Patrimônio Material: O Jóquei Clube de Goiás - Parte 1 | Projeto 5

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O JÓQUEI PATRIMÔNIO MATERIAL:

CLUBE DE GOIÂNIA

PROJETO 5

ANA BEATRIZ STRINGHINI

CARLA ESPER

EMILY BALDOINO

MARIANNE TOMAZ


INTRODUÇÃO ................................................. 2 PRIMÓRDIOS DA ARQUITETURA BRUTALISTA PAULISTA EM GOIÂNIA ............................. 3 ARQUITETURA BRUTALISTA PAULISTA ...........................................................3 A CHEGADA DA ARQUITETURA BRUTALISTA PAULISTA EM GOIÂNIA ................................................4 PAULO MENDES DA ROCHA, JOÃO EDUARDO DE GENNARO E O JÓQUEI ............................................5

O JÓQUEI: HISTÓRIA E ARQUITETURA ............................7 GÊNESE ........................................................................7

ENTORNO E EDIFÍCIO ...........................................................11

ESPAÇOS ......................................................................15 MODIFICAÇÕES AO LONGO DO TEMPO E SITUAÇÕES ATUAL ...................................................25

POTENCIALIDADES ............................................33 A DEMOCRATIZAÇÃO DO JÓQUEI ENQUANTO CLUBE PÚBLICO.............................33

O RESGATE DA PERMEABILIDADE ..................................................35

A CRIAÇÃO DE UM ESPAÇO URBANO NO ENTORNO IMEDIATO ............................36

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................... ..............38


U

EI CL

UB

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DE

GOIÂN

JÓQ A I

INTRODUÇÃO Diante da importância histórica do centro de Goiânia, abrangendo o traçado urbano planejado por Attílio Corrêa Lima e, posteriormente, Armando de Godoy, e inúmeras edificações na linguagem arquitetônica e do Movimento Moderno, destaca-se a construção do Jóquei Clube de Goiás. Sendo assim, o presente artigo busca analisar historicamente e espacialmente a arquitetura da Sede Social do Jóquei Clube, projetado por Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo de Gennaro em 1962. Considerado um dos primeiros ensaios dos princípios brutalistas paulistanos na cidade e uma das primeiras obras de destaque da produção dos arquitetos, a obra é parte significativa do legado histórico da arquitetura brutalista paulista em Goiânia (CAIXETA; FROTA, 2013).


2 ARQUITETURA BRUTALISTA PAULISTA Em meados da década de 1950, surge na Europa uma manifestação arquitetônica caracterizada “pela exposição contundente da estrutura do edifício, a valorização dos materiais por suas qualidades inerentes e a expressão de cada um dos elementos técnicos” (MONTANER, 1993, p. 73 apud BASTOS, 2007, p. 5), denominada brutalismo. Esse movimento, que ganha força mundialmente a partir da década de 1960, deve-se principalmente ao uso do concreto aparente por Le Corbusier após a Segunda Guerra Mundial, marcado especificamente pelo projeto da Unidade de Habitação de Marselha (1946-1949) (Figura 1).

Figura 1: Unidade de Habitação de Marselha (1946-1949), por Le Corbusier. Fonte: BASTOS; ZEIN, 2015.

Concomitantemente, na segunda metade dos anos 1950, a linguagem arquitetônica brasileira se alterava à medida que a produção carioca perdia a sua hegemonia dentro da arquitetura moderna brasileira e a produção

paulista se manifestava por meio de uma linguagem própria. Segundo Bastos e Zein (2015, p. 75), é possível estabelecer pontos comuns entre a arquitetura alternativa que passou a ser realizada no Brasil entre 1950-1970 e a sensibilidade arquitetônica mundial daquele período, destacando sua aproximação, mas não total identificação, com o brutalismo e justificando a sua caracterização como arquitetura brutalista paulista. Para a análise proposta neste artigo, faz-se necessário apontar pelo menos uma parcela das características dessa arquitetura brutalista paulista, que manifestou-se para além dos limites de São Paulo. Bastos e Zein (2015, p. 78-79), em uma tentativa de sistematizar as características das obras brutalistas, “[...] em especial, mas não exclusivamente exemplificadas pelas obras paulistas dos anos entre 1953 e 1973 [...]”, agrupam-nas em cinco grandes temas. Dentro da temática “partido” estabelecida pelas autoras, destaca-se a solução em um único volume, que abriga todas as atividades e funções do programa; a relação de contraste visual estabelecida com o entorno e a busca pela horizontalidade na solução volumétrica do edifício. Em “composição”, ressalta-se a preferência pela solução de teto homogêneo em grelha uni ou bidirecional; os jogos de níveis e meio-níveis; a flexibilidade, a interconexão e a não compartimentação dos espaços internos; a


EI

DE Em meados da década de 1930, Goiânia surge como uma cidade moderna, fruto de um empreendimento político de modernização e desenvolvimento econômico das regiões Norte e Centro-Oeste do país: a chamada “Marcha para o Oeste” promovida por Getúlio Vargas durante a ditadura do

E

A CHEGADA DA ARQUITETURA BRUTALISTA PAULISTA EM GOIÂNIA

UB

concentração das funções de serviço em núcleos compactos. Dentro de “elevações”, a predominância de cheios sobre vazios, com poucas aberturas, ou com aberturas protegidas por balanços de extensão da laje de cobertura; a iluminação natural zenital complementar ou exclusiva, com as coberturas atuando como uma quinta fachada. Em “sistema construtivo”, estruturas em concreto armado, lajes nervuradas uni ou bidirecionais, pilares com desenho trabalhado analogamente às forças estáticas suportadas, vãos livres e balanços amplos. Quanto às texturas, o estado aparente do concreto armado e quanto à ambiência lumínica, a iluminação natural fraca e difusa nas bordas e abundante e zenital nos espaços centrais. E dentre as características simbólico-conceituais, a ênfase na austeridade e homogeneidade da solução arquitetônica, na construtividade da obra, no didatismo e na clareza da solução estrutural (BASTOS; ZEIN, 2015).

CL

GOIÂN

JÓQ

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Estado Novo. Goiânia, portanto, é concebida em um contexto de renovação, assumindo uma imagem de modernidade e um modelo desenvolvimentista em contraposição à até então capital goiana, a Cidade de Goiás. Assim, Attílio Corrêa Lima e Armando de Godoy foram os responsáveis pelos primeiros planos urbanísticos da nova capital do estado de Goiás, comprometidos e influenciados pelo urbanismo científico francês. Em consonância com essa corrente, a implantação urbanística de Goiânia revelou uma linguagem arquitetônica aproximada com o racionalismo europeu, edifícios atualmente reconhecidos pelo “Art Déco” associados à volumetrias simétricas e ao emprego de elementos decorativos geométricos (CAIXETA; FROTA, 2013). Na década de 1950, a construção e inauguração de Brasília acarretou em modificações substanciais no contexto social, econômico e arquitetônico de Goiânia, esta que foi beneficiada sobretudo pela proximidade territorial. Dessa forma, a nova capital brasileira tornou-se uma referência arquitetônica mundial e uma representação de inovação e modernidade, consequentemente impactando no crescimento de Goiânia e determinando uma necessidade de renovação formal da arquitetura pioneira e do contexto urbanístico planejado (CAIXETA; FROTA, 2013).


2 Paralelamente à repercussão de Brasília, manifesta-se em contraponto à “Escola Carioca”, uma arquitetura paulista com linguagem própria. Em um período plural em que se desenvolve uma nova razão brutalista, em meados das décadas de 1950 e 1960, renomados profissionais essencialmente do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília encontram em Goiânia um ambiente propício para o desenvolvimento de novas ideias, deixando um legado histórico da arquitetura brutalista na cidade. Como primeiros ensaios do brutalismo na capital goiana, destaca-se o Jóquei Clube de Goiás e a Residência Bento Odilon Moreira, projetados pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, e os edifícios da Faculdade de Educação e Direito, projetados pelo arquiteto Luís Osório Leão (CAIXETA; FROTA, 2013).

PAULO MENDES DA ROCHA, JOÃO EDUARDO DE GENNARO E O JÓQUEI Goiânia desponta durante o período de introdução do Movimento Moderno no Brasil, este que buscava reestruturar as cidades de acordo com um novo preceito de modernidade. Nesse sentido, muitos edifícios da produção arquitetônica na capital goiana perseguiram a estética modernista, engendrando uma nova imagem de modernidade para a cidade e a tornando um símbolo de inovação (BERNARDES; CAIXETA, 2013).

O Jóquei Clube de Goiás, portanto, surge neste momento como uma edificação que não mais representa à feição de modernidade que se desenvolvia em Goiânia, resultando em um concurso nacional publicado na revista Acrópole, em 1962, para conceber uma nova sede social (CAIXETA; FROTA, 2013). Os vencedores do concurso foram Paulo Mendes da Rocha e seu parceiro de projeto João Eduardo de Gennaro. O concurso foi a segunda grande vitória dos dois arquitetos, que venceram, em 1958, com o Clube Atlético Paulistano em São Paulo, tornando a dupla reconhecida (BARBOSA, 2017). Paulo Archias Mendes da Rocha, principal autor do projeto, nasceu em Vitória, no Espírito Santo, em 25 de outubro de 1928 e faleceu recentemente em 23 de maio de 2021. É graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Mackenzie, em 1954, em 1959, foi convidado pelo arquiteto Vilanova Artigas a lecionar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (BERNARDES; CAIXETA, 2013). Seu destaque na produção arquitetônica do cenário global foi reconhecido, em 1999 e 2000, pelo prêmio Mies Van der Rohe para arquitetura latinoamericana; em 2006, pelo prêmio Pritzker; em 2016, pelo prêmio Leão de Ouro e Prêmio Imperiale; e em 2017, pela Medalha de Ouro do RIBA (BARBOSA, 2017).


Em Goiânia, projetou, além do Jóquei Clube de Goiás (1962), a residência Bento Odilon Moreira (1963), o Estádio Serra Dourada (1975) e o Terminal Rodoviário (1983), atuando como marcos referenciais conectados aos princípios da arquitetura brutalista paulista (CAIXETA; FROTA, 2013). O Jóquei Clube de Goiás é representante do conjunto de ensaios arquitetônicos modernos do século XX. Essas experiências se tratavam de uma arquitetura concebida pela expressão de materiais artesanais aparentes, resultando na arquitetura brutalista. No Brasil, a primeira experiência brutalista é o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1953), projetado por Affonso Reidy, seguido pelo Museu de Arte de São Paulo (1957), projetado por Lina Bo Bardi e pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1961), projetada por Vilanova Artigas (BARBOSA, 2017). Todas essas experiências são caracterizadas pela suspensão da implantação no terreno, concebendo um espaço coberto como praça pública que convida o usuário a adentrar, tecendo, por conseguinte, novas relações sociais e naturais também presentes na obra do Jóquei. Dessa forma, essa arquitetura estabelece novos vínculos entre edifício e lugar, criando, portanto, novas espacialidades (BERNARDES; CAIXETA, 2013). O Movimento da Arquitetura Moderna, portanto, “procura recuperar a integridade arquitetônica na sua ampla e profunda significação histórica, artística e humana” (ACRÓPOLE, 1967). Então, Paulo Mendes da Rocha compõe uma tônica entre Arquitetura, Natureza e Sociedade, comprometida em garantir uma organização espacial democrática e humana (ACRÓPOLE, 1967).

© Lucas Jordano


3 GÊNESE Desde o plano de urbanização de Goiânia de 1938, o terreno no qual atualmente se encontra o Jóquei Clube de Goiás – entre a Rua 3 e a Av. Anhanguera no Setor Central, próximo a uma chamada “zona de diversões”, onde hoje se localiza o Teatro Goiânia – já se figurava como um espaço destinado ao então denominado Automóvel Clube de Goiânia, o primeiro clube da cidade, fundado em 1935 (CAIXETA; DIAS, 2013; BARBOSA, 2017). Inicialmente, para servir de sede social, o terreno foi ocupado por um edifício com características neocoloniais e proporções medianas (figuras 3 e 4), que foi implantado de modo a preservar a vegetação que acompanhava o trajeto do Córrego Buritis e se encontrava em uma área alagadiça localizada na parte oeste do terreno (BARBOSA, 2017). Esta sua primeira sede, do ano de 1938, foi palco da atividade social da elite goiana, comportou suas festas de carnaval e réveillon, sua prática de esportes e as maiores orquestras nacionais em seu salão, estabelecendo-se como um marco para esta geração (LIMA FILHO; MACHADO, 2007; ROCHA; 2009 apud CAIXETA; DIAS, 2013).

Figuras 3: Antiga sede do Jóquei Clube de Goiás. Fonte: CAIXETA; DIAS, 2013; BARBOSA, 2017.

Figuras 4: Antiga sede do Jóquei Clube de Goiás. Fonte: CAIXETA; DIAS, 2013; BARBOSA, 2017.


LOCALIZAÇÃO praça do trabalhador

praça cívica

N


3 GÊNESE Conforme a cidade foi crescendo, entre as décadas de 40 e 50, o clube mudou de nome, passando a se chamar Jóquei Clube de Goiás, e o primeiro edifício passou a não atender mais a demanda espacial de seus frequentadores. Ocupando a porção central do terreno, o que dificultava a construção de uma edificação complementar, e desprovido de carga histórica e identitária, os sócios do clube então optaram por sua demolição (BARBOSA, 2017). Paralelo ao surgimento de novos clubes na década de 1960, como o Clube de Regatas Jaó, o Country Clube de Goiás e o Jóquei Clube de Brasília, foi aberto em 1962 um concurso nacional de arquitetura, que visava a construção de uma nova sede moderna e mais adequada às necessidades de seus sócios (CAIXETA; DIAS, 2013). Em 1963, Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo Gennaro foram anunciados vencedores do concurso e o processo de materialização do Jóquei Clube que conhecemos atualmente teve início, sendo o primeiro de um considerável

cânone de edifícios com características arquitetônicas brutalistas paulistas em Goiânia (figura 5). Desde sua construção, concluída por volta de 1975, o impacto do Jóquei Clube de Goiás em Goiânia foi considerável. Localizado em um amplo terreno e com grandes dimensões, o edifício não ganhou destaque apenas por seu volume na paisagem mas também por, principalmente nas décadas de 70 e 80, ser um ponto de encontro para as famílias abastadas da cidade e por dar lugar a grandes e famosas festividades que agitavam a vida social da jovem capital (CAIXETA; FROTA, 2013). Com o passar do tempo, a relevância do Jóquei no cenário social de Goiânia diminuiu, mas sua importância como exemplar de alta qualidade do brutalismo permaneceu sendo reconhecida nacional e internacionalmente, figurando repetidas vezes entre as principais obras de Paulo Mendes da Rocha e entre os edifícios brutalistas mais significativos no cenário internacional.

Figura 5: Vista geral da maquete do Jóquei Clube de Goiás. Fonte: Acrópole, 1967, p. 34.


SETOR CENTRAL ESTÁDIO OLÍMPICO PEDRO LUDOVICO

av.

ba naí a r pa

av. anhanguera

. av ns ti ca to

rua 3

BOSQUE DOS BURITIS

N


3 ENTORNO E EDIFÍCIO Situado na região central de Goiânia, o

No entanto, salienta-se o inegável abandono dessa porção da cidade que, embora constitua uma importante região para a história de Goiânia, ainda faz-se necessário ações conjuntas para reverter o atual cenário. O Jóquei, por sua vez, também se enquadra nesse estado. Ao analisarmos o edifício a partir do ponto de vista daqueles que transitam pela Rua 3, onde localiza-se a entrada principal do clube, o que vemos é um muro extenso carregado das mais diversas propagandas e um grande número de carros estacionados junto à calçada e a entrada do clube mais a frente (figura 7). Pela Avenida Anhanguera a percepção é semelhante, exceto pela grade que delimita o estacionamento onde originalmente se encontrava um bosque, permitindo certa visibilidade da edificação e sua ampla laje única de cobertura que abriga todos os ambientes (figura 8).

Jóquei Clube de Goiás representa uma das edificações de grande relevância histórica, artística e cultural da cidade. O contexto urbano em que está inserido, tendo em consideração o traçado urbanístico e as construções na linguagem arquitetônica do “Art Déco”, simboliza uma importante construção de identidade e patrimônio na capital goiana. Especialmente o Jóquei, conforme destacado por Barbosa (2017), encontra-se em uma área do centro de Goiânia

que

poderia

ser

encarada

como um eixo cultural em potencial, composto,

além

do

próprio

Jóquei

Clube, pelo Teatro Goiânia, Vila Cultural Cora Coralina, Beco da Codorna, Cine Ouro, Rua do Lazer (Rua 8) e o Grande Hotel (figura 6).

A

B C

D

E

F

G

Figura 6: Eixo Cultural potencial no Centro de Goiânia: A - Jóquei Clube; B - Teatro Goiânia; C - Vila Cultural Cora Coralina; D - Beco da Codorna; E - Cine Ouro; F - Rua 8 (Rua do Lazer); G - Grande Hotel. Fonte: BARBOSA, 2017.

N


Figuras 7: Vista do Jóquei Clube de Goiás pela Rua 3 e Avenida Anhanguera, respectivamente. Fonte: Google Maps.

Figuras 8: Vista do Jóquei Clube de Goiás pela Rua 3 e Avenida Anhanguera, respectivamente. Fonte: Google Maps.


3 ENTORNO E EDIFÍCIO

O bosque, assim como mencionado, atualmente é inexistente, dando lugar à uma vasta área concretada dedicada ao estacionamento. O projeto original, datado do período da antiga sede Automóvel Clube, previa uma ampla área externa adjacente à edificação que correspondia à um pequeno bosque de vegetação

ciliar

com

árvores

de

grande porte referente ao afloramento de um trecho do Córrego Buritis. Conformado, pelo lado leste, pelas piscinas, e pelo lado oeste, pelo bosque, ambos os espaços são amplos e livres que reafirmam a volumetria do edifício na paisagem e permitem uma apreciação completa dos elementos de grandes dimensões (figura 9 e 10). O projeto arquitetônico

de

Paulo

Mendes

da

Rocha, então, pretendia permitir a continuidade do bosque, a fim de atingir uma convivência harmoniosa entre o meio natural e urbano (BARBOSA, 2017).


Figura 9: Croqui de implantação (Acervo Paulo Mendes da Rocha). Fonte: FRACALOSSI, 2014.

Figura 10: Croqui de implantação (Acervo Paulo Mendes da Rocha). Fonte: FRACALOSSI, 2014.


3 ESPAÇOS

Tendo em vista as descaracterizações significativas pelas quais o Jóquei Clube de Goiás tem passado nas últimas décadas, para analisar essa obra de forma coerente, torna-se necessário recorrer à desenhos e imagens do edifício que datam do período em que o edifício ainda mantinha características essenciais de seu partido, como a rua de

Figura 11: Níveis e rampas do interior do Jóquei Clube (Fotografia: Lucas Jordano Barbosa). Fonte: FRACALOSSI, 2014.

acesso que dividia a quadra na qual o terreno se encontra e o bosque já mencionado anteriormente. Tendo como exemplo definitivo a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, projetada por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, o Jóquei Clube de Goiás apresenta, de fato, aspectos da arquitetura brutalista

Figura 12: Pilares do Jóquei Clube (Fotografia: José Arthur D’Aló Frota). Fonte: FRACALOSSI, 2014.

paulista. Identifica-se como principais características do edifício: a ampla cobertura independente que abriga vários ambientes – empregada, aqui, por meio das rampas (figura 11) –, os grandes e expressivos pilares grandes e o uso extensivo do concreto armado aparente (CAIXETA; FROTA, 2013) . Figura 13: Cobertura do Jóquei Clube (Fotografia: José Arthur D’Aló Frota). Fonte: FRACALOSSI, 2014.


Outra característica da arquitetura brutalista paulista presente é a proposição de grandes elementos estruturais que configuram a plasticidade do edifício; no caso do Jóquei, os dezesseis pilares internos idênticos e a ampla laje única de cobertura são os elementos plástico-estruturais

mais

expressivos. Os pilares possuem o formato de dois triângulos suas estão

interseccionados pontas

(figura

dispostos

em

12)

sobre

e

uma

malha de 31 metros por 13 metros (figuras 14 e 15) e sustentam a laje que avança para além dos pilares conformando um espaço interno coberto

retangular

de

103

metros por 47 metros (FRACALOSSI, 2014). Figuras 14 e 15: Plantas do terceiro pavimento, com indicação da localização e ritmo das estruturas dos pilares. Fonte: FRACALOSSI, 2014.


3 ESPAÇOS Essa ampla cobertura que abriga todos os ambientes é um bom exemplo do típico modelo da arquitetura brutalista paulista conhecida como “grande abrigo” (figura 16), também aplicado na FAU-USP, que representa a busca por um espaço comunitário que estimule a reunião e a interação de pessoas. No Jóquei, o centro desse espaço comunitário é o salão de festas que, junto com as rampas, articula todos os espaços circundantes possibilitando uma divisão de funções sem barreiras visuais. A entrada do Jóquei, segundo Barbosa (2017), originalmente foi concebida por uma via transversal à quadra que não era visível do ponto de vista da rua. Ligando a Avenida Anhanguera com a rua 3 e separando a área do clube do restante da quadra, Paulo Mendes da Rocha criou uma interface inusitada

entre o público e privado, conformado pelo contexto urbano e edificado. Ao adentrar, o acesso ao clube configura um corredor com pé direito reduzido que atravessa uma área abaixo do pavimento das piscinas, este que é elevado em relação ao nível do térreo. Dessa forma, esse ambiente de acesso conforma um percurso acanhado e pouco iluminado que, por fim, se depara com um vasto espaço sob a grande cobertura de concreto armado da edificação, causando um impacto impressionante na experiência do usuário. Semelhantemente à Niemeyer no acesso da Catedral de Brasília, Paulo Mendes da Rocha ressalta as qualidades do espaço interno do edifício através do contraste, gerando uma expectativa que muitas vezes não é apenas cumprida mas também superada na pessoa que adentra no Jóquei (figuras 17 e 18).

Figura 16: Corte esquemático do Jóquei Clube de Goiás (Acervo Paulo Mendes da Rocha). Fonte: FRACALOSSI, 2014.


A entrada do Jóquei, segundo Barbosa (2017), originalmente foi concebida por uma via transversal à quadra que não era visível do ponto de vista da rua. Ligando a Avenida Anhanguera com a rua 3 e separando a área do clube do restante da quadra, Paulo Mendes da Rocha criou uma interface inusitada entre o público e privado, conformado pelo contexto urbano e edificado. Ao adentrar, o acesso ao clube configura um corredor com pé direito reduzido que atravessa uma área abaixo do pavimento das piscinas, este que é elevado em relação ao nível do térreo. Dessa forma, esse ambiente de acesso conforma um percurso acanhado e pouco iluminado que, por fim, se depara com um vasto espaço sob a grande cobertura de concreto armado da edificação, causando um impacto impressionante na experiência do usuário. Semelhantemente à Niemeyer no acesso da Catedral de Brasília, Paulo Mendes da Rocha ressalta as qualidades do espaço interno do edifício através do contraste, gerando uma expectativa que muitas vezes não é apenas cumprida mas também superada na pessoa que adentra no Jóquei (figuras 17 e 18).

Figuras 17 e 18: Corredor de acesso ao Jóquei Clube e ambiente de entrada do corredor de acesso que se encontra com o vasto espaço sob a cobertura de concreto, respectivamente. Fonte: BARBOSA, 2017.


CL

L

UB

E

D E GOIÂN

UB

E DE

GOIÂN

EI

I E C U Q

JÓ U

A I

JÓQ IA


CLARABOIA LAJE DE CONCRETO ARMADO

VIGAS PRIMÁRIAS DE CONCRETO ARMADO

GRELHA BI-DIRECIONAL

VIGAS SECUNDÁRIAS DE CONCRETO ARMADO

PLATIBANDA INVERTIDA DE CONCRETO ARMADO

SEGUNDO PAVIMENTO COM PILARES CONTíNUOS

PILARES TRIANGULARES EM CONCRETO ARMADO

PRIMEIRO PAVIMENTO E SUBSOLO


3 ESPAÇOS

OS S ES C A

S ENTE T S EXI av. anh ang uer a

1

a1 ru

rua 3

ACESSO PRINCIPAL ACESSOS SECUNDÁRIOS


Após

acessar

o

edifício,

tem-se acesso ao amplo ambiente interno que, organizado por níveis, nos convida a transitar por um percurso central de rampas, escadas e patamares

que

possibilita

o

acesso aos diversos espaços e, portanto, permite observar o espaço por diferentes ângulos. A entrada principal guia o usuário

através

da

rampa

que, por sua vez, se abre para o salão de festas e o evidencia como ambiente principal, projetado para abrigar a permanência

prolongada

dos

usuários durante os mais diversos eventos possíveis. Por esta razão,

o

salão

é

apoiado

pelos ambientes de serviço e também articula, através das rampas, o acesso aos demais níveis e espaços de lazer (figuras 19, 20 e 21). A posição estratégica

do

salão

de

festas, como o pivô dos espaços subjacentes, evidencia a sensibilidade do arquiteto ao valorizar aquela que seria a razão de ser de um clube: a coletividade.

Figuras 19, 20 e 21: Plantas do primeiro, segundo e terceiro pavimento, respectivamente, com setas destacando o percurso. Fonte: FRACALOSSI, 2014.

5

10

20m

N

0


3 ESPAÇOS Outra importante característica desse espaço interno é a iluminação zenital que entra por duas grandes claraboias e aparece já nos primeiros croquis de Paulo Mendes da Rocha, demonstrando a importância desses elementos para o partido arquitetônico do edifício (Figura 22). No Jóquei Clube, a iluminação zenital não só cumpre o papel de trazer luz para as partes mais centrais do edifício que sem ela estariam na penumbra como

também

são

utilizadas

para

acrescentar valor ao espaço interno e destacar as nuances da textura e da forma dos elementos em concreto aparente (figura 23). Vale ressaltar que o uso de iluminação zenital é outra característica típica da arquitetura brutalista paulista e, de forma um pouco diferente, também aparece no edifício da FAU-USP de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. A utilização da luz como valor arquitetônico também está presente no giná-

Figura 22: Vista do interior do Jóquei Clube iluminado por iluminação zenital (Fotografia: Acervo Paulo Mendes da Rocha).Fonte: FRACALOSSI, 2014.

Além da clarabóia, o ginásio apresenta junto com suas arquibancadas uma interessante implantação na qual o nível da quadra é o mesmo do salão de festas, estando mais alto que o nível de entrada, e o nível do topo das arquibancadas é o mesmo do espaço das piscinas e do bar que dá para as piscinas o que mantém a permeabilidade visual ao mesmo tempo em que diferentes usos encontram seus espaços delimitados por limites sutis e transpassáveis (figura 25).

sio, onde a outra claraboia se encontra, e nos vestiários, onde uma abertura encontrada na lateral do ambiente permite a entrada de luz e chuva fazendo com que ambas banhem o plano inclinado sob a abertura e juntas provoquem um interessante efeito sinestésico quando aguá da chuva e luz na superfície dessa água se encontram na vala pela qual a água escorre (figura 24).

Figura 24: Vestiário (Fotografia: Acervo Paulo Mendes da Rocha).Fonte: FRACALOSSI, 2014.


Figura 23: Corte. Fonte: FRACALOSSI, 2014.

Figura 25: Corte. Fonte: FRACALOSSI, 2014.

Outra importante permeabilidade visual estabelecida por Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo de Gennaro com o uso de níveis diversos é a que existe entre restaurante, salão de festas e parque. Possibilitado pelo rasgo entre as paredes

que limitam a cobertura e o piso, uma grande abertura permite que os dois primeiros espaços recebam luz, ventilação e possam apreciar a paisagem criada pela vegetação natural outrora existente.


3 MODIFICAÇÕES AO LONGO DO TEMPO E SITUAÇÕES ATUAL Ao longo dos anos, a arquitetura do Jóquei Clube de Goiás sofreu alterações em relação ao projeto original idealizado por seus arquitetos, suscitadas principalmente pelas demandas dos seus

frequentadores.

Incomodados

com a falta de privacidade na área das piscinas, delimitada por um baixo guarda-corpo de concreto que expunha os usuários ao espaço público da Av. Anhanguera e da Rua 3, os sócios optaram

por

elevar

este

guarda-corpo,

resultando em uma parede alta de concreto, que impede qualquer visibilidade externa do interior do clube (BARBOSA, 2017).

Na figura 26, é denotada em amarelo a silhueta original da fachada da Av. Anhanguera, que contava com um detalhe formal de transição entre os dois volumes do clube, mas foi camuflado com esta alteração. Nesta mesma figura, nota-se uma torre cilíndrica de concreto, que constitui outra alteração ao projeto original do clube. Abrigando uma escada de serviço que conecta o setor dos funcionários, no pavimento térreo, ao nível das piscinas, este volume vertical construído próximo ao volume coberto principal modifica diretamente a expressão formal harmônica do projeto original concebido pelos arquitetos (BARBOSA, 2017).

Figura 26: Alteração da fachada da Av. Anhanguera. Silhueta original denotada em amarelo. Fonte: BARBOSA, 2021.


Barbosa (2017) explica como, a partir

claraboia projetada para o vestiário

da década de 1980, as alterações à

masculino (figura 30) e resultou na alte-

arquitetura original do Jóquei Clube tor-

ração

naram-se ainda mais expressivas, leva-

quanto da sua espacialidade. Além

das até seu fechamento em 2009. Uma

disso, observa-se que as paredes em

cobertura metálica foi adicionada à

concreto aparente do edifício foram

sudoeste, com o intuito de ampliar a

pintadas, ferindo os princípios estéticos

quantidade de quadras esportivas co-

e construtivos brutalista referente à

bertas. A rua transversal à quadra, pre-

expressão da materialidade (CAIXETA;

vista

DIAS, 2013).

originalmente

pelos

arquitetos

tanto

da

silhueta

do

clube,

como uma espaço de transição entre o

Em 2008, o Jóquei Clube se associa à

ambiente público e o privado, também

Faculdade Padrão, em um acordo que

foi coberta com uma laje de concreto

previa adaptações da estrutura do

para se tornar um estacionamento de

clube às demandas da empresa de

veículos privativo do clube. Além disso,

ensino. A faculdade nunca chegou a se

um portão de ferro foi adicionado no

instalar no local, mas este acordo entre

limite desta cobertura na rua 3 (figura

as instituições resultou em uma obra

28), o que modificou completamente a

inacabada à sudoeste do lote e no des-

entrada do clube, que originalmente

matamento, na pavimentação e na

não era visível a partir das ruas. Poste-

conversão da área do bosque em esta-

riormente,

metálica

cionamento de veículos para os alunos

para as quadras esportivas foi anexada

da faculdade, que constitui, certamen-

ao conjunto (figura 29), que acabou

te, uma das alterações mais agressivas

por cobrir a

ao conjunto (BARBOSA, 2017).

outra

cobertura

RIORES E T S PO S O M CI S av. É anh R ang uer AC a 1

a1 ru

A

D C

B

rua 3

A B

PRIMEIRA COBERTURA METÁLICA ESTACIONAMENTO COBERTO

C D

SEGUNDA COBERTURA METÁLICA DESMATAMENTO DO BOSQUE


Já em 2017, o Jóquei Clube de Goiás se encontrou em um impasse. Em decorrência de um déficit de aproximadamente 40 milhões de reais com a Prefeitura de Goiânia, o presidente da Associação Amigos do Jóquei, o ex-deputado estadual e advogado Manoel de Oliveira Mota, viu a venda do terreno como uma alternativa para sanar a dívida remanescente. A administração Figura 28: Entrada atual do Jóquei Clube de Goiás. Fonte: BARBOSA, 2021.

do Jóquei, então, solicitou um alvará de demolição da edificação a fim de acelerar

a

negociação

com

eventuais

compradores, como o templo da Igreja Universal do Reino de Deus. Nesse cenário, a disputa que se acirrava envolvia seu valor monetário e seu valor patrimonial. Tendo em vista o tamanho de sua propriedade e sua localização privilegiada no centro da cidade, próximo ao principal eixo do sistema de transporte público e de um relevante epicentro comercial, a área do Jóquei certamente é alvo da rentaFigura 29: Cobertura metálica anexa notada na fachada da rua 3.

bilidade do mercado imobiliário. Por outro lado, sua construção está indissociavelmente relacionada à uma questão identitária de Goiânia, associada à magnitude da produção arquitetônica nacional da década de 1960 e às vivências e memórias de uma parcela da população que outrora havia frequentado o clube. Diante da possibilidade de demolição do Jóquei e, consequentemente, da perda de parte da história de Goiânia, surgiram mobilizações contrárias na tentativa de exaltar o valor arquitetônico,

Figura 30: Claraboia do interior do vestiário masculino coberta com a construção da segunda cobertura metálica. Fonte: BARBOSA, 2021.

histórico e afetivo do local para a cidade.


Nesse sentido, deu início ao movimento “Salve o Jóquei”, organizado por arquitetos, estudantes, artistas, políticos e cidadãos que defendiam a preservação do patrimônio enquanto memória artístico-cultural e importante elemento para complementar o eixo de cultura existente na região. Conjuntamente, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) também se manifestaram a favor da defesa do Jóquei Clube, alegando a necessidade de manter e reconhecer a representatividade do edifício

enquanto

patrimônio

de

grande valor urbano e histórico, apresentando uma proposta de tombamento da construção. Dessa forma, o CAU protocolou um pedido de desistência definitivo do alvará de demolição e, felizmente, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (SEPLANH) da Prefeitura de Goiânia arquivou o processo. Isto posto, o edifício como um todo é abraçado por uma aura de esquecimento materializada através dos muros circundantes, onde todos aqueles que poderiam vivenciar a existência do clube são repelidos, perpetuando o estado de abandono da obra e desta porção da cidade, além de impedir que todas as potencialidades do edifício sejam contempladas.


Os riscos enfrentados pelo Jóquei Clube de Goiás, por sua vez, reforçaram a carência de preservação que a edificação tem padecido. Considerando seu significado para a memória da capital, o clube que outrora era expressão de grandeza

atualmente

se

encontra

esquecido pelos goianienses. A possível venda do Jóquei e suas descaracterizações ao longo do tempo confirmam a falta de preocupação e consciência de sua importância como patrimônio e como parte fundamental da história da cidade, evidenciando a urgência, por parte das autoridades, profissionais e sociedade, de encontrar alternativas para resgatar seu significado e não permitir a lucratividade do mercado prevalecer na disputa. Independentemente da situação vivida pelo

Jóquei

enquanto

instituição

e

espaço, ainda hoje ele possui reconhecimento por parte dos habitantes de Goiânia. Caixeta e Dias (2013) destacam o papel do clube na memória daqueles que um dia usufruíram da edificação, sendo capaz de unir pessoas através de experiências em comum num mesmo espaço. Além disso, por fazer parte do portfólio do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o Jóquei torna-se ainda mais certo enquanto um ícone que urge atitudes que objetivem sua preservação e valorização enquanto representante significativo da produção artística brasileira.


2008

2008

2007

2007

Figura 31: Vista aérea do Jóquei Clube. Fonte: Google Earth, 2001.

Figura 33: Vista aérea do Jóquei Clube. Fonte: Google Earth, 2012.

Figura 32: Vista aérea do Jóquei Clube. Fonte: Google Earth, 2008.

2020

2020

2012

2012

N

N

Figura 34: Vista aérea do Jóquei Clube. Fonte: Google Earth, 2020.


EI UB

E

DE FUNDADAÇÃO DO“JÓQUEI”, ENTÃO DENOMINADO AUTOMÓVEL CLUBE DE GOIÂNIA, PRIMEIRO CLUBE DA CIDADE.

CL

GOIÂN

JÓQ

U

LINHA DO

IA

CONCEPÇÃO D DA NOVA SED UM CONCURSO QUE TEVE CO O ARQUITETO DA ROCHA.

FONTE:ARQUIVO DO JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS, GOIÂNIA, 2011.

FONTE:ARQUIVO DO SITE ARQUITETURA VIVA, 2021.

FONTE:ARQU JÓQUEI CLU GOIÁS, GOIÂN FONTE:ARQUIVO DO JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS, GOIÂNIA, 2011.

REESTRUTURAÇÃO DO “JÓQUEI”COM DOAÇÕES DO ESTADO,AMPLIANDO SUAS ATIVIDADES QUE INCLUI A PRÁTICA DE ESPORTES.(ROCHA,2009)


ACRÉSCIMO PROJETADO PELO ARQUITETO ANTÔNIO LÚCIO FERRARI PINHEIRO, UM ESPAÇO NO SUBSOLO, COM FUNÇÃO DE ESTACIONAMENTO E ACESSO À EN= TRADA PRINCIPAL DO CLUBE.

DO PROJETO DE, FRUTO DE O NACIONAL, OMO VENCEDOR O PAULO MENDES

FONTE:ARQUIVO DO JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS, GOIÂNIA, 2011.

FECHAMENTO DO JÓQUEI

FOTO:MARIANA NAHAS

UIVO DO UBE DE NIA, 2011. FOTO:MARIANA NAHAS

INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE DO JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS.

INÍCIO DO PROCESSO DE DECADÊNCIA FINANCEIRA, O QUE CONTRUBUIU PARA A MÁ CONSERVAÇÃO DO LOCAL


4 A DEMOCRATIZAÇÃO DO JÓQUEI ENQUANTO CLUBE PÚBLICO

Ao longo do tempo, intervenções descuidadas foram paulatinamente descaracterizando

e promovendo o isola-

Assim como outros edifícios vinculados

mento do Jóquei Clube do restante da

à arquitetura brutalista paulista, a expe-

cidade: onde antes havia um parque,

riência comunitária é essencial para a

hoje existe um estacionamento; muros

concretização do partido arquitetôni-

que outrora foram dimensionados cui-

co.

dadosamente para permitir certa per-

“grande abrigo” que corresponde à sua

meabilidade visual, agora desconfigu-

ampla cobertura, seus generosos espa-

raram-se e apresentam-se como um

ços, níveis e aberturas foram pensados

empecilho para a contemplação do

para abrigar e incentivar experiências

edifício e espaços abertos de lazer tor-

comunitárias

naram-se galpões enclausurados.

aquele que deveria ser um espaço co-

Tendo em vista a precariedade em que

munitário

o Jóquei Clube de Goiás se encontra

abandonado e se tornando um espaço

atualmente e levando em considera-

separado tanto de sua essência quanto

ção sua importância enquanto objeto

de seu entorno.

No

caso

do

de

foi

Jóquei

lazer.

Clube,

o

Entretanto,

gradativamente

sendo

arquitetônico e sua posição enquanto

Dessa forma, é essencial resgatar a de-

espaço inscrito no contexto da cidade,

mocratização e abertura do edifício

faz-se necessário repensar em estraté-

para a população como um todo, uma

gias que resgatem seu significado histó-

vez que, apesar de hoje se encontrar

rico, tornando-se novamente passível

descuidado e inutilizado, ele apresenta,

de ser precursor de novas memórias

definitivamente, espaços capazes de

individuais e coletivas. Para tanto, iden-

incentivar o encontro de pessoas e a

tifica-se alguns atributos do projeto

troca de ideias. Repleto de potenciais

original de Paulo Mendes da Rocha que

atualmente negligenciados, o Jóquei

poderão potencializar a relação entre

pode, enfim, reencontrar sua vitalidade

edificação e espaço urbano para trazer

por meio de um novo e mais amplo pú-

vida, diversidade e identificação por

blico que dele usufrui, cuida e com ele

parte da população.

se identifica.


atualmente e levando em considera-

cuidadas foram paulatinamente desca-

ção sua importância enquanto objeto

racterizando

e promovendo o isola-

arquitetônico e sua posição enquanto

mento do Jóquei Clube do restante da

espaço inscrito no contexto da cidade,

cidade: onde antes havia um parque,

faz-se necessário repensar em estraté-

hoje existe um estacionamento; muros

gias que resgatem seu significado histó-

que outrora foram dimensionados cui-

rico, tornando-se novamente passível

dadosamente para permitir certa per-

de ser precursor de novas memórias

meabilidade visual, agora desconfigu-

individuais e coletivas. Para tanto, iden-

raram-se e apresentam-se como um

tifica-se alguns atributos do projeto

empecilho para a contemplação do

original de Paulo Mendes da Rocha que

edifício e espaços abertos de lazer tor-

poderão potencializar a relação entre

naram-se galpões enclausurados.

edificação e espaço urbano para trazer

Tendo em vista a precariedade em que

vida, diversidade e identificação por

o Jóquei Clube de Goiás se encontra

parte da população.

POT EN C

Ao longo do tempo, intervenções des-

L IA

O VENÇÃ R E NT I RA PA

FORTE MÉDIO FRACO


4 O RESGATE DA PERMEABILIDADE O Jóquei Clube de Goiás foi projetado para um terreno de grandes dimensões

N

no Setor Central de Goiânia. A proposta dos arquitetos previa a implantação estratégica de uma rua transversal à quadra

que

concebia

o

principal

acesso ao edifício. Entretanto, atualmente essa via tornou-se um espaço fechado para estacionamento de veículos, configurando-se em plena oposição à permeabilidade para qual ela foi prevista. Diante disso, é essencial restabelecer a ligação perdida entre o edifício e seu entorno. O retorno e a preservação do parque na extremidade do terreno e a rua que conectava a Avenida Anhanguera e a Rua 3, características cruciais do partido do edifício, possui potencial para reconquistar a permeabilidade do edifício e, consequentemente, reverberar positivamente em seu entorno, o qual carece de tal conexão e permeabilidade espacial (figura 35). Sendo assim, elas poderão desencadear espaços convidativos que dissolvam as barreiras e inseguranças dos pedestre e destaquem o edifício enquanto elemento significativo da paisagem do Setor Central.

Figura 35: Vista aérea do Jóquei Clube com rua atualmente fechada à esquerda, galpões no canto direito superior e muros com altura excessiva destacados pela linha tracejada. Fonte: Google Earth, 2021.


A CRIAÇÃO DE UM ESPAÇO URBANO NO ENTORNO IMEDIATO atual

espaços urbanos convidativos que prio-

circunstância precária da edificação e

rizem o pedestre. Nesse caso, a criação

do espaço urbano imediato referente

de pequenos espaços de permanência

ao estacionamento – cuja atribuição

são essenciais para fazer com que as

original de bosque foi alterada –, enten-

pessoas que por ali passam possam de-

de-se que há um impacto urbanístico

sacelerar, perceber o edifício e serem

direto, principalmente em virtude das

atraídas até ele, dispondo de mobiliá-

amplas dimensões do terreno. Visando

rios e infraestrutura urbana que propor-

operar positivamente em responder às

cionem a efetiva ocupação do espaço

necessidades de caracterização desse

com diferentes usos e pessoas constan-

espaço urbano deficiente e inacaba-

temente.

Tendo

em

consideração

a

do, faz-se necessário reassumir o papel ativo do bosque para atingir uma sim-

N

biose entre o espaço urbano e a edificação (figura 31). Essa reconfiguração espacial

da

edificação

e

do

seu

espaço urbano adjacente com área verde, portanto, possuem potencial em contribuir na transformação e criação de um espaço comunitário utilizado pelas pessoas Por suas grandes dimensões, o Jóquei Clube deve levar em consideração seus arredores, com especial atenção para as pessoas que por ali passam diariamente e que carecem de um espaço de lazer acessível em meio à uma realidade urbana agitada e pouco acolhedora. Desse modo, simultaneamente ao estabelecimento da permeabilidade, a criação de espaços permeáveis, sobretudo o parque e o Jóquei Clube como clube

aberto

à

população,

devem

buscar melhorar ativamente o espaço urbano por meio da disponibilização de

Figura 36: Vista aérea do Jóquei Clube com área originalmente destinada para o parque - que atualmente é ocupada por um amplo estacionamento destacada em laranja. Fonte: Google Earth, 2021.


5 Embora o Jóquei Clube de Goiás tenha sido um lugar de referência para o esporte e lazer em Goiânia e atualmente não possuir a mesma importância e frequência de utilização, a representatividade do clube para a memória da cidade é inegável. Nota-se que seus antigos usuários ainda hoje mantêm uma forte relação afetiva com o clube moldada pelas experiências vividas no edifício,

envolvendo

recordações

singulares dos espaços e das situações impregnadas de significado. Marcado pela particularidade dos ambientes e de sua arquitetura, o Jóquei Clube pode, ainda, compartilhar novas memórias e restabelecer uma identidade com uma parcela mais jovem da população, a fim de contribuir com a preservação desse patrimônio histórico, artístico, cultural e arquitetônico.


6 BARBOSA, Lucas Jordano de Melo. Parecer para solicitação de tombamento do edifício sede do Jóquei Clube de Goiás. Goiânia, 12 dez. 2017. Disponível em: <https://www.caugo.gov.br/wp-content/uploads/2017/12/PARECER_JOQUEI_SOLICITACAO-TOMBAMENTO.pdf>. Acesso em: 17 maio 2021. BASTOS, Maria Alice Junqueira. Pós-Brasília: Rumos da Arquitetura Brasileira. São Paulo: Perspectiva/Fapesp, 2007. BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2015. BERNARDES, Marina Nahas Dafico; CAIXETA, Eline Maria Moura Pereira. Jóquei Clube de Goiás: Documentação e história em busca do resgate memorial. Goiânia: UFG, FAV, 2013. Disponível em: <http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/conpeex/pibic/trabalhos/MARINA_N.PDF>. Acesso em: 15 de maio de 2021. BOAVENTURA, Carolina Rodrigues. Encontro e memória: o centro de Goiânia e o Jóquei Clube. Goiânia: Seminário Internacional de Arquitetura, Tecnologia e Projeto, [s.a.], p. 99-117. Disponível em: <https://www.anais.ueg.br › siarq › article › view>. Acesso em: 15 de maio de 2021. BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. Tradução de Ana M. Goldberger, 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1981. CAIXETA, Eline Maria Moura Pereira; DIAS, Raiane da Silva. Jóquei Clube de Goiás: um olhar sobre uma cidade em desenvolvimento. Anais do VI Seminário Nacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual. Goiânia-GO: UFG, FAV, 2013. Disponível em: <https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/778/o/2013-047-eixo1_Eline_Maria_Caixeta.pdf> Acesso em: 15 Mai 2021. CAIXETA, Eline Maria Moura Pereira; FROTA, José Artur D’Aló. Brutalismo: fronteiras goianas. X Seminário Docomomo Brasil Arquitetura Moderna e Internacional: conexões brutalistas 1955-75, 2013, Curitiba PUCPR. Disponível em: <http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/08/OBR_71.pdf>. Acesso em: 15 de maio de 2021. Disputa põe em xeque o futuro do Jóquei Clube. Jornal UFG, Goiânia, 7 de março de 2018. Disponível em: https://jornal.ufg.br/n/104498-disputa-poe-em-xeque-futuro-do-joquei-clube Acesso em: 4 de agosto de 2021. FALCÃO, Paula. Conheça a história do Jóquei Clube de Goiás. Dia Online, 2020. Disponível em: <https://diaonline.ig.com.br/aproveite/cidades/goiania/conheca-a-historia-do-joquei-clube-de-goias/?utm_source=Paula+Falc%C3%A3o&utm_campaign=diaonlin e-author>. Acesso em 06 mai 2021. FICHER, Sylvia; ACAYABA, Marlene Milan. Arquitetura Moderna Brasileira. São Paulo: Projeto, 1982. FRACALOSSI, Igor. "Clássicos da Arquitetura: Sede Social do Jóquei Clube de Goiás / Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo de Gennaro" 10 Set 2014. ArchDaily Brasil. Disponível em: <https://www.archd a i l y . c o m . b r / b r / 6 2 7 1 0 9 / c l a s s i c o s - d a - a r q u i t e tura-sede-social-do-joquei-clube-de-goias-paulo-mendes-da-rocha-e-joao-eduardo-de-gennaro>. Acesso em: 15 Mai 2021. Jóquei Clube de Goiás 1963. Acrópole, São Paulo. n. 342, ago. 1967, p. 34-38. Disponível em: <http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/342>. Acesso em 15 maio 2021. SANVITTO, Maria Luiza Adams. Brutalismo Paulista: uma análise compositiva de residências paulistanas entre 1957 e 1972. 1994. 257 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Porto Alegre, 1994. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/31976>. Acesso em: 17 de maio de 2021. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. São Paulo: EDUSP, 1998. ZEIN, Ruth Verde. A Arquitetura da Escola Paulista 1953-1973. 2005. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Porto Alegre, 2005. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/5452>. Acesso em: 17 de maio de 2021.


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JÓQ A I

DISCENTES ANA BEATRIZ FERREIRA STRINGHINI CARLA ESPER SPÍNDULA EMILY BALDOINO MONTEIRO MARIANNE TOMAZ PORTO

DOCENTES FERNANDO MELLO CHRISTINE MAHLER

PROJETO V ARQUITETURA E URBANISMO

FAV UFG

GOIÂNIA 2021


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