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DANIEL Q - São Paulo, SP

SOBREVIDA, NA VERDADE, A MORTE

O vento uivava pela fresta na janela que dava para o jardim da velha casa, produzindo o único ruído que se podia ouvir naquela tarde sombria de outono.

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Há muitos anos, desde o terrível incidente que incendiara o velho orfanato, ninguém se atrevia a visitar o local, alegando fuga de lembranças tão cruéis.

Mas a verdade que mantinha distante qualquer rumor de vida naquela região, eram os murmúrios que corriam por toda cidade, sobre algumas tardes em que podia-se ouvir claramente o choro de crianças ou mesmo pequenas cantigas de roda a ecoar da casa, como se ainda ali, pudesse existir vida que não fosse a de ratos e insetos.

No jardim, já coberto pelo mato, duas cadeiras de madeira dispostas frente a frente, davam acento a dois meninos que olhavam-se caladamente.

Em seus corações inquietos, a certeza de que algo havia acontecido, mas não fora suficiente para mudar a insignificante vida que levavam.

Nenhuma pessoa especial a chegar, nenhum passeio programado que os levasse para longe daqueles muros, nenhum plano para o futuro, nenhuma esperança de existência como seres humanos. Apenas o vazio e a certeza de que nem a morte é capaz de alterar certas realidades.

Levantaram-se em direção ao playground, ao encontro de outras crianças que ali brincavam.

No caminho, apenas o ruído provocado pelos seus pequenos pés ao pisarem as folhas secas.

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