Revista Medicina Social Edição 231

Page 1

ANO XXXII - No 231 - OUT/NOV/DEZ - 2015

Envelhecimento saudável

Aprenda a manter-se em plena atividade após os 60 anos Saúde suplementar Os rumos dos planos de saúde no Brasil

O sociólogo Renato Sérgio Lima, membro do Fórum Brasileiro Segurança Pública, fala A psicóloga A Abiomédica Ana Maria Karen Rossi, Friedrich, presidente do Instituto da International Nacional Stress dede Controle Management Association geriatra Ana Cláudia Quintana Arantes, da Associação Casade doQualidade Cuidar, sobre a violência e como como dramático nossas cidades no Brasil,urbana em explica Saúde – INCQS, éreverter possível falaeste do controlar descontrole estresse de plenitude agrotóxicos dedas forma saudável ensina doentes terminais acenário viver oem sua

ISSN 1981-8718

MEDICINASOCIAL


2

CONHEÇA A REDE DE HOSPITAIS DA NOTREDAME INTERMÉDICA

Atendimento Humanizado

Atendimento 24h

ALGUMAS DAS ESPECIALIDADES

• • • •

Angiologia e Cirurgia Vascular Cardiologia Cirurgia Geral Ginecologia e Obstetrícia

UTI Neonatal

• • • •

Neurocirurgia Ortopedia e Traumatologia Otorrinolaringologia Urologia, entre outras

Os Hospitais da NotreDame Intermédica também atendem a diversas Operadoras de Planos de Saúde. Para saber mais envie um e-mail para daniel.csilva@intermedica.com.br ou ligue para (11) 3155-2284/3155-1867.

www.gndi.com.br

Diretor médico técnico responsável: Dr. Massanori Shibata Júnior - CRM 113495

São 8 hospitais, 6 maternidades e 11 prontos-socorros certificados e credenciados, com acesso a diversas especialidades médicas e profissionais referenciados, que garantem alta qualidade no atendimento. Idealizados para atender médicos, pacientes e familiares de forma segura e confortável.


EDITORIAL

3

A

A crise econômica no Brasil tem deixado muitos cidadãos desamparados. Segundo o CAGED/MTE (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho), somente neste ano, o País fechou 729.583 postos de trabalho até setembro. Em contraste, o setor de saúde, neste mesmo período, teve um saldo positivo de mais de 53 mil vagas de trabalho – o segmento saúde é o terceiro que mais gerou empregos entre janeiro e setembro de 2015. O sistema de saúde suplementar também tem sentido os impactos da atual conjuntura nacional. De acordo com os últimos dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), quase meio milhão de brasileiros deixou de contar com a proteção de planos de assistência médica nos primeiros nove meses deste ano. Em janeiro foi contabilizado um total de 50,7 milhões de beneficiários de planos de saúde. Já em setembro, este número caiu para 50,26 milhões. A queda inverte a curva de crescimento do setor nos últimos anos e acompanha o aumento do desemprego, sobretudo no mercado formal. Das 440 mil pessoas que ficaram sem a cobertura de seu plano de saúde, a grande maioria tinha plano coletivo empresarial, aquele pago pelas empresas para seus funcionários. Entretanto, é importante destacar o aumento de 140,5 mil beneficiários com 59 anos ou mais, registrando crescimento de 2,2% no ano – o maior crescimento apontado entre todas as faixas etárias. Justamente a faixa etária que “defensores dos consumidores” insistem em afirmar que as operadoras de planos de saúde dificultam a entrada em suas carteiras de beneficiários. As operadoras de planos de saúde têm conhecimento dos altos valores envolvidos SUMÁRIO Editorial........................................ 3 Economia...................................... 4 Direito.......................................... 5 Sinog............................................ 6 Tuberculose................................... 7 Benefícios da dança....................... 8 Libras......................................... 10

no setor e investem cada vez mais em gestão para tentar diminuir os custos e continuar a oferecer um atendimento de alta qualidade. Conforme apontam as recentes pesquisas do Ibope, Datafolha e a Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sete de cada dez pessoas afirmam estar “satisfeitas ou muito satisfeitas” com o atendimento de seus planos de saúde. A Abramge entende também que a ANS cumpre papel importante e organiza o mercado de saúde suplementar, mas destaca que é necessário levar em conta os elevados custos que a atualização do Rol de Procedimentos a cada dois anos representa às operadoras e beneficiários de planos de saúde. A Abramge é a favor do desenvolvimento de novas tecnologias médicas, mas pondera que o impacto desses novos procedimentos, medicamentos e terapias nas coberturas pressiona o equilíbrio financeiro das operadoras. Da mesma forma, este impacto pode dificultar o acesso dos beneficiários aos planos de saúde em virtude da necessidade de suprir os novos valores gerados por tais incorporações. Tendo em vista as pressões de custo na saúde e sua implicação quanto ao acesso da população, chegamos ao momento de avaliar um novo modelo de incorporação de procedimentos e medicamentos, com estudo prévio do impacto econômico, bem como reavaliar a real necessidade dessas tecnologias. O cidadão está com dificuldades para adquirir e manter planos de saúde. É preciso que os envolvidos na cadeia do setor (associações, entidades, governo, empresas, beneficiários, órgãos de defesa do consumidor) repensem o que pode ser feito para almejar um futuro melhor para toda a sociedade. P

divulgação

O impacto da crise na sociedade

. Cyro de Britto Filho . P residente da Abramge

• ABRAMGE - Associação Brasileira de Medicina de Grupo. Presidente: Cyro de Britto Filho • SINAMGE - Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo. Presidente: Reinaldo Scheibe • SINOG - Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo. Presidente: Geraldo Almeida Lima Endereço para correspondência: Rua Treze de Maio, 1540 São Paulo - SP - CEP 01327-002 Tel.: (11) 3289-7511

www.abramge.com.br medicinasocial@abramge.com.br

EDIÇÃO 231 - OUT/NOV/DEZ 2015 Esmalte dentário.......................... 12 Envelhecer saudável..................... 14 Nutrição...................................... 17 Entrevista................................... 18 Negócios..................................... 21 Higiene bucal............................... 22 Empreendedorismo...................... 24

Concepção.................................. 26 Crônica - Flávio Tiné..................... 28 Espaço Livre................................ 29 Crônica - Paulo Castelo Branco...... 30 Congressos Abramge e Sinog........ 31 Correio....................................... 34


4

ECONOMIA

VGBL – Saúde: tendências e desafios

O . Marcos Paulo Novais .

É fundamental vedar a venda casada de produtos de previdência e saúde

O rápido envelhecimento da sociedade é discutido nos principais fóruns do País, abordando problemas como o aumento dos custos com serviços de saúde e a sustentabilidade do sistema previdenciário. Como possível solução, é apontado o estímulo à formação de poupança no presente para custear despesas crescentes na aposentadoria. Uma dessas iniciativas para custear despesas futuras com saúde é o VGBL-Saúde1 . Para instituir o VGBL-Saúde e o benefício fiscal, o Projeto de Lei no 10 de 2015, de autoria do deputado Lucas Virgílio, foi aprovado na Câmara dos Deputados em agosto e segue para a análise do Senado. Vale lembrar que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) ainda não regulamentou, mas já publicou consulta pública sobre o tema no segundo semestre de 2014. De modo geral, o texto aprovado na Câmara estrutura sob o aspecto fiscal a contratação do VGBL-Saúde por empresas e pessoas físicas, ao prever que: • o valor pago pela pessoa jurídica não integrará remuneração para efeitos trabalhistas, previdenciários e contribuição sindical, desde que o benefício seja disponibilizado à totalidade dos empregados e dirigentes; • os rendimentos auferidos pelas pessoas físicas serão isentos de imposto de renda na fonte se o valor resgatado for utilizado para custear mensalidades de planos de saúde, desde que os recursos sejam transferidos diretamente da seguradora do VGBL-Saúde para a operadora de plano de saúde. É possível antever possíveis efeitos do VGBL-Saúde sobre o mercado de plano de saúde fazendo um benchmarking com o modelo dos Estados Unidos que inspirou este produto, a Health Saving Accounts (HSA). A HSA é semelhante ao VGBL-Saúde, no entanto seus recursos podem ser utilizados O VGBL – Vida Gerador de Benefício Livre – são seguros de vida com cobertura por sobrevivência. 1

O autor é economista chefe do Sistema Abramge/Sinamge/Sinog

para pagar não só as mensalidades do plano, mas também as franquias e coparticipações. A venda de produtos HSA começou nos Estados Unidos por volta de 2005 e, em 2013, já eram mais de 15 milhões de beneficiários. Este desempenho nos dá indícios de que a associação de um produto de capitalização com plano de saúde pode ser bem recebida pela sociedade. A expectativa é de que o principal contratante do VGBL-Saúde sejam as empresas, que disponibilizarão esse benefício aos seus colaboradores como um auxílio para custear o plano de saúde após a aposentadoria. Nos Estados Unidos 79% dos contratantes de planos do tipo HSA são empresas, sendo 62% grandes e 17% pequenas e médias. É importante avaliar se a criação do novo produto tem impacto sobre a concorrência no mercado de planos de saúde. Afinal, o mercado de seguradoras ofertantes de VGBL é altamente concentrado, com menos de 20 empresas atuantes. Além disso, mais de 90% do mercado de VGBL pertence a apenas quatro seguradoras, bem como há companhias e grupos econômicos que operam em ambos os mercados, de VGBL e de planos de saúde. Nesse cenário, para não trazer a concentração do mercado de VGBL para o de planos de saúde, é fundamental vedar que empresas que atuem nos mercados de VGBL e plano de saúde possam condicionar ou ofertar benefícios na aquisição casada de produtos. Além disso, deve-se evitar que jovens troquem o plano de saúde pelo VGBL-Saúde, postergando a entrada no plano para o momento em que a sua demanda por serviços de saúde for mais elevada, seja na aposentadoria ou quando acometido por alguma doença. Essa iniciativa minaria o mutualismo entre as faixas etárias estabelecido pela própria Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. Para contornar essa situação, é preciso deixar claro na regulamentação que a fruição do benefício fiscal somente se dará se o beneficiário possuir plano de saúde tanto no momento da contratação quanto na hora do resgate do VGBL-Saúde. P


DIREITO

Taxa de Saúde Suplementar

R

como a média aritmética do número de usuários no último dia do mês dos 3 (três) meses que antecederam ao mês de recolhimento de cada plano de assistência à saúde oferecido pelas operadoras. Ocorre que o artigo 97, no inciso IV, do Código Tributário Nacional é claro: “Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: (...) IV – a fixação da alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65” (grifos nossos). Ou seja, considerando que somente a partir da RDC 10/2000 há uma base objetiva que permita calcular a Taxa de Saúde Suplementar, temos que não caberia tal fixação por resolução emitida pela ANS, que, a rigor, configura norma infralegal, mas, tão somente, por meio de lei. Merece destaque o fato de o STJ – Superior Tribunal de Justiça já ter entendimento praticamente consolidado que, por força de tal vício, a Taxa de Saúde Suplementar deva ser considerada ilegal. Portanto, defendemos ser ilegal a cobrança da Taxa de Saúde Suplementar da maneira como ela foi desenhada atualmente, pelos claros vícios de legalidade existentes em sua criação. P

. Aluízio Barbosa .

No entendimento do Sistema Abramge, a cobrança é ilegal da maneira como está

divulgação

Recentemente o mercado recebeu, com preocupação, a publicação da Portaria Interministerial no 700/2015, publicada conjuntamente pelos ministros de Estado da Fazenda e da Saúde, que atualizou os valores da Taxa de Saúde Suplementar, cuja instituição se deu por força da Lei 9.961/2000. Trata-se da primeira atualização monetária aplicada à taxa desde sua criação e, considerando os percentuais aplicados, o mercado todo se viu preocupado com tais valores. Apenas para ilustrarmos, a Taxa de Saúde Suplementar foi alterada de R$ 2,00 (dois reais) para R$ 5,39 (cinco reais e trinta e nove centavos). Todavia, merecem destaques alguns aspectos acerca da legalidade da mencionada Taxa de Saúde Suplementar, que, inclusive, estão sendo objeto de discussão na esfera judicial por meio de ação proposta pela Abramge. Ao criar a Taxa de Saúde Suplementar, o artigo 18 da Lei 9.961/2000 deixa claro que a mencionada taxa tem, como fato gerador, o exercício, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), do poder de polícia que lhe é legalmente atribuído. Já o artigo 20 da Lei 9.961/2000 define que a Taxa de Saúde Suplementar será calculada tendo como base a multiplicação de seu valor pelo número médio de usuários da operadora. A ANS, por sua vez, emitiu a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 10/2000 que estabelece a base de cálculo

O autor é superintendente jurídico do Sistema Abramge/Sinamge/Sinog

5


6

SINOG

N Sinplo

2016 . Geraldo Almeida Lima .

Evento pretende levar às operadoras conhecimento para superar os momentos de crise e aperfeiçoar sua gestão do negócio

Não apenas o Brasil, mas o mundo vem passando por mudanças econômico-sociais significativas que esbarram no cotidiano de todos. Os momentos de crises são cíclicos e, embora nem sempre seja possível prever quando irão surgir, com conhecimento adequado, superar este cenário pode ficar mais plausível. Numa escala maior ou menor, a crise econômica atual vem atingindo a população como um todo: trabalhadores formais e informais, comerciantes e empresários, dos mais variados setores. Todos precisam saber lidar com este novo cenário e descobrir, dentro do próprio contexto, a melhor forma de superar isto. Atualmente, falar em crescimento de um setor pode parecer equivocado, contudo, ao falarmos de planos de saúde, o segmento odontológico não estagnou. Na verdade, ele nunca teve recuo. Embora até o final de 2012 o número de beneficiários crescesse a taxas de dois dígitos, em 2013 e 2014 conseguimos manter estável a evolução em 5% ao ano. Superamos a marca de 21,5 milhões clientes no País e temos hoje uma cobertura de 11% da população atendida pelos planos odontológicos. Com base nestes dados, há ainda a estimativa de que nosso segmento movimente aproximadamente 3.500 empregos diretos e 78.000 indiretos ao contratar e credenciar cirurgiões-dentistas, auxiliares e técnicos em saúde bucal, laboratórios de prótese dentária e empresas de produtos odontológicos. Embora os planos odontológicos apresentem um prognóstico positivo, a ideia de que não é preciso se preocupar perante a crise pode ser altamente danosa. Não se acomodar e buscar melhores soluções podem ser fatores decisivos não apenas para passar pela crise, mas sim para superá-la. Conhecer novos modelos de negócios, reestruturar a empresa tornando-a mais competitiva e reduzir os custos podem ser alternativas viáveis, cada qual a seu tempo e de acordo com o porte de cada operadora, seja ela pequena, média ou grande. Termos e expressões até ontem desconhecidos para a maior parte de nós, como valuation, compliance, governança corporativa e métodos contingenciais, fazem agora parte dessa nova realidade de negócios que necessitam ser compreendidos urgentemen-

te. Além disso, não podemos esquecer que atuamos em um mercado extremamente regulado, engessado e que nos restringe, ao máximo, colocar nossa criatividade em busca de novos horizontes. Consciente desta atual conjuntura econômica do País e das necessidades que o segmento odontológico possui, o foco central do próximo Sinplo – Simpósio Internacional de Planos Odontológicos, em 2016, será como criar oportunidades ou buscar saídas para reduzir o impacto da crise. Desta forma, nós, do Sinog, pretendemos oferecer ao segmento dos planos odontológicos todo o embasamento e suporte necessários para lidar da melhor forma com o delicado momento em que o Brasil se encontra. Com a pretensão de melhorar o direcionamento das informações e o relacionamento entre as operadoras e a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, estamos pleiteando junto ao presidente da agência reguladora a possibilidade de trazer especialistas e técnicos em regulação das respectivas diretorias para participar das oficinas de atendimento, nos mesmos moldes que temos realizado a cada edição do Sinplo com o time de consultores do Sinog. Em 2009, as oficinas da ANS em nosso evento possibilitaram que os participantes solucionassem problemas pertinentes ao registro de seus produtos e da própria operadora, bem como à fiscalização, sistema de informações de produtos e beneficiários (SIP e SIB) e regulação econômico-financeira. Esperamos poder trazer a cada edição do Sinplo temas que estejam na realidade do segmento odontológico, pois sabemos que é nossa obrigação tentar suprir as lacunas de conhecimento e dar capilaridade às informações para que todas as operadoras espalhadas pelo Brasil tenham a possibilidade de continuar crescendo e consolidando-se mesmo em cenários de crise como estamos acostumados a vivenciar. Portanto, agende-se: 28 e 29 de abril de 2016, no Centro de Convenções da Fecomércio, na cidade de São Paulo, para a 11a edição do Simpósio Internacional de Planos Odontológicos. P Geraldo Almeida Lima é presidente do Sinog e sócio-diretor da São Francisco Odontologia, diretoria@sinog.com.br


TUBERCULOSE

Gotas que contaminam

T

Tosse com duração igual ou superior a população de indivíduos contaminados, duas semanas, febre vespertina, elimina- cerca de 5% a 10% desenvolverão o ção de sangue ao tossir, sudorese notur- problema ao longo da vida, sendo que na, perda de peso e de apetite são alguns esse adoecimento é mais frequente nos dos sintomas de uma doença infecciosa primeiros dois anos após o contato com grave, a tuberculose, que é causada pela a bactéria”, diz Matos. Genta lembra que a tuberculose bactéria Mycobacterium tuberculosis, acomete mais frequentemente e é transmitida de pessoa a pessoa os pulmões, caracterizanpor via aérea. De acordo com do a forma pulmonar da a Organização Mundial da doença. Entretanto, ela Saúde (OMS), são nopode agredir também tificados cerca de 8,6 praticamente todos milhões de novos casos os órgãos, tais como por ano – sendo que, cérebro e meninges, desses, mais de 80 mil ossos e articulações, são em brasileiros. Por rins e aparelho urinário, conta dessa doença, aparelho genital, olhos, 1,3 milhão de pessoas pele etc. “Em paciente com morrem todos os anos quadro clínico sugestivo o no mundo. No Brasil, são © Art1art | Dreamstime.com diagnóstico é realizado pela registrados mais de 4.500 radiografia de tórax e exames óbitos anualmente. de escarro. A confirmação é dada pelos Para Eliana Matos, coordenadora da comissão de tuberculose da Sociedade exames bacteriológicos”, esclarece. Os especialistas alertam: toda pessoa Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, algumas estratégias devem ser adotadas com tosse por período superior a duas separa acelerar a redução do número de no- manas deve procurar um serviço de saúde vos casos e da mortalidade por tubercu- para investigar se está com tuberculose. lose. “É fundamental ter um diagnóstico Essas pessoas, classificadas de sintomáprecoce da doença e, consequentemente, ticos respiratórios, são alvo de programas iniciar o tratamento adequado, quebran- de saúde pública – com ênfase na busca do a cadeia de transmissão”, explica a ativa de casos. Essa doença infecciosa é mais frequente na faixa etária de 15 a especialista. “O risco de contrair tuberculose está 45 anos, embora atualmente a incidência relacionado aos hábitos de vida, condi- esteja aumentando na população idosa. ções de habitação e à imunidade. Fumar, ingerir álcool, ter problemas de saúde, Obstáculo O principal tratamento da tuberculose como diabetes ou Aids, além de viver em condições precárias, são fatores que con- é feito com antibióticos específicos para tribuem para o desenvolvimento da doen- combater a doença. Porém, muitos paça”, reforça Pedro Genta, pneumologista cientes abandonam os medicamentos logo que sentem uma melhora. Mas os cuidados do Hospital Beneficência Portuguesa. Ao tossir, falar ou espirrar, o pacien- devem ser mantidos por seis meses, mesmo te com tuberculose elimina gotículas que os sintomas tenham desaparecido. contendo bacilos que são inaladas por “O abandono do tratamento constitui no outro indivíduo, que pode assim se tornar maior obstáculo para o controle da doença infectado e, posteriormente, adoecer. tanto no indivíduo quanto na comunidade”, P “Nem todos os infectados, porém, irão explica Matos. evoluir para a doença tuberculosa. Da eliescudero@gmail.com

. Elisandra Escudero .

Toda pessoa com tosse por período superior a duas semanas deve procurar um serviço de saúde

Dicas para prevenir a tuberculose

• Se alguém de sua área de contato, familiares, amigos, colegas de trabalho, tem o diagnóstico de tuberculose, procure o serviço de saúde para investigar se você está infectado. Tratando a infecção tuberculosa, é possível evitar a progressão para doença. • A vacinação BCG para recémnascidos evita formas graves da doença em crianças. • O fortalecimento do sistema imunológico é outra importante arma para se proteger da tuberculose. Assim, é recomendável manter o controle de doenças crônicas, como diabetes e Aids. • Parar de fumar e não ingerir álcool são medidas de saúde, em geral, que podem reduzir o risco. • Conhecer aspectos de sintomatologia e de formas de transmissão da tuberculose pode ser útil para ajudar a evitar a inalação de gotículas com bacilos. Fonte: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

7


8

BENEFÍCIOS DA DANÇA

Um baile de saúde D . Eli Serenza .

Além do prazer que proporciona, especialistas comprovam sua utilidade para a saúde cardíaca

© passiflora70 | dollarphotoclub.com

Dançar faz bem. Esta afirmação é comum entre os que praticam, assim como por parte dos médicos e profissionais de saúde que, cada vez mais, recomendam a atividade para diferentes males do corpo e da mente. Dependendo do ritmo, a dança pode fazer bem para o coração e para o condicionamento muscular, além de proporcionar alongamento, flexibilidade, concentração, equilíbrio e coordenação motora. Uma pesquisa realizada em Buenos Aires, na Argentina, demonstrou que, em termos de consumo de oxig ênio e de calorias, dançar tango, por exemplo, é um exercício físico comparável à natação recreativa, a uma caminhada de 3,5 quilômetros por hora ou a um passeio de bicicleta. Sua prática pode prevenir problemas cardiovasculares e também ajuda na reabilitação de quem sofre de alguma cardiopatia. Entre os benefícios comprovados da dança de salão, estão a melhora da circulação, o controle da hipertensão, a perda de calorias. A dança proporciona, ainda, o aumento nos níveis do bom colesterol (HDL), diminuição do colesterol ruim (LDL) e da quantidade de glicose no sangue, no caso dos diabéticos, com uma melhor resposta do organismo à insulina. Além disso, ajuda a acelerar o metabolismo e a liberar toxinas, sem falar nos benefícios emocionais e mentais que desencadeia. O equilíbrio também melhora porque, ao dançar, a pessoa trabalha braços e pernas ao mesmo tempo, além de pensar no espaço que usa no momento, o que ajuda a ativar áreas do cérebro. Por esse motivo, a dança pode ser um bom recurso principalmente para idosos, porque reduz o risco de quedas, comum por causa de doenças como a osteo-

porose, informa o fisioterapeuta Felipe Nantes, que inclui a prática entre os exercícios que recomenda. Segundo ele, durante a atividade, os músculos e órgãos vão trabalhar mais e precisam ter uma melhor irrigação sanguínea. “Mas é preciso ter cuidado para não se machucar, ter desgaste de estruturas do corpo ou lesões por sobrecarga”, previne. Por isso, sua recomendação é respeitar os limites do corpo – mesmo na dança – e praticar exercícios físicos com a orientação de um profissional. “Como a dança combina o benefício aeróbico ao entretenimento, além do relaxamento proveniente do lazer, ela também diminui a adrenalina que causa o estresse e contribui para problemas cardíacos”, afirma Marcelo Cantarelli, da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHC). Ele reforça a importância de se fazer um check-up completo da saúde, principalmente do coração, antes de começar a praticar exercícios e atividades aeróbicas, que contribuem para uma melhor irrigação sanguínea. “Para suprir essa demanda, o sangue tem que circular mais rápido pelo organismo. Nesse momento, a pressão arterial máxima sobe e a mínima desce.” Apesar de a atividade física afetar diretamente o funcionamento do coração, Cantarelli esclarece que pacientes com pressão alta também devem praticar atividades físicas como as proporcionadas pela dança. “Pode ser recomendável fazer um mapa da pressão arterial, inclusive durante a prática dos exercícios, para ter um melhor diagnóstico e ajustar a medicação. Mas, com o tempo, o paciente pode até passar a ingerir menos remédios para a hipertensão”, completa o cardiologista. Para Abrão Cury, cardiologista e clínico geral do HCor, de São Paulo, a dança de salão pode ser tão positiva contra a hipertensão como as caminhadas ou outros e­ xercícios


© Kzenon | dollarphotoclub.com

9

aeróbicos para os idosos. Segundo ele, na busca por uma forma natural de baixar a pressão arterial, que já afeta cerca de 40% dos adultos brasileiros, pesquisadores comprovaram que a dança eleva o batimento cardíaco até a desejada “zona alvo” de frequência cardíaca a ser atingida em um programa de exercício. Cury esclarece que um paciente que dance por meia hora tem o mesmo efeito benéfico que conseguiria exercitando-se pelo mesmo tempo na esteira ou bicicleta. “Não há dúvidas de que é mais prazeroso e confortável dançar do que se exercitar numa esteira. Essa lúdica modalidade de atividade física foi valorizada por vários estudos de prevenção cardiovascular e geriátrica, até nos indivíduos com mais de 80 anos.” O médico do HCor conta que nos programas de reabilitação que acompanha têm sido adotados ritmos variados, como forró, bolero, samba, merengue, valsa, rock e salsa, e o único cuidado é

evitar as interrupções, para que pacientes fiquem na zona alvo do treinamento o maior tempo possível, mantendo o coração acelerado. “A grande vantagem da dança de salão é seu aspecto lúdico, prazeroso e a integração social que facilita. Os pacientes que se recusam a fazer exercícios ou acham cansativo caminhar 30 minutos por dia geralmente se dão bem com essa alternativa”, explica Cury. Ao dançar três vezes por semana, com esse ritmo de treinamento, após 12 semanas, o praticante sentirá enormes benefícios para sua saúde, além de ganhar longevidade.

Dançando no parque

A procura é tanta que acontece baile três vezes por semana no Parque da Água Branca! Terça e quinta, das 13 às 17 horas, o som vem dos CDs, com ritmos que variam do bolero ao sertanejo e, nos sábados, grupos ao vivo se apresentam, tocando principalmente o forró.

Ninguém tem menos de 50 anos nos dois salões interligados, repleto de casais concentrados na dança e de senhorinhas que não deixam de dançar se não tiverem par. Um dos organizadores do baile, Ademir Jeová, do Instituto da Melhor Idade, que funciona no Parque da Água Branca há 14 anos, garante que o lugar tem capacidade para 700 pessoas e não fica vazio em nenhum dia da semana. Isso porque, assim como ele, a grande maioria dos frequentadores é de aposentados. É o caso de Umbelina Gonçalves Ribeiro, que viaja cerca de duas horas de ônibus nos três dias do baile para vir do Capão Redondo até o parque, na região de Perdizes. “Venho com uma amiga e gosto muito. Além disso, sei que faz bem para os músculos, a circulação e ajuda até a evitar depressão”, diz ela, que, prestes a completar 69 anos, garante que não precisa de remédio para nada. P eserenza@terra.com.br


10

LIBRAS

Idioma completo

D . Lucita Briza .

Uma criança surda que aprende Libras desde bebê pode ter o mesmo desenvolvimento de linguagem de uma ouvinte com a mesma idade

Desde 2002, uma segunda língua é oficialmente reconhecida no Brasil: a Libras (Língua Brasileira de Sinais), que vem sendo cada vez mais usada pelos surdos. Como qualquer outra língua natural, completa, cujas complexidades gramaticais permitem uma comunicação eficaz, a língua de sinais pode começar a ser ensinada e praticada desde o primeiro ano de vida, além de ser também a melhor forma de os ouvintes se comunicarem com a comunidade dos surdos e vice-versa. Segundo o Censo de 2010, há no País 9,7 milhões de deficientes auditivos. Por isso, a tendência é de que se intensifique seu uso em eventos públicos, teatros e pelos meios de comunicação individuais ou de massa – dos celulares à TV e à Internet. Hoje, graças às novas tecnologias, pessoas surdas podem comunicar-se através da Libras por meio de webcams, videoconferências etc. No mundo todo existem línguas usadas pelos surdos para se comunicar, cada uma com sua própria estrutura, diferindo de país para país e até mesmo de região para região, dependendo da cultura local para cunhar certas expressões. É o que acontece com a Libras, de origem na língua de sinais francesa. Os sinais são uma combinação de configurações de mão, movimentos e direção do sinal, pontos de articulação – locais no corpo ou no espaço onde são feitos – e expressões faciais e corporais que transmitem os sentimentos. Algumas particularidades facilitam seu entendimento, como o fato de os verbos aparecerem todos no infinitivo e os pronomes pessoais não

serem representados (aponta-se a pessoa de quem ou com quem se fala); no caso de palavras como nomes próprios é preciso sinalizar as letras uma a uma; a ordem das palavras também muda: se oralmente dizemos “eu quero café”, colocando primeiro o sujeito, em Libras o objeto (“café”) vem em primeiro lugar, depois “eu quero”. Sabemos que há diferentes causas para a surdez e variados graus de perda auditiva, observa Maria Inês Vieira, pedagoga e mestre em educação de surdos na Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios de Comunicação (Derdic) da PUC/SP, mas é preciso que os médicos estejam atentos para o fato de pessoas já nascerem com surdez profunda (só captando vibrações, sons graves e de alta intensidade) e a estrutura do pensamento ser formada basicamente por imagens. Ou seja, o bebê, por ser surdo já no período pré-linguístico, estará no mundo por meio da visão (ajudada pelo tato e olfato) e não da audição. Neste caso, só no momento em que a mãe entra em seu campo visual é que passa a existir comunicação entre ambos. Estabelecida a relação mãe-colo, mãe-comida, mãe-banho, esta comunicação prossegue sobretudo graças ao contato visual e ele estará pronto para adquirir uma língua à qual já tem acesso. Nesse momento, acrescenta Vieira, em geral a opção dos médicos – cuja formação é voltada para a cura do paciente, transformando-o em ouvinte – é encaminhá-lo para o treinamento de fala e com aparelho auditivo ou, em determinados casos, para


11

o implante de cóclea. Mas, se é consenso entre os especialistas ser fundamental para a educação dos surdos ensinar-lhes uma língua que possa ser usada, Vieira defende que, além da possível indicação de aparelho e do treinamento para linguagem oral, a primeira língua – a que os fará sujeitos da linguagem – seja aquela à qual eles têm acesso completo: a visual ou de sinais. “Por meio dela, podem aprender a segunda língua, a portuguesa na modalidade escrita e, a partir delas, a língua oral.” Para a pedagoga Priscilla Gaspar, professora do curso de Pós-Graduação do Ensino de Libras na Universidade Mackenzie, uma criança surda que aprender Libras desde bebê poderá ter o mesmo desenvolvimento de linguagem que tem uma ouvinte com a mesma idade. Provinda de uma família de surdos – como ela própria, seu marido e três filhas pequenas –, Gaspar opina que o professor surdo é “o número 1” para ensinar Libras a crianças surdas, por ser ele “um modelo perfeito na construção da identidade, cultura e língua de todas essas crianças”. As pessoas ouvintes que fazem curso de Libras também notam que estes professores têm mãos habilidosas e uma percepção muito especial para as ajudarem na aprendizagem da língua. Na área educacional, opinam as pedagogas, o ideal seria todas as crianças terem acesso à Libras, para não haver preconceito em relação à diferença linguística. Em países da Europa e nos EUA, já existe o acesso de toda a população a um kit com informações e aulas sobre as respectivas línguas de sinais. Há ainda filmes que abordam o tema, como o francês Sou Surda e não Sabia e o americano Entrando numa Fria Maior Ainda. No Brasil, apesar de a Libras ser obrigatória para a acessibilidade dos surdos em todos os serviços públicos e privados, poucos estão cumprindo a determinação que já tem 15 anos. Apenas alguns canais de TV usam a janela de tradução e interpretação de seus programas (a maioria utiliza a legenda); e algumas peças de teatro contam com o trabalho de profissionais intérpretes de Libras. Quanto ao ensino, Libras ainda não faz parte da grade curricular nas faculdades de medicina; e no ensino básico cresce o debate sobre se a criança surda

pode ser incluída e bem atendida numa escola comum, como indica o MEC, ou se os empecilhos (como o fato de o professor não poder falar duas línguas ao mesmo tempo) acabam gerando sua exclusão. Mas já existem no País centros de excelência difusores de Libras, como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) – www.ines.gov.br, que, além de produzir material pedagógico, fonoaudiológico e de vídeos em língua de sinais distribuídos para os sistemas de ensino, abriga um colégio de aplicação e um pioneiro curso bilíngue de pedagogia no Rio de Janeiro. Também há o Derdic – www.pucsp.br/derdic, em São Paulo, que atua na educação e no atendimento clínico de surdos e instrumentaliza ouvintes e surdos de seus cursos para a comunicação em Libras, além de outros centros divulgados na Internet. P lucitab@terra.com.br © Susan Stevenson | dollarphotoclub.com


12

ESMALTE DENTÁRIO

. Elisandra Escudero .

Hábitos simples podem ajudar a conquistar dentes brancos e saudáveis © pavelkriuchkov | dollarphotoclub.com


13

P

Sorriso brilhante

Para manter os dentes brancos e acima de tudo saudáveis, é indispensável ter uma higiene bucal adequada, já que saúde e beleza estão interligadas. Há, no entanto, quem não dispensa as pastas branqueadoras e métodos utilizados por dentistas nos consultórios para deixar os dentes mais brancos. Mas é preciso lembrar que não é só uma questão de estética. Por isso aproveitar técnicas simples, que vão de hábitos de higiene ao tipo de alimento consumido, ajudam a conquistar um sorriso brilhante, mais bonito e saudável. Os dentes são órgãos que apresentam na sua constituição tecidual um alto teor mineral, o que os tornam estruturas bastante rígidas e muito resistentes. Conforme explica Helenice Biancalana, diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da ­A ssociação Paulista de ­Cirurgiões-­Dentistas – APCD, os dentes possuem vários minerais como o magnésio, fósforo, cálcio, potássio, sódio, estrôncio, estanho e lítio. “A escassez ou ausência destes minerais leva à hipoplasia, ou seja, afeta a mineralização do esmalte, gerando dentes com imperfeições, pouca resistência às forças mastigatórias, manchas brancas ou amarelas e tendência à cárie”, diz. A cárie dentária é uma doença infecciosa e pode ocorrer quando há uma associação entre uma dieta inadequada, rica em sacarose e carboidratos, higiene bucal deficiente, ocorrendo o acúmulo da placa bacteriana, principal fator de risco para esta doença. Além de levar a outras doenças da cavidade bucal como gengivite, doença periodontal (infecciosa), formação de placa bacteriana e cálculos (tártaro), halitose, aftas e herpes. O esmalte dentário consiste no revestimento exterior da coroa (parte visível) do dente com uma ca-

mada externa de 2 mm de espessura, que varia ao longo da superfície. É um tecido translúcido, por isso, deixa transparecer a cor ligeiramente mais escura da dentina ou qualquer material abaixo do esmalte dentário. De acordo com Miguel Simão Haddad, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica – SBPqO, o esmalte é a camada protetora periférica do dente e a estrutura mais resistente do corpo. “Ele é formado por 96% de mineral (hidroxiapatita) e 4% de componentes orgânicos (proteína), além de água”, reforça. Para os especialistas, o elevado conteúdo mineral do esmalte o torna suscetível a uma série de problemas. “A desmineralização é uma delas e pode ser desencadeada pela cárie dentária. Outro problema que afeta o esmalte dos dentes

é o atrito, principalmente por conta do bruxismo (ranger e apertar os dentes). O atrito provocado por elementos externos, a exemplo do uso inadequado da escova dental, também é prejudicial, além da erosão provocada por processos químicos, como a ingestão de ácidos encontrados em refrigerantes e sucos de bebidas cítricas como o limão”, avisa Haddad.

Dentes saudáveis

1. Ter uma alimentação saudável, equilibrada e em horários regulares. 2. Deixar para a sobremesa doces caseiros ou o chocolate e outros. 3. Nos lanches intermediários, entre as refeições, recorrer sempre a alimentos como queijos brancos, lanches naturais, frutas, e beber muita água. 4. Fazer uso do fio dental após as refeições. 5. Escovar os dentes após as refeições (café da manhã, almoço e jantar), lembrando que aguardar pelo menos 20 minutos é recomendável para que o pH bucal se restabeleça. 6. Usar sempre dentifrício (creme dental) fluoretado nas escovações dentárias. 7. Utilizar escovas com cerdas macias e adequadas à necessidade de cada um. 8. Realizar sempre uma técnica de escovação adequada às habilidades individuais. 9. Lavar em água corrente e higienizar a escova de dente após a sua utilização. 10. Armazenar a escova de dente em local arejado distante de ambiente contaminável (e deixar o vaso sanitário sempre fechado).

A coloração dos dentes é individual para cada pessoa, e alguns fatores influenciam, como os genéticos, congênitos, metabólicos, químicos, infecciosos e ambientais. “A higienização bucal é fundamental para manter não somente o esmalte saudável, mas, sobretudo, a cavidade bucal equilibradamente sadia. Desenvolver hábitos saudáveis de alimentação, consumindo os alimentos fibrosos, como verduras, legumes e frutas, também exige maior mastigação e contribui para o bem-estar geral”, lembra Biancalana. É sempre bom investir em uma alimentação variada, que forneça vitaminas, minerais e fibras, não se esquecendo da água, que ajuda a equilibrar o pH bucal e manter o constante fluxo de saliva. As frutas e legumes, alimentos considerados “detergentes”, como a pera, maçã, cenoura e laranja, também podem eliminar resíduos de outros alimentos que ficaram aderidos à superfície dental. “Vale ressaltar ainda que é importante evitar vícios como o tabagismo, que mancha os dentes, assim como o alcoolismo, que provoca destruição da flora bacteriana bucal”, explica Haddad. Segundo o especialista, entre os alimentos e líquidos que ocasionam o aparecimento da cárie, causando lesões no esmalte, está o açúcar, em todas as suas formas: doces, refrigerantes, bebidas ácidas, biscoitos, bolachas etc. A alta frequência de ingestão desses alimentos e líquidos citados com a falta da higienização bucal pode levar a riscos danosos e muitas vezes irreversíveis. P

Fonte: APCD.

eliescudero@gmail.com

Dicas para manter o esmalte dos dentes saudável


14

ENVELHECER SAUDÁVEL

Com saú

. Renata Bernardis . . Keli Vasconcelos .

Hoje, ser idoso é sinônimo de atividade plena, mas inspira planejamento. O ideal é preparar-se para esta realidade © WavebreakmediaMicro | dollarphotoclub.com


15

úde na melhor idade H Houve uma época em que envelhecer era alusão à doença, como se aqueles que tinham o privilégio de chegar aos 60 ou 70 anos precisassem se contentar com um fim de jornada preconizado pela deterioração da qualidade de vida e do mau funcionamento do organismo. Felizmente os tempos mudaram. Hoje privilegia-se o gozo de vida saudável mesmo nas idades mais avançadas. Contudo, para que sejam colhidos os frutos de um envelhecimento saudável em uma etapa que é muito mais uma conquista que um castigo, as sementes devem ser plantadas ainda na infância. Pela OMS (Organização Mundial da Saúde), são considerados “idosos” os com idade igual ou acima de 65 anos em países desenvolvidos e aqueles com 60 anos ou mais nos países em desenvolvimento. Além da diminuição da taxa de fecundidade não só aqui, mas em todo o globo, o avanço em medicações e tecnologias são alguns dos fatores para esse fenômeno. Faz muito sentido pensar nessa parcela de pessoas idosas – cuja expectativa de vida hoje é de 74,9 anos –, pois elas somam hoje 20,6 milhões de brasileiros e representam 10,8% da população. A estimativa é de que, em 2060, o País tenha 58,4 milhões de idosos (26,7% do total). Os dados, divulgados em dezembro de 2014, são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quais, então, os impactos que o setor terá com o crescimento exponencial da população idosa? O Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) divulgou, em 2012, tais projeções. Um dos resultados foi que no sistema público, considerando apenas o envelhecimento, em 2030 a despesa aumentará em 40,4%. “Este relatório foi atualizado em 2013, com a projeção revisada pelo IBGE. Os resultados mostraram a taxa maior de crescimento da população, em relação a 2012, e o destaque foi para a elevação do número de idosos. A estimativa de gastos com as despesas assistenciais da saúde

suplementar no relatório supera os R$ 90 bilhões”, enumera Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executivo do IESS. Ele arremata que grandes preocupações decorrentes do envelhecimento passaram pelas áreas de cuidado hospitalar e assistência. “O crescimento dos gastos públicos ou privados implicam ao setor outras causas que merecerão atenção nos próximos anos, como políticas de aumento na cobertura e variedade de serviços”, frisa.

Conscientização

É possível continuar ativo e saudável mesmo aos 60 anos ou mais? O geriatra João Paulo Nogueira Ribeiro explica que as maneiras para tal objetivo estão na adaptação e na consciência que essa fase não começa só na sexta década de vida. “É algo natural e comum a todos os indiví­duos. Alguns observam de forma mais lenta, outros de maneira mais rápida”, endossa. Ribeiro esclarece que por volta dos 25 anos atinge-se a plenitude de desenvolvimento e, com o passar do tempo, o processo inicia-se. Eis a hora de dar mais atenção ao controle de doenças crônicas, como hipertensão, obesidade e diabetes. “É possível, neste momento, identificar fatores de risco individuais e familiares, rastrear enfermidades comuns a cada faixa etária e tomar as vacinas apropriadas”, reforça o fundador do Instituto Horas da Vida, que atende, voluntariamente, assistidos por instituições de trabalho social. De acordo com o geriatra Clineu de Mello Almada Filho, da disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo, as pessoas estão mais conscientes sobre a importância da prevenção, de investir precocemente na saúde para terem um futuro saudável. Contudo, apesar de a consciência ter aumentado, ela ainda não é proporcional ao número de pessoas dispostas a mudar hábitos condenáveis, como se alimentar mal e não fazer atividade física.

“Alguns anos atrás, 95% dos pacientes do consultório eram idosos. Hoje, metade deles é de meia-idade. E, apesar de se anteciparem em check-ups e comemorarem o aumento da expectativa de vida, parece empacarem na hora de mudar os hábitos. É como se, diante de resultados de exames satisfatórios, postergassem suas preocupações: já que estou bem agora, vou aproveitar a vida e só vou me preocupar lá na frente”, elucida Almada Filho. Outros são ainda mais ousados porque, mesmo diante de resultados de exames com alterações, ignoram os perigos por estarem se sentindo bem. “Quase 50% da população sofre de pressão alta, mas menos de 20% tratam o problema”, lamenta o geriatra com base em diversos estudos epidemiológicos. Para Maria Alice de Vilhena Toledo, vice-presidente da SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a qualidade de vida deve ser meta para o envelhecimento saudável: “É, também, o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso dos anos, bem como a manutenção da autonomia e independência durante este processo. Trata-se de uma interação entre físico, mente, integração social, suporte familiar e independência econômica”, reforça. Infelizmente os que menosprezam a importância da prevenção só se conscientizam disto quando adoecem. É um paradoxo: precisam ficar doentes para começar a se cuidar. “Mudar maus hábitos é muito difícil, mas fundamental”, reforça Almada Filho, ao explicar que 75% dos problemas desencadeados na velhice provêm do estilo de vida da pessoa e apenas 25% de sua carga genética. Portanto, não tratar doenças manifestas como pressão alta e diabetes, que possuem recursos para evitar que elas se transformem em causa de prejuí­ zos funcionais, é totalmente prejudicial e comprometedor para a questão do envelhecimento saudável.


ENVELHECER SAUDÁVEL

© PointImages | dollarphotoclub.com

16

Já o Ministério da Saúde lançou, em 2014, a Política Nacional de Promoção da Saúde (redefine a antiga PNPS, de 2006), que visa deter o desenvolvimento das doenças crônicas para todos os públicos, não apenas aos idosos. A ação pretende trabalhar com prevenção e implantação do Programa Academia da Saúde, com polos para atividades físicas.

E xemplos

Comportamento

De acordo com Wilson Jacob Filho, diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, mudar comportamentos que permitam as pessoas viverem com mais saúde e disposição vale a pena em qualquer idade. “O investimento no futuro vale em qualquer fase da vida, haja vista aqueles que interrompem o tabagismo ou iniciam uma atividade física depois dos 80 anos.” E continua: “O segredo é entender a vida como um ciclo que vai da concepção à morte e cada fase é consequência das precedentes e fundamental para as que vão sucedê-la. Assim, a vida intrauterina tem a ver com as condições maternas e será determinante para o futuro, mesmo que seis ou sete décadas depois do nascimento”. Para o cardiologista Fábio Gazelato de Mello Franco, coordenador médico dos pacientes crônicos do hospital paulista Albert Einstein, a medicina, a tecnologia e a farmacêutica ainda não conseguem modificar o perfil genético dos indivíduos, mas juntas permitem que aqueles que possuem predisposição genética para desenvolver determinadas doenças tenham mecanismos para driblá-las, seja retardando seu aparecimento, seja as controlando melhor, caso se manifestem tardiamente. Essa manobra permite que esses idosos

participem do universo social, como se nada lhes tivesse acontecido.

Prevenção

de saúde

O Instituto QualiBest, a pedido de um laboratório farmacêutico, entrevistou recentemente cerca de 1.000 brasileiros entre 18 e 61 anos e o resultado foi que 90% deles temem o peso da idade e problemas que podem decorrer, como perda de memória e limitações físicas. Por outro lado, o estudo revelou que são poucos os que, efetivamente, cuidam da alimentação e fazem exercícios regularmente. Vilhena Toledo complementa que a ONU (Organização das Nações Unidas) preconiza que as políticas públicas não caiam no assistencialismo. “E sim trabalhem na reinserção do idoso na sociedade. Além das doenças físicas, é importante que os programas promovam a saúde mental e as relações sociais”, destaca. Os programas de prevenção, segundo os especialistas, são válidos. Dados da publicação Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças na Saúde Suplementar Brasileira mostraram que, em 2013, tais programas inscritos na ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) chegaram a quase mil, com mais de um milhão de beneficiários participantes.

de vida

Envelhecer é um novo começo para todos, do cidadão à gestão, o que engloba um conjunto para estruturar e qualificar equipes multidisciplinares, sem deixar de lado o fomento à geriatria e gerontologia e amadurecimento de estudos e estatutos. “Acredito que não apenas ‘o que’, mas o ‘como’ será o grande diferencial. Isso precisa acontecer de forma humanizada, com o devido respeito e o foco no ser humano e não apenas em suas doenças e deficiências. O resgate da relação humana é o que temos de mais valioso para cuidar de pessoas”, conclui João Paulo Ribeiro, do Horas da Vida. O casal de septuagenários Artur e Priscila Simões Serra segue a cartilha do envelhecimento saudável. Trabalham até hoje, viajam eventualmente, fazem atividade física duas vezes por semana para que o organismo se adapte a um patamar maior de exigência e de capacidade de resposta. Também possuem uma alimentação que teve o sal abolido do cardápio e está alicerçada em peixes e frutas. Só esquecem de seguir a cartilha quando uma caixa de chocolates aparece à mesa. Aí, aqueles que foram consumidos a mais acabam se tornando os responsáveis por um leve puxão de orelha dos médicos, pois eles são detectados nas pequenas alterações de sangue. De volta às rédeas curtas, o casal, que foge totalmente do paradigma da medicina de 50 anos atrás, que aconselhava as pessoas de mais idade a fazerem repouso e ficarem de pijama, sentadas nas poltronas da sala, sem fazer qualquer esforço, sabe que tem muitos e muitos anos pela frente. Afinal, o envelhecimento ativo conduz ao envelhecimento saudável. P rbernardis@gmail.com vasconceloskeli@gmail.com


NUTRIÇÃO

17

Atenção ao prato O em geral, concentram-se nas células de gordura dos animais para abate: “Como eles têm mais gordura corporal e são alimentados por rações feitas principalmente com vegetais de produção em larga escala, com mais agrotóxicos, acabam consumindo e acumulando esses agentes”, salienta.

Orientação

Então, o que colocar no prato de maneira segura? A orientação está em, se possível, informar-se sobre a procedência do que será levado. Escolher itens de época e misturar nutrientes são boas pedidas, pois aquele legume e hortaliça não receberam tantas cargas no cultivo. “Há uma discussão muito forte sobre a necessidade de produzir alimentos em maior escala para suprir a população, mas sabe-se que, se não ocorrer tantos desperdícios no transporte, comercialização, produção e venda, pode-se diminuir o uso de agrotóxicos”, arremata Schüncke. Higienizar e tirar as cascas dos alimentos podem minimizar a presença dessas substâncias, mas não totalmente, reforçam os especialistas. Um estudo demonstrou que descascar, remover folhas mais exteriores (de couve e alface) e lavar com mistura de água e detergente suave eliminaram os resquícios de pesticidas em 21% de frutas e vegetais, comenta Carniel. “Descascar, por si só, já retira tais resíduos em bananas, batatas e cenouras”, diz. Mais uma alternativa é o consumo dos orgânicos, presentes nas prateleiras de supermercados e em feiras do segmento. Contudo, é preciso, além de pesquisar preços, verificar a procedência, pois os produtos recebem uma certificação/selo que atesta se foram seguidos corretamente os procedimentos de manejo e de plantio, bem como a valorização da mão de obra de quem trabalhou na lavoura. “Seria interessante também que cada um tivesse sua própria horta, o seu próprio cultivo, pois saberia o que utilizou exatamente”, finaliza Antonio Godinho. P vasconceloskeli@gmail.com

. Keli Vasconcelos .

Verificar a procedência é importante para evitar alimentos com excesso de agrotóxicos

© zaschnaus | dollarphotoclub.com

O Brasil é conhecido pela culinária extremamente rica em cores e sabores, graças às vastas opções em frutas, verduras e legumes. Por outro lado, carrega uma estatística nada palatável: é o maior consumidor de agrotóxicos no mundo, com mais de um milhão de toneladas, informa recente relatório do Instituto Nacional de Câncer (Inca). No documento, consta ainda que os perigos no contato e consumo cumulativo envolvem desde distúrbios gastrointestinais, redução do sistema imunológico, desregulação endócrina e no sistema nervoso, até o câncer. “De acordo com o Inca, a intoxicação pode se dar de maneira aguda, que acontece em quem trabalha no cultivo, e crônica em quem consome esses alimentos”, informa Solange Carniel, nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP). Para Antonio Francisco Godinho, pesquisador do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica), do Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Botucatu, interior de São Paulo, os danos causados mudam conforme cada pessoa, região, tipo e frequência de ingestão dos alimentos, podendo ser mais ou menos contaminados. O País conta com sistemas de avaliação que mensuram os níveis considerados toleráveis, em especial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Godinho acrescenta que existem grupos de agentes químicos consignados sob a denominação genérica de “agrotóxicos”, como inseticidas, herbicidas, raticidas, cupinicidas e larvicidas. “O nome mais correto deste grupo é ‘praguicidas’. Os inseticidas, seguidos dos herbicidas, são os que têm mais propriedades tóxicas”, esclarece. Outro agravante está nas carnes, também sujeitas a tais substâncias. Solange Carniel explica que algumas podem ter mais pesticidas que outras, por exemplo. “Altas doses de hormônios presentes podem alterar e acelerar o metabolismo das mulheres. Essa problemática pode desregular a menstruação e ocorrer a perda de massa muscular”, frisa a profissional. Alline Schüncke, nutricionista da Vitalin Alimentos (SC), endossa que os agrotóxicos,


18

ENTREVISTA

Venenos à la carte

A

A própria denominação das substâncias utilizadas no combate às pragas agrícolas já indica: os agrotóxicos podem causar malefícios ao organismo humano e ao meio ambiente. É por isso que as nações desenvolvidas mantêm rígido controle sobre o uso desses produtos. Não é o caso do Brasil, infelizmente. Substâncias consideradas como prováveis cancerígenos pelo IARC (Agência Internacional de Pesqui-

Flaviano Quaresma

. Sueli Zola .

.

Karen Friedrich .

sa sobre o Câncer) são aplicadas largamente nas lavouras brasileiras. E ainda consumimos 22 de 50 tipos de agrotóxicos proibidos em outros países. Os efeitos do emprego indiscriminado de tais insumos se constatam no estudo da Anvisa – 70% das amostras analisadas tinham agrotóxico, sendo 35% delas contaminadas por substâncias irregulares, ou seja, veneno. Esse panorama alarmante é retratado pelo Dossiê Abrasco – Um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde. Divulgado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva, em 2015, esse documento atualiza a versão publicada em 2012. “Nos últimos três anos, observamos um aumento de 5,2 para 7,3 litros per capita no consumo de agrotóxico”, destaca Karen Friedrich, que é membro do Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Abrasco e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária da Fio-

cruz. Graduada em Biomedicina pela Unirio – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, é mestre e doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, e integra o quadro do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde – INCQS, onde leciona. A pesquisadora participou da elaboração do Dossiê Abrasco, que aponta o Brasil como o maior consumidor de agrotóxico do mundo. Essa indesejável posição se deve, principalmente, a um modelo focado na produção de commodities (soja, milho, algodão e cana). “Apenas cerca de 1% dos investimentos na agricultura destina-se à produção agroecológica. Não é à toa que o agronegócio tem uma boa representatividade no nosso Produto Interno Bruto. Mas o que urge, hoje, é a garantia do direito ao acesso a alimentos saudáveis”, enfatiza a especialista. Leia a seguir a sua entrevista.


e

19

O Dossiê Abrasco 2015 atualiza a versão publicada em 2012. Como evoluiu a situação referente ao uso de agrotóxicos no Brasil nesses três anos? Nesse período, observamos um aumento do volume total de agrotóxicos consumidos no País, por exemplo, passando de 5,2 para 7,3 litros per capita. Os dados indicam que a maior parte dos agrotóxicos consumidos no País destina-se à produção de commodities agrícolas, como soja, milho, algodão e cana, e não para a produção de alimentos diretamente. Também podemos destacar outro retrocesso: a aprovação em tempo recorde da lei de emergência fitossanitária, a qual permite que um agrotóxico sem registro no Brasil seja utilizado. Com base nessa lei, está sendo usado um produto denominado benzoato de emamectina, que já teve seu pedido de registro negado em 2007 por conta dos graves efeitos a ele associados, como elevada neurotoxicidade e suspeita de induzir malformações fetais. Nesse ­período também foram observados casos de intoxicação, decorrentes da pulverização aérea de agrotóxicos sobre escolas rurais e aldeias indígenas. E os alimentos que consumimos (legumes, verduras, frutas) também carregam doses pesadas de agrotóxicos? Apesar da maior parte dos agrotóxicos ser destinada às grandes commodities, a produção dos alimentos também os utiliza. Para conseguir créditos por meio do Pronaf (Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar), o pequeno produtor deve adquirir um pacote de insumos, no qual os agrotóxicos estão incluídos. Ou seja, há incentivo ao uso de agrotóxicos. Além disso, a utilização de venenos para a produção das commodities citadas acaba por contaminar áreas de plantios de alimentos e os lençóis freáticos. Isto acontece principalmente porque as grandes propriedades utilizam a prática da pulverização aérea, a partir da qual o agrotóxico aplicado é carreado pelo vento por longas distâncias. Existem estudos que demonstram a contaminação dos alimentos? A contaminação dos alimentos que consumimos é constatada anualmente por meio do Programa de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) da Anvisa. A presença de agrotóxicos foi encontrada em pelo menos 70% das amostras analisadas, sendo que metade destas está acima dos valores permitidos ou apresenta agrotóxicos não autorizados para a cultura. Por que sua afirmação ressalta que “pelo menos 70%” das amostras analisadas possuem agrotóxicos? A realidade da contaminação pode ser ainda mais grave? É possível, sim, ser mais preocupante. Nem todos os agrotóxicos usados no Brasil são pesquisados nos alimentos. O glifosato e o paraquat, herbicidas que estão entre os agrotóxicos mais consumidos no País, não são analisa-

dos. Também devemos ter em mente outro aspecto importante: os limites “regulares” de agrotóxicos nos alimentos são definidos a partir de estudos que só levam em conta a exposição a um único agrotóxico por vez. Mas, na verdade, tanto no campo, como nas cidades estamos expostos a misturas. Por essas razões, a presença de agrotóxicos nos alimentos é potencialmente causadora de doenças. Quais são os efeitos do agrotóxico sobre a saúde humana? Os efeitos sobre a saúde decorrentes da exposição aos agrotóxicos podem ser classificados de duas maneiras: efeitos agudos, que são aqueles que se manifestam imediatamente após a exposição (em geral, a doses elevadas), e os crônicos, que podem se manifestar meses ou anos após a exposição (em geral, a doses baixas). Os efeitos agudos mais comuns são vômitos, diarreia, cefaleia, desmaios, convulsões, irritações dérmica e ocular, por exemplo. Já as doenças que podem ser causadas por exposição crônica são infertilidade, aborto, disfunções hormonais e câncer. Existem estudos estabelecendo a correlação entre a exposição ao agrotóxico e o surgimento da doença? Essa correlação é comprovada por meio de testes experimentais, procedimento que é utilizado também para avaliar a eficácia e toxicidade de um medicamento que chega ao mercado, por exemplo. Os estudos epidemiológi-


20

ENTREVISTA

cos, ou seja, realizados com populações expostas são menos numerosos, mas têm corroborado o que os experimentais já apontam há mais tempo. Uma grande coorte americana (estudo que acompanha a manifestação de doenças em uma grande população) tem mostrado de forma bem robusta maior risco de câncer em agricultores e familiares. Essas informações são tão consolidadas entre os pesquisadores independentes que levaram, recentemente, o IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer) a declarar como prováveis e possíveis cancerígenos agrotóxicos como o glifosato, malation, diazinona e 2,4-D, que são usados largamente no Brasil, tanto na agricultura como no controle de vetores. O Inca (Instituto Nacional de Câncer), no Brasil, também alertou para o risco de se consumir em média 7,5 litros de veneno por ano em decorrência do uso indiscriminado de agrotóxico. Sim, como disse acima, esse é o volume per capita. O que o Inca coloca é muito importante e nos faz questionar: precisamos de 7 litros por habitante para produzir os alimentos que consumimos? Certamente que não. E isso tem sido comprovado pelas iniciativas de produção orgânica e agroecológica espalhadas por todo o País. É possível produzir alimentos de forma saudável, social e ambientalmente justa. Há estimativas de número mortes causadas pelo uso de agrotóxicos? O Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) agrega essas informações. Cerca de 100 casos de óbito são notificados todos os anos, mas, de fato, estes números podem estar subestimados, como indica a própria Organização Mundial da Saúde. O Datasus registrou 34.147 notificações de intoxicação por agrotóxico de 2007 a 2014. Este número pode ser maior por falta de notificação? Como disse acima, a subnotificação ocorre com frequência e por diversas razões: pela dificuldade em fazer o diagnóstico ou até a falta de conhecimento sobre a obrigatoriedade de notificar esses casos.

“Para conseguir créditos por meio do Pronaf, o pequeno produtor deve adquirir um pacote de insumos, no qual os agrotóxicos estão incluídos” O Brasil consome 22 dos 50 tipos de agrotóxicos já banidos da Europa e outros países. Por que isto acontece? Principalmente porque o registro do agrotóxico no Brasil é permanente, ou seja, enquanto na Europa é feita a revisão da aprovação, considerando o conhecimento científico atualizado, aqui isto não ocorre. A legislação brasileira até prevê que possa ser feita a revisão de registro quando existem novos estudos indicando efeitos ou alertas internacionais. No entanto, as tentativas de revisão de agrotóxicos altamente tóxicos, ocorridas nos últimos anos, ainda se arrastam em decorrência da pressão exercida pelos setores econômicos envolvidos. Certamente isso permite com que mais pessoas se exponham aos efeitos de venenos que já deveriam ter sido proibidos. Os mecanismos de regulação do uso de agrotóxico no Brasil são eficientes? Não e por diversas razões. Um dos exemplos está citado acima, a dificuldade em proibir agrotóxicos que não são mais usados em outros países; a capacidade analítica laboratorial para monitorar agrotóxicos em água e alimentos não é suficiente; e o número de profissionais dedicados às áreas regulatórias é muito inferior ao de outros países que utilizam muito menos agrotóxicos. O modelo de agronegócio brasileiro propicia o uso indiscriminado de agrotóxico? Certamente que sim. Cerca de 70% a 80% dos agrotóxicos comercializados no Brasil destinam-se a quatro principais

culturas (soja, milho, cana e algodão) cuja produção é destinada, na sua maioria, para exportação. Essas culturas são plantadas em grandes extensões de terra, de milhares de hectares. As espécies de insetos, fungos etc. que atacam essas culturas se proliferam em maior velocidade. E o resultado? Mais veneno é aplicado nessas plantações, utilizando aviões, preferencialmente, para diminuir essas espécies não desejáveis que se tornam resistentes aos venenos. Ou seja, é um ciclo que não acaba. Por outro lado, a agricultura familiar, em menores propriedades de terra, produz cerca de 70% dos alimentos que consumimos, segundo dados do IBGE. Portanto, a sociedade precisa refletir sobre o modelo de produção que predomina no campo hoje e qual de fato garante o seu alimento: o agronegócio ou o camponês e a camponesa? O dossiê possui um capítulo sobre agroecologia. Quais são as principais propostas para se obter uma produção agrícola saudável em escala? O dossiê aponta diversos exemplos de sistemas de produção de alimentos e base agroecológica, que se baseia não somente em buscar a produção sem utilizar produtos químicos, mas também respeitando a natureza, as famílias, preservando as relações de trabalho, o respeito à mulher, às comunidades tradicionais, ao que cada solo é mais propício a produzir. Essas iniciativas demonstram ser tecnicamente possível produzir sem agrotóxicos, mas de fato temos muito o que avançar. Temos uma Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, mas devemos cobrar para que ela seja efetivada. Os governos brasileiros, nos últimos anos, têm investido maciçamente no agronegócio e aproximadamente 1% dos investimentos para a agricultura destina-se à produção agroecológica. Não é à toa que o agronegócio tem uma boa representatividade no nosso Produto Interno Bruto, ou seja, o investimento dá certo, mas o que urge hoje é a garantia do direito ao acesso a alimentos saudáveis. suelizola@uol.com.br


NEGÓCIOS

A

Franquias virtuais

As franquias virtuais estão caindo no gosto dos empreendedores afinados com o mundo da internet que buscam investimento inicial de baixo custo e retorno rápido – mas nem por isso menos trabalho ou empenho e profissionalização. Trata-se de um modelo que oferece serviços de marketing digital, consultoria, venda de produtos eletrônicos, gestão de softwares e desenvolvimento de negócios voltados à internet. Não têm sede física. A base é a web, conceito home. Diferem das lojas virtuais ou franquias online, as quais geralmente pedem um ponto comercial e instalações e, portanto, aportes maiores. De acordo com Ricardo Camargo, ­diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising), atualmente o Brasil conta com oito empresas de franquias virtuais e 405 unidades. “Elas ainda têm pequena participação, mas, considerando que o mercado de franchising brasileiro registrou um crescimento de 7,7% e faturamento de R$ 127,3 bilhões em 2014, o segmento tem potencial para se desenvolver.” O grande atrativo desse modelo de negócio é o baixo investimento inicial – de R$ 5 mil a R$ 50 mil, faturamento de R$ 20 mil a R$ 50 mil, dependendo da modalidade do negócio, e retorno de 18 a 24 meses. Alexandre Marquesi, professor de ­pós-graduação da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), alerta que a franquia virtual é um modelo que ainda não se mostrou plenamente eficaz. Ele acredita que o mercado pode crescer, mas é preciso muita atenção, especialmente neste momento de desaceleração econômica. “Aguardar mais tempo para investir é aconselhável”, diz.

Riscos e cuidados

Antes de abrir uma franquia virtual, o empreendedor deve tomar os mesmos cuidados que teria com a abertura de uma franquia tradicional: pesquisar não só na internet como sair a campo, conversar com franqueados e questionar a transferência do know-how. O treinamento pode ser feito online ou presencialmente, mesmo que não haja uma sede física. A escolha é do franqueador,

que precisa organizar uma forma para que o franqueado comece a trabalhar com o mínimo de conhecimento das ferramentas e das estratégias de crescimento. Assim como as franquias convencionais, as virtuais se submetem a todas as taxas, como royalties e verbas de divulgação. Elas também devem seguir os parâmetros da Lei de Franchising (Lei 8.955/94) e as práticas de mercado atuais na sua concessão e gestão. Os cuidados na hora da escolha são os mesmos das outras franquias, tais como análise da empresa franqueadora e pesquisa de mercado.

Case de sucesso

Líder no segmento de franquias de marketing digital, a Guia-se Negócios pela Internet conta com cem unidades em todo o Brasil, com várias delas certificadas pelo Google e dois Selos de Excelência em Franchising concedidos pela ABF, que atestam a qualidade e a excelência da operação como franqueadora. “O selo ABF é o maior prêmio do franchising brasileiro e somos a primeira franquia de marketing a recebê-lo”, orgulha-se o presidente da Guia-se, José Rubens Oliva Rodrigues. Há 18 anos no mercado, oferece diversos serviços, como consultoria de marketing digital, criação de sites, desenvolvimento de loja virtual, links patrocinados no Google e Facebook, SEO (otimização de site), e-mail marketing, mídias sociais, hospedagem de site e e-mails. Também dispõe do Guia-se Sites Expressos, com mais de 66.500 sites para micro e pequenas empresas, divididas em categorias como restaurantes, pizzarias, móveis, pet shops, estética, buffets, profissionais de casamento etc. “Encontrar o verdadeiro mote de um negócio não é fácil. Muitos empresários desistem, mas os que persistem e têm resiliência, conhecimento, determinação, espírito de equipe contam com mais chances de encontrar o caminho certo e obter lucro. Acredito no que faço e na expansão do mercado de franquias virtuais”, declara Rodrigues. P sorsini@terra.com.br

. Silvana Orsini .

Atitudes empreendedoras, garra e profissionalização viabilizam modelo de e-franchising

© JENS | dollarphotoclub.com

21


22

HIGIENE BUCAL

Cúrcuma ou pasta de dente? U . Martha R amos .

divulgação

Bela Gil causa controvérsia ao publicar orientação para limpeza dos dentes em rede social

Uma alternativa às técnicas tradicionais indicadas para a higienização dos dentes, como o fio dental e a pasta, agitou o mundo dos profissionais da Odontologia. A polêmica surgiu depois da publicação feita nas redes sociais pela apresentadora de programa de culinária e chefe de cozinha natural Bela Gil, filha do cantor Gilberto Gil. Como costumeiramente faz postagens dando dicas de receitas e alternativas de cosméticos naturais para seus seguidores em sua página pública, a apresentadora sugeriu o uso da cúrcuma para a limpeza dos dentes, em substituição às pastas convencionais. Isso porque, na opinião de Bela, os dentifrícios possuem muito flúor, que é prejudicial à saúde. A cúrcuma é comumente conhecida também como açafrão da terra e muito utilizada na culinária como tempero. A apresentadora publicou em julho deste ano a seguinte afirmação: “Cúrcuma para escovar os dentes! Melhor do que qualquer pasta de dente por aí (na minha opinião)!!! Antisséptica, antibiótica, anti-inflamatória, 100% natural e sem efeito colateral (a não ser as manchas amarelas na escova e na toalha de rosto). Não contém flúor, sulfato, adoçantes, aromas artificiais, goma xantana e outros porcaritos mais! Quem quiser experimentar vale à pena, o seu bolso e a sua saúde agradecem! Ah, antes que alguém pergunte, não deixa os dentes amarelos e sim superlimpos e branquinhos. Se quiser, pode adicionar uma pitada de canela também”. O secretário do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo – Crosp, Marco Antonio Manfredini, se pronunciou dizendo que a literatura científica acerca dos benefícios da cúrcuma sobre a saúde bucal é incipiente. “Há alguns poucos estudos científicos realizados que analisam a utilização deste produto, sobretudo na Índia. Como são poucos os estudos, pode se afirmar que não há evidências científicas de que o uso da cúrcuma

© philippe Devanne | dollarphotoclub.com


23

seja eficaz para prevenir cáries e doenças na gengiva”, destacou. Manfredini ainda acrescentou que, para concluir esta possibilidade, são necessários diversos estudos conduzidos em muitas universidades e com acompanhamento de possíveis benefícios e ausência de riscos provenientes da utilização. Perguntado sobre outras possíveis maneiras naturais de se fazer a higiene bucal, o secretário do Crosp disse que receitas caseiras que circulam na internet, incluindo ingredientes como bicarbonato de sódio e juá, por exemplo, também não têm respaldo da literatura científica. O juá foi adotado em alguns dentifrícios comercializados no Brasil, mas acabaram sendo retirados do mercado. O cirurgião-dentista graduado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro Alex Brum Francisco de Paula explica que alguns alimentos trazem benefícios para os dentes. A maçã, por exemplo, possui efeitos adstringentes e ajuda na solubilização da placa bacteriana. O queijo, por sua vez, tem um pH que favorece a neutralização dos ácidos da placa. “É importante salientar que nenhuma das alternativas naturais de limpeza dos dentes ou o consumo de alimentos que auxiliem na limpeza substituem a higienização feita pela escova e o fio dental.

divulgação

Somente eles possuem ações mecânicas capazes de fazer a devida higiene dos dentes e a retirada do acúmulo de alimentos, além da remoção de possíveis placas”, esclarece. A assessoria de imprensa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que não regula o uso de cúrcuma e de outras substâncias alternativas. A Anvisa esclareceu também que apenas regula outros produtos legalizados e aprovados, como é o caso da pasta de dentes, por se tratar de um cosmético. Depois de toda a discussão e manifestação dos dentistas, conselhos e entidades ligadas à Odontologia sobre a publicação que fez, Bela Gil postou novamente: “Gente, não sabia que tinha tanto dentista no mundo! Hahaha! Nunca quis ofender vocês mostrando uma alternativa à pasta de dente para pessoas que não querem consumir mais toxinas no dia a dia. Adoraria se pudessem pesquisar e ler artigos científicos sobre os benefícios da cúrcuma na saúde bucal e sobre os efeitos maléficos da ingestão de flúor pela água e pasta de dente. O flúor está relacionado com fratura óssea, câncer de boca, hipotireoidismo etc. Só não quero mais uma fonte dele na minha vida. Não sou dentista, experimenta quem quiser!!! Vou ao dentista duas vezes por ano e só tive cárie uma vez na vida, ainda criança, quando comia besteira e usava pasta de dente com flúor!!!”. P martharamos89@hotmail.com


24

EMPREENDEDORISMO

. Silvana Orsini .

Empreender e ser empregado, desde que não haja conflito de interesse entre as duas funções

© Sergey Nivens | dollarphotoclub.com


25

T

Ter um emprego fixo e ainda investir em negócio próprio pode ser prazeroso e rentável, porém difícil. Planejamento, disciplina, alta capacidade produtiva e foco são alguns dos requisitos básicos. Entre os motivos que levam as pessoas a fincarem o pé em duas canoas estão a insatisfação no emprego, o sonho de trabalhar para si mesmas e a necessidade de complementar renda. Segundo especialistas, o caminho é árduo, exige mais trabalho e dedicação, organização e facilidade em delegar tarefa. A observação da ética também é essencial nessa vida dupla. Sem recursos financeiros disponíveis para realizar seu desejo, Drielle Ramiro dos Santos decidiu pagar para ver. Especializada em marketing e estratégia para eventos corporativos numa empresa de TI, juntou-se à amiga

para a questão ética. “É importante ser transparente com a empresa com a qual se tem vínculo fixo. Se a companhia tiver uma mentalidade mais aberta e seu rendimento e horários não interferirem no trabalho, não há problema. Mas nunca escolha uma atividade que concorra diretamente com a companhia em que trabalha”, explica. Já para Letícia Menegon, professora do Curso de Graduação em Administração da ESPM e coordenadora da Incubadora de Negócios da ESPM, o empreendedor não passará por problemas éticos se entregar com qualidade e eficiência o que lhe for requisitado na empresa e, ao mesmo tempo, for transparente quanto às suas atividades fora da empresa. Ademais, algumas relações de trabalho são mais flexíveis

à empresa própria. “Se o empreendedor souber focar em seu trabalho para produzir entregas de qualidade rapidamente, sobrará tempo para ele se aplicar aos negócios de sua empresa. Ademais, as horas fora do horário de trabalho serão cruciais”, aconselha.

Vantagens

e desafios

A vantagem do emprego fixo para o novo empreendedor é a segurança financeira, segundo Menegon. Ele pode tomar decisões mais pautadas em dados e não na pressão da realização do negócio, ou seja, tem mais tempo para estudar o mercado e fazer ajustes. O fato de trabalhar em uma empresa permite ainda entrar em contato com ferramentais de gestão que podem ser aplicadas ao negócio próprio, além de

Equilíbrio possível Isabela Battistini, com mãos de fada para doces. Fundaram a Petit Dêtail, uma empresa de design de eventos únicos para casamentos, aniversários, bodas... Mesmo cumprindo sua jornada em horário comercial em seu emprego fixo, ela arruma tempo à noite e aos fins de semana para administrar o negócio próprio, enquanto sua sócia se aperfeiçoa em cursos no Sebrae e toca o resto. “Em um ano vimos os pedidos se multiplicarem apenas utilizando site, Facebook e Instagram. Fazemos questão de que os nossos eventos sejam o cartão de visitas da Petit. São eventos pensados exclusivamente para cada ocasião e cliente. Esse é o futuro que escolhi para mim”, diz. Alguns cuidados, no entanto, devem ser observados para fazer o empreendimento dar certo, tais como a familiaridade e o gosto pela atividade, informações sobre os concorrentes e um bom plano de negócio. Paulo Marcelo Tavares Ribeiro, gerente do Sebrae-SP, também alerta

em termos de horário, permitindo ao empreendedor dedicação parcial à sua empresa. A professora Vanderli Frare, coor denador a do MB A em G e s t ão Estratégica de Pessoas do Ibmec/DF, também acredita nessa vida dupla prof is sional. “Embora não seja o ideal, tudo depende da carga horária dedicada ao emprego fixo e do tipo de negócio. Se for meio período, é possível conseguir se dedicar melhor ao negócio próprio. Mas nem todos possibilitam esta conciliação. O ideal é ter um sócio ou equipe contratada e de confiança para delegar a operação do negócio enquanto estiver ocupado. Mas essa condição – trabalho fixo + negócio próprio – não é recomendada por longo tempo”, enfatiza. Letícia Menegon, no entanto, acredita que o empreendedor pode dividir seu tempo e fazer acontecer, planejando e buscando eficiência em seu trabalho, para que sobre tempo para conduzir processos relacionados

contatos que podem ser feitos sem que haja conflito de interesse entre as duas empresas. O empreendedor não está pressionado a ganhar dinheiro no curto prazo. Ele tem fôlego. Por outro lado, o desafio está em equilibrar o tempo disponível para as duas empresas. O empreendedor vai trabalhar muito mais horas, o que pode gerar esgotamento. Poderá ter dificuldade em dar atenção à sua empresa, uma vez que na companhia em que trabalha precisa cumprir metas, entregar resultados, além de sofrer avaliações constantes. Outro desafio é encontrar alguém de confiança que conduza alguns processos do novo negócio quando ele não puder estar presente. Conciliar trabalho fixo e empreendedorismo depende da área de atuação e do planejamento. Em alguns tipos de negócios, a presença física é crucial. Essa conciliação é difícil nesses casos, a menos que a pessoa tenha alguém de confiança, um braço direito. P sorsini@terra.com.br


CONCEPÇÃO © Paolese | dollarphotoclub.com

26

Colesterol e infertilidade U . Eli Serenza .

Os índices de colesterol, além do risco de doenças cardíacas, afetam também as chances de fertilização

Um estudo divulgado recentemente no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, estabelecendo relação entre colesterol alto e a dificuldade para engravidar, revela mais um risco, até então desconhecido, provocado pelo excesso desse tipo de lipídio na corrente sanguínea. Os pesquisadores acompanharam 501 casais nos Estados Unidos que estavam tentando ter um bebê, sem problemas aparentes de fertilidade. Logo no início da pesquisa, foram colhidas amostras de sangue dos casais para a realização do exame e aferidos os níveis de cinco gorduras: colesterol livre, colesterol total, fosfolipídios, triglicérides e lipídios totais. Os resultados mostraram uma forte ligação entre os níveis mais elevados de colesterol livre em casais e o tempo que eles levaram para engravidar. Esta associação provou ser verdadeira, mesmo depois que os pesquisadores levaram em conta outros fatores que poderiam

influenciar as taxas de fertilidade ou os níveis lipídicos, como idade, escolaridade, índice de massa corporal (IMC) do casal, raça e educação. Para a ginecologista e obstetra Cristina Carneiro, o estudo sugere que os níveis de colesterol podem ser um fator importante em casais saudáveis que querem engravidar e não têm problemas de infertilidade. “O colesterol pode estar relacionado com a fertilidade porque é um bloco de construção dos hormônios masculinos e femininos. Esses hormônios, como o estrogênio e a progesterona nas mulheres e a testosterona nos homens, desempenham um papel na capacidade de o casal engravidar. Eles influenciam a qualidade do esperma e do sêmen dos homens, bem como a ovulação, a implantação e a manutenção de uma gravidez saudável”, resume. Uma limitação do estudo, segundo a ginecologista, é que os pesquisadores não tinham dados sobre as dietas dos


27

está fortemente associada a resultados indesejados para a fertilidade da população. Por outro lado, uma dieta com grande quantidade de pescados ricos em gorduras essenciais, óleos vegetais de boa qualidade e reduzida ingestão de carboidratos refinados, como a dieta mediterrânea, por exemplo, pode aumentar as chances de engravidar e de garantir uma gestação saudável do início ao fim”, sugere. Cambiaghi ainda explica que o colesterol pode ser encontrado tanto na carne de animais e seus derivados (colesterol exógeno), como sintetizado no organismo pelo fígado (colesterol endógeno). Por isso, essa substância, que pertence à classe das moléculas chamadas de esteroides, é encontrada de várias formas na corrente sanguínea e em todas as células do corpo. Em níveis muito elevados do HDL, há necessidade de restringir a inges-

tão de alimentos de origem animal, realizar mais atividades físicas e ainda recorrer ao medicamento que força a redução desse tipo de lipídio nocivo ao organismo, como esclarece o cardiologista Germano de Souza, do Instituto do Coração (InCor). “Cada uma dessas medidas pode reduzir no máximo 30% dos índices do HDL, ao mesmo tempo em que ajuda a elevar o LDL (‘bom colesterol’), equilibrar os níveis de concentração no organismo e diminuir o risco de um ataque cardía­ co”, informa. Essas precauções devem ser mantidas pela vida toda, pois, se antes a alteração nos índices de colesterol assombrava com o fantasma das doenças cardíacas, agora ameaça também os mais jovens, diminuindo as chances de fertilidade e a possibilidade de ter filhos. P eserenza@terra.com.br © detailblick-foto | dollarphotoclub.com

participantes, o que poderia influenciar os níveis de lipídios. “Mesmo assim, os resultados preliminares são importantes para a saúde pública, pois as taxas de obesidade e do mau colesterol (HDL) são tão grandes nos Estados Unidos, que até mesmo pequenas mudanças podem afetar a capacidade de os casais engravidarem.” Essa também é a opinião de Arnaldo Cambiaghi, especialista em reprodução humana, para quem os problemas relacionados à infertilidade vêm aumentando significativamente nas últimas décadas em virtude da forte influência exercida pelo estilo de vida da população. Segundo ele, a fertilidade de homens e mulheres pode ser prejudicada por hábitos pouco saudáveis, entre os quais, a má alimentação. “Uma dieta nutricionalmente pouco adequada, com baixa ingestão de vitaminas e minerais antioxidantes,


28

CRÔNICA

Saúde pública e privada coexistem

. Flávio Tiné .

Q

Em sua essência, os planos de saúde constituem uma importante complementação ao sistema público

O autor é jornalista e foi assessor de imprensa do HCFMUSP durante 21 anos flavio.tine@gmail.com

Quando o assunto é saúde pública parece não haver discordância ao afirmar-se que o Brasil dispõe do maior sistema de atendimento médico do mundo, universal – comum a todos, geral – e gratuito. São poucos os países que proporcionam esse tipo de atendimento. A primeira tentativa de implantação de algo parecido ocorreu com o socialismo, na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), na China e na Coreia do Norte, onde um regime de força procurava atender minimamente o cidadão, considerado peça indispensável ao desenvolvimento. Se não era um Sistema Único de Saúde (SUS), seria algo parecido. Daí talvez a pecha de comunista atribuída aos médicos que se especializavam em saúde pública. Eram eles que defendiam com unhas e dentes as medidas voltadas para a população em geral, com ou sem recursos. No ministério e nas secretarias de saúde dos estados eram conhecidos como sanitaristas. Por serem em geral muito competentes, constituíam uma espécie de casta, impondo-se por suas qualidades de administradores competentes e implacáveis, a ponto de serem reconhecidos pelas mais renomadas autoridades. Competentes administradores hospitalares, como o professor Adib Domingos Jatene, que foi diretor da Faculdade de Medicina da USP, secretário de Saúde de São Paulo e duas vezes ministro da Saúde, prestigiava os sanitaristas, exatamente por conhecer a dedicação e competência desses profissionais. Como se sabe, o professor Jatene nunca teve a mais tênue tendência ao comunismo – ao contrário, por causa de seus hábitos burgueses, foi questionado pelo Imposto de Renda. O Fisco acusou-o de sonegar impostos, fato explorado impiedosamente pela revista Veja. Em todos os cargos públicos que ocupou, o professor Jatene cercou-se de especialistas desse jaez. Fez mais ou menos

como o jornalista Roberto Marinho, quando questionado pelos militares sobre o fato de abrigar em suas empresas jornalistas considerados subversivos: “Em meus comunistas mando eu” – disse ele. Não sei se essa aura de competência procede, pois o atendimento universal e gratuito até hoje está envolto em polêmica. Funciona muito bem em áreas ou atividades como vacinação, campanhas, prevenção de doenças, estatísticas, entre outras, mas deixa a desejar quando o cidadão precisa de atendimento, normal ou de emergência. Há filas imensas para conseguir determinados procedimentos. Consultas são agendadas para o ano seguinte. Agendar consulta com um especialista é algo doloroso, como relatam diariamente as reportagens de rádio e televisão. Às vezes exageram, filmando salas de espera repletas de pacientes nos corredores de determinado hospital, ou pacientes em macas num pronto-socorro. Os repórteres confundem consultas com urgência e emergência e deixam de informar que o paciente em maca está sendo atendido e só vai para um leito se comprovada a necessidade. O que determina a ênfase das imagens não é o estado de saúde mas a conveniência da reportagem, determinada a evidenciar a incompetência das autoridades. Para escancarar, a cena vale mais do que a realidade. Como assessor de imprensa na área de saúde, testemunhei isso de perto. Raramente há um elogio ou reconhecimento, salvo a hipótese de reportagens encomendadas a partir de determinadas campanhas. Para o cidadão que não dispõe de recursos não resta alternativa a não ser confiar no Sistema Único de Saúde (SUS). O esforço no sentido de melhorar é prejudicado eventualmente por ingerências políticas. Daí a existência de diversas modalidades de planos de saúde, que constituem uma complementação ao sistema. Como em toda atividade humana, o público e o privado coexistem de forma pacífica. P


ESPAÇO LIVRE

Um hábito gaúcho – Pesquisas feitas no sul do País apontam que dois copos diários de bebida à base de uva fazem bem à saúde. Até aí, tudo bem. Não há novidade. Mas a preferida dos gaúchos não é o vinho, como muitos podem pensar, e sim o suco integral industrializado. Esta opção foi a escolhida por 45% dos pesquisados e, realmente, é uma ótima escolha. Um terço escolheu o vinho, também outro aliado da saúde, mas que deve ser tomado com moderação. Em terceiro lugar, ficou o suco orgânico. Café contra câncer de próstata – Não é algo conclusivo, mas cientistas chineses e noruegueses atualizaram e revisaram estudos populacionais e diagnosticaram que existe uma menor chance de desenvolvimento de câncer de próstata em pessoas que têm o hábito de beber café coado e filtrado. Na Noruega, a pesquisa foi feita com homens de 20 a 69 anos. A cura da gripe – Ela ainda está distante de acontecer, porém, uma esperança vem surgindo no horizonte. Uma pesquisa publicada na revista The Lancet, com 4.300 pessoas, constatou que cápsulas de fosfato de oseltamivir são eficazes no contra-ataque da gripe. Entre os estudados, a melhora ocorreu em 97 horas após o aparecimento dos primeiros sintomas, em comparação a 122 horas dos que não ingeriram o medicamento. O princípio ativo impede que o vírus extrapole as barreiras da célula e contamine outras não infectadas.

Choque elétrico contra depressão – É bastante relevante a quantidade de pessoas portadoras de depressão que não respondem à medicação, chegando a 30%. Pensando nisto, o Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo aposta, como alternativa, nos choques elétricos transcranianos. O método tem a vantagem de não ser invasivo e ser indolor. Bobinas emitem corrente em certos pontos do cérebro, modulando sua atividade. Sua eficácia, porém, ainda tem que ser comprovada. A água também tem prazo de validade – Líquidos armazenados em garrafas de plástico possuem micro-organismos que, após o período de um ano, podem se desenvolver e se proliferar quando expostos aos raios do sol e mudanças de temperatura. Sendo assim, é possível surgir bactérias e algas que tornem a bebida prejudicial à saúde. Portanto, dê preferência às versões engarrafadas em vidro, que são muito mais resistentes. Imunoterapia: uma aposta contra o câncer – Além das abordagens tradicionais de combate à doença, como a quimioterapia, radioterapia e cirurgia, surge uma nova, agora capaz de animar o meio médico e científico: a imunoterapia. As células do corpo não são capazes de reconhecer o câncer como ameaça, pois as células cancerígenas desativam os linfócitos, componentes imunológicos. Mas remédios imunoterápicos têm obtido ótima resposta neste combate, pois estimulam as células boas a reconhecerem melhor seu inimigo e destruí-lo.

Gabiroba e cagaita contra o rotavírus – Na falta de boas opções no combate ao rotavírus, causador de morte por infecção de crianças pequenas pelo País afora, pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias, em Minas Gerais, resolveram procurar soluções caseiras para lidar com a situação. Saíram à procura de plantas locais que pudessem combater o problema e encontraram no extrato das folhas da gabiroba e da cagaita uma boa esperança de inibição do vírus. A ideia é que a rede pública seja abastecida do fitoterápico o mais rápido possível.

Pedalando para o trabalho – A Universidade de East Anglia, na Inglaterra, analisou dados de quatro mil pessoas que trocaram o transporte público pela bicicleta em sua ida ao trabalho. Em média, as pessoas perderam 1,5 kg. Se as distâncias demandavam períodos maiores que meia hora de atividade física (incluindo caminhadas), as pessoas chegaram a enxugar 7 quilos, com diminuição do índice de massa corpórea (IMC) de 2,25 pontos. Isto corrobora a recomendação médica de se fazer 30 minutos de exercícios diários. Soneca à tarde é bom – De acordo com estudo feito por pesquisadores gregos, dormir entre 30 e 50 minutos durante o dia diminui o risco de infarto em até 10%. Nos dias de hoje, apesar de ser um luxo para poucos, algumas empresas vêm estimulando o hábito, criando espaços adequados dentro de suas instalações, com o objetivo de diminuir licenças médicas e aumentar a produtividade. Pessoas testadas tiveram sua pressão diminuída em 4% quando acordadas e 6% quando dormindo, comparadas àquelas que só dormiam à noite. Ler no escuro prejudica os olhos. Será? – A afirmação não corresponde à realidade. O que acontece é que um ambiente com pouca luz submete a visão a um esforço maior, a córnea fica mais ressecada e há um evidente desconforto ocular. No entanto, os efeitos nocivos não são duradouros, e as estruturas e funções dos olhos ficam imaculadas.

Necessitamos de 2 litros de água diários? – Na verdade, trata-se de um mito, muito difundido, inclusive pelos meios médicos. Não existe nenhuma comprovação científica de que nosso organismo necessite desta quantidade diária de água. Existe certo exagero. O que o corpo precisa é de aproximadamente 2 litros de fluidos, que podem ser encontrados na bebida, nas frutas, verduras e nos alimentos, em geral.

TEXTO: NEUSA PINHEIRO / ILUSTRAÇÕES: MARCELO RAMPAZZO

29


30

CRÔNICA

N

. Paulo C astelo Branco .

É essencial consultar médicos antes de começar a treinar ou fazer dieta

Paulo Castelo Branco é advogado, escritor e membro da Academia Brasiliense de Letras

Barriga tanquinho

Não havia percebido que o seu abdômen estava estufado. Foi sua mulher que o repreendeu ao encontrá-lo, nu, à frente do espelho. Ela acabara de chegar da academia com o corpo suado de tanta malhação. Eram da mesma idade, mas ela aparentava ter no mínimo dez anos menos que ele. Riu da reclamação, afirmando que barriga era sinal de prosperidade. No trabalho, abrindo os e-mails, foi até a pasta de spam para verificar se alguma mensagem importante não caíra na pasta indevidamente. Observou que, a cada três e-mails, um oferecia algum método para perder a circunferência abdominal e passar a desfilar com uma “barriga tanquinho”. Um deles chamou a sua atenção, e, sem medo de que fosse vírus , o abriu para conhecer a marav ilh a of er e c i d a qu e p r o m e t i a: “Aprenda o que realmente funciona para ter um abdômen definido!”. No con­ t e ú­d o d a mensagem vinha a orientação ensinando que a barriga cresce porque as pessoas comem os alimentos errados e fazem exercícios inadequados. Ficou cismado de como os especialistas descobrem com facilidade os endereços dos barrigudos e insistem em fazê-los mudar a rotina para serem mais saudáveis. Lembrou-se de Eduardo, um velho amigo que decidiu melhorar as suas condições físicas e acabou se

mudando para o andar de cima após seis meses de academia. Morreu com excelente aparência, corado, com um sorriso nos lábios e o terno largo. Guardou o e-mail e, no fim do expediente, passou na pizzaria predileta, bebeu dois chopes e comeu uma calabresa média, prometendo que na próxima semana iria iniciar um regime para perder a gordura que incomodava a esposa. Deitado na cama fez uma lista de medidas que iria tomar para surpreender a companheira: 1. Só comer alimentos light ou diet. 2. Fazer 100 abdominais e 200 flexões como aprendera durante o serviço militar. 3. Caminhar diariamente, alternando corridas a cada 200 metros. Dormiu satisfeito com a decisão. Levantou cedo, colocou o velho tênis, camiseta e bermudas. Comeu um pote de iogurte, uma fatia de mamão e saiu. Demorou mais do que o esperado e não conseguiu concluir o percurso predeterminado. Encontrou amigos, combinou almoço na sexta-feira e voltou para casa. No chão, fez dez abdominais e cinco flexões. Ficou exausto. No escritório abriu o e-mail e leu que os alimentos que escolheu podem estimular o corpo a acumular mais gorduras e recomendam buscar nutricionistas para programar alimentação adequada. Viu, ainda, que exercícios chatos e repetitivos e sem acompanhamento profissional podem causar lesões graves. No fim da propaganda, a recomendação: “Defina o seu abdômen agora mesmo!”. Considerou propaganda enganosa e marcou uma consulta com seu médico, não queria seguir o caminho de Eduardo. P


31 Ricardo Mansho

CONGRESSOS ABRAMGE E SINOG

A sustentabilidade em foco

A

Os desafios e perspectivas da saúde suplementar em debate

A crescente necessidade de se debater os rumos dos planos de saúde no Brasil, que, em 2015, registraram a inédita queda do número de seus beneficiários no primeiro semestre do ano, além das dificuldades enfrentadas com a máfia das próteses e de liminares, levou à realização do 20o Congresso Abramge e do 11o Congresso Sinog com o tema Saúde Suplementar: Desafios e Perspectivas. O evento, que aconteceu no último mês de agosto no Hotel Renaissance, em São Paulo, contou com a participação de mais de 400 representantes de toda a cadeia da saúde suplementar – médicos, executivos de operadoras de planos de saúde ­médico-hospitalar e odontológico, laboratórios, hospitais e outros. Reinaldo Scheibe, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo (Sinamge) e secretário-geral da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), e Geraldo Lima, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog), agradeceram a presença de todos, especialmente os diretores da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), José Carlos Abrahão, diretor-presidente, e Simone Sanches Freire, diretora de Fiscalização.

Cenário político

Arnaldo Jabor, comentarista da TV Globo, fez a conferência magna do evento com a explanação sobre o cenário político atual. Em sua brilhante palestra traçou um panorama sobre o momento político que o País atravessa e quais as possibilidades futuras. Otimista, acredita que as recentes prisões de políticos e empreiteiros envolvidos com o mensalão e os desvios da Petrobrás – investigados pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal – farão o Brasil passar por uma mutação histórica marcante para melhor, com o surgimento de uma nova cidadania.

Órteses,

próteses e materiais especiais

A palestra OPME – Panorama Atual e Perspectivas, proferida por Pedro Ramos, diretor da Abramge, contou com o balanço das ações iniciadas em reunião realizada na sede da Abramge em julho de 2014, na qual se decidiu com diversas entidades da saúde suplementar que era preciso atuar contra a máfia das próteses que lesa os sistemas público e privado de saúde.

(OPMEs)


32

CONGRESSOS ABRAMGE E SINOG

Entre os resultados apresentados, estão mais de duas horas de exibição de notícias televisivas de âmbito nacional, mais de 300 notícias (entre impressas e onlines), a criação de três CPIs (Câmara dos Deputados, Senado Federal e Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul), a elaboração de diversos projetos de leis (PLs) – com destaque para o de criminalização de condutas da máfia das próteses, como superfaturamento e indicação de cirurgias desnecessárias – e as prisões ocorridas em Montes Claros, Minas Gerais. Pedro Ramos afirmou que ainda há muito por vir. Em virtude dos acordos de delações premiadas, as investigações da Polícia Federal continuam e garantiu: “Ocorrerão prisões em todo o Brasil”.

Cenário social

Encerrando o primeiro dia do evento, o filósofo, escritor e ensaísta Luiz Felipe Pondé proferiu uma excelente palestra sobre o cenário social brasileiro e disse que, há quatro ou cinco anos, o País tem passado por importante transição democrática com o apoio de pessoas jovens que possuem uma mentalidade mais liberal, aberta a novos conhecimentos e experiências. “Uma democracia é feita por pessoas, mas garantida por instituições”, declarou.

Judicialização da saúde

No segundo dia dos congressos, Deborah ­ iocci, juíza do Tribunal de Justiça de São Paulo, C falou do Impacto da Judicialização e da importância da especialização dos magistrados em determinados temas, como é o caso da saúde, para possibilitar a criação de varas específicas para agilizar processos judiciais. Ciocci discorreu também sobre a elaboração com seriedade de Núcleos de Apoio Técnico e de Mediação (NATs) como os de Minas Gerais e Rio de Janeiro, além de elogiar acordos realizados com intermediação da ANS entre beneficiários de planos de saúde e operadoras, com índice de resolução superior a 80%.

Cenário econômico

O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, na conferência de encerramento Cenário Econômico, demonstrou, por meio de dados, projeções econômicas pessimista, básica e otimista. Informou que, no curto prazo, há vários problemas conjunturais, sendo necessário reduzir a inflação, ajustar o setor externo e aumentar o superávit fiscal. Para gerar crescimento sustentável, há problemas estruturais a serem resolvidos, como fatores que reduzem a atratividade de investimento (infraestrutura, ­red-tape, impostos elevados) e educação baixa. Atribui ao contínuo avanço da educação a distribuição de renda ficar cada vez mais justa, impulsionando o consumo de bens duráveis. Alerta, porém, que a baixa qualidade do ensino continua sendo um problema grave no País. Dentro de um cenário econômico otimista, afirmou que uma melhoria no ambiente de negócios, tornando os investimentos mais atraentes, pode fazer o Brasil crescer mais do que 4% ao ano, mas deixa claro que em 2015 a recessão será elevada, com inflação próxima a 6,5%. Em 2016 deverá ficar estável e, em 2017, a perspectiva é de melhora – dependerá somente do cenário que será alcançado.


33

Desafios da saúde suplementar No talk show Desafios da Saúde Suplementar, Antonio Carlos Abbatepaolo, diretor executivo do Sistema Abramge/Sinamge/Sinog, incitou o debate ao retratar a importância do mercado de planos de saúde, terceiro maior desejo do cidadão brasileiro, de acordo com recente análise do Ibope Inteligência, que apontou também que 75% dos beneficiários estão “satisfeitos ou muito satisfeitos” com seus planos de saúde. Demonstrou ainda que, segundo dados da ANS, pela primeira vez na história, desde que a agência reguladora foi criada no ano 2000, houve queda do número de beneficiários de planos médico-hospitalares, com perspectiva de encerrar o ano com índice negativo. Albucacis de Castro Pereira, representante da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), fez extensa exposição sobre as dificuldades encontradas pelos comerciantes em continuarem pagando a crescente conta decorrida dos planos de saúde, que atualmente alcança entre 13% e 15% das despesas empresariais. Para ele, é preciso alterar o modelo de remuneração dos prestadores acomodados em receber sem demonstrar qualitativamente as vantagens de seus serviços e avaliar melhor a incorporação de novas tecnologias que corroboram para o aumento dos custos. Afirmou, ainda, ser preciso que a cadeia da saúde suplementar encontre um meio de todos ganharem, com foco no consumidor, que não está mais conseguindo pagar pelo plano de saúde. Reinaldo Scheibe e Geraldo Lima comentaram que as operadoras também estão preocupadas com os custos administrativos, mas também com os altos valores das multas aplicadas pela ANS e a grande demanda gerada pela ininterrupta regulamentação do setor. José Carlos Abrahão, diretor-presidente da ANS, disponibilizou-se a ouvir todos os envolvidos na cadeia da saúde suplementar para tentar melhorar a situação do setor. Assegurou que a agência está preocupada com a condição principalmente dos consumidores, mas sem esquecer de prestar a devida atenção aos demais envolvidos do segmento de saúde suplementar. Afirmou que o setor precisa urgentemente sentar para discutir um novo modelo de remuneração, pois, “do jeito que está, não dá mais”. E avisou que, se o setor não se acertar, a agência irá interferir nessa negociação. “O foco é melhorar o atendimento do consumidor”, concluiu. P

José Carlos Abrahão

Antonio Carlos Abbatepaolo

Albucacis de Castro Pereira

Geraldo Lima


CORREIO

MEDICINASOCIAL

ISSN 1981-8718

34

ANO XXXII - No 230 - JUL/AGO/SET - 2015

Exercícios mentais

Como aprimorar e manter o cérebro saudável

Máfia das Próteses

Saiba o que revelam os relatórios de investigação das fraudes de OPME

O sociólogo Sérgio Lima,presidente membro Fórum Brasileiro de Segurança Pública, fala A psicóloga Ana Maria da International Stress Management Association A Renato geriatra Ana Rossi, Cláudia Quintanado Arantes, da Associação Casa do Cuidar, sobre a violência e como como este dramático nossas cidades no Brasil,urbana explica éreverter possível controlar estresse dedas forma saudável ensina doentes terminais acenário viver oem sua plenitude

Cartas e E-mails Parabéns pela qualidade e escolha dos temas abordados na última edição da revista (nº 230). Vou guardar esta edição. Flora de Azevedo Salles – Piracicaba – SP Sou médico, conheci a revista Medicina Social há algum tempo e gostei bastante de sua qualidade. Gostaria de saber como posso me tornar assinante da revista. Desde já agradeço. Joel Gomes de Lima – Goiânia – GO Nota do editor: O endereço completo de destinatário foi enviado ao e-mail medicinasocial@ abramge.com.br. Valho-me da presente (carta) para agradecer o recebimento regular desta revista, que reputo de importância extraordinária, e solicitar a continuidade de sua remessa para meu novo endereço. Francisco de Assis Claudino – Caruaru – PE Bom dia! Por gentileza, preciso que alterem o endereço cadastral para que eu continue a receber a revista Medicina Social. Grato. Roni de Melo Piuchi – São Paulo – SP Seu conteúdo é muito importante para nós. Dessa forma adquirimos ainda mais conhecimento e nos atualizamos sobre os mais diversos assuntos. Obrigada por manter a ABO-PR sempre bem informada. Associação Brasileira de Odontologia – Seção do Paraná

Revista Medicina Social Redação: Rua Treze de Maio, 1540 São Paulo - SP - CEP 01327-002 Fax: (11) 3289-7175 medicinasocial@abramge.com.br

Pedidos de assinatura: Anne Campos De Luca, TV Record, São Paulo – SP; Angelica Lucia Carlini, Carlini Sociedade de Advogados, São Paulo – SP; Antonio Amorim de Araújo, Universidade Federal de Alagoas, Maceió – AL; Antonio Bibiano dos Santos, Jornal do Consumidor, São José dos Campos – SP; Christina Roncarati, Editora Roncarati, São Paulo – SP; Clayton Silva, Agemed, Caçador – SC; Danilo Silva Gazinhato,

Unimed do Brasil, Mauá – SP; Fernando Vieira, Juiz de Fora – MG; Jayner de Paula Ferreira Filho, HBC Saúde, Guarulhos – SP; Joel Gomes de Lima, Goiânia – GO; José Renato Dutra Amaral, Vila Velha – ES; Julienne Takacz, THB Group, São Paulo – SP; Kadu Vilela, Santa Rita do Sapucaí – MG; Kelrim Fernandes Vieira Neto, Contagem – MG; Luciano Ferreira Barboza, Rio de Janeiro – RJ; Marta Daniel, HBC Saúde, Guarulhos – SP; Raul Strattner, Rio de Janeiro – RJ; Sandra de Lima, Fundação Assefaz, Brasília – DF; Silvia Viviane da Silva, Itamed – Fundação de Saúde Itaiguapy, Foz do Iguaçu – PR; Simone Lima, Belo Horizonte – MG; Thaís Balboni Santos, São Paulo – SP. Alterações de endereço: Fátima Ioko Mochidome, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia – MG; Iraci dos Santos, São Camilo, São Paulo – SP; José Renato Dutra Amaral, Vila Velha – ES; Ligia Soares, Simeam, São Paulo – SP; Maria Cecília Pimenta Andrade, Belo Horizonte – MG; Roni de Melo Piuchi, São Paulo – SP; Rogério Antonio da Silva, Sassom – Serviço de Assistência à Saúde Municipal de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto – SP. Agradecimentos pelo envio da revista: Aparecida Almeida, Universidade São Francisco, Bragança Paulista – SP; Associação Brasileira de Odontologia – Seção do Paraná, Curitiba – PR; Flora de Azevedo Salles, Piracicaba – SP; Francisco de Assis Claudino, Caruaru – PE; Ledir Luciana Henley de Andrade, Conselho Regional de Odontologia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro – RJ; Maria Hilda de Medeiros Gondim, Universidade Federal do Pará, Belém – PA; Rodrigo Ivo Matoso, Conselho Regional de Odontologia de Roraima, Boa Vista – RR.

EXPEDIENTE Diretor Executivo Antonio Carlos Abbatepaolo

Superintendente Francisco Eduardo Wisneski

Editor Responsável Gustavo Sierra - Mtb 76.114 Coordenação e Relações Públicas Keiko Otsuka Mauro Redatores, Repórteres e Colaboradores: Aluízio Barbosa, Eli Serenza, Elisandra E ­ scudero, Flávio Tiné, Keli Vasconcelos, Lucita Briza, Marcos Paulo Novais, Martha R ­ amos, Neusa ­Pinheiro, Paulo Castelo Branco, Renata ­Bernardis, Silvana Orsini, Sueli Zola. Revisão: Lia M ­ arcia Ando. Capa: AleksandarNakic | istockphoto.com Ilustrações: Marcelo Rampazzo. Medicina Social é uma publicação trimestral de circulação nacional da A ­ bramge - Associação Brasileira de Medicina de Grupo, dirigida a executivos de empresas ­compradoras e potenciais compradoras de planos de saúde; médicos, hospitais, ­entidades e centros acadêmicos de Medicina, Enfermagem, Farmácia e Odontologia; ­laboratórios farmacêuticos da área da saúde; Congresso Nacional, ministérios, sindicatos de trabalhadores e patronais, associações de classe e órgãos de comunicações. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião de Medicina Social ou do Sistema Abramge. É permitida a publicação dos textos desta edição desde que citada a fonte. Solicitamos intercâmbio. Título registrado sob no 219.121 no livro-B, de ­matrículas de jornais e outros periódicos, no Cartório do 1o Ofício de Registro de Títulos e Documentos de São Paulo-SP.

Produção Gráfica

Morganti Publicidade R. Domiciano L. Ribeiro, 51 - Bl. 03 conj. 162 - 04317-000 São Paulo - SP www.morganti.com.br

Tel.: 11 2083.6770 CTP e Impressão: Hawaii Gráfica Editora Tiragem: 15.000 exemplares

SELO FSC


35

Sistema da Abramge Nacional de Atendimento de Urgência e Emergência em Trânsito Mais de 200 empresas em todo o território nacional Tranquilidade e segurança em sua próxima viagem DDG 0800.722.7511 www.atendimentoabramge.com.br

Verifique se a sua operadora faz parte do Sistema


Combater a obesidade infantil. Esse é o dever de casa de todos os pais.

Cuidar da alimentação do seu filho é um dos fatores mais importantes para o crescimento dele. Prepare com carinho o seu lanche, estimule-o a ingerir alimentos saudáveis e acompanhe-o diariamente. A sua presença é um dos maiores aliados contra a obesidade infantil.

obesidadeinfantilnao.com.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.