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JEANE TERTULIANO - Campo Alegre, AL
JEANE TERTULIANO - Campo Alegre, AL Letróloga e escritora.
SOBRE TRANSCENDER
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Desde miúda (não é que eu haja crescido muito desde então), lembro-me de questionar incessantemente minha querida mãe acerca do porquê da vida e tudo que nela há. É claro que a genitora, sendo mãe da minha pessoa, dava corda; divagava comigo horas a fio, instigando mais e mais o meu anseio pelo saber. Ainda que eu fosse deveras risonha, por vezes, vislumbrei a melancolia achegar-se sorrateiramente a mim, e mesmo quando eu tentei ignorá-la, a danada persistiu em obscurecer o meu sorriso, fazendo com que eu mergulhasse em reflexões sem pé nem cabeça, com o intuito de desviar-me do meu real objetivo.
Houve um tempo no qual fui acometida por demasiado infortúnio, do tipo que faz a pessoa desacreditar nas coisas boas do mundo. Eu até sinto o meu semblante encolher frente o assombro causado pelos fragmentos das vis lembranças... É penoso mencionar que cheguei a estagnar as minhas buscas, renegando a mim mesma ao abdicar da plenitude que eu estivera tão perto de experienciar. Fez-se necessário que a Literatura tomasse as rédeas da situação e emergisse o meu ser do mar caliginoso que era o abismo entranhado por minha desesperança.
Num dia pluvioso, eu li os seguintes dizeres na obra que me emoldurara: só se enxerga com o coração, o essencial é invisível aos olhos. Ao me delongar em tais palavras, gozei do mais intrínseco sentido que eu jamais concebera ser capaz de desvendar: a capacidade de remover o véu que encobre o que há de aprazível no mundo reside em cada um de nós.
A datar do insight, não mais avistei pequenez nos pormenores da minha existência questionadora. Acalentei minha inquietude ao compreender que não carecemos de muito para obtermos satisfação; que a gana, quando excessiva, aniquila o brio da conquista. Por fim, não posso preterir o primordial: há bastante poesia em conceber o sublime no que é tido aos olhos dos demais mortais como banal.