Fichamento_Praticas grupais

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PRÁTICAS GRUPAIS Autor: Osvaldo Saidon Co-autores: Helena Conde Rodrigues; Maria Beatriz Sá-Leilão; Rosamaria Almeida; Liliana Acero; Maria de Fátima Pereira. Rio de Janeiro: Campus, 1983.

PARTE I CAPÍTULO I O livro tem como objetivo presentar os antecedentes mais significativos sobre a Psicoterapia de grupo, e um panorama atual. A maioria dos autores assinala como pioneiro da Psicoterapia de Grupo o médico J. Pratts, por realizar em 1906 trabalhos com grupos de tuberculosos (p. 17). O mérito de Pratts, consistiu em utilizar as emoções coletivas com vistas a uma finalidade terapêutica. A técnica era ativa e aspirava a aparição controlada de sentimentos de emulação, rivalidade e solidariedade no grupo. Porém Moreno, em 1931 cunhou a expressão Psicoterapia de Grupo, já que desde 1920 estava a utilizar técnicas sociométricas para investigação social, enfatizando sobre a catarse e a dramatização de conflitos psicológicos como fatores terapêuticos. Em 1936 surgiram as primeiras publicações psicanalíticas, em paralelo começaram os desenvolvimentos no campo da Psciologia e da Microssociologia, destacado por K. Lewin, assentando em bases experimentais, o trabalho psicoterapêutico, dando um status de cientificidade à Psicoterapia de Grupo a partir dos anos 40, e progressivamente ampliada a partir das condições de pós guerra. (p.18) Nos anos 60 foram assistidas várias técnicas de potencial humano, técnicas não verbais com ênfase no trabalho. Influência do pensamento sociológico Na sociologia moderna observa-se o estudo dos pequenos grupos, a experiência imediata da vida social. A psicologia social foi considerada para alguns como o contorno dos problemas que assediavam a sociedade contemporânea, porém com um paradoxo, pois se esses experimentos eram possíveis nas empresas, porque os métodos não podem ser utilizados na guerra e etc. (p.19) Foi através de Fourier que começaram as preocupações experimentais em relação ao trabalho com os grupos, isso no século XIX, e um século depois seus estudos apesar de mostrarem-se ingênuos, contribuiu para a Psicologia dos grupos ou Psicossologia. Porém as bases foram assentadas através de Durkheim e Freud. Durkheim produziu conceitos e teorias relativos à solidariedade, a fim de compreender os processos coletivos. Enquanto Freud esclarece as relações entre o líder e o grupo, através da concepção acerca do ideal do ego.(p.20). Todos essas teorias cunham o terreno de Lewin em 1944, com a dinâmica de grupo. Influência da psicanálise A maior influência sobre os psicanalistas partiu das idéias de Lewin, porém a Escola de Tavistok iniciou uma série de investigações, com os pioneiros da Psicanálise de grupo, principalmente Melanie Klein e Bion. Influência das escolas de potencial humano A bandeira da reestruturação do campo psicoterapêutico foi marcada por Rogers, isto é “a nãodiretividade é uma política antes de ser uma psicologia genética, um método terapêutico ou uma nova concepção de pedagogia”.(p.21)


Influência da análise institucional Aborda o grupo na relação instituinte-instituído estudando a instituição como lugar de reprodução das contradições sociais. CAPÍTULO II TEORIA DE CAMPO DE KURT LEWIN A teoria de campo não foi um domínio particular da psicologia, mas sim um método que analisa as relações causais e constrói teorias científicas, pelos atributos: método de construção; interesse pelos aspetos dinâmicos; perspectiva psicológica; análise inciada pela situação como um todo; distinção entre os problemas sistemáticos e históricos e a representação matemática do campo. (p.25) “A causa só pode ser encontrada na dinâmica presente, a qual dá conta da razão pela qual, numa determinada situação, ocorre um evento determinado.” (p.27) “Se a zona de fronteira faz parte do campo psicológico, não vemos mais a possibilidade de um critério fenomenológico como ponto de partida para defini-lo. Mas o campo não se esgota na percepção de que o indivíduo tem dele, pois os fatores que determinam sua dinâmica não são diretamente conhecidos.” (p. 28) A PSICOLOGIA TOPOLÓGICA E A DINÂMICA DO CAMPO PSICOLÓGICO Lewin lança mão da Topologia para representar os problemas relativos aos eventos possíveis ou não num espaço de vida. Espaço de vida designa a totalidade dos fatos que determinam o comportamento de um indivíduo num determinado momento. (p.29) A topologia poder ser usada para figurar a estrutura do espaço de vida na qualidade de geometria não-métrica, representa as relações parte-todo, as conexões e posições, sem considerar questões de tamanho e direção. Porém sempre que houver um comportamento, este será resultante de um campo de forças, ou seja, o espaço de vida (pessoa e meio); zona de fronteira (variáveis não psicológicas, biológicas, sociais, físicas). (p.31) CAPÍTULO III REFERENCIAL EPISTEMOLÓGICO E METODOLÓGICO A constituição das teorias e técnicas grupais exige uma cuidadosa reflexão sobre o esquema referencial a empregar em sua abordagem. Esta construção é composta por proposições epistemológicas(p.38): a) A primazia do teórico: As ciências, na qualidade de práticas sociais específicas, devem ser entendidas como processos de produção de conhecimentos, ou melhor, como produtoras de um efeito de conhecimento (conhecimento das determinações, das causas). b) Problemática: uma ciência no momento da constituição, abre um espaço de questões radicalmente novo. Identificar problemática distinguindo-as dos sistemas de questões que comandam as respostas sempre já dadas pelas ideologias práticas e teóricas em cada campo de saber. c) Teoria da leitura: é praticar uma problemática. d) Teoria sintomal: identificar a problemática dominante sobre o qual o mesmo repousa, ou seja as lacunas do discurso manifesto (sintomas), quais sintomas constituem a emergência. e) Crítica do empirismo: conhecimento adquiridos pela prática ideológicas pré-científicas, dotadas de efeitos de desconhecimento dos fenômenos e reconhecimento das aparências. A teoria enquanto ciência traça significados para os pensamentos, sobre uma investigação, utilizando termos como (p.40): a) Objeto real que representa um pensamento concreto, independente de qualquer teorização, porém esse como uma prática social, pode ser submetido a algumas determinações como econômicas, políticas, desvinculadas de suas condições reais de existência. b) O Objeto de conhecimento está ligado a construção, produção conceitual segundo métodos explícitos. Porém uma ciência é descontinua, e as vezes sofre rupturas, o que é importante para a história


da mesma, pois este corte epistemológico possibilita a articulação das problemáticas ideológicas e científicas. (p.41) Mas o estudo das práticas grupais sofreu várias interferências, contribuições, demandas, sobretudo nos anos 30, devido as transformações sociais causadas pelas indústrias, racionalização da produção, Segunda Guerra Mundial, crise econômica. Com isso, muitas vezes a pesquisa teórica e as primeiras experiências com grupos surgiam como respostas teórica e técnica a uma demanda, na maioria das vezes política. PARTE II – AS PRÁTICAS GRUPAIS CAPÍTULO IV A PSICANÁLISE O que percebe-se em relação as teorias sobre a psicanálise é uma possível insuficiência no nível de análise das formulações, as vezes um vazio a respeito da estrutura grupal. Mas ao longo da história da psicanálise de grupos pode-se levantar três tendências conforme quadro a seguir. (p.62) Tendências

Escola

Expoentes

Referencial

Psicanálise no grupo

Americana

Shinder e Slavson

A análise individual indivíduo no grupo

Psicanálise de grupo

Inglesa

Bion, Foulkes, Sutherland

Identidade grupal por parte de cada membro

Psicanálise grupo

centrada

no

das

motivações

do

Lewin, Bateson, Freud e Interação dos membros e a manutenção da Melanie Klein produção grupal

Para Saidon et al, o trabalho psicanalítico refere-se a uma preocupação com o rigor teórico e o objetivo de tornar consciente o inconsciente, seja no campo individual ou grupal. (p.63) Porém na história da psicanálise de grupos houveram contribuição de alguns autores, as mais significativas (p. 64 -78): ✔ Foulkes foi fundador da 1ª Sociedade Analítica de Grupo. Sua leitura enfoca o grupo como um todo social, mais do que a soma das partes. ✔ Bion supõe que todo conhecimento se origina em experiências primitivas de caráter emocional, em relação com a ausência de objeto. Segundo ele o objeto de estudo dos grupos é a investigação dos fenômenos que produzem essas pertubações no comportamento dito racional do grupo. Ele observa ainda que as pessoas estão sempre fazendo uma estimativa da atitude do grupo em relação a si mesmas. ✔ Didier Anziu busca criticamente outros autores além da sua bibliografia, subscreve algumas regras reguladoras do trabalho de interpretação grupal, como: interpretação grupal, defesas e desejos inconscientes atuais, em oposição a interpretação do trabalho individual que assinala a repetição da situação infantil conflito atual. ✔ Grimberg, Langer e Rodrigué: para esses várias conceituações psicanalíticas vieram contribuir para a solução do dualismo indivíduo sociedade. Fazem afirmações sobre a psicanálise como uma Psicologia Bipessoal, tendo em vista aspectos transferênciais: o paciente que experimenta a emoção e o analista a quem a essa emoção é dirigida. Saidon, procura conceituar os aspectos políticos e ideológicos no interior das conceituações e práticas, visto a importância do questionamento no sentido de retomar o aspecto transformador da psicanálise. Porém o objetivo da psicanálise de grupos é antes de tudo é o corpo social e o seu inconsciente. O grupo se define desde uma perspectiva histórica, expressa um lugar onde, a partir dos recortes individuais, se refletem determinantes econômico-político-sociais; onde o poder, os discursos e a sexualidade são elementos desejantes instituídos que estão decisivamente presentes nas patologias, por isso mesmo indicando a urgência de seu desvendamento. (p.78) CAPÍTULO V


O PSICODRAMA Jacob Levy Moreno, com o seu diálogo socrático, com o uso da inversão de papéis em particular, contribuirá de maneira evidente para a estruturação do psicodrama. A espontaneidade de Moreno fez com que ele utilizasse o Teatro de Improvisações, utilizando a transferências de papéis para a um tratamento terapêutico, porém na seqüência acaba dedicando-se a pesquisas sobre relações interpessoais, que desemboca no estudo da espontaneidade e da dinâmica de grupos, a sociometria, que leva novamente ao psicodrama. E após a segunda guerra, os estudos revelaram a sua importância e necessidade de novos métodos psicoterapêuticos. (p.87) Na prática do psicodrama eram inseridos elementos de teatro, tais como: ✔

o cenário: potencialidades do jogo dramático;

✔ os personagens: protagonista que será o paciente representando a si mesmo e o diretor que deve ser o terapeuta, analista e diretor, porém vigilante e discreto; ✔

o ego-auxiliares: assiste o diretor terapeuta na análise da situação e no tratamento;

✔ o público: com uma dupla função, pode servir de ajuda ou transformar-se ele mesmo em paciente. Existem duas correntes teóricas em psicodrama: a linha moreniana e a do psicodrama psicanalítico de Bouquet. Psicodrama psicanalítico considera que como se dá o espaço psicodramático permite corporizar os objetos e vínculos internos do sujeito, ou seja o drama que vive em seu mundo interno se exterioriza, porém faz com que a interpretação surja facilmente e ainda as vezes se torne desnecessária. (p.89) CAPÍTULO VI A GESTALT TERAPIA Surgida na Alemanha no início do século 1912, e associada as nomes de Wertheimer, Kohler e Koffka. A Gestalt Terapia tem o enfoque básico ampliar a compreensão e descrição das vivências e do comportamento, e não em um esforço de análise das determinantes dos mesmos. (p.101) A Gestalt mobiliza as emoções, o sujeito participa, vivencia, o que importa é o agora. Uma referência Psicanálise em termos comparativos de ordem prática parece justificar o que subscrevem. Assim, a psicanálise em tratamento demorado e custoso”. Ao contrário, a Gestalt Terapia é mais rápida e economicamente viável. CAPÍTULO VII A ANÁLISE TRANSIONAL Eric Berne o criador da análise transacional, onde teve o primeiro artigo sobre A.T. Em 1957, Intuição V: a imagem do eu e estados do eu em psicoterapia, no qual o esquema tripartido da personalidade – Pai, Adulto e Criança. (p.106). A A.T costuma ser combinada com outras técnicas, conforme a seguir. PSICANÁLIS E

TERAPIA GESTALTIST A

ANÁLISE TRANSACIONAL

PSICODRAM A

TERAPIA COMPORTAMENTAL


CAPÍTULO VIII OS GRUPOS DE ENCONTRO As propostas de Rogers, foram aspectos marcantes no estudo dos Grupos de Encontro, e ele assinala na sua teoria a grande influência de Catwright, Maslow e Otto Rank, em oposição ao que considera formulações dogmáticas, que encontrou nos discípulos de Freud. Para Cal Rogers sua Teoria da Terapia e da Mudança da Personalidade é do tipo condicional, ou seja, se dão certas condições, será produzido um processo que inclui certos elementos característicos. (p.125) No processo da terapia pretende-se que o cliente (paciente) faça a distinção dos sentimentos e percepções, bem como organize suas experiências antes distorcidas. (p. 125) A teoria chamada por Rogers de não diretiva, mais tarde denominou a Terapia centrada no Cliente, baseia-se em três conceitos: Congruência, Empatia, Consideração positiva incondicional. Porém o que Saidon diz que é uma postura de Rogers, em relação a negação absoluta do conflito e da agressividade. Pois na medida que Rogers não admite a existência do inconsciente e, portanto, da transferência e da contratransferência, o terapeuta está entregue aos seus próprios sentimentos. Mas como reconhecer sentimentos? A que e a quem convém? Assim o terapeuta não é diretivo, é benevolente, acaba possuindo a máxima autonomia de erigir-se, sem maiores fundamentos, e capaz de fazer as coisas que convêm. (p.128) Mas o fenômeno não-diretivismo teve uma enorme influência no campo da Educação, e foi na teoria rogeriana que a oposição à diretividade nos métodos pedagógicos encontrou uma importante justificativa. CAPÍTULO IX ANÁLISE COMPARATIVA Teoria

Identificação e Prática da terapia Critérios de seleção descrição a individual e grupal, e formação dos Aspecto ideológico demanda da saúde e o locus de cada terapeutas de mental uma grupo

Psicodramát Crítica ao Propõem a criação de Defendem aO critério ica intelectualismo, com clínicas sociais nos psicoterapia grupal, predominante na enfase a subúrbios. Buscando porém existe pouco formação é a espontaneidade, a um papel social das desenvolvimento existência de uma levou a concretude instituições públicas. conceitual acerca da análise prolongada e conceitual, que as (p.137) grupalidade. (p.138) cuidadosa, que vezes surpreende pela preserve os pobreza reflexiva candidatos de uma sobre os próprios aplicação selvagem conteúdos teóricos. das técnicas. (p. 139) (p.136) Análise Não preocupa com a As perspectivas de Vêem uma sequência Sua função implica Transacional racionalização do ato realização prática entre a terapia “um ser saudável, terapêutico, ela através do individual e grupal. O inteiramente transcorre com o uso atendimento privado, grupo é uma entre as saudável, dentro do das próprias teorias. porém com um várias experiências a grupo”. (p. 138) (p.136) esquema empresarial. serem realizadas Sem preocupação visando o tratamento com os elementos individual. (p.138) ideológicos. (p.137) Gestalt

A palavra de ordem São pessimistas nessa O grupo funciona É praticamente muito mais que questão. “afinal não como pano de fundo ausente de critérios. cientificidade, é vou trabalhar em do trabalho realizado O fundamental ali é a criatividade. Porém favela, não ganho com cada integrante. flexibilidade, a revela um pobre para isso”. (p.137) Não interessa a intuição e a conhecimento da dinâmica grupal, e os maleabilidade de cada teoria subscrita e uma participantes do estudante frente á interpretação peculiar grupo , quando técnica, o que daria desta. (p.136) participam, o fazem condições para o


colaborando com o desenvolvimento paciente que está sua criatividade. sendo trabalhado. 139) (p.138) Rogerianos

de (p.

Valorizam o trabalho Definem sua formação grupal, porém dizem por uma identidade ter dificuldade negativa: não aceitam “pessoas que não psiquiatras no curso querem tratar-se em que oferecem, apenas grupo”. (p.138) psicólogos.(p. 139)


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