Violência de gênero e HIV: onde estão as pesquisas?

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Violência de gênero e HIV: programas e políticas são bem vindos, mas as pesquisas continuam? Sofia Gruskina, Kelly Safreed-Harmonb, Chelsea L. Moorec, Riley J. Steinerd, Shari L. Dworkine a Professora de Medicina Preventiva, Escola de Medicina de Keck; Professora de Direito e Medicina Preventiva, Escola de Direito Gould; Diretora, Programa de Saúde Global e Direitos Humanos, Instituto para Saúde Global, Universidade do Sul da Califórnia (USC), Los Angeles, CA, EUA. Contato: gruskin@med.usc.edu b Consultora Independente, Programa de Saúde Global e Direitos Humanos, Instituto para Saúde Global, USC, Los Angeles, CA, EUA c Estudante de Doutorado, Universidade de Artes e Ciências de Washington, Departamento de Ciência Política, Seattle, WA, EUA d Estudante de Doutorado, Universidade Emory, Escola Rollins de Saúde Pública, Departamento de Ciências do Comportamento e Educação em Saúde, Atlanta, GA, EUA e Professora, Departamento de Ciências Sociais e Comportamentais, Reitora Associada, Assuntos Acadêmicos, Universidade da Califórnia em São Francisco, Escola de Enfermagem, São Francisco, CA, EUA

Resumo: A arena política global em relação ao HIV tem recebido uma onda de interesse sobre a dimensão da vulnerabilidade de gênero à violência e ao HIV. A UNAIDS e outros atores importantes tornaram a violência de gênero uma prioridade e parece haver um comprometimento e entendimento genuínos em relação à abordagem das desigualdades de gênero, já que produzem impactos sobre populações centrais para a resposta à AIDS. Na busca por intervenções baseadas em evidências científicas, é sempre estreita a conexão entre a pesquisa e as políticas e programas subsequentes. Será que isso também acontece no campo do HIV, gênero e violência? Este artigo questiona a literatura científica quanto à representação adequada de todas as populações afetadas – homens heterossexuais, homens e mulheres transexuais, mulheres que fazem sexo com mulheres e homens que fazem sexo com homens – e quanto à consideração das normas de gênero e das dinâmicas nas quais estão inseridas. As conclusões sobre a violência no contexto de relacionamentos heterossexuais, e especificamente a violência vivida pelas mulheres heterossexuais, não devem ser tomadas como elementos da violência de gênero geral, sem a devida atenção para com as dinâmicas de gênero. Pesquisas orientadas por uma compreensão mais abrangente sobre a violência de gênero e sobre sua relação com as diferentes populações afetadas pelo HIV podem subsidiar programas e políticas de forma mais eficaz. Palavras-chave: HIV, AIDS, gênero, violência, violência de gênero A violência de gênero é, simultaneamente, causa e consequência do HIV e, por isso, levanta questões importantes sobre a saúde e os direitos humanos. Nos últimos anos, a arena política global do HIV recebeu uma onda de interesse sobre os aspectos relativos a gênero, vulnerabilidade ao HIV e violência, que resultou em avanços notáveis nas políticas e programas com o objetivo de abordar a violência de gênero. Aparentemente, políticas especificamente voltadas para o HIV, gênero e violência exigem uma base científica que ilustre como a violência relacionada ao HIV é mediada por papéis, normas e dinâmicas de gênero. Mas não está claro se a pesquisa científica tem sido capaz de acompanhar esses desenvolvimentos. No campo das políticas globais, o conceito de gêne-

ro como um conjunto de normas, um sistema de relações sociais sustentadas institucional e estruturalmente e como uma identidade socialmente construída, é visto como distinto do conceito de sexo biológico. Apesar de, implicitamente, o termo violência de gênero reconhecer essa distinção, a questão central é se pesquisadores estão conduzindo estudos que abordam como e porque as questões de gênero são importantes no contexto do HIV e da violência. O propósito deste artigo é levantar duas questões sobre o modo como a literatura científica aborda a interseção entre HIV e violência. Primeiramente, questionamos se a literatura representa adequadamente todas as populações afetadas meninas e mulheres, meninos e homens, homens

Conteúdo online: www.rhm-elsevier.com

Doi: (do artigo original) 10.1016/S0968-8080(14)44810-9

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