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RAHAB SOFIA - Teresina, PI

O VELHO-VIDA

Eu me pergunto se a vida ainda tem um lado poético. Se a vida não é um velho rabugento, sentado numa poltrona velha e rasgada mudando os canais de uma tv 19 polegadas enquanto coça a bunda e bebe cerveja. Arrota e cospe, cheira à fumaça de cigarro, numa camisa regata branca que deixa ver a gordura de sua barriga por baixo da barra.

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O sol nasce e ele ronca no sofá. As crianças brincam e ele fura as bolas que caem em seu quintal. Um velho-vida que abriu mão de seu lado poético depois do segundo casamento. Ele arrasta suas chinelas pela casa solitária de três cômodos e piso esverdeado enquanto o casal vizinho briga de novo. Se alguém morrer, ao menos, ele terá silêncio e alguma coisa do que rir por uma semana.

Ninguém entenderia suas piadas negras, mas ele encontra em seu mau humor corriqueiro uma companhia adequada para dividir uma garrafa de whisky. E escrever uma crônica com um pedaço de lápis que achou na primeira gaveta do armário. E compor um poema sob um pseudônimo de mulher. Uma boa razão para que as pessoas se afastem logo nos bons dias, mas sempre tatuem seus versos na nuca.

O velho-vida coça o saco, fica careca e se afoga no álcool, no poema e no desejo de um trago de mocidade que ele transforma em canções que ninguém lhe confere, em livros que ele vende na Europa.

Eu me pergunto se a vida ainda tem um lado poético. Se tiver, está escondido sob um punhado de falta de educação, cansaço e bebidas alcoólicas. Mas está lá, sempre mudando de canal (e escrevendo rimas salientes).

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