Dinâmica e gênese dos grupos

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DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS Título original francês: Dynamique Et Gênese dês Groupes Autor: GÉRALDO BERNARD MAILHIOT 7ª Edição – Livraria Duas Cidades – São Paulo 1991.

O autor traz as atualidades das descobertas de Kurt Lewin. A abertura de Tolman, E.C. (1948) – “...Freud será exaltado por ter sido o primeiro a desvendar as complexidades da história dos indivíduos e Lewin como aquele que apreendeu as leis dinâmicas em função das quais os indivíduos se comportam em grupo...” “... para Kurt Lewin havia um problema fundamental que ele procurou elucidar até sua morte: que estruturas, que dinâmica profunda, que clima de grupo, que tipo de leadership permitem a um grupo humano atingir autenticidade em suas relações tanto intra-grupais quanto inter-grupais, assim como à criatividade em suas atividade de grupo?...” Capítulo Primeiro – A obra e o homem O autor narra um pouco da biografia de Kurt Lewin, porque julga importante para descrição da evolução das preocupações e orientações intelectuais. Kurt Lewin nasceu em 1890 em Mogilno, na Prússia. Estudou na Alemanha. Formou-se em química e física, depois faz doutorado em filosofia, Berlim-1914, defendendo uma tese sobre a “A psicologia do comportamento e das emoções”. Serve toda a guerra e em 1933 Kurt Lewin e família, por serem judeus, é obrigada a deixar a Alemanha. Passando pela Inglaterra e depois para os Estados Unidos. Torna-se professor catedrático de Psicologia da criança na Universidade de Iowa e assume a direção de um Centro de Pesquisas “Child welfare research center”. Neste período publica dois livros que o tornarão célebre e seu interesse principal é formular uma teoria do conjunto do comportamento individual e paralelamente, elaborar modelos teóricos que lhe permitam renovar a experimentação e a exploração dos fatos psíquicos. Torna-se professor da Universidade de Haword e em 1945 funda a pedido o M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology), um centro de pesquisas em dinâmica de grupos. A introdução do termo “dinâmica dos grupos” no vocabulário da psicologia contemporânea é facultada a Kurt Lewin. Foi através de suas hipóteses e metodologia de pesquisa-ação que Kurt Lewin aparecerá como o primeiro teórico da dinâmica e da gênese dos grupos. Para ele a dinâmica dos grupos é indissociável de sua gênese. Inicialmente Lewin diz que a dinâmica dos grupos deve ser concebida com um “social engineering”. O que lamenta mais tarde, pois alguns de seus alunos se apressaram em concluir que a dinâmica dos grupos consiste na ciência da manipulação dos grupos. Oportunistas se aproveitaram para fazer em nome da dinâmica de grupo, manipulações, e ele mesmo desmistifico. Tratando da definição em termos mais operacionais e mais científicos. Kurt Lewin morre em 1947. De 1939 a 1947, sua preocupação é cada vez maior em “elaborar uma psicologia dos grupos que seja ao mesmo tempo dinâmica e guestáltica, isto é, articulada e definida por referência constante ao meio social no qual se formam, integram-se, gravitam ou se desintegram os grupos (97), (108), (110) e (111).”. O autor foi aluno de Kurt Lewin, o descreve como um homem tímido, com probidade intelectual, com ausência de pretensões. Não deixava de questionar as hipóteses de


trabalho, tinha a exigência de atuar em grupo, não deixava sua posição influenciar nas decisões, não era dogmático. Suas descobertas sobre os grupos, para ele, só se tornaram ciência depois de terem sido experimentadas e verificadas. Capítulo Segundo-Um etapa decisiva para a Psicologia Social De 1939 a 1946 – o pesquisador Kurt Lewin se dedicou a estudar a psicologia dos fenômenos de grupo. Considerado como marco da evolução na psicologia social. “De tal modo que, vinte anos após sua morte, a pesquisa em psicologia social continua inspirando-se, em grande parte nas teorias e descobertas de Kurt Lewin.” Os precursores de Kurt Lewin, não viam a psicologia social como uma ciência. Ciência era a biologia, sociologia já a o termo psicologia social era um fenômeno, ora considerado como parte da biologia ora da sociologia. São os franceses, os pioneiros a introduzir o termo “psicologia social” nas categorias mentais dos meios acadêmicos. Mas, são os ingleses que elaboram de forma sistêmica e articulada os primeiros tratados de psicologia social, por William Mac Dougall.

Durante a fase anterior, era a influência do grupo sobre o indivíduo que havia sido observada, medida e avaliada sistematicamente. A partir de 1930, é a influência do indivíduo sobre o grupo que os psicólogos sociais deste tempo tentam descobrir através de experimentações em situações controladas. O individualismo e o culturalismo, essas duas fases, renovam e faz com que psicologia social se desenvolva. O objetivo de Kurt Lewin deveria ser atingido quando fossem reveladas as leis fundamentais da vida em sociedade. Mac Dougall e os psicólogos sociais que sucederam Kurt Lewin tinham como determinante descobrir as leis fundamentais que possibilitassem tornar inteligível a conduta social em qualquer contexto social. Os que os tornarão continuadores dos teóricos da psicologia social. Kurt Lewin começa a partir de 1936 a fazer experiências em psicologia social, fixa novos objetivos à psicologia social. Solicita aos psicólogos sociais, para fixarem o estudo no micro-grupos. Recomenda aos psicólogos sociais, através de suas experiências pessoais de que as variáveis de qualquer fenômeno de grupo, em razão de sua essencial complexidade, não e manipuladas, senão no próprio campo, numa perspectiva de


“pesquisa-ação”. Após 1940, o resultado positivo do período de oito anos em que Kurt Lewin se dedicou à psicologia social foi de que os pesquisadores se interessaram mais a fazerem estudos através da experimentação tornando-a mais inventiva e mais desenvolvida, e foi a partir daí que se definiu como ciência, distinta das demais ciências sociais. O autor conclui que a partir de Kurt Lewin, há o reconhecimento de três ciências sociais fundamentais: a sociologia, a antropologia cultural e a psicologia social. Reconhecimento quase que universal de que a ciência social se revela a observa científica: 1. Sociologia – habilitando-se e equipando-se experimentalmente para destacar das realidades sociais, seus aspectos formais e estruturais; 2. Antropologia Cultural – preocupando-se, em atingir o social em suas dimensões históricas ou antecedentes; e 3. Psicologia Social – em suas dimensões funcionais ou dinâmicas. O conceito de PSICOLOGIA SOCIAL, considerado por muitos autores é de que consiste em observar, identificar, definir e interpretar as condutas sociais ou os comportamentos em grupo. A partir de Kurt Lewin, foram destacados vários critérios para identificar o comportamento de grupo. “Para que haja comportamento de grupo é necessário que vários indivíduos experimentem as mesmas emoções de grupo, que estas emoções de grupo sejam suficientemente intensas para integrá-los e deles fazer um grupo, que finalmente o grau de coesão atingido por estes indivíduos seja tal que eles se tornem capazes de adotar o mesmo tipo de comportamento... A este tipo de comportamento é que ocorrem os fenômenos de pânico, de motim, de multidão...” – considerada como ciência, distinta da psicologia social – chamada por autores contemporâneos de Psicologia Coletiva. A partir destas novas concepções da psicologia social e da psicologia coletiva é que prevaleceu nos meios acadêmicos, o termo dinâmica dos grupos atribuída por um discípulo de Kurt Lewin, aos pequenos grupos ou micro-grupos. O objetivo é oferecer uma inteligência científica de tudo aquilo que a formação, o crescimento ou a desintegração destes micro-fenômenos colocam como problemas ao psicólogo social. Capítulo Terceiro-As Minorias Psicológicas Kurt Lewin se dedica ao primeiro problema social, após usa emigração para os Estado Unidos, ao seu grupo étnico. Por ser judeu, passou por várias situações abusivas e vexatórias. Ele procura encontrar uma explicação científica para o que sofreu. A partir daí, repensa e redefini o que se torna depois o objeto quase exclusivo de sua reflexão e suas pesquisas: ...“que problemas constituem o centro da exploração e da experimentação da psicologia social? A dinâmica dos grupos, tal qual a conceberá finalmente, será o resultado desta série cada vez mais convergente de recolocação de questões de proposições sistemática”. Para entendimento na psicologia os termos de minoria e maioria são distintos em relação à demografia. Conceito na psicologia de: - Maioria psicológica: quando um grupo é estruturado, tem estatuto e direitos que lhe permitam se auto-determinar no plano do seu destino coletivo, independente do número ou da porcentagem de seus membros.


Minoria psicológica: quando o destino coletivo de um grupo depende da boa vontade de um outro grupo. Conceito na demografia de: maioria-quando a porcentagem de um grupo ultrapasse mais da metade de seus membros da população em que esta inserido, já a minoria é menos da metade da população em que o grupo esta inserido. Sendo assim, minorias demográficas podem ser maiorias psicológicas. Kurt Lewin publica quatro estudos sobre a psicologia dos judeus. No segundo estudo trata da educação que deveria receber o jovem judeu. Traz como conceito sobre psicologia de grupo: o grupo ao qual um indivíduo pertence pode ser comparado ao terreno sobre o qual ele se mantém e que lhe dá ou nega seu status social. Dependendo do que recebe é o lhe faz sentir em segurança ou não. Para Lewin o primeiro grupo ao qual um indivíduo participa é o grupo familiar, que desenvolve suas leis, seus tabus e suas proibições coletivas. E de acordo com o que o grupo lhe impõe é que a criança ou indivíduo vai dispor de um espaço livre mais ou menos extenso. E depende deste espaço para se socializar Lewin tem que o problema fundamental em qualquer grupo humano é o seguinte: “... em que medida um indivíduo, pertencendo a seu grupo, pode satisfazer suas próprias necessidades ou aspirações psíquicas sem comprometer indevidamente a vida e os objetivos do grupo?” No término deste estudo Lewin faz a seguinte consideração pedagógica, que lhe parece fundamental na socialização do ser humano: “...não é o fato de pertencer a vários grupos que constitui a origem dos conflitos mas a incerteza sobre sua própria participação num determinado grupo...”. Capítulo Quarto - da Pesquisa–ação à Dinâmica de Grupos “somente por etapas Kurt Lewin chegará a definir para si mesmo o que são cientificamente a dinâmica e a gênese dos grupos... Ele transporá uma nova etapa ao elaborar, à luz de suas próprias experiências na exploração das realidades sociais, uma concepção pessoal da pesquisa e da experimentação em psicologia dos grupos.” Lewin constatou de que em psicologia social, pesquisa tem que ser de campo. “...as hipóteses que a ciência formula, as leis que destaca e as teorias que elabora não têm valor para a psicologia de grupo, senão na medida em que são aplicáveis, isto é, na medida em que permitem efetuar, sob sua luz, de modo eficaz e durável, modificações dos fenômenos sociais que elas querem explicar.” Assim, Lewin, fixa dois objetivos para toda pesquisa sobre os fenômenos sociais. Estes objetivos se confundem e se completam. Tais objetivos procuram, seja descobrir ou formular a dinâmica própria da vida de um grupo. “...Não há diagnostico de uma situação social concreta que possa ser formulado sem a exploração da dinâmica própria do grupo implicado por esta situação. Do mesmo modo, a dinâmica própria de um grupo não se revelará se realmente senão ao pesquisador que tenha conseguido assimilar todos os dados concretos da vida deste grupo. A pesquisa em psicologia social, deve originar-se a partir de uma situação social concreta a modificar, e inspirar-se constantemente nas transformações e nos componentes novos que surgem durante e sob a influência da pesquisa. Decorre para ele a necessidade de durante suas pesquisas, assumir constantemente os dois papéis complementares de participante e de observador.”


Para Lewin sua opção metodológica foi o “...guestaltismo, do alemão gestalt (estrutura, forma, esta escola psicológica propõe apreender os fenômenos em sua totalidade sem querer dissociar os elementos do conjunto em que eles se integram e fora do qual nada significam. De início, aplicada à percepção, esta teoria estendeu-se a toda a psicologia.” No plano dos objetos- a exploração sistemática e exclusiva dos micros-fenômenos de grupos, melhor pequenos grupos concretos. Concluindo que somente no pequeno grupo concreto de dimensões reduzidas, isto é, a célula social bruta, estas relações de reciprocidade tornam-se acessíveis à observação. No plano dos métodos-teorias gueltastistas. Lewin introduz o que chama de pequenos grupos-testemunhas, ou seja, indivíduos que, recebendo um formação especial, constituem em seguida, no meio social, aquilo que chamará de átomos sociais radioativos. Por sua presença no interior do fenômeno de grupo a ser estudado, eles se tornam os elementos indicados para provocarem modificações completas de estrutura de uma situação social e atitudes coletivas que lhes correspondem. “...Uma longa prática da pesquisa científica demonstrou-lhe a aquisição definitiva da validade das aproximações guestaltilstas para o estudo dos comportamentos humanos.” Atitudes Coletivas - Os psicólogos sociais americanos haviam centrado sua pesquisas no problema da socialização do ser humano, com Kurt Lewin e a partir dele, o interesse dos pesquisadores desloca e dirigi-se para as atitudes coletivas. A diferença fundamental entre a obra de Moreno e a de Kurt Lewin, é de que Moreno preocupou-se constantemente com o problema da socialização do ser humano, Deste modo, aplicou-se não somente em teorizar, mais em utilizar técnicas com o psicodrama, o sociodrama, que para ele constituem instrumentos pedagógicos como terapêuticos. O que muda, radicalmente, a partir de Lewin, são abordagem e metodologia que se tornam dinâmicas e guestálticas. Campo Social – Três conceitos básicos , tomados de empréstimo à sua psicologia topológica, permitem a Lewin extrapolar as implicações deste teorema sobre a gênese e a dinâmica dos grupos. Primeiro conceito: totalidade dinâmica – para Lewin todo conjunto de elementos interdependentes constitui uma totalidade dinâmica. Se os grupos são sempre totalidades dinâmicas, as totalidades dinâmicas estão longe de serem exclusivamente grupos. Por exemplo, a personalidade é uma totalidade dinâmica na medida em que pode ser considerada com um complexo de sistemas, de formas e de processos psíquicos. Segundo conceito: eu social – para Lewin a personalidade revela-se como ma configuração de regiões, tendo uma estrutura que ela chama “quase-estacionária”. Que significa com isto que é preciso conceber a personalidade como um sistema que tende a reencontrar-se idêntico a si - mesmo em todas as situações, o eu “ego”-eu social. Terceiro conceito: campo social - para Lewin o campo social é essencialmente uma totalidade dinâmica, constituída por entidades sociais coexistentes, não necessariamente integradas entre elas. O que caracteriza um campo social, são as posições relativas que nele ocupam os diferentes elementos que o constituem. Estas posições são determinadas tanto pela estrutura do grupo com por sua gênese e sua dinâmica. O campo social para Lewin é uma “gestalt”. A partir deste conceito de campo social Kurt Lewin elabora suas primeiras hipóteses sobre a dinâmica de grupos: 1) o grupo constitui o terreno sobre o qual o indivíduo se mantém; 2)o grupo é o indivíduo um instrumento; 3)o grupo é uma realidade da qual o indivíduo faz parte, mesmo àqueles que sentem ignorados, isolados ou rejeitados.; e 4)


o grupo é para o indivíduo um dos elementos ou dos determinantes de seu espaço vital. A adaptação social, em conclusão, consistiria, segundo Lewin, em concluir esta superação, em atualizar suas aspirações e suas atitudes, em atingir seus objetivos pessoais, sem nunca forçar nem romper os laços funcionais com a realidade coletiva ou o campo social em que o indivíduo se insere e que constitui o fundamento de sua existência. Resistências Emotivas à Mudança Social – Nas condições sociais existentes que constituem o espaço vital de um determinado indivíduo, ele pode escapar a certas pressões, recusar-se a certas obrigações mas por outro lado não pode subtrair-se, nem escapar a certos condicionamentos. Kurt Lewin deduz que a conduta de um indivíduo em grupo é determinada, parte pela dinâmica dos fatos e de outra pela dinâmica dos valores que percebe em cada situação. Ora o campo de forças que se destaca da interação dos fatos e dos valores depende de três coisas: 1)depende das tendências do eu concebidas como a maneira pela qual cada indivíduo percebe o seu instante e função de seu estado pessoal; 2)tendências do eu as tendências do super-ego; e 3) própria situação social. Mudança social implica em uma modificação do campo dinâmico no qual o grupo se encontra. -----------------------------------------------------------------------------------------------Bibliografia Citada: DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS Título original francês: Dynamique Et Gênese dês Groupes Autor: GÉRALDO BERNARD MAILHIOT 7ª Edição – Livraria Duas Cidades – São Paulo 1991.


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