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GÉSSICA MARIA MENINO - São Carlos, SP

GÉSSICA MARIA MENINO - São Carlos, SP Escritora

SEM PERDER O RITMO

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Jeniffer, conduzia no peito uma tristeza escondida, ousada e surpresa ao mesmo tempo. Ela não carregava mais consigo expectativas sobre a vida, já frustrara o bastante até parar de alimentá-las. Não era à toa, que carregava consigo esse sentimento de derrota ou frustração, ou melhor ainda, depressão. A doença do século, com uma pitada de ansiedade, stress, desestímulo e desanimo.

Mas mesmo assim, ainda mergulhada, nesse mar de mistura de sentimentos, procurava nos momentos vagos, ou no intervalo de seu trabalho alguma diversão instantânea, ou alguma informação não tão precisa ou essencial, com o dedo deslizando na tela do celular era mais fácil a distração.

A pouco tempo ela aprendera o que era satisfação ou gratidão, pelo menos achava que aprendera, não era fácil, se satisfazer num mundo cheio de opções, ou pelo menos opções e opiniões alheias, a todo tempo, apitando em seu celular com mais uma nova notificação.

Ah, como a vida a encabulava às vezes, seu tapete às vezes era puxado, e ela não sabia qual decisão tomar ou levar, ou até mesmo qual ânimo encontrar, ou em quê?

Mesmo assim, ela sorria, sorria porque vivia, sabia que vivia, essa era a sabedoria que Jeniffer carregava consigo, que a sustentava, era o pilar de seu palácio que de tão majestoso, só ele já bastava, bem no centro e bem redondo.

Gostava de apreciar as coisas simples da vida, observava a luta pela sobrevivência a cada instante, da janela de seu apartamento, bem de manhãzinha, de um dos cubículos no mais alto, ela observava o mergulho das aves, no céu já tão azul com seu ar refrescante, o ruflar de suas asas, já era o bastante para que contornassem o céu com o sombrio de suas penas ou sombra.

Ah, ela era sabida, se acalmava com seus cantos, e se impregnava, de uma sensação tão prazerosa, quieta e calma. Que tudo isso já lhe bastava como terapia ou meditação. Sem ter que gastar um centavo com medicação ou reabilitação, o que na realidade a preocupava também, pois não havia um centavo no bolso, para contratar ou participar de tais serviços, o que de uma certa forma a ajudava a se despir ou desvanecer assim que possível, de todas essas energias negativas que a rodeava.

Ah, quase esquecera de contar, de como era sabida essa menina, embora às vezes, não parecia, quando deixava inconscientemente ser mergulhada por tais afrontas ou decepções. Ela gostava também dos animais, e como! Para ela, as vacas carregavam o mistério da vida, com seu olhar sonso e despercebido, elas enganavam a todos, principalmente o ser humano.

Era assim, que Jeniffer, lidava com seu cotidiano, a cidade, a estremecia, a ligava no botão automático ou no famoso 220, do Vamos lá; É pra agora, É pra hoje! Já a pouca natureza que rodeava seu apartamento ou habitação, a acalmava, tranquilizava, pois percebia que lá também havia uma guerra interna de sobrevivência e superação.

Mas de vez em quando, a apreciação era interrompida pelas notificações que tocavam, até que o momento natureza também era compartilhado, ora aqui com um like, ora ali com um comentário. Até que uma vez, fora quase atropelada, de tanta fixação que tinha por aquela tela, de tanta “necessidade” de clicar, de seguir e se inscrever. Chegara a um ponto crítico de quase perder o emprego, sim, é verdade. Dali em diante, fizera greve de tecnologia, só os contatos importantes ou essenciais, ainda restavam.

Tal comportamento, não foi contínuo ou tão duradouro, ainda ocorre com suas intercalações, não sendo permanente, mas temporário na medida do tempo necessário de cura. Percorria um círculo de vícios, cura, tratamento e resignação. Assim, continuava a tocar a vida, às vezes, com uma bola na garganta, ou com uma dor no peito, outras com uma sensação de alívio, desapego, cura ou até mesmo como costumava ironicamente comentar com um sorriso leve no rosto para seus colegas de trabalho, o porque não estava mais fazendo parte do grupo de amigos – estou passando por uma desintoxicação tecnológica, só dando um tempinho mesmo, depois eu volto. Às vezes, voltava, às vezes, não.

Esses eram alguns dos lados poéticos da vida de Jeniffer, sem que ela mesma soubesse ou percebesse, inconscientemente como um ritmo de tambor, era assim que ela conduzia sua vida, ora animada, ora desanimada, ora triste, ora alegre. Mas o que realmente importava para ela, além desses altos e baixos, era que a música continuasse tocando e que seu tambor não perdesse o ritmo.

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