São Paulo, 30 de Setembro de 2010
Publicação da Câmara Americana de Comércio
Infraestrutura BRASIL-EUASolucionar deficiências acumuladas
nas últimas décadas demandará investimento de 5% do PIB pelos próximos cinco anos
Baixa avaliação
Fleury ressaltou que, como comprovam levantamentos recentes do Banco Mundial e da CIA (agência central de inteligência dos EUA), o Brasil está na lanterna em termos de infraestrutura logística quando comparado aos demais países do Bric (bloco que reúne também Rússia, Índia e China). O desempenho ruim se estende a todos os modais analisados – rodoviário, ferroviário, dutoviário e hidroviário (veja quadro ao lado). Outra sondagem, conduzida pelo próprio Ilos neste ano, revela que, para os profissionais de logística que atuam no País, a infraestrutura nacional merece
nota 5,2. O transporte ferroviário puxa a média para baixo, enquanto o aéreo é visto como o de melhor performance. O estudo mostra também que, para os profissionais de logística, a má conservação das estradas e a insuficiência da malha ferroviária são os principais problemas brasileiros de infraestrutura.
gerente de Desenvolvimento de Negócios da DHL.
Debate continuado
A infraestrutura brasileira também esteve em foco no evento de lançamento da série “How to do Business in Brazil 2010” em 28/09 na Amcham-São Paulo (leia mais na página 2), quando se destacou a relevância do capital externo para enfrentar as carências da área. “O gargalo é muito grande e parte da solução tem de vir por meio do investimento estrangeiro, da iniciativa privada”, alertou Fernando Medeiros, diretor de Logística Internacional da McLane, em apresentação na ocasião. As carências de infraestrutura são ainda um dos quatro pilares do projeto “Competitividade Brasil – Custos de Transação” da Amcham (ao lado de escassez de mão de obra técnica, excesso de burocracia e baixa eficiência do Estado), que entregará propostas de superação ao novo governo e dará base a um conjunto de ações de Advocacy da Amcham nos próximos anos.
Logística
Na rodada da Amcham, executivos de grandes companhias participaram de um painel de debates sobre o cenário da logística nacional e apontaram caminhos para minimizar gaps e ampliar a competitividade. Alianças entre players do setor e avanços na intermodalidade, o que envolve a utilização estratégica dos modais de acordo com necessidades dos negócios e a realização de obras para conexão entre os diferentes tipos de transportes, foram considerados fundamentais. “É essencial formar parcerias entre empresas, operadores logísticos e governos para instalar e alavancar uma ação que permita utilizar a capacidade de outros modais”, sugeriu Ricardo Ubiratan,
Dimensão da infraestrutura nos Brics Em mil km de vias Rodovias pavimentadas
Ferrovias
Dutovias
Hidrovias
Brasil
212
29
19
14
Rússia
755
87
247
102
Índia
1569
64
23
15
China
1576
78
58
110
Fontes: World Factobook (CIA) e Banco Mundial
Eliminar o déficit nacional de obras e manutenções que se acumulou nas últimas décadas exigirá que o Brasil invista cerca de 5% de seu Produto Interno Bruto (PIB) todos os anos até 2015, calcula Paulo Fleury, CEO do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). “O País tem um problema sério. Como ficamos vinte anos sem os investimentos necessários em infraestrutura, há um gap a ser coberto. Além disso, precisamos criar condições para assegurar o crescimento econômico futuro. É muito importante investir de 4% a 5% do PIB todo ano, por ao menos cinco anos, muito acima dos recursos destinados a essa área atualmente, na casa de 0,5% do PIB, podendo atingir 0,7% com o Programa de Aceleração do Crescimento”, afirmou Fleury na Rodada de Tendências & Negócios de Logística promovida em 21/09 pela AmchamSão Paulo.
CURTAS Recife e São Paulo Brasil-EUA I
A área da saúde é o foco de duas missões empresariais da Amcham aos Estados Unidos nos meses de setembro e outubro. Na primeira, realizada entre 18 e 25/09 pela regional Recife em parceria com a Secretaria de Turismo de Pernambuco e o Recife Convention & Visitors Bureau, o objetivo foi divulgar Pernambuco como destino internacional de turismo de saúde e bem-estar nas cidades de Houston e Los Angeles. Na segunda, organizada pela área de Comércio Exterior da Amcham-São Paulo em conjunto com a Embaixada do Brasil em Washington e prevista para 18 a 22/10, a ideia é proporcionar aos associados oportunidades para desenvolver novos negócios no segmento de equipamentos médicohospitalares. O grupo visitará Washington e Minneapolis.
Curitiba Brasil-EUA II
O novo cônsul geral dos Estados Unidos em São Paulo, Thomas Kelly, participou de encontro com representantes de empresas americanas e brasileiras que têm negócios nos EUA em 23/09. Na pauta, relações bilaterais e a conjuntura econômica paranaense.
São Paulo How to
Em 27/09, a Amcham lançou em São Paulo a série “How to do Business in Brazil 2010”, que tem como objetivo auxiliar investidores externos ou profissionais e executivos recémchegados ao País a entenderem e atuarem no mercado brasileiro. Há dez novos títulos, além da atualização de outros três. As versões eletrônicas dos exemplares podem ser obtidas no site da Amcham pelo link http://www. amcham.com.br/rel_intl/howto/english/index_html.
Recife Riscos regulatórios
A pesquisa “Top 10 risks for global business”, conduzida há cinco anos pela Ernst & Young junto a executivos de todos os continentes, revela que, em 2010, o principal desafio gerencial diz respeito ao risco regulatório, ligado à capacidade das companhias de se anteciparem e realizarem constantes adaptações a políticas, leis e regulamentações. “O risco regulatório passou do segundo lugar em 2009 ao topo de nosso ranking neste ano, superando a escassez de crédito. Isso denota o maior cuidado das empresas com o cumprimento de normas legais para evitarem perdas de imagem, além de prejuízos financeiros e operacionais”, justificou Ricardo Bello, diretor de Advisory da Ernst & Young, no “Encontro de Gestores – Gestão de Riscos” em 10/09.
Campinas Estratégia e execução
A importância de uma visão estratégica de longo prazo e bem estruturada é unanimidade no meio empresarial. De nada adianta, contudo, uma companhia ser forte nesse aspecto se não tiver um plano de execução consistente e altamente alinhado com as especificidades do negócio, defenderam os participantes do 5º CEO Fórum em 21/09. “É melhor ter uma execução de primeira categoria e uma estratégia de segunda do que o contrário”, afirmou Renato Cassinelli, presidente da Marsh.
Belo Horizonte Jorge Perutz
Em 29/09, faleceu Jorge Perutz, conselheiro da Amcham-Brasil e vice-presidente regional da Amcham-Belo Horizonte. Figura vital para a criação, o desenvolvimento e a consolidação da Amcham em Minas Gerais, Perutz deu grande contribuição para o direcionamento estratégico e sempre esteve presente também no dia-a-dia das atividades da entidade. Sua falta será sentida pelo conselho, pelos colaboradores e pelos associados da Amcham.
Porto Alegre Clube de Negócios
Lançado em 24/09, o Clube de Negócios visa impulsionar parcerias e transações em condições diferenciadas entre empresas gaúchas com até 50 colaboradores. O programa prevê encontros mensais entre gestores de companhias desse porte associadas à Amcham, nos quais serão apresentados descontos, promoções e características de produtos e serviços oferecidos por participantes.
São Paulo Propriedade intelectual
Despertam preocupação entre o empresariado as crescentes indicações de apoio do governo brasileiro a uma agenda de flexibilização dos direitos de propriedade intelectual, avalia Benny Spiewak, do escritório Koury Lopes Advogados. “O Brasil está defendendo uma agenda dos emergentes. Do ponto de vista prático, representa diminuir limites de propriedade intelectual e realizar uma série de ações que criarão um sistema menos técnico e com mais apelo social. Trata-se de uma proposta complicada, que gera insegurança e poderá inibir investimentos em pesquisa e desenvolvimento no País”, pontuou Spiewak na força tarefa de Inovação e Propriedade Intelectual em 23/09.
Varejo e consumo
Na percepção dos consumidores brasileiros, as companhias ainda precisam aperfeiçoar os serviços de atendimento, garantindo maior agilidade e oferecendo profissionais mais capacitados na linha de frente. É que revela o “Estudo Global de Satisfação dos Consumidores” da consultoria Accenture apresentado em 17/09 na Amcham-São Paulo durante o “Fórum de Excelência em Serviços – A Verdadeira Obsessão pelo Cliente”. “São dois os fatores principais que ainda incomodam os consumidores no País: tempo gasto esperando atendimento ou soluções finais para as ocorrências, e falta de conhecimento dos profissionais com que interagem. Reconhecemos os esforços das empresas para melhorar a qualidade, mas os clientes continuam querendo mais avanços nesses quesitos”, disse René Parente, gerente sênior da prática de CRM (Customer Relationship Management) da Accenture Brasil. Além desses dois aspectos, o levantamento da Accenture aponta que os brasileiros desejam ser atendidos em horários e canais variados; ter à disposição formas de verem seus problemas resolvidos muitas vezes sem necessitar de contato direto com
representantes das companhias; contar com maior objetividade nas informações que lhes são enviadas por escrito; e tratar com funcionários que detenham informações sobre seu histórico junto às empresas e que sejam gentis na abordagem. A pesquisa também retrata uma importante transformação no comportamento do consumidor nacional: crescente preocupação com a qualidade, mesmo que isso signifique desembolsos superiores. “Antes, o brasileiro abria mão da qualidade para ter preços menores, mas, com a ascensão das classes, os novos entrantes passaram a exercer uma pressão maior pela excelência e a demonstrar disposição para pagar um pouco mais para ter bons serviços”, informou Parente.
Comparação com outros países
A sondagem da Accenture foi realizada em 2009 e ouviu 5.900 consumidores em 14 países desenvolvidos e emergentes (Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, Itália, Austrália, Japão, Brasil, Índia, China, México e Cingapura). Foram avaliados dez setores da economia (bancos, companhias aé-
Foto: Mário Miranda
Brasileiros requerem das companhias atendimento mais rápido e qualificado
René Parente, gerente sênior de CRM da Accenture
reas, energia, eletrônicos, planos de saúde, portais da internet, telefonia fixa e móvel, TV a cabo e satélite e varejo). Na comparação com as demais nações, o Brasil se encontra na média no que diz respeito à avaliação da qualidade do atendimento. O País fica aquém dos demais, entretanto, pelo desafio de capacitar a mão de obra. “A formação dos profissionais chama atenção pelo lado negativo”, salientou Parente.
Gestão de pessoas
Para enfrentar a falta de mão de obra qualificada, o Brasil precisará estimular maior articulação entre todos os agentes relacionados à educação. As estratégias devem partir da conciliação entre as demandas das empresas e as possibilidades das instituições de ensino, englobando formação de parcerias e aumento de investimentos públicos na área, afirmam executivos de Recursos Humanos e acadêmicos que participaram do workshop “Qualificação de mão de obra como fator vital de competitividade” na Amcham-São Paulo em 02/09. “Hoje, cada parte está tentando achar uma solução sozinha, adotando medidas de curto prazo e insuficientes para fazer
face às dificuldades do futuro, considerando o ritmo atual de crescimento do País. Precisamos estabelecer uma ponte de diálogo entre os diversos setores da sociedade, acabar com a capacidade ociosa das universidades públicas e atacar de maneira sistêmica o problema”, sinalizou Françoise Trapenard, diretora executiva de RH da Telefônica. Uma das principais sugestões dos presentes ao encontro na Amcham é que as companhias realizem consórcios entre si e com universidades a fim de oferecer incentivos como bolsas de estudo, estágios e outros tipos de atrativos a aspirantes a carreiras na área de exatas.
Foto: Mário Miranda
Caminho para reduzir gap de mão de obra está na maior interação entre empresas, escolas e governo
Françoise Trapenard, diretora executiva de RH da Telefônica
Mídias sociais
Segredo para bons resultados é primeiro focar pessoas e só depois escolher ferramentas A questão-chave para uma empresa alcançar bons resultados em termos de mídias sociais é focar, antes de tudo, o ser humano. Compreendidas as necessidades do público, aí sim é hora de definir as ferramentas que serão usadas e de que forma – exatamente o contrário do que boa parte das companhias tem feito, alerta o especialista Jair Tavares. “O segredo é o foco no ser humano. É preciso conhecer as demandas dos usuários e entender as relações mantidas nos espaços virtuais para então desenvolver estratégias de utilização das mídias pelas companhias”, indicou Tavares, que é diretor da agência Pólvora, especializada em mídias sociais. Ele participou do Workshop de Mídias Sociais promovido pela Amcham-São Paulo em 28/09 como parte do programa Business in Growth.
Tavares revela que, no Brasil, já são mais de 55 milhões os usuários de redes sociais, o equivalente a 67% do total de internautas – que, por sua vez, somam 83 milhões de pessoas (45% da população). “Trata-se de um enorme contingente de usuários que não pode ser negligenciado em nenhuma estratégia de comunicação”, assegurou. Ele acrescentou também que, com planejamento, critério e envolvimento da alta direção, as mídias sociais podem ser usadas por qualquer companhia, independentemente de porte ou segmento de atuação.
Cenário
Pesquisa da consultoria Deloitte, realizada entre fevereiro e março e apresentada no workshop, revela que 70% das empresas no Brasil já utilizam mídias sociais de al-
guma forma. A sondagem indica, contudo, que a maior fatia ainda não alcançou completamente os objetivos buscados, não entende totalmente os riscos envolvidos nesse tipo de comunicação ou não conseguiu implementar as ferramentas de forma integral, o que envolve a criação de uma estrutura para operacionalizar e monitorar o conteúdo veiculado. Outro destaque da sondagem é que, na grande maioria das companhias, as mídias sociais são utilizadas para divulgação de produtos e serviços (83%) e acompanhamento de marca ou mercado (71%). O emprego da ferramenta em temas de alta relevância como descoberta de novas oportunidades e suporte ao cliente ainda não foi incorporado por mais da metade dos ouvidos.
Prêmio ECO Jeremy Rifkin, referência mundial
Está confirmada a vinda do economista americano Jeremy Rifkin ao Brasil em novembro. Ele será o convidado de honra da cerimônia de entrega do Prêmio ECO 2010 em 19/11 na Amcham-São Paulo. Rifkin é presidente da Foundation on Economic Trends, organização que analisa os impactos das novas tecnologias sobre economia, meio ambiente e sociedade. Autor de 17 bestsellers, traduzidos em mais de 30 idiomas, ele atuou como consultor da União Europeia na última década, tendo sido um dos principais mentores do modelo da Terceira Revolução Industrial, baseada na sustentabilidade com tripé social, ambiental e econômico para enfrentamento da crise econômica global e das mudanças climáticas, e garantia de segurança energética.
Atualmente, Rifkin é consultor da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu e de líderes de Estado como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro ministro da Espanha, José Luis Rodriguez Zapatero. Ele também conduz o Programa de Educação Executiva da Wharton School da Universidade da Pensilvânia.
Foto: The Harry Walker Agency, Inc
em sustentabilidade, será convidado de honra
Trabalhos inscritos
O Prêmio ECO 2010 computa 82 trabalhos inscritos por 67 empresas que já foram avaliados por um júri especializado e agora passam por fase de auditoria. Em 19/11, serão reconhecidos 12 vencedores, nas categorias inovação em modelos de negócios, projetos, processos e produtos, sendo três por categoria –um para pequenas e médias empresas e dois para grandes.
Jeremy Rifkin, professor da Wharton School e consultor da Comissão Europeia para sustentabilidade
EXPEDIENTE
Editora: Giovanna Carnio (MTB 40.219) Reportagem: Camila Cruz, Daniela Rocha, Dirceu Pinto, Filipe Gonçalves, Mariana Pires e Thiago Lucas Design: Gera Comunicação O noticiário completo da Amcham você encontra no site www.amcham.com.br