo sentimento é compartilhado por Maria Benedita do Nascimento, que desde os 6 anos, quando sofreu o acidente, convive com o preconceito e o desrespeito de algumas pessoas. No mais recente episódio, precisou se impor e dizer ao vizinho que a apelidava,
que a única coisa que queria era respeito. “Hoje, aos 49 anos, posso dizer que a Orvam me ajudou a vencer e conhecer muita coisa, entre elas a gostar de maquiagem. E, apesar de tudo o que passei, me considero uma pessoa feliz”, diz emocionada. E em meio às memórias do trágico fato ocorrido, recoloca no rosto aquilo que ficou contido por longos anos na fisionomia de todas elas: o simples e humano ato de sorrir e de chorar sem sentir mais tanta dor.
COMO EVITAR? Algumas medidas de segurança destacadas pela Campanha Nacional de Combate ao Escalpelamento para evitar acidentes nas embarcações são manter o cabelo preso ou coberto com bonés ou outro acessório, principalmente crianças, jovens e idosas; ter cuidado com o uso de colares e cordões, pois podem ser puxados pelo eixo descoberto; e manter distância segura do eixo da embarcação, sentando, de preferência, na parte da frente do barco. Hoje, a Capitania dos Portos concede gratuitamente a proteção (foto) para o eixo dos motores dos barcos. SERVIÇO Doações de cabelos e toucas para confecção de perucas podem ser feitas na sede da Orvam, na avenida João Paulo II, Lote 134, bairro Castanheira, entre as ruas Mariano e Coração de Jesus. Contatos: Maria Cristina Santos: (91) 3231-1177 / 9117-0490 / 8707-3792. Para serem efetivamente aproveitados, os cabelos doados precisam ter, no mínimo, 30 centímetros. www.orvam.org.br
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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE NOVO GÊNERO
Uma mutuca incomoda muita gente
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INOCÊNCIO GORAYEB
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as savanas africanas e de boa parte da Ásia vem o maior mamífero terrestre, com sua tromba e simpatia: o elefante; das florestas tropicais, as centenas de espécies de mutuca, incômoda companhia na hora do banho de igarapé. O que os dois animais têm em comum? O nome – e muito mais, como comprovaram os estudos do Museu Paraense Emílio Goeldi, sob a coordenação do doutor em Entomologia, Inocêncio Gorayeb. Em um levantamento na zona costeira da Amazônia – Maranhão, Pará e Amapá –, técnicos do MPEG coletaram e estudaram espécies que agora fazem parte da coleção mais completa da família Tabanidae, a das mutucas, em toda a Amazônia. Nesta coleção, estão exemplares de uma espécie de tamanho elevado para uma mutuca: monumentais 2,15 centímetros. Cinco fêmeas coletadas na ilha Canelas, litoral de Bragança, e um macho na reserva de Itapiracó, costa de São Luís (MA). Os achados tinham algo de especial. Geralmente, as espécies encontradas no litoral paraense compõem a tribo Diachlorini, que contém 36 gêneros com 595 espécies. Em toda a América do Sul a família é grande, reunindo outras 1.206 espécies descritas. Já as cinco fêmeas e o macho, recolhidos pela equipe de Gorayeb, não se encaixaram nessa categoria, sendo descritos como gênero e espécie novos. E é aí que entra a relação entre o Dumbo e a mosca gigante. Por ser mais avantajada que as demais e ainda em função da furca da genitália da fêmea, que apresenta grandes abas e se assemelha à cabeça de um elefante visto de frente (ver figura), recebeu o singelo nome de Elephantotus para designar o gênero e tracuateuensis para a espé-
SEMELHANÇA De tamanho agigantado, a Elephantotus tracuateuensis tem um ar de elefante, que por sua vez só falta bater as orelhas e voar cie, por conta do município de Tracuateua, que no passado pertenceu a Bragança, onde fora encontrada a espécie. A Elephantotus tracuateuensis, a noviça da Taxonomia, já até foi parar no exterior, em artigo publicado na revista “ZooKeys”. Além das descrições básicas dos caracteres que diferenciam nossa Elephantotus das demais espécies, o artigo publicado traz as condições de captura dos exemplares: armadilhas de intercepção de voo, instalada às proximidades do ninhal de guarás (Eudocimus ruber) e outras aves da ilha Canelas. Uma área repleta de animais de sangue quente, um banquete para a mutuca, que pode ter evoluído associada a esses recursos, uma vez que as
fêmeas precisam sugar o sangue de vertebrados para desenvolver seus ovos. Apesar de registrada nos estados de Pará e Maranhão, a Elephantotus tracuateuensis pode ocorrer em boa parte do litoral atlântico, indo até a Venezuela, hipótese que só pode ser comprovada por registros e coletas nessa extensa faixa. Com base na descoberta da espécie, a equipe responsável sugere que outros ninhais de aves costeiras sejam investigados ao redor do mundo, dada a possibilidade de existir espécies e gêneros ainda não descritos. Deduções que, se comprovadas, podem tirar do escuro minúsculos gigantes: em alguns anos, quem sabe, uma manada de Elephantotus esteja a caminho.
FERNANDO SETTE
PENSELIMPO PRIMEIRO FOCO ARTE | CULTURA | REFLEXÃO
Santo de casa O artista plástico e arquiteto Jorge Eiró fala de sua devoção ao santo protetor de uma legião de amazônidas batalhadores, seu xará São Jorge da Capadócia. Página 52.
De palavras Dicionário criado por estudantes ajuda a entender o universo de apanhadores de açaí. Pág. 56
Visionário O médico paraense Gaspar Vianna entrou para a história da ciência brasileira. Pág. 60 ABRIL 2014
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UM DEDO DE PROSA
Salve, Jorge Eiró!
O artista plástico é um dos bravos paraenses que lutam para ampliar o mercado de arte na Amazônia Alan Bordallo
Fernando Sette
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mbora não haja qualquer imagem ultrassonográfica que comprove, o arquiteto, professor e artista plástico Jorge Eiró garante que, desde a gestação, costumava rabiscar as paredes do útero de sua mãe. Ao entrar na Companhia de Jorge, o ateliê do artista, a revelação passa a fazer sentido. O espaço abriga um universo de referências
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das mais diversas: nas paredes e pelos cantos vê-se obras suas e de colegas como Luiz Braga; sobre a mesa de som, o psicodélico álbum Atom Heart Mother, do Pink Floyd, uma das trilhas sonoras que embala seus traços; nas estantes livros sobre filosofia, artes e a arquitetura de Gaudí. Todos esses elementos estão na obra de Jorge, além, claro, do São Jorge, seu xará,
protetor e santo do qual é devoto - e que aparece em várias roupagens e representações nas suas telas. “É um santo pop”, define o artista, que busca justamente retratar o universo pop, nacional e internacional, na sua produção. “Sou um colecionador de imagens”, diz ele, que valoriza o hibridismo e promove mashups de culturas diferentes, encontrando pontos em comum com seu olhar atento, que mesmo no rotineiro caminho de casa para o trabalho está sempre ponto para pescar mais alguma inspiração. Jorge Eiró recebeu a revista Amazônia Viva para uma entrevista que rapidamente se tornou um bate-papo informal: ele abordou temas como a devoção a São Jorge, festejado no dia 23 de abril, e que homenageia em exposições anuais, suas influências, o panorama das artes visuais em Belém e o
surgimento de novas galerias, que abrem espaço para a perspectiva ainda nova da arte urbana.
“O santo tem essa pegada do guerreiro, do batalhador, que traduz o espírito do brasileiro. Ele significa proteção. As pessoas tomam essa simbologia.”
Em que momento da vida a arte passou a lhe interessar? Rapaz, costumo dizer que rabiscava as paredes do útero da minha mãe (risos). Desde sempre. Gostava muito de desenhar desde criança. Sabia que queria fazer arquitetura e me deparei com, já adolescente, uma coleção de gênios da pintura. Aquilo foi fascinante. Fiz arquitetura por conta também de não haver o curso de artes visuais, embora até hoje exerça a profissão. Já na faculdade entrei em contato com uma geração dos anos 80, da arquitetura, da qual veio muita gente para as artes plásticas. Até na minha tese abordei a formação do arquiteto, conduzido para as artes plásticas e, consequentemente, para a docência. Vários fizeram esse caminho. E o Arte Pará (da Fundação Romulo Maiorana) nos anos 80 alavancou essa produção. Aí a cangula pegou vento. Estamos aí até hoje. Hoje em dia é difícil conciliar a carreira profissional, de arquiteto e professor, com a pintura? Eu acho que isso está bem conciliado, está tudo articulado. Aquela história de poder viver a vida integral de artista. Sinto-me artista dando aula, quando faço arquitetura sou artista também. Embora me sobre pou-
co tempo para o ateliê até brinco, e digo, que sou um pintor de final de semana. Reservo o tempo, a partir da minha sexta-feira para não fazer mais nada. Venho sábado de manhã para cá, aí daqui a pouco chega uma galera de amigos, artistas, colecionadores. Batemos um papo sobre o que cada um está fazendo. Depois chega a Ana (esposa), as meninas (filhas) vêm para cá. E aí essa conversa rola. É uma pena não me dedicar exclusivamente para isso. Mas também tenho o maior prazer em dar aula. Como funciona o teu processo criativo? Me defino como um colecionador de imagens: emprego milhares de referências. Como pesquisador fico catando. Tenho milhares de coisas armazenadas, milhares de referências que vou catando e empregando no meu trabalho. Gosto muito daquela música da Adriana Calcanhoto, que diz que ela anda por aí, prestando atenção em cores e tal. É um processo cartográfico. De cartografar a vida e daí trazer essas referências da mais diversas da própria arte, da literatura, do cinema. Vou traduzindo isso ao meu modo, pela minha visão, pelo meu universo, empregando coisas minhas. E o que nos resta nesse mundo sobrecarregado de imagens? Retrabalhar essas imagens. Como, ou quando, surgiu essa identificação com São Jorge? Veio do batismo? Vem do batismo. Uma madrinha me deu
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UM DEDO DE PROSA
“Me defino como um colecionador de imagens: emprego milhares de referências. Como pesquisador fico catando. Tenho milhares de coisas armazenadas” o nome e uma imagem de santo que guardo até hoje. Ela era da umbanda e ia bater tambores na sexta-feira. E me levava porque dizia que eu era de santo. Até 12, 13 anos eu, quase toda sexta-feira, a acompanhava, ia tomar meu passe. Aí passou-se o tempo e eu redescobri a imagem de São Jorge, mas como ícone da cultura pop, muito impregnado nesse universo brasileiro, da música. É cultural. O que tem de nome de bar São Jorge... Então estudei, investiguei e trouxe toda essa iconografia para o meu trabalho. E misturo com essas referências que falo. Tem o São Jorge Quixote, o tradicional, o São Jorge del Mar, a sereia tatuada de São Jorge. Eu também tatuei a atriz Scarlett Johansson com um São Jorge. E ela tem o ‘SJ’, né? ‘SJ loves SJ’ era a tatuagem. E fiz uma série de azulejaria. Fiz uma viagem para Portugal em 2010 e visitei o castelo de São Jorge, que fica no alto da cidade. Lá vi uma série de relíquias de azulejos que tinham essa imagem. E pensei em reproduzir alguns azulejos. Descolei um cara que fazia impressões no azulejo e aí eu reelaborei imagens. Foi um tremendo sucesso. Teve o São Jorge Ferrari, o São Jorge Johnny Walker, que tem o black e o red. Vou misturando esse caldeirão cultural, importando essa iconografia e misturando minhas referências. Como você mesmo citou, São Jorge é um santo pop e dono desse sincretismo religioso. É o fato de ser multifacetado que fez o brasileiro ter uma grande empatia com o santo? O santo tem também essa pegada do
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guerreiro, do batalhador, que traduz o espírito do brasileiro. Ele significa proteção. As pessoas tomam essa simbologia. A oração de proteção. Virando música a coisa ficou ainda maior. Tem toda essa identificação do brasileiro. Agora, pesquisando fui ver que São Jorge era algo universal no ocidente. É o padroeiro da Rússia, da Inglaterra, da Espanha, Portugal, a Itália. E em cada lugar há uma característica. Digo que ele é bem pósmoderno. E daí vi que era a minha cara. Você já está trabalhando a nova exposição? O que o público pode esperar? Tem disso, como falei misturo as minhas referências do professor, arquiteto, colecio-
nador de imagens, e vou colando. Transcolando. Tem uma exposição prevista para setembro, na Galeria Elf, que vai trazer São Jorge novamente, e tenho uma ideia com uma grande capa com a bandeira do Flamengo. Quais foram as influências que formaram sua linguagem visual? Olha, tive sorte de ter na UFPA grandes professores. Mestre La Rocque, a Dina Oliveira, que foi minha professora e hoje é minha colega de trabalho. Uma geração anterior à minha revelou Emmanuel Nassar, Luiz Braga, que foi meu colega de turma, em termos regionais eles são muito importantes. O con-
tato nos anos 80 com outra área, uma formação cultural como a do Max Martins, o Age de Carvalho, poeta, também arquiteto. Ter convivido com esse grupo, do ponto de vista local, foi o que me formou. Agora, do campo da arte, como sempre fui muito estudioso, pesquisador dessas coisas, desde muito cedo fui motivado pelos impressionistas, a cor do Van Gogh, a desconstrução que Picasso promoveu, foi algo extraordinário. Mas também em períodos recentes, que o meu trabalho carrega com essa marca de pop art, tem o Andy Warhol. Tudo foi muito impregnante na formação. E fui me tornando professor e essas referências estão no dia a dia. Então essa cultura pop, a arte pop do Brasil também é forte. E nos 80, quando isso explodiu, e Belém absorveu a influência, formou toda uma geração. A efervescência que aconteceu nas artes plásticas, na música brasileira, no rock. E a música também atravessa o meu trabalho como referência. Não toco absolutamente nada, tenho esse defeito enorme como ser humano. Mas pinto com música, a música e as letras me acompanham. Alguma trilha sonora em especial? Cada momento tem um tema, digamos assim. Vem desde a MPB clássica, dos anos 60, 70, Gil, Caetano, Chico. Tem a influência do rock, desde os Beatles, o Pink Floyd, alguns mais recentes. Tem o jazz que funciona muito bem para determinados trabalhos. Para cada momento tem um clima. Tem o samba de qualidade, que adoro. Tem muito a ver com a cultura de São Jorge. Jorge Ben. Ah, são muitas. Tem uma trilha sonora que atravessa meu trabalho, meu próprio texto. Minha dissertação de mestrado, minha tese de doutorado, vem atravessada por linhas sonoras, letras que dizem coisas. O Pará vive um momento de efervescência musical inédito. Ao mesmo tempo outras expressões artísticas, como o teatro, cobram mais apoio, tentam entrar na mesma evidência. Em que pé estão as artes visuais no Pará? A queixa é sempre a mesma. A gente tem procurado trabalhar para recolocar, reposicionar as artes visuais nessa cena. A música paraense estourou e tem muita coisa ainda. É só o começo. Estamos na
superfície ainda, tem uma coisa forte por vir. Agora as artes visuais, que já gozaram de um prestígio maior, hoje estão em um ocaso. A turma do teatro se queixa também com muita razão. Gostaríamos que outras manifestações artísticas tivessem os mesmos holofotes. As artes visuais do Pará são muito reconhecidas no mundo. A fotografia, a pintura paraense, têm grandes nomes. Mas não vou discutir falta de apoio e cobrar isso das instituições. Isso tem que ser feito, mas o artista também tem que procurar outros caminhos e principalmente se profissionalizar. Hoje existem duas novas galerias em Belém, voltadas para a arte urbana... Sim, a Urban Arts e a Gotazkaen. São muito legais, um sopro de jovialidade. Gosto muito. Sou vinculado à Galeria Elf de longa data. É uma galeria nos moldes tradicionais.
PESQUISADOR Jorge Eiró é dono de uma obra que mistura várias referências culturais, dialogando com as atuais tendências da arte Mas a gente frequenta, temos um grupo de amigos que circula nas galerias. Artistas, colecionadores, uma turma que tem um trabalho mais consolidado. E que procura chamar gente. Agora estamos em uma luta para ampliar esse mercado de arte. Em breve vamos lançar algo para estimular isso. Muito bacana ter jovens galerias estimulando esse tipo de visão, ampliando essa possibilidade: a arte nas ruas. E a geração mais nova adora isso. Acho salutar esse frescor. Isso ainda vai crescer muito. E nesse aspecto, tenho na cabeça alguns projetos para potencializar isso. Belém tem muitos espaços que podem ser perfeitamente utilizados.
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ARTE REGIONAL
IGOR MOTA / ARQUIVO O LIBERAL
Universo de expressões O linguajar cotidiano dos apanhadores de açaí da Ilha do Combu inspirou a criação de um dicionário próprio, que mostra a vastidão das formas de se comunicar na Amazônia Moisés Sarraf
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ROBERTA BRANDÃO
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os cinco anos de idade, Carl Sagan, um então molecote de bermudinha e camisa social, fora levado, em 1939, pelos pais à Feira Mundial de Nova York. Foi em meio a experimentos de diversas áreas do conhecimento que aquele adulto em miniatura descobrira a vocação para a Astronomia e outras áreas correlatas. Virou cientista: PhD em Astronomia, dedicou sua vida à pesquisa e à divulgação da ciência, e, dentre outros feitos, ficou conhecido pela série televisiva Cosmos, que diminuía a distância entre universo e grande público, num modelo longe da ortodoxia. Mas onde está a relação entre a Feira Mundial de Nova York e a ilha do Combu, situada na região insular de Belém? É que na ilha belenense, em 2012, um grupo de alunos da escola Tenente Rêgo Barros realizou uma pesquisa, não como espectadores tal qual o pequeno Carl, mas sim como jovens cientistas. Uma visita à localidade pela manhã une as duas histórias e inicia diferentes futuros no mundo do conhecimento. O objetivo, claro, não era criar cientistas. Essa viagem, além de ser ferramenta pedagógica para alunos do Ensino Médio, é uma forma de levar conceitos básicos da pesquisa às escolas. Foi desse jeito, longe do antigo formato de educação, sem as paredes a cercar o conhecimento, que a Escola Tenente Rego Barros, seus alunos e professores, a convite do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UPPA), participaram do Museu do Açaí (Maçaí). “A partir de cada uma das dez disciplinas do Ensino Médio os alunos pesquisariam a nossa fruta regional”, comenta a professora Ivanete Félix, mestre em Linguística. Seguindo preceitos do conhecimento científico, os secundaristas elaboraram um método, exercitaram o olhar e delimitaram um objeto. No projeto intitulado Açaí: Identidade e Sustentabilidade Paraense, a matemática estudou a “etnomatemática do açaí”, por exemplo, e
LINGUAGEM Mestre em Linguística, a professora Ivanete Félix levou seus alunos para o outro lado de Belém, onde conheceram um novo mundo na Amazônia
a sociologia, a identidade construída em torno do fruto. Sobre a disciplina da professora Ivanete, ela resolveu documentar as peculiaridades do idioma falado pelo ribeirinho. Foi nesse contexto que surgiu a ideia de um “Dicionário/Glossário do Léxico Açaí ilha do Combu – Belém (PA)”. Cada termo desse título tem de ser bem explicado. Não é um dicionário, na verdade, formato caracterizado pela sua amplitude, que busca conceituar e dar sentido às palavras. O termo foi escolhido apenas para facilitar o entendimento, já que o projeto criou efetivamente um glossário, uma compilação de palavras ligadas a determinado campo semântico, neste caso o açaí – isto é, o processo produtivo e toda a cultura que gira em torno do hábito de consumir o fruto. “Pesquisamos algumas palavras que julgamos relacionadas a esse eixo. Os alunos já foram encaminhados à pesquisa com uma lista de palavras em mãos”, rememorou a professora. Havia duas possibilidades: en-
contrar ou não encontrar aquelas palavras em uso na ilha do Combu. Algumas, de fato, não faziam parte daquela realidade; a maior parte, porém, estava viva na boca dos ribeirinhos. Os alunos foram em caravana à ilha, atravessaram o rio Guamá, parando em dois pontos, uma fábrica de processamento do fruto e uma comunidade, onde havia posto de saúde e escola, no igarapé do Combu, com resultados que não se limitaram ao dia da pesquisa. “O objetivo maior era expandir o universo lexical dos alunos”, completa Ivanete Félix. Aos linguistas iniciantes fora demonstrado que, além de uma cuia cheia de açaí, há “um universo de termos e expressões, de origem indígena, que revela muito das nossas práticas culturais”, completa a pesquisadora e professora. São estudantes que, muito mais que se tornar pesquisadores – não que isso não seja desejável –, serão cidadãos com uma visão muito mais ampliada sobre a Língua Portuguesa. “O aluno percebe, em primeiro
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lugar, o porquê de respeitar as variantes linguísticas”. Com isso, muito mais que o ato de aprender, compreende-se, na avaliação de Ivanete Félix, o que é o entorno linguístico do falante, o que são as variedades, o que é a história de cada morador. Do lado de lá, com as lentes dos moradores da ilha, aqueles alunos do primeiro ano do Ensino Médio viram a cidade de Belém – mas não do mesmo jeito que a viam antes da partida. Depois da apresentação dos resultados desse projeto na feira cultural, a Expo Açaí, em fins de 2012, uma série de pequenos glossários ainda foi disponibilizada na biblioteca do NAEA, no campus da UFPA, em Belém. “Foi minha primeira experiência assim, pesquisando mesmo”, conta Beatriz Rodrigues Fabiano, de 16 anos, com uma lista de verbetes registrados por ela no glossário. Açaí grosso e açaí fino, conta a estudante, eram termo conhecidos. Já a rabeta, que é a canoa com motor de popa também usada para o transporte do açaí, e a peconha, instrumento para a coleta do fruto, ela não conhecia. No ano passado, a empreitada rumou ao Baixo Tocantins, no município de Abaetetuba, onde a proposta foi a mesma: estudar um objeto sob a ótica das diferentes áreas do conhecimento. “Este ano vamos voltar ao Combu. Há muito mais chance de interação lá”, avaliou a coordenadora geral do projeto, a socióloga Rosiane Gonçalves, doutora em Desenvolvimento Socioambiental. No imaginário dos estudantes, a travessia do rio Guamá fora metáfora para outras oportunidades, novas formas de encarar a realidade e, para quem está em vias de escolher a carreira para o resto da vida, um belo caminho. “Eles se sentiram como pesquisadores, não apenas como alunos. Levaram a sério, como prestadores de serviço no sentido social, como algo histórico, como um trabalho que ficaria para a comunidade”, comemora Ivanete. Beatriz não quer ser linguista, mas por que não pesquisadora doutra área? Daqui a 20 anos, quem sabe, ela e seus amigos poderão lembrar-se dessa história como a visita de Carl Sagan à Feira Mundial: o dia em que decidiram se tornar cientistas ou apenas o momento em que se perceberam parte do universo amazônico.
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ARTE REGIONAL
PALAVREADO Veja alguns verbetes que compõem o “Dicionário/Glossário do Léxico Açaí ilha do Combu – Belém (PA)”
“O açaí tá parau” Indica estágio anterior ao amadurecimento do caroço do açaí
“O açaí tá tuíra, tuíra” Açaí passando do ponto de colheita
“ Os peconheiros daqui já nascem tudo aprendido” Peconheiros são os apanhadores de açaí com a peconha, feita de bocó ou de folha de açaizeiro. A expressão significa que essas pessoas são eficientes na função.
“São as tucanas que amassam o açaí” Mulheres que amassam ou batem açaí
“ As touchilhas ajudam no crescimento das plantas” Montes de caroços de açaí restantes do despolpamento. É utilizado para adubação do solo.
“O açaí carregado na rasa” Cesto utilizado para colocar o açaí
“Hoje os atravessadores vêm buscar o açaí” Pessoa que faz o transporte do açaí da ilha para Belém, intermediando extrativistas e batedores de açaí
“Será que o barqueiro pode me levar também pra Belém?” Piloto de barco pequeno
“A gente apanha muito açaí-anão” Fruto de açaizeiros pequenos e menos abundantes que os açaizeiros grandes
FONTE: DICIONÁRIO/GLOSSÁRIO DO LÉXICO AÇAÍ ILHA DO COMBU – BELÉM (PA)
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NA LISTA
animais protegidos na região amazônica Algumas espécies de animais da região, por serem raras e exóticas, encontram-se ameaçadas de extinção. Mas algumas iniciativas, como a do Parque Zoobotânico Vale, no município paraense de Parauapebas, estão protegendo a fauna regional da ação de criminosos. No PZV habitam aves, répteis e mamíferos sob risco de extinção em grau elevado na Amazônia. A boa notícia é que o local mantém casais em ambientes isolados e especiais para o programa
de reprodução em cativeiro. O parque foi inaugurado em março de 1985 e corresponde a uma área de 30 hectares da Floresta Amazônica. Está inserido em uma Unidade de Conservação Federal, dentro da Floresta Nacional de Carajás, que é preservada e fiscalizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com o apoio da Vale, responsável pelo cuidado de 254 indivíduos, distribuídos em 54 espécies. Conheça cinco delas.
ONÇA-PINTADA (Panthera onca) STATUS: Vulnerável a extinção Há cinco indivíduos no plantel do PZV, sendo dois machos e três fêmeas. É o maior felino das Américas, variando de 1,12 metro a 1,85 metro de comprimento e peso entre 60 e 90 quilos. Em cativeiro, sua alimentação é exclusivamente à base de carne de frango e bovina. No Parque, são mantidas em recintos amplos e em forma de ilha com áreas abrigadas para alimentação e pernoite, onde também se reproduzem. SUÇUARANA (Puma concolor) STATUS: Fora de risco atualmente, mas não é mais vista em algumas partes da América No PZV, habitam três indivíduos, sendo duas fêmeas e um macho. É o felino de maior área de distribuição do continente americano, ocorrendo do oeste do Canadá até o extremo sul do continente sul-americano. É a segunda maior espécie de felino no Brasil. É um animal solitário e mais ativo à noite. As fêmeas possuem vários estágios de gestação, que dura entre 90 e 96 dias e, em geral, nascem de três a quatro filhotes, a cada dois anos. GAVIÃO-REAL (Harpia harpyja) STATUS: Vulnerável. É considerado uma espécie rara. Também chamado de harpia é a mais forte das aves de rapina do planeta. Pode ter de uma ponta a outra da asa 2,5 metros. A escassez da espécie se deve à diminuição das áreas onde vive. Geralmente é visto em áreas de floresta e pode ser encontrado na Amazônia e no Pantanal. A fêmea põe dois ovos, mas somente um filhote sobrevive. O casal de animais dessa espécie chegou ao PZV graças a uma apreensão do Ibama, em Marabá.
ARARA-AZUL-GRANDE (Anodorhynchus hyacinthinus) STATUS: Em perigo Pertence à família Psittacidae, sendo a maior arara do mundo. Chega a um metro de comprimento, pesando de um a dois quilos. A força do bico pode chegar a uma tonelada. Também é conhecida como araraúna. Vive em pares ou pequenos grupos e faz ninhos em buracos nas árvores. As fêmeas põem de um a dois ovos, com incubação de 30 dias. Dois casais vivem no PZV, que possui um programa de reprodução da espécie. MACACO-CUXIÚ (Chiropotes utahicki) STATUS: Em perigo Três machos da espécie vivem no PZV, em Parauapebas. É uma espécie da família Pitheciidae, endêmica do Brasil, sendo restrito à Amazônia, entre os rios Xingu e Tocantins. Alimentam-se de frutos, flores, folhas e insetos em pequenas quantidades. Relatos descrevem que essa espécie sofre pressão de caça em função da cauda, que é usada com espanador de poeira usado em residências. FONTE: LEANDRO MAIOLI, ZOÓLOGO DO PARQUE ZOOBOTÂNICO VALE / FOTOS: DIVULGAÇÃO VALE
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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
Gaspar Vianna (1885-1914)
Uma breve vida dedicada à Ciência Considerado o “Paraense do Século XX”, médico contribuiu com o avanço das pesquisas científicas no Brasil, como a descoberta da cura para a leishmaniose 60
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ILUSTRAÇÕES: JOCELYN ALENCAR
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ara compreender a história de um país é preciso que se conheça a trajetória daqueles que devotaram suas vidas em nome de avanços em diversas áreas do conhecimento. A contribuição do médico Gaspar de Oliveira Vianna é uma inspiração para aqueles que ingressam no campo da Medicina e parte importante da memória do Estado do Pará, por atestar o alto grau de ousadia e inteligência deste que é considerado um jovem mártir da ciência brasileira. O médico e biógrafo de Gaspar Vianna, Habib Fraiha Neto, responsável pelas celebrações nacionais do centenário de nascimento do cientista, em 1985, surpreende-se por ter entrado em contato com a história do seu biografado tardiamente. “Estava em São Paulo, estudando na USP, quando meu mestre Leonidas Deane, ofertou-me um exemplar da ‘Opera Omnia’, de Gaspar Vianna. Fiquei deveras impressionado com o que acabava de saber, nunca antes a mim revelado na terra que nos viu nascer. Logo se tornaria ele para mim autêntico modelo de vida científica”, relembra. Gaspar Vianna nasceu em Belém, em 11 de maio de 1885. Segundo Habib, ele decidiu-se pela Medicina por influência do irmão Arthur Vianna. Como a Faculdade de Medicina ainda não havia sido fundada em Belém, optou por estudar na então capital federal, o Rio de Janeiro. O pesquisador levava de Belém, aos 18 anos, conhecimentos de um aluno acima da média do Lyceu Paraense, precursor do Ginásio Estadual Paes de Carvalho. “No Rio, foi onde ele desenvolveu excepcional talento para as ciências médicas, em que haveria de revelar-se um autêntico fenômeno, precoce e multivalente”, afirma Fraiha. Após cinco anos na capital fluminense, Gaspar Vianna havia experimentado diversos campos do seu ofício. Cirurgia, dermatologia, histologia, histopatologia, clínica,
terapêutica experimental, protozoologia, micologia e bacteriologia foram algumas das áreas onde atuou. Em 1907, passou no concurso para o “Hospital Nacional de Alienados”, onde desenvolveu as pesquisas que dariam origem aos trabalhos “Estrutura da Célula Nervosa”, sobre a histologia do sistema nervoso, em parceria com Bruno Álvares da Silva Lobo, e “Estrutura da Célula de Schwann dos Vertebrados”, que se tornou sua tese de doutoramento. Mas foi em 1912 que o maior feito de Gaspar Vianna veio à tona. Durante o Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, realizado em Belo Horizonte (MG), apresentou os resultados de sua experiência com o tártaro emético no tratamento da leishmaniose tegumentar, vulgarmente conhecida como “úlcera-de-bauru”. A doença caracterizava-se por lesões amplamente destrutivas das mucosas da boca e das fossas nasais e era considerada tão mutilante, contagiosa e incurável quanto a lepra, segundo Habib Fraiha. “Os resultados foram fantásticos. Logo obteve a cura de alguns casos”, conta o biógrafo. Três anos depois, confirmava-se na Itália a eficácia da descoberta na leishmaniose visceral infantil. O rápido percurso do jovem em direção à glória científica, infelizmente, repetiu-se também no curto período de sua vida. Em 1914, aos 29 anos, Gaspar Vianna adquiriu uma grave infecção tuberculosa, enquanto realizava uma autópsia, que provocou sua morte. Sua memória, no entanto, permanece viva. Em 2001, em uma promoção realizada pela TV Liberal, ele foi eleito o “Paraense do Século XX”. O governo estadual e a Prefeitura Municipal de Belém também instituíram a data 11 de maio, como o Dia de Gaspar Vianna, e o Hospital de Clínicas do Estado, referência em Psiquiatria, Nefrologia e Cardiologia, também leva o seu nome. Homenagem justa a quem entregou sua existência inteiramente à ciência.
AGENDA DE EVENTOS INPA
CLAUDIO PINHEIRO / ARQUIVO O LIBERAL
CONHECIMENTO Universitários são protagonistas da transformação social na Amazônia
Universidade abre discussão sobre a inovação científica No período de 19 a 22 de maio Belém será sede do VI Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (6º CBEU), no Centro de Eventos Benedito Nunes, da Universidade Federal do Pará. O evento abrangerá trabalhos e discussões aplicáveis em todas as áreas temáticas de extensão e, ao editar os resultados das ações desenvolvidas nestas áreas, possibilitará às instituições de Ensino Superior e ao público envolvido novas formas de planejamento, políticas, diretrizes e indicadores. A temática escolhida para o 6º CBEU “Diálogos da Extensão: saberes tradicionais e inovação científica” aponta para a importância de reconhecer a existência de diferentes conhecimentos, sob a perspectiva da ciência e do
MÚSICA NA ESTRADA INSCREVE PARA 4A EDIÇÃO Vai começar mais um Música na Estrada, projeto que contempla a diversidade da nossa música, percorrendo universos sonoros, que vão do carimbó ao jazz, da música experimental ao super popular tecnobrega. Tudo cabe na carreta-palco que este ano percorrerá quatro cidades no sudeste paraense Canãa dos Carajás, Parauapebas, Ma-
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senso comum, para que assim os trabalhos de extensão se constituam como respostas cada vez mais dinâmicas e propositivas. O Pró-Reitor de Extensão da UFPA, Fernando Neves, afirma que a universidade está aliada à construção desse campo de saber e explica a importância de debater esse assunto. “É preciso tecer uma rede de cidadania e de dignidade humana pelos conhecimentos gerados com a inovação construída junto aos saberes tradicionais, buscando ações transformadoras no desenvolvimento pleno da educação, cultura e lazer”, afirma. Os interessados no evento podem acessar o site oficial www.6cbeu.ufpa.br para conferir a programação completa.
rabá e Curionópolis, no mês de maio. A realização da M.M. Produções, conta com patrocínio da Vale via lei Rouanet. As inscrições ficam abertas até amanhã, e podem ser feitas pela internet na página do projeto no blog www. musicanaestra.com.br, onde já estão disponíveis o edital, a ficha de inscrição e o formulário on-line. A proposta é retransmitir a cultura paraense, estimulando a criatividade à medida que se apresenta às mais
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa /MCTI), por meio da Coordenação de Capacitação (COCP), abriu seleção para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Um dos objetivos é proporcionar ao estudante a aprendizagem de técnicas e métodos científicos, bem como estimular o desenvolvimento do pensar científico e da criatividade. O edital pode ser conferido no site w w w. inpa.gov.br.
CASTANHAL O III Simpósio Artístico-Literário de Castanhal (SALIC) e o I Colóquio de Linguística de Castanhal (COLIC): Diálogos linguísticos, artísticos e culturais serão realizados no período de 16 a 18 de abril, no Campus UFPA em Castanhal. Ambos visam à promoção da discussão e interação de conhecimentos sobre os fenômenos relacionados à linguística e à arte literária entre docentes e discentes das diversas instituições de ensino superior. Mais informações no site www.portal. ufpa.br.
PRESERVAÇÃO O “Seminário Nacional sobre Áreas de Preservação Permanente Urbanas - APP Urbana 2014” recebe trabalhos acadêmicos até o dia 30 de abril. São seis grupos temáticos que abordarão a dimensão ambiental da cidade. O evento será realizado no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), de 10 a 13 de setembro. Mais informações no site www.appurbana2014.com.
diversas plateias a diversidade musical produzida no Pará. Podem participar cantores, bandas e grupos musicais que residam e atuem no Estado, com integrantes maiores de 18 anos ou emancipados, que possuam 50% de repertório autoral do seu show. Mais informações pelos telefones (91) 8109-7792 / 3355-8668 e pelos links: https://www.facebook.com/ suamusicanaestrada e http://www. musicanaestrada.com.br/
FAÇA VOCÊ MESMO
Brinquedo que vai e vem Aprenda a confeccionar o objeto com garrafas PET e um pedaço de corda
O
famoso vaivém, aquele brinquedinho com o qual duas pessoas movem uma bola através de cordas, até que se vende em lojas, mas há ainda mais diversão na sua confecção. Apesar do ápice da fama ter acontecido nos anos de 1980, o vaivém, surgido em 1976, na Itália, se popularizou no Brasil e ainda hoje é um bom passatempo para crianças, jovens e adultos. Não há vencedores. O vaivém é como o frescobol, o objetivo é encontrar a harmonia para realizar a ida e a vinda em um mesmo compasso. E ainda mais: a brincadeira é ótimo exercício físico, que
envolve força, equilíbrio e capacidade motora. Nesta edição, a Fundação Curro Velho apresenta a confecção alternativa do brinquedo. É simples. As garrafas PET que iriam parar no lixo são a matéria-prima. Querendo deixar o brinquedo todo pavulagem, é só explorar a criatividade, fazendo uso dos materiais que cada um possuir em casa, como tinta, purpurina, recortes de revistas e retalhos de pano. Aos que quiserem fazer mais vaivéns, tentar novas técnicas e até outras artes, é só procurar a Fundação Curro Velho, que oferta mensalmente oficinas em diversas áreas.
DO QUE VAMOS PRECISAR? - 2 garrafas PET limpas; - Fita durex larga; - 2 pincéis; - 2 tesouras: uma com ponta e outra sem ponta; - Tinta guache; - 1 corda de varal; - Cola branca; - Purpurina; - 1 recipiente para tinta e cola.
INSTRUTOR: MARCELO LOBATO COLABORAÇÃO: CLÁUDIA RÊGO BARROS FOTOGRAFIA: IONALDO RODRIGUES
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Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que estejam acompanhadas por um adulto responsável
Vamos lá: com a tesoura de ponta faça dois furos em cada garrafa. Os furos têm de estar distantes dois centímetros um do outro.
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Encaixe as duas partes das garrafas e prenda-as com a fita durex. Coloque a tinta no recipiente e adicione cola branca;
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Corte a corda do varal ao meio, depois junte uma ponta de cada parte para transpassar pelo interior da peça;
A partir dos furos, usando a tesoura sem ponta, corte as garrafas ao meio;
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Pinte toda a peça, aplicando duas demãos, intercalando a secagem. Espere secar, passe cola e aplique purpurina;
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Por fim, amarre cada extremidade da corda em uma argola. Dobre o plástico das argolas e encape com a fita durex para não machucar as mãos.
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Agora, retire duas argolas com aproximadamente dois centímetros de largura na parte do fundo de cada uma das garrafas;
Em seguida, espere secar novamente. Você formar desenhos ou grafismos, basta contornar a garrafa com cola e jogar purpurina;
Com o brinquedo pronto, é só aproveitar e se divertir.
Para saber mais Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas da Fundação Curro Velho, do governo do Estado do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109.
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RECORTE AQUI
FAÇA VOCÊ MESMO
ILUSTRAÇÃO: LEONARDO NUNES
BOA HISTÓRIA
Não sei o que tinha no pãozinho
Anderson Araújo é jornalista, escritor e blogueiro
feito no interior de Cametá. Mas era uma delícia. No Guajará, distrito do município, era desse tipo. Caseiro. Aroma excelente. Inconfundível. Minha bisa Santina comprava um monte deles e servia num lauto café da manhã. Generosa, chamava os netos. Todos eles comiam que se fartavam. Como a quantidade era grande, sobrava sempre. Santina guardava no forno para saborear na merenda da tarde, depois do seu passeio pela cidade. Porém, naquela semana as maravilhas de trigo estavam sumindo. A velhota inquiria: quem foi? Ninguém sabia. Reinava a lei do silêncio entre os moleques e as meninas. Os seis nada diziam. O sumiço se repetiu na semana seguinte. Santina ofereceu até recompensa para quem delatasse o infrator glutão. Nenhum pio. O mais velho reclamou que não era justo estar entre os suspeitos, porque estudava no turno vespertino e chegava quando a avó já estava preparando a janta do Vivi, o avô, que não via quem roubava e comia os pães porque tirava uma sesta longa enquanto a esposa perambulava por aí. A caçulinha estava fora da lista de possíveis larápios comilões. O curumim mais jovem era um inapetente. Nem no café comia direito. Era um palito, o pobrezinho. Estava também excluído. Sobravam três para investigar. A menina mais velha era fiel à avó como um cão. Santina deu
um crédito e a retirou da investigação. Certa tarde, a velhinha resolveu não sair. Ficou sentada na varanda, observando. Um dos meninos brincava com o cachorro, próximo do cercado. O outro apareceu de supetão e perguntou: - Vó, a senhora não vai pra cidade hoje? Acendeu o alerta. Ela guardou a expressão do pirralho depois de responder que não. No dia seguinte, ela preparou um senhor molho de pimenta. Uma pasta grossa amarela e vermelha tão ardida quanto uma queda na fogueira. O único pãozinho que sobrou do café foi recheado com a iguaria, de forma que parecia intacto. Ninguém suspeitaria que a gostosura estivesse em brasa por dentro. Santina guardou no forno e, depois do almoço, pegou sua bolsa e saiu cantarolando e alardeando que iria à cidade. Todos ouviram. Ela cruzou o portão e sumiu na estradinha. O neto glutão pulou a janela e correu para engolir às pressas a guloseima que por ser proibida, na cabeça dele, era muito mais gostosa. Do caminho, Santina calculou o tempo e deu meia volta. Encontrou o pequeno tomando goles imensos de água na beira do poço, tentando amainar o ardume. Descoberto, a língua em chamas, os olhos lacrimejantes, ainda tomou uma sova da avó, como era costume nos corretivos da época. Ninguém enganava a inesquecível Santina, que continuou comendo os pãezinhos que sobravam no café da tarde enquanto pode saboreá-los.
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NOVOS CAMINHOS
Desafios geopolíticos
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globalização traz à Amazônia uma série de promessas para o desenvolvimento, mas, de carona, assimetrias do fenômeno intensificam desigualdades e exclusão. Para prosseguirem no limiar do progresso, nações do Norte se colocam como beneficiárias das reservas existentes no Sul. Neste contexto, se insere o significado geopolítico do território amazônico, rico em recursos ainda não explorados, patrimônio da humanidade e fonte de subsistência para o futuro da sociedade. A síntese da importância da Amazônia é razão de poder e de possíveis embates internacionais, dependendo da estratégia que se estabeleça para o futuro da região. A Pan-Amazônia, que inclui nove estados soberanos – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname –, representa a vigésima parte da superfície terrestre, quatro décimos da América do Sul, um quinto da disponibilidade de água doce do mundo, além de um terço das reservas mundiais de florestas tropicais. A Amazônia Brasileira ou Amazônia Legal possui mais de 11 mil quilômetros de fronteiras terrestres – cerca de 60% do território brasileiro – e um litoral expressivo, com mais de 1.600 quilômetros. Uma região ainda “distante” em relação ao centro de poder do País e, por isso, alijada de grande parte das políticas públicas de desenvolvimento realmente eficientes, situação que cria um sentimento de ausência governamental muito forte. A situação, complicada por um plano de interligação nacional incompleto e que não respeita as características ge-
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ABRIL 2014
ográficas da Amazônia, entre outros fatores, abre espaço para vulnerabilidades: estimula o desenvolvimento de atividades ilegais e a criação de estados paralelos. Estes problemas sociais subvertem a ordem e constituem ameaças à estabilidade e segurança do território. Um dos desafios geopolíticos para os governantes brasileiros e da Amazônia é aliar natureza, cultura e peculiaridades geográficas da região à possibilidade de inserção social e científica. Nesta questão, o controle e desenvolvimento de uma das futuras bases de poder, a engenharia genética, é de fundamental importância. A exploração deste “capital natureza” têm o aval de programas governamentais, mas muitos deles estão articulados a interesses de investidores estrangeiros, o que dificulta a formulação de um projeto nacional. A riqueza da biodiversidade existente na Amazônia é impressionante. Estimativas apontam que cerca de 16,5 milhões de genes compõem o patrimônio genético vegetal da região. Um gene potencialmente útil pode representar, anualmente, negócios de US$ 1 milhão. Somente nos Estados Unidos, cerca de US$ 66 milhões são aplicados por ano em pesquisas sobre uso do germoplasma vegetal. A Pan-Amazônia não pode ser vista internacionalmente como uma “Antártida verde”, passível de ser fatiada entre potências, mas, sim, patrimônio das nações que a compõem. A intensificação de processos de cooperação já existentes, baseados nos princípios de soberania e autogestão, podem levar a região a se desvincular da indústria fordista e implementar modelos de desenvolvimento mais eficientes e sem desperdício, com distribuição equitativa, no próprio local, dos frutos gerado pelo capital natural.
“Um dos desafios geopolíticos para os governantes brasileiros e da Amazônia é aliar natureza, cultura e peculiaridades geográficas da região à possibilidade de inserção social e científica”
THIAGO BARROS é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEA-UFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros