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RICARDO MONCORVO TONET - Amparo, SP
CONVERSANDO EM SONHOS
No início do mês de julho de 2010, minha mãe recebe um telefonema de Santos, informando que seu irmão mais velho estava internado numa unidade de terapia intensiva, vitimado por um acidente vascular cerebral.
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Dentro de pouco mais de cinco meses meu tio estaria completando noventa anos de idade.
Foram sem sombra de dúvidas, oitenta e nove anos muito bem vividos. Com muita luta, trabalho e dedicação, ele e minha tia, construíram um patrimônio considerável, criaram três filhos, todos vitoriosos na vida e agora curtiam os netos e a vida.
Cada um à sua maneira. Meu tio ria! Rio do sol, de um dia de chuva, das viagens de passeio, de um bom vinho, de jogar conversa fora num bar, e até de uma operação de safena bem-sucedida...
Minha tia, já era mais tranquila e se divertia com os livros, as novelas e o trabalho, sua verdadeira paixão.
E assim, eles se completavam. Meu tio, já estava desenganado. O derrame havia sido muito grande e agora o que restava, era apenas a angústia da espera.
E minha tia não resistiu. Três dias após a internação do meu tio, às três horas da madrugada, acabou enfartando. Num quadro, se não tão grave como do meu tio, mas também preocupante pela idade e pela vida mais sedentária que minha tia levara.
Mas, agora lá estavam os dois novamente juntos, no mesmo hospital. Apenas separados pela distância do quarto da ala de cardiologia e a UTI.
Meu tio não aguentou e veio a falecer seis ou sete dias após sua internação e caberia a meu primo mais velho, a incumbência de informar a mãe do acontecido.
Não houve tempo! Quando ele entrou no quarto, minha tia, com a fisionomia mais serena que ele já havia visto, também havia falecido.
Para a família, amigos e conhecidos a dor da perda de duas pessoas queridas!
Mas, foi assim eles escolheram se despedir da vida, juntos. Como sempre eles fizeram nos muitos anos de casamento em que um foi anjo da guarda do outro.
Muita gente perguntava, se ela não teve tempo de saber da morte do marido.
Minha tia soube. Tenho certeza! Eles conversavam até em sonhos!