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A crise ecológica e socioambiental
from Revista Universidade e Sociedade nº 72
by ANDES-SN | Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
sileira de um passado tão tenebroso, construído pela parceria entre militares e empresários. Talvez assim diminua a parcela daqueles que ainda se mostram saudosistas com a Ditadura iniciada em 1964 – e que nunca mais deve se repetir.
Esse período não deve ser visto com saudosismo. Os governos de então não foram nem isentos de corrupção nem nacionalistas – ao contrário. Impulsionaram processos de saque às nossas riquezas, impondo violações terríveis aos povos originários e outras populações. Igualmente abominável é reverenciar quem cometeu tortura. O protótipo de ditador, Jair Bolsonaro, reproduz e mantém viva a tortura cada vez que reverencia um torturador. Por isso, ele é torturador e deve ser responsabilizado e criminalizado por isso.
O que ele e aqueles que buscam impor um projeto fascista no Brasil não contavam é que tão grande quanto o ataque seria a resistência, exatamente aquela que, mesmo em meio a tantas mortes, faz com que os povos originários continuem de pé. Em Anapu-PA, lote 96, agricultores e agricultoras que tiveram suas casas queimadas por grileiros reconstruíram-nas, porque, segundo eles, podem até queimar suas casas, mas não seus sonhos. Uma das lideranças, Natalha Theófilo, afirma que “nosso medo de morrer não é maior que nossa vontade de viver”. Lá, em 2022, em pleno governo Bolsonaro, o Incra foi obrigado a editar a portaria de criação do Assentamento Irmã Dorothy Stang, uma imensa vitória para os trabalhadores e igualmente imensa derrota para os fascistas.
1. Este artigo é resultado de uma pesquisa em andamento e que conta com a participação de diversos/ as outros/as pesquisadores/as, que consideramos coautores/as deste texto: Stephen Grant Baines (UnB), Adriana Gomes Santos (UFRR), Vitor Wagner Neto de Oliveira (UFMS), Maria Celma Borges (UFMS), Tiago Maiká Schwade (UFAM), Anna Thereza Corrêa Trindade (UFPA), Alex Rodrigues Machado (UFMS), Hygor Mesquita Faria (UFJF), André de Oliveira Moraes e Gedson Thiago do Nascimento Borges (UFPA).
2. A extração mineral na Amazônia gera lucros extraordinários decorrentes da ocorrência da renda fundiária das minas, mais especificamente da renda diferencial I e renda diferencial II, expostas por Marx (1988). A facilidade de extração do mineral, seu maior teor (quando comparado ao minério de outras regiões) e as obras infraestruturais (em muitos casos realizadas pelo Estado) contribuem para essa elevação dos ganhos.
3. Romero Jucá Filho, na condição de presidente da Funai durante a Constituinte de 1988, criticou aquilo que considerava direitos fundiários exagerados aos indígenas. A Funai, por meio de seu presidente, se opunha aos interesses daqueles que originariamente eram os senhores desse território nominado de Brasil pelo colonizador.
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