antes do governo Bolsonaro, que a aprofundou. Recursos legais podem ser formas de articulação entre forças internas e os governantes, portanto, um sério problema para a democracia e a autonomia nas instituições. Tudo isso sem falar na manutenção das listas tríplices para as Universidades e a possibilidade legal de não indicar quem estiver em primeiro. É por essa razão que a luta histórica do ANDES é a de que a autonomia seja garantida, por meio de métodos debatidos e decididos internamente, com resultados eleitorais que sejam cumpridos automaticamente, sem chancela dos governos. Esta é a única forma de evitar as manobras que já existiam e foram intensificadas no mandato de Bolsonaro. A posição do ANDES é clara desde, pelo menos, 1981, afirmada no Cadernos ANDES nº 2, nos seguintes termos: “Defendemos que: a) o reitor e o vice-reitor sejam escolhidos por meio de eleições diretas e voto secreto, com a participação, universal ou paritária, de todos os docentes, estudantes e técnico--administrativos, encerrando-se o processo eletivo no âmbito da instituição” (ANDES, 1981; 2013 p. 25). É preciso repetir que há disputas de poder e formação de grupos variados no interior das instituições de ensino. A grande questão é buscar a garantia de que a pessoa escolhida para a sua direção mantenha os compromissos assumidos, respeite a pluralidade de opiniões expressa nos colegiados e tenha autonomia para executar a pauta pactuada com a comunidade. É aqui que entra o problema da relação de dirigentes com a burocracia do MEC, no interior da qual há disputas políticas próprias e que foi abordada acima. No governo Bolsonaro, a desinstitucionalização estimulou o recurso a meios não convencionais, autoritários para buscar tal submissão das instituições de ensino. Assim, o trabalho passa a abordar as três classificações que foram citadas no início, começando pelas intervenções que foram marcadas pelas influências externas, que demonstram como o governo se abriu às alianças mais ou menos informais e, até, instáveis com atores políticos, ao sabor das duas etapas consideradas antes (sem coalização majoritária, passando à submissão ao Centrão). Na sequência, os casos de Alinhamento, quando, muitas vezes, atores internos às comunidades acadêmicas aproveitaram o estilo mobilizatório de Bolsonaro ou do ministro para aumentar suas chances de indicação, jogando para o governo e não para quem realmente interessa: o eleitorado da instituição. Por fim, os Não Alinhados, que reúnem casos às vezes curiosos de escolhas nas quais não havia uma opção palatável aos poderosos e as soluções dadas acabaram por gerar intervenções que, para muitos das academias, acabavam sendo até razoáveis. Ou seja, não podendo indicar quem queria, o governo buscava instabilizar e, talvez, provocar cisões em grupos internos, com resultados variáveis, mas de forma geral, longe do respeito à democracia. A maior parte das indicações conhecidas até agora (58%) respeitou o primeiro lugar da lista. Contudo, os 43% de intervenções pesam como uma espada afiada sobre o pescoço das comunidades acadêmicas e funciona como advertência a todas as outras, inclusive as que ainda vão passar por eleições. Ninguém sai bem deste estado de coisas.
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