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THAÍS FARIA YOSHIDOME - Ribeirão Preto, SP

NÓS E AS MARCAS DA ONÇA PINTADA

Ontem inventando uma história para o meu filho, acabei dizendo que cada bolinha preta da onça pintada simbolizava uma vitória ganha, uma marca de cada coisa que ela vivenciou. Claro que não com essas palavras, mas esse foi o sentido. Fiquei, depois de algum tempo, pensando sobre nossa ligação com essas marcas e a onça pintada.

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Acontece que todos os dias nos pintamos por aí, seja de marcas boas, marcas ruins. Estamos sempre nos moldando conforme nossas experiências. O que acontece conosco é que, muitas das vezes, essas marcas não ficam tão evidentes aos olhos das pessoas, mas nós sabemos onde cada marca está e o que simboliza. Nós sabemos o que custou cada marca e o quanto bem ela fez.

Outro dia no zoológico ouvi uma garota dizer: “Olha, mãe, que linda a pele dela”, agora me vem nítida a ideia de que tem gente que transparece marcas boas ou, talvez, tenha se camuflado nas experiências e se transformado. É que a pessoa parece viver tão bem com sua pelagem, que parece mais bonita que as outras. Existem pessoas que não se reconhecem ou ainda não aceitam a pelagem que lhes é própria. Pouco a pouco a onça aceita suas listras ou não, ela reinventa as suas marcas todos os dias, numa busca incessante por pintar melhor uma ou apagar a outra.

Mostrar ao meu filho que as pintas são uma forma de batalha da onça, deixou-me uma reflexão das mais bonitas de um domingo, talvez por perceber as minhas marcas, por querer modificá-las, por saber que tem gente que pode me ajudar a repintá-las... Mas não só tudo isso, mostrou-me que é preciso falar com nossos filhos dessa formação, desse conhecimento, auxiliá-los a pintar todas as bolinhas, a repensar em outras e passálas sempre a limpo.

Você já se observou com marcas que não te representam mais? Ou talvez marcas que você queira modificar? Outro dia me vi presa em uma das marcas que mais odeio em mim.... Sou uma pessoa extremamente crítica, comigo e com os outros, mas ao extremo comigo mesma. Então, na semana passada me peguei pensando que não daria conta de um dos projetos que me propus esse ano, pensei que não daria conta de fazer o negócio ficar perfeito mesmo (como boa crítica), fiquei desanimada demais e, por uns dois ou três dias, pensei em como eu desistiria de tudo o que aquilo tinha se tornado. Ainda bem que existem bons pintores de manchas para nossa pele e que estão sempre por perto, uma amiga acabou me mandando uma mensagem perguntando sobre o progresso do projeto, acabei contando sobre o que tinha me acontecido e ela me fez repintar aquela manchinha.

Observar nossas manchinhas é serviço diário, daqueles que não dá para procrastinar ou resolver amanhã. É também daqueles que nos desanima por vezes se estivermos executando sozinhos. E é cansativo, se não percebemos que é um percurso e uma jornada que leva um tempo. Olhar nossas manchinhas nos faz perceber as nossas questões e nos afasta também do julgamento ao outro, já que observamos a marca como uma batalha do outro, cada onça com sua pinta e sua pele, mas, também, cada onça mostrando como é bonita a diversidade de pelagem.

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