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KAROLLEN ARAÚJO - Parnamirim, RN
ESQUIZOFRENIA POÉTICA
Ei... calma, organize o pensamento vai! Ache um início, comece! Que início? Existe início? Onde acho a ponta dessa teia cósmica neuronal? É vazio onde acho que estou enchendo com pensamentos, reflexões.... É completo onde tá vazio. Vazio tem de sobra... Dizem que o universo é em sua maioria, matéria escura, indecifrável, inexplorável, cheia de espaços vazios, uma redundância cósmica: espaço com espaços... É por isso que falam que cada um é um universo, mas acho que cairia melhor como cada um sendo um espaço, é o que somos: espaços querendo um espaço, ocupar um espaço, roubar um espaço, pedir um espaço, comprar um espaço... Tem espaço de sobra na mente, a preenchemos vorazmente, paranoicamente, filosoficamente... mas não adianta, quanto mais preenchemos mais ela vai se expandindo e abrindo novos espaços, somos nosso próprio buraco negro, sugamos tudo, sem distinção, até a luz... até a luz?
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No buraco negro deve ser tudo desorganizado, guloso do jeito que é... a gravidade é grande... ou é forte? Na minha mente a gravidade é grande, disso posso afirmar, arrasta todo tipo de coisa, ficam orbitando lá um bom tempo. Suga a luz também, mas a escuridão é insaciável, quanto mais luz entra mais espaço tem pra preencher com luz... Também tenho gula! Há dualidade em tudo, é o que dizem... Afinal, como posso afirmar se não tenho certeza de nada? Eu sempre acho! Eu nunca acho de verdade! Dualidade.... Quem procura acha.... Posso compreender isso pelos lados, seja qual for! É tudo espelhado... tudo reflexos... Deve ser por isso que eu reflito tanto... eu reflito... em quê? Me espelho em quê? Quem sou eu? A do lado de cá ou a do lado de lá? A forma espelho, a forma reflexo ou a forma espaço? Ahh... pelo menos sou uma forma... ou será que sou fôrma? Complexo... ainda mais se for separar em plexos também...
O eco ressoa em grandes espaços vazios, mas tem que ter algo, como uma muralha por exemplo, para que a possa rebater. Isso significa que há algo como uma muralha na minha mente, mas o que tem depois dela? Se eu a derrubar mais luz entra ou sai? Ainda bem que luzes são ar também, podem entrar pelas frechas e fluir... tudo flui, não é? Enquanto isso o meu eco sempre ressoa: organiza sua mente! É difícil ouvir tantas eus falando diferentes coisas ao mesmo tempo, a todo tempo! A Eco sempre tem a última palavra, a mesma frase, não irei repetir aqui... ela já repete toda hora aqui dentro! Tenho mais pessoas dentro de mim do que as que conheço fora de mim, deve ser a síndrome de Fernando Pessoa(s)... Pessoas que soam dentro da pessoa... sons incompreensíveis para outras pessoas... Ouço-me todas! Procuro-me, acho-me e perco-me para poder achar-me outra... Outra vez, outra voz... Certa vez vi, li e ouvi: Tenho sérios poemas mentais... Achei que era meu diagnóstico: esquizofrenia poética. Então talvez precise de remédios, talvez agudos ou até graves, quem sabe possa também ser misturado com outras notas? Dependendo da composição poderá haver acidentes... de qualquer maneira, no vácuo do espaço não se ouve som, então posso tocar o foda-se...