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EDWEINE LOUREIRO DA SILVA – Saitama/ Saitama/ Japão
EDWEINE LOUREIRO DA SILVA – Saitama/ Saitama/ Japão Escritor e professor
POESIA ALADA
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Certo dia, sem conseguir achar a rima ideal para um soneto, perdi a paciência com a minha falta de criatividade e, dando uma pausa no computador, resolvi ligar a tevê para espairecer um pouco. Esperava, assim, mais relaxado, vencer o incômodo bloqueio. Mas, se a intenção era relaxar, a televisão não ajudou: uma vez que esta exibia a triste notícia de mais um feminicídio.
Era realidade demais para um momento de descanso, concluí. E, decidido a livrarme de tudo que fosse negativo, saí de casa para um passeio nas imediações. No caminho, parei no parque: afinal, em uma tarde tão bonita e ensolarada como aquela, um ambiente mais bucólico (que já inspirara tantos árcades) poderia ser convidativo à Poesia ― ajudando-me, pois, a encontrar a rima de que tanto precisava. No entanto, o que vi foi tudo menos uma cena poética: um grupo de crianças fazia saudações nazistas sob os aplausos dos adultos ao redor. Abismado com aquilo, cheguei mesmo a dar-me um tapa no rosto para ter a certeza de que não se tratava de um pesadelo ou mesmo uma alucinação momentânea. Infelizmente, porém, a cena ― que mais parecia uma ficção distópica escrita por George Orwell ― era bem real.
Tomei, então, coragem e aproximei-me dos adultos que aplaudiam aquele ato bizarro. Foi quando um senhor, olhando-me entusiasmado, levantou a mão imitando o gesto dos seguidores de Hitler e gritou: “Brasil acima de tudo! ”.
Não respondi e afastei-me às pressas. Mas tão desnorteado eu havia ficado que acabei perdendo também o caminho de casa. E, enquanto tentava reencontrar o meu rumo, deparei-me com mais duas cenas chocantes: primeiro, a de um policial que dava risadas perseguindo e atirando contra dois estudantes negros. E, alguns metros adiante, cinco jovens trajando a camisa da Seleção Brasileira também ameaçavam, armados, um grupo que empunhava bandeiras do movimento LGBT.
Observando perplexo a tudo aquilo, indaguei-me o que havia ocorrido com o meu país. Afinal, a Poesia havia sucumbido de vez à Barbárie?
Foi quando, exausto ― física e emocionalmente ―, sentei-me à sombra de uma árvore. E, nesse momento, fui surpreendido por uma borboleta-azul, que veio pousar no meu ombro direito. Confesso que, incomodado com aquela súbita intrusa, meu primeiro impulso foi dar-lhe um peteleco. Mas ela apenas deu um voo rápido e, em seguida, retornou: pousando agora no ombro esquerdo. Persistência esta que parecia dizer-me, naquele instante, que a Poesia e a Beleza jamais se dariam por vencidas: e que, mesmo que o mundo não as convidasse (e até as proibisse de circularem), ambas sempre encontrariam um ombro amigo.