Livro catálogo ANTONIO BANDEIRA

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CORREIOS apresentam

Curadoria Marcus de Lontra Costa

CENTRO CULTURAL CORREIOS RIO DE JANEIRO Exposição de 08 de maio a 09 de junho de 2013


ANTONIO BANDEIRA, DA RAZÃO À SENSIBILIDADE Sob o signo da arte, em 1922, nascia Antonio Bandeira, pintor e desenhista cearense, que em 1945, numa escala de Fortaleza para Paris - com conexão de um ano no Rio de Janeiro - fez a aterrissagem para o mundo, em uma carreira de 25 anos de absoluto sucesso, destacando-se como um dos mais premiados e valorizados pintores modernos brasileiros, com obras em importantes coleções particulares e em acervos públicos do Brasil e do exterior. Sua trajetória artística foi impulsionada com a conquista de uma bolsa de estudos do Governo francês, pela sua participação na exposição do Instituto dos Arquitetos Rio de Janeiro. Em Paris, permaneceu por quatro anos, período em que frequentou e conviveu com importantes nomes da arte na École Superieure des Beaux Arts e na Académie de la Grande Chaumière. Em 1951, retornou ao Rio, onde viveu até 1965, quando voltou para a França e lá faleceu em 1967, aos 45 anos. “Não pinto quadros. Tento fazer pinturas”, definiu o seu fazer artístico o mestre da arte abstrata brasileira Antonio Bandeira. Dono de uma obra racional, sensível, fascinante e instigante, que extrapola as delimitações do seu espaço físico criativo e que extasia e estimula a imaginação e a subjetividade interpretativa a encontrarem, além dos limites que a simples visão não alcança, uma linguagem multifacetada nas linhas e nos traços personalíssimos de suas pinceladas. A exposição “Antonio Bandeira, da Razão à Sensibilidade”, com curadoria de Marcus Lontra, reúne aquarelas, desenhos e pinturas, apresentando um panorama da obra e da trajetória - nacional e internacional - desse artista brasileiro, também poeta e gravador. A mostra percorre as diferentes fases, linguagens e estilos de sua produção artística, desde o figurativismo até as influências vanguardistas europeias do expressionismo, cubismo, fauvismo, surrealismo e abstracionismo. Consagrada pela pluralidade pictórica, riqueza de detalhes, pelas inventivas e rigorosas técnicas e pelo equilíbrio das cores, a obra de Antonio Bandeira foi, em grande parte, produzida no Rio de Janeiro. A exposição - que reúne ainda fotos, alguns de seus poemas e vídeos sobre sua obra - rende homenagens ao artista, igualmente reverenciado com Oswaldo Goeldi, Carlos Scliar, Bandeira de Mello, Alfredo Volpi, Tarsila do Amaral, Raymundo Colares, Milton Dacosta, Rubem Valentim, entre outros. Os Correios também ultrapassam as delimitações territoriais no seu fazer postal para promover a comunicação entre os povos no mundo. Estendem, cada vez mais, suas ações na área cultural, investindo em importantes projetos como forma de alargar as dimensões do conhecimento e entretenimento, com uma aproximação sempre maior do público, e de ampliar a visibilidade de sua marca, fora dos limites postais, como empresa comprometida em preservar a memória da arte e da cultura brasileira. Bem-vindos! Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro.

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A ABSTRAçãO CONCILIATóRIA DE ANTONIO BANDEIRA Marcus de Lontra Costa Alvaro Seixas

“Da fundição de meu pai aprendi misturas que ele nem suspeita; vendo derreter ferro ou bronze, aprendi muito. Hoje misturo emoções em cadinhos iguais ao dele, de ferro, de bronze, de corpo, de alma, de vento, de paisagem, de objeto, e dessa mistura fabrico as peças para o meu trabalho.” Antonio Bandeira A obra de Antonio Bandeira representa uma espécie de gesto conciliatório das muitas verdades e crises da ideia de arte abstrata, e, especificamente, de pintura abstrata. Desde sua invenção por Kandinsky, Mondrian e outros muitos grandes nomes do avantgarde dos anos 1920 e 1930, a ideia de arte abstrata expunha sua natureza polêmica e contraditória. Tratava-se realmente de novas formas de arte? Eram elas ininteligíveis, nãoobjetivas e autorreferentes? A suposta autonomia da abstração sempre esteve contaminada de elementos do mundo concreto e familiar e, dessa forma, seus limites sempre se mostraram porosos com relação a outras esferas do conhecimento humano, para além das artes visuais e, particularmente, da superfície do quadro. O russo Wassily Kandinsky, tido como o autor da primeira obra de arte abstrata, comparou suas esperançosas empreitadas abstracionistas com a intangibilidade da música e com a vastidão semântica da mente humana, cujas portas haviam sido escancaradas por Freud. Já o holandês Piet Mondrian, com toda a sua rigidez e aparente pureza visual e teórica, nunca esteve afastado da realidade visível, afinal partira do mundo concreto, depois de investigar e visualizar profundamente os seus ritmos visuais mais essenciais, para estudálos exaustivamente na superfície quadro. Suas célebres grades de linhas horizontais e verticais que dão forma a retângulos de cores primárias eram mais do que manchas de tinta dispostas numa certa ordem sobre um plano: eram as formas, verdadeiras e universais, que deveriam reconfigurar, justamente, o tal mundo concreto, para torná-lo mais perfeito, mais harmonioso. Para Mondrian suas obras eram os degraus de uma evolução pautada por um singular racionalismo e para tanto precisam desembocar diretamente no cotidiano, em novas formas de design e de arquitetura. Já nas décadas de 1940 e 1950, a abstração formatada em grande parte por esses dois nomes fundamentais da história da arte encontrava-se um tanto disforme, mas também em franca expansão, tendo em vista respectivamente os traumas [europeus] e a euforia [norteamericana] causados pela II Guerra Mundial. Na Alemanha, França, Bélgica, Holanda e muitos outros países do Velho Mundo, o pós-guerra afirmava tempos sombrios, quando emergiam as obras informalistas e fantasmagóricas de Jean Fautrier e Alfred Otto Wolfgang Schuize – mais conhecido como Wols – e, ainda, a brutal e primitiva visceralidade do Grupo CoBrA. Em Nova Iorque, entretanto, a abstração recobria grandes telas, que pareciam obedecer ao ritmo ansioso e à opulência financeira da vitoriosa nação: surgiam os drippings nervosos de Jackson Pollock, as mulheres vorazes de Willem de Kooning, as manchas contrastantes e inegavelmente urbanas de Franz Kline e os grafismos cifrados de Mark Tobey. Diante de tal cenário internacional, como analisar e inserir a produção de Antonio Bandeira? Nascido em Fortaleza, ela se situa entre a fantasmagoria dos informalistas e a euforia dos nova-iorquinos. Cabe aqui mencionar uma de suas mais célebres séries de pinturas, produzidas nas décadas de 1950 e 1960, que receberam o título de “Sol sobre Paisagem”: o Sol corresponde a um disco de cor vermelho que, tal qual uma energia divina ou mesmo um óvulo fecundado, paira sobre uma atmosfera cósmica de cores gélidas e manchas negras. Nessas pinturas é evidente a influência do informalismo de Wols, artista com quem Bandeira teve contato direto na passagem da década de 1940 para 1950 na cidade de Paris, quando os artistas fundaram o Grupo Banbryols, do qual também fez parte o artista francês Camille Bryen. Mas a carga pessimista do artista alemão parece em parte atenuada – iluminada – por Bandeira nessa série pinturas. A imagem vibrante do Sol parece sinalizar um (re)começo em meio a uma paisagem de desolação que remete às angústias de Wols e de outros informalistas europeus.

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Na segunda metade da década de 1950, no Brasil, impulsionados em grande parte pelo processo de industrialização tardio do país, floresciam movimentos de raízes geométricas. Bandeira, que havia retornado ao país em 1951, perseverava em uma abstração mais orgânica ou “sensível”, mas capaz de, muitas vezes, sugerir formas e ritmos geométricos que fazem lembrar as obras de artistas como Mondrian e os Construtivistas russos, encarando-as não como verdades inabaláveis ou modelos artísticos cristalinos, mas elementos sensíveis, difusos e provocadores esteticamente, que aparecem, nas obras de Bandeira, assimilados a práticas que remetem aos dadaístas, informalistas e surrealistas. É o caso de um vibrante óleo sobre tela de 1953, intitulado “A grande cidade iluminada”. Se os fantasmas e malhas abstratas pintados por artistas como Wols podem ser vistos como os vestígios ou mesmo as ruínas de uma Europa e de um ideal de civilização destroçados pela guerra, em muitas das obras de Bandeira as formas que parecem saltitar sobre a tela são como as engrenagens de um Brasil que começava de fato apresentar sinais marcantes de sua construção enquanto nação e, nesse sentido, se aproximam da série Boogie-Woogie de Mondrian, mesmo que as obras do brasileiro conciliem geometria e organicidade, forma e antiforma, harmonia e caos, se aproximando também das mais líricas pinturas de nomes como Raoul Dufy e Paul Klee. Desse modo, a produção pictórica de Bandeira está recheada de elementos surpresa. Grande parte de suas obras podem parecer, para um olhar mais apressado, “abstrações informais” convictas. Mas, para os olhares mais atentos – e principalmente dispostos a adentrar e interagir com os jogos visuais do artista – surgem indícios do mundo concreto, reminiscências de figuras humanas, flores, paisagens naturais e urbanas. Nesse sentido, suas telas possuem grande afinidade com os trabalhos de artistas como a portuguesa Maria Helena Vieira da Silva e Alfredo Volpi, que souberam “retroceder” valiosamente na história da arte, para repensar ecleticamente propostas tidas como “pré-abstratas”, lançadas por movimentos como o Fauvismo, o Cubismo e o Futurismo, que infelizmente ainda são vistos por alguns críticos como meros estágios artísticos já percorridos e exauridos de sua potência vanguardista. Abstração, Figuração, Fauvismo, Cubismo, Expressionismo, Neoplasticismo, Surrealismo, verticais, horizontais, diagonais, cor, desenho, primitivo, moderno, forma, antiforma, racional, visceral, gestualismo, cálculo, geometria, organicidade, acaso, urbano, natural, ansiedade, método, sensualidade, tropical, europeu, samba, Boogie-Woogie, universal, local... São muitos os termos da abstração conciliatória de Bandeira, que morreu com apenas 45 anos de idade. Trata-se de uma “abstração” provisória, sem limites facilmente definíveis, fabricada pela “mistura” de inúmeras e aparentemente contraditórias substâncias. A partir desse caráter conciliatório, Bandeira se afirma como o primeiro artista brasileiro cuja produção pode ser pensada para além dos limites geográficos – e críticos – nacionais, constituindo uma obra de abrangência e pertinência internacionais. “Nunca pinto quadros. Tento fazer pintura.” disse o artista em uma entrevista de 1963. Esta pequena frase guarda na verdade um importante raciocínio sobre o fazer da pintura, cujos limites físicos e conceituais tradicionais são questionados por Bandeira, que diria ainda na mesma entrevista que “Meu quadro é sempre uma sequência do quadro que já foi elaborado para o que está sendo feito no momento, e acredito que nunca terminarão mesmo (...) minha pintura é mais de metamorfose, de transfiguração. É uma transposição de seres, objetos, cousas, momentos, gostos, olfatos que vou vivendo no presente, passado, futuro.” Bandeira define um pensamento que será fundamental para o caráter experimental e a visão expandida não apenas de pintura, mas de toda a ideia de arte, que viria a marcar as obras de nomes também internacionais como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape. A mostra “Antonio Bandeira, da Razão à Sensibilidade” não tem a pretensão de uma retrospectiva. Ela busca ser um panorama vivo e pulsante que reúne trabalhos representativos do artista em diferentes modos de operar, articulados e rearticulados por ele ao longo de sua carreira, sem que ele próprio impusesse limites cronológicos e estilísticos à sua produção. Respeita-se, dessa forma, a inquietude e os louváveis paradoxos visuais e conceituais que constituem a importante obra de Antonio Bandeira.

Bandeira na Passage de la Petite Boucherie, Saint-Germain-des-Prés, Paris, década de 1960 10

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“Bandeira é um revolucionário em arte. Leva uma bagagem onde há coisas notáveis. O desenho de Bandeira nada tem de educado, de estudado, é espontâneo, livre, audacioso. A paleta nunca é fixa, mutável como os assuntos. O que mais existe nos trabalhos de Bandeira é poesia, esta sim, perene. Bandeira poetiza tudo que trata.” Mario Baratta (Jornal O Estado, Fortaleza, 1945).

Mata fresca, 1942 Óleo sobre tela 23 x 34 cm Coleção particular, RJ

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Autorretrato, circa 1948 Nanquim sobre papel 27 x 19 cm Coleção particular, RJ

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Figura feminina, 1948 Nanquim sobre papel 33,5 x 24 cm Coleção particular, RJ

Fundição, circa 1946 Nanquim e grafite 39,7 x 49,4 cm Coleção particular, RJ

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Paisagem, 1949 Guache e óleo sobre papel 10 x 14 cm Coleção particular, RJ

Rio, estudo para tapeçaria, 1951 Crayon colorido, guache sobre papel 49 x 31 cm Coleção particular, RJ

Interior, circa 1946 Óleo sobre tela 24,5 x 19,5 cm Coleção particular, RJ

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Vaso com flores Pastel e lápis de cor sobre papel 30 x 22 cm Coleção particular, RJ

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Les Clochards, 1949 Óleo sobre tela 99 x 80 cm Coleção Paula e Jones Bergamin, RJ

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“Tenho para mim que toda criação artística imprescinde de grande dosagem de lirismo, e creio que isso não é nenhuma novidade, pois a diferença entre a mão e a máquina é notável, é o calor táctil e a danação do cérebro.” Antonio Bandeira

Cidade, 1951 Óleo sobre tela 38 x 45 cm Coleção particular, RJ

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Abstração, 1967 Guache e nanquim sobre papel 20 x 32,5 cm Coleção particular, RJ Árvore, 1955 Óleo sobre tela 77 x 64 cm Coleção Paula Bergamin, RJ

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Sem título, 1955 Óleo sobre tela 23 x 30,5 cm Coleção particular, RJ Sem título, 1957 Tempera, nanquim/flã 42 x 24 cm Coleção Roberto Marinho, RJ

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Abstração, 1955 Óleo sobre tela 30,5 x 36 cm Coleção particular, RJ

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St. Maxime, 1966 Guache e nanquim sobre papel 30 x 40 cm Coleção particular, RJ

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Capri, 1954 Nanquim e lapis de cor 46,5 x 61 cm Coleção particular, RJ

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Capri, 1954 Aquarela e nanquim sobre papel 47 x 61 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

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“A pintura de Bandeira é profundamente lírica. E sua mensagem comunica-se com espontânea facilidade, de imediato, como certos versos que parecem obscuros, mas que sem hesitação, sem necessidade de explicações, sentimos em sua beleza profunda. Senhor agora de uma técnica segura, dono de uma liberdade invejável, o artista cearense volta a apresenta-se ao nosso publico a mesma personalidade que os êxitos de Paris e Londres não perturbaram.” Sergio Millet

Sem título, 1961 Técnica mista sobre isopor 50 x 100 cm Coleção Marta e Márcio Lobão, RJ

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La ville lointaine, 1956 Óleo sobre tela 55 x 46 cm Coleção particular, RJ

Uma Paisagem, 1959 Óleo sobre tela 100 x 81 cm Coleção particular, RJ

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“Nunca pinto quadros. Tento fazer pintura.” Antonio Bandeira

“Acho definitiva, para a compreensão de sua obra, esta afirmação: ´Nunca pinto quadros. Tento fazer pintura´. Quer dizer, o quadro não parece significar para ele uma realidade autônoma, uma estrutura que possui suas próprias leis, algo que se constrói com elementos específicos. A pintura é um estado de alma que ele extroverte aqui e ali, sem outro objetivo que o de comunicar um sentimento, uma emoção, uma lembrança. Enfim, é uma transposição de seres, coisas, momentos, gostos, olfatos que vou vivendo no presente, passado, no futuro. Não é algo comprometido com o mundo - suas lutas e tensões - é uma pintura levitando sobre o mundo, dentro de seu ser. Apesar do otimismo dos depoimentos, exala, na obra de Bandeira, um halo de solidão, de angústia indefinida. Podese depreender isso do próprio processo criador do artista. Manchas, respingos, escorrimentos, pequenos toques do pincel, a pintura de Bandeira não é um mundo acabado: o artista insinua, alude, sugere, esboça cores ou imagens que apenas faíscam, por um momento, como estrelas no céu, como pedras preciosas.” Frederico Morais.

Il neige sur Notre Dame, 1962 Óleo sobre tela 62 x 51 cm Coleção Roberto Marinho, RJ

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Jardim Vermelho, 1953 Óleo sobre tela 81 x 100 cm Coleção Ronaldo Cezar Coelho, RJ

Outonal, 1964 Óleo sobre tela 146 x 114 cm Coleção particular, RJ

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Paysage, 1956 Óleo sobre tela 81 x 100 cm Coleção particular, RJ

Como cascata escorrendo, 1964 Óleo sobre tela 130 x 81 cm Coleção Roberto Marinho, RJ

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Cidade, 1964 Óleo sobre tela 80 x 100 cm Coleção Eugênio Pacelli Pires dos Santos, RJ

Sem título, 1965 Óleo sobre tela 162 x 130 cm Coleção Roberto Marinho, RJ

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Paysage en lilás, 1956 Óleo sobre tela 81 x 100 cm Coleção particular, RJ

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Cidade cinza, 1962 Óleo sobre tela 81 x 100 cm Coleção particular, RJ

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De noite, 1962 Óleo sobre tela 65 x 162 cm Coleção Marta e Márcio Lobão, RJ

A Catedral, 1964 Óleo sobre tela 162 x 90 cm Coleção Ronaldo Cezar Coelho, RJ

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Sol e paisagem azul (tríptico), 1966 Óleo sobre tela 162 x 291 cm Coleção Ronaldo Cezar Coelho, RJ

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“Bem instalado perto do Sena me sinto como se estivesse em Fortaleza. Não tenho o mar de Copacabana mas tenho o rio (sem trocadilho).” Antonio Bandeira, em carta a José Condé, 1966.

Abstração, 1958 Aquarela e nanquim sobre papel 20 x 13 cm Coleção particular, RJ

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Abstração, circa 1960 Aquarela sobre papel 31,5 x 34 cm Coleção particular, RJ

Sem título, 1967 Guache e nanquim sobre papel 32,2 x 25 cm Coleção particular, RJ

Arrebol, 1952 Aquarela e nanquim sobre papel 32,5 x 25 cm Coleção particular, RJ

Sem título, 1967 Guache sobre cartão 32 x 24 cm Coleção particular, RJ

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Sem título, 1966 guache e nanquim sobre papel 33 x 19,5 cm Coleção particular, RJ

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Sem título, 1958 Guache sobre papel 60 x 20 cm Coleção Eugênio Pacelli Pires dos Santos, RJ

Abstração, 1967 Guache e aquarela sobre papel 24 x 18 cm Coleção particular, RJ

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Abstracao, circa 1967 Ecoline e aquarela sobre papel 20,3 x 23 cm Coleção particular, RJ

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Abstração, circa 1967 Ecoline e aquarela sobre papel 28,5 x 19 cm Coleção particular, RJ

Sem título, 1959 Guache sobre papel 33 x 25 cm Coleção particular, RJ

Abstração, circa 1967 Aquarela sobre papel 24,3 x 16 cm Coleção particular, RJ

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Sem título, 1957 Óleo sobre Eucatex 12,8 x 16 cm Coleção Paula e Jones Bergamin, RJ

Sem título, 1957 Óleo sobre Eucatex 16 x 12,8 cm Coleção Paula e Jones Bergamin, RJ

Sem título, 1957 Óleo sobre Eucatex 16 x 12,8 cm Coleção Paula e Jones Bergamin, RJ

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Sem título, 1949 Aquarela sobre papel 24 x 32 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

Sem título, 1949 Aquarela sobre papel 22 x 17,7 cm Coleção Paula Bergamin, RJ Sem título, 1953 Aquarela sobre papel 15,5 x 23,5 cm Coleção Paula Bergamin, RJ

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Sem título Grafite sobre papel 15 x 10,5 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

Sem título Grafite sobre papel 15 x 10,5 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

“Até o fim dos meus dias comprarei passagem de ida e volta. No fim tirarei cara ou coroa para saber de que lado corre o vento.” Antonio Bandeira

Sem título Grafite sobre papel 20 x 12 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

Sem título Grafite sobre papel 15,2 x 10,1 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

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Buvette de Gare de Lyon, 1947 Grafite sobre papel 13,5 x 18,5 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

Sem título Grafite sobre papel 20,4 x 12,6 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

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Sem título, 1947 Grafite sobre papel 12,5 x 20 cm cada Coleção Jones Bergamin, RJ

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Sem título Grafite sobre papel 15,2 x 10,1 Coleção Jones Bergamin, RJ

Sem título Grafite sobre papel 20,4 x 12,6 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

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Sem título Grafite sobre papel 15,2 x 10,1 Coleção Jones Bergamin, RJ

Nu feminino, circa 1946 Grafite sobre papel 25,5 x 17 cm Coleção particular, RJ

Sem título Grafite sobre papel 20,7 x 13 cm Coleção Jones Bergamin, RJ

D’apres Goya, 1947 Carvao sobre papel 24 x 18,5 cm Coleção particular, RJ

Nu feminino, circa 1946 Crayon e grafite sobre papel 19 x 24,5 cm Coleção particular, RJ

Sem título Nanquim e grafite sobre papel 25 x 17 cm Coleção particular, RJ

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CUBISMO O mundo é confuso o mundo é quadrado quebrado as geografias afirmam ser ele redondo. Eu o sinto quadrado se quebrando em ângulos, eu perdido no meio, confuso, quebrado sem nada entender. Soldados tocam clarim entre os cacos do mundo fico louco, louco me entrelaçando nos ângulos. As mulheres angulosas vão de homem a homem se oferecendo, se quebrando. Eu corro louco, louco me ferindo nas arestas Do mundo. Antonio Bandeira

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SURREALISMO Numa tarde de beleza tristonha quando meus olhos estavam mais tristes meu cérebro mais falho e meu corpo mais necessitado de repouso saí pelo mundo levando a tristeza. Andei voando no espaço e me embolando sobre as montanhas para que se sumissem meus pecados. Esbarrei em pleno deserto com balas sibilando no meu rosto e quando o sol descambou marchei para o grande vulto atraído por um sorriso de pedra. A esfinge de Gizeh virou mulher e me abraçou com carinho. Tão longe fui encontrar o amor! Antonio Bandeira

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NOTURNO POEMA ARTÍSTICO Pintando espalharei pelo mundo toda minh’alma observadora mostrarei aos povos as minhas lágrimas e também as dos que sofrem. Buscarei nas vielas as prostitutas para mostrar ao mundo a grande dor. Subirei aos morros longínquos e tratarei de lá o mormaço e a miséria. Buscarei o soldado semimorto e ensinarei ao mundo a dor do ódio e a da compaixão pela humanidade. Por cima dos cadáveres derramarei flores e perfumes e náuseas farei que os povos sintam. Cintilarei os olhos tristes do inocente fazendo que ele comece o bom caminho e me redimirei dos meus pecados encontrando na Arte a morada de Deus.

A lua fazendo fundo olha a coruja na árvore negra se rindo da humanidade Eu no meio da noite escura choro da humanidade. E entre as flores maiores procuro o meu amor para ocultá-lo do mundo. O soldado morto vaga na noite escura e eleva se ao espaço com medo do sorriso da coruja. Branco, pálido, frio, o marinheiro bóia no meio do mar porque não encontrou o rochedo e não viu o reflexo do farol. Corro amedrontado procurando a salvação que nem a morte me dá enquanto a coruja sorri na noite eterna.

Antonio Bandeira Antonio Bandeira

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uma mostra reunindo trabalhos dos artistas cearenses. Foi nessa histórica exposição que Raymond Warnier e o Centro de Estudos franceses no Rio adquiriram obras expostas de Bandeira, Inimá e Chabloz. Esta aquisição possibilitou a ida de Bandeira para a França, e o seu reconhecimento como um dos mais respeitados pintores abstratos brasileiros. Em outubro, Askanasy promoveu nova mostra coletiva, desta vez, menor – 14 óleos de sete pintores: Bandeira, Inimá, Aldemir Martins, Iberê Camargo (1914-1994), Carlos Scliar (1920-2001), Z.Orlando e Paulo Pereira. Bandeira ficou vivendo por aproximadamente um ano no Rio: morou num quarto com Aldemir Martins entre redes penduradas pelas paredes.

CRONOLOgIA ANTONIO BANDEIRA (1922-1967) 1922

1946/1950

Pintor desenhista e gravador que tem sua obra inserida além do cenário de arte brasileira do século XX, e no da arte internacional. Antonio Bandeira nasceu em 26 de maio, em Fortaleza, no Ceará, filho de Maria do Carmo e de Sabino Bandeira, ferreiro, proprietário da Fundição Santa Isabel. Estudou no Colégio Marista e mostrou vocação precoce nas primeiras aulas de desenho e pintura com Dona Mundica que ensinava entre outras atividades, a cópia de cartões postais.

Laissez-passer para Exposição em Bruxelas

1940/1944 Antonio Bandeira começou a pintar nos primeiros anos da década de 1940. Nesse período, a cidade de Fortaleza vivia uma intensa movimentação artística. Em junho de 1941 o Centro Cultural de Belas-Artes (CCBA) foi fundado agrupando cerca de 50 membros, entre eles, jovens aspirantes e artistas já consagrados como Inimá de Paula (1918-1999), Aldemir Martins (1922-2006), Jean Pierre Chabloz (1910-1984), Raimundo Cela (1890-1954), Mario Baratta (1914-1983) e o próprio Bandeira. O objetivo do grupo era introduzir o Modernismo nas artes do Ceará. Em setembro o CCBA realizou o I Salão Cearense de Pintura – mostra de mais de 80 obras de cerca de 20 artistas. Antonio Bandeira participou com duas obras, mas apenas uma delas, Salinas, foi citada na imprensa, mesmo assim sem muito entusiasmo por parte da critica. Do segundo salão, em 1942, são raros os comentários.

Enfim, em abril de 1946, partiu para a França a bordo do cargueiro “Kemp T. Battle” junto com o escultor José Pedrosa (1915-2002), o escritor e crítico de cinema Paulo Emilio Sales Gomes, e o conservador do Museu Nacional de Belas Artes, Mario Baratta. Lá chegando, um mês depois, foram morar no alojamento gratuito da Cidade Universitária, mas Bandeira, apesar dos pequenos valores recebidos dos governos francês e brasileiro, alugou também no Quartier Latin um espaço de dois metros quadrados que transformou em morada e ateliê.

Retrato do jovem artista.

Permaneceu em Paris durante quase cinco anos. Frequentou a Escola Superior de BelasArtes e a Academia de La Grande Chaumière, mas não se adaptou ao estudo acadêmico, tanto assim que desligou se das instituições e passou a conviver com artistas de vanguarda, e este contato aproxima seu trabalho do cubismo e fauvismo. Integrou-se ao grupo de artistas da Escola de Paris. Estudou desenho com Narbone e gravura com Calanis.

Em 1943, o ”pintor e soldado Bandeira”, como foi chamado pela imprensa, participou do I Salão de Abril de Artes Plásticas, promovido pela União Estadual dos Estudantes de Fortaleza, e recebeu medalha de bronze em exposição no 9º Salão Paulista de Belas Artes com o óleo Nordeste (Cacto, segundo Roberto Pontual no Dicionário de Artes Plásticas no Brasil). Nessa época os jovens artistas cearenses reuniam se numa pequena sala, o ateliê comunitário Artis, que funcionou sob a liderança de Mario Baratta e João Siqueira.

Carteira de sócio remido do MAM-Rio

Carteira de Identidade IFP-GB, 1963

Foi o inicio de uma fase de renovação artística no Ceará quando então, a convivência entre pintores e escritores resultou no chamado Grupo Clã, formado por Aluízio Medeiros, Arthur Eduardo Benevides, Eduardo Campos, Otacílio Colares, Fran Martins Moreira Campos, Antônio Girão Barroso, Braga Monteiro, Mozart Soriano Aderaldo, entre outros. 1945 Jean Pierre Chabloz viajou para o Rio de Janeiro e trouxe em sua companhia Antonio Bandeira, Aldemir Martins, Inimá de Paula, Francisco Domingos da Silva, dito Chico da Silva (1922-1985) e Feitosa. Nesta época o empresário e escritor polonês Miércio Askanasy, era dono de uma livraria na rua Senador Dantas, e lá, também realizava exposições. Foi assim que em junho de 1945, a Galeria Askanasy, sob o patrocínio do Clube Cearense e da Associação de Cultura Franco-Brasileira do Rio de Janeiro, realizou

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Catálogo da exposição “Pinturas de guerra” Fortaleza, Ceará, 1944

Título Eleitoral - TRE da Guanabara, 1963

A par das dificuldades financeiras com o término da bolsa francesa e da ajuda do Itamarati, Bandeira conseguiu se firmar com a venda de seus trabalhos. Como não podia comprar telas, fazia desenhos e guaches, e ainda pintava cerâmica. Ganhou dinheiro fazendo a decoração do escritório da Expansão Comercial do Brasil em Paris. Podia assim comprar tintas e conhaque que bebia quando frequentava os cafés de Saint- Germain-des-Prés. Apresentou- se no Salon d’Automne de 1947, ligando-se aos pintores CamilleBryen (1907-1977) e Wols, cujo verdadeiro nome era Alfred Otto Wolfgang Schulze (19131951), com os quais constituiu o Grupo Banbryols (palavra criada a partir de uma sílaba do sobrenome dos três artistas) um dos grupos pioneiros da abstração lírica europeia. O grupo não possuía um programa, tratou se mais de uma associação temporária entre três pintores amigos, e não chegou a ter atuação concreta, mas segundo Michel Seuphor, seus integrantes participaram de uma exposição não figurativa em outubro de 1948, chamada “La Rose dês vents” na Galerie dês DeuxÎlles, em Paris. O Banbryols dissolveuse em seguida com a volta de Bandeira ao Brasil, em 1950, e a morte de Wols em 1951. Esta mostra marca sua adesão ao abstracionismo informal. Bandeira está definitivamente integrado ao grupo de pintura francesa do pós-guerra.

No III Salão Cearense de Pintura em 1944, Bandeira foi agraciado com a medalha de ouro pela obra “Cena de botequim”. O CCBA deixou de existir em 1944 para dar lugar à Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) que teve como primeira realização, a exposição “Pintura de Guerra”, patrocinada pela Liga de Defesa Nacional. Desta mostra que recebeu a visita do adido cultural da embaixada francesa no Brasil, Raymond Warnier, Bandeira participou com 20 trabalhos.

Sua primeira exposição individual realizou-se na sede do Instituto dos Arquitetos do Rio de Janeiro, sob o patrocínio do Instituto Brasil-Estados Unidos com cerca de 40 obras entre desenhos, aquarelas, pasteis e óleos. Foi uma fase de grandes realizações para Bandeira: preparava-se para participar do 51º Salão Nacional de Belas Artes e para embarcar para Paris, para cumprir dois anos de bolsa de estudos concedida pelo governo francês com o incentivo do adido cultural da embaixada no Rio.

Entre seus amigos brasileiros dessa fase, artistas, intelectuais e pessoas ligadas às artes, destacam se os primos Luiz e Ruy Mesquita, Maria Fernanda, filha de Cecília Meirelles, Luis Carlos Mendonça e sua mulher Hélène, e os irmãos Jorge e José Augusto Cesário Alvim. Na época desta permanência de Bandeira em Paris era cônsul brasileiro, Jayme de Barros, homem sensível às artes que promovia encontros entre artistas brasileiros tais como os escultores José Pedrosa e Alfredo Ceschiatti (1918-1989), e os pintores Candido Portinari (1903-1962), Cícero Dias (1907-2003), Milton Dacosta (1915-1988), Clóvis Graciano (1907-1988), Carlos Scliar (1920-2001) e o escritor Rubem Braga (1913-1990). Para inaugurar a Maison de l’Amérique Latine em 1948, Jayme de Barros promoveu a “1º Exposição de Pintura de Artistas da América Latina”, apresentando obras de jovens artistas brasileiros como Antonio Bandeira, Vicente do Rego Monteiro

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(1899-1970), Maria Martins (1900-1973), Cícero Dias (1907-2003), Athos Bulcão (19182008), entre outros. No princípio de 1948, o artista trocou a mansarda da rue Xavier Privas por um ateliê maior na rua Amiral Mouchez e mais tarde, em 1949, foi viver no Hôtel Du Bonséjour.

Bandeira foi a Londres preparar sua exposição na Galeria Obelisk que mostrou 23 trabalhos, com grande sucesso de vendas. Realizou individual na importante Galeria Edouard Loeb, Société d’Art Saint Germain-des-Prés apresentando 20 obras entre óleos e guaches; lá expunham Pablo Picasso (1908-1922), Max Ernst (1891-1976) e Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992).

Bandeira participou do Salon d’Art Libre de 1948 e em 1949, do Salon de Mai. Em 1949 participou de uma outra exposição coletiva da Galerie de DeuxÎlles – “Black and White” e, em 1950, realizou sua primeira exposição individual em Paris, na Galerie Du Siècle com as séries paisagens, cidades e árvores, e uma natividade. Por essa época ilustrou o livro de poemas Rive Étrangère de Ribeiro Couto. Ainda em 1949, Bandeira enviou um quadro – um nu, para apresentar no Salão Abril, em Fortaleza.

Em 1957 expôs individualmente em Nova Iorque, na Galeria Seventy-Five e participou do Micro-Salon d’Avril Iris Clertem Paris ao lado de Jean Arp (1887-1966), Bryen, Paul Klee (1879-1940), Picasso, e Victor Vassarely (1908-1997) entre outros. Participou ainda das mostras Cinquenta Anos de Pintura Abstrata, na Galeria Creuze, em 1957, em Paris, e da mostra Artistas brasileiros no mesmo ano, levada às cidades de Buenos Aires, Santiago, Lima e Caracas produzida pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

1951/1954

Nos anos de 1956 e 1958 participou novamente do Salon de Réalités Nouvelles, e Paris. Em 1958 realizou painel encomendado pelo Instituto Brasileiro do Café para o pavilhão do Brasil no Palácio das Belas Artes na Exposição Universal e Internacional de Bruxelas.

Depois do sucesso de sua primeira individual, já reconhecido, inclusive convidado para expor em Copenhague, Bandeira encerrou as atividades do ateliê parisiense e retornou ao Brasil, a bordo do navio Claude Bernard, vindo pela primeira vez após sua ida para a França em 1946. Instalou se no ateliê de José Pedrosa em Botafogo, onde também trabalhava Milton Dacosta. Sua primeira exposição individual no país realizou se no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em abril de 1951. Em julho, esta mesma mostra, acrescida de dez obras, foi apresentada na Associação Brasileira de Imprensa – ABI, no Rio de Janeiro.

Antonio Bandeira e Candido Portinari, 1950

Participou, ainda em 1958, da Exposição de Arte Contemporânea Internacional, no Museu de Arte Moderna de Paris, e do 5º Salão de Belas Artes de Santos, sendo agraciado com a medalha de prata. Em São Paulo, teve cerca de 50 guaches apresentados na Galeria Ambiente.

O artista e amigo.

Bandeira foi então rever os amigos e a família no Ceará. Nesta temporada em Fortaleza, velhos e novos amigos artistas aproveitaram para criar o Grupo dos Independentes, formado por João Maria Siqueira (1917-1997), Hermógenes Gomes da Silva (19201954), Mario Baratta, Ottoni Soares, Zenon Barreto (1918), Floriano Teixeira (1923-2000), Clidenor Capibaribe, dito Barrica (1913-1993), Jonas Mesquita, Jairo Martins Bastos. Em Fortaleza, realizou a exposição individual no Instituto Brasil-Estados Unidos – IBEU mostrando 34 obras. A notícia da morte de Wols, entretanto, empanou a alegria da estadia na terra natal. Ainda neste ano de 1951, participou e recebeu medalha de bronze na seção moderna do Salão Nacional de Belas Artes no Rio, medalha de prata em pintura no III Salão Baiano de Belas Artes em Salvador, e da I Bienal de São Paulo. Recebeu o Certificado de Isenção do Júri e o Prêmio de Viagem ao País (do qual abriu mão ao optar pelo que o levaria à Itália) nos I e II SNAM de 1952 e 1953 e, nesses mesmos anos, participou do Salon de Réalités Nouvelles, em Paris, salões alternativos que abrigavam as obras de vanguarda na época. Permaneceu no Brasil até 1954, executando murais como o da seção paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil, e expôs individualmente, pela segunda vez, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Sai a edição do livro de poemas A Cidade: Suíte de Amor e Secreta Esperança de Homero Homem com 14 ilustrações suas.

1959/1961 Participou de exposição de arte moderna brasileira em Munique, promovida pelo Museu de Arte do Rio de Janeiro, junto com Portinari, Lasar Segall (1891-1957), Frans Krajcberg (1921), e outros. Realizou ilustração para o poema Loiseau-qui-n’existe-pas de Claude Aveline: conjunto de ilustrações do mesmo poema por cem artistas, exposto no Museu de Arte Moderna de Paris.

Artistas premiados na II Bienal de São Paulo: Maria Martins, Antonio Bandeira, Arnaldo Pedroso Horta, Alfredo Volpi, Di Cavalcanti e Bruno Giorgi.

Bandeira e amigo.

1955/1958

Ainda em 1960, Bandeira participou do filme “Périphérie” em que contracena com a atriz Maria Fernanda, texto e direção de Flávio Carvalho (1899-1973), e direção de fotografia de Pietro Maria Bardi (1900-1999). O documentário foi filmado numa favela da cidade de São Paulo.

A partir da primeira temporada em Paris, Bandeira vai alternar toda a sua vida entre Brasil e França. Sua produção artística já permite que ele participe de vários salões em vários países, e exponha individualmente. Mostrou trabalhos na Galeria Diderot, em Paris e participou da exposição IX Premio Lissone, em Milão.

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Em setembro de 1959, depois de cinco anos na Europa, Bandeira chegou ao Brasil, no Rio de Janeiro. Com apartamento e ateliê em Paris e no Rio, pretendia somar Europa e Brasil, com intervalos para a família em Fortaleza. Pretendia ficar apenas seis meses, mas acabou permanecendo no país por mais de cinco anos. Teve atividade intensa no Brasil: foi convidado a expor, concorreu aos salões oficiais e conviveu com artistas, críticos e escritores. Convidado por Lina Bo Bardi, foi à Bahia, em janeiro de 1960, para a mostra inaugural do Museu de Arte Moderna de Salvador da qual participou com 21 óleos e 10 guaches, inéditos no Brasil, caracterizando se como sua primeira exposição individual na volta ao país. Em junho de 1960 inaugurou exposição no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com 40 obras- 29 óleos e 11 guaches. Figurou novamente na XXX Bienal de Veneza, com cinco obras. Expôs em São Paulo, na Galeria de Arte São Luís, e em Bueno Aires, na inauguração da Galeria Bonino, mostrando 30 obras: 20 óleos e10 guaches. Mais tarde os Bonino – Giovanna e Alfredo abriram uma galeria no Rio de Janeiro e foram fundamentais na divulgação da obra de Bandeira. Lançou um álbum com cinco litografias, texto e poema de sua autoria, Poemalhitos editado pela Galeria Bonino, já no Rio de Janeiro.

Neste mesmo ano voltou à Europa, desta vez para a Itália, em razão do Prêmio Fiat di Torino, obtido na II Bienal Internacional de São Paulo, em 1953, da qual voltaria a participar em 1955 e 1959. Com um milhão de liras obtidos na Bienal viajou pela Itália conhecendo várias cidades como Milão, Florença, Arezzo, Assis, entre outras. De Roma foi a Veneza onde figurou na XXVII Bienal com três telas, e a seguir instalou se na ilha de Capri. De lá, retomou à França.

Participou da III Bienal de São Paulo com três obras. Desta vez, instalou o ateliê em Montparnasse. Nessa época foram publicados os livros Borboleta Amarela de Rubem Braga, para o qual fez a capa, e Viola de Bolso de Carlos Drummond de Andrade com um poema dedicado ao artista.

Depois de três meses de ausência, o Bandeira que retorna a Paris é um entusiasmado com a boa repercussão de seu trabalho, tanto que vai residir próximo à embaixada brasileira nos Champs-Elysées.

Bandeira com amigos em Paris, década de 1960 Bandeira, Eduardo Campos e Aldemir Martins na Praça Paris, portão de Mestre Valentim, 5 de janeiro de 1946, RJ

Em 1961, expôs, tanto individual como coletivamente, em vários estados do Brasil e no exterior: na Alemanha na exposição internacional de Aschaffenburg, no Rio de Janeiro, onde inaugurou a Galeria Gead, em Brasília, na Exposição de Pintura Brasileira, no Salão de Arte Moderna de Curitiba. Participou da exposição “International Choice – 20th Century Paitings and Sculpture”, na Galeria Kaplan, em Londres e da exposição de natal da Galeria Barcinski, no Rio de Janeiro, junto com a Manabu Mabe (1924-1997), José

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ANTONIO BANDEIRA, FROM REASON TO SENSITIVITY

Pancetti (1902-1958), e Inimá de Paula. Foi isento do júri na VI Bienal Internacional de São Paulo e apresentou na Galeria São Luís, 35 guaches.

Under the sign of art, in 1922, was born Antonio Bandeira, painter and designer from Ceará, who in 1945, on a scale from Fortaleza to Paris – with one year conection in Rio de Janeiro – landed for the world, in a career of 25 years of absolut success, standing out as one of the most awarded and valued Brazilian modern painters, with works in important private and public collections in Brazil and abroad.

Ainda em 1961 foi a Fortaleza para a mostra inaugural do Museu de Arte da Universidade do Ceará: o MAUC havia sido inaugurado um junho com uma coletiva da qual não participou, mas em julho, inaugurou individualmente o museu mostrando 33 obras, entre óleos, guaches e desenhos a nanquim. Para essa exposição inaugural do MAUC com Bandeira a Universidade Federal do Ceará convidou críticos de arte como José Renato Teixeira Leite, Walmir Ayala, escritores e artistas renomados. O acervo do MAUC é atualmente o conjunto mais significativo das obras de Antonio Bandeira. O Museu mantém exposição permanente em sala em sua homenagem. Aproveitando a sua estadia na cidade natal, João Siqueira filmou o curta metragem sobre a trajetória do artista.

His artistic career was boosted by winning a scholarship from the French government, for his participation in the exhibition of Architects Institute of Rio de Janeiro. In Paris, he stayed for four years, in which time he attended and lived with important names in art at École Superieure des Beaux Arts and Académie de la Grande Chaumière. In 1951, he returned to Rio, where he lived until 1965, when he went back to France and there he died in 1967, with 45 years old.

Bandeira no seu atliê, Rio de Janeiro, década de 1960

1962 Nessa época, Bandeira morava em Copacabana. Expôs na Galeria Bonino numa apresentação bastante festejada, tanto pela crítica como pela imprensa. E embora não tenha sido um ano significativo em números, no que se refere à exposições, foi bastante importante quanto à qualidade de sua pintura. Datam de 1962 suas mais belas Cidades e a fantástica obra sobre a catedral de Notre Dame. É nessa época que retoma o azul, a sua cor preferida, que usava desde 1956. Entre 1962 e 1964, Luiz Augusto Mendes filmou o curta metragem sobre o artista e sua obra. Em 1963, Bandeira foi classificado entre os dez artistas mais votados para a exposição Resumo de Arte do Jornal do Brasil, no qual recebeu medalha de prata. O cineasta Luís Augusto Mendes fez o segundo curta metragem:Bandeira em Copacabana. Neste ano, a Galeria Querino, de Salvador, apresentou 20 guaches especialmente realizados para a mostra. Bandeira organizou a coletiva “Oito artistas do MAUC” com obras de Aldemir Martins, Floriano Teixeira (1923-2000), Sérvulo Esmeraldo (1919), Nearco Araújo, Heloísa Ferreira Juaçaba (1926), Zenon Barreto, Nilo de Brito Firmeza, dito Estrigas, (1919) e o próprio artista, inaugurada no Museu de Arte Moderna da Bahia. Mostrou ainda 36 novos trabalhos em exposição no MAUC.

Bandeira, Floriano Teixeira e Zenon Barreto, Museu de Arte da Univesidade Federal do Ceará, 1961

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1964 O artista mostrou obras em exposição na Galeria Tenreiro, participou junto com Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Volpi, Pedrosa e Ceschiatti, Maria Leontina e Milton Dacosta, entre outros, da exposição O nu como tema na Galeria do IBEU – Instituto Brasil Estados Unidos, no Rio de Janeiro, e apresentou 20 óleos e 10 guaches na Galeria Atrium, em São Paulo. Participou da XXXII Bienal de Veneza na mostra Arte de hoje no museu. Com o golpe que instalou a ditadura no país, o pintor que alterno toda a sua existência entre o Brasil e a França, decidiu voltar a Europa. Levou para decorar seu apartamento em Paris, objetos brasileiros e mais especificamente do Ceará para conservar o Brasil a seu lado. Ilustrou o poema Canção para o mais triste maio de Manuel Bandeira. 1965/1966 Bandeira apresentou-se nas melhores galerias e salões, recebendo boa referência dos críticos de arte. Participou das exposições: Arte Brasileira Atual, em diversas cidades da Europa, Artistas do Brasil, em Nova Iorque, L’Oeil de Boeuf, em Madri, e Artistas Latinoamericanos no Museu de Arte Moderna de Paris. Viveu nesta época no apartamento da rue Sucouf, nos Invalides. 1967 Faleceu em 6 de outubro, aos 45 anos de idade, vítima de uma anestesia após uma intervenção cirúrgica nas cordas vocais. Foi sepultado em Paris e somente 19 anos após foi transladado para o Brasil em 6 de outubro- mesmo dia de sua morte. Finalmente, dois dias depois, o artista foi enterrado em Fortaleza. ____________ Reproduzido do livro “Antonio Bandeira 1922-1967” Edições Pinakotheke, 2006.

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“I don’t paint pictures. I try to make paintings”, defined his artistic work the master of Brazilian abstract art Antonio Bandeira. Owner of a rational, sensitive, fascinating and provoking work, that goes beyond the boundaries of his creative space and that enraptures and stimulates the imagination and the interpretative subjectivity to find, beoynd the limits tha the mere sight can not reach, a multifaceted language in the lines and the very personal traces of his brush strokes.

O pintor, ao lado de Stenio Azevedo, José Parcifal Barroso, José Barroso, José Roberto Teixeira Leite, Reitor Martins Filho e Sabino Bandeira, seu pai, na inauguração da sala Antonio Bandeira, fortaleza, 1961

The exhibition “Antonio Bandeira – from Reason to Sensitivity”, curated by Marcus Lontra, brings together watercolors, drawings and paintings, presenting an overview of the work and career – national and international – of this Brazilian artist, also poet and engraver. The exhibition runs through the different phases, languages and styles of his artistic production, from the figurativism to the European avant-garde influences of Expressionism, Cubism, Fauvism, Surrealism and Abstractionism. Consecrated by pictorial plurality, rich details, inventive and rigorous techniques and the balance of colors, the work of Antonio Bandeira was largerly produced in Rio de Janeiro. The exhibition – that brings together photos, some of his poems and videos about his work – pays homage to the artist, also revered with Oswaldo Goeldi, Carlos Scliar, Bandeira de Mello, Alfredo Volpi, Tarsila do Amaral, Raymundo Colares, Milton Dacosta, Rubem Valentim, among others. The Correios also go beyond territorial boundaries in its post to promote the communication between people in the world. Exten, increasingly, its actions in cultural field, investing in important projects as a way to extend the dimensions of knowledge and entertainment, with always a great approach of the public, and increase the visibility of its brand, out of boundary posts, as a company committed to preserve the memory of Brazilian art and culture. Welcome! Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro.

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THE CONCILIATORY ABSTRACTION OF ANTONIO BANDEIRA Marcus de Lontra Costa Alvaro Seixas “In my father’s foundry I learned mixtures that he couldn’t even suspect; seeing melting iron or bronze, I learned a lot. Today I mix emotions into melting pot equal to his, in iron, bronze, body, soul, wind, landscape, object, and from this mixture I make the parts for my work.” Antonio Bandeira The work of Antonio Bandeira represents a sort of conciliatory gesture of many truths and crisis of the idea of abstract art, and specifically, of abstract painting. Since its invention by Kandinsky, Mondrian and many other big names of avant-garde of the 1920s and 1930s, the idea of abstract art exposed its controversial and contradictory nature. Was it really new art forms? Were they unintelligible, non-objective and self-referential? The supposed autonomy of abstraction has always been contaminated by elements of the concrete and familiar world and, thus, its limits have always been porous relating to other spheres of human knowledge, beyond the visual arts and, particularly, the surface of the painting. The Russian Wassily Kandinsky, considered the author of the first abstract art, compared his hopeful abstractionist works with the intangibility of the music and the semantic magnitude of the human mind, which doors were wide open by Freud. The Dutch Piet Mondrian, with all his rigidity and apparent visual purity and theoretical, has never been away from the visible reality, as he started in the concrete world, after deeply investigating and visualize his most essentials visual rhythms, to study them exhaustively on the surface of the painting. His famous bars of horizontal and vertical lines forming rectangles of primary colors were more than ink spots arranged in a certain order on a plan: they were the forms, true and universal, that should reconfigure precisely, such a concrete world, to make it more perfect, more harmonious. For Mondrian his works were the steps of an evolution marked by a singular rationalism and, therefore, they must result directly in daily life, in new forms of design and architecture. In the 1940s and 1950s, the formatted abstraction largely by these two key names of history of art was somewhat misshapen, but also booming having in mind the trauma [Europeans] and euphoria [North Americans] caused by World War II. In Germany, France, Belgium, the Netherlands and many other Old World countries, the postwar claimed dark times, when emerged informal and ghostly the works by Jean Fautrier e Alfred Otto Wolfgang Schuize – better known as Wols – and, yet, the brutal and primitive visceral CoBrA Group. In New York, however, abstraction covered large screens, which seemed to obey the eager rhythm and financial opulence of the victorious nation: thus arose the nervous drippings of Jackson Pollock, the avid women of

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Willem de Kooning, the contrasting spots and undeniably urban of Franz Kline and the encrypted artworks of Mark Tobey. Faced with such international scenery, how should be analyzed and inserted the production of Antonio Bandeira? Born in Fortaleza, it lies between the phantasmagoria of informalists and the euphoria of New Yorkers. It is worth mentioning one of the most famous series of paintings, produced in the 1950s and 1960s, that were titled as “Sun over Landscape”: the Sun corresponds to a red disc which, like a divine energy or even fertilized ovum, hangs on a cosmic atmosphere of icy color and black spots. In these paintings is evident the influence of the informalism of Wols, artist with whom Bandeira had direct contact in the passage of the 1940 to 1950 in Paris, when artists founded the Banbryols Group, of which was also part the French artist Camille Bryen. But the pessimistic burden of the German artist seems partly mitigated – lit – by Bandeira in this paintings series. The vibrant image of the Sun seems to signal a (re)birth amid a landscape of desolation which refers to the anguish of Wols and other Europeans informalists. In the second half of the 1950s in Brazil, driven largely by the late industrialization process of the country, movements of geometric roots flourished. Bandeira, who had returned to the country in 1951, persevered in a more organic or “sensitive” abstraction, but able to, many times, suggest forms and geometric rhythms that recall the works of artists such as Mondrian and the Russian Constructivists, facing them not as unshakeable truths or crystalline artistic models, but sensitive elements, diffuse and aesthetically provocative, that appears, in the works of Bandeira, assimilated to practices that led to Dadaists, informalists and Surrealists. This is the case of vibrant oil on canvas of 1953, titled “The great enlightened city”. If the ghosts and abstract knitting painted by artists like Wols can be seen as traces of even ruins of a Europe and of an ideal of civilization ravaged by war, in many works of Bandeira the forms that seem to skip on the screen are like the gears of a Brazil that in fact started presenting remarkable signs of its construction as nation and, in this sense, approach the Boogie-Woogie series of Mondrian, even though the works of the Brazilian reconcile geometry and organicity, form and anti form, harmony and chaos, also approaching to the most lyrical paintings of names like Raoul Dufy and Paul Klee. Thus, the pictorial production of Bandeira is full of surprise elements. Much of his work may seem, for a quick look, certaintiness “informal abstractions”. But, for more attentive eyes – and mainly willing to enter and interact with the visual games of the artist – evidence of the world arise, reminiscences of human figure, flowers, natural and urban landscapes. In this sense, his paintings have great affinity with the works of artists such as the Portuguese Maria Helena Vieira da Silva and Alfredo Volpi, who knew how to valuably “go back” in history of art, to eclectically rethink proposals regarded as “pre abstracts”, released by

movements such as Fauvism, Cubism and Futurism, that unfortunately are still seen by some critics as mere artistic stages already covered and exhausted of its power avantgarde. Abstraction, Figuration, Fauvism, Cubism, Expressionism, Neoplasticism, Surrealism, vertical, horizontal, diagonal, color, drawing, primitive, modern, form, anti form, rational, visceral, action painting, calculus, geometry, organicity, chance, urban, natural, anxiety, method, sensuality, tropical, European, samba, Boogie-Woogie, universal, local… There are many terms of conciliatory abstraction of Bandeira, who passed away with only 45 years old. It is a temporary “abstraction”, without easily definable limits, made by the “mixing” of countless and seemingly contradictory substances. From this conciliatory character, Bandeira states as the first Brazilian artist whose production can be thought beyond the geographical boundaries – and critics – national, constituting a work of international scope and relevance. I never paint pictures. I try to paint.” said the artist in an interview of 1963. This small sentence actually keeps an important reasoning about the making of the painting, which traditional physical and conceptual limits are questioned by Bandeira, who also said on same interview that “My painting is always a sequence of the painting that has already been prepared for what is being done at the moment, going to join the painting that will be born later. Maybe I liked to make paintings in circuits, and that they never end, and I believe they never will (…) my painting is more metamorphosis, transfiguration. It is a transposition of beings, objects, things, moments, tastes, smell I’m living in the present, past and future.” Bandeira defines a thought that will be critical to the experimental character and expanded view not only of painting, but the whole idea of art, that would also mark the works of international names as well as Hélio Oiticica, Lygia Clark and Lygia Pape. The exhibition “Antonio Bandeira: Reason and Sensitivity” does not have the ostentation of a retrospective. It seeks to be a living and vibrating scenery that gathers representative works of the artist in different operating ways, articulated and rearticulated by him throughout his career, without imposing himself chronological and stylistic limits to his production. We respect, thus, restlessness and laudable vision and conceptual paradoxes that constitute the important work of Antonio Bandeira.

CHRONOLOgY ANTONIO BANDEIRA (1922-1967) 1922 Designer painter and engraver who has his work inserted beyond the Brazilian art scene of the 20th century, and in the international art. Antonio Bandeira was born on May 26, in Fortaleza, Ceará State, son of Maria do Carmo and Sabino Bandeira, ironsmith, owner of Fundição Santa Isabel. He studied at Colegio Marista and showed early vocation in the first drawing and painting lessons with Dona Mundica who taught among other activities, the copy of post cards. 1940/1944 Antonio Bandeira started painting in the early years of 1940s. At that time, the city of Fortaleza lived an intense artistic movement. In June of 1941 the Cultural Center of Fine Arts (CCFA) was founded by grouping around 50 members, among them, young aspiring and established artists as Inimá de Paula (1918-1999), Aldemir Martins (1922-2006), Jean Pierre Chabloz (1910-1984), Raimundo Cela (1890-1954), Mario Baratta (1914-1983) and Bandeira itself. The goal of the Group was introduce Modernism in the arts of Ceará. In September CCFA held the I Painting Salon of Ceará – exhibiton of more than 80 works by about 20 artists. Antonio Bandeira attended with two works, but only one of them, Salinas, was quoted in the press, even so without much enthusiasm by the critics. The second salon, in 1942, had rare comments. In 1943, the “painter and soldier Bandeira”, as he was called by the press, attended the I April Salon of Fine Arts, organized by the State Union of Students in Fortaleza, and received bronze medal for exhibition at 9th Fine Arts Salon of São Paulo with the oil painting Nordeste (Cactus, according Roberto Pontual in Dictionary of Fine Arts in Brazil). At that time, the young artists of Ceará gathered in a small room, the community studio Artis, which worked under the leadership of Mario Baratta and João Siqueira. In III Ceará Painting Salon in 1944, Bandeira was awarded the gold medal by the work “Cena de Botequim” (“Bar Scene”). The CCFA ceased to exist in 1944 to give place to Fine Arts Society of Ceará (FASC) which had as first execution the exhibition “War Painting”, sponsored by National Defense League. This exhibition which was visited by the cultural attaché at French Embassy in Brazil, Raymond Warnier, Bandeira attended with 20 works.

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It was the beginning of a period of artistic renewal in Ceará whereupon, the coexistence among painters and writers resulted in the so-called Clan Group, formed by Aluízio Medeiros, Arthur Eduardo Benevides, Eduardo Campos, Otacílio Colares, Fran Martins Moreira Campos, Antônio Girão Barroso, Braga Monteiro, Mozart Soriano Aderaldo, and others.

He stayed in Paris for almost Five years. He attended the School of Fine Arts and La Grande Chaumière Academy, but did not adapt to the academic studies, so he left the institutions and started living with avant-garde artists, and this contact approached his work to Cubism and Fauvism. He joined the group of artists from the School of Paris. Studied drawing with Narbone and engraving with Calanis.

1945

Acquainted with the financial difficulties with the end of French scholarship and the support from Itamaraty, Bandeira managed to lean upon by selling his works. As he could not afford canvas, he made drawings and gouaches, and also painted ceramics. He earned money decorating the office of Commercial Expansion o Brazil in Paris. He could thus buy paints and brandy that he drank when attending regularly the cafes of Saint-Germain-des-Prés.

Jean Pierre Chabloz traveled to Rio de Janeiro and brought with him Antonio Bandeira, Aldemir Martins, Inimá de Paula, Francisco Domingos da Silva, called Chico da Silva (1922-1985) and Feitosa. At that time, the Polish writer and businessman Miércio Askanasy owned a bookstore in Rua Senador Dantas, where also held exhibitions. Thus in June 1945, the Askanasy Gallery, under the sponsorship of Ceará Club and the Association of French-Brazilian Culture of Rio de Janeiro, held an exhibition gathering works of artists from Ceará. It was in this historical exhibition that Raymond Warnier and French Studies Center in Rio acquired exhibited works of Bandeira, Inimá and Chabloz. This acquisition enabled the departure of Bandeira to France, and his recognition as one of the most respected Brazilian abstract painters. In October, Askanasy promoted a new group exhibition, this time less – 14 oil paintings by 7 painters: Bandeira, Inimá, Aldemir Martins, Iberê Camargo (1914-1994), Carlos Scliar (1920-2001), Z. Orlando and Paulo Pereira. Bandeira lived about one year in Rio: he lived in a room with Aldemir Martins between hammocks hanging in the walls. 1946/1950 His first solo exhibition was held at the headquarters of Architects Institute of Rio de Janeiro, under the sponsorship of Brazil-United States Institute with about 40 works including designs, watercolors, pastels and oil paintings. It was a period of great achievements for Bandeira: he was preparing to attend the 51st National Salon of Fine Arts and to go to Paris, to fulfill a two-year scholarship granted by the French government with the incentive of the cultural attaché of the embassy in Brazil. Finally, in April 1946, he left to France aboard of the freighter “Kemp T. Battle” along with the sculptor José Pedrosa (1915-2002), the writer and film critic Paulo Emilio Sales Gomes, and the curator of the National Museum of Fine Arts, Mario Baratta. Once there, a month later, they lived in the free accommodation of the City University, but Bandeira, despite the small amounts received from French and Brazilian governments, rent in QuartierLatin an area of two square meters that he turned into home and studio.

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He exhibited at Salon d’Automne in 1947, joining the painters Camille Bryen (1907-1977) and Wols, whose real name was Alfred Otto Wolfgang Schulze (1913-1951), with whom created the Banbryols Group (word created from one syllable of the last name of the three artists) one of the pioneer groups of European lyrical abstraction. The group did not have a program, it was more than a temporary association between three painter friends, and did not actually have concrete actions, but according to Michel Seuphor, the members attended a non-figurative exhibition in October 1948, named “La Rose desvents” in GaleriedesDeuxîlles, Paris. Thegroup broke up then with the return of Bandeira to Brazil, in 1950, and Wols’ death in 1951. This exhibition marks his joining to informal abstractionism. Bandeira is definitely integrated to the group of French painting of post-war period. Among his Brazilian friends of that period, artists, intellectual and people linked to the arts, stand out the cousins Luiz and Ruy Mesquita, Maria Fernanda, Ccilia Meireles’ daughter, Luis Carlos Mendonça and his wife Hélène, and the brothers Jorge and José Augusto Cesário Alvim. At the time of residence of Bandeira in Paris the Brazilian Consul was Jayme de Barros, a man sensitive to arts who promoted meetings between Brazilian artists such as the scupltors José Pedrosa and Alfredo Ceschiatti (1918-1989), and the painters Candido Portinari (19031962), Cícero Dias (1907-2003), Milton Dacosta (19151988), Clóvis Graciano (1907-1988), Carlos Scliar (19202001) and the writer Rubem Braga (1913-1990). To open Maison de l’Amérique Latine in 1948, Jayme de Barros promoted the “1st Painting Exhibition of Latin American Artists”, presenting the works of young Brazilian artists as Antonio Bandeira, Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Maria Martins (1900-1973), Cícero Dias (1907-2003), Athos Bulcão (1918-2008), among others.

In early 1948, the artist changed the mansard in rue Xavier Privas by a larger studio in rue Amiral Mouchez and later, in 1949, was living in the Hôtel Du Bonséjour. Bandeira attended the Salon d’Art Libre in 1948 and in 1949, the Salon de Mai. In 1949 he attended another group exhibition in Galerie de Deuxîlles – “Black and White” and, in 1950 presented his first solo exhibition in Paris, in Galerie du Siècle with the series landscapes, cities and trees, and a nativity. By this time he illustrated the book of poems Rive Étrangère by Ribeiro Couto. Still in 9149, Bandeira sent a painting – a nude, to be presented in April Salon, in Fortaleza.

book of poems The City: Suite of Love and Secret Hope of Homer Man with 14 illustrations made by him. In that same year he returned to Europe, this time to Italy, due to Prize Fiat di Torino, he got in II International Biennial of São Paulo, in 1953, which would attend again in 1955 and 1959.With a million Italian lire he got in Biennial he travelled throughout Italy knowing several cities such as Milan, Florence, Arezzo, Assisi, among others. From Rome he went to Venice where he attended the XXVII Biennial with three canvases, and then he lodged himself at Island of Capri. From there, he returned to France. 1955/1958

1951/1954 After the success of his first solo, already recognized, including invited to exhibit in Copenhagen, Bandeira close the activities in Parisian studio and returned to Brazil, aboard the ship Claude Bernard, coming for the first time after his departure to France in 1946. He stayed in the studio of José Pedrosa, where also worked Milton Dacosta. His first solo exhibition in the country happened in Modern Arts Museum of São Paulo, on April 1951. In July, this same exhibition, plus ten works, was presented in Brazilian Press Association – BPA, Rio de Janeiro. Bandeira then went to see again his friends and family in Ceará. At that time in Fortaleza, old and new artists friends took the chance to create the Independent Group, formed by João Maria Siqueira (1917-1997), Hermógenes Gomes da Silva (1920-1954), Mario Baratta, Ottoni Soares, Zenon Barreto (1918), Floriano Teixeira (1923-2000), Clidenor Capibaribe, called Barrica (1913-1993), Jonas Mesquita, Jairo Martins Bastos. In Fortaleza, he presented the solo exhibition in Brazil-United States Institute-BUSI showing 34 works. The news of the death of Wols, however, covered the joy of stay in homeland. Still in 1951, he attended and received a bronze medal in the modern section of National Salon of Modern Art in Rio, silver medal in painting in III Bahia Salon of Modern Art, Salvador, and from I Biennial of São Paulo. He received the Certificate of Exemption from Jury and the Award Travel to Country (which he gave up as he opted by the one which would take him to Italy) in I and II NSMA of 1952 and 1953, and in those same years, attended the Salon de Réalités Nouvelles, in Paris, alternative halls that housed avant-garde works at the time. He stayed in Brazil until 1954, making murals like the São Paulo section of Architects Institute of Brazil, and he had a single exhibition, for the second time, in São Paulo Museum of Modern Art. It is released the edition of the

From the first season in Paris, Bandeira will switch his life between Brazil and France. His artistic production already allows him to attend several salons in many countries, and exhibit individually. He exhibited works in Diderot Gallery, Paris and attended the exhibition IX Prize Lissone, Milan. He attended the III São Paulo Biennial with three works. This time, installed the studio in Montparnasse. At that time, were published the books Yellow Butterfly by Rubem Braga, to which he made the cover, and Pocket Guitar by Carlos Drummond de Andrade with a poem dedicated to the artist. Bandeira went to London t prepare his exhibition in Obelisk Gallery that showed 23 works, with great sales success. He held solo at the important Edouard Loeb Galley, Société d’Art Saint Germain-des-Prés, presenting 20 works among oil painting and gouaches; there expose Pablo Picasso (1908-1922), Max Ernst (1891-1976) and Maria Helene Vieira da Silva (1908-1992). In 1957 he exhibited individually in New York, at SeventyFive Gallery and attended Micro-Salon d’Avril Iris Clert in Paris along with Jean Arp (1887-1966), Bryen, Paul Klee (1879-1940), Picasso, and Victor Vassarely (1908-1997), among others. He also attended the exhibition Fifty Years of Abstract Painting, in Creuze Gallery in 1957, Paris. And the exhibition Brazilian Artists on same year, taken to the cities of Buenos Aires, Santiago, Lima and Caracas produced by Museum of Modern Art of Rio de Janeiro. In 1955s and 1958 he attended again the Salon de Réalités Nouvelles, in Paris. In 1958 he made a panel ordered by Brazilian Institute of Coffee for the Brazilian Hall of Fine Arts in Universal and International Exhibition of Brussels. After three months of absence, the Bandeira who returns to Paris is an enthusiastic with the good impact of his work, so that he will live near the Brazilian embassy in the Champs-Elysées.

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He attended, still in 1958, the Exhibition of International Contemporary Art, in Museum of Modern Art of Paris, and the 5th Salon of Fine Arts in Santos, being awarded with a silver medal. In São Paulo, he had about 50 gouaches presented in Ambiente Gallery. 1959/1961 He attended the Brazilian modern art exhibition in Munich, held by Museum of Art of Rio de Janeiro, along with Portinari, Lasar Segall (1891-1957), FransKrajcberg (1921), and others. He made illustration for the poem Loiseau-quin’existe-pas by Claude Aveline: a set of illustration of same poem by one hundred artists, exhibited on Museum of Modern Art of Paris. In September 1959, after five years in Europe, Bandeira arrived in Brazil, Rio de Janeiro. With a flat and studio in Paris and Rio, he intended to add Europe and Brazil, with breaks for the family in Fortaleza. He intended to stay only six months, but ended up staying for more five years. He had intense activities in Brazil: was invite to exhibit, ran the official salons and lived with artists, critics and writer. Invited by Lina Bo Bardi, he went to Bahia, in January 1960,for the opening exhibition of Museum of Modern Art of Salvador where he attended with 21 oil paintings and 10 gouaches, unpublished in Brazil, featuring as his first solo exhibition at the back to country. In June 1960, he opened exhibition in Museum of Modern Art of Rio de Janeiro, with 40 works, 29 oil paintings and 11 gouaches. He figures again in XXX Biennial of Venice. He exhibited in São Paulo, at São Luis Art Gallery, and in Buenos Aires, in the opening of Bonino Gallery, with 30 works: 20 oil paintings and 10 gouaches. Later the Bonino – Giovanna and Alfredo opened a gallery in Rio de Janeiro and were essential for the diffusion of Bandeira’s work. He released an album with five lithographs, text and poem of his own, Poemalhitos published by Bonino Gallery, already in Rio de Janeiro. Still in 1960, Bandeira appeared in the movie “Périphérie” where he acted with the actress Maria Fernanda, written and directed by Flávio Carvalho (1899-1973), and director of photography of Pietro Maria Bardi (1900-1999). The documentary was filmed in a favela in the city of São Paulo. In 1961, he exhibited, both individually and collectively, in several states of Brazil and abroad: In Grermany in the international exhibition of Aschaffenburg, In Rio de Janeiro, where he opened the Gead Gallery, In Brasilia, in the Exhibition of Brazilian Painting, in Salon of Modern Art of Curitiba. He attended the exhibition “International Choice – 20th Century Paintings and Sculpture”, in Kaplan

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Gallery, in London and Christmas exhibition in Barcinski Gallery, Rio de Janeiro, along with Manabu Mabe (19241997), José Pancetti (1902-1958), and Inimá de Paula. He was exempt from jury in VI International Biennial of São Paulo and exhibited in São Luis Gallery 35 gouaches. Still in 1961 he went to Fortaleza to the opening exhibition of Museum of Art of University of Ceará: MAUC had been opened in June with a group exhibition which he did not attend, but in July, he opened individually the museum exhibiting 33 works, including oil paintings, gouaches and ink drawings. For this opening exhibition of MAUC with Bandeira the Federal University of Ceará invited art critics as José Renato Teixeira Leite, Walmir Ayala, renowned writers and artists. The collection of MAUC is currently the most significant set of works of Antonio Bandeira. The museum holds permanent exhibition in a hall in his honor. Taking advantage of his stay in hometown, João Siqueira filmed the short film about the artist’s career. 1962 At that time, Bandeira lived in Copacabana. He exhibited at Bonino Gallery in a presentation fairly celebrated, both by critics and the press. And although there has not been a significant year in numbers, regarding the exhibitions, it was very important for the quality of his paintings. Dating back 1962 his more beautiful Cities and the fantastic work on Cathedral of Notre Dame. It was then that he takes again the blue, his favorite color, which he used since 1956. Between 1962 and 1964, Luiz Augusto Mendes filmed the short film on the artist and his work. In 1963, Bandeira was ranked among ten more vote artists for the exhibition Summary of Art of Jornal do Brasil, in which he was received a silver medal. The filmmaker Luís Augusto Mendes made the second short film: Bandeira in Copacabana. That year, Querino Gallery, in Salvador, presented 20 gouaches especially made for the exhibition. Bandeira organized the group exhibition “Eight artists of MAUC” with works by Aldemir Martins, Floriano Teixeira (1923-2000), Sérvulo Esmeraldo (1919), Nearco Araújo, Heloísa Ferreira Juaçaba (1926), Zenon Barreto, Nilo de Brito Firmeza, called Estrigas, (1919) and the artist himself, opene in Museum of Modern Art of Bahia. He also exhibited 36 new works in exhibition in MAUC. 1964 The artist showed works in exhibition in Tenreiro Gallery, attended along with Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Volpi, Pedrosa and Ceschiatti, Maria Leontina and Milton

Dacosta, among others, the exhibition The nude as theme In IBEU Gallery (Brazil United States Institute), Rio de Janeiro, and presented 20 oil paintings and 10 gouaches in Atrium Gallery, São Paulo. He attended XXXII Biennial of Venice in exhibition Today’s Art in Museum. With the coup that installed the dictatorship in the country, the painter who has switched his entire existence between Brazil and France, decided to return to Europe. To decorate his flat in Paris he took Brazilian objects, more specifically from Ceará to save Brazil beside him. He illustrated the poem Song for the saddest May by Manuel Bandeira. 1965/1966 Bandeira exhibited in the Best galleries and salons, receiving good reference from the art critics. He attended the exhibitions: Current Brazilian Art, in several cities in Europe, Artists from Brazil, in New York, L’Oeil de Boeuf, in Madrid, and Latin American Artists In Museum of Modern Art of Paris. He lived at that time in the flat of rue Sucouf, in Invalides. 1967 He died on October 6th, at 45 years old, victim of an anesthesia after a surgery on his vocal cords. He was buried in Paris and only 19 years later he was transferred to Brazil, in October 6th – same day of his death. Finally, two days later, the artist was buried in Fortaleza. ____________ Reproduced from the book “Antonio Bandeira 1922-1967” Edições Pinakotheke, 2006

“I never paint pictures. I try to make paintings.” Antonio Bandeira “Until the end of my days I’ll buy round-trip ticket. At the end I’ll take a coin to see which side runs the wind.” Antonio Bandeira “I suppose that all artistic creation is indispensible of large dose of lyricism, and I believe that this is nothing new, since the difference between the hand and the machine is remarkable, is the touch heat and the brain damned.” Antonio Bandeira “Well installed near the Seine I feel like I’m in Fortaleza. I don’t have the Copacabana sea, but I have the river (no pun).” Antonio Bandeira on a letter to José Condé, 1966. I think for the understanding of this work, this statement: “I never paint pictures. I try to make painting.” That means, the painting does not seem to him an independent reality, a structure that has its own laws, something that is built with specific elements. Painting is a state of mind that he overflows here and there, with no other purpose than to communicate a feeling, an emotion, a memory. Anyway, it is a transposition of beings, things, moments, tastes, smells that I live in the present, past and future. It is not something committed to the world – its struggles and tensions – it is a painting levitating over the world, inside his being. Despite the optimism of testimonials, exhales, in the work of Bandeira, a halo of loneliness, indefinite anguish. We can see this from the artist’s creative process itself. Stains, splashes, drips, little touches of the brush, the painting of Bandeira is not a finished world: the artist insinuates, alludes, suggests, it outlines colors or images that just sparkle, for a moment, like stars in the sky, like precious stones.” Frederico Morais “Bandeira is a revolutionary in art. He takes a luggage with notable things. His design has nothing polite, studied; it is spontaneous, free, audacious. The palette is never fixed, mutable as the subjects. What exists more in the work of Bandeira is poetry, and this yes, perennial. There is poetry in everything that comes from Bandeira.” Mario Baratta (Jornal O Estado, Fortaleza, 1945). “The painting of Bandeira is deeply lyrical. And the message communicates spontaneously, immediately, like some verses that seem obscure but, with no hesitation, no need of explanation, we feel in its deep beauty. Now master of a safe technique, owner of an enviable freedom, the artist from Ceará exhibits again to our people the same personality that success in Paris and London did not disturb.” Sergio Millet

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POEMS BY ANTONIO BANDEiRA

CENTRO CULTURAL CORREIOS

SURREALISM

ARTISTIC POEM

Departamento de Gestão Cultural/Department of Cultural Management – Brasília Chefe de Departamento/Department Chair Romulo Vale Salvino Gerente Executiva/Executive Manager Larissa Gauch Gomes Viana

In an afternoon of wistful beauty when my eyes were more wistful my brain more flawed and my body needed more rest I went out around the world carrying sadness.

Painting I’ll spread out the world All my observer soul I’ll show people my tears And also the suffering ones. I’ll seek prostitutes in alleys To show the world the great pain. I’ll go up to the distant hills And will treat there the haze and misery. I’ll seek the half-dead soldier And will teach the world the pain of hatred And compassion for humanity. Over the corpses I’ll pour out flowers and perfume and nausea I’ll make people feel. I’ll twinkle the sad eyes of the innocent Making him to start the right way And I’ll redeem myself from my sins Finding in art the abode of God.

I’ve been flying in the space and entangled over the mountains for my sins vanished. I bumped into the desert with bullets hissing on my face and when the sun tumbled I marched to the big shape attracted by a stone smile the Sphinx of Gizeh became a woman and embraced me with tenderness. So far I found Love!

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NOCTURNE

CUBISM

The moon doing background look at the owl at the black tree laughing at the humanity I in the middle of the dark night Crying of the humanity And among the larger flowers Looking for my love To hide her from the world The dead soldier wanders in the dark night And rises to the space Scared of the owl smile. White, pale, cold, The sailor floats in the middle of the sea Because he did not find the rock And did not see the reflection of the lighthouse. I run scared Seeking salvation That neither death gives me While the owl smiles in the eternal night.

The world is confused The world is a broken square The geography claims it to be round. I feel it square Breaking in angles, I lost in the middle Confused, broken with nothing to understand. Soldiers play bugle Among the shards of the world I1m crazy, crazy Interlacing in the angles. Angled women go From man to man Offering, breaking. I run crazy, crazy Hurting me at the edges Of the World.

Centro Cultural Correios – Rio de Janeiro Gerente/Manager Marcelle Pithon Assessor Técnico/Technical Advisor Nelson de Andrade Júnior Operação de Eventos/Event Operation Lindalva Melo Viana Marmelo Manutenção e Conservação/Maintenance and Conservation Roberto Sidney Brandes Divulgação Institucional/Institutional Disclosure Maria José Cardoso Acompanhamento da programação/Schedule follow-up Mária Lúcia Machado Guimarães Bugarin EXPOSIçãO/EXHIBIT Curadoria/Curator Marcus de Lontra Costa Coordenação Geral e Projeto/Executive Coordinator and Project Manager Anderson Eleotério Produção/Production Izabel Ferreira Programação Visual/Art Direction Leandro Teixeira - leobug.com Iluminação/Lighting Antonio Mendel – Espaço-Luz, Iluminação em Artes Assessoria de Imprensa/Press Office Raquel Silva Design de Montagem/Exhibition Designer Anderson Eleotério Museologia/Museology Camila de Souza Cardoso Montagem/Art Mounting Alessander Batista, Moises Barbosa Sinalização/Signs Comvix Comunicação Visual Projeto Educativo/Educational Project Bernardo Domingos de Almeida Mediação Educativa/Educational Mediation Gilson Maia, Michelle Aguieiras, Karla Carvalho, Wilson Brito Vídeos/Videos - O Colecionador de Crepúsculos, 1961 Direção/Director João Siqueira - Antonio Bandeira - Pintor e Poeta, 2011 Produção/Production TV Assembléia Ceará - Antonio Bandeira, 1970 Produção e Direção/Production and Direction Renato Neumann Cessão Originais/Original Rights CTAv/SAv/MinC Telecinagem/Telecine Video Shack Laboratório Assistente de Curadoria/Curator Assistant Luiz Otávio Zampar Assistentes de Produção/Production Assistant Daniel Barros, Rodrigo Caetano Molduras/Frames Isonete Porto Molduras Seguro/Insurance Pro Affinite – ACE Seguradora Transporte/Transportation ArtQuality International Fine Arts Produção Executiva/Executive Production ADUPLA Produção Cultural Ltda. - adupla.net Apoio/Support Centro Cultural Correios Patrocínio/Sponsor Correios - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos CATÁLOgO/CATALOg Organização/Organization Anderson Eleotério, Izabel Ferreira Produção Editorial/Editorial Production Raquel Silva Texto/Texts Marcus de Lontra Costa, Alvaro Seixas, Antonio Bandeira, Frederico Morais, Mario Baratta, Sergio Millet Design Gráfico/Graphic Design Leandro Teixeira - leobug.com Fotos/Photographer Renan Cepeda Revisão e Versão Inglês/Proof Reading and English Version Rosângela Barbieri Exposição de 08 de maio a 09 de junho de 2013 Terça-feira a Domingo, das 12h às 19h. Entrada Franca Centro Cultural Correios Rua Visconde de Itaboraí, 20 Centro 20010-976 - Rio de Janeiro - RJ Tel.: (21) 2253-1580

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AgRADECIMENTOS/ACKNOWLEDgEMENTS Bandeira Lima, Cleide Silva dos Santos, Francisco Antonio Araújo Bandeira, Francisco José Araújo Bandeira, Lucia Bandeira, Maria Araújo Bandeira, Nilson Madeiro Bandeira. Bolsa de Arte, Célio Pinto de Almeida, Coleção Roberto Marinho, Cristiano Fonseca, Eugenio Pacelli Pires dos Santos, João Roberto Marinho, Joel Coelho de Souza, Jones Bergamin, Jorge Rezende, José Roberto Marinho, Luiz Antonio de Almeida Braga, Márcio Gobbi, Marta e Márcio Lobão, Max Perlingeiro, Miguel Pires, Pinakoteke Cultural, Roberto Irineu Marinho, Ronaldo Cezar Coelho. Carlos Alberto Chateaubriand, Claudia Calaça, Gilberto Chateaubriand, Leila Martinusso, Luiz Camillo Osório, MAM – RJ, Marcelle Pithon, Maria Cristina Burlamaqui, Maria Cristina de Almeida Araujo, Mariana de Menezes Neumann, Museu de Arte Universidade Federal do Ceará, Rosângela Sodré, Sylvia Beczkowski.

Antonio Bandeira, da razão à sensibilidade. Texto: Marcus de Lontra Costa / Alvaro Seixas; versão para o inglês: Rosângela Barbieri; Fotografias: Renan Cepeda. Rio de Janeiro, Centro Cultural Correios/ Adupla, 2013. 108 p. Il. color. 27cm ISBN 978-85-64507-08-1 Catálogo da exposição Antonio Bandeira, da razão à sensibilidade, realizada no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, de 08 de maio a 09 de junho de 2013. Inclui cronologia ilustrada. 1. Pintura brasileira – exposições. 2. Antonio Bandeira, 1922-1967. 3. Pintores – Brasil. 4. Lontra, Marcus. I. Centro Cultural Correios Rio de Janeiro

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Este livro foi produzido em Maio de 2013, textos em Avenir LT Std, impressão CTP e acabamento: Gráfica Positiva. Papel couché matte 170g/m2 (miolo), cartão Duo Design 350g/m2 (capa). Tiragem: 1000 unidades.


DISTRIBUIÇÃO GRATUITA/COMERCIALIZAÇÃO PROIBIDA

- VAMOS PRESERVAR O MEIO AMBIENTE


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