Farnese de Andrade arqueologia existencial curadoria: Marcus de Lontra Costa
26 de novembro de 2014 a 11 de janeiro de 2015
CAIXA Cultural BrasĂlia
Presidenta da República
Dilma Vana Rousseff Ministro da Fazenda
Guido Mantega Presidente da Caixa Econômica Federal
Jorge Fontes Hereda
______________________________________________________________ Andrade, Farnese de, 1926-1996 Farnese de Andrade - Arqueologia Existencial. Curadoria e Texto: Marcus de Lontra Costa; versão para o inglês: Rosângela Barbieri. - Brasília, CAIXA Cultural / ADUPLA, 2014. 64 p. Il. color. 21cm ISBN 978-85-64507-10-4 Catálogo da exposição Farnese de Andrade - Arqueologia Existencial, realizada na CAIXA Cultural Brasília, de 26 de novembro de 2014 a 11 de janeiro de 2015. 1. Farnese de Andrade, 1926-1996. - Exposições. 2. Arte Brasileira - Séc. XX. 3. Costa, Marcus de Lontra I. CAIXA Cultural Brasília. II. Título. ______________________________________________________________
A CAIXA é uma empresa pública brasileira que prima pelo respeito à diversidade, e mantém comitês internos atuantes para promover entre os seus empregados campanhas, programas e ações voltados para disseminar idéias, conhecimentos e atitudes de respeito e tolerância à diversidade de gênero, raça, orientação sexual e todas as demais diferenças que caracterizam a sociedade. A CAIXA também é uma das principais patrocinadoras da cultura brasileira, e destina, anualmente, mais de R$ 60 milhões de seu orçamento para patrocínio a projetos culturais em espaços próprios e espaços de terceiros, com mais ênfase para exposições de artes visuais, peças de teatro, espetáculos de dança, shows musicais, festivais de teatro e dança em todo o território nacional, e artesanato brasileiro. Os projetos patrocinados são selecionados via edital público, uma opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível a participação de produtores e artistas de todas as unidades da federação, e mais transparente para a sociedade o investimento dos recursos da empresa em patrocínio. Esta exposição apresenta um conjunto de obras do artista Farnese de Andrade pertencentes a coleções particulares e a herdeiros do artista. Com curadoria de Marcus Lontra, a mostra mapeia sua produção artística ao longo de mais de 30 anos. Conta com assemblages e objetos criados pelo artista mineiro e que representam sua linguagem singular e auto-biográfica. Farnese expressa em sua obra, traços de sua personalidade, passando por diferentes fases artísticas, indo das memórias afetivas da infância ao seu periodo mais transgressor. Desta maneira, a CAIXA contribui para promover e difundir a cultura nacional e retribui à sociedade brasileira a confiança e o apoio recebidos ao longo de seus 153 anos de atuação no país, e de efetiva parceria no desenvolvimento das nossas cidades. Para a CAIXA, a vida pede mais que um banco. Pede investimento e participação efetiva no presente, compromisso com o futuro do país, e criatividade para conquistar os melhores resultados para o povo brasileiro. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
CAIXA is a Brazilian public company that excels for respect for diversity, and maintains active internal committees to promote among its employees campaigns, programs and actions aimed to disseminate ideas, knowledge and attitudes of respect and tolerance for diversity of gender, race, sexual orientation and all other differences that characterize the society. CAIXA is also one of the main sponsors of Brazilian culture, and intended annually over R$ 60 million from budget for sponsoring cultural projects in its own spaces and other spaces, with more emphasis on visual arts, theatre plays, dance show, music concerts, theatre and dance festival throughout the national territory, and Brazilian handicrafts. Sponsored projects are selected through public bidding, a choice of CAIXA to make the participation of producers and artists of all units of the federation more democratic and accessible, and more clear for the society the company resources in sponsorship. This exhibition presents a series of works of artist Farnese de Andrade belonging to private collection and the artist heirs. Curated by Marcus Lontra, the exhibition shows his artistic production for over 30 years. Counts on the assemblages and objects created by the artist from Minas Gerais also representing his unique and autobiographical language. Farnese express in his works, traces of his personality, going through different artistic phases, from affective memories of childhood to his most transgressing period. Thus, CAIXA helps to promote and disseminate national culture and returns to the Brazilian society the trust and support received throughout its 153 years of operation in the country and effecive partnership in the development of our cities. For CAIXA, life requests more than a bank. Requests investment and effective participation in present, commitment to the future of the country, and creativity to achive the best results for the Brazilian people. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
AS INSTÂNCIAS PRISIONEIRAS DO SER “Eu vi em sua mão uma longa lança de ouro e, na ponta, o que parecia ser uma pequena chama. Ele parecia, para mim, estar lançando-a por vezes no meu coração e perfurando minhas entranhas; quando ele a puxava de volta, parecia levá-las junto também, deixando-me inflamada com um grande amor de Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer; e, apesar de ser tão avassaladora a doçura desta dor excessiva, não conseguia desejar que ela acabasse...” Santa Teresa D’Ávila
“Eu não sou Jesus de Nazaré, nem outro Deus criado pelos homens... Sou anterior aos deuses transitórios; eles dentro em mim nascem; dentro em mim duram; dentro em mim se transformam, dentro em mim se dissolvem (...). Chamo-me a Consciência, sou neste instante a sua própria Consciência refletida fora de ti...” Eça de Queiroz, “A Relíquia”. No município espanhol de Alba de Tormes, há um sepulcro com as relíquias de Santa Teresa D’Avila, a freira que, imbuída do misticismo cristão, escreveu textos que dramatizam visceralmente o seu contato com Deus. Duas das relíquias chamam a atenção: os ossos do braço da santa escritora, vestido numa espécie de armadura transparente e o coração, colocado cuidadosamente numa cápsula de vidro, protegido por uma estrutura ricamente decorada. Eram tempos de reforma religiosa e era fundamental para a Igreja que esses objetos representassem o caráter imortal e intangível de suas figuras santas. “Senhor, ou me deixe sofrer ou me deixe morrer”, este é o lema mortificante da Santa, traduzido na obra-prima de Bernini, “O Êxtase de Santa Teresa”, talvez a mais impactante escultura do Barroco, que representa de forma mágica, que na substância rígida do mármore, o conflito entre o prazer carnal e espiritual de Santa Teresa em suas visões divinas. Quando os restos de um santo eram convertidos em relíquia, havia um sentido simbólico para essa ação, que era o de representar a sua incorruptibilidade, algo que Bernini tratou de desrespeitar. A estratégia de Bernini justifica a ação de Farnese de Andrade, na qual as produções de objetos enaltecem e provocam as verdades da fé. Ao mesmo tempo em que tornam imortais as ideias de arte e de cultura nacional eles trazem consigo de
maneira inteligentemente conflituosa a dessacralização desses conceitos. Mais ainda eles são capazes de revelar segredos profundos da psique do artista mas também persiste neles alguma coisa obscura, intransponível, misteriosa, permanente dialética. As obras de Farnese articulam habilidosamente a tradição, seja barroca, romântica ou simbolista, com elementos regionalistas, populares, pessoais e mesmo com lições oriundas das chamadas vanguardas negativas, como o Dadaísmo e o Surrealismo. Suas obras são confissões, que emergem das profundezas de uma alma que presta devoção a uma realidade artística nacional da qual ela própria foi por vezes excomungada, já que a sua essência contrasta com um projeto abstracionista, construtivo e de essência positivista, que imbuiu nossa arte durante décadas e que ainda dá forma aos trabalhos de muitos artistas e dita o pensamento de uma parcela considerável da crítica acadêmica de arte. Farnese dá continuidade às investigações de artistas que lançaram ou desdobraram conceitos como “objeto” e “assemblage”, forjados, em grande parte, no lado obscuro do modernismo, do qual fazem parte nomes como Raoul Haussmann, Joseph Cornell, Jean Dubuffet e, mesmo, Marcel Duchamp. Mas, se notamos nas obras de alguns desses artistas, em especial nas dos pertencentes ao círculo dadaísta, a veemente negação do sentido único, em Farnese detectamos elementos narrativos e dados autobiográficos palpáveis, que remetem às cores e texturas da paisagem de Minas Gerais, aos oratórios do Barroco tropical dessa região, à tradição dos ex-votos do interior do Brasil, aos utensílios típicos do nosso país, como as gamelas, e à sexualidade, “mitológica” e conflituosa, do artista. Seus objetos, além de relíquias dessacralizantes e “objetos” artísticos da tradição artística moderna e contemporânea, também podem ser vistos como peças de um gabinete de curiosidades existencial e penitente, que acolhe itens oriundos não apenas de antiquários, de depósitos de madeiras de demolição e dos lixões urbanos, mas também das angústias, dúvidas pessoais e sentimentos contraditórios do próprio artista. Muitos de seus trabalhos, por exemplo, trazem restos de bonecas de plástico congeladas em blocos de resina ou de poliéster. Essas “crianças”, mutiladas” e “mortas”, parecem representações das próprias castrações de Farnese – falecimentos simbolicamente intra uterinos. São passados e futuros não vividos, sentimentos negados, paixões destroçadas e vontades enclausuradas dentro de si próprio pelo artista. São vestígios e fantasmas de existências não concretizadas, memórias falsas, que sobrevivem apenas como visões ficcionais, muitas vezes grotescas, opressoras e dolorosas, mas igualmente sedutoras, já que seus materiais jogam com uma diversidade de substâncias, texturas e sensações, como nas melhores obras barrocas.
Entre as múltiplas e variadas leituras que a vasta e incrivelmente densa produção de Farnese de Andrade oferece a curadores e pesquisadores de arte, optou-se por uma permanência da figura humana em seus aspectos quase sempre tementes, tensos e tenebrosos. O Ser humano diante de seus fantasmas, de suas correntes prisioneiras, o sexo e a castração, a religião e a culpa, a vida e a violência, o equilíbrio da razão diante da vertigem da loucura. E, porque não, ou talvez, como utopia e como desespero, quem sabe como redenção, a arte como exercício permanente de transgressão e liberdade. Assim o conjunto significativo de obras de Farnese reunido nessa mostra se estrutura como um misterioso corredor de imagens conflituosas que dialogam a partir de uma sucessão de imagens recortadas e dobradas como fragmentos poéticos do pensamento do artista. Em sua corajosa empreitada, Farnese foi responsável por abrir caminho para as obras viscerais e/ou românticas de uma geração de artistas que inclui Tunga, Leonilson, Ângelo Venosa e Adriana Varejão, todos eles nomes que trazem para a arte brasileira um apelo figurativo, simbólico e um grande vigor orgânico, elementos que sempre se mostraram fundamentais no pensamento e ação do artista. Muito mais do que meros espectadores o confronto com obras da densidade poética de Farnese permite que nos reencontremos com nossas próprias crises, neuroses e castrações. Poucos artistas são valentes ao ponto de abrir as suas próprias entranhas emocionais, para que nela possamos encontrar não apenas sofrimento, mas também a possibilidade de expurgar as angústias individuais e, quem sabe construir a partir daí o palco para uma curiosa e bela comunhão. Marcus de Lontra Costa
THE PRISONERS INSTANCES OF BEING “I saw in his hands a long spear of gold and, in the end, what seemed to be a small flame. He seemed to me to be throwing at times into my heart and punching my bowels; when he pulled it back it seemed to take them along to, letting me sore with a great love of God. The pain was so great that it made me moan; and, despite being so overwhelming the sweetness of this excessive pain, I could not wish for it to finish...” Santa Teresa D’Ávila
“I’m not Jesus of Nazareth, or other God created by men... I’m prior to transient gods; they are born within me; within me they last; within me they transform; within me they dissolve (...). I am Conciousness, I am at this moment your own conciousness reflected outside yourself...” Eça de Queiroz, “A Relíquia”. In the Spanish city of Alba de Tormes, there is a tomb with the relics of St. Teresa of Avila, the nun that, imbued with Christian mysticism, wrote texts that viscerally dramatize her contact with God. Two relics draw attention: the bones of the holy author arm, dressed in a kind of transparent armour and the heart, placed carefully in a glass capsule, protected by a richly decorated structure. It was time of religious reform and it was vital to the church that those objects represented the immortal and intangible character of the holy figures. “Lord, either let me suffer or let me die”, this is the device of mortifying Saint, translated in the masterwork of Bernini, “The Ecstasy of St. Teresa”, perhaps the most stunning sculpture of Baroque, that magically represents, in the rigid marble substance, the conflict between spiritual and carnal pleasure of Santa Teresa on her divine visions. When the remains of a saint were converted into relics, there was a symbolic meaning for this action, which was to represent his incorruptibility, something that Bernini disrespected. The strategy of Bernini justifies the action of Farnese de Andrade, in which production of objects exalts and arouses the truth of faith. While they become immortal ideas of art and national culture they bring with them intelligently confrontational way to
desecration of these concepts. Furthermore they are able to reveal deep secrets of the psyche of the artist, but also something obscure, impenetrable, mysterious, ongoing dialectic persist in them. The works of Farnese skillfully articulate the tradition, whether baroque, romantic or symbolist, with regionalist, popular, personal elements and even with lessons from the so-called negative vanguards, such as Dadaism and Surrealism. His works are confessions, that emerge from the depths of a soul that provides devotion to a national artistic reality which was sometimes excommunicated itself, since its essence contrasts with an abstractionist, constructive and positivist essence project, that imbued our art for decade and still shapes the work of many artists and dictates the thought of a considerable portion of academic art criticism. Farnese continues the investigation of artists who have launched or deployed concepts like “object” and “assemblage”, forged, in large part, on the dark side of modernism, which comprises names such as Raoul Haussmann, Joseph Cornell, Jean Dubuffet and, even, Marcel Duchamp. But, if we notice in the works of some of these artists, especially in those belonging to the Dadaist circle, the vehement denial of the one-way meaning, in Farnese we detect narrative elements and tangible autobiographical data, which refer to the colour and texture of the landscape of Minas Gerais, to oratory of the tropical Baroque of this region, the tradition of the ex-votes in the countryside of Brazil, the typical tools of our country, such as trough, “mythological” and conflicting sexuality of the artist. His objects, besides demystifing relics and artistic “objects” of modern and contemporary artistic tradition, can also be seen as parts of a cabinet of existential and penitent curiosities that also receives items arising not only from antique shop, depots of demolition wood and from city landfills, but also the anxieties, self-doubts and mixed feelings of the artist himself. Many of his works, for example, bring leftover plastic dolls frozen in blocs of resin or polyester. These “children”, “maimed” and “dead” seem representation of Farnese own castrations – symbolically intra uterine deaths. They are past and future not experienced, denied feelings, shattered passions and desires cloistered inside himself by the artist. They are traces and ghosts of unrealized existence, false memories, that survive only as fictional visions, often grotesque, opressive and painful, but also enchantress, since his materials play with a variety of substances, textures and sensations, as in the best Baroque works.
Among the multiple and varied readings that the vast and incredibly dense production of Farnese de Andrade offers to curators and art researches, we opted for a stay of the human figure in its almost always fearful, tense and dark aspects. The human being before his ghosts, his prisoner chains, sex and castration, religion and guilt, life and violence, the balance of the reason before the vertigo of madness. And, why not, or perhaps, as utopia and desperation, who knows as redemption, art as a permanent practice of transgression and freedom. Thus, the significant collection of works of Farnese gathered in this exhibition is structured as a mysterious corridor of conflicting images that dialogue from a sequence of images cropped and folded as poetic fragments of the thoughts of the artist. In his courageous endeavor, Farnese was responsible for opening the way to the visceral and/or romantic works of a generation of artists that includes Tunga, Leonilson, Ă‚ngelo Venosa and Adriana VarejĂŁo, all of them are names that bring to the Brazilian art a figurative, symbolic appeal and a large organic energy, elements that have always been fundamental in the thought and action of the artist. Much more than mere spectators the confrontation with works of poetic density of Farnese allows us to reacquaint ourselves with our own crises, neurosis and castrations. Few artists are brave to the point of opening their own emotional bowels, so that we can find not only suffering, but also the possibility of purging the individual distress and, hopefully build from there the stage for a curious and beautiful communion. Marcus de Lontra Costa
O SER Mas o que fazer, se toda a energia se revela numa série de imagens assustadas, mortes, misérias, pavores. E os olhos, perigosas testemunhas, cortam-te em pedaços, trapos de loucura.
O DESCONHECIDO Mas o que fazer, se todo o pensamento se reprime numa sucessão de culpas e pavores, espelho do humano. E as bocas, perigosas testemunhas, reprimem a tua voz, fragmentos da lembrança.
O IMPULSO Mas o que fazer, se toda a matéria explode como um dique reprimido, explosiva cascata de desejos. E os corpos, perigosas testemunhas, torturam a tua geografia, farrapos da luxúria.
O ENCONTRO Mas o que fazer, se todo o objeto se organiza na construção de uma nova realidade, carregada de beleza. E as almas, perigosas testemunhas, abraçam a sua história, pedaços de liberdade.
THE BEING But what to do if all energy reveals in series of frightened images, deaths, miseries, fears. And the eyes, dangerous witnesses, cut you up into pieces, rag of madness.
THE UNKNOWN But what to do if the whole thought represses in a succession of faults and fears, human mirror. And the mouths, dangerous witnesses, repress your voice, fragments of memory.
THE IMPULSE But what to do if the whole matter explodes like a repressed dam, explosive cascate of desire. And the bodies, dangerous witnesses, torture your geography, shreds of luts.
THE MEETING But what to do if the whole object organizes in the creation of a new reality, plenty of beauty. And souls, dangerous witnesses, embrace its story, pieces of liberty.
Sem título, 1996 Assemblage, 78 x 32 x 31 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
22
Brasil, 1994 Assemblage, 103 x 43 x 53 cm Coleção Fernanda Feitosa e Heitor Martins, São Paulo
23
Sem título, 1995 Assemblage, 120 x 68 x 54 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
24
Cadeira Prensa, 1995 Assemblage, 68,5 x 42 x 44 cm Coleção Atabalipa de Andrade Filho, Rio de Janeiro
25
Tudo continua sempre, 1974-1984 Assemblage, 154 x 60 x 39 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
26
O Santo e a luta, 1986 Assemblage, 152 x 43 x 43 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
27
Alquímico, 1994 Assemblage, 128 x 34 x 34 cm Coleção Stutzer, São Paulo
28
Todo homem deveria ser aquilo que parece. William Shakespeare
Men should be what they seem.
Casal com filho, 1983 Assemblage, 37,5 x 56,5 x 21 cm Coleção particular, Rio de Janeiro
30
Pecado original, 1993 Assemblage, 52 x 50 x 24 cm Coleção Stutzer, São Paulo
31
O Ser (being), 1986-1994 Assemblage, 36 x 30 x 12 cm Coleção Stutzer, São Paulo
32
Mater, 1990 Assemblage, 42 x 27 x 9,5 cm Coleção Stutzer, São Paulo
The human being – o Ser, 1976-1991 Assemblage, 67 x 44,5 x 2 cm Coleção Stutzer, São Paulo
Anunciação, s.d. Assemblage, 20 x 30 x 6 cm Coleção Atabalipa de Andrade Filho, Rio de Janeiro
33
O Santo, 1994 Assemblage, 39 x 22 x 23 cm Coleção Stutzer, São Paulo
34
Anunciação, 1982 Assemblage, 73 x 62 x 35 cm Coleção Stutzer, São Paulo
35
Tábua, 1994 Assemblage, 40 x 3 x 60 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
36
Medéia, 1994 Assemblage, 65 x 45 x 10 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
A grande alegria, 1966-1978 Assemblage, 70 x 69 x 15 cm Coleção Fernanda Feitosa e Heitor Martins, São Paulo
37
Still life, 1995 Assemblage, 60 x 27 x 13 cm Coleção Stutzer, São Paulo
38
Andrógino, 1976 Assemblage, 50 x 30 x 22 cm Coleção Fernanda Feitosa e Heitor Martins, São Paulo
Sem título, 1993 Assemblage, 24 x 29,5 x 29,5 cm Coleção Stutzer, São Paulo
39
Longínquo por essência inacessível. É essencial, com efeito, que à imagem que serve ao culto não se possa ter acesso. Walter Benjamin Far by inaccessible essence. It is essential, in effect, that the image that serves to worship cannot be accessed.
Você, ele e eu, s.d. Assemblage, 46 x 27,5 x 72 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
41
Sem título (flagelado), 1987 Assemblage, 70 x 35 x 20 cm Coleção Stutzer, São Paulo
42
O Pensamento, 1976/80 Assemblage, 104 x 51 x 37 cm Coleção Fernanda Feitosa e Heitor Martins, São Paulo
43
3 pensamentos, 1973-1981 Assemblage, 75 x 50,5 x 39 cm Coleção Stutzer, São Paulo
44
Os Gêmeos, 1977-1995 Assemblage, 65 x 48 x 30 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
45
Sem título, 1993 Assemblage, 34 x 22 x 14,5 cm Coleção Stutzer, São Paulo
46
Minas 4, 1978 Assemblage, 67,5 x 39 x 27 cm Coleção Stutzer, São Paulo
47
O Anjo, 1995 Assemblage, 43 x 34 x 19 cm Coleção Fernanda Feitosa e Heitor Martins, São Paulo
48
Tudo continua sempre, 1974 Assemblage, 81 x 45 x 22 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
49
Discurso, 1994 Assemblage, 27 x 13 x 30 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
50
Sem título, 1996 Assemblage, 48 x 27,5 x 65 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
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É crua a vida. Alça de tripa e metal. Nela despenco: pedra mórula ferida. É crua e dura a vida. Como um naco de víbora. Como-a no livor da língua, Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me. No estreito pouco, do meu corpo, Lavo as vigas dos ossos, minha vida. Tua unha plúmbea, meu casaco rosso. E perambulamos de coturno pela rua, Rubras, góticas, altas de corpo e copos. A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos. E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima. Olho d’água, bebida. A vida é líquida. Hilda Hilst
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Life is raw. Casing and metal handle. In it I fall: morula wound stone. Life is raw and hard. Like a loaf of viber. As in the livor language, Ink, wash up the forearms, Life, I wash myself In the little narrow, of my body, I wash the beams of the bones, my life. Your leaden nail, my rosso jacket. And wandered with boots in the street Scarlet, gothic, tall in body and glasses. Life is raw. Starved like beak ravens. And it can be so generous and mythical: stream, tear. Waterhole, drink. Life is liquid.
Primeira Comunh達o, 1994 Assemblage, 44 x 32 x 20 cm Cole巽達o Dominga Gomes Barbosa, S達o Paulo
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Sem título, 1972 Assemblage, 80 x 27,5 x 11 cm Coleção Diógenes Paixão, Rio de Janeiro
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Eva, 1995 Assemblage, 120 x 70 x 13 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
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Vem dos vales a voz. Do poço. Dos penhascos. Vem funda e fria. Amolecida e terna, anêmonas que vi: Corfu. No mar Egeu. Em Creta. Vem revestida às vezes de aspereza. Vem com brilhos de dor e madrepérola. Mas ressoa cruel e abjeta. Se me proponho ouvir. Vem do Nada. Dos vínculos desfeitos. Vem do Nada. Dos vínculos desfeitos. Vem dos ressentimentos. E sibilante e lisa. Se faz paixão, serpente, e nos habita. Hilda Hilst The voice comes from the valleys. From the well. From the cliffs. It comes deep and cold. Softened and tender, anemones that I saw: Corfu. In the Aegean Sea. In Crete. Comes coated, sometimes harshness. Comes with gleams of pain and pearl. But it resonates cruel and abject. If I propose myself to listen. Comes from Nothing. From broken links. Comes from Nothing. From broken links. Comes from resentment. And sibilant and smooth. Becomes passion, snake, and live in us.
Viemos do Mar, s.d. Resina, 26 x 37 x 37 cm Coleção Fernanda Feitosa e Heitor Martins, São Paulo
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Sem título, 1984 Assemblage, 30 x 12,5 x 12,5 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
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Sem título, 1996 Assemblage, 24 x 34 x 28 cm Coleção Sebastião Aires de Abreu, Goiânia
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Sem titulo, 1979 Assemblage, 22 x 14 x 5 cm Coleção Stutzer, São Paulo
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Doum, 1988 Resina, 37 x 18 x 15 cm Coleção Diógenes Paixão, Rio de Janeiro
Sem título, 1978 Resina, 50 x 17 x 15 cm Coleção Diógenes Paixão, Rio de Janeiro
Sem título, 1978 Resina, 50 x 17 x 15 cm Coleção Diógenes Paixão, Rio de Janeiro
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Como me sinto? Como se colocassem dois olhos sobre uma mesa e dissessem a mim, a mim que sou cego: isso é aquilo que vê, essa é a matéria que vê. Toco os dois olhos sobre a mesa, lisos, tépidos ainda, arrancaram há pouco, gelatinosos, mas não vejo o ver. É assim o que sinto tentando materializar na narrativa a convulsão do meu espírito, e desbocado e cruel, manchado de tintas, essas pardas escuras do não saber dizer, tento amputado conhecer o passo, cego conhecer a luz, ausente de braços tento te abraçar. Hilda Hilst How do I feel? As if to put two eyes on a table and said to me, who is blind: this is what is seen, this is the matter that sees. I touch the two eyes on the table, smooth, warm yet, just plucked, jelly, but do not see the view. This is how I feel trying to materialize in the narrative the seizure of my spirit, and foul-mouthed and cruel, spotted paint, dark brown not knowing how to say, try amputated to know the step, blind to know the light, with no arms try to embrace you.
Still life, 1996 Assemblage, 40,5 x 82 x 18,5 cm Coleção Stutzer, São Paulo
Luto, 1992 Assemblage, 14 x 43 x 20,5 cm Coleção Stutzer, São Paulo
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Lembranças de Cambuquira, 1994 Assemblage, 25 x 21 x 14 cm Coleção Stutzer, São Paulo
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Homo 4, 1995 Assemblage, 21 x 43,5 x 22 cm Coleção Stutzer, São Paulo
Estádio, 1978 Assemblage, 68 x 34 x 16 cm Coleção Diógenes Paixão, Rio de Janeiro
Homo, 1978-1982 Escultura em madeira, 72 x 48 x 34 cm Coleção Dominga Gomes Barbosa, São Paulo
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Sem título, 1982-1995 Assemblage, 51 x 58 x 17 cm Coleção Stutzer, São Paulo
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O casamento, 1982 Assemblage, 54 x 57 x 15 cm Coleção Diógenes Paixão, Rio de Janeiro
Hiroshima, 1972/92 Assemblage, 34 x 29 x 10 cm Coleção Stutzer, São Paulo
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Sem título, s.d. Assemblage, 50 x 45 x 15 cm Coleção Atabalipa de Andrade Filho, Rio de Janeiro
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Sem título, s.d. Assemblage, 22 x 22 x 50 cm Coleção Atabalipa de Andrade Filho, Rio de Janeiro
Pater, 1992-1995 Assemblage, 48 x 32,5 x 11 cm Coleção Stutzer, São Paulo
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Sem título, s.d. Assemblage, 38,5 x 14 x 21,5 cm Coleção Atabalipa de Andrade Filho, Rio de Janeiro
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Sem título, 1964-1971 Assemblage, 46 x 12 x 12,5 cm Coleção particular, Rio de Janeiro
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HĂĄ sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofres, trancados atĂŠ o nosso fim. E por isso passĂveis de serem sonhados a vida inteira. Hilda Hilst There are dreams that must remain in the drawers, in the vaults, locked up till our end. And so that could be dreamed during the whole life.
EXPOSIÇÃO EXHIBIT Curadoria Curatorship Marcus de Lontra Costa Coordenação Geral General Coordination Anderson Eleotério Produção Production Izabel Ferreira Programação Visual Art Direction Mauro Campello Comunicação Communication Raquel Silva Assessoria de Imprensa Press Office Rodrigo Machado Revisão de Textos e Versão Inglês Text Revision and English Version Rosângela Barbieri Design de Montagem Exhibition Design Anderson Eleotério Montagem e Iluminação Art Mounting and Lighting Chico Ao Quadrado-Arte e Montagem Mauricio Balbino da Silva Sinalização Signposting WL Plotagem
Seguro Insurance Pro Affinite – ACE Seguradora Transporte Transportation ArtQuality International Fine Arts Assistente de Curadoria Curatorial Assistant Felipe Paladini Assistente de Produção Production Assistant David Motta Produção Executiva Executive Production ADUPLA Produção Cultural Ltda. Patrocínio Sponsor Caixa Econômica Federal
CATÁLOGO CATALOG Organização Organization Anderson Eleotério Izabel Ferreira Produção Editorial Editorial Production Raquel Silva Texto Text Marcus de Lontra Costa Design Gráfico Graphic Design Mauro Campello
Sonoplastia Sound Design Missa de Réquiem, 1816 Padre José Mauricio Nunes Garcia (1767-1830)
Fotos Photographer Denise Andrade Leonardo Ramadinha Malu Teodoro Raquel Silva Ricardo Rutkauska Tadeu Fessel Vinicius Assencio
Museologia Museology Carla Mabel Gil Chaves
Revisão de Textos e Versão Inglês Text Revision and English Version Rosângela Barbieri
Vídeo Video Farnese, 1970 Direção Direction Olívio Tavares de Araújo
AGRADECIMENTOS ACKNOWLEDGMENTS Atabalipa de Andrade Filho Diógenes Paixão Dominga Gomes Barbosa Elio Scliar Eunice de Medeiros Scliar Fernanda Feitosa e Heitor Martins Gotffried Stutzer Junior Elizabeth e Jorge Fergie Luis Alberto Barbosa Sebastião Aires de Abreu Marcelo de Andrade Marcelo Sharp de Freitas Mauricio Carvalho de Andrade Murilo Sharp de Andrade Yrys Albuquerque Ana Francisca Salles Barros Ananda Frazão Casa do Saber Claudia Ramadinha Fabio Settimi Ilta Menezes Jô Frazão Jones Bergamin Juliana Filizola Leandro da Costa Teixeira Lucca Campello Luizmar Medeiros de Oliveira Mauricio Balbino da Silva Olívio Tavares de Araújo Patricia Telles Paulo Victor Marinho Robinson Alves Soraia Cals Taíssa Campello Vandré Silveira Vivian Perez
Este catálogo foi produzido em novembro de 2014, textos compostos em Miso e Chaparral Pro. Impressão, CTP e acabamento: Teixeira Gráfica e Editora Ltda - DF. Papel couché matte LD 170g/m2 (miolo), cartão Supremo Duo Design 350g/m2 (capa). Tiragem 3.000 unidades.