Igreja Saint-Pierre, Le Corbusier

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de betão A igreja de Saint-Pierre, o último de três edifícios religiosos projectados por Le Corbusier foi concluída no final de 2006 encerrando um ciclo de 41 anos de contratempos. A obra modernista que se caracteriza por um cone de ponta truncada é para muitos um problema de autenticidade

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Texto de Ana Rita Sevilha

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Fotos de Allard van der Hoek

assados 41 anos da morte de Le Corbusier, a igreja de Saint Pierre, em Firminy, França, foi terminada, cumprindo assim a promessa feita ao mestre do Movimento Moderno de que a mesma seria concluída. Implantada na localidade que agrupa a maior quantidade de obras de Corbusier, são quatro no total, muitos foram os contratempos e as dificuldades passadas desde a sua encomenda, em 1960, até à sua conclusão em finais de 2006. Le Corbusier chegou a Firminy nos anos cinquenta a convite do então presidente da câmara, Eugène Claudius-Petit, e durante a década seguinte ambos trabalharam para a criação da maior concentração de edifícios do arquitecto naquela localidade. A história de Saint Pierre começa no ano de

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1960, com uma encomenda feita por uma associação paroquial através do presidente da autarquia de Firminy na altura, e antigo ministro da Reconstrução, Eugène Claudius-Petit. Corria o ano de 1964 quando a paroquia local reuniu o dinheiro suficiente para a obra, contudo, a morte do autor da igreja, Le Corbusier, em 1965, alterou o rumo das coisas, e nesse mesmo ano as autoridades religiosas tiveram medo de continuar uma obra que apelidavam de muito cara e dissolveram a associação paroquial. Para além deste percalço, ainda em vida Le Corbusier enfrentou outra batalha, travada com o bispo de Lyon, que considerava que a nova igreja fazia morfologicamente alusão às formas pagãs. No entanto, em 1967 uma nova associação ganha corpo impulsionada por Eugène

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Claudius-Petit, a Associação Le Corbusier, e em 1971, seis anos após a morte do arquitecto, as obras são retomadas, recorrendo a fundos privados da associação criada com o nome do arquitecto, grande parte conseguidos com a venda de objectos da sua colecção de arte. Entre 1973 e 1977 a primeira parte dos trabalhos em Saint-Pierre é levada a cabo, contudo volta a ser interrompida em 1978, por questões financeiras, e o cone que coroa o edifício e caracteriza o projecto de Le Corbusier não chega a ser construído, tornando-se o que muitos apelidaram de ruína contemporânea . Anos mais tarde, em 1996, a obra é classificada como monumento histórico, e em 2001, resultado de uma aposta da nova autarquia local no património histórico, as autoridades regionais e locais decidem retomar os trabalhos. É na Primavera de 2003 que as obras voltam a prosseguir, com um orçamento de 6,8 milhões de euros e coordenadas por José Oubrerie, antigo colaborador de Le Corbusier. Em 2006 a igreja de Saint-Pierre é oficialmente aberta ao público.

Dados

Ícone de betão De planta quadrada e tendo como principal característica um cone que termina com a ponta truncada, a igreja de Saint-Pierre não é actualmente um edifício inteiramente dedicado ao culto religioso. Uma vez que as leis francesas proíbem o uso de gastos municipais em edifícios deste cariz, a sua parte inferior, que no projecto original contemplava espaços destinados a actividades paroquiais, funciona em parte como uma dependência

1960 – Encomenda feita a Le Corbusier 1965 – Le Corbusier morre e as obras são abandonadas 1973-1977 – Realizada a primeira parte dos trabalhos 1978 – A obra volta a parar 1996 – Parte da obra é classificada como monumento histórico 2003 – Os trabalhos são retomados 2006 – A obra é terminada

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do Museu de Arte Moderna de Saint-Etienne, e um espaço destinado à obra de Le Corbusier. Implantada ao lado do complexo desportivo também da autoria do arquitecto suíço, este foi o terceiro e último edifício religioso desenhado por Corbusier, e surge na paisagem urbana de Firminy com uma personalidade forte, dotado de uma fachada em betão à vista de frente para a rua principal. A aproximação ao edifício é feita à medida que se sobe a rua, mas para aceder à sua entrada principal o visitante tem de atravessar uma espécie de ponte que de acordo com a imprensa especializada é uma passagem que força a um abrandamento o que cria uma deliciosa sensação de antecipação . Uma vez no seu interior, a circulação é feita de uma forma fluida e circular, isto porque os quatro pisos do edifício são servidos por uma rampa. Esta forma gradual de entrar no espaço, faz com que o mesmo também se vá desvendando aos pontos. A vista do altar é a primeira a surgir, rodeado por uma espécie de estante e por um banco corrido que se forma na parede de fundo da igreja, onde os padres ficarão sentados durante os períodos de missa. O altar é o centro do edifício, e por isso é nesse sentido que converge o declive do pavimento, que embora suave contribui para levar a atenção para aquela parte do edifício. Até ao altar, nascem filas assimétricas de bancos corridos que se vão repetindo até ao fundo da igreja, mobiliário este também desenhado pelo arquitecto suíço. Para além da igreja principal, o edifício conta com uma pequena capela localizada ao nível do altar e situada do lado DDDDD

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direito por detrás de uma parede. O percurso termina numas escadas estreitas que encaminham o visitante para o exterior, de volta ao mundo real . Segundo a imprensa especializada, a igreja de Saint-Pierre leva o seu visitante intuitivamente onde deve ir, e muito desse percurso quase feito de uma forma inconsciente é reforçado pela utilização da luz, que tem neste edifício um papel cénico. Desde a entrada até ao altar, uma luz difusa vai acompanhando e delineando o caminho, e o cone que funciona como cobertura é perfurado por dois canhões de luz, um circular e outro quadrado, que invadem o espaço interior de uma forma cuidada. Na parede Este do edifício um conjunto de pequenas perfurações cilíndricas recria a constelação de Orion, contribuindo mais uma vez para um ambiente cénico que a obra de Le Corbusier pretende conferir a quem a visita

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90% Le Corbusier Uma vez que a igreja foi terminada 40 anos após a morte de Le Corbusier, coordenada por outro arquitecto e sujeita a alterações, a pergunta que se coloca é se pode ser considerada verdadeiramente da autoria do arquitecto suíço. Para além de o edifício actualmente não ser só religioso, o projecto original teve obrigatoriamente de sofrer alterações, nomeadamente porque entretanto entraram em vigor legislações, como a de deficientes, o que levou a que a rampa fosse redimensionada e a colocação de um elevador fosse obrigatório. Para além dessas alterações foram equacionadas saídas de emergência e medidas necessárias para agilizar em caso de incêndio, o vidro foi substituído em algumas partes por policarbonato, e de uma forma geral foram consideráveis as alterações no interior e no exterior. n

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