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JOÃO PEDRO LEAL DE SOUSA – São João Dos Patos, MA
CABE TUDO NO PACARÁ
Corococó...O cantar do galo às quatro da madrugada e São João dos Patos, tranquila, pula da cama na mesma correria de todos os domingos. Corre pro canteiro arrancar “mói” de cheiro verde, ao gosto do cliente, pega a galinha e o porco, faz tudo muito rápido com pressa de chegar. As luzes dos postes já estão se apagando, o dia está amanhecendo, e o povo vai se avexando. Bota melancia pra cá, arruma direitinho pra poder vender. Já vão chegando de todo canto da cidade, não importa a idade é grande o alvoraçar. No meio da correria, já começam as ofertas, o povo com tanta alegria, é hora de trabalhar! Pelejam, as pessoas pechincham, o suor pinga no ritmo desse lugar.
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Os gritos ecoam mercado adentro, dizendo que a fruta é boa e a mais barata da redondeza. Tem a garapa do Baixão, a rede da União, tecida no tear. Das Contendas vem a puba e o beiju de forno; tem o tomate do Barro Branco que abastece o mercado, sem agrotóxico na plantação, vende sem refugar. A galinha é “curiada”, e agrada o comprador, que leva pra almoçar.
Trabalhando honestamente, o povo desse lugar, grita a manhã toda, pra vender macaxeira, o milho e o fubá. Tem o pequi, a manga, a macaúba, a laranja e o cajá; tem o melão, o tamarindo, a fava e o pepino; tem a tanja e o jatobá, a abobora ou jerimum, chame como quiser, tem feijão novo, o coco e o abacaxi, o limão e a melancia grande e doce feito mel.
O povo, ainda observando, não sabe se compra “aqui, ali ou acolá” O feirante “do aqui” se apressa entra na frente e começa a ofertar: “Olha o abacate, a rapadura, a farinha de puba e o tomate! ”. O “do ali” grita mais alto: “Aqui é mais barato e gostoso comprar” Olha a ata, o mamão, o caju, o imbu e a juçara! ”
“Do acolá” não perde tempo: Aqui a jaca não é cara! E pra fazer tiquara tem buriti, pirão de farinha com o bacuri, tem mandioca e goiaba, tem maxixe e amendoim! ” O chafurdo é grande, barraca pra todo lado, menino traquino, mercado lotado!
Vende de tudo: erva doce, canela e gengibre; a raiz de fedegoso, tudo dessa terra; as plantas medicinais são vendidas na “farmácia popular”, a barraca tá cheia de gente grande, pequena e “gentona” e quando vem a dor de cabeça, a febre e a gripe de verão, tem garrafada da casca do pau. “Tem remédio até pra levantar defunto! ”, esperteza do feirante. Dia de feira, você sabe como é!
O tempo vai passando, o povo vai comprando, cabe tudo no pacará. O mercador vai pelejando pra vender o que resta na barraca: “Oia a cebola!
Aproveita, que agora não tá mais cara não! ”. Aqui vende mais quem é esperto ou quem sabe ofertar. O galo foi vendido, penca de banana, pepino e o suíno. O calor vai aumentando, tudo comprado e embalado, o almoço se aproxima. Os mercadores ficam ansiosos pra no final contar o apurado, depois de tudo e antes de partir, já falam em de
novo plantar, colher mais uma vez, trazer pro mercado, vender pra não sobrar. E saem dizendo versos da vida dura: “Dinheiro muito eu não tenho, mais pouco eu tenho é muito! ”.
Agora andar na praça é o roteiro do dia, o passadiço fica em frente ao mercado calado, que agora nenhuma cebola se vende; não se sente o cheiro da fruta, não se ouve a gritaria dos meninos sapecas; não se veem as barracas e a peleja do mercador, nem a correria da madrugada, só um silêncio ansioso, espera no entardecer o um novo dia.