Amcham Highlights - Competitividade Regional | Custos de Transação - Recife - 15-08-2011

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Recife, 15 de Agosto de 2011 Em 2011, no segundo ciclo do programa “Competitividade Brasil – Custos de Transação”, a Amcham está aprofundando a discussão de alternativas para enfrentar os gargalos que comprometem a maior competitividade brasileira e acrescentando ao debate nacional enfoques regionais. Leia sobre o projeto na página 2. A fim de compreender melhor a realidade de Pernambuco e contribuir para a identificação de soluções, a Amcham realizou em 05/08 o seminário Competitividade Regional em Recife, reunindo mais de 100 empresários e executivos locais para dialogar sobre o tema. A discussão se centrou em dois eixos: mão de obra e infraestrutura. No que toca a mão de obra, a principal dificuldade sentida em Pernambuco está em encontrar quadros técnicos, seja de nível médio ou superior, em quantidade e qualidade suficientes. Essa escassez é sentida por mais de 70% do empresariado local, como detectou pesquisa da Amcham preparada, com o apoio do Instituto Análise, especialmente para a ocasião. Trata-se de um nível muito superior ao indicado para falta de mão de obra em geral (31%) e não especializada (34%). Confira matéria com destaques e o estudo na íntegra da sondagem da Amcham páginas 3 à 5. No Estado, o crescimento acelerado, muito acima da média nacional, está criando inúmeras oportunidades profissionais, mas a insuficiência de cidadãos locais com capacitação adequada tem feito com que parte das vagas seja ocupada por gente de fora, o que cria um fenômeno migratório inverso ao registrado décadas atrás. Nesse contexto, governo, academia e empresas correm contra o tempo para ampliar agressivamente a oferta de mão de obra regional a fim de atender à forte demanda. Leia sobre esse debate nas páginas 5 à 7 Para se ter uma ideia do tamanho do desafio, são geradas 10 mil novas vagas todo mês em território pernambucano, conta Antonio Carlos Maranhão, secretário estadual de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo. Acompanhe entrevista completa com o secretário nas páginas 7 e 8 Quanto à infraestrutura, há um grande descontentamento do setor privado pernambucano praticamente com todos os modais de transporte, sendo as rodovias públicas estaduais e federais e as ferrovias as mais criticadas. Aqui também existe um grande esforço para que os gargalos não comprometam a continuidade do desenvolvimento. O Estado trabalha para reforçar a malha rodoviária sim, mas já se deu conta de que os investimentos em transporte ferroviário e marítimo são fundamentais para o presente e o futuro, a exemplo do que fizeram países desenvolvidos. Leia mais nas páginas 9 e 10.

Entrevistas Acompanhe ainda entrevistas com dois dos palestrantes do seminário.

Ana Maria Souto Maior de Souza Neto Gerente de Capital Humano do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) mostra que Incentivos a treinamentos e valorização de cursos técnicos são caminhos para formação de profissionais de Tecnologia da Informação (TI), altamente demandados. Pág 11 à 12

Anísio Brasileiro Pró-reitor para Assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação e reitor recém-eleito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) defende que o Estado precisa de mais parcerias para formação técnica. Pág 13 à 14

Frederico Amâncio Vice-presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape fala sobre o desafio regional e nacional de aumentar a participação do modal ferroviário e criar um grande plano para cabotagem. Pág 14 à 15

Miguel Angelo Barroso Andrade Gerente de negócios da Transnordestina Logística sustenta que, com mais ferrovias, o Nordeste poderá desenvolver novos negócios. Pág 15


Amcham aprofunda programa Competitividade Brasil Crédito: Ivaldo Bezerra

A Amcham deu início em junho ao segundo ciclo de eventos do programa “Competitividade Brasil – Custos de Transação”. Criado em 2010 para promover discussões e a formulação de alternativas para enfrentar gargalos que comprometem a maior competitividade brasileira, o projeto agora está sendo levado a várias das cidades em que a Amcham está presente por meio de unidades regionais. A agenda de seminários inclui Belo Horizonte (28/06), Curitiba (13/07), Campinas (26/07), Recife (05/08) e Brasília, além de São Paulo, onde o programa teve origem. A ideia, neste ano, é ampliar o debate sobre esse tema tão premente para o País e focar em especial necessidades regionais, mantendo o caráter contributivo de busca de soluções.

Ações prévias O programa “Competitividade Brasil” começou a germinar em 2009, durante a divulgação do relatório de competitividade global do Fórum Econômico Mundial na Amcham-São Paulo. Na ocasião, ficou patente que, apesar de avanços consistentes, algumas das áreas mais fundamentais para a competitividade econômica brasileira ainda carecem de maior atenção, a saber: formação de mão de obra técnica, eficiência do Estado, infraestrutura e quantidade de rotinas burocráticas. Atenta a essas questões determinantes para o futuro do País, a Amcham estruturou o projeto, por meio do qual, ao longo de 2010, realizou pesquisa junto à sua base de associados para melhor compreender os desafios da competitividade e um conjunto de seminários em São Paulo para dialogar sobre o tema e levantar alternativas de superação. As sugestões foram priorizadas conforme sua importância e urgência na ótica do setor privado brasileiro e estão sendo incorporadas ao trabalho de advocacy da Amcham. Houve ainda, no final do ano, um quinto encontro para tratar da “Reforma Tributária Possível”, já aprofundando pontos indispensáveis para destravar o sistema tributário nacional e incrementar a competitividade das companhias.

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Pesquisa Amcham: transporte, turismo, petróleo e gás, e educação são setores mais promissores para investimentos em Pernambuco nos próximos anos Os setores de modais de transporte (rodovias, portos, ferrovias e aeroportos), turismo e entretenimento, petróleo e gás, e educação são os mais promissores para investimentos no Estado de Pernambuco nos próximos anos, segundo o setor privado. Esses segmentos aparecem empatados na primeira posição, com 38% das opiniões, em pesquisa da Amcham apresentada no seminário Competitividade Regional em Recife. O levantamento, em parceria com o Instituto Análise, foi realizado junto a 223 altos executivos de empresas de todos os portes no País, sendo 32 deles de Recife. O segmento de serviços responde por 25% da amostra regional, seguido por indústria (16%) e tecnologia (13%). As áreas de advocacia, construbusiness, comunicação, finanças e recursos humanos aparecem com 6% cada, e os setores automotivo, de logística, bens de consumo, varejo e saúde, com 3% cada. "Ficou claro pela pesquisa que Pernambuco precisa focar a mão de obra e a infraestrutura. A pesquisa mostra o que é preciso para avançar nessas questões no Estado", afirmou Luis Delfim de Oliveira, vice-presidente regional da Amcham-Recife.

Impactos dos projetos nacionais Com relação aos grandes projetos que o Brasil implementará nos próximos anos, o empresariado avalia que os empreendimentos que causarão impacto ou alto impacto em Pernambuco estão relacionados a construção civil, exceto habitação (91%), construção naval (88%), petróleo e gás (87%), Copa de 2014, rodovias (84%), mobilidade urbana, ou seja, trem, metrô e serviço de ônibus rápido (82%), ferrovias (81%), hotelaria (81%), portos e hidrovias (75%), indústrias de novas tecnologias (69%), aeroportos (60%), siderurgia (56%), usinas hidrelétricas (35%) e Olimpíadas 2016 (28%). Construção naval, mobilidade urbana e petróleo e gás aparecem na dianteira quando se fala em alto impacto (72%, 63% e 59%, respectivamente).

Foco de interesse Do ponto de vista prático, os projetos em que as companhias têm maior interesse em atuar diretamente são os que dizem respeito a Copa do Mundo de 2014 (56%), indústrias de novas tecnologias (47%), Olimpíadas de 2016 (34%), setores de petróleo e gás (25%), hotelaria (25%) e construção civil (22%). Na sequência, vêm construção naval (19%), rodovias (13%), mobilidade urbana (13%), ferrovias (6%), mineração (6%), agropecuária, portos e hidrovias, cada um com 3%. Na visão dos ouvidos pela Amcham, os segmentos que deveriam ter maior apoio governamental e de organizações da iniciativa privada são modais de transporte (34%), educação (22%) e saneamento urbano (16%). Serviços de informática e habitação urbana receberam 6% das respostas cada.

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Raio-X da infraestrutura local Em Pernambuco, o empresariado demonstrou alto grau de descontentamento em relação a todos os modais de transporte. O ponto mais criticado foram as rodovias públicas estaduais, com 94% de respostas negativas. Em seguida, estão as rodovias públicas federais, com 88% de declarações de insatisfação, e as ferrovias, reprovadas por 65% dos respondentes. A qualidade dos serviços públicos melhora um pouco quando se fala dos aeroportos e portos; porém, estes também foram mal avaliados por 31% dos respondentes. As rodovias públicas sob concessão, ainda raridade, aparecem em seguida, com 26% de insatisfação. Dentre os modais de transporte, os que deveriam receber prioridade de investimentos, de acordo com os consultados pela Amcham, são rodovias (59%), ferrovias (34%) e portos (6%).

Parcerias Público-Privadas Pela sondagem da Amcham, 94% das empresas que atuam no Estado nunca participaram de processos licitatórios para a implementação de Parcerias Público-Privadas (PPPs). Elas se mostram insatisfeitas com questões como burocracia (56%), divulgação dos projetos (50%), processos licitatórios (44%) e clareza na divulgação dos editais (44%). Na avaliação dos executivos, os principais entraves para maior envolvimento em projetos de infraestrutura são excesso de burocracia (69%), falta de transparência (63%), insegurança jurídica (50%), gestão pública dos processos (41%), falta de divulgação dos projetos (34%) e dificuldade para obtenção de financiamentos (31%). As sugestões do setor privado para ampliar sua atuação nesse campo passam por redução da burocracia (25%), maior divulgação dos projetos (22%) e mais clareza dos objetivos (19%). Modificação na lei de licitações e redução ou isenção de impostos aparecem com 9% cada.

Falta de mão de obra técnica qualificada Em Pernambuco, a escassez de mão de obra atinge fortemente os níveis técnico de ensino médio e superior, de acordo com, respectivamente, 75% e 72% dos respondentes, níveis bastante superiores aos apontados para déficit de profissionais em geral (31%) e não especializados (34%). As propostas de maior relevância para enfrentar esse quadro, para os empresários pernambucanos, são desenvolvimento de programas intensivos de melhoria do ensino médio nas áreas de matemática e ciências (90%); direcionamento do ensino médio à profissionalização através da atualização do conteúdo curricular (84%); aprovação de uma lei de incentivo fiscal às companhias que investem em capacitação nos moldes da lei Rouanet (81%); implementação de campi avançados de cursos superiores em cidades de porte médio (78%); e isenção fiscal para bolsas de estudo (75%).

Reformas necessárias O setor privado de Pernambuco defendeu ainda na sondagem da Amcham uma série de ações

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governamentais que ajudariam no desenvolvimento das empresas. A redução da carga tributária foi citada por 75%, seguida por reformas no sistema de impostos (50%) e das leis trabalhistas (50%). Diminuição da taxa básica de juros (31%), simplificação tributária (19%) e reforma previdenciária (16%) complementam a lista de recomendações dos empresários.

Luis Delfim de Oliveira, vice-presidente regional da Amcham-Recife

Quanto à reforma fiscal, a desoneração da folha de pagamentos foi unanimidade entre os pesquisados (100%) como quesito que mais impulsionaria os negócios. Eles dizem também que a desoneração é algo que pode tornar suas companhias mais competitivas (66%) e aumentar o emprego formal (34%). "A desoneração da folha com compensação arrecadatória é a grande prioridade que o empresariado de nossa região vê. O governo acaba de lançar sua nova política industrial. No que concerne a mão de obra, quatro setores foram beneficiados com um projeto piloto de desoneração. É o 1º passo que o governo está dando na direção certa”, comentou Delfim de Oliveira.

Outros dois aspectos considerados bastante relevantes na reforma fiscal foram a política de desoneração de investimentos (94%) e o redesenho de PIS/Cofins para a criação de um imposto sobre valor adicionado (78%). A grande maioria dos ouvidos (91%) é a favor de alterações nas regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Desse universo, 93% consideram que a diminuição de alguns encargos sociais seria a mudança que traria impacto mais favorável para suas companhias. Para 59%, o ajuste mais importante seria dar o direito ao trabalhador de escolher trabalhar com carteira assinada ou através de nota de prestação de serviços, e outros 48% indicam a eliminação do poder normativo da Justiça do Trabalho.

Pernambuco quer multiplicar mão de obra especializada para atender às demandas do crescimento O crescimento econômico acelerado de Pernambuco, acima da média nacional, está criando inúmeras oportunidades profissionais para seus habitantes, mas a falta de capacitação tem feito com que parte das vagas especializadas seja preenchida por gente de fora. Em 2010, o PIB (Produto Interno Bruto) do Estado cresceu 9,3%, acima do dado nacional, que foi de 7,5%. Para suprir suas necessidades presentes e futuras, o Estado quer ampliar agressivamente a oferta de quadros formados nos níveis técnico, médio e superior, além de estreitar parcerias com o setor privado para garantir sintonia entre capacitação e demandas do mercado. “É preciso ter uma estratégia de guerra para aumentar os cursos técnicos e a qualificação básica”, disse Antonio Carlos Maranhão, secretário de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo do Estado de Pernambuco. Ele participou, junto com representantes do setor privado e de instituições acadêmicas, do seminário Competitividade Regional em Recife. O evento debateu propostas para formar mão de obra em maior quantidade e com mais qualificação no Estado, além de outros desafios à competitividade regional e nacional.

Metas de formação até 2014

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Pernambuco tem hoje enormes desafios do ponto de vista de formação de profissionais, como elencou o secretário Maranhão: - Aumentar drasticamente a oferta de qualificação básica associada à correção na formação dos alunos. A intenção é, no curto prazo, passar das 20 mil matrículas verificadas em 2010 para 50 mil em 2012, e chegar a 100 mil até 2014.

Rogério Rodrigues da Rocha, gerente do empreendimento Casa de Força (CAFOR) da Alusa Engenharia

- Qualificar a oferta, dialogando com as empresas para que contratem mais pessoal recém-formado. “É preciso fazer com que a porta de saída dos programas coincida com a porta de entrada das companhias. Não se pode fazer inclusão social quando uma empresa pede experiência prévia a alguém que acabou de se formar”, argumentou Maranhão.

- Ampliar a oferta de educação profissional de nível técnico de forma integrada ao ensino médio. O plano da secretaria é passar das atuais 20 mil matrículas para 40 mil em 2012 e alcançar 80 mil em 2014. “Mas formação profissional não é responsabilidade de um lado só. É preciso que as empresas ofereçam mais estágios aos jovens aprendizes”, afirmou o secretário, reforçando a relevância do papel das empresas para o sucesso da iniciativa. - Formar 1,5 mil professores para enfrentar esses desafios, que sejam capazes de transmitir conhecimento e construir competências. - Criar um Centro de Certificação Profissional para atestar e diplomar a competência dos formandos. Os programas de qualificação seriam feitos em conformidade com a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).

Importação de mão de obra A falta de engenheiros e profissionais qualificados no Recife está fazendo com que a Alusa Engenharia, empresa de infraestrutura que atua nos setores elétrico, de telecomunicações e óleo e gás, tenha de contratar mão de obra de outras localidades para suprir os projetos em Pernambuco. A Alusa emprega 2 mil pessoas em obra local de refinaria da Petrobras e pretende aumentar seu efetivo para 5 mil nos próximos anos, disse Rogério Rodrigues da Rocha, gerente do empreendimento Casa de Força (CAFOR) da Alusa Engenharia. “Toda a mão de obra de nível superior e técnico é importada”, revelou ele. “Como esses cargos representam a parte principal da fatia salarial, acabamos deixando de contribuir para melhorias (socioeconômicas) na região.” Para formar o pessoal de que necessita, a Alusa mantém diversos programas de qualificação. Em nível fundamental, treina funcionários nos próprios canteiros de obra. Por meio de uma parceria com a Petrobras e o Sesi (Serviço Social da Indústria), a Alusa desenvolve também o PDMO (Programa de Desenvolvimento de Mão de Obra), no qual são formadas turmas de acordo com a demanda da Alusa e da Petrobras.

Programas educacionais focados no mercado O Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), consultoria privada em Tecnologia da

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Informação (TI), diante do atual cenário de escassez de profissionais especializados, oferece programas educacionais com foco em inserção prática dos profissionais no ambiente de negócios de TI. Em uma espécie de residência, são selecionados engenheiros, mestrandos e doutorandos para treinamento e desenvolvimento de projetos, que podem ser absorvidos pelo próprio C.E.S.A.R ou então pelo mercado. Há ainda um programa de estágio, considerado um verdadeiro colchão de formação. Mesmo com as duas iniciativas, o C.E.S.A.R ainda se depara com dificuldades para preencher vagas. “Até dezembro, serão mais de 100 postos em aberto, uma demanda muito especializada de mestres, doutores e engenheiros de software para atender nossos clientes”, pontuou Ana Maria Souto Maior de Souza Neto, gerente de Capital Humano do C.E.S.A.R.

Parceria entre instituições de ensino A busca de intercâmbio com outras instituições foi uma das formas que a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) encontrou para atender à demanda por quadros técnicos no Estado. Na área de engenharia, a universidade está finalizando a criação de dois grandes laboratórios, disse Anísio Brasileiro, pró-reitor para assuntos de Pesquisas e Pós-Graduação da UFPE. Um laboratório de pesquisas em petróleo e gás está para ser montado, graças a uma parceria com a Petrobras, revelou Brasileiro. Outro centro de pesquisas está sendo feito em parceria com o Instituto Nacional de União de Materiais, para estudo de ligas metálicas para a indústria naval e os estaleiros de Suape. “Também estamos criando o terceiro curso de graduação em engenharia naval, que funcionará ao lado da Escola Politécnica da USP e da UFRJ. Nossos estudantes farão intercâmbio em São Paulo e no Rio de Janeiro, e os professores dessas instituições virão para Pernambuco”, adiantou.

Antonio Carlos Maranhão, secretário de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo de Pernambuco: Estado abre 10 mil novas vagas de emprego por mês. Amcham: Quais são os setores da economia que mais empregam em Pernambuco? Antonio Carlos Maranhão: Temos um levantamento da mão de obra ocupada no Estado que aponta grande prevalência de serviços, com 51% do total de ocupação. Na Região Metropolitana do Recife, por exemplo, a estimativa do número de ocupados é de cerca de 1,6 milhão de pessoas, sendo 870 mil empregadas no setor de serviços, 300 mil atuando no comércio, 152 mil na indústria de transformação, 110 mil em construção civil e o restante em outras áreas. Esse panorama do número de ocupados por setor de atividade na Região Metropolitana de Recife inclui Suape. Amcham: Mais quais são as áreas que demandam mais profissionais atualmente? Antonio Carlos Maranhão: Com certeza, hoje, os setores de construção civil e metal-mecânico são os mais dinâmicos. Porém, todas as áreas têm demandas por profissionais. Pernambuco

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tem uma base de dois milhões de trabalhadores, mas vem gerando anualmente mais de 115 mil novos empregos, sem considerar a movimentação normal de saídas e entradas no mundo do trabalho. No último ano, foram registrados 520 mil desligamentos e 640 mil admissões, o que dá um saldo de 120 mil novas vagas, ou seja, uma média de 10 mil vagas abertas por mês. Estamos atentos a essa situação. Há momentos críticos, como nos casos de retomadas de obras ou novas frentes de trabalho. Por exemplo, um empreendimento do tamanho da ferrovia Transnordestina gera instabilidade, assim como os investimentos para termos uma cidade-sede da Copa no Estado (São Lourenço da Mata) e o projeto Minha Casa MinhaVida (habitação) levam a algum desequilíbrio entre oferta e demanda de profissionais. Amcham: A pesquisa da Amcham sobre competitividade no Estado aponta que a escassez de profissionais é mais forte no nível técnico, tanto de ensino médio quanto superior. O que o governo tem feito para resolver esse problema? Antonio Carlos Maranhão: Estamos montando uma rede de formação e qualificação profissional de nível técnico envolvendo a rede federal, estadual e o sistema S – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Serviço Social da Indústria (Sesi), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e Serviço Social do Comércio (Sesc) – para atender as necessidades do Estado nas mais diversas áreas. Mas, com certeza, o foco maior será nos setores mais demandantes, que são a construção civil e os serviços de montagem industrial por conta de Suape. Amcham: O Estado tem importado profissionais de outras regiões do País? Antonio Carlos Maranhão: O Estado não tem importado mão de obra. São os profissionais de outras regiões que se sentem atraídos pelo crescimento de Pernambuco, que ultrapassou em mais de 20% o da economia brasileira. Em 2010, tivemos uma expansão no PIB (Produto Interno Bruto) de 9,3%, contra a de 7,5% registrada pelo País. Então, o fluxo que infelizmente víamos no passado, de saída de trabalhadores porque o crescimento de outras regiões era maior, agora se inverte, uma vez que estamos avançando em um ritmo mais vigoroso. Amcham: As companhias têm oferecido capacitação local? Antonio Carlos Maranhão: Em alguns casos, sim, como na instalação do primeiro estaleiro, o Atlântico Sul, que hoje tem cerca de 10 mil profissionais trabalhando, dos quais 7,5 mil diretos e 2,5 mil indiretos. O governo do Estado, prefeituras municipais do entorno de Suape e o sistema S fizeram um esforço conjunto de capacitação que deu resultado. Foi possível atender às demandas iniciais do estaleiro. Hoje, estamos repetindo esse esquema na implementação do segundo estaleiro, o Promar. Trata-se de um plano de capacitação de 1,5 mil pessoas para esse trabalho. Amcham: Essa articulação entre governo e iniciativa privada tem sido importante? Antonio Carlos Maranhão: É essencial. Agora mesmo, estamos iniciando um convênio com a Petrobras e, dentro dele, está prevista a formação de 200 novos professores nas áreas de petróleo, gás e construção naval. Estamos em parceria – governo do Estado e Petrobras –, iniciando um processo para formação de 200 professores, que posteriormente capacitarão 4 mil novos trabalhadores. Amcham: O empresariado da região também apontou no levantamento da Amcham que a infraestrutura de transportes da região é precária, principalmente as estradas. Quais as providências que o governo está tomando? Antonio Carlos Maranhão: É evidente que, no ritmo de desenvolvimento de Pernambuco e especialmente nos pontos de crescimento mais intenso como a Região Metropolitana de Recife e Suape, temos alguns gargalos de infraestrutura; porém, eles estão sendo tratados. Então, hoje temos em andamento a obra da rodovia Transnordestina, que liga Suape ao sertão, prossegue até o Piauí e faz a interligação com o Porto do Pecém, no Ceará. Está em construção um Arco Metropolitano, que sai do Sul de Suape e chega próximo de Goiana, ao Norte, onde fica o polo famoquímico. Além disso, para Suape, especificamente, teremos o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT, um metrô de superfície), uma melhoria no transporte urbano. Fala-se desse gargalo com razão, mas é um ônus do desenvolvimento. Somente nas obras da refinaria e na petroquímica de Suape, que são vizinhas de muro, estão trabalhando cerca de 35 mil pessoas. Considerando uma média de 50 pessoas por ônibus, isso significa 700 ônibus. Como os horários de entrada e saída coincidem, é impossível não haver congestionamentos.

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Pensando no longo prazo, Pernambuco avança em ferrovias e transporte marítimo Além de reforçar a malha rodoviária, Pernambuco está investindo na melhoria de outros modais logísticos, como o ferroviário e o marítimo, como parte de um projeto de infraestrutura logística de longo prazo. Este é um desafio pernambucano e nacional, indicou Frederico Amâncio, vice-presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape. “O Brasil já deveria, há décadas, contar com uma estrutura maior de ferrovias e ter ampliado o transporte marítimo, como a cabotagem”, disse Amâncio no seminário Competitividade Regional em Recife. Para ele, é extremamente preocupante a manutenção da visão de que a prioridade de investimentos está em rodovias. Devemos continuar melhorando e recuperando nossas estradas, mas precisamos mudar o foco do trabalho e incentivar os demais modais de transporte, sustentou. “Todos os países da Europa, os EUA, o Canadá e a China já avançaram há décadas no fortalecimento de outros modais de transportes”, lembrou.

Integração de transportes para reduzir custos Para o Cone Suape, braço da construtora Moura Dubeux, a integração dos meios de transporte é uma das formas mais eficientes de redução de custos. “Dados revelam que a multimodalidade nos transportes ferroviário e de cabotagem (marítimo) barateou os custos logísticos em países que conseguiram implementá-la”, disse Arménio Ferreira, diretor de desenvolvimento do Cone Suape. “Para um país do tamanho do Brasil, o modal ferroviário é crucial. Não há outra saída para conseguir atender às necessidades de transporte com alta velocidade e baixo custo”, acrescentou. O Cone (abreviatura de Condomínio de Negócios) é responsável pela infraestrutura básica para as empresas interessadas em se instalar no entorno do Complexo de Suape, e é constituído por quatro unidades de negócios: Multimodal (logística), Multicenter (serviços), ZPE (Zona de Processamento de Exportações) e Plug & Play (áreas prontas para a implantação de indústrias).

Vias férreas para ampliar conexão com outras regiões Amâncio, do Complexo de Suape, destacou que a construção de uma nova malha ferroviária pela Transnordestina Logística aumentará a interligação do Nordeste com o Centro Oeste, maior região produtora de grãos do País. “O projeto da Transnordestina permitirá a Pernambuco não só um acesso maior aos grãos do Centro Oeste, mas também se conectar a outros projetos importantes, como a ferrovia Norte Sul”, comentou. Além dos grãos, o transporte de minérios igualmente tende a se intensificar por via férrea, rumo ao porto de Suape. Pernambuco é uma região estratégica para a Transnordestina, avalia Miguel Andrade, gerente de Negócios da

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Transnordestina Logística. “Grande parte da nossa malha ferroviária está concentrada no Estado, e estamos 100% alinhados com o crescimento da região”, falou. Para Andrade, os projetos em Suape são uma resposta da iniciativa privada ao chamado do Estado por investimentos. “Uma série de ações dos governos estaduais, em especial de Pernambuco, eliminou alguns gargalos de investimento. Entre os ganhos, estão a rapidez nos processos de desapropriações e licenças ambientais”, observou.

Visão de futuro A efervescência da economia pernambucana e, em particular, a concretização do Complexo Industrial e Portuário de Suape, são uma realidade hoje devido ao planejamento feito no passado, concordam os palestrantes do evento da Amcham. “Pernambuco está na situação atual (de receber investimentos) devido, em grande parte, à lucidez de investir em infraestrutura”, disse Tânia Bacelar, champion regional do programa Competitividade Brasil e sócia-diretora da Ceplan Consultoria. Tânia Bacelar, champion regional do programa Competitividade Brasil e sócia-diretora da Ceplan Consultoria

Tânia foi a mediadora do painel de infraestrutura, e acrescentou que o projeto de Suape, quando concebido, há cerca de trinta anos, foi desacreditado.

“Passamos décadas sobrevivendo a momentos diferentes tanto econômicos como políticos, mas conseguimos consolidar uma infraestrutura portuária e um distrito industrial que nos permitiram receber o atual bloco de investimento”, argumentou. Frederico Amâncio, responsável pelo Complexo de Suape, disse que o plano diretor da instalação do complexo foi projetado para suportar um desenvolvimento industrial e logístico até 2030 sem necessidade de ampliação antes do final desse período. “A maior parte dos investimentos públicos é focada no plano plurianual, dos próximos quatro anos. O plano diretor de Suape é focado em 2030, com ações desenvolvidas hoje e planejamento vinte anos à frente", assinalou. "Isso mostra que ter visão de futuro pode ser um grande fator de desenvolvimento, e o que estamos experimentando hoje é fruto do planejamento passado", concluiu.

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Ana Maria Souto Maior de Souza Neto, gerente de Capital Humano do C.E.S.A.R: incentivos a treinamentos e valorização de cursos técnicos são caminhos para formação de profissionais de TI Amcham: Há disponibilidade de mão de obra na área de Tecnologia da Informação (TI) na região? Ana Maria Souto Maior de Souza Neto: O setor de TI está aquecido na região. Estamos encontrando muita dificuldade para preencher vagas. Está complicado encontrar profissionais capacitados e nossos clientes têm ampliado as solicitações de projetos. Somos uma empresa global que atende muitas multinacionais, mas também corporações nacionais. Temos hoje cerca de 30 vagas que precisam ser imediatamente preenchidas e a previsão é de chegarmos a cerca de 100 vagas novas até dezembro. Contamos atualmente com 500 colaboradores, sendo 450 em Recife e o restante nas filiais de Sorocaba (SP) e Curitiba (PR), onde também é complicado achar profissionais. Não é um problema só de Recife. Amcham: O que tem sido feito para lidar com essa situação? Ana Maria Souto Maior de Souza Neto: Uma das vertentes é a retenção dos talentos. Cada vez mais, trabalhamos para a diminuição do turnover (rotatividade), que nos últimos meses foi de apenas 5%. Para isso, agimos em vários pontos, principalmente a comunicação. Os gerentes têm acesso todos os meses a informações da empresa – estratégias, projetos, desempenho das vendas e números diversos –, dados que devem ser repassados aos colaboradores. Os talentos são exigentes, querem saber o rumo da companhia. Chamamos esse programa de Conexão. Além disso, toda segunda-feira, circula a revista eletrônica C.E.S.A.R News, com informações semanais sobre prêmios e congressos, além de artigos. Há ainda preocupação com a saúde, com a qualidade de vida dos colaboradores. Oferecemos ginástica laboral, shiatsu e uma sala de convivência onde é possível até tirar um cochilo após o almoço. Além disso, há liberdade quanto ao vestuário. Os funcionários podem usar bermudas e chinelos. Garantimos, dessa forma, um ambiente sem formalidade e um bom clima. Amcham: Mas a companhia também procura manter uma política de benefícios e remuneração atrativa? Ana Maria Souto Maior de Souza Neto: Estamos sempre atentos aos benefícios. Recentemente, tivemos melhoria nos tickets refeição e no plano odontológico, por exemplo. Mas, logicamente, temos uma política de remuneração. No ano passado, fizemos uma pesquisa salarial nacional, na qual verificamos como estava nosso padrão em relação ao mercado e pela qual concluímos que estamos na média. Há um comitê específico para avaliar e conceder promoções e reconhecimentos de mérito. Outro mecanismo de retenção que posso mencionar é o rodízio, isto é, os engenheiros passam por vários tipos de projetos para que possam aprender novas tecnologias. Amcham: Como a empresa faz para buscar pessoas no mercado? Ana Maria Souto Maior de Souza Neto: Atuamos fortemente no programa de estagiários junto com as universidades. Então, semestralmente, temos contratado cerca de 20 a 25 estagiários para formação. Eles

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passam entre um e dois meses em treinamentos sobre as tendências tecnológicas. Alguns são absorvidos, entram como trainees e depois fazem carreira. Outra estratégia é a participação da companhia em eventos externos para divulgar nossas atividades e angariar pessoas. O C.E.S.A.R conta ainda com um programa de residência em software, no qual profissionais selecionados passam onze meses na empresa em treinamentos teóricos e práticos, em parceria com nossos clientes. Amcham: Os investimentos em treinamentos têm aumentado? Ana Maria Souto Maior de Souza Neto: Com certeza, treinamentos para pessoas que vêm de fora e também para as que estão dentro da organização. Um dos exemplos é o intervalo técnico, realizado às sextas-feiras, no qual engenheiros explicam seus cases a grupos de 35 a 40 pessoas. A aprendizagem é contínua. Recentemente, criamos um curso para formação de engenheiros de testes porque temos carência no mercado. Isso tudo é baseado em demandas de projetos que estão surgindo. Amcham: Na sua avaliação, é necessária maior aproximação das escolas técnicas e universidades com o meio empresarial para que haja adequação das grades curriculares às necessidades do mercado? Ana Maria Souto Maior de Souza Neto: Certamente. Encontramos muitas dificuldades porque aplicamos testes e fazemos entrevistas técnicas na seleção e, apesar disso, temos de contratar muitos profissionais com formação incompleta. As pessoas, muitas vezes, não têm sequer o domínio das matérias básicas de graduação, entre elas programação. Há necessidade de se fazer uma revisão da grade curricular e, assim, formá-las adequadamente. Se nos preocupássemos mais com uma formação voltada para a demanda de mercado e se houvesse um número maior de parcerias com as escolas e universidades, talvez os currículos fossem mais reais. Amcham: Uma das propostas mais defendidas pelo setor privado conforme a pesquisa da Amcham apresentada no seminário é a criação de incentivos fiscais para as companhias que investem em treinamentos, uma espécie de lei Rouanet. Qual é sua consideração a esse respeito? Ana Maria Souto Maior de Souza Neto: Isso seria importante, com certeza. Se tivéssemos mais recursos e apoio do governo federal, seríamos capazes de formar mais gente com maior velocidade. Por exemplo, estamos indo para as universidades por iniciativa própria para dar treinamentos aos estudantes sobre temas atuais porque temos a missão de desenvolver o mercado. Esse tipo de iniciativa é importante para aguçar nos alunos a curiosidade e o espírito voltado à inovação. Amcham: Quais outras medidas poderiam ser implementadas na esfera governamental? Ana Maria Souto Maior de Souza Neto: O resgate das escolas técnicas. O favorecimento dessa formação é fundamental. Outro aspecto é o Ministério da Educação (MEC) ter mais cautela na abertura de cursos dentro das universidades particulares principalmente porque as pessoas que se formam nem sempre estão aptas a assumirem posições nas empresas. É preciso maior exigência em relação às grades e aperfeiçoamento na formação dos professores.

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Anísio Brasileiro, reitor da UFPE: Estado precisa de mais parcerias para formação técnica Amcham: Quais os setores que mais sofrem com a falta de mão de obra qualificada em Pernambuco? Anísio Brasileiro: A construção civil e todos os segmentos envolvidos na área de infraestrutura sofrem mais. Há escassez de pessoas, especialmente em relação à formação no nível médio. Amcham: A formação superior tem acompanhado as necessidades do mercado no Estado? Anísio Brasileiro: Acredito que a formação superior está buscando alinhamento com as necessidades do mercado. Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por exemplo, tivemos a implantação dos cursos de Engenharia Naval e Engenharia de Energia, além da instalação de uma nova área de equipamentos na Engenharia Mecânica. A UFPE está bastante alinhada com o que o mercado busca atualmente. Da mesma maneira, a Universidade de Pernambuco (UPE) também segue esses passos com os cursos na área de petróleo. Acredito que o mais importante é fortalecer os institutos as escolas técnicas para a formação tecnológica. Amcham: Como avançar nesse fortalecimento dos cursos técnicos? Anísio Brasileiro: Isso é possível principalmente através de parcerias entre as Secretarias de Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo, de Educação e de Ciência e Tecnologia junto às universidades, formando um comitê de integração para focar a formação de recursos humanos. Amcham: A UFPE tem se relacionado com as empresas para aprimorar a formação? Anísio Brasileiro: Dentro da universidade, contamos com sete empresas juniores que estão fomentando as áreas de empreendedorismo e inovação. Temos cooperações de ponta com Petrobrás, Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), Celpe (Companhia Energética de Pernambuco) e também grandes empresas na área de informática. Além disso, estamos reestruturando a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento (Fade) para criar um marco regulatório que seja mais flexível, menos burocrático, para parcerias entre as empresas e a universidade. Amcham: Conforme sondagem da Amcham apresentada no seminário, uma das propostas priorizadas pelo empresariado para ampliar a capacitação de pessoal é a implementação de campi avançados no interior. A UFPE tem duas unidades no interior... Anísio Brasileiro: Cerca de 90% dos vestibulandos que ingressaram no campus de Caruaru não são de Recife, são estudantes do interior. É muito importante termos pólos de universidades em cidades como Caruaru e Garanhuns. Porém, agora, com programa de vestibular nacional na primeira fase, temos a presença de estudantes de outros estados na graduação. No campus de Recife, a grande maioria dos estudantes é da região metropolitana. Amcham: Em relação ao Porto de Suape, quais os principais desafios? Anísio Brasileiro: Os grandes problemas no Porto de Suape são o acesso à região, a logística de transporte muito precária e as rodovias. Outra questão que precisa ser pensada é a base social no entorno de Ipojuca, onde é preciso realizar projetos de formação de renda para evitar a formação de favelas. Nesse contexto, é muito bem vinda a mão de obra qualificada de outras partes do Brasil, mas precisamos nos qualificar para competir.

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Amcham: Como o sr. visualiza a questão de mão de obra no contexto da competitividade do Estado? Anísio Brasileiro: A questão de competitividade é um fenômeno mundial. Pernambuco precisa ter projetos estratégicos como o Suape Global, com os casos da Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia) e da Companhia Petroquímica, que são estruturas em que a competição acontece de forma global. Temos também o desafio de preparar a mão de obra com cursos técnicos na área de metalurgia. Amcham: Quais as medidas que podem ser tomadas pela iniciativa privada para superar esse gargalo? Anísio Brasileiro: As empresas precisam ser mais proativas, criando departamentos de pesquisa e inovação dentro de suas estruturas. Além disso, é preciso aproveitar melhor os jovens em programas de estágio e trainee.

Frederico Amâncio, vice-presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape: desafio regional e nacional é aumentar participação do modal ferroviário e criar grande plano de cabotagem Amcham: Como está a situação dos modais de transporte em Pernambuco? Frederico Amâncio: Em Pernambuco, estamos bem posicionados no que se refere a portos e aeroportos. Suape talvez seja o porto (nacional) com o projeto mais completo de infraestrutura, e as obras estão em amplo desenvolvimento, assim como nosso aeroporto internacional. Mas um grande desafio que temos, tanto no Estado como no Brasil, é o desenvolvimento logístico do modal ferroviário. Amcham: Poderia dar um exemplo? Frederico Amâncio: O projeto da Transnordestina Logística é importantíssimo para o Estado, que tem pouca malha ferroviária. Esse projeto cria novas perspectivas de integração, uma vez que se interligará a outros, como a ferrovia Norte Sul e a Centro Atlântica (ambas passam pelas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste). Amcham: E quanto ao modal rodoviário? Frederico Amâncio: Em todo o mundo, o modal rodoviário é utilizado para curtas distâncias, enquanto o ferroviário e o marítimo servem para longas. No Brasil está tudo errado. Hoje se usa muito pouco o modal marítimo de cabotagem. Aqui, o tronco ferroviário é usado para transporte de cargas específicas e o rodoviário é o grande modal, mesmo para longas distâncias. Esse perfil precisa mudar. Amcham: Como isso poderia ocorrer? Frederico Amâncio: O meio rodoviário tem papel importantíssimo, mas nosso desafio é ampliar a participação do modal ferroviário em nível regional e nacional. Além disso, precisamos desenvolver um grande plano para aumentar as operações de cabotagem, de forma a usar melhor nossa estrutura portuária e a extensa costa marítima. Amcham: Como estão as obras de interligação de transportes? Frederico Amâncio: Em Suape, as obras estão no prazo. O que realizamos hoje atenderá necessidades atuais e dos próximos quinze anos. No caso da Transnordestina, as obras estão mais adiantadas do que o ramal do Ceará, por exemplo. A ferrovia Transnordestina deve chegar a Suape, se tudo der certo, em 2013, e criará não só possibilidades de trazer mercadorias para embarque em Suape, mas também aumentará o fluxo de transportes em

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todo o Nordeste. Amcham: Em termos de infraestrutura e mão de obra especializada, qual é a necessidade mais urgente de Pernambuco? Frederico Amâncio: No Estado, o desafio maior é o da mão de obra qualificada. Temos muitos projetos de infraestrutura em curso e outros em fase de planejamento. Por isso, o ritmo de crescimento no Estado está muito acelerado, consequentemente aumentando a demanda por pessoal. Temos de planejar uma forma de suprir essa necessidade. Essa é uma questão que envolve não só formação profissional, mas também discussões sobre a educação fundamental e o ensino básico.

Miguel Angelo Barroso Andrade, gerente de negócios da Transnordestina Logística: com mais ferrovias, Nordeste poderá desenvolver novos segmentos da economia Amcham: Que oportunidades a Transnordestina vê em relação ao desenvolvimento de infraestrutura logística em Pernambuco? Miguel Andrade: Somos uma concessionária de ferrovias na região Nordeste, e administramos uma malha de 4 mil km de extensão. Estamos construindo uma ferrovia, a Nova Transnordestina, que será responsável pelo escoamento de produtos a granel do sul do Piauí, sudeste da Bahia e sudoeste do Maranhão para os portos de Pecém (CE) e Suape (PE). A construção de uma ferrovia é um fato real. Construiremos em bitola larga (sistema usado nas novas ferrovias), o que também é um grande desenvolvimento. Amcham: Que setores tendem a se beneficiar mais com a ampliação ferroviária na região? Miguel Andrade: Pernambuco é um grande detentor de jazidas de gipsita (matéria-prima do gesso). É um negócio que não se desenvolve por falta de logística. Com a Nova Transnordestina, esse segmento pode se desenvolver a partir do aumento da exploração desse insumo, trazendo mais divisas para o Estado. Amcham: Poderia dar mais detalhes? Miguel Andrade: A cadeia de exploração vai desde a mineração até a calefação, o processo de beneficiamento do minério em pó de gesso ou placas dry wall (tecnologia que substitui as vedações internas convencionais) para a construção civil. Também haverá muitas oportunidades para o desenvolvimento de gesso agrícola, insumo usado como corretivo de solo. Amcham: Como o transporte ferroviário pode interagir com os outros modais? Miguel Andrade: Temos estudos de impacto financeiro que não podemos divulgar, porque somos uma companhia aberta (a Transnordestina é uma das empresas da Companhia Siderúrgica Nacional). Posso dizer que, em termos logísticos, a construção da malha ferroviária tirará uma parcela significativa do tráfego do modal rodoviário. Isso gerará custos menores para as empresas que se utilizarem das ferrovias.

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