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Paralelos entre crise do capital e crise ambiental à ecologização do capital: potencialidades crítico-analíticas

Resumo: O artigo realiza a conceituação da ecologização do capital entendida como forma capitalista de enfrentamento da crise ambiental decorrente da dinâmica imanentemente expansiva do capital. Após um breve aprofundamento sobre a crise ambiental e sua relação com o caráter necessariamente expansivo do capital relacionado ao valor, ao mais-valor e ao preço de produção, o texto avança por uma descrição sucinta da dinâmica das crises capitalistas a partir de um referencial marxiano. Em seguida, a investigação aprofunda-se sobre a relação capital-natureza, especialmente tendo por referência autores vinculados à tradição marxista. Nessa seção, conclui-se que a natureza não possui uma condição de obstáculo ou vantagem abstratamente definida, mas sim marcada historicamente em um dado contexto sociotécnico, mas que, em decorrência do movimento expansivo do capital, conduz ao crescimento dos obstáculos ambientais à valorização – a crise ambiental. A ecologização do capital seria a resposta capitalista a tal situação, materializada por meio da adoção combinada de formas destrutivas ou sustentáveis de relação com a natureza, determinadas tão somente pela potencialidade de cada uma em franquear a superação dos obstáculos ambientais à valorização. Por relacionar-se apenas indiretamente ao valor e, mais efetivamente à renda, a ecologização do capital pode, tão somente, atuar como tendência contra-arrestante da crise capitalista, não derrogando a tendência de crise que é imanente a esse modo de produção. Por ser determinada pela valorização e não pelo ambiente (pelo capital e não pela natureza), a ecologização do capital não suprime o caráter ambientalmente destrutivo do modo de produção capitalista.

Introdução: crise ambiental e ecologização do capital

A demonstração da crise ambiental como uma dinâmica determinada pelo capital deve iniciar-se pela demonstração do caráter necessariamente expansivo do capital enquanto valor que se valoriza. Desconsiderar esse fundamento é restringir-se a tatear a superfície da insustentabilidade ambiental que aparece como decorrência dos mais diversos fatores – desde elementos culturais, como a visão de natureza da tradição judaico-cristã, até a concepção moderna baconiana de torturar a natureza até que ela revele seus segredos (FOLADORI, 2001) –, enquanto que, em seu movimento essencial, a crise ambiental decorre efetivamente do movimento do capital.

Apresentar a crise ambiental como uma decorrência do movimento do capital, entretanto, não nos conduz à conclusão de que os problemas ambientais seriam um obstáculo intransponível à continuidade da dinâmica de valorização. Afinal, apostar na morte ambiental do capital seria menosprezar a capacidade plástico-adaptativa do capital em converter limites em barreiras a serem por ele superadas, tal como se aprofundará na sequência. Se é correta a preocupação a respeito de até quando o planeta profundamente degradado permitiria a continuidade da vida humana, em contrapartida, a conversão dos problemas ambientais em fronteiras de expansão capitalista – o que inclui o chamado capitalismo verde e todas as suas manifestações, indo da bioeconomia aos créditos de carbono, para sermos sucintos – é a reprodução, em termos ambientais, da dinâmica da crise capitalista propriamente dita, ainda que com determinações distintas. Em outros termos, tal como nas crises cíclicas que estabelecem obstáculos à valorização e na conversão de tais obstáculos em barreiras a serem superadas pelo capital em um ciclo

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