São Paulo, 25 de outubro de 2012
O Fórum Conectividade e Mobilidade – A Transformação nos Modelos de Negócios, realizado pela AmchamSão Paulo em 25/10, reuniu consultores, organizações produtoras e distribuidoras de conteúdo e empresas de tecnologia para analisar o novo perfil dos consumidores num mundo cada vez mais online, a diversificação dos canais de consumo, e impactos e oportunidades dessas mudanças para os modelos de negócios.
O evento mostrou que os consumidores agora são pares das companhias, contribuindo para desenvolvimento de produtos, precificação, comunicação, vendas e pós-vendas. “O consumidor não aceita mais uma relação hierárquica com as empresas, e o conteúdo é a moeda de troca para essa interação”, apontou Livia Chanes, sócia associada da McKinsey e responsável por moderar os debates. Leia mais aqui.
No fórum da Amcham, também houve espaço para a discussão de tendências de tecnologia para os próximos anos, envolvendo, além de mobilidade e conectividade, pontos como aumento de integração de canais, consumerização e otimização tecnológica. Saiba mais aqui.
Veja ainda entrevistas com alguns dos palestrantes do evento:
Lívia Chanes
Nelson Faria Junior
Sócia associada da McKinsey indica que empresas que conseguem ter presença forte e integrada nos mundos online e offline são capazes de extrair mais valor dos consumidores
Diretor de Tecnologia e Inovação da Rede Globo defende que as empresas se prepararem cada vez mais para oferecer relacionamento individual com o consumidor, com conteúdo atual
Lucas Pestalozzi
Cássio Tietê
Diretor comercial da TNS Brasil diz que as companhias devem olhar para as tecnologias pensando nas necessidades do consumidor e transformá-las em negócios
Diretor de Marketing do segmento de Tablets e Smartphones da Intel aponta busca crescente por consumerização de dispositivos de entretenimento e seu aproveitamento como ferramentas de produtividade e criação de conteúdo
VOLTAR INICIAL Outras entrevistas com palestrantes do fórumAdaPÁGINA Amcham você encontra em www.amcham.com.br
Com internet, poder de escolha do consumidor é ampliado e empresas são levadas a reformular modelo de negócios O mundo digital mudou não apenas os clientes, mas também a forma de fazer negócios. A experiência de consumo estendida ao universo online e compartilhada nas redes sociais se tornou decisiva para as compras, o que intensificou o trabalho das empresas de oferecer bons produtos e relacionar-se com os clientes não só no ambiente físico, mas também no virtual. O consumidor ampliou seu poder de escolha perante as companhias, explica Lívia Chanes, sócia associada da consultoria McKinsey. “O fundamental foi a mudança de mentalidade das empresas, que hoje veem os consumidores como pares na construção de mercado”, afirmou ela no Fórum Conectividade e Mobilidade – A Transformação nos Modelos de Negócios, promovido pela Amcham-São Paulo em 25/10. A relação entre empresa e consumidor sofreu uma transformação hierárquica e se reflete na forma como as companhias operam e se comunicam com seus consumidores nos mais diversos processos, seja no desenvolvimento de produtos, preços ou canais de venda. Antes da popularização da internet e dos aparelhos móveis, a compra era baseada na escolha entre cinco ou seis marcas. Hoje, o processo migrou para uma jornada cíclica. “Ao comprar um carro, o cliente olha, avalia o que os pares e amigos nas redes sociais acham e acrescenta ou troca marcas conforme a repercussão. O momento da compra vem depois”, conta Lívia. A experiência de uso, quando o consumidor compara a marca que comprou com o que foi prometido, será compartilhada posteriormente. “Se ele teve boa experiência, manterá a marca. Se não, retoma o ciclo do zero.”
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Redefinindo a atuação
• Comunicação
Construir modelos que funcionam nesse novo cenário ainda é um grande desafio para as empresas. O caminho para o sucesso passa por unirem-se aos consumidores.
Comerciais na TV não são mais suficientes. As campanhas precisam ser orquestradas para interagir com o consumidor em todos os pontos de contato. O uso criativo das redes sociais pode impulsionar as vendas de produtos.
A representante da McKinsey citou cinco etapas em que os clientes estão ajudando a redefinir o
• Vendas
modo de as companhias atuarem: desenvolvimento
Com a proliferação dos canais online, é necessário
de produtos, precificação, comunicação, vendas e
que as empresas caminhem dos formatos clássicos
pós-vendas.
de e-commerce para novos, como o social commerce. No Brasil, o volume médio de negócios
• Desenvolvimento de produtos
no mundo virtual se expandiu 36% nos últimos
“Até dez anos atrás, eram os marqueteiros e
anos, e deve encerrar 2012 movimentando cerca
cientistas que determinavam a próxima geração
de R$ 23 bilhões, estima a McKinsey.
do portfólio da empresa”, ilustra Lívia. Hoje, há comunidades inteiras de consumidores dispostas a
A influência da internet só faz aumentar e já
participar desse desenvolvimento. “Se gostam da
influencia as vendas também no mundo físico.
marca, oferecem insights e dizem espontaneamente
“Todos os varejistas físicos estão entrando em
o que querem ver nos próximos produtos.”
e-commerce. Até lojas de roupa, que achávamos que não teriam sucesso, estão obtendo resultado
Baseadas nessa tendência, muitas companhias
na internet.”
começam a realizar o crowdsourcing – modelo que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e
• Pós-compra e relacionamento
voluntários espalhados pela internet. “Deixa-se de
Prestar um bom atendimento após as vendas é
ter a inteligência interna para buscar, dentro dessa
essencial para garantir a boa imagem da marca,
multidão, as ideias a serem operacionalizadas
e as redes sociais se tornaram o fórum preferido
internamente.”
dos clientes quando querem comentar sobre um produto. As empresas ainda estão se adaptando
• Precificação
à nova realidade, se estruturando para responder
A precificação de produtos também precisa ser
nesses canais com a qualidade e a velocidade que
reavaliada pelas companhias. É comum os clientes
o cliente espera.
compararem preços de mercadorias em tempo real com o de concorrentes, via smartphones. “Há
Outra reflexão importante a ser feita é que não existe
transparência muito maior de preços, e as empresas
‘consumidor digital’, avalia a consultora. “Na verdade,
necessitam pensar em como se diferenciar nesse
quase todos os consumidores usam o mundo digital.
contexto”, observa Lívia.
É errado pensar em dois segmentos [físico e digital],
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pois o cliente evoluiu e usa o digital como extensão
nunca foi tão grande. “Com a mão, ele pode tudo:
da experiência de loja, propaganda e marca.”
comprar, terminar o namoro ou reclamar”. Por isso, a Net tem investido em flexibilidade de conteúdo,
Esse novo consumidor também foi abordado por
dando ao cliente a possibilidade de escolher seus
Lucas Pestalozzi, diretor comercial da TNS Brazil.
próprios canais. “O desafio é ter visão de médio e
“A mudança é geral, mundial, não de geração específica, e há várias características que são oportunidades de negócios. As empresas precisam ter coragem de ousar”, indica ele.
longo prazos para conseguir preparar a estrutura para atender o que o consumidor deseja.” Na Editora Abril, onde os carros-chefe são as revistas periódicas, a ordem é avançar na oferta de
Influência em grupos de mídia
conteúdo em formato eletrônico. “O divisor de águas foi o surgimento dos tablets como mídia, o que
Durante o seminário, representantes de empresas
trouxe a questão de como carregar o conteúdo das
contaram como a conectividade e a mobilidade
revistas para o dispositivo”, conta Gustavo Mansur,
estão influenciando seus negócios.
gerente de Negócios Mobile da Editora Abril.
Os investimentos em melhoria de transmissão são constantes na TV Globo, mas a geração de conteúdo é o que mais importa. “Não adianta ter
Impactos na indústria
qualidade de transmissão e o conteúdo não atender [às expectativas]”, afirma Nelson Faria, diretor de
Crescentemente,
os
consumidores,
nas
lojas,
Tecnologia e Inovação da Rede Globo, onde 1300
têm recorrido à comparação de preços por meio
pessoas se dedicam ao desenvolvimento de inovação.
de dispositivos móveis. “O consumidor acessa a internet para verificar se o preço do produto em
no
uma loja faz sentido diante do que ele viu em
desenvolvimento de conteúdo complementar entre
outras”, afirma Carlos Paschoal, gerente geral de
TV aberta e outros dispositivos. “Defendemos o
Marketing da Sony Brasil.
Faria
disse
que
a
emissora
trabalha
caminho de segunda tela, enriquecendo a primeira com informação. A música das Empreguetes
Para o Paschoal, uma decisão de compra carrega
[personagens da novela Cheias de Charme] foi
um componente emocional intenso, motivo pelo
lançada na internet e depois foi para a televisão.
qual o comprador potencial sempre consulta
Também muita coisa da novela Avenida Brasil,
sua rede de relacionamentos. “É importante que
como uma aula de dança, teve vídeo exclusivo para
entendamos isso e vejamos como favorecer esse
a internet”, exemplifica.
processo ao consumidor final”, comenta.
André Guerreiro, diretor de Inteligência de Mercado da
A conectividade dos consumidores traz grandes
Net, reforçou que o poder de escolha do consumidor
oportunidades,
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na
opinião
de
Paulo
Matos,
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supervisor de Inovação e Estratégia da Fiat. “O
A indústria automobilística tem trabalhado para
automóvel está começando a se tornar o vilão
transformar os carros em plataformas interligadas
da qualidade de vida das pessoas [por conta da
com aparelhos móveis, de modo a permitir acesso
grande quantidade em circulação nas metrópoles].
a mais dados. “O automóvel será mais automático,
A conectividade vem como a grande solução para
a exemplo dos aviões. A conectividade pode
isso”, afirma.
ajudar a resolver problemas de segurança, como acidentes”, antecipa o executivo da Fiat.
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Conheça as principais tendências de tecnologia para os próximos anos
A internet vem mudando a cultura de consumo ao mesmo tempo em que há uma penetração cada vez mais forte de gadgets, como smartphones e tablets. Esses dois vetores estão alterando o modo como o consumidor escolhe seus produtos e os compra, a maneira como os profissionais trabalham e sua produtividade, e os meios pelos quais as pessoas se relacionam. Várias tendências para os próximos anos foram destacadas pelos participantes do Fórum Conectividade e Mobilidade – A Transformação nos Modelos de Negócios, em painel com executivos de empresas de tecnologia. Acompanhe as cinco principais, compiladas pela Amcham: 1. Mobilidade e conectividade A mobilidade e a conectividade se intensificarão muito nos próximos anos, com dispositivos mais acessíveis, eficientes e integrados. Esse movimento ajuda a atender as necessidades e resolver os problemas tanto do consumidor quanto das companhias – incluindo as pequenas – em tempo real, avalia Weber Canova, vice-presidente de Inovação e Tecnologia da TOTVS. “A ideia é capturar a informação e a transação onde quer que aconteçam.” Bruno Nowak, diretor de Estratégias e Aquisições de Novos Negócios da Motorola Solutions, cita alguns exemplos de usos de dispositivos que ainda podem parecer distantes, mas cujos avanços são testados por companhias mundo afora. É o caso do RFID (identificação por radiofrequência) e de análises de
vídeos para observar prateleiras (de supermercados e redes varejistas) e entender onde há quebras de vendas. O RFID é capaz de verificar se um item acabou em uma gôndola e enviar um alerta à área de estoque de uma rede de lojas a fim de que seja providenciada reposição ou compra de mais itens com o fornecedor. “A conectividade se acelerará. A internet das coisas permitirá que múltiplos dispositivos estejam conectados”, avalia Marcelo Leite, diretor de Novas Tecnologias da Cisco. “Hoje, menos de 1% dos dispositivos conectáveis está conectado. Imagine quando começarmos a progredir!” O futuro será o lugar de automóveis com conexão à web, televisões integradas a tablets e computadores, geladeiras capazes de identificar produtos e comprálos automaticamente pela internet.
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Cássio Tietê, diretor de Marketing do segmento
Frigo cita o exemplo das novelas para ilustrar
de Tablets e Smartphones da Intel, aponta que a
a necessidade de as empresas atuarem em
tecnologia que conhecemos hoje também deve se
múltiplos canais de forma coordenada. “Durante
adaptar à convergência. “Os ultrabooks [laptops com
a novela, as buscas pelos personagens crescem.
maior capacidade de processamento e autonomia
Mas não são apenas pessoas procurando mais
de uso] trarão mais interfaces de toque e gestos”, exemplifica. “Eles terão formatos diferenciados, como versões conversíveis que se transformam em tablets, produtos que crescerão muito.” Tietê cita ainda que os atuais smartphones caminham para se equiparar, em termos de velocidade de processamento de dados, aos computadores. “Cada vez mais, as pessoas demandam processamento
informações sobre a novela, e sim sobre o colar e a roupa dos protagonistas”, explica. “Sabemos que o consumidor, depois de ver algum produto na TV, o busca na internet. A empresa que exibe o produto na TV precisa ter também uma mensagem receptiva na internet; caso contrário, abre espaço para os concorrentes.”
rápido, querem fazer tudo ao mesmo tempo e ter
A maior integração implica em uma relação
informações contextualizadas, imagens em alta
transparente em relação à política de preços praticada
definição e execução de multitarefas. Logo os
pelas companhias nos diferentes canais e também
smartphones terão desempenho e capacidade de
quanto à abertura para ouvir o que o cliente tem
um computador normal.”
a dizer, seja contribuindo para o desenvolvimento de produtos e serviços, seja fazendo críticas. Neto,
2. Integração de canais
da LG, defende que as “companhias estejam mais
Se para o consumidor todas essas novidades trazem
próximas
facilidade, para as empresas elas representam,
interagindo com ele”.
além de uma oportunidade, um desafio: é preciso criar mais canais de contato com o cliente a fim de facilitar a interação e alavancar novas oportunidades de negócios, e manter esses canais alinhados de maneira a que os consumidores percebam unidade, continuidade, enfim, um relacionamento único com diversas formas de preenchimento.
dos
consumidores,
entendendo-o
e
Nowak, da Motorola Solutions, aponta que a relação no comércio, no passado, era muito mais pessoal, o que permitia que o vendedor pudesse oferecer aos clientes soluções adequadas às suas necessidades. “O tratamento entre conhecidos perdeu espaço e ficou impessoal, mas a internet
Os canais de compra e relacionamento terão de estar cada vez mais integrados, explica Milton Neto, gerente geral Digital e Smart TV da LG Electronics. Pedro Frigo, gerente de Estratégias de Aquisições de Novos Negócios do Google, reforça: “O negócio é investir para ter integração de canais”.
ajuda a trazer esses vínculos de volta, essas possibilidades de personalização”, diz. As redes sociais servem como plataforma de contato, por meio das quais os clientes podem expor seus desejos em relação a produtos ou serviços, suas críticas sobre problemas e sugestões de resolução. Os rastros de navegação pela rede
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também geram dados importantes que podem ser
chamada de consumerização, ou BYOD (Bring Your
aproveitados para antecipar interesses dos clientes.
Own Device, ou seja, traga seu próprio dispositivo).
Livia Chanes, sócia associada da consultoria
Leite, da Cisco, diz que o BYOD amadurecerá e
McKinsey & Company, lembra que é preciso
as empresas passarão a ver esses aparelhos dos
“transformar as pegadas da internet em dinheiro”.
colaboradores como fontes importantes para que
Ela conta, como um exemplo de sucesso, o caso de
sejam produtivos, tendo atenção a riscos quanto
uma rede de supermercados da Coreia do Sul que
a segurança de informações. “Ganhamos em
criou um algoritmo (código de programação) capaz
agilidade, redução de custo, eficiência e satisfação
de verificar, entre suas consumidoras que estavam
dos funcionários.”
grávidas, que tipo de produtos elas consumiam antes de ter o filho. O sistema ajudava a antecipar
5. Otimização tecnológica
promoções especiais para essas mulheres
A otimização tecnológica, por fim, tem relação com
.
o melhor uso dos dados e a contínua evolução
3. Pagamento pelo celular
do desenvolvimento de produtos e serviços. O
A mesma rede sul-coreana lançou um sistema revolucionário de compras: uma prateleira virtual instalada no metrô exibe uma cesta de produtos que podem ser escaneados com a câmera do celular, por meio de um leitor de QR Code. Com poucos cliques, o cliente consegue fechar a compra, pagar e seguir a viagem no transporte público, e o pedido chega ao seu endereço no mesmo dia.
armazenamento, por exemplo, já conta atualmente com a nuvem de computadores (cloud computing), que permite acesso remoto a bancos de informações com capacidade crescente. O tamanho dos aparelhos, a seu turno, tende a diminuir. Para 2013, Tietê diz que a Intel já pesquisa chips menores do que o tamanho de um
Para Nowak, avanços nesse tipo de tecnologia tendem a ficar cada vez mais frequentes daqui para a frente. “São quebras de paradigma fechar uma conta ou pagar uma compra usando o celular ou escaneando as mercadorias desejadas e fazendo com que sejam entregues em casa, poupando tempo para ser usado em outras coisas, como ir ao cinema.”
vírus da gripe, com altas velocidade e capacidade de processamento. Enquanto isso, as baterias também devem ganhar mais autonomia: “ao reduzir a microarquitetura, queremos gerar uma bateria capaz de durar até dez dias em stand by”. Tudo isso vai ao encontro da tendência de otimizar o uso da tecnologia e dos dados. “O volume de dados que geramos nos últimos dez anos é dez vezes maior
4. Consumerização Se o celular já é companheiro inseparável de boa parte dos indivíduos, dentro das empresas a
do que o produzido em todo o restante da história. Esse volume é gerado, mas ainda não é convertido
tendência apontada pelos especialistas é de que os
no potencial que poderia ter de negócios”, aponta
gadgets de seus funcionários sejam crescentemente
Livia, da McKinsey, instigando a reflexão sobre um
incorporados ao ambiente de trabalho. A tendência é
melhor aproveitamento de oportunidades.
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Lívia Chanes, sócia associada da McKinsey: empresas que conseguem ter presença forte e integrada nos mundos online e offline são capazes de extrair mais valor dos consumidores
A m c h am: Qual foi a grande mensagem do seminário?
Am ch am: Das tendências debatidas no evento, qual é a mais importante?
Lí v ia Chanes: Esse novo consumidor tem um jeito diferente de operar mentalmente. Ele não
Lív i a C han es :
se conforma mais em ter coisas ‘empurradas’
de relação hierárquica das empresas com os
pelas empresas, quer participar dos processos,
consumidores, passando a uma nova situação em
tem opiniões e deseja se fazer ouvir. Por isso, as
que os consumidores se veem como pares das
companhias precisam se organizar de forma diferente
companhias na construção de mercado. Isso se
para construir os modelos de negócios e comerciais,
reflete na forma como as empresas operam e se
e engajar o consumidor. Também falamos de como
comunicam com esses consumidores nos mais
fazer precificação, desenvolvimento [de produtos]
diversos processos, seja para desenvolver produtos,
nesse novo contexto, como vender e usar todo esse
seja para estabelecer o preço e os canais de venda.
mundo digital seja de canal, conteúdo e mídia, para
Isso significa realmente olhar os consumidores
complementar o negócio no mundo físico.
como extensão da marca, mais do que alguém
A
mudança
de
mentalidade,
passivo que aceita o que a empresa propuser e A mc h am: O mundo digital tende a predominar sobre
acaba consumindo o produto.
o físico? Am ch am: Em sua apresentação, a sra. disse que Lí v ia Ch anes: Não vemos canibalização, mas
não existe consumidor digital. Poderia explicar?
uma sinergia muito grande entre os dois canais. As empresas que conseguem ter presença forte e
Lív ia C han es : Quando se fala do consumidor digital,
integrada nos dois mundos acabam sendo capazes
existe a impressão de que uma parcela da população
de extrair mais valor dos consumidores. Não é
usa consumo digital e o restante não olha nada
simplesmente uma migração [de consumidores], mas um jogo de criação de valor.
[nesse meio]. Porém, quando vemos as pesquisas de mercado, acontece o oposto. Quase todos os consumidores, na verdade, usam o meio digital. É
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errado pensar em dois segmentos [virtual e físico].
de captar os consumidores que são de fato os
Foi o consumidor que evoluiu e usa o digital como
influenciadores, capazes de ajudar a desenvolver
extensão da experiência de loja, propaganda e marca.
produtos, e estruturar parcerias para que se traduzam em ajuste de portfólio. Os processos de
A mc h am: Como o mundo digital influencia o consumidor?
mapear novas características de produto mudam porque agora a criação é mais fragmentada. Há uma
Lí v ia C han es: Temos visto que a influência do mundo
série de pessoas dando opiniões que a empresa
online tem crescido até mesmo nas compras offline,
precisa ouvir e coordenar para, depois, trazer o que
e esse comportamento deve continuar acontecendo.
faz sentido aos negócios.
O que vemos são novas tendências, como a segunda geração de consumidores da internet usando mais
Am ch a m: Muitas companhias não estão conseguindo
a rede social para se comunicar, indo além do
aproveitar as oportunidades. Por quê?
e-mail, que era o foco da primeira geração. Haverá mudanças táticas à medida que surgirem novas
Lív i a C han es : Vemos que há barreiras internas,
ferramentas, mas, de forma geral, a conectividade
desde o medo de operar em um sistema novo até
e a mobilidade já são realidade e se fortalecerão
o jeito de falar com os consumidores. Trabalhamos
conforme a penetração da internet no Brasil
para ajudar as companhias a se estruturarem
crescer e os devices [dispositivos] se tornarem mais
internamente e discutimos o papel estratégico que o
poderosos para oferecer todas as informações que já
mundo digital traz para a estratégia de negócios, de
estão disponíveis em tempo real.
modo a que as empresas consigam operar da forma mais coordenada.
A m c h am: As empresas têm partido cada vez mais para a inovação aberta. Como isso deve evoluir?
Am ch a m: Qual é a mensagem que fica para as companhias?
Lí v i a Ch anes: Há duas vertentes. A primeira é a de mentalidade porque historicamente as empresas
Lív i a C han es : Elas têm de se mexer. Apesar do
decidiam sozinhas o que colocariam nos mercados e
tamanho das oportunidades que têm aparecido, as
ofereceriam aos consumidores, mas, agora, estão se
empresas brasileiras ainda estão um pouco atrás
colocando no mesmo patamar dos consumidores e
em termos de velocidade de resposta. A mensagem
chamando-os para trabalhar junto porque se sentem
é: vamos deixar o medo de lado e partir para a ação
no mesmo time. Também existe a parte processual,
porque a tendência virou realidade.
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Lucas Pestalozzi, diretor comercial da TNS Brasil: companhias devem olhar para as tecnologias pensando nas necessidades do consumidor e transformá-las em negócios A m c h am: Qual é a grande novidade em termos de
de estilo de vida. Num primeiro momento, ele só faz
mobilidade e conectividade atualmente?
o que a tecnologia permite; num segundo, faz tudo o que é possível com toda a tecnologia.
Luca s Pestal o zzi: A grande questão [para as empresa] é como aproveitar esse mundo de
Am ch am: Neste segundo momento, quase não há
oportunidades que se abriu. É preciso parar de
limitação. Como o sr. olha para o futuro da inovação
ter receio das mudanças e se atirar nelas. Hoje,
a partir dessa questão?
90% das informações são globais. O que está acontecendo na Europa, nos Estados Unidos e
Lucas Pes tal oz z i : O futuro será por esse caminho
no Oriente Médio é conhecido em outras partes.
do que cada um pode fazer com a tecnologia. Os
Do ponto de vista do consumidor, as mudanças
avanços tecnológicos são exponenciais. O que
são impactantes porque são generalizadas. Até as
vemos é que a tecnologia já consegue juntar muitas
crianças, atualmente, já nascem sabendo interagir
coisas separadas: e-mail, telefone, música etc. Se
com tablets. Ao mesmo tempo, elas dizem que a
olharmos hoje, parece até que as possibilidades são
revista é um iPad que não funciona. E eu penso:
infinitas. Já há um novo modelo em que a maior parte
quanto tempo levamos para entender uma revista?
das ideias vem de pequenas e médias empresas. [A
Hoje, a criança, intuitivamente, segue uma lógica
inovação] vem da tentativa e do erro das pequenas.
muito mais rápida. Contudo, ao mesmo tempo em
Isso já acontece muito com os aplicativos.
que tudo está mais global e uniforme, o local tem grande diferença. Vemos questões importantes
Am ch am: E a tendência de convergência dos
como [a necessidade de] compartilhamento e
produtos?
cocriação nos modelos de negócios, queremos tudo para hoje, não para amanhã, e que seja fácil. Isso
Lucas Pestal oz z i : O futuro, sem dúvida, é de
tudo pode ser um problema, mas prefiro dizer que é
convergência, dessa integração de aplicativos com
oportunidade. Todos os segmentos de negócios estão
a vida. Até o carro tem multimídia, muito embora
sendo afetados por essas mudanças. A convergência
ainda não tenha avançado tanto. Com a TV ocorre
surge para as empresas em como agregar todas
o mesmo. Há cada vez mais uma combinação de
essas mudanças. Ao consumidor, a convergência é
muitas coisas. Hoje vivemos a fase do tablet, que
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neste ano despontou em produção e consumo. A
É preciso pensar no tamanho das oportunidades que
próxima é baseada numa tecnologia que já existe,
estão à frente. Quando os tablets chegaram, por
que é de geolocalização, uma função que passará
exemplo, os víamos como um produto que tomaria
a ser usada para as mais diferentes questões e
o espaço do celular ou do computador.
finalidades. Até o consumidor pensava nesse argumento. O A mc ham: Para as empresas, qual é a grande lição
que percebemos hoje é que 70% das pessoas que
que fica dessas mudanças?
compram um tablet não deixam de usar nem o computador, tampouco o telefone. Portanto, ele
Lu cas Pes talo zzi: Para as empresas, o segredo é
se tornou um novo meio. É preciso deixar os
como pegar essas tecnologias e transformá-las num
receios de lado para aproveitar as oportunidades
negócio acertando a necessidade do consumidor.
dos novos espaços.
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Cássio Tietê, diretor de Marketing do segmento de Tablets e Smartphones da Intel: cresce busca por consumerização de dispositivos de entretenimento e seu aproveitamento como ferramentas de produtividade e criação de conteúdo A m c h am: Qual foi o maior destaque das discussões
de conexão, e estamos desenvolvendo uma bateria
do fórum da Amcham, na sua avaliação?
de maior duração para o produto. Também traremos elementos de segurança para assegurar a proteção
C á s s i o T ietê: A maior constatação é que, de fato,
da identidade digital e de dados dos consumidores,
a mobilidade já é real. Parte das estratégias das
e olhamos para os smartphones e tablets, que
empresas presentes contempla isso, seja através de
começam a ganhar desempenho e capacidade de
ferramentas de produtividade interna, seja como meio
processamento como um PC [computador pessoal].
em que os conteúdos são formatados e entregues
O avanço nessas vertentes continuará sendo grande.
ao consumidor, brindando-o com uma experiência diferenciada. Em termos de marketing móvel, passa
Am ch am: O que é prioridade para a indústria de
a ser fundamental estar ciente do contexto em que
processadores: velocidade ou desempenho?
o consumidor oferece informações relevantes, com agilidade e fácil assimilação. Em suas estratégias
C ás s i o T i etê: O mais importante para nós é
de marketing, as empresas têm de se ocupar de
proporcionar ao usuário uma experiência única e que
abordagens agregadoras, que vão do convencimento
seja completamente adequada à sua expectativa.
à comparação de preços.
Ele não quer mais depender de baterias e sente necessidade de obter informações instantaneamente,
A mc h am: Como a Intel se prepara para esse
com experiências ricas em recursos visuais e
horizonte de oportunidades?
gráficos. Quer que os dispositivos falem uns com os
Cá s s i o T iet ê:
outros,
sejam
mais
interconectados.
Isso
se
demorará um pouco, mas é parte de nossa visão
preocupa em trazer produtividade e desempenho aos
e apostaremos cada vez mais nisso. Faremos com
dispositivos para que eles se tornem mais ágeis e
que as experiências de uso passem por todos os
integrados aos aplicativos e softwares. Enxergamos
segmentos.
nisso uma grande vertente para investimentos e é
computadores em carro, TV, celular, tablet ou laptop
para lá que estamos indo. No próximo ano, a indústria
dentro do contexto em que o usuário vive.
Somos
uma
indústria
que
Ampararemos
o
desempenho
dos
proporcionará ultrabooks mais finos e com mais tempo
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A m c h am: Como se dá o diálogo com a indústria de
Am ch a m: Pode-se falar em ‘consumidor digital’?
dispositivos? C ás s i o T i et ê: O consumidor digital é um indivíduo, Cá s s io T ietê: Na prática, envolve grande colaboração
mas no Brasil esse fenômeno acontece em varias
com todos os fabricantes para identificar quem é
dimensões. Veja a sociabilidade do brasileiro. Ele
o usuário, sua segmentação, o modelo de uso e o
lança mão das redes sociais para compartilhar e
que ele fará com o dispositivo. Trabalhamos com as
influenciar a compra, deixar recados e impressões
variáveis de formato, conteúdo, software e hardware
positivas ou negativas sobre determinados produtos.
a serviço do consumidor. Isso exige muita pesquisa
O cliente está digitalizado sob o ponto de vista da
etnográfica, com estudo da relação do ser humano
comparação de preços, pois já aparece no ponto de
com a tecnologia, como ele usa e manifesta seu ‘eu
venda com várias alternativas de produtos.
digital’, para acelerar o desenvolvimento conjunto de Am ch a m: Como a tecnologia está mudando esse
produtos.
consumidor? A m c ham: Uma das discussões do fórum da Amcham foi quanto à influência da conectividade e da
C ás s i o T i et ê: Ele já está treinado sobre o que pode
mobilidade nos segmentos B2B (entre empresas)
fazer com cada tecnologia antes de entrar no ponto
e B2C (empresa-consumidor final). Como o sr.
de venda. Voltando a falar sobre marketing móvel,
enxerga esse movimento?
à medida que o indivíduo permite interações sociais e compartilhamento de sua vida pessoal, será
C á s s i o Tietê: Nos EUA, vemos grande número de consumidores e executivos que começam a usar tablets e dispositivos. Os executivos de B2B querem elegância e usabilidade, enfim, uma experiência mais diferenciada e rica. Ao mesmo tempo, precisam de mais produtividade e integração com o ambiente legado, e também gerir o custo da infraestrutura que isso acarreta. Vivemos um momento de transição e apostamos em mais dispositivos que servirão a propósitos múltiplos a partir de 2013. A consumerização de dispositivos de entretenimento e seu aproveitamento como ferramentas de produtividade e criação de conteúdo é o que buscamos cada vez mais. Traremos esses formatos
abordado por ofertas e promoções quando entrar, por exemplo, em um shopping. Isso já acontece hoje. Temos uma parceria com a Petrobras em um projeto chamado de Posto de Gasolina no Futuro. Quando o cliente chega para abastecer, o sistema do posto já sabe quem ele é, que tipo de óleo usa e o que a loja de conveniência pode oferecer. Também podem ser dadas informações sobre aspectos de segurança e onde é possível trafegar. Tudo isso com base no perfil do usuário e estabelecimentos que querem se relacionar com ele. Esses vínculos já podem ser estabelecidos, o que gera grandes oportunidades.
para os mundos do consumo e corporativo.
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Nelson Faria Junior, diretor de Tecnologia e Inovação da Rede Globo: empresas têm de se preparar para oferecer relacionamento individual com o consumidor, com conteúdo atual A m c h am: Como a tecnologia está influenciando o
uma notícia ou vídeo on demand [sob demanda],
consumidor?
o que exige assinatura para acesso ao conteúdo. A Globo fornece esse tipo de conteúdo, mas o retorno
N e l s on Far ia J uni or:
A
conectividade
está
comercial vai para a empresa telefônica.
enriquecendo o conteúdo. Temos um portfólio [de programas] para TV que pode ser trabalhado
Como segundo aspecto, as novas mídias acrescentam
em diferentes mídias. A TV aberta é a principal
informação que a TV não dá, e faz sentido explorar
receptora, mas também desenvolvemos soluções
esse nicho. Se alguém está assistindo ao futebol,
para que todos os sistemas com conectividade
há uma série de dados produzidos no jogo que não
tenham conteúdo ajustado para suas mídias. A
se consegue mostrar na TV. Se esses dados forem
ideia é ter um sistema que enriquece a televisão
gerados via segunda tela, aí é possível monitorar o time
aberta, onde está o conteúdo mais importante.
preferido, promoções e um conjunto de informações
Imagino que, com o tempo, a tendência é de que
que enriquece o conteúdo. O mesmo pode ser feito
isso tudo se transforme em uma grande transmídia
em uma novela ou no Big Brother Brasil [a 13ª
[circulação de informação em múltiplas plataformas
edição do reality show está prevista para janeiro],
de comunicação] com jogos, animações e análises
que está vindo agora para os gadgets [dispositivos],
programadas para todas as mídias.
com uma série de informações complementares que não competem com as da TV aberta.
A mc h am: Em relação à mobilidade, a popularização dos
dispositivos
móveis
cria
que
tipo
de
Am ch am: Com isso, aumenta a interatividade...
oportunidades para a Globo? N e l s on Fari a J un i or: A rede social ajuda muito N e l s on Far ia J u ni or: A mobilidade tem dois
nisso. Veja o caso da novela Avenida Brasil, que
aspectos. O primeiro é a portabilidade da TV digital, que
gerou mais de 1,2 milhão de comentários no Twitter
permite assistir à programação aberta em um celular,
no capítulo final. Não foi a Globo que gerou esses
em qualquer lugar, sem pagar nada. Há também o
dados, mas as pessoas. Essas comunicações acabam
caso da TV conectada por dados telefônicos, como
favorecendo a TV aberta.
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A m c h am:
Falando
em
redes
sociais,
que
a da novela automaticamente. Estamos trabalhando em um software para melhorar a relação entre
oportunidades elas podem gerar?
consumidor e empresa. N el s on Far i a J uni or: Algumas startups estão desenvolvendo soluções de segunda tela. Não
Am c h am:
acreditamos em algo que interrompa a história para
importantes do seminário, na sua avaliação?
Quais
foram
as
conclusões
mais
se fazer uma compra. Quando uma pessoa assiste à televisão, não quer que nada interfira no conteúdo
N e l s on Fa ri a J un i or: As empresas têm de se
principal. Já a segunda tela é muito adequada à
preparar para oferecer relacionamento individual com
compra por impulso. Alguém está ali assistindo
conteúdo atual. É preciso olhar para aquela pessoa
à TV, vê um carro e pode receber informações na
que está assistindo à sua programação como a mais
hora e até fechar a compra via dispositivo. A Globo
importante porque, se ela ficar insatisfeita por algum
Marcas, nossa loja que vende conteúdo relativo
motivo, pode provocar uma reação negativa que dará
aos nossos programas, tem páginas de novelas
um prejuízo absurdo. A conectividade acabou fazendo
com itens relativos, mas aí não se trata de compra
isso; então, necessitamos achar uma maneira de
por impulso porque nesse caso é preciso abrir o
monitorar o público para não sermos surpreendidos.
site, navegar e chegar ao item. Queremos que as
Às vezes, não há como evitar um erro, mas, se
páginas da segunda tela sejam automaticamente
existir um pronto atendimento e se dermos atenção
renovadas conforme o andamento da programação.
específica, minimizam-se os efeitos.
Por exemplo, a página do Jornal Nacional sai e entra
Expediente Editora: Giovanna Carnio (MTB 40.219) Reportagem: André Inohara e Marcel Gugoni Fotos: Mário Miranda Diagramação: Lucas Marques
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O evento foi patrocinado por:
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