Arquitetura e Moda

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“Fashion & Architecture”, um 'clique' ou um choque?

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TRAÇO # Setembro nº 15


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Texto de Ana Rita Sevilha Postma

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Fotos de Hermanna Prinsen / Marnix

Fashion & Architecture” foi o nome e o mote de uma exposição que esteve patente recentemente no ARCAM – Centro de Arquitectura de Amsterdão. A mostra, da autoria do ARCAM juntamente com os designers de moda Liza Koifman & Wouter Valkeneir e do gabinete de arquitectura liderado por Tomas Overtoom, resultou de um desafio lançado a quatro duplas, compostas por um estilista e um arquitecto que se juntaram especificamente para esta ocasião de forma a desenvolverem um processo de design. Flora van Gaalen, gestora do projecto na ARCAM falou com a Traço e explicou como surgiu a exposição. “A ideia para esta exposição surgiu de um arquitecto e de uma designer de moda. Wouter Valkeneir estava a desenvolver um projecto de uma cafetaria quando constatou que precisava de alguém que se encarregasse de todo o projecto de têxteis, e foi aí que entrou o designer de moda Tomas Overtoom. Depois de reunirem constataram que tinham ideias conceptuais semelhantes, e que ambos partilhavam da ideia de que seria interessante se as duas disciplinas trabalhassem em simultâneo para o mesmo fim. Depois disto contactaram a ARCAM, e apresentaram a ideia. Sinergias Sobre a exposição, Flora explicou que, embora existam frequentemente cruzamentos entre disciplinas – moda e arquitectura, mas também com outras, a colaboração entre arquitectos e designers de moda é uma sinergia que está na sua fase inicial. “O que é surpreendente, considerando que têm um terreno comum”, sublinha. E que terreno é esse? Ambas as disciplinas se preocupam com a criação de volumes com o fim de proteger as pessoas, e ambos envolvem princípios de construção e a selecção do material mais adequado para lhes dar corpo, partindo de uma gama de possibilidades cada vez maior. Conceptualmente, este é um paralelismo que os autores da exposição consideraram interessante, nomeadamente “porque se os designers de moda procuram resistir à rápida rotatividade, os arquitectos cada vez mais procuram edifícios com a máxima flexibilidade e com grande valor experimental”. A exposição deu a conhecer uma inspiração mutua, o seu processo criativo, e se este confronto produz um “clique” ou um choque. Inspirações Mattijs van Bergen e Anouk Vogel agarraram como conceito as estações do ano e o seu significado na moda e na arquitectura paisagista, e criaram um vestido coberto de flores que simbolicamente dá “vida” às estações do ano. Farida Sedoc’s Hosselaer & Nicole and Marc Maurer, do Maurer’s United Architects desenvolveram uma instalação com cinco esculturas em forma de bloco inspiradas no movimento modernista De Stijl e na Bauhaus, acompanhadas por um conjunto de t-shirts caracterizadas por terem formas angulares. A sustentabilidade foi a ideia agarrada por Kentroy Yearwood's Intoxica e Jeroen Bergsma, do 2012 Architecten, que desenvolveram um vestido criado com mangueiras, tubos de plástico, fios e materiais usados em embalagens. Por último Iris van Herpen e Mels Crouwel inspiraram-se no imaginário do elemento água, e criaram um vestido em material acrílico

que dá a ilusão de ser composto por água pura, e que vai espirrando água em torno do corpo de quem o usar. Os contrastes, tensões e semelhanças gerados por estes projectos, destaca Flora van Gaalen, mostram que “o processo criativo por detrás destas duas disciplinas é definitivamente um diálogo interessante”. “Seasons Change” As estações do ano têm uma influência directa no dia-a-dia de Mattijs van Bergen e Anouk Vogel, bem como um pouco em todos nós, mesmo que por vezes nos pareça que desapareceram uma vez que tudo está disponível todo o ano. O tempo em que um designer de moda produz as suas colecções é determinado pela dinâmica da indústria da moda que cria um novo look para cada estação. Este ciclo é inevitável nas duas disciplinas. Por isso, através de flores vivas, pneus de bicicleta reciclados e lã, a dupla de criativos criou uma peça que resiste às estações do ano com diversas formas, um objecto que vai alterando à medida que é criado um novo arranjo de flores, diferente a cada semana.

Arquitectura e Moda, duas disciplinas, dois universos por vezes distintos, mas outras vezes nem tanto. Embora pareçam distantes, ambas criam volumes com o fim de proteger as pessoas através de um método conceptual semelhante. O Centro de Arquitectura de Amsterdão decidiu explorar o tema numa exposição a que deu o nome de “Fashion & Architecture”

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“T-Haus” Farida Sedoc’s Hosselaer & Nicole and Marc Maurer criaram o "T-Haus". Na primeira reunião conjunta, a dupla sugeriu como ponto de ancoragem na tarefa de misturar moda e arquitectura ícones como De Stijl e a Bauhaus. Com base nesta ideia conceberam cinco esculturas em forma de bloco, e posteriormente criaram um conjunto de t-shirts, de formas angulares e até antinatura, que se encaixam em torno dos volumes. O conceito ancorado no De Stijl é evidente nas cores utilizadas. “Insectiouselectrotubeflowercliché” Ketroy e Jeroen foram movidos pela industria da construção sustentável. Através do contacto com uma empresa holandesa de processamento de resíduos, conseguiram a sua matéria-prima, que se traduziu em tubos de aspiradores, tubos plásticos de várias cores, fios de ferro e materiais de embalagens, e meteram mãos à obra. Considerando o diálogo como o aspecto mais importante do projecto e o resultado final como um passo no processo de reflexão sobre as possibilidades produtivas e criativas de utilização de resíduos, o desafio para esta equipa foi o de incorporar o sentido de “recyclicity” no objecto criado, mantendo contudo os materiais básicos reconhecíveis numa imagem esteticamente agradável. O resultado final, é, segundo os mesmos, a representação dos limites entre a estética e a funcionalidade. “Pure Water” Iris and Mels foram inspirados pelas ideias um do outro no que diz respeito ao uso de materiais e de linguagens construtivas, técnicas e visuais. O resultado foi um vestido “que se move dentro do corpo como uma onda”. O objecto foi feito de elementos sintéticos que com a ajuda de ar quente foram transformados e fundidos. Materialmente o vestido assemelha-se a água pura, fluído, mas rígido o suficiente para sugerir uma espécie de embrião congelado. I

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