Amcham Highlights - Seminério Oportunidades nas Relações Comerciais - 24-04-2012

Page 1

São Paulo, 24 de Abril de 2012

Livre concorrência, inovação e avanço em produtividade são pontos-chave para garantir competitividade no longo prazo e uma inserção consistente no comércio internacional, indicou o 'Seminário Oportunidades nas Relações Comerciais do Brasil frente à nova configuração dos blocos econômicos mundiais'. O evento, promovido pela Amcham-São Paulo em 24/04, analisou exemplos de países como Estados Unidos, Alemanha e Coreia do Sul, que mostram a importância desses elementos para o desenvolvimento. Veja aqui detalhes dessa discussão, com a participação de diplomatas das três nações.

marcada por questões como baixa poupança interna, dependência de investimentos externos e crescente entrada de importados. Também tiveram acesso à posição do governo brasileiro frente a esse quadro. Paulo Estivallet de Mesquita, diretor do Departamento Econômico do Ministério das Relações Exteriores, explicou que o governo tem adotado algumas medidas de cunho protecionista diante da preocupação de que setores de grande potencial a longo termo desapareçam no curto prazo por estarem enfrentando um choque de competitividade. Acompanhe aqui essa discussão. Os participantes do seminário da Amcham ainda

Ao lado da visão dos diplomatas, o debate abriu espaço

elencaram quais deveriam ser as prioridades do País

para a de CEOs de grandes empresas com atuação no

para aumentar a competitividade e o comércio exterior.

País. Eles avaliaram a atual conjuntura brasileira,

Saiba quais foram as principais recomendações aqui.

Veja também entrevistas com alguns dos palestrantes do seminário:

MIGUEL JORGE :

PAULO ESTIVALLET DE MESQUITA :

Ex-ministro de Desenvolvimento defende que o Brasil necessita ter a coragem de não escolher as empresas que deveriam sobreviver

Diretor do Departamento Econômico do Ministério das Relações Exteriores explica que medidas de incentivo à indústria visam a proteger segmentos atualmente sob pressão, mas com potencial de competitividade no longo prazo

KYONGLIM CHOI : Embaixador da República da Coreia no Brasil diz que é preciso políticas de longo prazo que reduzam gradualmente o protecionismo e exponham o País a mais competição

WILFRIED GROLIG : Embaixador da Alemanha no Brasil sustenta que é imprescindível inovar para ter competitividade

WILLIAM POPP : Cônsul geral em exercício dos Estados Unidos em São Paulo afirma que nunca houve na história da relação Brasil-EUA tantas oportunidades como agora

DONNA HRINAK : Presidente da Boeing do Brasil fala sobre a intenção de se criar no País a primeira indústria de biocombustível para aviação

JOSE VARELA : Diretor presidente da 3M do Brasil estimula que País promova redução de impostos para pesquisa e desenvolvimento


LIVRE CONCORRÊNCIA E INOVAÇÃO SÃO ELEMENTOS VITAIS À COMPETITIVIDADE NO LONGO PRAZO

Criar um ambiente favorável ao desenvolvimento econômico, à competitividade de longo prazo e a uma maior inserção no comércio global demanda uma combinação de livre concorrência, investimentos em inovação e aumento de produtividade. A receita foi discutida no 'Seminário Oportunidades nas Relações Comerciais do Brasil frente à nova configuração dos blocos econômicos mundiais' realizado pela Amcham-São Paulo em 24/04. “No Brasil, tenta-se salvar toda e qualquer empresa, por mais ineficiente e improdutiva que seja. Precisamos ter coragem de não escolher as companhias que deveriam sobreviver. O mercado é que deveria fazer isso”, disse Miguel Jorge, consultor de comércio exterior e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Ele, que também é presidente do comitê estratégico de Business Affairs Latam da Amcham-São Paulo, participou do debate juntamente com os representantes diplomáticos da Coreia do Sul, da Alemanha e dos Estados Unidos, e CEOs de grandes empresas que atuam no País. No evento, analisou-se comparativamente a situação da indústria manufatureira, que vem perdendo espaço nos mercados internacionais por conta de custos elevados e carência de produtos de maior valor agregado, e do agronegócio, bastante competitivo globalmente. Para Miguel Jorge, o agrobusiness teve maior estímulo para se desenvolver justamente quando o governo deixou de subsidiar o setor por meio de grande concessão de financiamentos – o que gerava casos crônicos de inadimplência e falta de produtividade. Essa mudança obrigou os players do segmento a criarem estratégias para a própria sobrevivência, como consolidações e, posteriormente, investimentos em tecnologia. “Quando o Brasil parou de subsidiar o setor, ele se tornou um dos mais competitivos do mundo. Precisamos fazer uma autocrítica em relação à competitividade e eficiência das empresas brasileiras”, afirmou o ex-ministro.

LIÇÃO COREANA Os representantes diplomáticos da Coreia do Sul e Alemanha também abordaram a questão do

protecionismo, que consideram prejudicial à economia. Apesar de ser um dos países mais industrializados do mundo, a Coreia do Sul trilhou um caminho difícil até chegar ao atual nível de desenvolvimento. O embaixador da República da Coreia no Brasil,

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

2


Kyonglim Choi, lembra que a economia de seu país já foi protegida pelo governo e que o impulso para transformações veio das grandes dificuldades. Em 1997, a Coreia era uma das economias mais dinâmicas do mundo ao lado de Taiwan, Cingapura e Hong Kong, nações que foram apelidadas de 'Tigres Asiáticos'. Nesse ano, uma crise financeira atingiu seriamente essas localidades. O governo coreano, então, realizou uma série de mudanças na economia, no sentido de promover a liberalização do mercado. “Antes da crise, a indústria cresceu em parte por conta da proteção governamental, mas sua eficiência estava muito atrasada em relação aos pares estrangeiros”, lembrou o embaixador. Com subsídios e proteção de mercado, a indústria coreana da época não se mostrou competitiva para os tempos pós-turbulências. “Muitas companhias declararam falência, mas as que sobreviveram se reestruturaram e a partir daí surgiram empresas como Hyundai e Samsung, que hoje estão no mesmo nível de Toyota e Sony”, conta Choi. Para o embaixador, as empresas precisam ter coragem de se expor à competição interna e externa.

EXEMPLO ALEMÃO A concorrência chinesa é uma dor de cabeça até para países altamente eficientes como a Alemanha. Mesmo assim, o governo do país não cede à tentação de proteger setores ameaçados, garantiu o embaixador da Alemanha no Brasil, Wilfried Grolig. “É preciso concorrer e tentar sobreviver no mercado”, afirmou o diplomata. Um caso emblemático desse pragmatismo vem do setor de energia. A Alemanha desenvolveu uma indústria de energia solar com subsídios, e o setor atingiu um tamanho significativo como fonte de energia renovável. No entanto, empresas chinesas passaram a atuar no mercado alemão e a conquistar cada vez mais espaço. Como essa indústria já havia atingido certa maturidade, o governo alemão reduziu os subsídios, apesar de a indústria de painéis solares alemã estar enfrentando uma luta acirrada com a China. “Nosso governo não está fazendo nada [para socorrer o setor], porque, se a indústria alemã não consegue ser competitiva, o melhor é interrompê-la o quanto antes. Caso contrário, perderemos muito dinheiro”, destacou Grolig.

Outro exemplo dado por Choi foi a situação distinta entre os setores financeiro e de informática de seu país no início da década de 1990. Nessa época, a indústria de serviços financeiros era mais desenvolvida e tinha influência política para restringir a atuação de empresas estrangeiras no país.

A situação é difícil, admite o diplomata, mas “o segredo do sucesso alemão é que nunca nos protegemos da concorrência”, salientou.

“O ministro das Finanças foi forte o suficiente para não abrir a indústria financeira, mas, após dez anos, ela não desenvolveu competitividade e foi uma das razões da crise [de 1997].”

O Brasil tem muito a aprender com Coreia do Sul e Alemanha, destacou Miguel Jorge.

O setor de informática, por sua vez, teve que contar com suas próprias forças. Pressionado por empresas americanas e europeias, foi forçado a abrir seu mercado mais cedo. A exposição à concorrência acabou fortalecendo a indústria de Tecnologia da Informação coreana, que hoje é uma das mais fortes do mundo, assinalou o embaixador. “Isso é para dar uma ideia do que o protecionismo pode causar em longo prazo”, reforçou.

APRENDIZADO

A Alemanha, maior economia europeia, é um mercado dinâmico que premia a eficiência empresarial. A Coreia do Sul, por sua vez, na década de 1970, investiu pesadamente em educação para promover progresso econômico e social, e hoje é uma das nações mais avançadas tecnologicamente. Na época em que a Coreia do Sul decidiu melhorar o nível educacional da sua população, apresentava um nível de desenvolvimento inferior ao de muitos países latinoamericanos, e hoje ele é superior, com impactos fortes sobre a economia.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

3


Outro aprendizado essencial para o Brasil diz respeito a um maior investimento em ciência e tecnologia, como fizeram e fazem os Estados Unidos. “Não conseguiremos competir se não houver mudança de mentalidade. É preciso aplicar grandes volumes de recursos em inovação, ciência e tecnologia”, observou Miguel Jorge. “Temos de investir em pessoas, inovação e educação,

focando em áreas da economia com maior valor agregado e oportunidades de negócios”, assinalou, na mesma linha, o cônsul geral em exercício dos Estados Unidos em São Paulo, William Popp. Os investimentos nessas áreas são prioridade nos EUA. “A recuperação americana está focada em áreas de alto valor agregado e baseadas no conhecimento”, afirmou o cônsul.

BAIXA POUPANÇA INTERNA TORNA INVESTIMENTOS NO BRASIL DEPENDENTES DO EXTERIOR

A capacidade de criar um produto, serviço ou processo inovador é o principal impulso competitivo de uma empresa – e de uma economia como um todo. Mas pesquisa e desenvolvimento requerem vultosos investimentos em termos de tempo e dinheiro. O Brasil, porque conta com uma pequena taxa de poupança interna, fica muito dependente do fluxo de investimentos estrangeiros. A avaliação do economista do Itaú Unibanco Guilherme da Nóbrega, que participou do 'Seminário Oportunidades nas Relações Comerciais do Brasil frente à nova configuração dos blocos econômicos mundiais', aponta para um futuro com grande fluxo de capitais do exterior – e déficit em conta-corrente – direcionado maciçamente a investimentos em produção e ganhos de escala internamente. O País deve aprender a conviver neste novo mundo no qual as grandes entradas de moeda externa valorizam o real e comprometem as condições de concorrência dos produtos brasileiros no exterior. Entre as alternativas debatidas para permitir essa “convivência”, Nóbrega destaca melhora da competitividade até celebração e aperfeiçoamento de acordos comerciais diretos. “Nosso ritmo de crescimento daqui para a frente dependerá do quanto estamos dispostos a aceitar de complemento de poupança externa em investimentos e de apreciação do câmbio em decorrência desse movimento.” A poupança externa é, atualmente, o principal complemento dos investimentos feitos no País. “Durante alguns anos, teremos déficit em conta-corrente”, previu Nóbrega. “Isso significa que haverá uma taxa de câmbio permitindo trazer mais [bens e produtos] de fora do que mandar e possibilitando consumirmos mais do que produzimos.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

4


MAIS IMPORTAÇÃO “O que acontece no final com a taxa de câmbio é expressão dessa realidade: a de um país que cresce importando cada vez mais”, completou Nóbrega. O ministro Paulo Estivallet de Mesquita, diretor do Departamento Econômico do Ministério das Relações Exteriores que participou do debate da Amcham, reconhece o efeito do câmbio sobre a balança comercial brasileira. “De 2007 a 2010, as importações aumentaram na casa dos 90%”, afirmou. “A crise mundial de 2008 e políticas adotadas [pelos países ricos para sair dela] provocaram depreciação significativa do dólar e do euro em relação ao real.” “A retração do consumo nos países ricos levou ao redirecionamento da produção para o mercado consumidor do Brasil”, explicou ele. Miguel Jorge, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e consultor internacional de comércio exterior, afirma que há, em resposta a esse movimento, um “ativismo estatal” como não se viu durante vários anos, ou seja, uma proteção maior a alguns setores da economia.

Mas o representante do Itamaraty ressalvou: “estamos administrando a política comercial com cautela e adotando medidas que não podemos manter no longo prazo”. Mesquita lembrou que, desde 2000, o comércio exterior do Brasil tem crescido a uma taxa de 16% ao ano. “O Brasil aumentou sua participação no comércio internacional de 0,8% para 1,35%. A fatia ainda é pequena, mas a expansão é de quase 50%.” Ele salientou ainda que o mundo hoje está menos disposto a negociar vantagens comerciais sobre alimentos do que sobre manufaturados. “É difícil aceitar um acordo em que nossos produtos principais sejam excluídos”, ponderou. “Há duas maneiras de negociar em comércio: dando prioridade à abertura de mercados externos e oferecendo o que os [parceiros] querem, ou buscando maior atenção às prioridades domésticas tentando obter alguma contrapartida. Normalmente, os países menores dão prioridade à abertura de mercados externos e os maiores, às prioridades domésticas”, explicou.

LIVRE COMÉRCIO Tratados de livre comércio podem se apresentar como alternativa importante para fluxos diretos entre duas economias – e fornecer uma saída “ganha-ganha”.

POLÍTICA COMERCIAL Mesquita indicou as justificativas para a política comercial brasileira no que toca à crescente importação de manufaturados. Segundo ele, o governo tem atualmente optado por algumas medidas de cunho protecionista para enfrentar os “tempos extraordinários”, de grande alteração dos fundamentos econômicos e de políticas anticíclicas em muitas economias. “Temos a preocupação de que setores de grande potencial no longo termo desapareçam no curto prazo por estarem enfrentando um choque de competitividade”, afirmou.

Até maio de 2011, dados da Organização Mundial do Comércio apontavam para a existência de 297 tratados do tipo, os chamados FTAs (Free-Trade Agreement). Antes de 1995, eram 91. Mesquita mostrou que essa pode ser uma importante saída ao comércio exterior brasileiro para manter negócios competitivos com seus maiores parceiros. “Atualmente, 20% das exportações do Brasil são cobertas por acordos de livre comércio. Entre 40% e 45% das manufaturas são exportadas no âmbito desses acordos e 10% se beneficiam de preferências comerciais.”

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

5


CEOS APONTAM MEDIDAS PARA AUMENTAR COMPETITIVIDADE E COMÉRCIO EXTERIOR

Impactada por deficiências estruturais que comprometem a competitividade da economia, a indústria brasileira enfrenta vários desafios para competir no exterior. Se tivessem a oportunidade de falar diretamente ao governo sobre o assunto, representantes de empresas que atuam no País indicariam como objeto de ações prioritárias temas como a necessidade de diminuir encargos e burocracia, fechar acordos bilaterais de comércio, estimular a inovação e combater a inflação. Este foi um dos destaques de painel de altos executivos do 'Seminário Oportunidades nas Relações Comerciais do Brasil frente à nova configuração dos blocos econômicos mundiais'. Participaram representantes de empresas de diversos setores: Bayer, Seara, 3M, Boeing e Itaú. A pergunta foi lançada pelo mediador do debate, o consultor, presidente do comitê de Comércio Exterior da AmchamSão Paulo e ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Welber Barral: "Em um encontro hipotético em Brasília no elevador do Palácio do Planalto com a presidente Dilma Rousseff, o ministro do Desenvolvimento, o ministro da Fazenda e o presidente do Congresso, que medida cada empresário sugeriria para aumentar a competitividade brasileira?"

DESONERAÇÃO E SAÍDA DO BRASIL DO MERCOSUL A desoneração da folha de pagamento dos trabalhadores foi a resposta de José Mayr Bonassi, diretor geral da Seara Alimentos, empresa do Grupo Marfrig. “Esse é um custo alto para o Brasil, se comparado ao de qualquer outro competidor nosso em outro país”, comentou. O custo da folha de pagamento precisa se reduzir para que os empregados possam ganhar mais e as empresas

pagar menos por isso. “É maravilhoso ver o salário subindo no Brasil porque ativa cada vez mais o mercado interno. Mas, no fim do dia, isso pesa para as indústrias”, observou. O presidente da Bayer do Brasil, Theo Van der Loo, também se mostrou favorável à queda dos encargos, mas escolheu endereçar como prioridade uma questão de comércio exterior no encontro hipotético com a alta cúpula do governo. “Por que o Brasil não sai do Mercosul e passa a fechar acordos individuais de comércio com vários países?”, indagou. Desde sua fundação no início da década de 1990, o

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

6


Mercosul pouco avançou em questões comerciais para o bloco, e ainda ocorrem casos de disputas comerciais entre os sócios, avaliou o executivo. “A Argentina tem adotado medidas que afetam o relacionamento com o Brasil, muitas relativas a exportações entre os dois países”, argumentou.

manutenção do poder de compra. “Uma inflação alta, como a que o Brasil ainda tem em comparação com outros países, não traz nenhuma vantagem”, argumentou. “A inflação precisa ficar em um patamar baixo, porque tem impacto importante sobre investimentos e sobre a confiança no crescimento.”

INOVAÇÃO, RAPIDEZ NA ALFÂNDEGA E INFLAÇÃO BAIXA

AGILIDADE E ACORDOS BILATERAIS

O desenvolvimento da inovação é o tema mais importante para o salvadorenho José Varela, diretor presidente da 3M do Brasil. Ele disse que é preciso diminuir os encargos que incidem sobre pesquisa e desenvolvimento de tecnologias no País. “Entendo a necessidade de impostos, mas não sei por que se taxa a inovação”, questionou. Dentro dessa perspectiva de estimular a inovação, ele elogiou o programa Ciência Sem Fronteiras, que pretende mandar mais de 100 mil estudantes bolsistas ao exterior para ganharem mais conhecimentos de ciências exatas e novas tecnologias. Varela também indicou que aproveitaria a oportunidade com a cúpula do governo brasileiro para tratar do custo da energia elétrica, considerado um dos mais elevados do mundo. “O custo da energia no Brasil é três a quatro vezes o americano, que já é mais alto do que o da Europa e o da Ásia. Isso é uma das coisas que afetam duramente a competitividade das fábricas brasileiras”, afirmou Varela. A presidente da Boeing e ex-embaixadora dos EUA no Brasil, Donna Hrinak, elege como prioridade processos aduaneiros mais rápidos. “Nossos clientes, as companhias aéreas, têm de manter um estoque alto de peças de reposição porque nunca sabem quanto tempo o processo de desembaraço alfandegário levará. É uma imprevisibilidade que custa muito para as empresas”, disse. Por sua vez, o economista do banco Itaú, Guilherme de Nóbrega, considera como ponto mais importante a

Os empresários também salientaram que é preciso dar mais agilidade aos processos de exportação. Com atuação relevante no mercado externo, que responde por mais de 50% da sua receita, a Seara Alimentos reclama de dificuldades para vender seus produtos no estrangeiro. “Foi autorizada recentemente a exportação de carne suína para os EUA, mas até hoje não se exportou um quilo porque os certificados sanitários ainda não foram negociados entre os dois países”, apontou Bonassi. Ele defende que é necessário investir em tratados bilaterais. “Se conseguirmos mais acordos, haverá fluidez e reconhecimento maior dos produtos brasileiros.” Conforme o executivo, grandes redes mundiais de refeições como McDonald's e KFC trabalham com fornecedores globais, e os brasileiros perdem oportunidades porque não são tão conhecidos lá fora. A Bayer também apoia acordos bilaterais de comércio exterior e regras mais favoráveis para a concretização de negócios. Theo Van der Loo, presidente da Bayer do Brasil, comentou que há mais de 1.500 laboratórios esperando inspeção da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para comercializar seus produtos em território nacional. “Ficamos sem poder fornecer medicamentos no Brasil porque a fábrica não foi inspecionada, embora eles tenham sido aprovados nos EUA e na União Europeia (UE). Um acordo mútuo na área da saúde entre Brasil, EUA e União e UE é importante.”

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

7


Outra dificuldade da área farmacêutica vem do fato de que sofre restrições causadas pelo controle de preços. “O governo faz isso há décadas, apesar de haver centenas de concorrentes em alguns mercados. Ainda que o mercado esteja crescendo, essa situação inibe investimentos porque os aumentos permitidos estão abaixo da inflação e os custos são cada vez maiores”, pontuou Van der Loo. Em paralelo, o executivo salientou que é necessário desenvolver inovação por meio de cooperação. “Precisamos fomentar parcerias entre empresas nacionais e multinacionais para ter acesso ao mercado internacional”, afirma.

3M E BOEING AMPLIAM ESTRUTURA CIENTÍFICA NO BRASIL Embora a alta incidência de impostos e a carência de infraestrutura dificultem a competitividade brasileira, o País traz oportunidades promissoras. Por isso, a 3M está investindo fortemente em inovação, disse José Varela, diretor presidente da 3M do Brasil. “Recentemente, dobramos nossa infraestrutura científica, triplicamos os recursos para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e aumentamos o quadro de cientistas para 300, além da contratação de PhDs (pósdoutores)”, afirmou. Ele também elogiou a qualidade dos acadêmicos brasileiros. A Boeing igualmente está reforçando sua estrutura tecnológica no Brasil, diante da perspectiva de maior tráfego aéreo – com abertura de novas linhas aéreas – e crescimento do mercado de defesa. Nos próximos vinte

anos, o tráfego mundial de passageiros crescerá, em média, 5,1% ao ano, destacou Donna Hrinak, sendo que, na América Latina, o aumento será ainda maior, de 6,9%, com perspectiva de revisão para cima. A renovação de frotas também deve ser influenciada pela redução de custos. Aeronaves novas necessitam de pouca manutenção e consomem menos combustível. Em relação aos combustíveis, Donna informou que a Boeing vai abrir um centro de tecnologia em São Paulo, para o desenvolvimento de biocombustíveis para aviação. “Os custos ainda são altos, de modo que ainda não há fornecedores dedicados, mas queremos uma indústria sustentável de biocombustível para aviação.” Quanto ao mercado de defesa, Donna comentou que há boas oportunidades em função do aumento do orçamento do governo para o setor nos próximos quatro anos.

REFORMAS ESTRUTURAIS Para o economista do banco Itaú Guilherme da Nóbrega, o País precisa garantir que as oportunidades de crescimento que se apresentam sejam aproveitadas por meio de reformas estruturais na economia. Um dos pontos mais relevantes é estimular a poupança interna do setor público, o que tornaria o País menos dependente de crédito externo. “Precisamos ter um Estado mais leve, que possa permitir juros mais baixos, menos pressão sobre a poupança doméstica. Devemos atacar os problemas de reforma tributária que se tornam prementes à medida que o Brasil se integra mais ao resto do mundo”, concluiu.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

8


ENTREVISTA

MIGUEL JORGE | EX-MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO : "NECESSITAMOS TER CORAGEM DE NÃO ESCOLHER AS EMPRESAS QUE DEVERIAM SOBREVIVER" A M C H A M : Quais os principais desafios do Brasil? M I G U E L J O R G E : Temos de discutir caminhos para o País em um mundo de grandes transformações, especialmente após a crise financeira que impactou todas as economias. Países em desenvolvimento têm realizado significativas inclusões de sua população, promovendo mudanças técnicas a partir de gastos com pesquisa e desenvolvimento, mas também aumentando a pressão sobre o meio ambiente. Nota-se um movimento pendular em direção a mais ativismo estatal. A crise global de 2008 deixou os países mais ricos menos entusiasmados com a globalização. Para nós, a obrigação é trabalhar muito com a competitividade, com a produtividade e ser inovadores. Nossas oportunidades serão menores se não formos mais eficientes, mais competitivos e mais inovadores. Há um problema difícil no Brasil em relação à competitividade e à eficiência das empresas brasileiras. Não conseguiremos competir se não mudarmos o nosso mindset com relação a investimentos em inovação, ciência e tecnologia. Não estou fazendo diferença entre capital brasileiro e capital de multinacionais. Isso deve permear as empresas de modo geral no Brasil. Esse é um paradigma que devemos enfrentar, com muita rapidez e muito esforço.

A M C H A M :

O Brasil tem exemplos de produtividade e competitividade?

M I G U E L J O R G E : Na área de agrobusiness, temos muita produtividade e eficiência. Tanto que esse setor é sucesso no mundo inteiro. Somos um dos maiores exportadores mundiais de alimentos, tanto animais como vegetais. Há 30 ou 40 anos, os subsídios eram escandalosos. Quando o Brasil parou de subsidiar, há 30 anos, essa indústria se tornou uma das mais

competitivas do mundo. Nosso desafio é perceber quais são os setores em que podemos ser competitivos. Não podemos cometer o erro que cometemos no passado de achar que podemos fazer tudo no País.

A M C H A M : Quais outras áreas o sr. destacaria? M I G U E L J O R G E : Esse é um trabalho que demanda estudo, um trabalho grande. Precisamos ter coragem de não escolher as empresas que deveriam sobreviver. O mercado é que deveria fazer esse trabalho. Claro que essa é uma discussão interminável se somarmos a isso a questão cambial, se [a desvalorização do] dólar prejudica ou não. Mas um fato é que a inovação e o desenvolvimento de ciência e tecnologia nas empresas ainda são muito baixos no Brasil.

AMCHAM:

Qual o papel da inovação nessa

questão?

M I G U E L J O R G E : É um papel fundamental. Veja o caso da Finlândia. Por conta da inovação, o País tem uma das maiores fábricas do mundo de telefones celulares, feitos com a maior competência. Embora o país seja pequeno se comparado com o Brasil, gastou muito dinheiro em pesquisa, desenvolvimento e inovação. É o mesmo caminho da Coreia do Sul. Durante a crise do país em 2007, o governo permitiu que grandes empresas quebrassem ou se juntassem. O caso emblemático foi [o da união] da Kia com a Hyundai, que criou uma grande empresa automobilística com atuação mundial. São coisas que no Brasil não estamos acostumados a ver. Aqui, tenta-se salvar toda e qualquer empresa por mais ineficiente e improdutiva que seja. Precisamos fazer uma autocrítica em relação a isso.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

9


ENTREVISTA

KYONGLIM CHOI | EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DA COREIA NO BRASIL : "É PRECISO POLÍTICAS DE LONGO PRAZO QUE REDUZAM GRADUALMENTE O PROTECIONISMO E EXPONHAM O PAÍS A MAIS COMPETIÇÃO" A M C H A M : A situação econômica e social da Coreia

A M C H A M : Como os governos podem criar um

nos anos 1970 era semelhante à do Brasil nessa época. O que fez a Coreia superar o Brasil e se tornar um país com produção tecnológica de alto nível?

ambiente mais favorável às indústrias?

K Y O N G L I M C H O I : Creio que se trata de uma questão de competição. A diferença entre o Brasil e a Coreia do Sul é que nosso país tem um mercado doméstico muito pequeno, ao contrário do Brasil. Nossas companhias não sobreviveriam se atuassem apenas na Coreia, então tiveram que sair, se diversificar e competir no mercado externo. Elas precisaram ser competitivas e inovadoras. O mercado doméstico brasileiro tem certa proteção, e não é preciso ser um competidor de classe mundial para sobreviver nesse ambiente. O Brasil conta com um mercado doméstico enorme e economia de escala, então há pouco incentivo para as empresas brasileiras inovarem e criarem tecnologia. É preciso estimular o ambiente de competição para forçar as companhias a inovar.

A M C H A M : Quais são os desafios que o Brasil

K Y O N G L I M C H O I : Políticas públicas são muito importantes para definir recursos financeiros e diretrizes de longo prazo porque, se não se criar um ambiente competitivo, as empresas não se sentirão motivadas nem mesmo por meio de apoio financeiro.

AMCHAM:

Durante sua apresentação, o sr. mencionou a importância de tratados de livre comércio. Como acordos dessa natureza podem impulsionar o fluxo comercial brasileiro?

K Y O N G L I M C H O I : Se pudéssemos fazer um acordo bilateral apenas com o Brasil, ficaríamos satisfeitos. Mas, no momento, o Brasil não pode fechar tratados de comércio individualmente, tem de fazer isso junto com os demais membros do Mercosul. Esperamos que o bloco decida estabelecer tratados de livre comércio ou outra forma de acordo com a Coreia.

precisa superar para se tornar mais competitivo?

A M C H A M : Que tipo de oportunidades econômicas

K Y O N G L I M C H O I : A palavra-chave é competição.

pode ser mais bem explorado por Brasil e Coreia?

As políticas atuais buscam estimular as companhias brasileiras, mas no longo prazo creio que medidas desse tipo não ajudarão muito as companhias brasileiras a se tornarem competitivas. É preciso haver políticas de longo prazo que reduzam gradualmente o protecionismo e exponham o Brasil a mais competição, não apenas no mercado doméstico, mas também no internacional.

K Y O N G L I M C H O I : As oportunidades são amplas. Mesmo a Coreia sendo um país pequeno no aspecto territorial, ela é grande do ponto de vista econômico. Nosso país é a 15ª maior economia do mundo, temos uma população de quase 50 milhões de habitantes e importamos muitos produtos. Há espaço para as companhias brasileiras atuarem no mercado coreano.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

10


ENTREVISTA

A M C H A M :

Em um cenário mundial de enfraquecimento dos países ricos e ascensão dos emergentes, como o Brasil pode se posicionar?

K Y O N G L I M C H O I : Há duas tendências distintas hoje no mundo e que se combinam. A primeira é a divisão global do trabalho [especialização produtiva], e a segunda é uma maior abertura e liberalização do mercado. Os países podem focar em áreas em que têm vantagem comparativa, então vemos algumas nações focadas em certas indústrias que suprem produtos para indústrias estrangeiras. Essa divisão global do trabalho está aumentando a eficiência da produção em todos os países. Acho que é importante para o Brasil participar

dessa divisão para incrementar a eficiência da sua indústria.

A M C H A M : Que lições o Brasil pode aprender da Coreia sobre educação e inovação?

KYONGLIM CHOI:

O governo coreano estabeleceu um planejamento e fez investimentos suficientes para implementá-lo. Muitos recursos financeiros foram usados na modernização do sistema de educação e melhora da qualificação dos professores. Também investimos muito no apoio a cientistas e pesquisadores, de modo que puderam trabalhar junto com a indústria para desenvolver tecnologias importantes.

WILFRIED GROLIG | EMBAIXADOR DA ALEMANHA NO BRASIL : "É IMPRESCINDÍVEL INOVAR PARA TER COMPETITIVIDADE" A M C H A M : Quais são as maiores oportunidades do

W I L F R I E D G R O L I G : Temos grande ligação cultural.

Brasil junto à Alemanha?

Creio que, quando se reforçam as parcerias por interesses pessoais e culturais, há uma base mais forte para complementar o caminho econômico. No segmento político, esses contatos podem ser interessantes para dar uma ideia aos nossos colegas brasileiros sobre a Alemanha de hoje em termos de negócios, clima, sociedade e outros, em uma perspectiva de 360 graus. Há muito avanço econômico e muitas oportunidades de negócios no Brasil, em diversas regiões. O que queremos é chegar mais perto dessas oportunidades.

WILFRIED GROLIG:

Uma das principais oportunidades é reforçar as parcerias em tecnologia e inovação. Temos boas universidades na Alemanha, assim como muitas companhias apostando em inovação, inclusive médias empresas, por meio de parcerias educacionais nesta área. Essas parcerias podem ser interessantes para os dois países. O Brasil é o parceiro mais importante da União Europeia na América Latina, movimentando 22 bilhões de euros. A Alemanha é o quarto maior parceiro do Brasil. Há outras áreas com potencial para cooperação por conta da Copa e dos Jogos Olímpicos, mas mesmo sem esses eventos haveria muitas oportunidades nos desafios de infraestrutura, energia e agricultura.

A M C H A M : Quais os caminhos para reforçar esses laços?

A M C H A M : E as parcerias educacionais? W I L F R I E D G R O L I G : O Ciência Sem Fronteiras é base para o futuro. Fico muito feliz por o País ter identificado a Alemanha como um dos destinos de estudantes. Pelo menos 35 mil estudantes serão mandados para a Europa. Tenho certeza de que, quando

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

11


ENTREVISTA

voltarem, haverá uma geração nova e muito ativa de cientistas, prontos a reforçar a relação econômica entre União Europeia e Brasil.

AMCHAM:

Na sua opinião, quais os maiores desafios da economia brasileira?

W I L F R I E D G R O L I G : Creio que os desafios da economia brasileira são os mesmos da economia alemã. Vivemos em uma sociedade globalizada, com mercados globais altamente competitivos. O desafio é descobrir como sobreviver, como se adaptar nesses ambientes para ser o número um, ou quem sabe o número dois. Um bom exemplo da capacidade de competir do Brasil é a agricultura, que tem importantes pesquisas e desenvolvimento de tecnologias. A

pergunta é se o Brasil tem como transferir essa liderança para outras áreas.

AMCHAM:

De que forma a inovação aparece neste esforço para superar os desafios?

W I L F R I E D G R O L I G : Sem inovação, é difícil sobreviver no mercado. Com o câmbio alemão valorizado e os salários altos, como competir tendo em vista que qualquer produto fica mais caro? Temos de inovar para manter nossa competitividade. É preciso concorrer para sobreviver no mercado. Nosso sucesso é nunca termos fugido da competição. Subsídio é desperdício de dinheiro. Se a indústria alemã não consegue ser competitiva, o melhor é interrompê-la o quanto antes. Caso contrário, perderemos muito dinheiro.

WILLIAM POPP | CÔNSUL GERAL INTERINO DOS ESTADOS UNIDOS EM SÃO PAULO : "NUNCA HOUVE NA HISTÓRIA DA RELAÇÃO BRASIL-EUA TANTAS OPORTUNIDADES COMO AGORA" AMCHAM:

Quais as principais oportunidades na relação entre Brasil e EUA?

W I L L I A M P O P P :Há várias oportunidades, como nunca houve na história dos dois países. Na parte comercial, há mais investimentos dos EUA no Brasil do que nunca, e existem mais brasileiros também investindo nos EUA. Então, os fluxos de investimentos em manufaturas, serviços e tecnologia estão crescendo. Novas companhias americanas chegam ao Brasil todos os dias. Há muitas possibilidades. Este é um momento histórico da relação bilateral. Nunca houve tantos brasileiros indo para os EUA para negócios, educação e turismo. É uma relação que se dá cada vez mais entre as sociedades e os EUA estão mostrando interesse em

facilitar a entrada de brasileiros e agilizar vistos para todo tipo de viagem.

A M C H A M : Que outras oportunidades o sr. vê? W I L L I A M P O P P :A parte de educação seguramente criará as condições para o crescimento econômico. EUA e Brasil podem trabalhar em conjunto nesse sentido, principalmente no programa Ciência Sem Fronteiras, que oferece muito boas oportunidades para colaborar com instituições. As universidades americanas estão prontas a receber alunos brasileiros, que vão para estudar e trazer de volta experiências nas áreas de ciência e tecnologia, engenharia, matemática e outras. O programa é importante para engajar, encorajar

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

12


ENTREVISTA

o fluxo de conhecimento dos estudantes. Vemos enormes benefícios para todo o mundo.

AMCHAM:

Infraestrutura também está entre as prioridades para parceria?

W I L L I A M P O P P : Há muitas opções também em infraestrutura, obviamente na preparação para os Jogos Olímpicos [do Rio de Janeiro, em 2016] e a Copa do Mundo [em 2014]. Vejo que esses eventos devem ser um sucesso do Brasil, e esperamos contribuir. Além dessa, há as áreas de tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, que oferecem vagas para cientistas trabalharem e desenvolverem habilidades em conjunto com os EUA. Estamos muito otimistas com futuro.

AMCHAM:

Quais os principais gargalos da economia brasileira, na sua avaliação?

W I L L I A M P O P P : A experiência do Brasil tem muito em comum com a do resto do mundo. Todos os países precisam continuar a investir na infraestrutura, na educação e desenvolver sua população para a nova

economia do século XXI, para aumentar a competitividade e a eficiência do fluxo de comércio. O mundo está ficando cada vez mais competitivo, com cada vez mais concorrência entre as economias. Para qualquer país, inclusive o Brasil ou os EUA, é importante investir para conseguir esses benefícios e avanços de eficiência.

AMCHAM:

Como o Brasil pode ajudar na recuperação dos EUA?

W I L L I A M P O P P : A economia dos EUA já está se recuperando, o que é bom para o Brasil e para o mundo. Como maior economia e motor da economia global, a parceria comercial forte do Brasil com os EUA ajudará. O bom é que o comércio entre os dois países é complementar. Então, quando os EUA crescem, estão comprando produtos do Brasil, manufaturados e outros que não são feitos nos EUA, e exportando produtos aqui para o Brasil. Ficamos otimistas com a recuperação americana porque mostra que há como colaborar com o Brasil, que também está crescendo de forma expressiva.

PAULO ESTIVALLET DE MESQUITA | DIRETOR DO DEPARTAMENTO ECONÔMICO DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES : "MEDIDAS DE INCENTIVO À INDÚSTRIA VISAM A PROTEGER SEGMENTOS ATUALMENTE SOB PRESSÃO, MAS COM POTENCIAL DE COMPETITIVIDADE NO LONGO PRAZO" AMCHAM:

O sr. disse, em sua apresentação no seminário, que a política comercial não é determinante para o crescimento do País. Poderia explicar melhor?

P A U L O E S T I V A L L E T D E M E S Q U I T A : A política comercial desempenha um papel importante, mas é apenas um dos componentes da política econômica. As

políticas tributária e creditícia são mais determinantes para o futuro da economia brasileira. Existem vários outros fatores na condução da política econômica que têm tanta ou mais importância, dependendo do contexto. Por exemplo, a prioridade atual do governo é a área de ciência, tecnologia e inovação, que, sem dúvida, é absolutamente fundamental.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

13


ENTREVISTA

A M C H A M : Como a área de ciência, tecnologia e inovação pode tornar possível maior desenvolvimento econômico e comercial?

P A U L O E S T I V A L L E T D E M E S Q U I T A : Se o Brasil parasse de exportar e importar, ainda assim essa área contribuiria para melhorar a situação econômica e social do País. Sem investir em ciência, tecnologia e inovação, não há política comercial que torne o Brasil um país desenvolvido. No aspecto comercial, ela pode ajudar na criação de oportunidades para que as empresas mais produtivas ganhem mercado.

AMCHAM:

Como o cenário mundial afeta as exportações brasileiras?

P A U L O E S T I V A L L E T D E M E S Q U I T A : Algumas das nossas exportações perderam mercado simplesmente porque a demanda desapareceu. Por outro lado, existe uma pressão de concorrência dos produtos que estão chegando aqui em condições que não são propriamente de mercado. É por isso que o governo precisa tomar todas as medidas necessárias para evitar danos irreparáveis a setores importantes da economia brasileira.

AMCHAM:

Recentemente, o governo anunciou algumas medidas para incentivar a indústria. No seminário, o embaixador sul-coreano defendeu que seria melhor o governo deixar a indústria buscar a competitividade por suas próprias pernas. O sr. concorda?

P A U L O E S T I V A L L E T D E M E S Q U I T A : O que ele disse coincide com o que tem sido falado pelo próprio governo. Em longo prazo, a ideia é buscar uma economia que seja mais competitiva e que não dependa eternamente de proteção. Existe uma situação excepcional de curto prazo, que é uma crise gravíssima nas principais economias mundiais e que trouxe impacto negativo ao desempenho do comércio exterior brasileiro. Também há o problema cambial, em parte gerado por medidas de outros países, e a baixa demanda nos EUA e na União Europeia.

AMCHAM:

buscar medidas de atenuação do que simplesmente deixar que setores com potencial de competitividade no longo prazo desapareçam agora. Não podemos nos prender tanto a dogmas de livre comércio.

AMCHAM:

Na questão do livre comércio, um painelista chegou a defender a saída do Brasil do Mercosul e enfatizar tratados bilaterais. Por outro lado, o sr. falou das dificuldades de se fecharem acordos de livre comércio e até mencionou setores que resistem a esse tipo de tratado. Que setores são esses?

PAULO ESTIVALLET DE MESQUITA:

Com a crise, houve uma reversão na nossa balança comercial na área industrial. Há setores sob enorme pressão, por conta do câmbio e do desvio de mercadorias para outros destinos. Temos de lembrar que, em uma negociação comercial, a munição para pedir a abertura de mercados no exterior é a reciprocidade. No momento atual, em que o mercado brasileiro está crescendo e os demais não, é compreensível que alguns setores sejam relutantes. Isso acaba sendo um fator que condiciona a atuação do governo no curto prazo. Há outro fator de peso: na área agroindustrial, o Brasil e o Mercosul têm a mesma importância que a China possui para o setor industrial. Em outros países, somos vistos como um grande fornecedor de produtos competitivos e eles também relutam em negociar conosco por conta da nossa produtividade agrícola.

AMCHAM:

Quais as ações do governo brasileiro na área de livre comércio?

P A U L O E S T I V A L L E T D E M E S Q U I T A : Ao longo dos últimos dezessete anos, o Brasil estabeleceu uma série de acordos comerciais que fizeram com que a América do Sul se tornasse hoje praticamente uma área de livre comércio. Também nos empenhamos em negociações multilaterais que, da perspectiva brasileira, são extraordinariamente importantes, porque é daí que se conseguem avanços na regulamentação do comércio agrícola, e temos tentado com afinco concluir negociações com países fora da América do Sul.

Isso explica a decisão do governo de adotar ações para apoiar alguns segmentos da economia?

A M C H A M : Poderia dar mais detalhes? PAULO ESTIVALLET DE MESQUITA:

PAULO ESTIVALLET DE MESQUITA:

Negociações com a União Europeia estão em curso, e

É melhor

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

14


ENTREVISTA esperamos ter sucesso. Também mantemos conversações exploratórias com o Canadá, com potencial de êxito. Fechamos acordos de livre comércio com Israel e Egito, acordos parciais de preferências com Índia e de união aduaneira com a África do Sul.

AMCHAM:

Quais as dificuldades para a concretização de acordos?

P A U L O E S T I V A L L E T D E M E S Q U I T A : Temos de

são muito propícias aos avanços. Isso se deve não apenas às dificuldades que alguns setores da economia têm enfrentado devido à valorização do real e à recessão nos principais mercados desenvolvidos, como também ao fato de que o Mercosul e o Brasil são grandes exportadores de produtos agrícolas. Essa condição provoca certa resistência em nossos parceiros, mas vamos continuar lutando para abrir mercados às exportações brasileiras.

levar em consideração que as circunstâncias atuais não

DONNA HRINAK | PRESIDENTE DA BOEING DO BRASIL : "QUEREMOS CRIAR NO PAÍS A PRIMEIRA INDÚSTRIA DE BIOCOMBUSTÍVEL PARA AVIAÇÃO" A M C H A M :

Qual a importância do desenvolvimento de tecnologia para a Boeing?

D O N N A H R I N A K : Inovação é a base para todo crescimento, especialmente no setor aeronáutico. As empresas aéreas estão sempre procurando aviões com maior tecnologia, seja em fibra de carbono ou outro substituto que venha a ser descoberto, em especial na eficácia de combustíveis.

AMCHAM:

Poderia falar um pouco mais sobre o novo centro de pesquisa da Boeing no Brasil?

D O N N A H R I N A K : O diretor chegará no fim de maio, e no primeiro ano o investimento deve ficar em torno de US$ 4 milhões a US$ 5 milhões. Mas ainda estamos procurando parceiros e a prioridade do laboratório é o desenvolvimento de biocombustíveis. Para nós, é muito importante fazer mais pesquisas para saber exatamente qual é o produto com mais potencial – cana-de-açúcar ou não.

AMCHAM:

Como a sra. percebe o interesse pelo desenvolvimento de uma indústria de

biocombustível para aviação?

D O N N A H R I N A K : Vamos nos reunir com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e a Embraer para analisar o interesse e agregar informações para a indústria de biocombustível de aviação no País. Ela não existe em nenhuma parte do mundo, não há nenhuma empresa que tenha como negócio principal a produção desse insumo para aviação. Teremos a oportunidade de criar a primeira indústria no Brasil.

AMCHAM:

Em relação ao projeto de venda de aviões F-18 à Força Aérea Brasileira, houve algum avanço em termos de transferência de tecnologia?

D O N N A H R I N A K : A tecnologia que oferecemos ao Brasil é a mesma que nossos melhores aliados possuem. Entendo a importância da transferência de tecnologia, mas também estamos falando de desenvolvimento de tecnologia aqui [caso os aviões sejam escolhidos pelo Brasil]. Avião não é uma algo estático. Ele evolui de acordo com a demanda dos clientes, e esse desenvolvimento pode acontecer aqui no Brasil.

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

15


ENTREVISTA

JOSE VARELA | DIRETOR PRESIDENTE DA 3M DO BRASIL : "PAÍS DEVE PROMOVER REDUÇÃO DE IMPOSTOS PARA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO" AMCHAM:

Em sua apresentação, o sr. citou os investimentos em inovação que a 3M tem feito no Brasil. Há um ambiente propício para o desenvolvimento local de tecnologia?

A M C H A M : Poderia dar mais detalhes? J O S E V A R E L A : Inauguramos em fevereiro uma

mais investimentos em inovação e vejo o Ciência Sem Fronteiras como uma iniciativa positiva, pois desenvolverá as pessoas e trará mais laboratórios e inovação, dando ocupação a esses indivíduos.

fábrica moderna em Ribeirão Preto, para fabricar micro-esferas de vidro ocas. É a primeira da América Latina, com toda a produção automatizada. Trouxemos a melhor tecnologia, trabalhamos em três turnos e somos produtivos. Por conta disso, os custos de energia são tão altos que não podemos exportar. Temos de vender para o mercado local.

A M C H A M : A inovação tecnológica é um diferencial

AMCHAM:

J O S E V A R E L A : O governo deveria promover muito

competitivo?

Como as dificuldades estruturais da economia brasileira atrapalham as empresas?

J O S E V A R E L A : Com tecnologia se faz muita coisa. O

JOSE VARELA:

mercado brasileiro, por seu tamanho, é muito atrativo, mas os custos de produção são altos. É possível [a uma companhia] se tornar competitiva, mas há certas coisas, como o custo da energia, que impedem uma produtividade maior.

Paga-se muito imposto para trazer um laboratório ou fábrica-piloto. Um bom começo seria a redução de impostos para pesquisa e desenvolvimento. A fabricação de produtos ou serviços beneficia não só o comércio exterior, mas também o próprio País.

Expediente: Edição: Giovanna Carnio (MTB 40.219) Reportagem: André Inohara e Marcel Gugoni Fotos: Mário Miranda Diagramação: Idéiafix Computação Gráfica

VOLTAR A PÁGINA INICIAL

16


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.