Ciclo Tendências e Novos Desafios para a Cadeia Logística Ciclo Tendências e Novos Desafios para a Cadeia Logística São Paulo, 19 de dezembro de 2012
O comitê aberto de Logística da Amcham-São Paulo, entre setembro e novembro, realizou o Ciclo Tendências e Novos Desafios para a Cadeia Logística a fim de debater questões-chave para o desenvolvimento dessa área. Foram abordados os seguintes temas: inovação como diferencial competitivo, gestão logística de baixo impacto ambiental e condomínios logísticos. A primeira reunião mostrou que a inovação na área logística abre espaço para ganhos de eficiência e competitividade, contribuindo para compensar gargalos – como deficiências de infraestrutura – que prejudicam as atividades de transporte e armazenagem. São crescentemente adotadas, por exemplo, novas tecnologias de gestão de frotas. Saiba mais aqui. O segundo encontro retratou que as empresas do setor logístico, na busca por uma atuação mais sustentável, que minimize os efeitos do transporte e da movimentação de cargas sobre a natureza, vêm descobrindo que o caminho para avançar nesse sentido coincide com o voltado a obter maior produtividade. Muitas das soluções desenvolvidas têm como alvo mais eficiência, mas também contribuem para suavizar os impactos ambientais, indicaram os palestrantes. Leia mais aqui. E, para fechar o ciclo, na terceira etapa da série, o foco foram os condomínios logísticos. Bem localizados e financeiramente acessíveis, uma vez que os custos de manutenção são rateados entre os usuários, eles são cada vez mais procurados por companhias que precisam expandir suas operações com rapidez. Essas áreas fechadas de acesso restrito são alugadas por empresas tanto para fabricarem quanto para distribuírem produtos, e a procura deve continuar aquecida por muito tempo. Veja detalhes aqui.
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Inovação na área logística ajuda a ganhar competitividade e compensar infraestrutura deficitária e outros gargalos Souza, Araújo e Borges Diante de gargalos de infraestrutura, barreiras aduaneiras e elevada burocracia, executivos do setor de logística têm de ser criativos e buscar inovação para ganhar eficiência e competir em um mercado que hoje é global. São cada vez mais adotadas, por exemplo, novas tecnologias de gestão de frotas, conta João Guilherme Araújo, diretor de Negócios do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), que participou do comitê de Logística da Amcham-São Paulo em 14/09, na primeira etapa do Ciclo Tendências e Novos Desafios para a Cadeia Logística. Sistemas mais precisos e interligados de gestão de frotas e estoques são grandes aliados das companhias para elevar a produtividade logística. “Há soluções para rastreamento de caminhões e que possibilitam interagir com o motorista nos cockpits. Essas tecnologias permitem intervenção dinâmica, como atualização imediata do plano de rota”, informa Araújo. As pressões por mudanças vêm de todas as partes. Aumentam as exigências trazidas por novas regulações. Entre essas normas, há a nova lei que regulamenta a profissão de motorista (12.619/11), determinando períodos de descanso a cada quatro horas – o que tende a prolongar o tempo de viagem –, e as restrições à circulação de caminhões em grandes
cidades. Além disso, a sociedade está mais demandante quanto ao cumprimento de responsabilidade social e ambiental e, do lado dos clientes, há cada vez mais itens para se administrar. “O atendimento em termos de níveis de serviços exigidos tem apresentado complexidade crescente”, comenta o executivo.
Estreitamento comercial-operacional No setor logístico, o emprego de tecnologia pode representar uma grande vantagem por facilitar o estreitamento das operações comercial e operacional, afirma Diego de Souza, sócio-diretor da Plannera Soluções em Planejamento. A Plannera é a divisão do Ilos responsável por soluções de planejamento logístico integrado, como o S&OP (sigla em inglês para Planejamento de Vendas e Operações), uma plataforma que conecta os departamentos comercial e operacional. Quando o sistema S&OP recebe informações de vendas, cria um planejamento ajustado de produção e otimização de estoques, e gera dados – como previsão de vendas e indicadores de aderência ao planejamento – que servirão de base para análises
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gerenciais. Esses dados revelam o desempenho da empresa em relação ao plano de produção. Destrinchar indicadores comerciais e operacionais até o nível mais detalhado possível é um benefício importante, argumenta o executivo. “Saber que o plano de vendas teve erro de 40% nos diz apenas que estamos mal. Porém, uma lista dos maiores erros, por produto e CD [centro de distribuição], revela onde a operação foi mais impactada e onde agir para que isso não aconteça de novo.”
Pesquisa e inovação aberta A necessidade de oferecer serviços mais sofisticados de gestão logística foi o motivo de o grupo mineiro PC Sistemas criar um laboratório de pesquisa logística, o Centro de Excelência e Inovação em Logística (Ceilog) Ana Patrus em 2010. “Criamos um laboratório de pesquisa, referente a amadurecimento da inovação, através de várias parcerias com empresas de tecnologia, associações e
universidades”, conta Ezequiel Gouveia Borges, diretor de Estratégias do Negócio do Grupo PC Sistemas e gerente de Inovação do Ceilog Ana Patrus. O centro produzirá soluções logísticas com base no conceito de Inovação Aberta (Open Innovation), pelo qual as empresas buscam desenvolver soluções junto com universidades e instituições privadas de pesquisa. No Ceilog, são desenvolvidas três linhas de pesquisa: uma voltada a tecnologia RFID (identificação por radiofrequência) para atender processos de armazenagem em empresas de alimentos e medicamentos; outra focada em plataformas de automação no pequeno e no médio varejo; e a terceira centrada em soluções de mobilidade e geoprocessamento. “As duas primeiras linhas estão mais avançadas. Temos produtos-piloto para o mercado e contamos com outras frentes de pesquisa operacional e monitoramento. Nossa proposta é convergir tecnologias e oferecer soluções mais viáveis e acessíveis dentro da cadeia logística”, afirma o executivo.
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Companhias do setor logístico investem em produtividade também como forma de terem atuação mais sustentável As empresas do setor logístico, na busca por uma atuação mais sustentável, que minimize os impactos do transporte e da movimentação de cargas sobre a natureza, vêm descobrindo que o caminho para avançar nessa área coincide com o voltado a obter ganhos de produtividade e eficiência. “A companhia polui menos se for mais racional em sua operação”, afirma Paulo Roberto Guedes, diretor-presidente da Veloce Logística. “Ao andar menos de caminhão, a quilometragem rodada diminui, assim como a emissão de gás carbônico (CO2), e a empresa ganha dinheiro”, detalhou ele, durante sua participação no comitê de Logística da Amcham-São Paulo em 18/10, na segunda etapa do Ciclo Tendências e Novos Desafios para a Cadeia Logística. Quem opera no transporte rodoviário tem obrigação de fazer alguma coisa para diminuir a emissão de gases tóxicos ao meio ambiente, defende Guedes. “Os caminhões são os maiores poluidores no que diz respeito à emissão de CO2. A necessidade de evitar emissões excessivas é grande.” Se a incorporação de conceitos de sustentabilidade no setor logístico não se der por idealismo, que seja por pragmatismo, argumenta ele. “Ser sustentável traz
Paulo Roberto Guedes
vantagem competitiva, e o mercado começa a dar preferência a empresas que realizam ações desse tipo.” Companhias que se preocupam com sustentabilidade tendem a ser mais duradouras e responsáveis. Diminui a probabilidade de serem autuadas por irregularidades, pontua o executivo.
Gestão de frotas Muitas das soluções desenvolvidas para melhorar a gestão de frotas têm como alvo ganhos de eficiência, mas também contribuem para suavizar os efeitos ambientais, reforça Diogo Salles Ilha, sócio da KMS Consultoria em Gestão de Frotas Sustentáveis. Segundo ele, os sistemas mais modernos de administração logística já incluem o respeito à natureza. Em termos de impacto ambiental, o combate à redução de emissões é essencial. “A diminuição de poluentes se dá por três fatores: mudança de combustível, redução de consumo e manutenção de frota”, indica. O mais importante dos três itens é a redução do consumo, que pode ser obtida com equipamentos mais modernos e agilização do transporte, completa ele. Bernard Laporte, gerente de Projetos da Belge Con-
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sultoria, acrescenta que uma boa gestão de impacto ambiental passa por reduzir o desperdício. “Isso evita gastos desnecessários e dimensiona recursos de forma correta”, afirma.
Programa de redução de impacto ambiental Paulo Guedes compartilha o caso da Veloce, que adotou um programa de redução de impacto ambiental, batizado de Sistema de Gestão da Sustentabilidade (SGS). O sistema define a política ambiental da companhia e contempla iniciativas para a diminuição de CO2, além de outras ações. “Buscamos engajar todos os colaboradores na cultura de proteção do meio ambiente e diminuição de CO2”, diz. A cadeia de colaboradores é formada por funcionários, clientes, fornecedores, transportadores, motoristas autônomos e prestadores de serviços. Uma das ações adotadas pela Veloce para redução de poluentes foi o incentivo aos motoristas terceirizados para trocarem seus caminhões por modelos mais novos. “Através da garantia de que continuaríamos trabalhando com eles, conseguimos renovar e diminuir rapidamente a idade média da nossa frota.” Nas dependências da Veloce, há coleta seletiva de lixo
e reuso de água para lavagem de carretas, e também foram estabelecidas áreas de coleta de óleo combustível e destinação de resíduos sólidos. “Tudo está em conformidade com a legislação”, ressalta o executivo. Para estimular práticas de sustentabilidade em sua cadeia de fornecedores, a Veloce criou um prêmio anual, no qual os critérios de avaliação são desempenho, qualidade e sustentabilidade. Inspeções veiculares periódicas e parcerias com distribuidoras de combustíveis para fornecimento de insumos menos poluentes também estão entre as iniciativas da empresa.
Resultados positivos Com uma frota mais moderna, priorização do uso de combustível verde e melhora da gestão logística, resultados positivos apareceram. Entre 2010 e 2011, a emissão de CO2 por quilômetro quadrado percorrido registrada pela Veloce caiu 4,5% e a de gás carbônico por metro cúbico cedeu 7,1%. Ao mesmo tempo, o volume transportado aumentou 16%. “Com redesenho de rotas e melhoria no processo de coleta junto a fornecedores, houve economia de fato na medida em que se transporta mais, rodando menos”, informa Guedes.
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Condomínios logísticos, bem localizados e com custos acessíveis, são alternativa para empresas que querem expansão rápida das operações Maurício Pantaleão Bem localizados e financeiramente acessíveis, uma
regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janei-
vez que os custos de manutenção são rateados entre
ro, mas outras localidades também se destacam em
os usuários, os condomínios logísticos são cada vez
função do desenvolvimento da infraestrutura portu-
mais procurados por empresas que precisam expan-
ária e do poder aquisitivo. Nessa última categoria,
dir suas operações com rapidez. Essas áreas de aces-
os mercados mais proeminentes são Recife e Curi-
so restrito são alugadas por companhias tanto para
tiba, seguidos por Porto Alegre, Vitória, Salvador,
fabricarem quanto para distribuírem produtos, e a
Goiânia, Fortaleza e Manaus.
procura deve continuar aquecida por muito tempo, avalia Maurício Pantaleão, gerente comercial e de
“Muitas empresas de logística querem condomínios
Marketing do fundo de empreendimentos imobiliá-
perto de regiões metropolitanas, de preferência en-
rios CLB (Centro Logístico Brasil).
tre as principais rodovias”, detalha Pantaleão.
Um exemplo de demanda intensa por condomínios
Além de estar bem localizado, um condomínio tem
logísticos vem do varejo. “O setor cresce muito em
de proporcionar espaço e movimentação ao cliente.
função do aumento do consumo das classes C e D,
“O projeto precisa ser bem feito para que o cliente
e o varejista necessita ter pontos de apoio para fa-
se preocupe apenas com a operação. É preciso exis-
zer com que a mercadoria chegue rápido aos gran-
tir, por exemplo, um pátio de manobra onde o ca-
des centros metropolitanos e regiões secundárias”,
minhão não necessite ficar parado esperando outros
apontou ele no comitê de Logística da Amcham-São
manobrarem”, explica.
Paulo em 13/11, na terceira etapa do Ciclo Tendências e Novos Desafios para a Cadeia Logística.
Oportunidade para complementar produção
A instalação dos condomínios tem na localização um parâmetro fundamental. Nos grandes centros,
Com a fabricação de peças e acessórios para
estão os principais mercados industriais, como as
pós-vendas sobrecarregada na fábrica da Ge-
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neral Motors (GM) em Sorocaba, a montadora
Real Estate da GM para a América do Sul. “Parti-
enxergou no conceito de condomínio logístico
mos para a locação para atender a uma necessidade
uma oportunidade de complementar sua linha
específica e também para diluir os custos com os
de produção.
condôminos”, complementa.
“Basicamente, optamos pelo condomínio por con-
O projeto é inédito na montadora, que tem contra-
ta da localização. Estaremos mais próximos de
to de cinco anos renováveis por mais cinco com o
nossas fábricas de São José dos Campos e São Ca-
condomínio escolhido. “Dependendo do sucesso,
etano do Sul”, explica Renato Fusaro, gerente de
expandiremos o projeto”, adianta Fusaro.
Expediente Editora: Giovanna Carnio (MTB 40.219) Reportagem: André Inohara e Marcel Gugoni Crédito das fotos: André Inohara e divulgação (Maurício Pantaleão) Diagramação: Fabiana Senatore