São Paulo, 10 de Junho de 2010
Publicação da Câmara Americana de Comércio
EDição especial Qualificação de mão de obra como fator vital de competitividade A escassez de profissionais técnicos é hoje um dos principais gargalos à maior competitividade do País. Acompanhe como o empresariado vê essa realidade e conheça sugestões para superá-la.
Raio-X
Sondagem da Amcham aponta grandes desafios para ampliar formação de técnicos no Brasil Enfrentar a escassez de mão de obra técnica, um dos mais importantes gargalos para a competitividade brasileira, coloca uma série de desafios. Segundo pesquisa realizada pela Amcham junto a seus associados com o apoio do Ibope, os principais deles estão relacionados a expansão dos centros de formação acompanhando o nível de crescimento econômico, investimentos públicos em capacitação, dispersão territorial do mercado de trabalho e viabilização de modelos de parceria público-privada, sendo os dois primeiros os maiores – para 30% e 28% dos entrevistados, respectivamente. O estudo foi divulgado em 09/06 na Amcham-São Paulo durante o seminário “Qualificação de mão de obra como fator vital de competitividade”, que abriu o projeto “Competitividade Brasil – Custos de Transação” (veja mais informações na página 4). No processo de sondagem, entre 28/04 e 17/05, foram ouvidos 211 altos executivos
de companhias dos mais variados setores e portes localizadas em dez cidades do País. Desse total, 121 falaram especificamente sobre a questão da mão de obra.
TREINAMENTO
A falta de profissionais qualificados no Brasil hoje é tal que, além de ter dificuldade para preencher vagas em aberto, as empresas precisam investir maciçamente na capacitação daqueles que compõem seus quadros. A pesquisa da Amcham mostra que 76% das companhias conduzem atualmente programas de treinamento interno, 60% subsidiam cursos externos para seus funcionários e 40% desenvolvem parcerias com instituições acadêmicas, porcentagens ainda mais significativas quando se considera que 76% da empresas ouvidas são pequenas e médias. “O estudo revela uma retomada dos investimentos corporativos em treinamentos. Durante o auge da crise global eles haviam
Fonte: Pesquisa Amcham/ Ibope
Maior desafio para a formação de profissionais técnicos na ótica do empresariado Expansão dos centros de formação técnica proporcional ao nível de crescimento econômico Investimentos públicos para formação de mão de obra Dispersão territorial do mercado de trabalho no Brasil Viabilização de modelos de parceria público-privada Outros Não sei/ não tenho como avaliar
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sofrido um resfriamento e agora voltam a ser prioridade, tamanha a falta de mão de obra qualificada sentida no mercado”, afirmou Gabriel Rico, CEO da Amcham. A capacitação, além de exigir investimentos pesados das companhias, ocupa parte considerável do tempo de trabalho dos profissionais. Na grande maioria das empresas (78%), até 10% da carga horária dos empregados são despendidos com programas de formação técnica.
Centros de formação
O levantamento da Amcham indica também que, na visão do setor privado, há uma importante relação entre os centros de formação de engenheiros e técnicos e a atual realidade da mão de obra especializada e seu enfrentamento. Os empresários reconhecem a qualidade dos profissionais capacitados por essas instituições (52% veem esse aspecto como totalmente adequado), mas as consideram ainda aquém do ideal em termos de custos (totalmente inadequados para 47%), quantidade de graduados em relação às necessidades do mercado (totalmente inadequada para 49%) e distribuição geográfica nas diversas regiões do País (totalmente inadequada para 49%). “A escassez de mão de obra qualificada, amplamente sentida no Brasil, é ainda mais grave em áreas que passam por um progresso mais acelerado que a média nacional, como o Nordeste. Nessas localidades, além da pouca disponibilidade de profissionais com o perfil demandado pelo mercado, faltam centros de capacitação, essenciais para garantir os profissionais que serão necessários no futuro”, destacou Rico.
Foto: Mário Miranda
Agenda construtiva
Setor privado e academia indicam caminhos para reduzir déficit de mão de obra especializada Diretamente envolvidos com a falta de profissionais técnicos qualificados observada hoje no País, empresários (pelo lado da demanda) e acadêmicos (pelo lado da oferta) levantaram um conjunto de propostas para fazer face a essa realidade no seminário “Qualificação de mão de obra como fator vital de competitividade”. O encontro foi mediado pelo professor Jacques Marcovitch, ex-reitor da Universidade de São Paulo e senior advisor do Fórum Econômico Mundial. As sugestões, acrescidas de pontos sublinhados pelo público do encontro, serão detalhadas pela equipe da Amcham, submetidas à base de associados da entidade para priorização e encaminhadas aos principais candidatos à Presidência da República. Acompanhe as ideias apontadas no evento, elencadas em quatro grandes blocos:
A partir da esquerda, os participantes do seminário: Walter Vicioni, diretor regional do Senai-SP; Divonzir Gusso, pesquisador do Ipea; Alberto do Canto Filho, coordenador da Comissão de Graduação de Engenharia Elétrica da UFRGS; José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP; Jacques Marcovitch, professor da USP; Françoise Trapenard, diretora executiva de RH da Telefônica; Tiniti Matsumoto, gerente geral de Construção da Alcoa; Pedro Manuchakian, vice-presidente de Engenharia de Produtos da GM para a América do Sul; Rogério Patrus, presidente e CEO da GE para a América Latina; e Paulo Portela, vice-presidente de Serviços da IBM
ENSINO MÉDIO O que fazer durante essa fase para incentivar o interesse dos jovens pela carreira técnica • Criar programas para motivar os estudantes, especialmente mulheres, a optarem por profissões técnicas; • Aumentar o teor tecnológico nos cursos, introduzindo muita prática laboratorial; • Estimular a dignidade das profissões técnicas; • Criar centros de excelência em ciências exatas onde os talentos sejam aproveitados e alavancados; • Ofertar bolsas de incentivo a formandos selecionados para que tenham acesso facilitado a cursos de nível elevado em universidades públicas; • Desenvolver um programa intensivo de melhoria do ensino de matemática e ciências; • Reorganizar o currículo por áreas, não por disciplinas; • Adotar novas estratégias de abordagem do aluno,
incentivando que aprenda fazendo; • Permitir que estudantes de engenharia e também engenheiros formados lecionem física, química e matemática; • Instituir, no contra-período dos colégios públicos, reforço escolar focado em ciências, matemática e comunicação, ministrado por alunos bolsistas do ensino superior.
“O fato é que hoje vivemos um baixo interesse da juventude por carreiras tecnológicas. Temos de reinventá-las para contar com jovens nessas áreas ao longo dos próximos anos.” Jacques Marcovitch, professor da Universidade de São Paulo (USP), senior adviser do Fórum Econômico Mundial e líder do seminário
ENSINO SUPERIOR
GOVERNO
Como melhorar a formação nesse nível
Qual é o papel esperado do setor público
• Incluir temas ligados à ciência de serviços (ou seja, a dinâmica do relacionamento com clientes e fornecedores) e à sustentabilidade nos currículos das áreas técnicas; • Reduzir a quantidade de denominações de modalidades de engenharia; • Recuperar cursos que não têm qualidade adequada; • Estimular que os graduandos “coloquem a mão na massa” desde o primeiro ano; • Implementar progressivamente campi avançados dos melhores cursos em cidades de porte médio.
• Aprovar uma lei que garanta incentivos fiscais às companhias que investem em capacitação de profissionais; • Financiar melhorias em escolas de engenharia; • Desburocratizar a autorização de funcionamento de cursos de tecnologia; • Flexibilizar a composição das grades curriculares de cursos de tecnologia conforme a necessidade do mercado.
“Se adotarmos programas para aprimorar os cursos de engenharia de modo a permitir que seu rendimento passe dos 20% (de ingressantes que conseguem se formar) para 40%, dobraremos a oferta de engenheiros.” José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP
“Esse ponto dos incentivos fiscais ao treinamento já havia aparecido em discussões de vários comitês da Amcham. Estamos trabalhando com parlamentares para verificar a possibilidade de criar um projeto de lei que contemple esse tema. O objetivo é formatar o que seria uma ‘Lei Rouanet’ voltada a incentivar o treinamento pelas empresas. A defesa desse benefício inclusive será incorporada à agenda do CEO Fórum Brasil-EUA.” Gabriel Rico, CEO da Amcham
EMPRESA Que ações cabem à iniciativa privada • Formar pessoas que possam preparar outras; • Aumentar o conceito de inclusão, contratando indivíduos mesmo sem todos os requisitos desejados, mas com disposição para aprender; • Estabelecer parcerias com outras companhias e com instituições de ensino; • Acelerar o desenvolvimento dos profissionais; • Oferecer boas oportunidades de treinamento; • Abrir espaço para experiências internacionais; • Ofertar bolsas de estudo para alunos de carreiras tecnológicas em larga escala; • Financiar escolas de engenharia para melhorarem sua base laboratorial e de tecnologia
da informação e comunicações (TI&C); • Apoiar programas voltados a aumentar o rendimento de estudantes; • Investir na formação de pós-graduados e PhDs.
“No processo de formação, é muito importante que tenhamos certeza de que essas pessoas serão responsáveis gradativamente também pela capacitação de outras. Queremos criar uma cadeia para que não tenhamos mais preocupação com a falta de mão de obra qualificada dentro de até dez anos.” Rogério Patrus, presidente e CEO da GE para a América Latina
Projeto Competitividade Brasil
Iniciativa da Amcham prevê elaboração de propostas para combater elevados custos de transação no País Neste ano eleitoral, quando as oportunidades para discutir o futuro do Brasil se multiplicam, é hora de avançar em um tema que muito preocupa o empresariado: entraves a uma maior competitividade do País que se refletem em altos custos de transação. Este é o objetivo do projeto “Competitividade Brasil – Custos de Transação”, oficialmente lançado com o seminário “Qualificação da mão de obra como fator vital de competitividade”. Através do programa, a Amcham assume o compromisso de liderar, mais do que discussões, a apresentação de alter-
nativas para enfrentar essas deficiências, contribuindo para que o Brasil atinja seu pleno potencial e se gabarite a passar da posição atual de 9ª maior economia do mundo para 5ª em um futuro próximo, estimado em 2016. O projeto está estruturado em quatro etapas: pesquisa junto à base de associados da Amcham com o apoio do Ibope conduzida entre 28/04 e 17/05 para melhor compreender esses obstáculos e os custos que acarretam aos negócios no País; quatro seminários em São Paulo em junho e julho para dialogar sobre o tema
e levantar sugestões de superação; priorização das propostas conforme sua importância e urgência na ótica do empresariado brasileiro; e encaminhamento dessa agenda aos principais candidatos à Presidência da República. Além da escassez de mão de obra técnica, o programa da Amcham tratará de três outros grandes gaps brasileiros identificados pelo Fórum Econômico Mundial em seu ranking de competitividade global: papel e eficiência do Estado (24/06); deficiências de infraestrutura (19/07); e excesso de burocracia (27/07).
Próximo evento
Seminário em 24/06 focará papel e eficiência do Estado brasileiro
EXPEDIENTE
Antonio Palocci, deputado federal (PT-SP) e membro da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. Foi ministro da Fazenda (2003- 2006), prefeito de Ribeirão Preto (1993-1996) e deputado estadual paulista (1991-1992).
do comitê estratégico de Economia da Amcham-São Paulo, que comandará as discussões nesse dia. O seminário contará com a participação de grandes especialistas que se destacam por trabalhos nos setores público e privado e também na área acadêmica. Já estão confirmados: Foto: Divulgação Sabesp
Delfim Netto, professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da USP. Foi ministro da Fazenda (1967-1974), da Agricultura (1979) e do Planejamento (1979-1985), e cinco vezes deputado federal por São Paulo (1987-2006).
mentos no Brasil? Abordagens genéricas não têm nos levado a nada nos últimos anos. Temos que ousar na agenda relevante para o País, que é a ‘agenda do destravamento’, algo absolutamente tangível e nada teórico”, resume Octavio de Barros, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco e presidente Foto: Agência Brasil
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O segundo encontro do programa “Competitividade Brasil”, a se realizar na manhã de 24/06, analisará o papel e a eficiência do Estado brasileiro. A ideia é ir além do debate sobre o peso da máquina pública na economia e abordar a qualidade de sua ação. “Precisamos ir direto ao ponto: o que está travando os negócios e os investi-
Gesner Oliveira, diretor-presidente da Sabesp e professor da FGV-SP. Foi presidente do Cade (1996-2000) e secretário adjunto da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1993-1995).
Editora: Giovanna Carnio (MTB 40.219) Reportagem: Daniela Rocha e Thiago Lucas Design: Gera Comunicação
Mais informações sobre o projeto “Competitividade Brasil – Custos de Transação” você encontra no site www.amcham.com.br e no hotsite www.amcham.com.br/eventos/hotsites/competitividade-brasil