Quadradinhos

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Definição de Bd

A banda desenhada insere-se num contexto sociológico dominado por um acontecimento de importância incalculável na segunda metade do século XX a civilização da imagem. Durante séculos, vida do homem processou-se sob o signo da linguagem oral ou escrita. Sem menosprezar qualquer destes dois meios de comunicação, os quais se mantêm aureolados do enorme prestígio da tradição, não custa admitir que sem o sortilégio da imagem a vida do homem perdia hoje bastante do seu significado. A importância crescente dos meios de comunicação de massa veio modificar profundamente os hábitos de uma parte considerável da humanidade. Foi, inicialmente, a revolução originada nas artes gráficas, onde a fotografia foi chamada a ocupar um lugar de merecida importância. Baseando-se na riqueza da fotografia, o cinema conquistou uma vasta audiência. O publico correspondeu inteiramente ao apelo de uma nova forma de arte na qual o movimento se aliava harmoniosamente a uma interpretação diferente do mundo, dando-lhe uma dimensão, realista ou fantasiada, inédita em toda a história da humanidade.

de

A televisão levou às ultimas consequências a imagem fotográfica, democratizando-a completamente, abolindo as frágeis fronteiras que ainda a impediam de se fundir na vida quotidiana. Um especialista da arte fotográfica, Robert Ranc colocou o problema da importância da imagem e do seu significado nos tempos actuais dizendo o seguinte: “A imagem fotográfica impôs a sua presença invadindo cada vez mais rapidamente, de maneira completa, o nosso mundo, sem que uma direcção ou uma certa ordem tenham guiado esta prodigiosa expansão – que novos meios de expressão (cinema e televisão) iam ainda acelerar. À força de facilitar um conhecimento mais aprofundado do mundo, ela transformou-se em meio de expressão e tende agora em tornar-se um processo de comunicação.” Também a banda desenhada se insere neste vasto movimento de expansão da imagem, contribuindo decisivamente para um tipo de civilização a que não e exagerado denominar-se civilização da imagem. O suporte da banda desenhada é o livro ou a revista impressa. A sua difusão processase na ordem de milhares e, por vezes, de milhões de exemplares. Normalmente, destina-se a um público eclético, que atinge devido a preços acessíveis. Tem essencialmente uma função recreativa. Conta uma história, mais ou menos curta, através de imagens encadeadas ritmicamente, recorrendo ou não a palavras, mas afirmando-se graças a elementos visuais, surgindo deste modo como uma linguagem universal, perfeitamente inteligível, anulando as barreiras linguísticas.


Começar com

A Reportagem Gráfica Não, o século não começa em 1914 com uma guerra. Começa antes com uma reportagem às célebres Conferências Democráticas por um “forte, sanguíneo, cerebral” Rafael Bordalo Pinheiro (1846 - 1905). Trata-se da sétima página de um “album humorístico, ao correr do lápis”, folha volante litografada de A Berlinda, nos idos de 1871. Inseridos numa tradição de narrativas por imagens que desembocava então na imprensa, vários autores, sobretudo Manuel de Macedo e Nogueira da Silva, sempre no âmbito da sátira, haviam tratado de esboçar uma forma, algo titubeante e copiando os modelos de outras paragens, fosse elas Londres, Paris ou Munique. O próprio Bordalo Pinheiro tinha assinado antes vários cartoons narrativos, como lhes chama o decano da investigação sobre histórias aos quadradinhos, António Dias de Deus. (…) passava-se aqui a ter essas caricaturas ligadas por uma lógica temporal encadeada em sequência que «torna cada imagem relativa dependente da anterior e da seguinte. A história dinamiza-se na surpresa dos lances.» O resultado surpreende logo com o autor a desenhar-se no papel de narrador de um caso que, ao ser (d)escrito, pode bem usar sinais de pontuação, como os dois pontos ou o parêntesis e as personagens até podem carregar pontos de exclamação e interrogação num assomo de inventividade que é a marca do génio. Um ano depois publicava o primeiro álbum, com um sucesso popular confirmado por três edições, Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a picaresca viagem do Imperador do Brasil pela Europa. (…) É notável a frescura da pequena novela, com pérolas gráficas como tripas que correm de tira em tira, ou um uso cirúrgico dos tempos, com uma vinheta a representar horas num caso e meses noutro. Com extrema minúcia, as figuras são definidas em traço fino de impressiva personalidade, de um modo que


sugere o gesto da escrita. Com elas se compõe um vocabulário tão rico quanto original. (…) Portugal não seria o mesmo sem este traço esguio e elegante, nascido de um contorno esboçado, breve e nervoso. A imprensa crescia ao ritmo das opiniões e das mudanças tornando-se, assim, um dos principais palcos do grande teatro. A sátira feroz e a crítica social eram os seus grandes actores, como está bem de ver em notáveis publicações como António Maria. (…) Bordalo, “jornalista da gravura”, não só não escapou a esta vertigem libertária como

a tornou mais perfurante, o que também pode ser representado por outra das suas pranchas. Tocou várias disciplinas, mas em nenhuma como na narrativa gráfica o esplendor do seu talento se pode constatar na justa dimensão, com um reconhecimento que merece e tarda. Inventou processos, fundou suportes, criou sinais icónicos, experimentou modos de narrar, importou e homenageou os melhores autores da sua época, disseminou o género, definiu temas, fez dela linguagem artística e popular, enfim, esculpiu uma infindável galeria de figuras, das concretas e definidas às delirantes e fantasiosas, para acabar nesse retrato de alma, o ícone do português para sempre entalado entre séculos, entre condições, entre acontecimentos: Zé Povinho, também ele herói de histórias aos quadradinhos.

Ainda antes do século XX começar sob o signo da fantasia para crianças, vários nomes trabalharam em direcções diferentes a herança de Bordalo, sempre no fito de fazer do humor uma utopia libertária e anti-autoritária, contribuindo de caminho para o derrube da monarquia... Celso Hermínio (1871-1904) começou cedo a colaborar com Bordalo, tendo igualmente passado pelo Brasil, antes de o substituir n’O Comércio do Porto Ilustrado. É senhor de um traço cheio de detalhes, com um peculiar barroquismo. Leal da Câmara (1876 - 1948) há-de ser, por via do exílio francês, um dos nossos caricaturistas mais conhecidos, sobretudo graças à colaboração em numerosas publicações como L’Assiette au Beurre, um dos títulos europeus mentores desta ideologia. O seu estilo é marcado por um contorno mais expressivo. A figuração, como a composição e a cor são já de um outro tempo. Francisco Valença (Lisboa, 1882-1959) ilustrou livros, editou álbuns de caricatura e fundou revistas, como A Carantonha e mais tarde o Sempre Fixe, tendo o seu desenho cedo surpreendido em O Século – Supplemento Humorístico (…). As suas figuras gorduchas, algumas com notável tratamento de cor, conservam-se intocadas pela passagem dos anos. Estes autores são apenas alguns da miríade que através do tiro ao alvo do cartoon, da história breve numa página, acabou por ajudar a definir um modo de contar ao mesmo tempo que, criticamente, capturava todos os tipos e todos os tiques. Baudelaire via na caricatura um sinal maior da vida civilizada, da cidade, e daí o riso ser «satânico, e portanto profundamente humano.» E dizia ainda: «O riso das crianças é como o desabrochar de uma flor. É a alegria de receber, a alegria de respirar, a alegria de se abrir, a alegria de contemplar, de viver, de crescer. É uma alegria de planta.»


Entre

e

A Modernidade dos Modernos Um fala e o outro ouve de mãos nos bolsos. Quim, de chapéu e calças remendadas, e Manecas, de bibe às bolas e três ou quatro cabelos em pé, foram duas crianças que se mantiveram assim por quase cem anos. (…) Foram dos primeiros a falar com balões na Europa, viveram histórias curtas e outras mais longas, em tiras ao alto a preto e branco, ou em páginas inteiras de tom pastel, andaram de jornal em revista, saltaram do papel para milhentos jogos e músicas e bonecos e até para o celulóide. Foram, pois, fenómeno. Stuart de Carvalhais (1887-1961) regressava de França, em 1915, onde apesar de

colaborações prestigiadas não se adaptou longe de uma Lisboa que amou como poucos e a quem devemos os corpos e as almas da sua identidade: a varina, o ardina, o bêbado, os putos, os miseráveis. Era um artista perfeitamente integrado nos movimentos que atravessavam a sociedade portuguesa, mantinha aguçado o olhar sobre as suas maleitas e recolhia com suprema humanidade e talento boémio os rostos com que se cruzava. Pediram-lhe uma série, depois de ter ensaiado, em 1907, a bd e ele criou o olhar de Quim e os gestos de Manecas. Ambos contêm a irrequietude da nossa poesia, a qualidade aventureira dos inventores do globo, a melancolia das pequenas misérias. «É realmente em 1915 que Stuart irrompe com uma espectacularidade inigualada neste século, é realmente ele que introduz a BD portuguesa, e de algum modo a BD europeia, no século XX, ou o século XX na BD. (…)» João Paulo Boléo e Carlos B. Pinheiro não se referem apenas do uso do balão, que atravessava assim o Atlântico, (…) e de mestrias na arte de contar histórias em tiras diárias e explosões de cor dominicais (…). Era uma prática de oralidade que, de resto, viria a ser abandonada ou evitada, de modo a dar crédito pedagógico e cultural a histórias que se queriam populares, aumentando o peso dos rodapés de texto, neste caso com a colaboração de Acácio de Paiva, numa prática assaz comum à época e peculiarmente duradoira entre nós. É que muitos e variados serão os contributos para a gramática desta linguagem, logo com a primeira prancha a apresentar representações de movimento, sinais icónicos de dor, além de pontos de

interrogação e exclamação que parecem assim constituir-se como actores da nossa história dos quadradinhos. A modernidade – inserida numa tradição de histórias com crianças, (…) – está no dinamismo da mise-en-page, nas relações entre o traço expressivamente expontâneo e a cor, na escolha dos enquadramentos, na definição teatral das personagens e na constante introdução de gadgets tecnológicos. Está na liberdade absoluta com que Quim e Manecas atravessam temas, países, autoridades. Neste mundo onde as crianças vão à guerra para a resolver, conduzem automóveis, inventam máquinas e gerem empresas, neste lugar do tudo é possível, não é tanto o humor que nos espera no final. Não interessa por aí além um desfecho mas o gozo da entrada e saída de personagens, o comentário à actualidade, a piscadela de olho ao leitor, o delírio obediente apenas ao rumo do pincel. A única lógica que encontramos é a do folhetim, fragmentos dispersos e estilisticamente irregulares, mas que acaba registando, como aparelhagem cardiológica, o sentir dos leitores de então, as oscilações de humor de Stuart, o ar dos tempos, os costumes, evoluções técnicas de todo o tipo. (…) Em 150 anos de primeiros passos, o novo meio a que chamamos banda desenhada pinta-se muitas vezes com o rosto simbólico de putos reguilas e as cores de um artesanato clandestino, de entretenimento algo irresponsável e de pendor comercial, fora do alcance dos sempiternos vigilantes, e que só nos anos 60, e na Europa, se tentará elevar à categoria de arte. Houve alturas em que a questão não se punha. A actividade


criadora tudo englobava: arquitectura, cinema, escrita e o que mais houvesse. Soprava um desejo intenso de aproximar arte e vida e a bd nasce a derrubar as suas próprias convenções. Duas histórias e uma revista fazem de Cottinelli Telmo (Lisboa, 1897-1948) artista maior na vida da nossa narrativa figurativa, quando o é indiscutivelmente noutras áreas. Quem vive e lê as aventuras são ainda as crianças, mas o perfume de maturidade que daqui exala nasce numa certa ideia de

infância

,

momento sublime de jogo e descoberta. Aventuras inacreditáveis (e com razão) do “Pirilau” que vendia balões e A grande fita americana – aventuras de 1ª. ordem superiores às do “Pirilau” foram publicadas na revista ABC, zona central na construção do nosso modernismo.

(…) Não são menos bd por terem uma enorme quantidade de texto, torna-as apenas distintas. A verdade é que o texto é delirante de imaginação e ironia e estabelece com as imagens um diálogo particularmente rico e desafiante, como se fosse possível, para cada página, escolher rumos distintos. O desenho é notável (…). A acção e o movimento, os gestos e as expressões vão compondo uma linguagem geométrica

quase hipnótica, (…). Os limites da página são usados em todos os seus sentidos. Antes de uma segunda dose com cinema, índios e cobóis, beldades e cavalos, é a viagem – tema entre os temas – que marca a velocidade desta narrativa “inacreditável”. Essa segunda “fita” teve que ser finalizada por Carlos Botelho, devido ao desafio urgente de criar o ABC-zinho, extraordinário exemplo de jornalismo infanto-juvenil. O conceito era particularmente interactivo e incluía as célebres construções de armar, concursos e passatempos, jogos e teatrinhos, pequenos romances, desenhos publicitários, contos ilustrados além das inevitáveis histórias aos quadradinhos, com um imaginário cosmopolita e burguês enraizado no exotismo das viagens, no fascínio pelo cinema, num encantador e fortíssimo grafismo. Tudo servido por uma impressionante quantidade de qualidades. Carlos Botelho e Stuart, Emmérico Nunes, Bernardo Marques e um surpreendente António Cristino, além da primeira autora de bd, Amélia Pae da Vida, acompanhada de Ofélia Marques e Else Althusse, dando início a uma presença feminina algo rara no panorama internacional e que perdura até hoje em trabalhos como os de Maria João Lopes, Isabel Lobinho, Maria João Worm ou Ana Cortesão, entre outras. Mas a lista de notáveis não acaba aqui. Há que incluir ainda Rocha Vieira e António Cardoso Lopes (TioTónio), que desenhará argumentos de Cottinelli, e se tornará presença constante neste movimento editorial, quer com a sua criação, Zé Pacóvio, quer dirigindo vários suplementos e revistas como Tic-Tac e O Mosquito. Botelho (1899-1982) não foi Hergé porque, muito provavelmente, preferiu ser aquilo que este almejava: pintor. É certo que foi poupado às tentações de uma indústria que, na prática, nunca existiu entre nós, mas a sua intuição artística levou-o pelos caminhos da luz de Lisboa. Como noutros casos, a sua passagem pela bd não foi nem episódica nem pecadilho de juventude. Tem um corpus constituído por muitas cente-

nas de pranchas (…). A sua linha é “clara” e pratica uma composição de grande harmonia gráfica com figuras geometrizantes. Paisagens longínquas, crianças próximas, o circo e robôs, além de lendas e contos de fadas são o substrato das suas histórias, (…) com destaque para a 2ª série do ABC-zinho, e que são, de facto, uma arquitectura fundamental porque estruturante. (...)

Ímpar a nível mundial é o diário de um criador que escreveu de 1928 a 1950, n’ Os Ecos da Semana, no Sempre Fixe. A invenção gráfica é uma constante. Um traço simples, primeiro, uma aguada depois, ali um esforço de execução maior. Contudo, é a espontaneidade que interessa.




s a r u t n e v A As Aventura da

enmovim ivas i o d s r s rogre do po vessa geira irá p laridades, a r t a ra é d estran s e popu s vidas -guer b O pós enciais. A publicaçõe respectiva anto, o s o s e d se ort n s i o d t nva personagen haremos, p Os heróis i e t n a. an me tuindo regras entur comp i subst rtuguês. A ueda na av Bem e as de um em po o na sua q valeiros do s, através e, que h mund bonitos ca mpanhá-lo aior detal redível m o c r o e a a ã d r n e r c se o, ão cas v is canónic exótico, to rpresas, qu i t é t s e e a o u d s o m t e A r o s e h o. desen azer para p ertar medo as e o relev do rer i s p t r o s r é e n t e a d a e , qu nsato r a luz, as m e. Serão os , ou seja, d e s n i o v e o o a p h m h l x s c e i e l e m ra ra usará é a palav o, do natu a de estilos a realio c d ã m s l ç s i i u e r r ) sc ab sív ve ela. (… insan o pos o, do alism aradoxal e os quant afastam d roeste a e im uma p s tão próx emáticas s ra as do F as Sele o t t g s s n a a a e j ; s s d u er di mas c hão-de s gs nórdico tais; as do , e d a s i n d n r i n e e k e i d p g i V oc s as isa as pa ano; as do s sonhos mar e ar; olicial; , c o p ameri aptadas a a em terra iminoso e via das r d h r l c a o a o t p s i a , r a b á é ev ist ser de m a s i o r o e cons p ó d a t r s i u cam urbanas d H a Di t r ia . ém a pécias r cá, tamb ológicas da m obrigató o e e P (…). rísticas id ura, parag e caract auto-cens e t n e qu

Fernando Bento (1910-1996) é um dos eixos do século, provavelmente aquele que melhor incarna uma certa ideia de autor de banda desenhada. (…) Modesto e autodidacta, com uma produção gigantesca dividida entre o humor e

a aventura, entre delírios infantis e universos para mais adultos; Bento tocou todos os temas, (…) É, portanto, um clássico ilustrado, dos que soube esculpir uma linguagem gráfica diversa e original, estabelecendo interessante relacionamento com a palavra, num caso ou noutro ajudando a definir fronteiras entre texto ilustrado e narrativa gráfica, entre a fala dos heróis e a voz do narrador. Como era costume nos anos 30, os seus primeiros traços riscam a ilustração e o desenho de humor por vários jornais e revistas até encontrar como principais palcos o Diabrete (1941-1951) e o Cavaleiro Andante (19521962). São duas revistas marcantes, animadas por Adolfo Simões Müller, que adoptou a causa de uma moralidade conservadora, didáctica e paternalista. O herói tudo enfrenta de rosto erguido e olhar límpido, a coragem e a abnegação serão sempre valorizados, a gesta heróica cantada. E a violência, a estritamente necessária, diluída numa certa estetização. (…)


Bento é inigualável no jogo entre a paisagem e os rostos, em nome da expressão e do movimento. A busca de uma eficácia máxima é levada ao extremo nas últimas obras, sem nunca perder o que de mais pessoal continha o seu desenho e as suas inquietantes leituras. A aventura é sempre o encontro com o inesperado, um desafio imenso que faz o homem descobrir em si as zonas de sombra. De modo ainda não cabalmente avaliado, desenhou os contornos de um imaginário. Vitor Péon (1923-1991) tem uma obra gigantesca, executada a um ritmo vertiginoso, que talvez se possa caracterizar mais pelos seus momentos (altos) do que pela constância. Embora a sua qualidade primeira seja o dinamismo, a verdade é que numa obra e num talento desta dimensão não é difícil encontrar páginas e personagens dignas de registo.

“Tomahawk” Tom, um dos seus heróis preferidos, é o contributo para a galeria de cowboys, série onde apresenta pranchas de frenética dinâmica resultante de um uso intenso de massas negras e muito movimento.




A Avalanche Franco-Belga Com a década de 60 iniciou-se a avalancha de quadradinhos belgas, (...). O pontificado franco-belga foi solenemente consagrado pela publicação portuguesa de Tintin, a partir de 1968. (...) recorrendo a histórias aos quadradinhos antigas, inteligentemente seleccionadas, (...), conseguia apresentar ao público um conjunto de elevada qualidade. O nº1 saiu em Junho de 1968, sob a direcção (registada) de Jaime Mas, e apoio de Dinis

Machado. A colaboração directa de desenhadores portugueses restringiu-se a curtas histórias aos quadradinhos de Péon, só na fase inicial, que um desaguisado teria levado a suspender. Embora José Ruy estivesse sempre mais ou menos presente, em insígnias, cartoons ou comics-reclame, só perto do fim os desenhadores lusitanos, da geração jovem, ganharam entrada – Relvas, Figo, Pedro Morais, etc. (...) Todavia, durante os três lustros que Tintin durou, a sua excelência deveu-se fundamental-

mente aos bons desenhadores da escola belga: Macherot, Morris, Hermann, Hergé, Bob de Moor, Paul Cuvelier, E. P. Jacobs, Mezières, Dany, Jijé, Reding, Giraud (...) Dupa, Paape, Vance, Jacques Martin, Mittéi, Vicq, Geri, Hubac, Ploeg, Berck, Aidans, Tibet, Graton, Craenhals, (...). Nos anos tardios, pranchas de Comes, Hugo Pratt e Will Eisner arejaram um pouco o panorama. O ultimo número seria o 21, do 15º ano, em 2 de Outubro de 1982. O sucesso da revista Tintin junto das camadas juvenis teve pesadas consequências, positivas e negativas. Entre as primeiras, contamos a divulgação de autores que realmente estavam em atraso, ou que só agora recebiam tratamento gráfico adequado à sua qualidade – Hergé, E. P. Jacobs, Cuvelier. Isto porque a qualidade gráfica da revista foi o melhor que se poderia esperar. Infelizmente, esta infusão maciça de material heterogéneo teve também resultados nefastos. A juventude passou necessariamente a preferir (...) banda desenhada franco-belga, rejeitando com a mais olímpica indiferença os comics americanos que Mundo Aventura apresentava. Sendo o Tintin português construído com os recursos das editoras Lombard e Dargaud, ficava ainda outro grande manancial de belgomania - as edições Dupuis. Com HQ desta última, constitui-se, em 21 de Outubro de 1971, a revista Spirou. (...) Sobre a direcção de António Ramos, não conseguiu suplantar a notoriedade de Tintin, terminando ao fim de 26 números, em 13 de Abril de 1972 (...). Em 1979, outra vez voltou à carga o título Spirou, não obtendo melhor sorte do que anteriormente. Começou no dia 10 de Abril, dirigido por Vasco Granja, e acabou no nº32, em 13 de Novembro, deixando histórias incompletas.


Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de DC1 do primeiro ano de Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes

Tipografias: Berlin Sans, Birch, Bodoni, Chaparral, Futura, Haettenschweiler Helvetica Neue e Sinzano

Design de Ana Filipa Leite Agradecimentos: Ana Cristina Leite, Joao Paulo Cotrim, Geraldes Lino, Maria João Leite e Paulo Sales

Junho de 2009

“A

Definição de Banda Desen-

hada” texto Vasco Granja. Inserido

no nº 0 do fanzine de Banda Desenhada, editado pelo mesmo, “Quadrinhos”, 1972 “A reportagem gráfica”, “A modernidade dos modernos”, “As aventuras da aventura” textos de João Paulo Cotrim. Excertos do capítulo “A Narrativa do Século.

Dois ou três apontamentos sobre a picaresca viagem da banda

XX” inseridos na obra Século XX. Panorama da Cultura Portuguesa, Porto, Edições Afrontamento e Fundação de Serralves, 2001 desenhada pelo século

“A avalanche franco- belga” texto António Dias de Deus. Excertos do capítulo 3º da obra Os Comics em Portugal. Uma história da banda desenhada , Lisboa, Cotovia e Bedeteca de Lisboa, 1997

Imagens por ordem de entrada Quim e Manecas , pormenor de vinheta de Stuart Carvalhais, “ O Quim e o Manecas e a Tia Joana” , publicado n’ O Século Cómico, nº 905, 11-3-1915 Rafael Bordalo Pinheiro. “Não ter sorte

– ter azar e caiporismo,

lápis s/ papel.” Pormenor com

auto representação de Bordalo. Publicado no Commercio do Porto Illustrado, 1898 Quim e Manécas , pormenor de vinheta de Stuart Carvalhais, “De como os latinos

Quim e Mané-

cas caíram n’ uma emboscada”,

publicado n’ O Século Cómico, nº 917, 3-6-1915 ABC-zinho, número 17, (2ª série), 1926. Ecos da Semana: “Romanza quasi sem palavras”, 1934, para Sempre Fixe. Integralmente cortada pela censura. Vinheta de Victor Péon, “Tomahawk . Tom : O Espírito de Manitú”, Mundo de Aventuras, nº 144, 15-5-1952 Corto Maltese , pormenor de vinheta de Hugo Pratt, Revista Tintin, nº6, 1980 Cavaleiro Andante, número especial Fevereiro 1955 Clifton, Revista Tintin, número 8, 1974. Asterix , pormenor de vinheta de “Asterix e os Godos”, Goscinny e Uderzo, Revista Tintin, nº 27, 1971



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